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QIB127 Química Inorgânica II: Compostos de coordenação I Prof° Everton Tomaz da Silva 1 Compostos de coordenação I • Histórico, conceito e aplicações. • Regra do numero atômico efetivo (NAE) • Ligantes – Denticidade • Efeito quelato e agentes quelantes. • Nomenclatura dos compostos de coordenação. • Exemplos de compostos de coordenação 2 Bibliografia Básica Livros • SHRIVER, D.F.; ATKINS, P. W. Química Inorgânica. 4ed. Porto Alegre: Bookman, 2008. • FARIAS, R. F. Química de Coordenação: Fundamentos e Atualidades. 2ed. Campinas: Editora Átomo, 2009. • LEE, J.D. Química Inorgânica não tão concisa. 5ª ed. São Paulo: Edgard Blucher, 2009. • MIESSLER, G.L.; FISCHER, P.J.; TARR, D.A.; Química Inorgânica. 5ed. Pearson, 2014. 3 Bibliografia Básica Artigo • FARIAS, R.F. A intuição na evolução do conhecimento químico. Química Nova na Escola, n°13, maio, 2001. • Benite, A.M.C; Machado, S.P; Barreiro, E.J. Química Nova, Vol. 30, No. 8, 2062-2067, 2007. 4 Histórico Os compostos de coordenação já são conhecidos desde os tempos bíblicos, porém um dos primeiros complexos descobertos “cientificamente” foi o íon tetramincobre(II), [Cu(NH3)4] 2+. Seu descobridor foi Andréas Libau (1540-1616). O azul da prússia, KCN.Fe(CN)2.Fe(CN3), foi acidentalmente descoberto por Diesbach em 1704 e é considerado o primeiro complexo sintetizado. 5 Histórico Apesar disso, pouco se conhecia acerca da ligação nos compostos de coordenação. Jorgensen para explicar a ligação em complexos amino-cobálticos, apresentou a Teoria da Cadeia na qual as moléculas de NH3 podiam ligar-se umas as outras formando cadeias (-NH3-NH3-) assim como nos compostos de carbono. Apesar da teoria inadequada Jorgensen possui sua parcela de contribuição na Teoria de Coordenação Atual. 6 Histórico Em 1893 Alfred Werner (nobel em 1913), propôs sua Teoria de Coordenação. Note que nesta época não se sabia muito a respeito dos elétrons e nem da teoria eletrônica de valência. Através de estudos com complexos amino- cobálticos, Werner concluiu que o metal nos complexos possui: • Valência primária: é o nº de íons negativos necessários para neutralizar a carga do íon metálico central (nox do metal). Possui caráter iônico. • Valência secundária: é o número de coordenação (ligações) do metal. Define a geometria do complexo. 7 Histórico Comparação da Teoria da Cadeia e a Teoria de Coordenação: 8 Figura 1: Fórmula estrutural proposta por Jorgensen a) e a proposta por Werner b) para o mesmo complexo [Co(NH3)6]Cl3. (FARIAS, 2001) Histórico Comprovação experimental da Teoria de Werner Werner reagiu vários complexos de coordenação para precipitar o cloreto com Ag+ em suas fórmulas e pesar. Ele obteve os resultados: CoCl3.6NH3 → 3AgCl CoCl3.5NH3 → 2AgCl CoCl3.4NH3 → 1AgCl CoCl3.3NH3 → não precipitou AgCl 9 Através desta e outras observações acerca da geometria, Werner comprovou sua teoria 21 anos depois do primeiro trabalho, recebendo o Nobel por isso. Histórico Fórmulas antigas e as respectivas fórmulas atuais 10 Fórmula antiga Fórmula nova Cargas Totais Nox do Metal Valência Secundária CoCl3.6NH3 [Co(NH3)6]Cl3 6 3 6NH3 = 6 CoCl3.5NH3 [Co(NH3)5Cl]Cl2 4 3 5NH3+1Cl -= 6 CoCl3.4NH3 [Co(NH3)4Cl2]Cl 2 3 4NH3+2Cl -= 6 CoCl3.3NH3 [Co(NH3)3Cl3] 0 3 3NH3+3Cl -= 6 Quadro 1: Fórmulas antigas e atuais dos compostos de coordenação estudados por Werner. Histórico Método de comprovação atual da Teoria de Werner 1- Condutividade elétrica: é proporcional a concentração e ao número de espécies carregadas em solução. 11 Dissociação Total de cargas Condutividade ohm-1cm2mol-1 LiCl → Li+ + Cl- 2 112,0 CaCl2 → Ca2+ + 2Cl- 4 260,8 CoCl3.5NH3 ? 261,3 CoBr3.5NH3 ? 257,6 LaCl3 → La3+ + 3Cl- 6 393,5 CoCl3.6NH3 ? 431,6 CoBr3.6NH3 ? 426,9 Quadro 2: Condutividade comparada entre sais e complexos com concentração de 0,001M) Histórico Método de comprovação atual da Teoria de Werner 2- Medidas crioscópicas: O abaixamento do ponto de congelamento é proporcional ao número de partículas existentes na dissociação. 12 Dissociação Total de cargas N° de partículas LiCl → Li+ + Cl- 2 2 CaCl2 → Ca2+ + 2Cl- 4 3 LaCl3 → La3+ + 3Cl- 6 4 Quadro 3: N° de partículas obtidas através de medidas crioscópicas. Histórico Método de comprovação atual da Teoria de Werner Juntando as informações para elucidar a estrutura dos complexos. 13 Fórmula antiga Medidas crioscópicas Condutividade Molar Dissociação Estrutura atual CoCl3.6NH3 4 partículas 6 cargas [Co(NH3)6] 3+ 3Cl- [Co(NH3)6]Cl3 CoCl3.5NH3 3 partículas 4 cargas [Co(NH3)5Cl] 2+ 2Cl- [Co(NH3)5Cl]Cl2 CoCl3.4NH3 2 partículas 2 cargas [Co(NH3)4Cl2] + 1Cl- [Co(NH3)4Cl2]Cl CoCl3.3NH3 1 partículas Sem carga [Co(NH3)3Cl3] [Co(NH3)3Cl3] Quadro 4: Dedução da estrutura através das medidas de condutividade e crioscópicas. Histórico Exercício em sala resolvido: Deduza a estrutura atuais dos complexos baseado nas medidas de condutividade e crioscópicas. 14 Fórmula antiga Medidas crioscópicas Condutividade Molar Co(NO2)3.KNO2.2NH3 2 partículas 2 cargas Co(NO2)3.2KNO2.NH3 3 partículas 4 cargas Co(NO2)3.3KNO2 4 partículas 6 cargas R: 1K+ [Co(NH3)2(NO2)4] - 2K+ [Co(NH3)(NO2)5] 2- 3K+ [Co(NO2)6] 3- Composto de coordenação Conceito: É um composto contendo um átomo ou íon central ao qual estão ligados moléculas neutras e/ou íons chamados de ligantes. O átomo ou íon central é um ácido de Lewis pois “recebe” pares de elétrons. Os ligantes são bases de Lewis, pois “doam” pares de elétrons. 15 Composto de coordenação Conceito: 16 Figura 2: Íon complexo diamintetracloroferrato(II), [Fe(NH3)2Cl4] 2-. Fe Cl Cl NH3 NH3 Cl Cl Composto de coordenação Algumas aplicações: 17 Figura 3: a) quimioterápico cisplatina. b) fármaco contra a hipertensão c) catalisador para produção de polímero. a) b) c) Regra do Número Atômico Efetivo 18 Em 1927 Sidgwick, tentou explicar a ligação nos complexos enunciando sua regra: “Os complexos adquirem estabilidade quando o número atômico efetivo do átomo central iguala-se ao de um gás nobre.” Complexos Espécies Número de elétrons NAE Gás nobre [Co(CN)6] 3- Co3+ 6CN- 24 12 36 Kr [Ag(NH3)4] + Ag+ 4NH3 46 8 54 Xe [PtCl6] 2- Pt4+ 6Cl- 74 12 86 Rn Quadro 5: Complexos que seguem a regra do número atômico efetivo (NAE). Regra do Número Atômico Efetivo 19 Porém nem todos os complexos seguem esta regra. Apesar disso, ela é útil para algumas classes de complexos para prever a estequiometria e estrutura. Complexos Espécies Número de elétrons NAE [Cr(NH3)6] 3+ Cr3+ 6NH3 21 12 33 [Ni(NH3)6] 2+ Ni2+ 6NH3 26 12 38 [CoCl4] 2- Co2+ 4Cl- 25 8 33 Quadro 6: Complexos que não obedecem a regra do número atômico efetivo (NAE). Regra do Número Atômico Efetivo 20 Exercício em sala resolvido: Veja se os complexos abaixo seguem a Regra do Número Atômico Efetivo. a) [Cu(CN)4] 3- b) [Fe(CN)6] 3- R: a) Segue a regra NAE: 28+8=36 elétrons como o Kr b) Não segue a regra NAE: 23+12= 35 elétrons Ligantes 21 Fórmula Nome do íon Nome do ligante F- fluoreto fluoro Cl- cloreto cloro Br- brometo bromo I- iodeto iodo CN- cianeto ciano NH2 - amideto amido N3- nitreto nitreto O2- óxido oxo OH- hidróxido hidroxo CH3COO - acetato acetato CO3 2- carbonato carbonato C2O4 2- oxalato oxalato (ox) Quadros 7: Ligantes aniônicos. Fórmula Nome do íon Nome do ligante NO3 - nitrato nitrato SO4 2- sulfato sulfato H- hidreto hidrido -SCN- Tiocianato Tiocianato -NCS- Tiocianato Isotiocianato -ONO- Nitrito Nitrito -NO2 - Nitro Nitro S2O3 2- Tiossulfato Tiossulfato C5H5 - Ciclopentadienil Ciclopentadienil (Cp) C6H5 - fenil Fenil (Ph ou f) H2NCH2CO2 - Glicinato Glicinato (gly) CH3COCHCOCH3 - Acetilacetonato Acetilacetonato (acac) Ligantes 22 Quadro 8: Ligantes neutros. Fórmula Nome da Molécula Nome do ligante H2O água aquo NH3 amônia amino ou amin CO monóxido de carbono carbonil NO monóxido de nitrogênio nitrosil NH2CH2CH2NH2 etilenodiamina etilenodiamino (en) P(C6H5)3 trifenilfosfinatrifenilfosfino (PPh3) C5H5N piridina piridino (py) C10H8N2 bipiridina Bipiridino (bipy) O2 oxigênio (molecular) dioxigênio N2 nitrogênio (molecular) dinitrogênio Ligantes 23 Classificação dos ligantes quanto ao modo de coordenar-se: • Monodentado: se coordena por 1 átomo doador apenas. • Bidentado: coordena-se por 2 átomos doadores. • Tridentado: 3 átomos • Tetradentado: 4 átomos • Etc. Ligantes 24 Modos de ligação: Figura 4: a) Etilediamino coordenando-se de modo bidentado ao metal. b) Etilenodiaminotetraacetato (edta4-) é um ligante hexadentado c) Complexo de Ru e bipiridina (Bipy) um ligante bidentado. a) b) c) Ligantes 25 Classificação dos ligantes quanto ao modo de coordenar-se: • Ambidentado: Pode coordenar-se por dois átomos diferentes. Ex1: Tiocianato SCN - Pode coordenar-se pelo S ou pelo N. M-SCN- :Tiocianato ou M-NCS- Isotiocianato Ex2: Nitrito NO2- Pode coordenar-se pelo N ou pelo O. M-NO2- : nitro ou -ONO- : nitrito Ligantes 26 Exercício resolvido: O ligante 2-hidroxibenzilglicina é usado na síntese de compostos de coordenação com uso na bioinorgânica. Quais os possíveis sítios de coordenação nesta molécula? OH NH OH O 27 Para acharmos o número de oxidação do metal no complexo usamos o mesmo princípio para sais comuns. A soma de todas as cargas tem de dar a carga total do complexo. Número de oxidação (Nox) do metal [AuCl2] - : NoxAu= [CdBr3(H2O)3] - : NoxCd= [Co(NH3)6]SO4 : NoxCo= K2[PtCl6] : NoxPt= +1 +2 +2 +4 Efeito quelato 28 Alguns ligantes polidentados formam complexos formando anéis com o metal. A estes chamamos quelato, do grego “garra”. Esses complexos são sempre termodinamicamente mais estáveis que outros semelhantes que não sejam quelatos. Essa estabilização extra é o efeito quelato. Ex1: [Ni(NH3)6] 2+ + 3en [Ni(en)3] 2+ + 6NH3 ∆S: +121 J/K.mol e ∆H: -17 kJ/mol Ex2: [Cu(NH3)4(H2O)2] 2+ + 2en [Cu(en)2(H2O)2] 2+ + 4NH3 ∆S: +88 J/K.mol e ∆H: -15 kJ/mol Se ∆S é positivo e ∆H é negativo o processo é termodinamicamente favorável. O excesso de metais no corpo pode ser prejudicial podendo causar até o envenenamento da pessoa. Para retirar esse excesso de metais usa-se a quelatoterapia. Quelatoterapia: Uso de compostos que estabilizam o íon metálico em excesso e o “carregam” para fora do corpo humano. Agentes quelantes 29 Para o uso da quelatoterapia deve ser observado: • O tamanho dos metais a serem coordenados. • O favorecimento na coordenação de determinados átomos: S para metais macios, N especialmente para Cu2+ e o O para metais duros. • Agentes quelantes devem formar complexos termodinamicamente e cineticamente estáveis. • Os complexos formados devem ser facilmente excretados pela urina (presença de OH). Agentes quelantes 30 EDTA – Ácido etilenodiaminotetraacético. Um quelante que pode ser hexadentado. Estrutura do EDTA complexando um metal. Esse metal pode ser Pb, Sr, Pu, Co, Mn e principalmente Ca. (BENITE et al, 2007) Agentes quelantes 31 Estrutura do dimercaprol. Usado na terapia de As, Pb e Hg. Estrutura da penicilamina. Usado na desintoxicação de Cu, Hg e Pb. Agentes quelantes 32 Estrutura do desferal. Usado na terapia de Fe3+ e Al3+ Nomenclatura 33 Regras para nomear compostos de coordenação: 1. Não se deixa espaços entre as palavras nem entre o nome do elemento central e seu estado de oxidação. 2. Usa-se os prefixos di, tri, tetra, penta, etc, para indicar o número de ligantes idênticos. 3. Indica-se o n° de oxidação da espécie central em algarismo romano e entre parênteses (sistema Stock). 4. Em complexos aniônicos o nome do elemento central recebe a terminação -ato. Alguns elementos possuem nomenclatura de acordo com seu nome em latim. 5. Em caso de vários ligantes eles devem ser colocados em ordem alfabética de acordo com o NOME do ligante. Nomenclatura 34 Regras para nomear compostos de coordenação: 6. Se o nome do ligante já possui prefixos de quantidade como di, tri, etc, em lugar destes colocamos bis, tris, tetraquis, pentaquis, etc para indicar o número de ligantes. 7. Para nomeação de isômeros, coloca-se antes do nome ou da fórmula, o prefixo indicativo do tipo de isômero seguido por um hífen. 8. Em compostos com dois centros metálicos (binucleares) em que há ponte entre estes centros, o ligante em ponte é escrito após a letra grega µ−. Se houver várias pontes iguais usa-se os prefixos di-µ ou bis-µ, etc. Nomenclatura 35 Nomeando os complexos: 1- [Ag(NH3)2]Cl: 2- [Ni(CO)4]: 3- [AuCl2] -: 4- [Ir(NH3)4Cl2] +: 5- [Fe(C5H5)2]: cloreto de diaminoprata(I) ou diaminprata(I). tetracarbonilníquel(0) íon dicloroaurato(I) íon tetramindicloroirídio(III) bis(ciclopentadienil)ferro(II) Aplicação das regras: Nomenclatura 36 Nomeando os complexos: 6- Isômero cis-[Pt(NH3)2Cl2]: Isômero trans-[Pt(NH3)2Cl2]: 7- [(H2O)4Fe(OH)2Fe(H2O)4] 2+: 8- [(NH3)4Co(OH)(NH2)Co(NH3)4] 4+ cis-diaminodicloroplatina(II) trans-diaminodicloroplatina(II) Íon di-µ-hidroxobis[tetraquoferro(II)] Íon µ-amido-µ-hidroxobis[tetraaminocobalto(III)] Aplicação das regras: Nomenclatura 37 9- [Cr(NH3)6][CuCl5]: 10- [Cr(edta)]- : 11- [Cu(en)3]SO4 : 12- [Co(ONO)(NH3)5]Cl2: 13- [Co(NO2)(NH3)5]Cl2: pentaclorocuprato(II) de hexamincromo(III) íon etilenodiaminotetracetatocromato(III) sulfato de tris(etilenodiamino)cobre(II) Aplicação das regras: cloreto de pentaminonitritocobalto(III) cloreto de pentaminonitrocobalto(III) Exemplos de compostos de coordenação: Hemoglobina 38 Parte da estrutura da hemoglobina. Ligação do O2 a hemoglobina. Exemplos de compostos de coordenação: Clorofila 39 Estruturas da clorofila. Exemplos de compostos de coordenação Cisplatina 40 Compostos de platina que combatem o câncer.
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