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Autora: Profa. Cláudia Ferreto Palladino Colaboradores: Profa. Solimar Garcia Prof. Maurício Felippe Manzalli Mix de Produtos Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 Professora conteudista: Cláudia Ferreto Palladino Mestre em Administração de Empresas, com área de concentração em Administração e Planejamento, pela PUC‑SP (2008), MBA em E‑business pela FGV‑Management (2001) e Bacharel em Comunicação Social, com ênfase em Marketing, pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (1986). Professora na Universidade Paulista (Unip) desde 2003, atuando continuamente nos Cursos Superiores de Tecnologia, nos cursos de Ensino a Distância e nos cursos de pós‑graduação. É também autora de diversos livros‑textos das áreas de marketing e comunicação, membro da Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos (CQA) e do Núcleo Docente Estruturante do curso Gestão de Marketing dessa mesma Universidade. Acumula 30 anos de experiência profissional em marketing institucional e comunicação corporativa em empresas de segmentos diversos. Paralelamente, atua gerenciando projetos de comunicação corporativa. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) P164m Palladino, Cláudia Ferreto. Mix de Produtos. / Cláudia Ferreto Palladino. – São Paulo: ‑ São Paulo: Editora Sol, 2017. 120 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXIII, n. 2‑097/17, ISSN 1517‑9230. 1. Mix de produtos. 2. Planejamento de produtos. 3. Gestão de marcas1. I. Título. CDU 659.126 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Talita Lo Ré Juliana Mendes Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 Sumário Mix de Produtos APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 UM POUCO DE MARKETING ..........................................................................................................................9 1.1 Valor e satisfação do cliente ............................................................................................................ 10 1.2 O ambiente de marketing ................................................................................................................. 12 1.3 A orientação das empresas e as estratégias de marketing ................................................. 15 1.4 Necessidades do consumidor .......................................................................................................... 16 1.5 Entendendo o que é necessidade e o que é desejo ................................................................ 17 2 PRODUTOS E SERVIÇOS – CONCEITOS E DIFERENCIAÇÃO ............................................................. 18 2.1 Classificação de produtos ................................................................................................................. 22 2.1.1 Caso Red Bull – Marketing de produto único ............................................................................. 26 2.2 Categorias do mix de serviços ......................................................................................................... 30 2.3 Características peculiares dos serviços ........................................................................................ 31 2.3.1 Intangibilidade ......................................................................................................................................... 31 2.3.2 Inseparabilidade ...................................................................................................................................... 32 2.3.3 Variabilidade ou heterogeneidade ................................................................................................... 34 2.3.4 Perecibilidade ............................................................................................................................................ 34 2.4 Dimensões do produto de acordo com sua necessidade ..................................................... 38 2.5 Nível de especialização do produto .............................................................................................. 40 Unidade II 3 DECISÕES DE PRODUTOS E SERVIÇOS .................................................................................................... 45 3.1 Decisões em mix de produtos ......................................................................................................... 48 3.2 Decisões estratégicas .......................................................................................................................... 49 3.2.1 Amplitude e profundidade .................................................................................................................. 49 3.2.2 Marcas próprias ....................................................................................................................................... 51 3.3 Fatores que influenciam o mix de produtos ............................................................................. 53 3.4 O gestor de produtos .......................................................................................................................... 58 4 PLANEJAMENTO DE PRODUTOS ................................................................................................................ 59 4.1 Planejamento com foco em vendas ............................................................................................. 60 4.2 Planejamento com foco em custos .............................................................................................. 60 4.3 Planejamento com foco em lucros ............................................................................................... 61 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 4.4 Estendendo o ciclo de vida do produto ...................................................................................... 61 4.5 Objetivos e diretrizes do produto .................................................................................................. 61 4.6 Desenvolvimento de produto .......................................................................................................... 64 4.7 Novos produtos ..................................................................................................................................... 64 4.8 Planejamento de novos produtos ..................................................................................................65 4.8.1 Tipos de novos produtos ...................................................................................................................... 66 4.8.2 Elaboração do novo produto .............................................................................................................. 69 4.8.3 Novos produtos malsucedidos .......................................................................................................... 75 Unidade III 5 GESTÃO DE MARCAS ..................................................................................................................................... 81 5.1 O surgimento das marcas ................................................................................................................. 83 5.2 Branding ou construção de marca ................................................................................................ 83 5.3 Patrimônio de marca (brand equity) ............................................................................................ 86 6 DECISÕES DE LINHA DE PRODUTOS ........................................................................................................ 87 6.1 Formas de expansão de linhas ........................................................................................................ 87 6.2 Decisões de mix de produtos ........................................................................................................... 88 Unidade IV 7 ASPECTOS ESPECIAIS DOS SERVIÇOS ..................................................................................................... 93 7.1 Serviços como atividade de apoio ................................................................................................. 98 7.1.1 Processo de decisão do cliente em marketing de serviços .................................................... 98 7.2 O momento da verdade em serviços ..........................................................................................100 7.2.1 Hierarquia do valor para o cliente .................................................................................................100 7.2.2 Conjunto genérico de valor para o cliente .................................................................................101 7.2.3 Consumidores e suas expectativas ................................................................................................102 7.2.4 Atributos importantes para clientes intermediários e clientes internos........................104 7.2.5 Modelo de ciclo de serviço................................................................................................................105 7.2.6 Ouvindo os clientes ..............................................................................................................................106 7.3 Desenvolvimento de novos serviços ...........................................................................................108 8 PRODUTO VERDE ...........................................................................................................................................110 8.1 Tipos de produto verde ....................................................................................................................111 7 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 APRESENTAÇÃO A disciplina Mix de Produtos pretende apresentar ao aluno do curso de Gestão Comercial o instrumental necessário para o gerenciamento das vendas de produtos e serviços, abrangendo tanto a categoria consumo como a categoria industrial. Para isso, o livro‑texto apresentará os conceitos de produto e serviço, além de suas classificações, para, então, seguir com o estudo das metodologias e estratégias de gerenciamento. Cabe também a esta disciplina capacitar o aluno, futuro gestor, a gerenciar o portfólio de produtos de forma a otimizá‑lo e trazer os resultados de acordo com os objetivos estratégicos da organização. Assim, o livro‑texto abordará inicialmente alguns importantes conceitos de marketing que são diretamente relacionados a gestão de produtos e serviços; logo depois, discorrerá sobre a questão das necessidades individuais e organizacionais, que são os pontos‑alvo da gestão, e, em seguida, abordará a gestão de produtos e serviços, partindo da conceituação e classificação de ambos. O gerenciamento de marca, a identificação dos momentos da verdade e o conceito de produto verde são temas que estão presentes neste livro‑texto com o intuito de tornar a sua formação mais completa. Além deste material ter sido produzido com base nos principais autores da área, diversas leituras são indicadas ao longo das unidades e são fortemente recomendadas para que a sua visão comercial seja consideravelmente amplificada. Que você tenha um excelente aproveitamento do curso! INTRODUÇÃO Não é só a força da marca que destaca um produto ou serviço no mercado e, por consequência, pode ser considerada a responsável pelo sucesso da organização que o produz ou o comercializa. O sucesso dos esforços comerciais de uma empresa, seja ela fabricante de produtos, prestadora de serviços ou ainda um varejista, depende substancialmente da gestão de seus produtos ou serviços. A gestão de produtos é uma função pertinente ao ciclo de vida organizacional e contempla diversas tarefas, como planejar, orçar e divulgar produtos e serviços, levando‑se em consideração diversos aspectos, como a fase ou estágio no ciclo de vida, as necessidades vigentes dos clientes, as condições e as características do microambiente. A gestão de produtos e serviços, ou melhor, do mix – conjunto de produtos e serviços oferecidos – envolve duas tarefas igualmente importantes: o desenvolvimento do produto ou serviço e os esforços de marketing para maximizar a receita, bem como manter ou aumentar a participação de mercado e das margens. 8 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 O gestor do mix de produtos é geralmente o profissional responsável por analisar as condições do mercado e definir o mix que será oferecido, incluídos nessa função o estabelecimento dos atributos e demais particularidades que compõem a oferta. Para desenvolver o seu trabalho, o gestor precisa conhecer em profundidade o público‑alvo de seus produtos e serviços, seu papel tanto na compra como no consumo e, principalmente, suas necessidades. Com base nisso é que será possível definir detalhadamente o produto ou serviço e suas funcionalidades. É importante ressaltar que a definição do mix de produtos leva em consideração uma série de fatores, como o segmento de atuação, o próprio produto ou serviço oferecido, o porte da empresa, os recursos financeiros, materiais e humanos disponíveis, o perfil do mercado consumidor, a região atendida, a sazonalidade (se for o caso), entre outros. Elaborar um portfólio que venha a atender às necessidades do público‑alvo – clientela – precede o planejamento e é parte do plano de negócios da organização. Outro aspecto importante na elaboração do mix é a questão da diversificação, cuja decisão deve estar alinhada aos objetivos estratégicos da organização. Para começar a estudar a gestão de mix de produtos, veremos alguns conceitos importantes de marketing que servirão de alicerce aos temas específicos da disciplina. 9 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 MIX DE PRODUTOS Unidade I 1 UM POUCO DE MARKETING É bem provável que o conceito de marketing seja um dos que gerem mais ideias equivocadas; não raro, ouve‑se que marketing é o nome dado às maciças campanhas de propaganda em TV, às ações de promoção no varejo ou aos pesados esforços em vendas. Marketing é muito mais do que isso, é algo que tem a ver com o relacionamento com os clientes, sejam eles consumidores finais ou clientes corporativos; implica entender as necessidades humanas, seus desejos e demandas, e está diretamente relacionado com a missãoe com o objetivo principal das organizações, que é gerar lucro. Kotler e Armstrong (2015) lembram que Peter Drucker sabiamente afirmava que o principal objetivo do Marketing é tornar supérflua a ação de venda. Não, ele não estava dispensando os vendedores, ao contrário, estava reservando a eles a grande missão de estabelecer e preservar o relacionamento com o cliente, criando um canal valioso de troca de informações, um material de alta relevância para a elaboração das estratégias das empresas. Mas, para que isto fosse possível, o marketing precisaria entrar em ação, trazendo para o mercado uma oferta que de fato satisfizesse as suas necessidades e desejos e, naturalmente, trouxesse lucro para a empresa. E assim ficamos com a definição de marketing por Kotler e Armstrong (2015, p. 4): “O marketing implica em construir relacionamentos lucrativos e de valor com os clientes”. Basicamente, o marketing acontece em cinco etapas. Nas primeiras quatro, a empresa concentra os seus esforços em conhecer e entender tanto o cliente como o mercado onde atua, a fim de ter condições de criar ofertas de valor e construir um relacionamento forte e duradouro. A quinta etapa é o momento em que se espera a colheita dos resultados planejados. Entender o mercado, bem como as necessidades e os desejos do cliente Desenvolver um programa de marketing integrado que entrega valor superior Elaborar uma estratégia de marketing orientada para o cliente Construir relacionamentos lucrativos e deixar os clientes encantados Capturar valor dos clientes para gerar lucros e customer equity Cria valor para os clientes e constrói relacionamento com eles Captura valor dos clientes em troca Figura 1 – Modelo simples do processo de marketing 10 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 Unidade I As ofertas de valor englobam não só produtos físicos, como caneta, pão e computador, mas também lugares, organizações, informações, ideias e até mesmo pessoas. Veja os exemplos a seguir: • lugares: refere‑se à promoção de cidades, como fazem as Secretarias de Turismo; • informações: é o caso dos jornais que vendem notícias; • ideias: podemos pensar nas campanhas antitabagistas; • pessoas: o marketing político que tem foco em candidatos a cargos públicos. Observação O gestor precisa ver além das características dos produtos e serviços que comercializa e ter em mente a possibilidade de criar experiências, com a marca, que possam ser vivenciadas pelos clientes. Quando você vai ao Beto Carrero World, não se trata apenas de uma visita a um parque de diversões, mas, sim, de uma vivência com diversas opções de lazer, como os brinquedos do parque, o contato com animais, os inúmeros shows, a variedade de refeições e outras atividades que, reunidas, devem funcionar de acordo com as expectativas do público. O resultado da visita é a combinação do desempenho de todos esses itens simultaneamente. Mesmo quando usamos um produto que aparentemente é apenas funcional, estamos vivenciando uma experiência, ou, pelo menos, é o que o gestor do produto deveria ter em mente: ao usar um multiprocessador de alimentos, a pessoa precisa experimentar não só a praticidade da operação, mas também o prazer de cozinhar. 1.1 Valor e satisfação do cliente Os consumidores têm à disposição no mercado uma infinidade de produtos e serviços com atributos os mais variados para satisfazer demandas diversas. A questão para gestores de produto e gestores comerciais é entender como, entre as diversas opções disponíveis, esses consumidores escolhem um determinado produto. A resposta está em como o produto atende as expectativas criadas pelo público‑alvo. O atendimento das expectativas acaba por criar um ciclo: as pessoas criam expectativas, procuram por algo que atenda essas expectativas e, caso sejam atendidas, podem voltar a comprar, como também recomendar. 11 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 MIX DE PRODUTOS Expectativa Busca de solução/recompra ExperimentaçãoSatisfação Figura 2 – Ciclo de satisfação do cliente Mas esse ciclo pode ser quebrado caso a expectativa venha a ser frustrada. Nesse caso, não só a recompra não acontecerá, como também o cliente não fará recomendações. Uma vez que as expectativas orientam as escolhas, é importante que os clientes a serem atendidos também sejam selecionados, de forma a se dar o correto direcionamento da oferta. Assim, a segmentação de mercado é o que orientará a administração de marketing para o endereçamento da oferta, possibilitando que se atinja o público correto. A segmentação de mercado irá também identificar o nível de valor da oferta requerido pelo mercado‑alvo – proposição de valor. Note que não estamos ainda nos referindo ao preço, mas ao valor no sentido de conjunto de atributos que precisam ser oferecidos para que a satisfação do cliente seja atingida. Saiba mais Aprofunde os seus conhecimentos sobre bases de segmentação lendo o Capítulo 8 do livro Marketing: Criando Valor para os Clientes, de Gilbert A. Churchill Jr. e J. Paul Peter (3ª edição). Nessa obra, os autores apresentam e explicam as bases de segmentação no mercado consumidor e no mercado organizacional. 12 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 Unidade I 1.2 O ambiente de marketing O ambiente de marketing é composto por dois âmbitos, chamados de macroambiente e microambiente. Ambos são compostos por forças que afetam todo o processo produtivo da empresa e seu relacionamento com seus diversos públicos (clientes, fornecedores, governos, influenciadores e público interno). Vejamos em que se diferenciam esses dois ambientes. O microambiente abrange todos aqueles que interagem diretamente com a empresa, seja na produção, na distribuição ou, até mesmo, na comunicação de bens e serviços. Estamos, portanto, nos referindo à própria empresa, aos seus fornecedores, tanto de matérias‑primas como de insumos, bem como aos seus prestadores de serviços, como os agentes financeiros, os transportadores e toda a cadeia de distribuição e os consumidores. Já o macroambiente é composto por seis elementos externos à empresa que a afetam consideravelmente e sobre os quais ela não tem nenhuma ingerência, que são os ambientes demográfico, econômico, sociocultural, natural, tecnológico e político‑legal. As situações do ambiente externo podem ser entendidas pela empresa como oportunidades ou como ameaças, dependendo de como são tratadas, e podem representar o sucesso ou o fracasso da organização. O ponto‑chave dessa questão chama‑se informação. Vejamos em detalhe cada uma dessas esferas. • Ambiente demográfico: refere‑se às características das pessoas que formam os mercados e que podem ser o público‑alvo da empresa. As informações demográficas são relevantes para as empresas porque auxiliam no cálculo e no entendimento das demandas. Algumas informações importantes são tamanho e taxa de crescimento do mercado, faixa etária, distribuição das pessoas pela regiões geográficas, composição étnica, nível de instrução etc. • Ambiente econômico: refere‑se ao que é produzido, ao poder de compra das pessoas e das organizações, aos índices de preços, aos volumes de crédito e poupanças, aos empréstimos e à disponibilidade de crédito. Os níveis e a distribuição de renda variam acentuadamente de uma nação para outra. • Ambiente sociocultural: refere‑se à constituição das populações do ponto de vista de valores, crenças, percepções e comportamentos sociais, considerando também as transformações e o surgimento de novas culturas, subculturas e movimentos culturais. • Ambiente natural: o foco nesse tipo de informação é importante na medida em que a empresa depende de matérias‑primas e insumos advindos da natureza para suas atividades ou quando seus processos interferem no ambiente natural. Questões como preservação ambiental fazem parteda pauta dessas empresas, assim como o crescente custo de energia elétrica, os altos índices de poluição ambiental e a postura dos governos e da própria sociedade com relação à proteção ambiental. • Ambiente tecnológico: diz respeito aos avanços e à infraestrutura tecnológica disponível, além das novas tecnologias já implementadas na indústria. 13 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 MIX DE PRODUTOS • Ambiente político‑legal: é constituído pelo conjunto de leis, normas, decretos, acordos e tratados. Exerce influência sobre as organizações e sobre os indivíduos; determinadas obrigatoriedades podem, de acordo com as condições e a visão da empresa, ser vistas como oportunidades. Tomemos como exemplo a obrigatoriedade de reaproveitamento de refugos de produção, que pode beneficiar o desenvolvimento de indústrias advindas da logística reversa. Observação Logística reversa é um conjunto de ações, procedimentos e meios que visa à coleta de resíduos e à sua devolução à indústria, de forma a serem reaproveitados por ela de maneira adequada do ponto de vista ambiental, no seu próprio ciclo produtivo ou em outros ciclos. O ambiente de marketing tem sofrido transformações ao longo dos últimos anos, e hoje podemos perceber um conjunto de forças externas muito mais complexo. Kotler e Keller (2012) relacionam 12 importantes forças que devem ser levadas em consideração na análise das possíveis ameaças e oportunidades de uma empresa. São elas: • rede de tecnologia da informação: sua criação, implantação e aprimoramento trouxe mais precisão aos níveis de produção, possibilidade de realização de comunicação direcionada e prática de preços mais consistentes; • globalização: permitiu maior proximidade dos mercados, facilitando o comércio entre nações graças aos avanços tecnológicos aplicados aos transportes e aos meios de comunicação; • desregulamentação: a diminuição ou relaxamento de leis que restringem as atividades de alguns setores, como financeiro e o de telecomunicações, trouxeram mais flexibilidade para a realização de negócios, resultando no aumento da concorrência; • privatização: empresas estatais que passaram para a propriedade privada, ocasionando maior eficiência na prestação de seus serviços e gerando, assim, novos fortes players; • concorrência ampliada: crescimento das marcas, que se estenderam por amplas categorias de produtos complementares; • convergência setorial: o desenvolvimento tecnológico aproxima as empresas e cria enormes intersecções, como no caso dos setores de eletrônicos e entretenimento; • transformação no varejo: as lojas físicas, diante da concorrência de diversos outros tipos de pontos de venda (eletrônicos, por catálogo, TV etc.), estão incorporando novas modelagens e diversificando seus pontos e seus mix de produtos; 14 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 Unidade I • desintermediação: uma decorrência do sucesso das .com, que na verdade acabaram forçando uma reação das lojas físicas, que acabaram incorporando outros serviços, além da reintermediação; • maior poder de compra do cliente: a desintermediação trouxe maior poder de compra para o cliente, que, por meio digital, tem mais condições de comparar produtos e preços; • informações ao consumidor: a enorme variedade de aplicativos para uso em smartphones e de repositórios de informações disponíveis de forma on‑line permite ao consumidor a realização de uma pesquisa de forma abrangente e rápida sobre praticamente qualquer assunto; • participação do consumidor: o consumidor tem cada vez mais voz ativa no mercado, com um alto poder de influência, e usa notadamente as redes sociais para isso; as empresas sabedoras desse poder convidam os consumidores para opinar sobre os produtos, inclusive, durante seu processo de concepção; • resistência do consumidor: baixa fidelidade às marcas, uma vez que os produtos estão cada vez mais parecidos e o consumidor percebe essa semelhança. O macroambiente é o campo onde a empresa tanto busca oportunidades para dar impulso a seus negócios como observa os fatores que podem ameaçar seu sucesso. Essa avaliação se dá com base na comparação entre as situações do macroambiente e suas competências, os atributos encontrados no microambiente. Assim, a empresa pode pensar em competências a serem desenvolvidas a partir desses 12 fatores sociais listados por Kotler e Keller (2012), como usar a internet como canal de vendas e relacionamento com os clientes, usar todos os meios disponíveis para a contínua coleta de informações relevantes sobre seus clientes atuais e potenciais, lançar mão das mídias sociais para construir a reputação da marca e aproveitar o buzz gerado, usar o marketing de permissão a seu favor – o envio permitido, pelo cliente, de informações comerciais –, incluir ações tanto de comunicação como de vendas por dispositivos móveis e desenvolver produtos personalizados. Não surpreende que essas forças e competências de marketing tenham mudado profundamente sua administração. Em teoria, o processo de planejamento de marketing consiste em analisar oportunidades, selecionar mercado‑alvo, conceber estratégias, desenvolver programas e gerenciar o esforço de marketing. Na prática, porém, nos mercados altamente competitivos que se tornaram regras, o planejamento de marketing é mais fluido e continuamente atualizado (KOTLER; KELLER, 2012, p. 14). Observação Buzz é um termo da língua inglesa cujo correspondente em português é “burburinho”. Na área de marketing, refere‑se a uma ideia que se espalha por meio das redes sociais contagiando as pessoas. 15 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 MIX DE PRODUTOS 1.3 A orientação das empresas e as estratégias de marketing A partir do momento em que a empresa entende o mercado em que atua (isto é, entende as necessidades dos clientes, como atuam seus concorrentes, conhece o ambiente geral em que está inserida), é possível elaborar estratégias que sejam orientadas para o cliente, uma tarefa para a administração de marketing, que vai cuidar da elaboração e da implantação de estratégias de marketing. Estratégias de marketing bem‑sucedidas respondem a dois quesitos básicos: são elaboradas para clientes predeterminados e estão baseadas em uma proposição de valor. O primeiro quesito em questão é selecionar quais clientes serão atendidos. Esses clientes são determinados com base na segmentação do mercado, que nada mais é do que a divisão do mercado com base em características determinadas. No caso do mercado consumidor, também conhecido como business to consumer (B2C), essa divisão pode se dar de acordo com características demográficas (características da população, como idade, sexo, rendimento, ocupação, etnia etc.), geográficas (localização por região, país, bairro e critérios como clima e densidade populacional), psicográficas (como estilo de vida, atividades, interesses, opiniões, valores, princípios e personalidade) e comportamentais (hábitos de consumo, conhecimento sobre o produto, comportamento em relação à compra – ocasião, beneficio, status, índice de utilização, fidelidade). Mas, se o mercado de interesse for o corporativo ou organizacional, a divisão se dará com base no comportamento do comprador, no tipo do cliente e também na segmentação geográfica. Com base na segmentação (e cabe lembrar que é comum a utilização de mais de um tipo de segmentação), seleciona‑se um tipo de público para o qual será desenvolvida uma oferta de valor, que é o segundo quesito. A empresa deverá, então, decidir como irá atender esse grupo de clientes que foi selecionado. “A proposição de valor de uma marca é o conjunto de benefícios ou valores que ela promete entregar aos clientes para satisfazer suas necessidades” (KOTLER; ARMSTRONG, 2015, p. 8). Aqui está a explicação de por que as pessoas preferem um produto a outro. Você mesmotem as suas preferências, e elas estão diretamente relacionadas ao estilo, à qualidade, ao preço, à facilidade de pagamento e à venda no estabelecimento da sua conveniência. Esses atributos é que diferenciam uma marca de outra e foram pensados de acordo com o público que se queria atingir. Mas a administração de marketing trabalha de acordo com a missão da empresa e com o objetivo principal da organização, que é o de gerar lucro, e, por isso, segue o que chamamos de orientação da administração da empresa, o que explica muito das diferenças de atuação que percebemos entre as diversas organizações. Para algumas empresas, toda a sua gestão está focada na capacidade de produção e de venda; outras pensam o mercado como algo dinâmico e determinante da demanda. Há mercados em que há muitas empresas oferecendo produtos e serviços semelhantes e, portanto, a competição é acirrada; já em outros, determinado produto é oferecido por poucas organizações. Assim, percebemos que as empresas 16 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 Unidade I assumem comportamentos muito diferentes entre si – desde aquelas que se dedicam fortemente a esforços de vendas até aquelas que investem exaustivamente na diferenciação de produtos. Estamos, portanto falando em orientação de empresas. Há empresas cujas ações são orientadas para marketing, ou seja, suas ações são pensadas para atender as expectativas dos seus consumidores. Nesses casos, as empresas buscam informações sobre seus consumidores e sobre os clientes potenciais para incrementarem sua capacidade de entendimento sobre necessidades, desejos e demandas existentes. A administração de marketing elabora estratégias para desenvolver com os clientes um relacionamento que gere lucros e, para que isso aconteça, precisa seguir alguma linha de raciocínio ou orientação em que possa embasar suas ações, sempre de acordo com a cultura, a missão e os objetivos estratégicos da organização. Kotler e Armstrong (2015) explicam que há cinco tipos de orientações que as empresas podem seguir para elaborar e implementar suas estratégias de marketing. Veja cada uma delas a seguir. • Orientação de produção: refere‑se à ideia de que os consumidores dão preferência a produtos disponíveis e que podem ser facilmente encontrados no mercado; assim, a administração coloca foco na produção e na distribuição. Trata‑se de uma visão antiga típica de empresas que assumem o papel de vendedoras. • Orientação de produto: essa orientação diz respeito à ideia de que os consumidores dão preferência a produtos de alta qualidade, desempenho e atributos inovadores. Nessa linha, a administração de marketing visa à promoção de melhorias constantes. • Orientação de vendas: o foco aqui é a crença de que os consumidores compram em quantidades satisfatórias tão somente se a empresa vender em larga escala e oferecer algum tipo de benefício (como promoções). • Orientação de marketing: segundo essa linha, o alcance das metas da organização depende do entendimento das necessidades e dos desejos do público‑alvo, além da entrega de valor adequada para que o nível de satisfação desejado seja atingido (e de forma superior aos concorrentes). • Orientação de marketing societal: essa orientação tem a ver com a relação do alcance dos objetivos organizacionais com o respeito ao bem‑estar do consumidor a longo prazo. Refere‑se à sustentabilidade dos negócios, ao respeito ao meio ambiente e à percepção de bem‑estar. 1.4 Necessidades do consumidor Tanto o processo de desenvolvimento como o de gestão, seja de bens ou serviços, são pontos‑chave não só para o sucesso de empresas de segmentos diversos, mas também para a manutenção da competividade da marca. Isso se dá porque o atendimento das necessidades, tanto dos consumidores finais como de clientes empresariais (também chamados de corporativos), é realizado por meio da oferta de produtos e serviços que são formulados com base em um planejamento que tem como ponto de partida a demanda identificada no mercado. 17 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 MIX DE PRODUTOS O que se leva em conta, portanto, para o início desse processo é a avaliação das características das necessidades e dos desejos do público‑alvo da organização, para que sejam determinados, então, os atributos necessários que farão a oferta ser de interesse para o mercado‑alvo. Nessa empreitada, muitos profissionais são envolvidos no processo, desde a criação do produto ou serviço, passando pelo seu desenvolvimento e produção, até chegar à distribuição, comunicação e comercialização. Além disso, é necessário que a organização detenha uma infraestrutura por si adequada para o resultado que se pretende conseguir. Gerência Produto Be ns Serviços Planejamento Concepção Desenvolvimento Mercado Manutenção Figura 3 – Estrutura necessária para o desenvolvimento de produtos e marcas Para isso, o gestor ou gerente de produto precisa dominar uma série de conhecimentos sobre gestão, conhecer o seu mercado e entender do processo produtivo da sua empresa. Lembrete O sucesso da empresa e a manutenção de sua competitividade estão diretamente relacionados ao atendimento das necessidades dos consumidores. 1.5 Entendendo o que é necessidade e o que é desejo A criação de ofertas que atendam o mercado‑alvo depende do entendimento de um conceito de alta relevância para a gestão de negócios e que está na base da elaboração das estratégias e ações de marketing: as necessidades humanas. 18 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 Unidade I Entende‑se por necessidades humanas as situações em que se detecta algum tipo de carência ou privação; essas situações podem ser de ordem física (como fome, frio e proteção física), de caráter social (como a necessidade de pertencimento a um grupo e a necessidade de afeto) ou, ainda, de cunho individual (que se refere ao autoconhecimento e à autoexpressão). Os desejos, uma expressão das necessidades humanas, são uma forma resultante das influências culturais e da própria personalidade do indivíduo. Os desejos refletem as características do grupo social e são traduzidos em objetos ou situações que satisfazem as tais necessidades humanas. Explicando melhor, todos nós sentimos fome e precisamos de comida para viver. Ao sentirmos fome, nós, brasileiros, de forma geral podemos desejar um prato de arroz com feijão, bife e salada. Na mesma circunstância, um japonês pode desejar um lámen ou um yakisoba. As demandas são, então, manifestações de desejos de um grupo social que detém o poder de compra necessário para satisfazê‑los. Esse grupo social, ao dispor de uma moeda de troca, irá demandar as melhores ofertas quanto a valor e satisfação. A gestão de produto trata exatamente desse processo: trata‑se de um complexo de tarefas que envolve produção, vendas e criação com o intuito de atender o mercado de forma lucrativa para a empresa. As necessidades e os desejos dos consumidores são atendidos pelas empresas quando estas disponibilizam no mercado uma oferta que represente uma combinação de produtos, serviços, informações e experiências. Vemos, então, que as ofertas disponíveis não são apenas bens físicos, mas incluem serviços que são intangíveis e não resultam na transferência de posse. É o caso das viagens, dos serviços bancários, da estadia em hotéis e de consertos, só para citar alguns exemplos. 2 PRODUTOS E SERVIÇOS – CONCEITOS E DIFERENCIAÇÃO O termo produto vem do latim productus, que remete a tudo o que tenha sido fabricado ou que tenha passado por alguma forma de processamento. Em um sentido mais amplo, Seleme e Paula (2013, p. 30) explicam que “produto refere‑se ao resultado (físico ou intelectual) de um trabalho, da transformação de algo por mãos humanas, com vistas a servir a algum propósito, a ter utilidade para uma pessoa, satisfazendo suas necessidades”.Muitos autores se propuseram a conceituar e explicar “produto”, e não poderíamos deixar de trazer o pensamento de Kotler e Armstrong (2015, p. 244) em nosso estudo: “qualquer coisa que pode ser oferecida a um mercado para apreciação, aquisição, uso ou consumo e que pode satisfazer um desejo ou uma necessidade”. Já os serviços dependem da sua utilização para existirem mas, para sua prestação, também requerem processos produtivos, que, no entanto, são diferentes dos aplicados na fabricação de produtos. Kotler e Keller (2012) definem serviço como qualquer ato ou desempenho, essencialmente intangível, que uma parte pode oferecer a outra e que não resulta na propriedade de alguma coisa. Kotler e Armstrong (2015) 19 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 MIX DE PRODUTOS complementam o conceito explicando que se trata de algo que pode levar à satisfação e que também passa pelo processo de venda, mas cuja posse não pode ser obtida pelo comprador. De acordo com o U.S. Bureau of Labor Statistics, o setor de serviços continuará a ser o principal gerador de empregos na economia norte‑americana, e deverá abrir cerca de 14,6 milhões de postos de trabalho até 2018, ou 96 por cento do aumento esperado no total de empregos. Até lá, estima‑se que o setor de manufatura responda por 12,9 por cento do total de empregos, abaixo dos 17,3 por cento em 1998 e dos 14,2 por cento em 2008 (KOTLER; KELLER, 2012, p. 380). O setor de serviços é de larga abrangência e está presente nos setores privado (bancos, hotéis, imobiliárias), governamental (correios, corpo de bombeiros, polícia) e também entre a instituições sem fins lucrativos (museus, instituições de caridade). Produtos e serviços são os elementos‑chave da oferta, o princípio da estratégia de marketing e o ponto de partida para se dar início ao planejamento do mix de marketing (também chamado de composto de marketing), sendo assim possível desenvolver uma oferta de valor para o público‑alvo. Em geral, as ofertas englobam tanto um bem físico como um serviço. Podemos exemplificar com produtos como lápis, tijolo, geladeira, cama e softwares; serviços podem ser representados por corte de cabelo, consulta médica e seguros. É difícil na verdade distinguir bens e serviços na sociedade moderna. Um bem puro e um serviço puro podem ser facilmente exemplificados, como já fizemos aqui neste bloco, porém Hoffman et al. (2009, p. 5) lembram que “um bem puro implicaria que os benefícios recebidos pelo cliente não contivessem elementos fornecidos por serviço. Da mesma forma, um serviço puro não conteria bens tangíveis”. O fato é que boa parte dos serviços carrega em si algum elemento tangível. Um restaurante, por exemplo, precisa do cardápio e muitas vezes de fotos ou até mesmo de pratos montados para apresentar o seu serviço e garantir o entendimento do cliente. Um banco torna tangíveis em algum grau os seus serviços ao apresentar o extrato bancário para o cliente, descrevendo saldos e rentabilidades. Também não podemos esquecer que uma grande variedade de produtos está associada a algum tipo de serviço, como ser entregue em domicílio ou dispor de assistência técnica. A distinção entre produtos e serviços pode ficar menos aparente em algumas empresas, como a gigante IBM, tradicional empresa de tecnologia. Largamente conhecida como fabricante de computadores de grande porte, já há algumas décadas tem nos serviços boa parte, se não a principal parte, das suas receitas com origem em serviços como consultoria de tecnologia da informação (TI), integração de sistemas e terceirização do ambiente de TI. Por definição básica, a diferença entre produtos e serviços está na sua tangibilidade. A escala de tangibilidade nos ajuda a entender essa diferença comprando bens de acordo com uma gradação de tangibilidade. Vejamos melhor como isso se dá. 20 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 Unidade I A escala apresenta uma série de produtos organizados de acordo com o seu nível de tangibilidade, partindo da maior tangibilidade – produto – e seguindo até o seu extremo oposto, a intangibilidade. O que podemos observar na escala é que não é possível uma divisão dicotômica: há bens que são parcialmente e em algum nível mais ou menos tangíveis. Pense no caso de cosméticos: claro que em um primeiro momento estamos falando de bens altamente tangíveis, como batons e sombras, mas que têm alto grau de intangibilidade na sua oferta, que são a beleza e o bem‑estar. Sa l De te rg en te s Re fr ig er an te s Au to m óv ei s Co sm ét ic os Fa st ‑f oo d Fa st ‑f oo d Ag ên ci a de p ro pa ga nd a Li nh as a ér ea s Ge re nc ia m en to d e in ve st im en to sPredominantemente tangíveis Predominantemente intangíveis Co ns ul to ria En sin o Figura 4 – Graus de tangibilidade e intangibilidade A escala de tangibilidade nos apresenta dois conceitos importantes para a gestão na prática. Primeiramente, que é provável que não existam produtos puros e serviços puros: vamos nos lembrar de que, por definição, produtos reúnem diversos elementos de ordem tangível e intangível combinados entre si e em diferentes níveis. A outra observação importante que a escala nos traz é que os aspectos intangíveis de um produto predominantemente intangível – os serviços – e os aspectos intangíveis de um produto predominantemente tangível – produto, bens – estabelecem as dimensões que diferenciam os produtos e que podem resultar em novas fontes de receita. Vamos pensar, como exemplo, nas empresas que fabricam bens predominantemente tangíveis e não valorizam os elementos de serviços (intangíveis) agregados: essas empresas estão deixando de lado um componente altamente relevante para o negócio, e isso nos remete aos casos clássicos das empresas com miopia em marketing. É o que acontece com o café, que pode ser visto como uma commodity e, portanto, pode ser servido da mesma forma, sem nenhuma diferenciação, em qualquer bar, a um ou dois dólares; porém, pelo mesmo café, servido em uma cafeteria agradavelmente decorada, que proporciona uma experiência de conforto e aconchego, e ainda algumas facilidades como wi‑fi, podem ser cobrados 3 ou 4 dólares. 21 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 MIX DE PRODUTOS Serviços de infraestrutura • Comunicações • Transporte • Utilidade pública • Serviços bancários Serviços comerciais • Atacado • Varejo • Manutenção Serviços pessoais • Saúde • Restaurante • Hotéis Consumidor (autoatendimento) Serviços prestados pelo governo • Militares • Educacionais • Judiciários • Polícia e corpo de bombeiros Serviços financeiros • Financiamento • Leasing • Seguros Manufatura Serviços internos da empresa • Finanças • Contabilidade • Jurídico • P&D Serviços de apoio aos negócios • Consultoria • Auditoria • Propaganda • Recolhimento de lixo Figura 5 – O papel dos serviços na economia Observação Uma oferta é um produto ou serviço que possui atributos que atendem a determinadas necessidades; já produtos podem ser definidos como qualquer oferta que satisfaça a uma necessidade ou desejo. O fato é que os produtos, de uma forma geral, estão se tornando cada vez mais uma commodity, isto é, as empresas pouco estão conseguindo oferecer atributos exclusivos e por isso decidiram adicionar um novo elemento de valor que pode ser explicado como experiências a serem vividas: A Disney cria sonhos e lembranças por meio de seus filmes e parques temáticos. E a Nike há muito tempo declarou: “Não se trata tanto de calçados, mas para onde eles levam você”. Hoje em dia, entretanto, todos os tipos de empresas estão remodelando seus produtos e serviços tradicionais para criar experiências (KOTLER; ARMSTRONG, 2015, p. 245). Mas o conceito de produto vai além de bens tangíveis e contempla também organizações, pessoas, lugares e ideais. No que diz respeitoàs organizações, trata‑se da venda institucional das empresas, quando as ações de marketing estão voltadas para criar e manter atitudes favoráveis no mercado com relação à empresa. Segundo Kotler e Armstrong (2015, p. 248): “Tanto as organizações comerciais como aquelas sem fins lucrativos praticam esse tipo de marketing. As empresas comerciais patrocinam campanhas de relações públicas e de propaganda institucional.” 22 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 Unidade I O marketing de pessoas se refere ao planejamento, à construção e à manutenção da imagem de indivíduos com o intuito de gerar e manter uma reputação. Trata‑se de uma ação relevante para quem assume altos cargos em empresas importantes, artistas, profissionais liberais, políticos e atletas. Kotler e Armstrong (2015) explicam que a aplicação bem pensada do marketing pode fazer do nome de uma pessoa uma marca poderosa, capaz de endossar produtos e serviços de cidades, estados, regiões ou países com o objetivo de atrair investimentos, turistas ou moradores. Apesar de podermos dizer que todo marketing trabalha sempre com a promoção de ideias, o marketing de ideias refere‑se a causas e é mais conhecido com marketing social. Trata‑se da utilização de conceitos e ferramentas do marketing comercial em ações com a intenção de influenciar o comportamento das pessoas a fim de se conseguir melhorias no bem‑estar da sociedade. 2.1 Classificação de produtos Os produtos são classificados pela sua durabilidade, tangibilidade e forma de uso (consumidor ou empresarial); estratégias diferentes são elaboradas para cada uma dessas classificações de acordo com suas características. Para o nosso estudo vamos começar fazendo uma primeira divisão, classificando os produtos e os serviços com base em quem consome e como são consumidos ou utilizados – forma de uso (consumidor ou empresarial). Assim, temos duas grandes subdivisões: os produtos de consumo e os produtos organizacionais. Os produtos de consumo abrangem bens e serviços que são adquiridos para uso do próprio consumidor. Nessa categoria, os produtos ainda são organizados em quatro subcategorias: • de conveniência: esses produtos são comprados sem que o consumidor empreenda grandes esforços, quer seja na busca ou na escolha; subdividem‑se em três tipos: — produtos básicos: são bens comprados com regularidade, como os produtos de higiene, de limpeza e os alimentícios; — produtos de compra por impulso: os consumidores compram esse tipo de produto sem nenhum (ou quase nenhum) planejamento; é o caso de guloseimas, como chocolates e chicletes, e artigos como revistas, jornais, refrigerantes gelados e pilhas, que já ficam dispostos no check‑out dos supermercados, por exemplo; — produtos de emergência: normalmente são artigos que acabam sendo adquiridos em razão de alguma necessidade imediata, que surge repentinamente, como guarda‑chuvas assim que começa uma chuva mais forte, lanternas ou velas em decorrência de falta de energia elétrica, água mineral em dias muito quentes; esses produtos são distribuídos rapidamente em diversos pontos de venda, como os estabelecimentos comerciais formais (lojas) e para os vendedores ambulantes. 23 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 MIX DE PRODUTOS • produtos de compra comparada: são produtos selecionados pelo consumidor, com base em comparações de preço, qualidade, modelo e outras características consideradas importantes, como é o caso de móveis, roupas, eletrodomésticos; dividem‑se em: — produtos homogêneos: são produtos semelhantes em qualidade, mas que apresentam diferenças importantes em relação ao preço; — produtos heterogêneos: são produtos com diferenças substanciais quanto a características que são prioridades em relação ao preço para o consumidor; apresentam grande variedade, uma vez que o foco está nas preferências individuais dos clientes. • produtos de especialidade: são produtos que possuem características únicas, desejadas por um grupo de consumidores que estão dispostos a dedicar um esforço extra para sua aquisição; a compra não envolve comparações, já que são “especiais”; na maioria das vezes, os consumidores se deslocam para chegar ao ponto de venda; são exemplos carros, equipamentos náuticos e equipamentos fotográficos. • produtos não procurados: são produtos que não são conhecidos pelo mercado ou não são desejados até que se tornem necessários ou divulgados; entram nessa categoria os jazigos, os seguros de vida etc. Veja na tabela a seguir o comportamento das demais variáveis do mix de marketing com relação a cada tipo de produto de consumo. Quadro 1 – Variáveis do mix de marketing para os diferentes produtos Conveniência Compra comparada Especialidade Não procurados Preço Baixo Mais alto Alto Variável Distribuição Ampla, em locais de conveniência para o público. Seletiva, poucos pontos de venda. Exclusividade de distribuição (pontos de venda em áreas específicas). Variável. Promoção Em massa, feita pelo fabricante, pode ser feita pelo intermediário, mas com o apoio do fabricante. Ênfase na venda pessoal. Dirigida, pode ser feita tanto pelo fabricante como pelo revendedor. Propaganda agressiva somada a venda pessoal. Exemplos Alimentos, produtos de limpeza e higiene pessoal. Móveis, roupas, eletrodomésticos, eletrônicos. Produtos de luxo, joias, relógios, mobiliário mais sofisticado. Seguro de vida, jazigos, doação de sangue. Adaptado de: Kotler e Armstrong (2015, p 247). Os produtos organizacionais ou bens empresariais são classificados em função de como entram no processo produtivo ou como são utilizados na gestão e no dia a dia dos negócios. Os produtos podem ser adquiridos para serem processados (sofrerem alguma transformação que resultará em outro produto ou 24 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 Unidade I em um produto mais apropriado para consumo) ou comprados para serem consumidos em atividades de rotina (para que os processos possam ser executados). Há ainda os serviços que são prestados para as empresas. Vamos analisar como os produtos organizacionais são divididos. Materiais e peças são bens adquiridos para a fabricação de outros produtos, sendo subdivididos em matérias‑primas e materiais e peças manufaturadas. As matérias‑primas englobam os produtos agropecuários (trigo, gado, soja, algodão etc.) e os produtos naturais (peixes, madeira, minérios etc.). Veja no quadro a seguir as características de cada uma dessas subdivisões. Quadro 2 – Matérias‑primas Matérias-primas Produtos agropecuários Produtos naturais • Fornecidos por muitos produtores. • Intermediários cuidam de estocagem, classificação, transporte e venda. • De natureza perecível e sazonal, requerendo práticas de marketing especiais. • Caráter de commodity leva a pouca atividade, pouca divulgação e branding, com raras exceções, como é o caso da Maçã da Mônica. • Poucos produtores, porém de grande porte. • São de fornecimento limitado. • Frequentemente comercializados diretamente com os clientes industriais. • Em geral, são vendidos a granel. • Precisam ser transportados do produtor ao usuário. • Em função da grande necessidade desses produtos por parte dos clientes, os contratos de fornecimento costumam ser de longo prazo. • Criação de demanda limitada em razão da grande homogeneidade entre os produtos. • Confiabilidade e preço são pontos importantes na decisão e na seleção de fornecedores. Adaptado de: Kotler e Keller (2012, p. 350). Já materiais e peças manufaturados abrangem duas categorias: os materiais componentes, que são representados por produtos, como ferro, cimento e fibras têxteis, e as peças componentes, como pequenos motores e pneus. Os materiais componentes entram em processos fabris, como no caso da fabricação de tecidos, em que se faz necessário o uso de algumafibra têxtil. Uma característica importante dos materiais componentes e que influencia diretamente sua forma de administração e comercialização é que, pela falta de diferenciação (pela padronização dos produtos), tanto o preço oferecido pelo fornecedor como a credibilidade são questões decisivas no processo de compra. As peças componentes entram como produto acabado, recebendo pouca ou nenhuma modificação; em geral são vendidas diretamente aos clientes empresariais que irão empregá‑las em seus processos produtivos. Nesse caso, preço e serviços oferecidos fazem a diferença na negociação. Em ambos os casos, gestão de marca e propaganda têm um peso menor na administração de marketing. 25 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 MIX DE PRODUTOS Os bens de capital representam compras de grande importância em razão de facilitarem o desenvolvimento e o gerenciamento do produto acabado. São, inclusive, produtos de alta durabilidade (longa duração) e que se dividem em dois grupos distintos: instalações e equipamentos. As instalações abrangem as instalações ou construções propriamente ditas (escritórios, unidades fabris e lojas) e os equipamentos pesados (computadores de grande porte, geradores e maquinário em geral). O mais comum é que sejam adquiridos diretamente do fornecedor, cuja força de vendas é formada por pessoal técnico em razão da necessidade de pré‑venda que pode perdurar por longos períodos. É importante que o fornecedor tenha condições (expertise, pessoal e infraestrutura) para desenvolver as adaptações necessárias ao atendimento do cliente e que ofereça suporte no pós‑venda. Também nesse caso, a credibilidade suplanta a importância da propaganda. Já a categoria equipamentos refere‑se às máquinas e às ferramentas portáteis, como chaves de fenda e esteiras transportadoras, e aos equipamentos de escritório, como impressoras e computadores. São artigos que não se relacionam com a fabricação do produto e que, em geral, têm vida útil mais curta em comparação com as instalações. Podem ser vendidos diretamente pelos seus fornecedores, porém boa parte das vendas é realizada por representantes que podem atender melhor pedidos menores e de diferentes regiões. Nesse contexto, qualidade, características técnicas, preço e serviços são fatores preponderantes no fechamento da compra e a propaganda passa a ser considerada com mais importância que nos casos anteriores. Figura 6 – Exemplo de centro de armazenagem No que diz respeito aos serviços, estão os suprimento e serviços empresariais que de alguma forma entram como facilitadores do desenvolvimento ou gerenciamento do produto ou negócio. Entre os suprimentos há os itens de manutenção e reparo, como tintas e colas, e os suprimentos operacionais, como papel para escrever, canetas e lubrificantes das máquinas operatrizes. Cabe lembrar que, em razão de como são comprados – baixo nível de esforço –, os suprimentos equivalem aos bens de conveniência; geralmente são comprados de intermediários em função do baixo valor unitário e também por causa da enorme variedade e dispersão geográfica dos clientes. Aqui a marca tem pouca relevância, mas preço e serviços, como entrega, são considerações importantes. 26 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 Unidade I Serviços empresariais abrangem tanto limpeza e consertos como consultoria empresarial; são serviços oferecidos por empresas especializadas ou pelos fabricantes de equipamentos. A seleção do fornecedor normalmente se dá pela reputação da marca. Observação A diferença entre produtos de consumo e produtos organizacionais é a finalidade da aquisição. Quanto mais sofisticado for o produto sob o ponto de vista tecnológico, mais as suas vendas dependerão da qualidade dos serviços prestados. Quadro 3 – Classificação de produtos por durabilidade, tangibilidade e consumo Durabilidade e tangibilidade Bens não duráveis Bens duráveis Serviços Bens de consumo Conveniência Básicos Impulso Emergência Compra comparada Especialidade Não procurados Bens empresariais Materiais e peças Matérias‑primas e materiais Produtos agropecuários Produtos naturais Peças manufaturadas Materiais componentes Peças componentes Bens de capital Suprimentos e serviços empresariais 2.1.1 Caso Red Bull – Marketing de produto único Red Bull é um caso único de marketing de produto. Na verdade, é um caso único de uma empresa que fabrica e comercializa somente um produto desde seu nascimento em 1988: a bebida energética (também chamada de bebida funcional) Red Bull. Por cerca de 20 anos a companhia concentrou seus esforços somente no produto Red Bull Energy Drink. Imagine uma empresa presente em dezenas de países fazendo um só produto! Essa estratégia rara e arriscada tem seus benefícios: • foco: todos na organização estão concentrados somente em um produto, sem dispersão; • economia de escala de produção: os insumos de produção são sempre os mesmos e a programação de compras tem ganhos expressivos se comparada à programação de uma indústria com dezenas ou centenas de insumos em linha; 27 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 MIX DE PRODUTOS • economia de escala de processos: todos os procedimentos operacionais giram em torno de um só item; • economia de escala em marketing: todos os investimentos mercadológicos são concentrados em um só produto/marca, sem que haja divisão de verba. Por outro lado, os riscos dessa estratégia não são nada desprezíveis. Qualquer problema que afete a imagem do produto pode afetar seriamente o faturamento total da empresa, por exemplo: • problemas com produto estragado ou contaminado; • problemas com questões ambientais (como poluição, vazamentos etc.); • problemas com questões trabalhistas e sociais nas unidades industriais. Talvez para dividir um pouco o risco, há poucos anos houve uma leve diversificação e outras versões da bebida foram lançadas: Red Bull Sugarfree, bebida funcional sem açúcar, e Red Bull Editions, que é o tradicional Red Bull Energy Drink com variação de sabores (cranberry, frutas tropicais e blueberry). De qualquer modo, não há oferta de embalagens diferentes, e a lata de alumínio de 250 ml é padrão para as cinco versões do produto. Note que a escolha da lata de alumínio de 250 ml como padrão para 100% da produção traz benefícios impactantes: alta escala de produção com poucas trocas de conteúdo, padronização de processos de manuseio de maquinário, padronização de procedimentos logísticos de embarque, boa imagem corporativa por associar produto a processos de reciclagem de latas etc. A empresa, fundada na Áustria por Dietrich Mateschitz em 1987, criou uma nova categoria de produtos: bebidas energéticas. Uma de suas primeiras ações de marketing foi criar um evento de maratona que exige preparação física para equipes que disputam corrida em montanha, parapente, caiaque e bike de montanha. Esse evento, chamado de Dolomite Man, ocorre anualmente até os dias atuais, sendo considerado por alguns o campeonato mundial não oficial de esportes radicais. Em função dos bons resultados obtidos com o Dolomite Man, a empresa optou por patrocinar atletas e esportes que agregassem valor à marca e que fossem alinhados com o posicionamento de bebida energética. A Red Bull patrocinou ao longo dos anos Gerhard Berger como piloto de Fórmula 1, Bjorn Dunkerbeck e Robby Naish como atletas de windsurfe, a equipe Sauber Grand Prix de Fórmula 1, Martin Freinademetz como atleta de snowboard, Simon Crafar como piloto de MotoGP e outros. O grande diferencial nos patrocínios veio na forma de criar eventos esportivos diferenciados como o Red Bull Flugtag, que faz pessoas comuns desenvolverem máquinas voadoras feitas em casa e sem motor para serem lançadas numa plataforma de 6 metros de altura na beira de um lago ou mar. Centenas de pessoas se inscrevem e milhares assistem,gerando mídia espontânea que ajuda a posicionar a marca. Há muitos eventos desse tipo exclusivos da empresa: 28 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 Unidade I • Red Bull Cliff Diving é um campeonato de saltos ornamentais em penhascos com alturas muito maiores que as comumente encontradas nesse tipo de campeonato. • Red Bull King of the Air é um evento internacional de kiteboard, que é uma mistura de windsurfe com esqui, surfe e voo livre. O atleta fica sobre uma prancha parecida com a de surfe e uma espécie de pipa parecida com um paraquedas o puxa para a frente permitindo manobras radicais quando o vento é forte. • Red Bull Soapbox Race é uma corrida de veículos não motorizados ladeira abaixo. Imagine adaptar um carrinho de bebê ou um carrinho de supermercado para suportar altas velocidades e você terá uma ideia. Os praticantes constroem seus veículos em casa e disputam entre si para ver quem faz a descida no menor tempo. • Red Bull Downhill Extreme é uma competição de skate e longboard em estradas sinuosas. • Red Bull Crashed Ice é uma competição em que atletas usando patins de hóquei descem uma ladeira sinuosa e cheia de rampas coberta de gelo. • Red Bull X‑Alps é uma corrida de aventura combinando trekking e parapente que percorre uma distância de mil quilômetros dos Alpes Suíços até Mônaco. • Red Bull Paper Wings, por sua vez, abre espaço para pessoas comuns que não têm habilidades em esportes radicais. Trata‑se de um campeonato de arremesso de aviões de papel em que o objetivo é alcançar a maior distância e o maior tempo de voo no ar. Pode parecer uma bobagem infantil, mas engenheiros de vários países, além de entusiastas, projetam seus aviões de papel para esta competição! Como você pode perceber, o ponto comum nesses eventos é a criatividade a serviço do alinhamento da marca com esportes (radicais ou não); o slogan “Red Bull te dá asas” cabe conceitualmente em todos os eventos. O objetivo da empresa é aproveitar o efeito buzz marketing, uma estratégia voltada para a geração espontânea de comentários e opiniões (barulho ou buzz, em inglês) compartilhadas nos meios de acesso do público, normalmente redes sociais. Ou seja, o retorno de comunicação é largamente ampliado sem investimentos em propaganda, já que o próprio público divulga e compartilha. Dois eventos são característicos dessa estratégia da Red Bull: • Red Bull Air Race, uma corrida de aviões em que as acrobacias aéreas são fundamentais para vencer. Os aviões e suas hélices são especialmente preparados e a “pista” de corrida aérea é sinalizada por gigantescos cones infláveis. Esse provavelmente seja o mais impactante evento ao ar livre da Red Bull e ocorre em vários lugares do mundo. Até o Rio de Janeiro já recebeu uma edição com 1 milhão de espectadores ao longo da orla onde ocorreu a corrida! • Red Bull Stratos, um evento realizado em 2012 e transmitido pelo YouTube para mais de 8 milhões de pessoas. O paraquedista e base jumper austríaco Felix Baumgartner promoveu o mais alto salto 29 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 MIX DE PRODUTOS de paraquedas da história da humanidade: 39.014 metros de altura a partir de um balão de hélio usando um traje espacial, já que estava na beira da estratosfera. Em função do hábito de consumo do produto ter incluído a mistura com bebidas alcoólicas (o famoso Red Bull com vodca ou uísque), a empresa passou a patrocinar eventos musicais diversos em todo o mundo. Veja alguns exemplos: • Red Bull Music Academy em Berlim e Nova York; • Red Bull BC One em Berlim, São Paulo, Cidade do Cabo, Paris, Nova York e Tóquio; • Red Bull Tourbus rodando a Alemanha; • Red Bull Studio em Los Angeles, Cidade do Cabo e Londres. Veja que todo esse esforço mercadológico está fortemente associado ao DNA do produto e está alinhado com o famoso slogan “Red Bull te dá asas”. Os eventos esportivos são facilmente conectados a esse conceito, bem como os eventos musicais. Atente a que o produto está disponível em mais de 160 países hoje em dia. Lembrete A Red Bull é um caso único de empresa que fabrica e comercializa apenas um tipo de produto. Trata‑se de um exemplo de sucesso; no entanto, vale lembrar que, nesse contexto, qualquer problema que afete a imagem do produto terá consequências sérias e diretas no faturamento total da empresa. Saiba mais Veja no site <http://www.redbull.com/br/pt> a cuidadosa descrição do produto e seus benefícios, além da apresentação do enorme rol de eventos e patrocínios, tanto esportivos quanto musicais. Procure também no YouTube os vídeos do Red Bull Stratos e do Red Bull Air Race e perceba o comprometimento da empresa com o slogan “Red Bull te dá asas”. 30 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 Unidade I 2.2 Categorias do mix de serviços Serviços podem compreender a parte principal da oferta ou uma parte complementar, dependendo de como é disponibilizada. Vejamos a seguir as quatro categorias de serviços que são oferecidas no mercado. • Serviço puro: é o serviço totalmente intangível, como o trabalho de uma babá, uma consulta médica ou uma sessão de massagem. • Bem tangível associado a serviço: tomemos como exemplo um computador que para funcionar precisa de um sistema operacional e programas específicos (de acordo com as necessidades do cliente). No caso de produtos tecnologicamente sofisticados, os serviços assumem uma importância proporcional a sua complexidade. • Oferta híbrida: é o caso dos restaurantes que não vendem apenas alimentos, mas também o serviço de prepará‑los e servi‑los. • Serviço principal associado a bens ou serviços secundários: como no caso das viagens aéreas e seus serviços adicionais de refeições especiais a bordo. Nesse caso, apesar de o investimento mais alto ser em aeronaves, a oferta principal é o item mais importante. Figura 7 – O trabalho do cabeleireiro é um tipo de prestação de serviços Em razão dessa diversidade de tipos, os serviços não podem ser generalizados: eles podem depender de equipamentos (como é o caso dos lava‑rápidos), de pessoas especializadas (cabeleireiros, contadores), exigir a presença do cliente (cirurgias) ou diferentes processos (é o caso de restaurantes que podem servir à la carte, self‑service ou em outros formatos). Por esses motivos, a administração de marketing difere de um caso para outro. 31 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 MIX DE PRODUTOS 2.3 Características peculiares dos serviços Os serviços apresentam características próprias que influenciam diretamente sua administração e o desenvolvimento de programas de marketing. Essas características dizem respeito à intangibilidade, inseparabilidade, variabilidade e perecibilidade. 2.3.1 Intangibilidade Essa característica dá origem às demais atribuídas a serviços. Quando contratamos um serviço, não conseguimos ver o resultado antes da sua total entrega ou prestação, isto é, não temos como ver os serviços, tocá‑los ou senti‑los, como acontece quando compramos um par de sapatos ou um jogo de panelas; essa é a condição que lhe traz a intangibilidade e que faz sua administração ser diferente da praticada em relação a produtos tangíveis. O gestor de serviços, portanto, deve buscar agregar evidências e imagens concretas ao serviço para torná‑lo o mais tangível possível; é por esse motivo que é tão importante preocupar‑se com a aparência das instalações de empresas que prestam serviços, ter pessoal qualificado e treinado constantemente, dispor de equipamentos de qualidade e sempre calibrados, possuir material de comunicação com mensagens claras e, finalmente, ter logomarca e logotipo que transmitam o escopo e a missão compatíveis, além de preço adequado ao nível de serviço oferecido. A intangibilidade, em função de sua natureza, dá origem a alguns problemas de marketing quenão acontecem na gestão de produtos tangíveis. Analisemos cada um deles e as possibilidades de solução. • Impossibilidade de armazenagem: não existe estoque de serviços e, assim, a administração de altas demandadas não pode ser pensada com reservas de suprimentos. Não há como reservar mais lugar para o caso de uma sala de cinema lotada em determinado horário, assim como ingressos não vendidos para determinada sessão não podem ser transferidos para outra. • Falta de proteção dos serviços por meio de patentes: serviços não podem ser patenteados exatamente por causa da sua intangibilidade, podendo ser copiados com facilidade. O que se faz, na verdade, é patentear o maquinário que porventura seja utilizado para a prestação do serviço, a parte tangível da oferta. • Dificuldade de divulgação: aqui temos mais um desafio bastante comum para o gestor de marketing de serviços que não pode mostrar os serviços em suas ações de comunicação. Como fazer para exibir um seguro de vida, seja na venda ou em uma campanha? Na prática, o que se faz é apresentar seus benefícios. O mesmo raciocínio vale para uma viagem já que, por mais imagens que se mostrem ao cliente, apresentando as localidades, as atrações e os hotéis, ele só conhecerá de fato o que está comprando no momento do consumo. • Dificuldade para precificação: o principal custo envolvido na produção de um serviço é trabalho. Em geral, as empresas prestadoras de serviço calculam o preço somando os custos envolvidos 32 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 Unidade I diretamente na produção, como materiais utilizados e outras despesas, sem deixar de inserir um valor referente ao trabalho em si. Observe agora algumas possibilidades de solução para os problemas originados na intangibilidade. • Utilização de recursos tangíveis: essa tática advém de o cliente muitas vezes observar o que há de tangível no serviço, por mínimo que seja, para fazer algum tipo de comparação, que pode ser o estilo ou a qualidade da decoração em um escritório de advocacia, a aparência dos funcionários de uma seguradora. • Uso de fontes pessoais para informação: na falta de elementos tangíveis, as referências pessoais funcionam como avais para os serviços. Fontes pessoais podem ser pessoas da família, amigos, formadores de opinião. • Construção de imagem institucional sólida: é comum que as empresas prestadoras de serviço invistam em uma imagem que transmita credibilidade e confiança a fim de amenizar os riscos percebidos pelo cliente na contratação do serviço; esses investimentos envolvem recursos financeiros para manter uma comunicação clara e duradoura com o público‑alvo, bem como o investimento em processos de qualidade e treinamento. 2.3.2 Inseparabilidade Enquanto produtos podem ser fabricados e armazenados para consumo posterior, serviços são consumidos no momento em que são entregues pelo fornecedor, ou seja, prestação de serviço e consumo do serviço acontecem simultaneamente. Em muitos casos, o consumidor está presente no momento da prestação do serviço, e mesmo que não esteja, há uma promessa de desempenho a ser entregue. Por esse motivo, é importante a interação envolvendo prestador do serviço e cliente. Segundo Hoffman et al. (2009, p. 36), “a inseparabilidade reflete as interconexões entre o provedor de serviços, o cliente que recebe o serviço e outros clientes que compartilham a mesma experiência”. A inseparabilidade é uma característica que também causa problemas na gestão. Veja alguns exemplos. • Necessidade da presença física do provedor do serviço: é o caso dos cirurgiões e dos serviços de limpeza. • Envolvimento do cliente no processo de serviço: o envolvimento do cliente no processo comprova a inseparabilidade a que nos referimos, a qual pode variar em grau, como quando se trata de uma exigência própria da natureza do serviço a presença do cliente (o que aconteceria para um corte de cabelo ou o ingresso em cursos). Diferentemente dos bens tangíveis que seguem as etapas (1) produção, (2) venda, (3) consumo, os serviços são primeiramente vendidos e, depois, produzidos e consumidos simultaneamente. • Envolvimento de outros clientes no processo de serviço: há situações em que diversos clientes consomem o serviço conjuntamente. É o caso dos hóspedes de um hotel ou dos clientes de 33 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 MIX DE PRODUTOS um restaurante. Nesses casos esse compartilhamento pode resultar em vivências negativas ou positivas. Imagine, por exemplo, crianças muito barulhentas na piscina do hotel junto de casais que querem descansar. • Produção de serviços em massa: outra dificuldade provocada pela inseparabilidade é como ser bem‑sucedido com a produção de serviços em massa. A questão aqui está relacionada ao fato de o provedor de serviços estar diretamente conectado ao serviço que presta e, portanto, como atingir volumes para atendimento em massa? Outra questão é o envolvimento do cliente no processo de produção, que precisaria ir até o provedor dos serviços. O problema, portanto, é como atender um mercado‑alvo muito pulverizado geograficamente. A seguir estão possibilidades de solução para os problemas originados na inseparabilidade. • Seleção e treinamento do pessoal de contato: há de se levar em consideração o fato de que pessoas passam por variações de humor e de ânimo e, portanto, nem sempre os comportamentos podem ser controlados. Em razão disso, a seleção de pessoal deve exigir excelência no relacionamento interpessoal e os treinamentos devem fazer parte da rotina. O objetivo aqui é equalizar as questões pessoais e unificar o padrão da prestação dos serviços. Figura 8 – O treinamento de pessoal é um processo de grande importância para uniformizar o padrão de prestação de serviços • Gerenciamento do cliente: diz respeito à administração dos grupos de clientes, separando‑os por perfis, e à antecipação de orientações que podem colaborar com uma experiência em serviço mais positiva, como implementar setores de reservas e informações. • Multiplicidade de localização: criar unidades de serviços em locais em que haja demanda, adequando o portfólio de serviços de cada unidade às necessidades da região. 34 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 Unidade I 2.3.3 Variabilidade ou heterogeneidade A prestação de serviço depende de pessoas, o que pode gerar pouca uniformidade na entrega, isto é, variação na consistência da entrega dos serviços. O foco do gestor, dessa forma, deve ser garantir a uniformidade e a qualidade por meio do investimento em treinamento, da padronização dos processos e do acompanhamento da satisfação do cliente. Hoffman et al. (2009, p. 47) explicam que “a heterogeneidade, quase por definição, torna impossível que uma prestação de serviços alcance 100% de qualidade continuamente”. Basicamente os maiores problemas decorrentes da variabilidade ou heterogeneidade se dão pela dificuldade de padronizar e controlar a qualidade dos serviços. A razão disso acontecer é justamente a característica da inseparabilidade, estudada anteriormente – a necessidade de o provedor estar presente no momento da entrega do serviço. O serviço pode ser excelente, mas, se a pessoa de contato falhar na entrega do serviço, mesmo que seja por um problema de relacionamento, o serviço também correrá o risco de ter a sua imagem desprestigiada. Na sequência estão algumas possíveis soluções para os problemas causados pela variabilidade ou heterogeneidade. • Customização: a ideia aqui é tirar vantagem da possibilidade da diferença; com a customização é possível atender às necessidades individuais dos clientes. Porém o gestor deve ter em mente que, se por um lado a customização atende mais precisamente às especificações desejadas pelo cliente, por outro demanda mais tempo durante todo o processo. No entanto, vale ressaltar que se pode
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