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Roteiro - Aula 22

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INTENSIVO I 
Flávio Tartuce 
Direito Civil 
Aula 22 
 
 
ROTEIRO DE AULA 
 
 
Doação (CC, arts. 538 a 564) 
1. Conceito e natureza jurídica (continuação) 
É um contrato benéfico ou benévolo que, como tal, não admite interpretação extensiva (CC, art. 1141). 
 
A doação tem dois requisitos essenciais: 
• “Animus donandi” (intenção de doar). 
• Aceitação do donatário: 
✓ Expressa. 
✓ Presumida (CC, art. 5392) - Comportamento negativo do donatário. 
✓ Tácita – Comportamento positivo do donatário (exemplo: S. 328 STF3: pagamento de imposto de 
transmissão “inter vivos”). 
 
Natureza jurídica: 
 
a) Contrato unilateral, em regra: traz deveres para apenas uma das partes. 
Exceção: doação modal ou com encargo. 
Obs.: Polêmica sobre a doação modal ou com encargo: 
 
1 CC, art. 114: “Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente”. 
2 CC, art. 539: “O doador pode fixar prazo ao donatário, para declarar se aceita ou não a liberalidade. Desde que o 
donatário, ciente do prazo, não faça, dentro dele, a declaração, entender-se-á que aceitou, se a doação não for sujeita a 
encargo”. 
3 Súmula 328, STF: “É legítima a incidência do impôsto de transmissão inter vivos sôbre a doação de imóvel”. 
 
 
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• Encargo é ônus: contrato unilateral imperfeito (Maria Helena Diniz). 
• Encargo é dever: contrato bilateral (casal Nery). 
 
b) Contrato gratuito, em regra: só há uma prestação. 
Exceção: doação onerosa. Exemplo: doação modal ou com encargo. 
 
c) Contrato consensual, em regra: tem aperfeiçoamento com a manifestação de vontade das partes. 
Exceção: doação manual (art. 541, §único, CC) - tem aperfeiçoamento com a entrega da coisa. 
 
d) Contrato comutativo: a prestação já é conhecida pelas partes. 
 
e) Quanto às formalidades/solenidades (CC, arts. 1074, 1085 e 5416): 
• Doação de imóvel com valor superior a 30 salários mínimos: solene e formal. 
• Doação de imóvel com valor inferior ou igual a 30 salários mínimos: não solene e formal. 
• Doação de móvel: não solene e formal. Pelo artigo 541, caput, Código Civil, há necessidade de forma escrita (em 
regra). 
 
Exceção (art. 541, §único, CC): é possível a doação verbal (informal e não solene) de bem móvel de pequeno valor (doação 
manual). 
• A doação será válida se, logo após a declaração (“incontinenti”), ocorrer a entrega da coisa (contrato real). 
• Pequeno valor: deve-se considerar o patrimônio do doador (Enunciado 622, VIII Jornada de Direito Civil e REsp n. 
155.240/RJ): 
 
"ENUNCIADO 622 – Art. 541: Para a análise do que seja bem de pequeno valor, nos termos do que consta do art. 541, 
parágrafo único, do Código Civil, deve-se levar em conta o patrimônio do doador". 
 
EMENTA: “Direito Civil e Processual Civil. Doação à namorada. Empréstimo. Matéria de prova. I - O pequeno valor a que 
se refere o art. 1.168 do Código Civil há de ser considerado em relação à fortuna do doador; se se trata de pessoa abastada, 
 
4 CC, art. 107: “A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente 
a exigir”. 
5 CC, art. 108: “Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem 
à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o 
maior salário mínimo vigente no País”. 
6 CC, art. 541: “A doação far-se-á por escritura pública ou instrumento particular. Parágrafo único. A doação verbal será 
válida, se, versando sobre bens móveis e de pequeno valor, se lhe seguir incontinenti a tradição”. 
 
 
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mesmo as coisas de valor elevado podem ser doadas mediante simples doação manual (Washington de Barros Monteiro). 
II - No caso, o acórdão recorrido decidiu a lide à luz da matéria probatória, cujo reexame é incabível no âmbito do recurso 
especial. III - Recurso especial não conhecido” (REsp 155.240/RJ, Rel. Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, TERCEIRA 
TURMA, julgado em 07/11/2000, DJ 05/02/2001, p. 98). 
 
2. Modalidades de doação e seus efeitos 
 
2.1. Doação remuneratória (CC, art. 5407) 
Apesar do nome, não se trata de ato de liberalidade pura, mas de uma remuneração por serviços prestados (doação 
onerosa). 
Somente há liberalidade naquilo que exceder o valor do serviço prestado. 
Exemplo: doação de um carro para o médico que salvou o meu filho (R$ 50 mil). 
• Remuneração = R$ 20 mil. 
• Doação = R$ 30 mil. 
 
A doação remuneratória gera os seguintes efeitos jurídicos: 
• 1ª: cabe alegação de vício redibitório (CC, art. 441, parágrafo único8). 
• 2ª: não cabe revogação por ingratidão (CC, art. 564, I9). 
• 3ª: as doações remuneratórias de serviços feitos ao ascendente não estão sujeitas à colação (CC, art. 2.01110). 
 
2.2. Doação meritória ou contemplativa (CC, art. 540) 
É aquela feita em contemplação de um merecimento do donatário. 
Exemplo: “Dou um carro ao cantor Alceu Valença, pois sou seu fã”. 
✓ Não perde o caráter de liberalidade (é doação pura). 
 
2.3. Doação a nascituro (CC, art. 54211) 
 
7 CC, art. 540: “A doação feita em contemplação do merecimento do donatário não perde o caráter de liberalidade, como 
não o perde a doação remuneratória, ou a gravada, no excedente ao valor dos serviços remunerados ou ao encargo 
imposto”. 
8 CC, art. 441: “A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que 
a tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor. Parágrafo único. É aplicável a disposição deste 
artigo às doações onerosas”. 
9 CC, art. 564: “Não se revogam por ingratidão: I - as doações puramente remuneratórias; (...)”. 
10 CC, art. 2.011: “As doações remuneratórias de serviços feitos ao ascendente também não estão sujeitas a colação”. 
11 CC, art. 542: “A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu representante legal”. 
 
 
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Nascituro: aquele que foi concebido, mas ainda não nasceu. 
Validade: a doação depende da aceitação do representante legal do nascituro. 
 
Segundo a doutrina majoritária, a sua eficácia depende do nascimento com vida (Maria Helena Diniz, Silmara Chinellato). 
 
CC, art. 54612 - O dispositivo admite a doação ao concepturo (prole eventual). 
✓ CC, art. 1.800, § 4º13: a pessoa deve ser concebida no prazo decadencial de dois anos após a abertura da sucessão 
do doador. 
 
2.4. Doação sob forma de subvenção periódica (CC, art. 54514) 
Trata-se de doação de rendas – doação de trato sucessivo (mês a mês). 
 
Em regra, não pode ultrapassar a vida do doador (personalíssima ou “intuitu personae”). 
Como exceção, o doador pode estipular o contrário, onerando os seus herdeiros até os limites da herança (exceção ao 
artigo 426 do Código Civil15). Entretanto, no último caso, não pode ultrapassar a vida do donatário (personalíssima ou 
“intuitu personae”). 
 
2.5. Doação “propter nuptias” ou em contemplação de casamento futuro (CC, art. 546) 
Doação condicional (sob condição suspensiva): 
• Entre os nubentes. 
• De um terceiro para os nubentes, inclusive aos filhos que nascerem da união. 
 
Observação: Não confundir com presente de casamento, que é doação pura. 
✓ Não há impedimento para aplicar o artigo à união estável. 
 
2.6. Doação de ascendente para descendente e doação entre cônjuges (CC, art. 54416) 
 
12 CC, art. 546: “A doação feita em contemplação de casamento futuro com certa e determinada pessoa, quer pelos 
nubentes entre si, quer por terceiro a um deles, a ambos, ou aos filhos que, de futuro, houverem um do outro, não pode 
ser impugnada por falta de aceitação, e só ficará sem efeito se o casamento não se realizar”. 
13 CC, art. 1.800, § 4º: “Se, decorridos dois anos após a abertura da sucessão, não for concebido o herdeiro esperado, os 
bens reservados, salvo disposição em contrário do testador, caberão aos herdeiroslegítimos”. 
14 CC, art. 545: “A doação em forma de subvenção periódica ao beneficiado extingue-se morrendo o doador, salvo se este 
outra coisa dispuser, mas não poderá ultrapassar a vida do donatário”. 
15 CC, art. 426: “Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva”. 
16 CC, art. 544: “A doação de ascendentes a descendentes, ou de um cônjuge a outro, importa adiantamento do que lhes 
cabe por herança”. 
 
 
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Nos dois casos, há adiantamento da legítima, que é a quota dos herdeiros necessários (50%). 
✓ Não há necessidade de autorização dos demais herdeiros. Assim sendo, há diferença com o que ocorre na compra 
e venda. 
 
CC, art. 1.845 - Herdeiros necessários: 
• Descendentes. 
• Ascendentes. 
• Cônjuge. 
• Companheiro (?). 
Observação (companheiro): O STF, no Inf. 864, declarou inconstitucional o artigo 1.790 do Código Civil e determinou a 
inclusão do companheiro ao lado do cônjuge no art. 1.829 do CC. 
✓ Com a decisão do STF de equiparação sucessória, o companheiro deve ser reconhecido como herdeiro necessário. 
Esse é o entendimento de Zeno Veloso e Giselda Hironaka. 
 
A doação entre cônjuges/companheiros é possível em todos os regimes de bens? 
 Comunhão parcial – sim: em relação aos bens particulares. 
 Participação final nos aquestos – sim: bens particulares. 
 Comunhão universal – não: a doação seria impossível e, portanto, nula (REsp 1.787.027/RS, 3ª Turma). 
✓ Obs.: Flávio Tartuce - sim, pois o art. 1.668 do CC17 traz bens particulares que poderiam ser doados. 
 
EMENTA: “CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÓRIO NO CÓDIGO CIVIL DE 1916. OMISSÃO OU 
OBSCURIDADE NO JULGADO. INOCORRÊNCIA. FUNDAMENTAÇÃO SUCINTA, MAS SUFICIENTE. PROCURAÇÃO SEM 
OBSERVÂNCIA DE FORMALIDADE LEGAL. AUSÊNCIA DE RECONHECIMENTO DE FIRMA DA ASSINATURA. IRRELEVÂNCIA. 
AUTENTICIDADE COMPROVADA POR PROVA PERICIAL GRAFOTÉCNICA. CESSÃO DE QUOTAS DE SOCIEDADE EMPRESÁRIA 
ENTRE SÓCIOS CÔNJUGES CASADOS SOB O REGIME DA COMUNHÃO UNIVERSAL DE BENS. NULIDADE DA DOAÇÃO. 
COMUNICABILIDADE, COPROPRIEDADE E COMPOSSE INCOMPATÍVEIS COM A DOAÇÃO ENTRE OS CÔNJUGES. SUCESSÃO 
HEREDITÁRIA. ASCENDENTE VIVO AO TEMPO DO FALECIMENTO. ORDEM DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA. EXCLUSÃO DO 
CÔNJUGE, A QUEM SE RESERVA A MEAÇÃO. DEFERIMENTO DA OUTRA PARTE AO HERDEIRO. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL 
PREJUDICADO. 1- Ação ajuizada em 08/10/2004. Recurso especial interposto em 10/09/2015 e atribuído à Relatora em 
25/08/2016. 2- Os propósitos recursais consistem em definir: (i) se houve omissão ou obscuridade relevante no acórdão 
 
17 CC, art. 1.668: “São excluídos da comunhão: I - os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os 
sub-rogados em seu lugar; II - os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, antes de realizada 
a condição suspensiva; III - as dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus aprestos, ou 
reverterem em proveito comum; IV - as doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a cláusula de 
incomunicabilidade; V - Os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659”. 
http://stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo864.htm#Direito%20sucess%C3%B3rio%20e%20distin%C3%A7%C3%A3o%20entre%20c%C3%B4njuge%20e%20companheiro%20-%203
 
 
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recorrido; (ii) se era exigível o reconhecimento de firma na procuração outorgada pela falecida que serviu de base à cessão 
de quotas que se pretende nulificar; (iii) se foi nula a doação de bens havida entre os cônjuges casados em regime de 
comunhão universal de bens, seja ao fundamento de impossibilidade do objeto, seja ao fundamento de desrespeito ao 
quinhão de herdeiro necessário. 3- Não há omissão no julgado que, conquanto de modo sucinto e se valendo de 
fundamentação per relationem, efetivamente se pronuncia sobre as questões suscitadas pela parte. 4- A procuração 
outorgada pelo mandante sem que tenha sido reconhecida a firma de sua assinatura não invalida, por si só, o mandato, 
especialmente se a dúvida eventualmente existente acerca da autenticidade do documento vier a ser dirimida por prova 
suficiente, como a perícia grafotécnica. 5- É nula a doação entre cônjuges casados sob o regime da comunhão universal 
de bens, na medida em que a hipotética doação resultaria no retorno do bem doado ao patrimônio comum amealhado 
pelo casal diante da comunicabilidade de bens no regime e do exercício comum da copropriedade e da composse. 6- Na 
vigência do Código Civil de 1916, a existência de descendentes ou de ascendentes excluía o cônjuge sobrevivente da 
ordem da vocação hereditária, ressalvando-se em relação a ele, todavia, a sua meação, de modo que, reconhecida a 
nulidade da doação entre cônjuges casados sob o regime da comunhão universal de bens, deve ser reservada a meação 
do cônjuge sobrevivente e deferida aos herdeiros necessários a outra metade. 7- O provimento do recurso especial por 
um dos fundamentos torna despiciendo o exame dos demais suscitados pela parte. Precedentes. 8- Recurso especial 
conhecido e parcialmente provido, a fim de julgar procedente o pedido formulado na petição inicial e declarar a nulidade 
da doação realizada entre os cônjuges. (REsp 1787027/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 
04/02/2020, DJe 24/04/2020). 
 
 Separação de bens: 
✓ Convencional (pacto antenupcial ou contrato de convivência): sim. 
✓ Obrigatória/legal (CC, art. 1.64118): duas correntes: 
❖ Não: pois haveria fraude ao regime (Ministro Sanseverino). 
❖ Sim, em regra: não se pode presumir a fraude (STJ – Ag.Rg. no REsp n. 194.325/MG). 
EMENTA: “DIREITO CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. DOAÇÃO REALIZADA POR CÔNJUGE NA 
CONSTÂNCIA DO CASAMENTO. VIGÊNCIA DO CÓDIGO CIVIL DE 1916. REGIME DE SEPARAÇÃO LEGAL DE BENS. DOADOR 
COM IDADE SUPERIOR A 60 ANOS. VALIDADE. PRECEDENTE. 1. São válidas as doações promovidas, na constância do 
casamento, por cônjuges que contraíram matrimônio pelo regime da separação legal de bens, por três motivos: "(i) o 
CC/16 não as veda, fazendo-no apenas com relação às doações antenupciais; (ii) o fundamento que justifica a restrição 
aos atos praticados por homens maiores de sessenta anos ou mulheres maiores que cinqüenta, presente à época em que 
promulgado o CC/16, não mais se justificam nos dias de hoje, de modo que a manutenção de tais restrições representam 
ofensa ao princípio da dignidade da pessoa humana; (iii) nenhuma restrição seria imposta pela lei às referidas doações 
caso o doador não tivesse se casado com a donatária, de modo que o Código Civil, sob o pretexto de proteger o patrimônio 
 
18 CC, art. 1.641: “É obrigatório o regime da separação de bens no casamento: I - das pessoas que o contraírem com 
inobservância das causas suspensivas da celebração do casamento; II – da pessoa maior de 70 (setenta) anos; III - de todos 
os que dependerem, para casar, de suprimento judicial.” 
 
 
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dos cônjuges, acaba fomentando a união estável em detrimento do casamento, em ofensa ao art. 226, §3º, da 
Constituição Federal." (REsp 471958/RS, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 18/12/2008, DJe de 
18/02/2009). 2. Agravo regimental a que se nega provimento.”(AgRg no REsp 194.325/MG, Rel. Ministro VASCO DELLA 
GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS), TERCEIRA TURMA, julgado em 08/02/2011, DJe 01/04/2011). 
 
Doação de ascendentes para descendentes. 
Nos limites da legítima (50%), o doador pode estipular o que quiser, até beneficiando um descendente em detrimento de 
outros. 
Em regra, o bem doado deve ser colacionado pelo donatário com a morte do doador, sob pena de sonegados. Porém, o 
doador pode dispensar a colação. 
 
 
 
2.7. Doação com cláusula de reversão (CC, art. 54719) – Cláusula de retorno 
O doador pode estipular que os bens voltem ao seu patrimônio se sobreviver ao donatário (doação sob condição 
resolutiva).Observações: 
 
19 CC, art. 547: “O doador pode estipular que os bens doados voltem ao seu patrimônio, se sobreviver ao donatário. 
Parágrafo único. Não prevalece cláusula de reversão em favor de terceiro”. 
 
 
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1ª) Não pode ser estipulada para terceiro, somente para o doador, sendo vedada a doação sucessiva (“pacta corvina” – 
art. 426 do CC20. Nulidade pelo art. 166, VII do CC21). 
✓ Trata-se de cláusula personalíssima ou “intuitu personae”. 
2ª) E se o bem for vendido para terceiro e depois ocorrer a morte do donatário? Em regra, opera a condição resolutiva e 
o bem retorna ao doador (propriedade resolúvel). Salvo boa-fé de terceiro. 
 
2.8. Doação conjuntiva (CC, art. 55122) 
Apresenta dois ou mais donatários, havendo presunção relativa ou “iuris tantum” de divisão igualitária entre eles: 
 
 
Em regra, não há direito de acrescer entre os donatários, ou seja, falecendo um deles, a sua quota é transmitida aos seus 
herdeiros. 
Exceção: Há direito de acrescer legal entre os cônjuges (CC, art. 551, § único). 
 
2.9. Doação inoficiosa (CC, art. 54923) 
 
É aquela que excede a proteção da legítima (50%). 
 
Nulidade absoluta parcial – Somente será nula naquilo que exceder os 50%. 
 
Nulidade absoluta parcial com peculiaridades (“sui generis”). 
 
 
 
20CC, art. 426: “Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.” 
21 CC, art. 166, VII: “É nulo o negócio jurídico quando: (...) 
VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.” 
22 CC, art. 551: “Salvo declaração em contrário, a doação em comum a mais de uma pessoa entende-se distribuída entre 
elas por igual. Parágrafo único. Se os donatários, em tal caso, forem marido e mulher, subsistirá na totalidade a doação 
para o cônjuge sobrevivo”. 
23 CC, art. 549: “Nula é também a doação quanto à parte que exceder à de que o doador, no momento da liberalidade, 
poderia dispor em testamento”. 
 
 
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EMENTA: “CIVIL. DOAÇÃO INOFICIOSA. 1. A doação ao descendente é considerada inoficiosa quando ultrapassa a parte 
que poderia dispor o doador, em testamento, no momento da liberalidade. No caso, o doador possuía 50% dos imóveis, 
constituindo 25% a parte disponível, ou seja, de livre disposição, e 25% a legítima. Este percentual é que deve ser dividido 
entre os 6 (seis) herdeiros, tocando a cada um 4,16%. A metade disponível é excluída do cálculo. 2. Recurso especial não 
conhecido” (REsp 112.254/SP, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, QUARTA TURMA, julgado em 16/11/2004, DJ 
06/12/2004, p. 313). 
 
Peculiaridades da ação de redução (ação declaratória de nulidade): 
• Pode ser proposta ainda estando vivo o doador. 
• Deve-se levar em conta o momento da liberalidade, em regra. (STJ – AR 3.493/PE). 
• A ação está sujeita a prazo prescricional de 10 anos (CC, art. 20525) (REsp n. 1.321.998/RS e REsp 1.775.379/RJ) 
(não se aplica o art. 169 do CC26). 
• Somente pode ser proposta pelos interessados patrimoniais e não pelo Ministério Público (REsp n. 167.069/DF) 
(não se aplica o art. 168 do CC27). 
 
 Julgados (mencionados acima): 
 
 
24 CC, art. 184: “Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio jurídico não o prejudicará na parte 
válida, se esta for separável; a invalidade da obrigação principal implica a das obrigações acessórias, mas a destas não 
induz a da obrigação principal”. 
25 CC, art. 205: “A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor”. 
26 CC, art. 169: “O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo”. 
27 CC, art. 168: “As nulidades dos artigos antecedentes podem ser alegadas por qualquer interessado, ou pelo Ministério 
Público, quando lhe couber intervir”. 
B C D 
A 
- 
p
ai 
Pai – 5 milhões 
 
1 milhão 
Válida em 2,5 milhões 
Nula em R$ 500 mil 
 
Ação de redução – Art. 184, CC. 
(ação de declaração de nulidade) 
 
 
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EMENTA: “DIREITO CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA FUNDADA NO ART. 485, V, DO CPC. SUCESSÃO. DOAÇÕES SUPOSTAMENTE 
INOFICIOSAS. INEXISTÊNCIA DE OFENSA LITERAL AO ART. 1.176 DO CCB/2002. Preliminar de incidência da Súmula 343/STF 
afastada, por maioria. Não incorre em ofensa literal ao art. 1.176 do Código Civil/2002 o acórdão que, para fins de 
anulação de doação por suposta ofensa à legítima dos herdeiros necessários, considera preciso observar se no momento 
da liberalidade o doador excedeu a parte de que poderia dispor em testamento. "Para ser decretada a nulidade é 
imprescindível que resulte provado que o valor dos bens doados exceda o que o doador podia dispor por testamento, no 
momento da liberalidade, bem como qual o excesso. Em caso contrário, prevalece a doação" (SANTOS, J. M. Carvalho, in 
Código Civil Brasileiro Interpretado, vol. XVI, 12 ed., Editora Livraria Freitas Bastos, Rio de Janeiro, 1986, p. 402). "O sistema 
da lei brasileira, embora possa resultar menos favorável para os herdeiros necessários, consulta melhor aos interesses da 
sociedade, pois não deixa inseguras as relações jurídicas, dependentes de um acontecimento futuro e incerto, tal o 
eventual empobrecimento do doador" (RODRIGUES, Silvio. in Direito Civil - Direito das Sucessões, vol. 7, 19 ed., Editora 
Saraiva, São Paulo, 1995, p. 189). Ação rescisória improcedente” (AR 3.493/PE, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, Rel. p/ 
Acórdão Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 12/12/2012, DJe 06/06/2013). 
 
EMENTA: “DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE DOAÇÃO E PARTILHA. BENS 
DOADOS PELO PAI À IRMÃ UNILATERAL E À EX-CÔNJUGE EM PARTILHA. DOAÇÃO INOFICIOSA. PRESCRIÇÃO. PRAZO 
DECENAL, CONTADO DA PRÁTICA DE CADA ATO. ARTS. ANALISADOS: 178, 205, 549 E 2.028 DO CC/16. 1. Ação declaratória 
de nulidade de partilha e doação ajuizada em 7/5/2009. Recurso especial concluso ao Gabinete em 16/11/2011. 2. 
Demanda em que se discute o prazo aplicável a ação declaratória de nulidade de partilha e doação proposta por herdeira 
necessária sob o fundamento de que a presente ação teria natureza desconstitutiva porquanto fundada em defeito do 
negócio jurídico. 3. Para determinação do prazo prescricional ou decadencial aplicável deve-se analisar o objeto da ação 
proposta, deduzido a partir da interpretação sistemática do pedido e da causa de pedir, sendo irrelevante o nome ou o 
fundamento legal apontado na inicial. 4. A transferência da totalidade de bens do pai da recorrida para a ex-cônjuge em 
partilha e para a filha do casal, sem observância da reserva da legítima e em detrimento dos direitos da recorrida 
caracterizam doação inoficiosa. 5. Aplica-se às pretensões declaratórias de nulidade de doações inoficiosas o prazo 
prescricional decenal do CC/02, ante a inexistência de previsão legal específica. Precedentes. 6. Negado provimento ao 
recurso especial” (REsp 1321998/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 07/08/2014, DJe 
20/08/2014). 
 
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. AÇÃO ANULATÓRIA. DOAÇÃO INOFICIOSA. PRAZO PRESCRICIONAL. TERMO 
INICIAL. REGISTRO DO ATO. 1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de Processo 
Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2. O Superior Tribunal de Justiça há muito firmou entendimento 
no sentido de que, no caso de ação anulatória de doação inoficiosa, o prazo prescricional é vintenário e conta-se a partir 
do registro do ato jurídico que se pretende anular. Precedentes. 3. Na hipótese, tendo sido proposta a ação mais de vinte 
anos após o registro da doação, é de ser reconhecida a prescrição da pretensão autoral. 4. Recurso especial provido. (REsp 
1755379/RJ, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, Rel. p/ Acórdão Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, 
julgado em 24/09/2019, DJe 10/10/2019)” 
 
 
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EMENTA:“CIVIL E PROCESSUAL CIVIL - SEPARAÇÃO CONSENSUAL - PARTILHA DE BENS - HOMOLOGAÇÃO EM JUÍZO - 
ANULAÇÃO - PROVA DA SIMULAÇÃO - APLICAÇÃO DA SÚMULA 07/STJ - RECURSO ESPECIAL - EMBARGOS DE DECLARAÇÃO 
- OMISSÃO INEXISTENTE - DESCARACTERIZADA A VIOLAÇÃO AO ART. 535, II DO CPC. I - Não há violação ao art. 535, II do 
CPC quando o tribunal examina expressamente toda a extensão temática que lhe é remetida, ainda que de forma contrária 
aos interesses da parte. II - As instâncias ordinárias são soberanas na apreciação da prova. Inadmissível o recurso especial 
quando a solução da controvérsia depende da apreciação de circunstâncias factuais, como é o caso, na hipótese vertente, 
da prova cabal de que houve simulação. Incidência da Súmula 07/STJ. III - Recurso especial não conhecido” (REsp 
167.069/DF, Rel. Ministro EDUARDO RIBEIRO, Rel. p/ Acórdão Ministro WALDEMAR ZVEITER, TERCEIRA TURMA, julgado 
em 20/02/2001, DJ 02/04/2001, p. 285). 
 
2.10. Doação universal (CC, art. 54828) 
É doação de todos os bens sem a reserva do mínimo para a sobrevivência do doador. É caso de nulidade absoluta total. 
(Proteção do mínimo existencial ou patrimônio mínimo – tese do Ministro Luiz Fachin). 
 
 “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE NEGÓCIO JURÍDICO. ART. 548 DO CC. RENÚNCIA DO 
CÔNJUGE VIRAGO À INTEGRALIDADE DE SUA MEAÇÃO NA SEPARAÇÃO CONSENSUAL DO CASAL. ACORDO HOMOLOGADO 
POR SENTENÇA TRANSITADA EM JULGADO. CARACTERIZAÇÃO DE DOAÇÃO. NULIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO. 
INOCORRÊNCIA. DOADORA COM RENDA SUFICIENTE PARA PRESERVAR PATRIMÔNIO MÍNIMO À SUA SUBSISTÊNCIA. 1. O 
art. 548 do Código Civil estabelece ser nula a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou renda suficiente para 
a subsistência do doador. A ratio da norma em comento, ao prever a nulidade da doação universal, foi a de garantir à 
pessoa o direito a um patrimônio mínimo, impedindo que se reduza sua situação financeira à miserabilidade. Nessa 
linha, acabou por mitigar, de alguma forma, a autonomia privada e o direito à livre disposição da propriedade, em 
exteriorização da preservação de um mínimo existencial à dignidade humana do benfeitor, um dos pilares da Carta da 
República e chave hermenêutica para leitura interpretativa de qualquer norma. 2. É possível a doação da totalidade do 
patrimônio pelo doador, desde que remanesça uma fonte de renda ou reserva de usufruto, ou mesmo bens a seu favor, 
que preserve um patrimônio mínimo à sua subsistência (CC, art. 548). Não se pode olvidar, ainda, que a aferição da 
situação econômica do doador deve ser considerada no momento da liberalidade, não sendo relevante, para esse 
efeito, o empobrecimento posterior do doador. 3. Assim, na situação em concreto é que se poderá aferir se a doação 
universal (omnium bonorum) deixou realmente o doador sem a mínima disponibilidade patrimonial para sua 
sobrevivência. 4. Na hipótese, a pretensão não merece prosperar, tomando-se em conta os limites do recurso especial e 
o somatório das seguintes circunstâncias do caso em concreto: i) reconhecimento da suficiência de fonte de renda à época 
apta a manter condições mínimas de sobrevivência digna; ii) não ter sido comprovado que a recorrente voltou a residir 
no imóvel objeto do litígio em razão de sua miserabilidade; iii) o lapso temporal do pedido de nulidade da doação - quase 
20 anos após -, o que enfraquece o argumento de estar vivendo por tanto tempo em situação indigna; e iv) o fato de que 
 
28 CC, art. 548: “É nula a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou renda suficiente para a subsistência do doador”. 
 
 
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a separação foi homologada em juízo, sob a fiscalização do representante do Ministério Público. 5. No tocante à doação 
inoficiosa, como sabido, há nulidade em relação ao quantum da deixa quando se exceder aquilo que poderia ser disposto 
em testamento (CC, art. 549). No presente caso, o Tribunal de origem chegou à conclusão de que a recorrente não trouxe 
provas de que o imóvel doado ao cônjuge varão excedia a parte a que a doadora, no momento da liberalidade, poderia 
dispor em testamento. Entender de forma diversa demandaria o revolvimento fático-probatório dos autos, o que 
encontra óbice na Súm. 7 do STJ. 6. Recurso especial não provido” (REsp 1183133/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, 
QUARTA TURMA, julgado em 17/11/2015, DJe 01/02/2016). 
 
É possível a doação de tudo com reserva. Exemplo: reserva de usufruto. 
 
2.11. Doação a entidade futura (CC, art. 55429) 
É o caso de uma doação para uma pessoa jurídica que ainda será constituída. Exemplo: fundação. 
✓ Prazo decadencial de dois anos para a constituição regular, sob pena de ineficácia (doação sob condição 
suspensiva). 
 
2.12. Promessa de doação 
CC, art. 46430 - Compromisso unilateral de contrato ou contrato de opção. 
Questão: seria possível exigir essa promessa? Duas correntes: 
• Caio Mario: não é possível obrigar alguém a praticar liberalidade (REsp n. 730.626/SP). 
• Washington de Barros Monteiro: sim, mas perde o caráter de liberalidade (majoritária). 
Enunciado n. 549 – VI Jornada de Direito Civil: “A promessa de doação no âmbito da transação constitui obrigação 
positiva e perde o caráter de liberalidade previsto no art. 538 do Código Civil”. 
 
Tem-se admitido a promessa de doação especialmente no âmbito do Direito de Família (EREsp n. 125.859/RJ e 
REsp n. 1.355.007/SP). 
 
 Julgados (mencionados acima): 
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DE COBRANÇA - PROMESSA DE DOAÇÃO - ATO DE LIBERALIDADE - INEXIGIBILIDADE 
- PROVIDO O RECURSO DO RÉU - PREJUDICADO O RECURSO DA AUTORA. 1. A análise da natureza jurídica da promessa 
de doação e de sua exigibilidade não esbarra nos óbices impostos pelas Súmulas 05 e 07 deste Tribunal Superior, pois as 
conseqüências jurídicas decorrem da qualificação do ato de vontade que motiva a lide, não dependendo de reexame 
fático-probatório, ou de cláusulas do contrato. 2. Inviável juridicamente a promessa de doação ante a impossibilidade de 
se harmonizar a exigibilidade contratual e a espontaneidade, característica do animus donandi. Admitir a promessa de 
 
29 CC, art. 554: “A doação a entidade futura caducará se, em dois anos, esta não estiver constituída regularmente”. 
30 CC, 464: “Esgotado o prazo, poderá o juiz, a pedido do interessado, suprir a vontade da parte inadimplente, conferindo 
caráter definitivo ao contrato preliminar, salvo se a isto se opuser a natureza da obrigação.” 
 
 
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doação equivale a concluir pela possibilidade de uma doação coativa, incompatível, por definição, com um ato de 
liberalidade. 3. Há se ressaltar que, embora alegue a autora ter o pacto origem em concessões recíprocas envolvendo o 
patrimônio familiar, nada a respeito foi provado nos autos. Deste modo, o negócio jurídico deve ser tomado como 
comprometimento à efetivação de futura doação pura. 4. Considerando que a presente demanda deriva de promessa de 
doação pura e que esta é inexigível judicialmente, revele-se patente a carência do direito de ação, especificamente, em 
razão da impossibilidade jurídica do pedido. 5. Recurso especial do réu conhecido e provido. Prejudicado o exame do 
recurso especial da autora” (REsp 730.626/SP, Rel. Ministro JORGE SCARTEZZINI, QUARTA TURMA, julgado em 
17/10/2006, DJ 04/12/2006, p. 322). 
 
EMENTA: “DOAÇÃO. Promessa de doação. Dissolução da sociedade conjugal. Eficácia. Exigibilidade. Ação cominatória. O 
acordo celebrado quando do desquite amigável, homologado por sentença, que contém promessa de doação de bens do 
casal aos filhos, é exigível em ação cominatória. Embargos de divergência rejeitados” (EREsp 125.859/RJ, Rel. Ministro 
RUY ROSADO DE AGUIAR, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 26/06/2002, DJ 24/03/2003, p. 136). 
 
EMENTA:“RECURSO ESPECIAL. DIREITO DE FAMÍLIA. AÇÃO COMINATÓRIA. OUTORGA DE ESCRITURA DA NUA-
PROPRIEDADE DE IMÓVEL OBJETO DE PROMESSA DE DOAÇÃO CELEBRADA MEDIANTE PACTO ANTENUPCIAL. 
EXIGIBILIDADEDA OBRIGAÇÃO. TRANSAÇÃO POSTERIOR. EFEITOS. SÚMULA 05/STJ. 1. Controvérsia em torno da validade 
e eficácia de negócio jurídico celebrado entre partes, mediante escritura pública de pacto antenupcial, na qual o réu 
assumiu o compromisso de doar imóvel à autora, posteriormente substituído por outro bem imóvel (apartamento). 2. As 
questões submetidas ao Tribunal de origem foram adequadamente apreciadas, não se evidenciado afronta ao art. 535 do 
CPC/1973. 3. Impossibilidade de revisão das conclusões da Corte local referentes à validade e eficácia da transação 
efetivada entre as partes por exigir análise de matéria fático-probatória e nova interpretação de cláusulas contratuais. 
Incidência dos enunciados das Súmulas n.º 05 e 07/STJ. 4. Hipótese dos autos em que a liberalidade não animou o pacto 
firmado pelas partes, mas sim as vantagens recíprocas e simultâneas que buscaram alcançar a aquiescência de ambos ao 
matrimônio e ao regime de separação total de bens, estabelecendo o compromisso de doação de um determinado bem 
à esposa para o acertamento do patrimônio do casal. 5. Aplicação analógica da tese pacificada pela Segunda Seção no 
sentido da validade e eficácia do compromisso de transferência de bens assumidos pelos cônjuges na separação judicial, 
pois, nestes casos, não se trataria de mera promessa de liberalidade, mas de promessa de um fato futuro que entrou na 
composição do acordo de partilha dos bens do casal. (EREsp n.º 125859/RJ, Rel. Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Segunda 
Seção, DJ 24/03/2003). 6. Precedentes específicos desta Corte. 7. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO” (REsp 1355007/SP, 
Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/06/2017, DJe 10/08/2017). 
 
2.13. Doação famélica (Lei 14.016/2020) 
✓ É aquela para “matar a fome”. 
 
Os estabelecimentos comerciais, relacionados à produção e ao fornecimento de alimentos, ficam autorizados a doar os 
excedentes não comercializados e ainda próprios para o consumo. 
 
 
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Lei 14.016/2020, art. 1º (incisos): “Os estabelecimentos dedicados à produção e ao fornecimento de alimentos, incluídos 
alimentos in natura, produtos industrializados e refeições prontas para o consumo, ficam autorizados a doar os 
excedentes não comercializados e ainda próprios para o consumo humano que atendam aos seguintes critérios: 
I – estejam dentro do prazo de validade e nas condições de conservação especificadas pelo fabricante, quando aplicáveis; 
II – não tenham comprometidas sua integridade e a segurança sanitária, mesmo que haja danos à sua embalagem; 
III – tenham mantidas suas propriedades nutricionais e a segurança sanitária, ainda que tenham sofrido dano parcial ou 
apresentem aspecto comercialmente indesejável. (...)” 
 
✓ O doador somente responde por ato doloso. 
 
3. Revogação da doação (CC, arts. 555 a 564) 
A revogação é forma de resilição unilateral (CC, art. 473, caput31). Cabe ao doador. 
 
Duas hipóteses (CC, art. 55532): 
• Ingratidão do donatário. 
• Inexecução do encargo. 
 
3.1. Ingratidão do donatário 
CC, art. 55733: rol de situações: 
• Inciso I: atentado contra a vida do doador ou homicídio doloso. 
• Inciso II: ofensa física. 
• Inciso III: injúria ou calúnia. 
• Inciso IV: desamparo de alimentos. 
Observação: Trata-se de rol não taxativo, mas exemplificativo (REsp n. 1.593.857/MG e REsp n. 1.350.464/SP). 
 
Enunciado n. 33 – I Jornada de Direito Civil: “O novo Código Civil estabeleceu um novo sistema para a revogação da doação 
por ingratidão, pois o rol legal previsto no art. 557 deixou de ser taxativo, admitindo, excepcionalmente, outras 
hipóteses”. 
 
31 CC, art. 473: “A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante 
denúncia notificada à outra parte”. 
32 CC, art. 555: “A doação pode ser revogada por ingratidão do donatário, ou por inexecução do encargo”. 
33 CC, art. 557: “Podem ser revogadas por ingratidão as doações: I - se o donatário atentou contra a vida do doador ou 
cometeu crime de homicídio doloso contra ele; II - se cometeu contra ele ofensa física; III - se o injuriou gravemente ou o 
caluniou; IV - se, podendo ministrá-los, recusou ao doador os alimentos de que este necessitava.” 
 
 
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Julgados: 
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL. DOAÇÃO. REVOGAÇÃO. INGRATIDÃO DOS DONATÁRIOS. OFENSA À 
INTEGRIDADE PSÍQUICA. PROVA. ART. 557 DO CC/2002. ROL MERAMENTE EXEMPLIFICATIVO. ENUNCIADO Nº 33 DO 
CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL. INJÚRIA GRAVE. DEMONSTRAÇÃO. REVISÃO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. 1. O 
conceito jurídico de ingratidão constante do artigo 557 do Código Civil de 2002 é aberto, não se encerrando em molduras 
tipificadas previamente em lei. O Enunciado nº 33 do Conselho da Justiça Federal, aprovado na I Jornada de Direito Civil, 
prevê que "o Código Civil vigente estabeleceu um novo sistema para a revogação da doação por ingratidão, pois o rol legal 
do art. 557 deixou de ser taxativo, admitindo outras hipóteses", ou seja, trata-se de rol meramente exemplificativo. 3. A 
injúria a que se refere o dispositivo envolve o campo da moral, revelada por meio de tratamento inadequado, tais como 
o descaso, a indiferença e a omissão de socorro às necessidades elementares do doador, situações suficientemente 
aptas a provocar a revogação do ato unilateral em virtude da ingratidão dos donatários. 4. Rever o entendimento do 
acórdão impugnado, que considerou cabível a revogação por ingratidão no presente caso, ante a gravidade dos fatos 
narrados na inicial e demonstrados nos autos, implicaria o reexame do contexto fático-probatório, procedimento 
inadmissível em âmbito de recurso especial, nos termos da Súmula nº 7/STJ. 5. Recurso especial não provido” (REsp 
1593857/MG, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 14/06/2016, DJe 28/06/2016). 
 
EMENTA: “AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. 
CERCEAMENTO DE DEFESA. JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE SEM PRODUÇÃO DE PROVA PERICIAL. REEXAME DE 
PROVAS. REVOGAÇÃO DE DOAÇÃO. ATOS DE INGRATIDÃO. 1.- Em matéria marcada por forte substrato fático, como a da 
configuração ou não de ato de ingratidão de donatário, não é possível concluir se o julgamento antecipado da lide com 
dispensa da produção de provas, mas realizado com base em cerrada análise dos elementos probatórios, teria implicado 
cerceamento de defesa, sem revisar os fatos e provas que influenciaram a formação da convicção do julgador. Nessa 
seara, tem aplicação o princípio da livre convicção motivada, chocando-se contra a Súmula 07/STJ, o recurso especial 
interposto com o mencionado propósito, 2.- Para a revogação da doação por ingratidão, exige-se que os atos praticados, 
além de graves, revistam-se objetivamente dessa característica. Atos tidos, no sentido pessoal comum da parte, como 
caracterizadores de ingratidão, não se revelam aptos a qualificar-se juridicamente como tais, seja por não serem 
unilaterais ante a funda dissensão recíproca, seja por não serem dotados da característica de especial gravidade injuriosa, 
exigida pelos termos expressos do Código Civil, que pressupõem que a ingratidão seja exteriorizada por atos 
marcadamente graves, como os enumerados nos incisos dos arts. 1183 do Código Civil de 1916 e 557 do Código Civil de 
2002 (atentado contra a vida, crime de homicídio doloso, ofensa física, injúria grave ou calúnia, recusa de alimentos - 
sempre contra o doador - destacando-se, aliás, expressamente, quanto à exigência de que a injúria, seja grave, o que 
também se estende, por implícito à calúnia, inciso III dos dispositivos anotados). 3.- No caso dos autos, ambas as 
instâncias de origem entenderam, com fundamento na prova dos autos, que a conduta da Ré não poderia ser 
classificada como "ato de ingratidão" a que se refere a lei como requisito para a revogação da doação. A pretensão 
recursalvoltada à revisão dessa conclusão choca-se frontalmente com a Súmula 07/STJ. 4.- Recurso Especial a que se nega 
 
 
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provimento” (REsp 1350464/SP, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 26/02/2013, DJe 
11/03/2013). 
 
Confirmando o rol exemplificativo, o artigo 55834 prevê que o ato de ingratidão pode estar relacionado a um familiar do 
doador (rol exemplificativo). 
 
CC, art. 55635 - A revogação por ingratidão envolve ordem pública. Ela não pode ser renunciada previamente pelo doador 
(sob pena de nulidade absoluta do ato de renúncia). 
 
Algumas doações são irrevogáveis por ingratidão (CC, art. 56436): 
• Inciso I: doações remuneratórias. 
• Inciso II: oneradas com encargo já cumprido. 
• Inciso III: obrigação natural. Exemplo: gorjeta. 
• Inciso IV: doações “propter nuptias”. 
 
3.2. Inexecução do encargo 
O próprio instrumento da doação pode fixar um prazo para a execução do encargo. 
Não havendo prazo (CC, art. 56237 - mora “ex persona”), o doador deverá notificar judicialmente o donatário, assinando-
lhe prazo razoável para que cumpra a obrigação. 
 
Ação de revogação: prazo? 
CC, art. 55938: - Prazo decadencial de um ano, contado do conhecimento pelo doador. 
✓ Aplica-se à ingratidão (não há polêmica). 
 
 
34 CC, art. 558: “Pode ocorrer também a revogação quando o ofendido, nos casos do artigo anterior, for o cônjuge, 
ascendente, descendente, ainda que adotivo, ou irmão do doador”. 
35 CC, art. 556: “Não se pode renunciar antecipadamente o direito de revogar a liberalidade por ingratidão do donatário”. 
36 CC, art. 564: “Não se revogam por ingratidão: I - as doações puramente remuneratórias; II - as oneradas com encargo 
já cumprido; III - as que se fizerem em cumprimento de obrigação natural; IV - as feitas para determinado casamento.” 
37 CC, art. 562: “A doação onerosa pode ser revogada por inexecução do encargo, se o donatário incorrer em mora. Não 
havendo prazo para o cumprimento, o doador poderá notificar judicialmente o donatário, assinando-lhe prazo razoável 
para que cumpra a obrigação assumida”. 
38 CC, art. 559: “A doação onerosa pode ser revogada por inexecução do encargo, se o donatário incorrer em mora. Não 
havendo prazo para o cumprimento, o doador poderá notificar judicialmente o donatário, assinando-lhe prazo razoável 
para que cumpra a obrigação assumida”. 
 
 
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➢ A polêmica está na inexecução do encargo. Duas correntes: 
• 1ª) Encargo é ônus: resilição: direito potestativo. Aplica-se o artigo 559: 1 ano (decadência) (Maria Helena Diniz, 
Pablo Stolze e Pamplona). 
• 2ª) Encargo é dever: resolução: direito subjetivo. Aplica-se o artigo 205: 10 anos (prescrição). Inadimplemento. 
(Nery, Sanseverino, Simão). Nesse sentido: 
 
EMENDA: “DOAÇÃO. DOAÇÃO MODAL. RESOLUÇÃO. PRESCRIÇÃO. A RESOLUÇÃO DE DOAÇÃO COM ENCARGO NÃO SE 
CONTA PELO PRAZO CURTO DE UM ANO, PREVISTO NO ARTIGO 178, PARAGRAFO 6., I DO CCIVIL, MAS SIM PELO DISPOSTO 
NO ARTIGO 177 DO MESMO DIPLOMA. PRECEDENTE DO STJ” (REsp 69.682/MS, Rel. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, 
QUARTA TURMA, julgado em 13/11/1995, DJ 12/02/1996, p. 2432). 
 
Observação final: 
O direito de revogação é personalíssimo do doador, não se transmitindo aos seus herdeiros, em regra (art. 560, CC39). 
Exceção 1: se a ação já tiver sido iniciada pelo doador. 
Exceção 2: homicídio doloso do doador (art. 561, CC40), exceto em caso de perdão. 
 
 
39 CC, art. 560: “O direito de revogar a doação não se transmite aos herdeiros do doador, nem prejudica os do donatário. 
Mas aqueles podem prosseguir na ação iniciada pelo doador, continuando-a contra os herdeiros do donatário, se este 
falecer depois de ajuizada a lide”. 
40 CC, art. 561: “No caso de homicídio doloso do doador, a ação caberá aos seus herdeiros, exceto se aquele houver 
perdoado.”

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