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Geomorfologia Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Dra. Adriana Furlan Revisão Textual: Profa. Esp. Márcia Ota O Relevo Brasileiro • Introdução • Classificações do relevo brasileiro • Perfil topográfico • Superfícies de aplainamento • Divisão geomorfológica do estado de São Paulo · Identificar e comparar as formas e processos do relevo brasileiro e do estado de São Paulo. OBJETIVO DE APRENDIZADO Nesta Unidade, vamos aprender sobre o relevo brasileiro e de que forma a compartimentação do relevo, para fins de aprofundamento de estudos, é realizada, nos utilizando, para tanto, do exemplo da divisão do relevo do estado de São Paulo. Leia, com atenção, o conteúdo disponibilizado e o material complementar. Não esqueça! A leitura é um momento oportuno para registrar suas dúvidas; por isso, não deixe de registrá-las e transmiti-las ao professor-tutor. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, assim como realize as atividades de sistematização, essas que lhe ajudarão a verificar o quanto absorveu do conteúdo: são questões objetivas que pedirão a você resoluções coerentes ao apresentado no material da respectiva Unidade para, então, prepará-lo(a) à realização das respectivas avaliações. ORIENTAÇÕES O Relevo Brasileiro UNIDADE O Relevo Brasileiro Contextualização Observe com atenção a figura a seguir. Nela podemos identificar algumas formas de relevo, considerando este como o modelado da superfície terrestre. Por que há diferentes formas de relevo? O que vemos hoje é algo estático? O que condiciona o relevo? Fonte: Acervo do Autor Vamos refletir sobre estas questões. Há diferentes formas de relevo pois os elementos que as formam não são os mesmos em todos os locais. Os fatores internos (vulcanismo e tectonismo) e os agentes externos (as rochas, a precipitação, a variação de temperatura, diferentes condições de vento entre outros), condicionam a existência de determinada forma de relevo. A combinação destes elementos gera a estruturação e a esculturação do relevo de forma diferenciada. O que vemos hoje na paisagem é resultado de processos que estão ocorrendo há milhares de anos e estão ainda se processando, mas por se tratar de processos lentos não conseguimos, na escala de tempo humana, identificar grandes transformações, somente quando ocorre um evento catastrófico, como um deslizamento de terra. Os estudos sobre as formas de relevo e propostas de criação de uma classificação para as mesmas tem acompanhado a evolução dos estudos em Geomorfologia. Nesta unidade estudaremos algumas destas propostas de classificação e de que forma alguns autores estudam estas formas. 6 7 Introdução Desde o início dos estudos em Geomorfologia, houve uma grande preocupação em se desenvolver uma metodologia que fosse capaz de englobar as inúmeras variáveis a serem estudadas nesta disciplina. Assim como em outros temas, a classificação do relevo sempre foi motivo de discussões e polêmicas, havendo, desde o início, diversas propostas com base em diferentes critérios adotados por seus autores. Podemos citar como marco a obra pioneira de Aroldo de Azevedo, baseada nas características hipsométricas (altitudes), passando pela classificação de Aziz Nacib Ab’Sáber, muito difundida na segunda metade do século XX, chegando até a mais utilizada atualmente, desenvolvida por um grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo e organizada por Jurandyr Luciano Sanches Ross, sendo esta resultante do Projeto Radambrasil. Não podemos afirmar que uma proposta de classificação seja mais correta ou adequada do que outra, mas sim que, com base em diferentes critérios, cada autor realizou sua proposta que foi ora mais e ora menos aceita pelo meio científico e acadêmico. O Projeto RADAM – Radar da Amazônia - foi um esforço pioneiro do governo brasileiro na década de 70 para a pesquisa de recursos minerais, solos, vegetação, uso do solo e cartografia da Amazônia e áreas adjacentes da região Nordeste, sendo organizado pelo Ministério de Minas e Energia através do Departamento Nacional da Produção Mineral - DNPM, com recursos do PIN - Plano de Integração Nacional. Na época, o uso do radar de visada lateral (SLAR) representou um avanço tecnológico, pois a imagem podia ser obtida tanto durante o dia como à noite e em condições de nebulosidade. Em junho de 1971, iniciou-se o aerolevantamento. Devido aos bons resultados do projeto, em julho de 1975, o levantamento de radar foi expandido para o restante do território nacional, visando o mapeamento integrado dos recursos naturais e passando a ser denominado Projeto RADAMBRASIL. Ex pl or Fonte: Adaptado de http://www.cprm.gov.br 7 UNIDADE O Relevo Brasileiro Classificações do relevo brasileiro Partindo do fato de que há diversas propostas de classificação do relevo brasileiro e mundial, vamos nos aprofundar em três dentre as principais, sendo, a mais antiga, de Aroldo de Azevedo, a mais tradicional, elaborada por Aziz N. Ab’Sáber, e a mais usada atualmente, de autoria de Jurandyr L. S. Ross, ambos geógrafos e geomorfólogos. Classificação de Aroldo de Azevedo A classificação do relevo proposta por Aroldo de Azevedo, na década de 1940, tem como base o critério hipsométrico. Para o autor, as terras brasileiras poderiam ser classificadas, em função de suas altitudes em dois grandes grupos: os planaltos e as planícies. Esta classificação, embora bastante simples, se comparada as mais complexas produzidas ao longo do tempo, serviu como base para todas as demais que se seguiram a esta. As planícies foram consideradas como as partes do relevo relativamente planas com altitudes inferiores a 200 metros, e os planaltos considerados como as formas de relevo levemente onduladas, as quais apresentam altitudes superiores a 200 metros. Conforme podemos observar na figura 1, com base nessa classificação, o território brasileiro apresenta cerca de 60% de área ocupada por planaltos e as planícies ocupam as áreas restantes (40%). Figura 1 – classificação do relevo de acordo com Aroldo de Azevedo Fonte: Acervo do Autor 8 9 Classifi cação de Aziz Ab’Sáber No final da década de 1950, o professor Aziz Nacib Ab’Saber apresentou uma nova classificação do relevo brasileiro, com maior rigor conceitual, utilizando como critério para a definição das formas o tipo de processo geomorfológico dominante na superfície: processo de erosão ou processo de sedimentação. Além dessa proposta Ab´Saber relacionou, posteriormente, as formas de relevo às condições climáticas locais resultando nos “domínios morfoclimáticos”, os quais estudaremos na disciplina Biogeografia. Dentre as formas presentes na classificação do relevo de Ab´Saber, estão os planaltos e as planícies, sendo que para este autor, há uma relação direta entre estes, sendo que os planaltos são superfícies aplainadas onde há predomínio do processo de erosão (desgaste) sobre o processo de acumulação (sedimentação) e as planícies são caracterizadas pela predominância do processo de agradação (sedimentação) sobre o processo de erosão. Existe, para Ab´Saber, uma relação entre ambos, sendo que o material resultante do processo erosivo dos planaltos é transportado, fundamentalmente, pelos cursos de água e depositado nas áreas adjacentes mais baixas formando as planícies, ou seja, o planalto fornece material para a formação das planícies. Em função destes critérios Ab´Saber propôs a divisão do Brasil nas unidades de relevo que podem ser observadas na figura 2. Trata-se de uma classificação com critério diferenciado da proposta de Aroldo de Azevedo e com uma maior compartimentação do relevo. Figura 2 – Classifi cação do relevo brasileiro segundo Aziz Ab´Saber Fonte: Acervo do Autor 9 UNIDADE O Relevo Brasileiro Classificação de Jurandyr Ross A classificação de Jurandyr L. S. Ross, divulgada em 1995, baseou-se num deta- lhado levantamento da superfície do território brasileiro,realizado pelo sistema de radares do projeto RADAMBRASIL e considerou as unida des de relevo com base nos seguintes critérios: · o processo de erosão/sedimentação dominante na atualidade; · o nível altimétrico; e, · a base geológica e estrutural do terreno. Trata-se de uma classificação que considera o relevo brasileiro em grandes unidades, ou compartimentos, agrupados em três tipos: os planaltos, as depressões e as planícies. Nas duas primeiras unidades, predominam os processos erosivos e nas planícies, o processo de acumulação de sedimentos. Jurandyr Ross, a exemplo de Ab’Saber, também, utiliza os processos geomorfológicos para elaborar sua classificação e considera os conceitos de morfoestrutura e morfoescultura. Observe, na figura 3, a compartimentação do relevo proposta por Jurandyr Ross: Figura 3 – Classificação do relevo conforme proposta de Jurandyr L. S. Ross Fonte: Acervo do Autor 10 11 Vamos estudar, a seguir, com mais detalhes, cada um dos compartimentos propostos por este autor: Planaltos – atuação de processos erosivos Segundo Ross (2011), planalto pode ser definido como uma superfície irregular, com altitude acima de 300 metros sendo resultante de processos erosivos. O autor identificou os seguintes planaltos brasileiros: · Planalto da Amazônia Oriental: constitui-se de terrenos de uma bacia sedimentar e localiza-se na metade oriental da região, numa estreita faixa que acompanha o rio Amazonas do médio curso até a foz. Suas altitudes atingem cerca de 400 metros na porção norte e 300 metros na porção sul. · Planaltos e Chapadas da Bacia do Parnaíba: constituem-se de terrenos de uma bacia sedimentar, estendendo-se das áreas centrais do país (Goiás-Tocantins) até as proximidades do litoral, onde se alargam na faixa entre Pará e Piauí, sendo cortada de sul ao norte pelo rio Parnaíba. Nesta unidade, predominam as formas tabulares (chapadas). · Planaltos e Chapadas da Bacia do Paraná: caracterizam-se pela presença de terrenos sedimentares e pela soleira de rochas de vulcânicas da era Mesozoica. Localizam-se na porção meridional do país, acompanhando os cursos dos afluentes do rio Paraná e estendem-se do Estado de Mato Grosso à Região Sul, ocupando a faixa ocidental dessa região. Atingem altitudes na cota dos 1.000 metros. · Planaltos e Chapadas dos Parecis: estendem-se por uma larga faixa no sentido leste-oeste na porção centro-ocidental do país, indo do Mato Grosso até Rondônia. Dominados pela presença de terrenos sedimentares, apresentam altitudes de aproximadamente 800 metros. Os chapadões configuram-se como importantes interflúvios (topos), dispersando as águas para várias bacias hidrográficas (Amazonas, Paraguai e Guaporé). · Planaltos Residuais Norte-Amazônicos: antigamente, denominados de Planalto das Guianas, ocupam uma área, onde se mesclam terrenos sedimentares e cristalinos, na porção mais setentrional do país, do Amapá até o Amazonas, caracterizando-se em alguns pontos pela definição das fronteiras brasileiras e em outros, pela presença das maiores altitudes do Brasil, como o Pico da Neblina, localizado na Serra do Imeri, no Estado do Amazonas. · Planaltos Residuais Sul-Amazônicos: também, ocupam terrenos, onde se mesclam rochas sedimentares e cristalinas, estendendo-se por uma larga faixa de terras ao sul do rio Amazonas, da porção meridional do Pará até Rondônia. Apresentam-se, em comparação com os Residuais Norte- Amazônicos, bem mais pulverizados, em virtude do trabalho erosivo fluvial dos afluentes da margem direita do rio Amazonas. Outro destaque dessa unidade é a presença de algumas formações em que são encontradas jazidas minerais de grande porte (caso da Serra dos Carajás, no Pará). 11 UNIDADE O Relevo Brasileiro · Planaltos e Serras do Atlântico leste-sudeste: perfazem uma larga faixa de terras na porção oriental do país em terrenos predominantemente cristalinos, onde há superfícies bastante acidentadas, com sucessivas escarpas de planalto (onde se destaca a Serra do Mar). Esta porção do território abarca o denominado, por Aziz Ab´Saber, como domínio morfoclimático dos mares de morros. Há, também, um conjunto de terras mais elevadas (“região das terras altas”), vinculadas, sobretudo, às Serras do Mar e da Mantiqueira. Na porção mais interior, em Minas Gerais, destaca-se outra importante jazida mineral brasileira, o Quadrilátero Ferrífero, na serra do Espinhaço. · Planaltos e Serras de Goiás-Minas: terrenos de formação antiga, predominantemente cristalinos, que se estendem do sul de Tocantins até Minas Gerais, caracterizando-se por formas muito acidentadas, como a Serra da Canastra, onde estão localizadas as nascentes do rio São Francisco, entremeadas de formas tabulares, como as chapadas próximas do Distrito Federal. · Serras Residuais do Alto Paraguai: ocupam uma área de rochas cristalinas e rochas sedimentares antigas, que se estendem tanto ao norte como ao sul da planície do Pantanal, no Centro-Oeste brasileiro. Na porção meridional, destaca-se a Serra da Bodoquena, na qual as altitudes alcançam cerca de 800 metros. · Planalto de Borborema: área de terrenos formados de rochas pré- cambrianas e sedimentares antigas, que aparece na parte oriental do Nordeste brasileiro, a leste do Estado de Pernambuco, como um grande núcleo cristalino isolado, atingindo altitudes em torno de 1.000 metros. · Planalto Sul-rio-grandense: superfície caracterizada pela presença de rochas de diversas origens geológicas, com ligeiro predomínio de material pré-cambriano. Localiza-se na porção mais ao sul do Rio Grande do Sul, onde encontramos as famosas “coxilhas”, superfícies convexas caracterizadas por colinas suavemente onduladas, com altitudes inferiores a 450 metros. Após analisarmos com mais detalhamento os planaltos da classificação de Jurandyr Ross, vamos fazer refletir. Embora distantes uns dos outros, o que podemos identificar como semelhança entre os planaltos descritos acima? Muitos dos planaltos descritos são antigos terrenos sedimentares que sofreram soerguimento e estão no presente (em termos geológicos) sofrendo processos de erosão. Os planaltos funcionam como divisores de água, abrigando algumas das nascentes de rios de importância regional e nacional e as altitudes destes são maiores que 400m. Outro aspecto semelhante é que em algumas áreas de planaltos, onde há uma intercalação de terrenos cristalinos (rochas magmáticas e metamórficas, ou seja, rochas duras) e sedimentares ocorrem jazidas minerais, algumas bastante significativas e importantes. Ex pl or 12 13 Podemos acrescentar ao conceito que os planaltos brasileiros são superfícies, cristalinas ou sedimentares, antigas. Os movimentos tectônicos que promoveram o soerguimento de grandes áreas do território do Brasil ou a formação dos terrenos sedimentares ocorreram há muito tempo e estas áreas estão, agora, sendo rebaixadas pelos agentes externos do relevo. Depressões – processos erosivos Para Ross, a depressão é uma superfície com altitudes entre 100 e 500 metros, com inclinação suave e mais plana que o planalto. As depressões circundam os planaltos e foram formadas a partir do desgaste, pela erosão, das rochas menos resistentes, sendo, em geral, constituídas por bacias sedimentares. As bordas de contato das depressões com os planaltos são formadas, muitas vezes, por escarpas (vertentes) muito íngremes, o que demonstra que há diferença de resistência das formações rochosas à erosão. As depressões do território brasileiro são: · Depressão da Amazônia Ocidental: extensa área de origem sedimentar na parte oeste da Amazônia, com altitudes em torno de 200 metros, apresentando uma superfície aplainada, atravessada em sua porção central pelo rio Amazonas. · Depressão Marginal Norte-Amazônica: localizada na porção setentrional da Amazônia, entre o Planalto da Amazônia Oriental e os Planaltos Residuais Norte-Amazônicos, com altitudes que variam entre 200 e 300 metros. Formadapor rochas cristalinas e sedimentares antigas, estendendo-se desde o litoral do Amapá até a fronteira do estado do Amazonas com a Colômbia. · Depressão Marginal Sul-Amazônica: com terrenos predominantemente sedimentares e altitudes variando entre 100 e 400 metros, está localizada na porção meridional da Amazônia, intercalando-se com as terras dos Planaltos Residuais Sul-Amazônicos. · Depressão do Araguaia: ocupando terrenos sedimentares, em área de topografia muito plana e altitudes entre 200 e 350 metros, acompanha quase todo o vale do rio Araguaia. Em seu interior, encontramos a planície do rio Araguaia. · Depressão Cuiabana: situada no coração do país, está encaixada entre os planaltos da Bacia do Paraná, dos Parecis e do Alto Paraguai. Caracteriza- se pelo predomínio de terrenos sedimentares de baixa altitude, variando entre 150 a 400 metros. · Depressão do Alto Paraguai – Guaporé: superfície assentada predominantemente sobre rochas sedimentares, situa-se entre os rios Jauru e Guaporé, no estado de Mato Grosso. 13 UNIDADE O Relevo Brasileiro · Depressão do Miranda: cortada pelo rio Miranda, localiza-se ao sul do Pantanal, onde predominam rochas cristalinas pré-cambrianas, e altitudes entre 100 e 150 metros. · Depressão Sertaneja e do São Francisco: ocupa uma extensa faixa de terras que se alonga das proximidades do litoral do Ceará e do Rio Grande do Norte até o interior de Minas Gerais, acompanhando quase todo o curso do rio São Francisco. Apresenta formas e estruturas geológicas variadas, porém destaca-se a presença do relevo tabular, com chapadas como a do Araripe e a do Apodi. · Depressão do Tocantins: acompanha todo o trajeto do rio Tocantins, quase sempre em terrenos de formação cristalina pré-cambriana e as altitudes declinam de sul para norte variando entre 500 e 200 metros. · Depressão Periférica da Borda Leste da Bacia do Paraná: caracterizada pelo predomínio dos terrenos sedimentares das eras Paleozoica e Mesozoica. É uma faixa localizada entre os terrenos planálticos da Bacia do Paraná e do Atlântico Leste e Sudeste. Suas altitudes oscilam entre 600 e 700 metros. · Depressão Periférica Sul-rio-grandense: ocupa terrenos sedimentares drenados pelos rios Jacuí e Ibicuí, no Rio Grande do Sul. Caracteriza-se por baixas altitudes em torno dos 200 metros. Planícies – processos deposicionais As planícies são as unidades do relevo brasileiro, cujo arcabouço geológico consiste em bacias de sedimentação recente, formadas por deposições ocorridas no Período Quaternário. As superfícies apresentam-se aplainadas e ainda em processo de consolidação, ou seja, sua formação ainda está ocorrendo. A seguir são descritas as planícies conforme classificação de Ross: · Planície do rio Amazonas: antes considerada uma das maiores planícies do mundo, a região das terras baixas amazônicas atualmente se divide em várias subunidades, classificadas como planaltos, depressões e uma planície. Caso se considerasse apenas a origem, que é sedimentar, seu 1,6 milhão de quilômetros quadrados formaria uma gigantesca planície. Se, também, se considerasse a altimetria, que não ultrapassa 150 metros de altitude, também, se classificaria a região como uma enorme planície. Considerando, no entanto, os processos erosivos e deposicionais, constata- se que mais de 95% dessas terras baixas são, na verdade, planaltos ou depressões de baixa altitude, onde o processo erosivo predomina sobre o de sedimentação, restando à planície uma estreita faixa de terras às margens dos grandes rios da região, o que reduz sua área significativamente. 14 15 · Planície do rio Araguaia: estende-se no sentido sul-norte, margeando o trecho médio do rio Araguaia em terras dos estados de Goiás e Tocantins. Nela, está localizada a maior ilha fluvial do planeta (Ilha do Bananal). · Planície e Pantanal do rio Guaporé: faixa bastante estreita de terras planas e muito baixas, que se alonga pela fronteira ocidental do país, em terras de Mato Grosso e Rondônia, e penetra a noroeste, no território boliviano, tendo seu eixo definido pelo leito do rio Guaporé. · Planície e Pantanal Mato-grossense: grande área que ocupa a porção mais ocidental do Brasil Central. Por ter formação recente (datando do período Quaternário), apresenta altitudes muito modestas, em torno de 100 metros. · Planície da Lagoa dos Patos e da Lagoa Mirim: estende-se por boa parte do litoral gaúcho, expandindo-se em sua porção mais meridional. A originalidade dessa planície está nos agentes de sedimentação, fundamentalmente perpetrada pela dinâmica marinha e lacustre, com mínima participação da dinâmica fluvial. · Planícies e Tabuleiros Litorâneos: presente em inúmeras porções do litoral brasileiro, quase sempre muito pequenas e localizadas na foz de rios que deságuam no mar, especialmente daqueles de menor porte. Apresentam-se muito largas no litoral norte e quase desaparecem no litoral sudeste. Em trechos do litoral nordestino, são intercaladas com áreas de maior elevação, as barreiras, também de origem sedimentar. 15 UNIDADE O Relevo Brasileiro Perfil topográfico Uma forma bastante didática de entendermos a configuração do relevo é traçarmos trechos de linhas retas sobre um mapa físico (do relevo) e elaborarmos um perfil deste “corte” do relevo. A partir desses cortes, é possível percorrermos as unidades do relevo brasileiro sob outro ponto de vista, ou seja, mudar a perspectiva de bidimensional (mapa) para tridimensional (perfil). Observe, nas figuras 5 a 7, os três perfis, que segundo Jurandyr Ross, resumem o relevo brasileiro, conforme o trecho representado em cada perfil identificado na figura 4 a seguir. 1. Região Norte Observe, na figura 5, a diferença de altitude presente em toda a região em comparação com a extremidade oeste – Planaltos residuais Norte-Amazônicos. Observe, também, que há uma extensa área de terrenos cristalinos que não são recobertos por sedimentos. Figura 5 – Perfil da Região Norte Fonte: Acervo do Autor Figura 4 – Corte para elaboração de perfis propostos por Jurandyr Ross: 1 – Região Norte; 2 – Região Nordeste; 3 – Região Centro-Oeste e Sudeste Fonte: Acervo do Autor 16 17 2. Região Nordeste Observe, na figura 6, a diferença de embasamento existente nesta região. Próximo ao litoral, encontram-se os terrenos cristalinos, rochas duras que formam a crosta terrestre. Em direção ao interior do país, o embasamento está recoberto por sedimentos (ficando bem abaixo dos sedimentos), formando os terrenos sedimentares. Figura 6 – Perfi l da Região Nordeste Fonte: Acervo do Autor 3. Região Centro-Oeste e Sudeste Observe, na figura 7, que o embasamento cristalino está presente nos Planaltos e Serras do Leste e Sudeste, formando a área designada por Serra do Mar que se estende até a região Sul. Do oceano em direção ao interior do país os terrenos se tornam sedimentares e o embasamento cristalino está completamente soterrado por sedimentos. Observe, ainda, que há áreas com menor altitude a leste dos planaltos e serras, sendo estas: a depressão periférica, a calha do rio Paraná e a planície do Pantanal Mato-grossense. Figura 7 – Perfi l da Região Centro-Oeste e Sudeste Fonte: Acervo do Autor 17 UNIDADE O Relevo Brasileiro Superfícies de aplainamento Comentamos, anteriormente, que o território brasileiro, em sua grande parte, está sendo rebaixado por processos erosivos que estão atuando há milhares de anos. Por que as formações e os terrenos brasileiros são considerados antigos e erodidos? Para respondermos a esta questão, devemos considerar que os processos tectônicos (terremotos e vulcanismo) deixaram de ocorrer no território brasileiro há milhões de anos (Era Cenozóica). Tais fenômenos foram muito presentes no momento da separação do continente sul americano e africano (abertura do oceano Atlântico), mas em tempos atuais, em termos geológicos, podemos considerar que há estabilidade tectônica em nosso território(se compararmos as áreas tectonicamente ativas). Como resultado, desse longo processo de rebaixamento do relevo brasileiro, encontramos em pontos do território as denominadas superfícies de aplainamento (concepção de origem Davisiana, revista e reformulada conceitualmente), mas ainda utilizada. Qual a relação das superfícies de aplainamento com as formas de relevo presentes em nosso território? Segundo Ab´Saber, a mais perfeita aplainação antiga do território brasileiro tem baixíssima participação no relevo atual, mas estas superfícies muito antigas (fósseis) estão sendo exumadas em alguns pontos do território, em áreas do interior do Nordeste brasileiro, tais como na Serra de Teixeira, nos altos do Baturité, no reverso da escarpa do Ibiapaba e no topo da Chapada do Araripe. Estas áreas constituem testemunhos de um importante período de aplainamento. O relevo atual não expõe as superfícies de aplainamento antigas, exceto em casos como os citados acima. O que podemos verificar na composição do relevo brasileiro são formas que estão sendo trabalhadas após os soerguimentos ocorridos no pós-plioscênico (após 2,5 milhões de ano em diante), quando passaram a predominar os amplos efeitos paleoclimáticos e ecológicos, relacionados às rápidas e sucessivas flutuações do nível do mar, sobretudo entre o período de tempo decorrido entre 110.000 anos atrás até os dias atuais. Como exemplo da continuidade dos processos erosivos que se instalaram no território brasileiro podemos citar as falésias, presentes em diversos trechos do litoral. As províncias geomorfológicas do Brasil As formas de relevo do Brasil e do mundo são resultantes dos processos atuais e passados ocorridos sobre a estrutura geológica e originam-se a partir de interação das forças endógenas e exógenas que estruturam e esculturam a superfície terrestre. A partir da morfogênese, ou seja, da ação destas forças, a superfície da Terra está em constante mudança. As formas de relevo se alternam como resultado da ação conjunta dos componentes da natureza, que, por sua vez, também, são influenciados em diferentes proporções pelas formas de relevo. 18 19 O objetivo principal da caracterização geomorfológica de uma região é representar as formas atuais da superfície e também incluir informações a respeito da morfometria, morfogênese e morfocronologia dos terrenos. (ROSS, 1992). A definição do tipo de informação e do nível de detalhes que estarão presentes nos mapas geomorfológicos serão definidos pela escala do mapeamento e pela metodologia proposta. Desta forma, para fins de aprofundamento de estudos e facilitação do entendimento de cada porção do território, os estudos geomorfológicos se tornaram mais pontuais, passando de uma pequena escala (grandes áreas) para uma grande escala (estudos regionais e locais). A representação das províncias geomorfológicas de uma determinada porção de território pode ser feita em forma de uma representação gráfica ou cartográfica. Vejamos, a seguir, um exemplo de representação gráfica e cartográfica, que mostra as províncias geomorfológicas do estado do Paraná (figuras 8 e 9): Figura 8: Representação gráfi ca das províncias geomorfológicas do estado do Paraná Fonte: Acervo do Autor Figura 9: Representação cartográfi ca das províncias geomorfológicas do estado do Paraná Fonte: wikimedia/commons 19 UNIDADE O Relevo Brasileiro Utilizaremos o caso do estado de São Paulo para compreendermos melhor de que forma a divisão geomorfológica nos auxilia no entendimento mais pontual e aprofundado das formas de relevo. Divisão geomorfológica do Estado de São Paulo A divisão geomorfológica de determinada porção do território visa ao aprofundamento do conhecimento sobre o mesmo e torna-se um recurso útil para fins de estudos. Um dos produtos resultantes destes estudos é o mapa geomorfológico, que tem como objetivo a representação qualitativa, quantitativa e explicativa das formas do relevo. De acordo com a proposta de Almeida, de 1964 e válida até hoje (embora novas propostas tenham sido elaboradas e utilizadas), o estado de São Paulo foi dividido em cinco províncias geomorfológicas: Planalto Atlântico, Província Costeira, Depressão Periférica, Cuestas Basálticas e Planalto Ocidental (figura 10). Figura 10 – Províncias geomorfológicas do estado de São Paulo, proposta por Almeida (1964) Denominação: I – Planalto Atlântico; II – Província Costeira; III – Depressão Periférica; IV – Cuestas Basálticas; V – Planalto Ocidental Fonte: Acervo do Autor Morfometria – estudo acerca das medidas da forma. Morfogênese – estudo sobre a origem da forma. Morfocronologia – estudo sobre a idade da forma. 20 21 Observe, na figura 11, o perfil do relevo do estado de São Paulo e compare os diferentes compartimentos e suas altitudes: m 1 600 1 200 800 800 0 A lti tu de A lti tu de NNW SSE 50 150 250 350 450 km V IV III I II Ri o Pa ra ná Ri o Pa ra ná NNW SSE PERFIL TOPOGRÁFICO DO ESTADO DE SÃO PAULO Figura 11 – Perfi l topográfi co do estado de São Paulo A proposta de divisão geomorfológica do estado de São Paulo pelo IBGE (2000) modifica a nomenclatura com base em outros critérios de análise, mas podemos perceber em termos de compartimentação se assemelha com a proposta de Almeida (1964). Figura 12 – Províncias geomorfológicas do estado de São Paulo, proposta IBGE (2000) Fonte: IBGE (2000) 21 UNIDADE O Relevo Brasileiro Vamos aprofundar nosso conhecimento acerca de cada uma das províncias geomorfológicas do estado de São Paulo, conforme proposta de Almeida (1964): I. Planalto Atlântico Esta província ocorre em uma faixa de orogenia antiga, a qual corresponde a relevos sustentados por litologias diversas, quase sempre metamórfica (presença ampla de gnaisses) e rochas intrusivas (granito). Em função da extensa área deste planalto, é possível observarmos variações fisionômicas regionais, que possibilitam delimitar unidades geomorfológicas distintas. Figura 13 – São Francisco Xavier – SP, Serra da Mantiqueira, Planalto Atlântico Fonte: www.sjc.sp.gov.br II. Província Costeira A Província Costeira, definida por Almeida (1964), corresponde à área do estado de São Paulo drenada diretamente para o mar, constituindo o rebordo do Planalto Atlântico. É, em sua maior parte, uma região de serras contínuas contínua, que na faixa litorânea cede lugar a uma sequência de planícies de variadas origens. Desta forma, conforme Almeida (1964), a província costeira pode ser dividida em duas zonas: Serrania Costeira e a Baixada Litorânea, compreendendo, esta, terrenos com elevação inferior a 70 metros acima do nível médio do mar, dispostos à beira-mar. Figura 14 – Trecho da Planície Costeira do estado de São Paulo – Baixada Santista Fonte: Acervo do Autor 22 23 III. Depressão Periférica A Depressão Periférica do estado de São Paulo é um compartimento topográfico deprimido que se localiza entre o Planalto Atlântico e as Cuestas Basálticas. Tem uma extensão entre 80 a 120 km, onde predominam formas de relevo de caráter denudacional – predominância de processos erosivos. Este compartimento do relevo paulista corresponde a uma faixa de ocorrência das sequências sedimentares das Eras Paleozoicas e Mesozoicas situadas em camadas abaixo dos derrames basálticos. Observe, na figura 15, que a área rebaixada se refere à Depressão Periférica. Figura 15 – Depressão Periférica em seu contato com as Cuestas Basálticas (esquerda e fundo da imagem). Fonte: www.ambiente.sp.gov.br IV. Cuestas Basálticas O relevo de Cuestas se caracteriza, no geral, por uma sequência de camadas sedimentares sobrepostas por uma camada de rocha dura (ígnea) e sua forma singular é resultado do processo erosivo que desgasta, primeiramente, a rocha menos resistente. Conforme Cyríaco (2012), o reverso da Cuesta apresenta um alto potencial erosivo em função das características das bacias de drenagem que proporcionam diferentes entalhes e consequentementea formação de diferentes conjuntos de formas do relevo. Assim, as cuestas são formas de relevo tabular, com escarpas íngremes e topo plano, sofrendo processo erosivo pelas drenagens que as atravessam. As Cuestas Basálticas se caracterizam por um relevo íngreme margeando a Depressão Periférica e apresenta uma sequência de grandes plataformas estruturais com relevos suavizados, inclinadas para dentro em direção ao Planalto Ocidental, as quais são, sequencialmente, a escarpa e o reverso das Cuestas (figura 16). 23 UNIDADE O Relevo Brasileiro Figura 16 - Elementos característicos de uma cuesta. Fonte: Acervo do Autor Observe, na figura 17, a forma característica do relevo das Cuestas Basálticas em um ponto do estado de São Paulo que marca a transição entre este compartimento e o Planalto Ocidental: Figura 17 – Relevo de Cuestas Basálticas no estado de São Paulo. Fonte: Acervo do Autor V. Planalto Ocidental Este planalto ocupa, praticamente, 50% de toda a área do estado de São Paulo, apresenta altitudes entre 300 e 1000 metros e é subdividido em planaltos locais, que são segundo Ross e Moroz (1997): Planalto Centro Ocidental, Patamares Estruturais de Ribeirão Preto, Planaltos Residuais de Franca/Batatais e Planalto Residual de São Carlos. Ainda, conforme esses autores, este compartimento apresenta relevo levemente ondulado onde predominam as colinas amplas e baixas com topos aplainados, resultantes de processos denudacionais. 24 25 Figura 18 – Trecho do Planalto Ocidental a oeste de Taquaritinga. Fonte: Acervo do Autor Embora muito utilizada, a proposta de divisão geomorfológica do estado de São Paulo de Almeida (1964) foi redefinida por outros autores, dentre os quais Jurandyr Ross. Apresentamos, a seguir, de forma resumida, as unidades do relevo paulista conforme ROSS (1992), que considera em sua classificação a concepção de unidades morfoestruturais e morfoesculturais: I. Cinturão orogênico do Atlântico (Planalto Atlântico). II. Bacia Sedimentar do Paraná (Planalto Ocidental Paulista e Depressão Periférica Paulista). III. Bacias Sedimentares Cenozoicas (Planalto de São Paulo, Depressão do Médio Paraíba, Depressão do Baixo Ribeira, Planícies Litorâneas e Planícies Fluviais). 25 UNIDADE O Relevo Brasileiro Observe esta compartimentação na figura 19: Figura 19 - Mapa geomorfológico do estado de São Paulo, conforme Jurandyr Ross (1992). Fonte: Acervo do Autor Podemos concluir que as propostas de compartimentação do relevo brasileiro e do estado de São Paulo (bem como de outros estados e regiões brasileiras) se transformaram ao longo do tempo, acompanhando a evolução dos estudos geomorfológicos em termos de aprofundamentos teóricos e práticos. 26 27 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Cultivo da cana-de-açúcar cresce na região oeste paulista Qual a a relação existente entre a expansão da cana e sua colheita mecanizada e as caracteristicas do relevo neste compartimento (Planalto Atlântico). http://goo.gl/V1X4eX O Polo cuesta – Pólo Regional de Desenvolvimento Turístico. reflita sobre a relação do turismo com a natrueza e em especial de que forma os envolvidos nesta atividades têm se “apropriado” das formas de relevo com o objetivo de obter ganhos financeiros. http://polocuesta.com.br/portal/quem-somos.htm Vídeos Relevo do estado de São Paulo reflita sobre a importância da classificação e compartimentação do relevo para fins didáticos. https://www.youtube.com/watch?v=XDpvBSw7YdQ Licenciatura em Ciências: Expedição Geologia PGM 4 - Depressão Periférica relacione o que estudou nesta unidade com seus conhecimento das disciplinas Geologia e Climatologia e o que foi apresentado no vídeo em relação às formas e compartimentos do relevo do estado de São Paulo. https://www.youtube.com/watch?v=gU1wjTlujAs 27 Referências CYRÍACO, F. R. Relação entre os aspectos fisiográficos e pedológicos e a instalação do bioma Cerrado no contexto da evolução da paisagem em Franca, SP. Disponível em http://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/92766/cyriaco_fr_me_ rcla.pdp?sequence=1 CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. 2.ed. São Paulo: Edgar Blucher, 1980. CRISCUOLO, C. e HOTT, M. C. Sistema de gestão territorial da ABAG/RP. EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Disponível em http:// www.abagrp.cnpm.embrapa.br/areas/geomorfologia.htm GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. (Orgs.) Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. GUERRA, A. J. T. Geomorfologia e Meio Ambiente. 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. _________. Novo dicionário geológico-geomorfológico. 4. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. PAULA, J. P. L de; ZAINE, J. E.; LIMA, M. S. e OLIVEIRA, E. M. de. Análise fisiográfica aplicada à elaboração de mapa geológico-geotécnico de região da Serra do Mar e Baixada Santista. Revista de Geociências (São Paulo) [online]. 2008, vol.27, n.2, pp. 249-264. ISSN 0101-9082 ROSS, J. L. S. e MOROZ, I. C. Mapa geomorfológico do Estado de São Paulo. Revista de Geografia. Laboratório de Geomorfologia do Depto de Geografia da FFLCH-SP, 1997. Disponível em: http://www.revistas.usp.br Acesso em 04/11/15. ROSS, J. L. S. Geografia do Brasil. 6. Ed. São Paulo: Edusp, 2011.. 28
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