Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Patologia Clínica Introdução à Patologia Geral (reparo) Introdução à Patologia Geral A habilidade em reparar a lesão causada por lesões tóxicas e inflamação é crítica para a sobrevivência de um organismo. A resposta inflamatória a micróbios e tecidos lesados não serve apenas para eliminar esses perigos, mas também inicia o processo de reparo. O reparo, muitas vezes chamado de cura, se refere à restauração da arquitetura e função do tecido após a lesão. Ocorre por dois tipos de reações: regeneração do tecido lesado e formação de cicatriz pela deposição de tecido conjuntivo. Visão Geral do Reparo Tecidual Introdução à Patologia Geral Visão Geral do Reparo Tecidual Introdução à Patologia Geral • Regeneração: alguns tecidos são capazes de substituir células lesadas e retornar ao estado normal; esse processo é chamado de regeneração. A regeneração ocorre por proliferação de células residuais (não lesadas) que retêm a capacidade de divisão e por substituição de células-tronco teciduais. Constitui a resposta típica a lesão em epitélios que se dividem rapidamente, como na pele e nos intestinos e em alguns órgãos, principalmente no fígado. Visão Geral do Reparo Tecidual Introdução à Patologia Geral Formação de cicatriz: Se os tecidos lesados são incapazes de regeneração ou se as estruturas de suporte do tecido são gravemente lesadas, o reparo ocorre por deposição de tecido conjuntivo (fibrose), um processo que resulta em formação de cicatriz. Embora a cicatriz fibrosa não possa realizar a função das células perdidas do parênquima, ela fornece estabilidade estrutural suficiente para tornar o tecido lesado hábil nas suas funções. Visão Geral do Reparo Tecidual Introdução à Patologia Geral O termo fibrose é mais frequentemente usado para descrever a extensa deposição de colágeno que ocorre nos pulmões, fígado, rins e outros órgãos, resultante da inflamação crônica, ou no miocárdio após extensa necrose isquêmica (infarto). Se a fibrose se desenvolve em um espaço do tecido ocupado por exsudato inflamatório, ela é chamada de organização (como na pneumonia, no pulmão). Visão Geral do Reparo Tecidual Introdução à Patologia Geral Após muitos tipos comuns de lesão, a regeneração e a formação de cicatriz contribuem em vários graus para o reparo. Ambos os processos envolvem a proliferação de várias células e interações estreitas entre células e matriz extracelular (MEC). A próxima seção discute os princípios da proliferação celular, os papéis dos fatores de crescimento na proliferação de tipos celulares distintos envolvidos no reparo e o papel das células-tronco na homeostasia do tecido. Isso é seguido por um resumo de algumas propriedades importantes da MEC e como ela está envolvida no reparo. Visão Geral do Reparo Tecidual Introdução à Patologia Geral Essas seções fornecem a base para uma consideração das características mais importantes da regeneração e cura por formação de cicatriz, concluindo com uma descrição da cura de ferida cutânea e fibrose (cicatrização) em órgãos como ilustrações do processo de reparo. Visão Geral do Reparo Tecidual Introdução à Patologia Geral A regeneração de célula e tecidos lesados envolve a proliferação celular, que é orientada por fatores de crescimento e criticamente dependente da integridade da matriz extracelular. Antes de descrevermos os exemplos de reparo por regeneração, discutiremos os princípios gerais da proliferação celular e as funções da MEC nesse processo. Regeneração celular e tecidual Introdução à Patologia Geral Controle da Proliferação Celular Vários tipos celulares proliferam durante o reparo do tecido. Eles incluem as células restantes do tecido lesado (que tentam restaurar a estrutura normal), as células endoteliais (para criar novos vasos que fornecem nutrientes necessários ao processo de reparo) e fibroblastos (fonte de tecido fibroso que forma a cicatriz para preencher os defeitos que não podem ser corrigidos por regeneração). Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral A proliferação desses tipos celulares é guiada por proteínas chamadas fatores de crescimento. A produção de fatores de crescimento polipeptídicos e a habilidade das células de se dividirem em resposta a esses fatores constituem determinantes importantes na adequação do processo de reparo. O tamanho normal das populações celulares é determinado por um equilíbrio entre proliferação celular, morte celular por apoptose e diferenciação de novas células a partir de células-tronco. Os processos-chave na proliferação celular são a replicação do DNA e a mitose. A sequência de eventos que controlam esses processos é conhecida como ciclo celular. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Neste ponto, é suficiente notar que células que não se dividem estão paradas na fase G1 ou saíram do ciclo e estão na fase G0. Os fatores de crescimento estimulam as células a passar da fase G0 para a fase G1 e depois para as fases de síntese de DNA (S), G2 e mitose (M). A progressão dessas fases é regulada por ciclinas, cuja atividade é controlada por cinases ciclina-dependentes. Uma vez as células entrando na fase S, seu DNA é replicado e elas progridem para G2 e mitose. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Capacidades proliferativas dos Tecidos A habilidade dos tecidos em se autorreparar é criticamente influenciada por sua capacidade proliferativa intrínseca. Com base nesse critério, os tecidos do corpo são divididos em três grupos. • Tecidos lábeis (dividem-se continuamente): as células desses tecidos são continuamente perdidas e substituídas pela maturação de células-tronco e por proliferação das células maduras. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral As células lábeis incluem as hematopoiéticas na medula óssea e a maioria dos epitélios de superfície, como o epitélio estratificado escamoso da pele, cavidade oral, vagina e colo uterino; o epitélio cúbico dos ductos das glândulas exócrinas (por exemplo, glândulas salivares, pâncreas, vias biliares); o epitélio colunar do trato gastrointestinal, útero e tubas uterinas; e o epitélio de transição do trato urinário. Esses tecidos se regeneram rapidamente após a lesão, já que o pool de células- tronco é preservado. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral • Tecidos estáveis: As células desses tecidos são quiescentes e, em seu estado normal, possuem baixa atividade replicativa. Entretanto, essas células são capazes de proliferar em resposta a lesão ou perda de massa tecidual. As células estáveis constituem o parênquima da maioria dos tecidos sólidos, como fígado, rim e pâncreas. Nesse grupo estão também as células endoteliais, os fibroblastos e as células musculares lisas; a proliferação dessas células é particularmente importante na cura de feridas. Com exceção do fígado, os tecidos estáveis possuem capacidade limitada de regeneração após a lesão. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Tecidos permanentes: as células desses tecidos são consideradas terminalmente diferenciadas e não proliferativas na vida pós- natal. A maioria dos neurônios e as células musculares cardíacas pertence a essa categoria. Assim, uma lesão ao cérebro ou ao coração é irreversível porque os neurônios e os miócitos cardíacos não se regeneram, resultando em cicatriz. Contudo, ocorrem replicação e diferenciação limitada da célula-tronco em algumas áreas do cérebro adulto e existe alguma evidência de que a célula-tronco cardíaca possa proliferar após necrose do miocárdio. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Todavia, qualquer que seja a capacidade proliferativa que exista nesses tecidos, ela é insuficiente para regenerar o tecido lesado. O músculo esquelético é classificado como tecido permanente, porém células satélites,aderidas à bainha endomisial, fornecem alguma capacidade regenerativa a esse tecido. Nos tecidos permanentes, o reparo é tipicamente dominado por formação de cicatriz. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Com exceção dos tecidos compostos primariamente por células permanentes que não se dividem (por exemplo, músculo cardíaco, nervo), a maioria dos tecidos maduros contém proporções variáveis dos três tipos celulares: células em divisão contínua, células quiescentes que podem retornar ao ciclo celular e células que perderam a habilidade replicativa. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Células-tronco Na maioria dos tecidos que se dividem, as células maduras são terminalmente diferenciadas e de curta duração. Quando essas células morrem, o tecido é substituído por células geradas das células-tronco e que se diferenciam. Assim, nesses tecidos há um equilíbrio homeostático entre a replicação, a autorrenovação, a diferenciação das células-tronco e a morte das células maduras, totalmente diferenciadas. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Essas relações são particularmente evidentes nos epitélios da pele e do trato gastrointestinal, que se dividem continuamente, nos quais as células-tronco localizam-se próximas à camada basal do epitélio e se diferenciam quando migram para camadas superiores do epitélio, antes que morram e se desprendam da superfície. As células-tronco são caracterizados por duas propriedades importantes: capacidade de autorrenovação e replicação assimétrica. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral A replicação assimétrica significa que, quando uma célula-tronco se divide, uma célula-filha entra na via de diferenciação e origina uma célula madura, enquanto a outra permanece como célula- tronco indiferenciada, retendo sua capacidade de autorrenovação. A autorrenovação permite às células-tronco manter uma população funcional de precursores por longos períodos de tempo. Embora a literatura cientifica esteja repleta de descrições dos vários tipos de células-tronco, basicamente há duas espécies: Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral • Células-tronco embrionárias (células ES) são as células- tronco mais indiferenciadas, presentes na massa celular interna do blastocisto e que possuem extensa capacidade de renovação. Por isso, podem ser mantidas em cultura por mais de um ano sem sofrer diferenciação. Em condições apropriadas de cultura, as células ES podem ser induzidas a formar células especializadas dos três folhetos germinativos, incluindo neurônios, células cardíacas, hepáticas e células das ilhotas pancreáticas. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral • Células-tronco adultas, também chamadas células-tronco teciduais, são menos indiferenciadas do que as células ES e encontradas entre células diferenciadas dentro de um órgão ou de um tecido. Embora possuam capacidade de autorrenovação, como as células ES, essa propriedade é muito mais limitada. Além disso, seu potencial de linhagem (habilidade em originar células especializadas) é restrito a algumas ou todas as células diferenciadas do tecido ou órgão onde são encontradas. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Enquanto a função normal das células ES é originar todas as células do corpo, as células-tronco adultas estão envolvidas na homeostasia do tecido. Elas mantêm o tamanho do compartimento em tecidos com alta renovação, como pele, medula óssea, epitélio intestinal e naqueles de baixa renovação celular, como coração e vasos. Apesar do interesse em isolar e infundir células-tronco teciduais para recolocar células especializadas em órgãos como coração (após infarto) e cérebro (após acidente vascular encefálico), as células-tronco teciduais são raras e muito difíceis de isolar. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Além disso, elas estão presentes em microambientes especializados, dentro do órgão, chamados de nichos de células- tronco. Aparentemente, os sinais de outras células nesses nichos mantêm as células-tronco quiescentes e indiferenciadas. Os nichos têm sido identificados em muitos órgãos. No cérebro, as células-tronco neurais ocorrem na zona subventricular e no giro denteado; na pele, são encontradas no bulbo do folículo piloso, e na córnea são encontradas no limbo. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Provavelmente, as células-tronco mais extensivamente estudadas são as hematopoiéticas, encontradas na medula óssea. Apesar de raras, podem ser purificadas através de seus marcadores de superfície. As células-tronco hematopoiéticas podem ser isoladas da medula óssea, bem como do sangue periférico, após mobilização por administração de certas citocinas, como o fator estimulador de colônia de granulócito (G-CSF). Como bem conhecido, as células-tronco podem originar todas as linhagens celulares sanguíneas e reabastecer continuamente os elementos do sangue quando são consumidos na periferia. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Na prática clínica, as células-tronco da medula são usadas para o tratamento de doenças como a leucemia e os linfomas. Além das células-tronco hematopoiéticas, a medula óssea contém uma população distinta de células-tronco, conhecidas como células-tronco mesenquimais. Essas células podem originar várias células mesenquimais, como condroblastos, osteoblastos e mioblastos, e geram grande interesse pelo seu potencial terapêutico. A identificação e o isolamento de células-tronco originaram um novo campo, o da medicina regenerativa, cujo principal objetivo é o repovoamento de órgãos danificados pelo uso de progênies diferenciadas de células ES ou células tronco adultas. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Como as células ES possuem extensa capacidade de autorrenovação e originam todas as linhagens celulares, são consideradas ideais para o desenvolvimento de células especializadas para as propostas terapêuticas. Entretanto, como as células ES são derivadas de blastocistos humanos (produzidos a partir de fertilização in vitro), sua progênie exibe moléculas de histocompatibilidade (antígeno leucocitário humano [HLA]) dos doadores do óvulo e do espermatozoide e, portanto, podem suscitar rejeição imunologicamente mediada, pelo hospedeiro, como órgãos transplantados também fazem. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Muitos esforços são feitos para a produção de células com potencial de células ES, a partir de tecidos de pacientes. Para realizar esse objetivo, os genes expressos nas células ES e nas células diferenciadas têm sido comparados, e pequena quantidade de genes críticos para as células-tronco ES foi identificada. A introdução de tais genes em células totalmente diferenciadas, como fibroblastos ou células da epiderme, leva, extraordinariamente, à reprogramação do núcleo da célula somática, de tal modo que as células adquirem muitas das propriedades das células ES. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Essas células são chamadas de células-tronco pluripotenciais induzidas (células iPS). Como as células iPS podem ser derivadas de cada paciente, sua progênie diferenciada poderia enxertar com sucesso e restaurar ou substituir células lesadas ou deficientes do paciente – por exemplo, células β secretoras de insulina de um paciente com diabetes. Apesar de as células iPS apontarem como promessa considerável, seu uso clínico ainda tem de ser provado. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Fatores de Crescimento A maioria dos fatores de crescimento são proteínas que estimulam a sobrevivência e a proliferação de várias células e podem promover migração, diferenciação e outras respostas celulares.Os fatores de crescimento induzem a proliferação celular através da ligação a receptores específicos e influenciam a expressão de genes cujos produtos possuem várias funções: eles promovem a entrada das células no ciclo celular; atenuam bloqueios na progressão do ciclo celular (promovendo, assim, a replicação), impedem a apoptose e aumentam a síntese de proteínas celulares, na preparação para a mitose. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral A principal atividade dos fatores de crescimento é estimular a função dos genes de controle do crescimento, muitos dos quais são chamados de proto-oncogenes porque suas mutações levam a proliferação celular descontrolada, característica do câncer (oncogênese). Existe uma vasta (e sempre crescente) lista de fatores de crescimento conhecidos. Na discussão que se segue, em vez de uma exaustiva catalogação, focalizaremos apenas moléculas selecionadas que contribuem para o reparo tecidual. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Muitos dos fatores de crescimento envolvidos no reparo são produzidos por macrófagos e linfócitos que são recrutados no local da lesão ou são ativados no local como parte do processo inflamatório. Outros fatores são produzidos por células do parênquima ou por células do estroma (tecido conjuntivo) em resposta a lesão. Iniciaremos a discussão descrevendo os princípios gerais das ações dos fatores de crescimento. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Mecanismos de sinalização dos receptores dos fatores de crescimento A maioria dos fatores de crescimento tem como função a ligação a receptores específicos de superfície celular e o desencadeamento de sinais bioquímicos nas células. As principais vias de sinalização intracelular, induzidas pelos receptores de fatores de crescimento, são semelhantes àquelas de muitos outros receptores celulares que reconhecem os ligantes extracelulares. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Em geral, esses sinais levam a ativação ou repressão da expressão do gene. A sinalização pode ocorrer diretamente na mesma célula que produz o fator (sinalização autócrina), entre células adjacentes (sinalização parácrina) ou a grandes distâncias (sinalização endócrina). As proteínas receptoras geralmente estão localizadas na superfície celular, mas podem ser intracelulares; nesse caso, os ligantes precisam ser suficientemente hidrofóbicos para entrar na célula (por exemplo, vitamina D ou os hormônios tireoidianos e os esteroides). Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral De acordo com suas principais vias de transdução de sinal, os receptores de membrana plasmática são classificados em três tipos principais, listados na tabela a seguir. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral • Receptores com atividade intrínseca de tirosina-cinase: a ligação do ligante à porção extracelular do receptor induz a dimerização e subsequente fosforilação das subunidades do receptor. Uma vez fosforilados, os receptores podem se ligar e ativar outras proteínas intracelulares (por exemplo, RAS fosfatidil inositol 3-cinase [PI3], fosfolipase Cγ [PLCγ]) e ativar uma cascata de sinais que levam à proliferação celular ou à indução de vários programas transcricionais. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral • Receptores acoplados à proteína G: esses receptores contêm sete segmentos α-hélices transmembrana e são também conhecidos como receptores transmembrana 7. Após a ligação com o ligante, os receptores se associam com as proteínas de ligação (proteínas G) ao trifosfato de guanosina (GTP). As proteínas G contêm o difosfato de guanosina, e a ligação dos receptores promove a troca de GDP por GTP, resultando em ativação das proteínas. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Entre as várias vias de sinalização ativadas por receptores acoplados à proteína G estão as que envolvem o AMP cíclico (cAMP) e a de geração de trifosfato de inositol-1,4,5 (IP3), que libera cálcio do retículo endoplasmático. Os receptores dessa categoria constituem a maior família de receptores de membrana plasmática (mais de 1.500 membros já foram identificados). Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral • Receptores sem atividade enzimática intrínseca: são usualmente moléculas monoméricas transmembrana com um domínio extracelular de ligação ao ligante; a interação do ligante induz uma alteração da estrutura intracelular, permitindo a associação com cinases proteicas chamadas Janus cinases (JAKs). A fosforilação das JAKs ativa fatores de transcrição citoplasmáticos chamados STATs (transdutores de sinais e ativadores de transcrição) que se lançam no núcleo e induz a transcrição de genes-alvo. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Papel da matriz extracelular no reparo tecidual O reparo tecidual não depende apenas da atividade dos fatores de crescimento, mas também das interações entre as células e os componentes da MEC. A MEC é um complexo de várias proteínas que se arranjam em uma rede que circunda as células e constitui uma proporção significativa em qualquer tecido. MEC sequestra água, proporcionando turgor aos tecidos moles e minerais que dão rigidez ao osso. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Ela regula também a proliferação, o movimento e a diferenciação das células que vivem no seu interior, fornecendo um substrato para a adesão e a migração celulares, e funcionando como reservatório para os fatores de crescimento. A MEC está em constante remodelamento; sua síntese e degradação acompanham a morfogênese, a cura de feridas, a fibrose crônica, a invasão e a metástase de tumores. A MEC ocorre em duas formas básicas: matriz intersticial e membrana basal. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral • Matriz intersticial: Essa forma de MEC está presente nos espaços entre as células do tecido conjuntivo e entre as estruturas de suporte vasculares e músculo liso. Essa matriz é sintetizada por células mesenquimais (por exemplo, fibroblastos) e tende a formar um gel amorfo tridimensional. Seus principais constituintes são os colágenos fibrilares e não fibrilares, bem como fibronectina, elastina, proteoglicanos, hialuronatos e outros elementos. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral • Membrana basal: O arranjo aparentemente ao acaso de matriz intersticial nos tecidos conjuntivos torna-se altamente organizado em torno das células epiteliais, endoteliais e células musculares lisas, formando a membrana basal especializada. A membrana basal situa-se abaixo dos epitélios e é sintetizada pelo epitélio e as células mesenquimais subjacentes; ela tende a formar uma rede semelhante a uma tela de arame. Seus principais constituintes são o colágeno não fibrilar tipo IV e a laminina. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Componentes da Matriz Extracelular Existem três componentes básicos da MEC: • As proteínas fibrosas estruturais, como os colágenos e as elastinas, que conferem resistência à tensão e flexibilidade; • Géis hidratados, como os proteoglicanos e o hialuronan, que permitem elasticidade e lubrificação; • Glicoproteínas de adesão, que conectam os elementos da matriz uns aos outros e às células. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Colágeno Os colágenos são compostos de três cadeias polipeptídicas separadas trançadas em hélice tripla. Aproximadamente 30 tipos de colágeno já foram identificados, alguns dos quais únicos para células e tecidos específicos. Alguns tipos de colágeno (por exemplo, tipos I, II, III e V) formam fibrilaspor causa das ligações cruzadas das triplas hélices. Os colágenos fibrilares constituem a maior parte do tecido conjuntivo da cura de feridas e particularmente das cicatrizes. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral A resistência dos colágenos fibrilares à tensão se origina das suas ligações cruzadas, resultantes das ligações covalentes catalisadas pela enzima lisil-oxidase. Esse processo é dependente da vitamina C; portanto, indivíduos com deficiência dessa vitamina possuem deformidades esqueléticas, facilidade de sangramentos por causa do enfraquecimento da membrana basal da parede vascular e deficiência na cicatrização de feridas. Os defeitos genéticos desses colágenos causam doenças como a osteogênese imperfeita e a síndrome de Ehlers-Danlos. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Os outros colágenos são não fibrilares e formam a membrana basal (tipo IV) ou são componentes de outras estruturas, como os discos intervertebrais (tipo IX) ou componentes da junção dermoepidérmica (tipo VII). Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Elastina O tecido elástico confere habilidade ao tecido de se expandir e retrair após estresse físico, retornando à estrutura original, o que é especialmente importante na parede dos grandes vasos (que devem se acomodar com o fluxo pulsátil), assim como no útero, na pele e nos ligamentos. Morfologicamente, as fibras elásticas consistem em um eixo central de elastina circundado por uma rede periférica da glicoproteína fibrilina. Defeitos na síntese de fibrilina causam anormalidades esqueléticas e paredes aórticas enfraquecidas (como na síndrome de Marfan). Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Proteoglicanos e Hialuronan Os proteoglicanos formam géis compressíveis altamente hidratados que conferem elasticidade e lubrificação (como na cartilagem das articulaçãoes). Consistem em polissacarídeos longos, chamados de glicosaminoglicanos ou mucopolissacarídeos (os exemplos são dermatan sulfato e heparan sulfato), ligados a proteína central. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral O hialuronan (também chamado de ácido hialurônico), um grande mucopolissacarídeo sem a proteína central, é também um importante constituinte da MEC que se liga à água e forma uma matriz gelatinosa, viscosa. Além de fornecer compressibilidade aos tecidos, os proteoglicanos servem também como reservatórios para fatores de crescimento secretados na MEC (por exemplo, fator de crescimento fibroblástico [FGF] e HGF). Alguns proteoglicanos são proteínas integrais de membrana celular, tendo papéis na proliferação, migração e adesão celulares – por exemplo, por ligação aos fatores de crescimento e quimiocinas, e fornecendo concentrações locais desses mediadores. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Alguns proteoglicanos são proteínas integrais de membrana celular, tendo papéis na proliferação, migração e adesão celulares – por exemplo, por ligação aos fatores de crescimento e quimiocinas, e fornecendo concentrações locais desses mediadores. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Glicoproteínas de adesão e receptores de adesão As glicoproteínas de adesão e os receptores de adesão são moléculas estruturalmente diferentes, envolvidas na adesão célula-célula, na ligação das células com a MEC e na ligação entre os componentes da MEC. As glicoproteínas de adesão incluem a fibronectina (principal componente da MEC intersticial) e a laminina (principal componente da membrana basal); elas são descritas aqui como protótipos de um grupo total. Os receptores de adesão, também conhecidos como moléculas de adesão celular (CAMs), estão agrupados em quatro famílias – imunoglobulinas, caderinas, selectinas e integrinas. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral • A fibronectina é um grande heterodímero ligado por pontes dissulfeto (450 kDa), sintetizada por várias células, incluindo fibroblastos, monócitos e endotélio, que existe nas formas plasmática e tecidual. As fibronectinas possuem domínios específicos que se ligam a um amplo espectro de componentes da MEC (por exemplo, colágeno, fibrina, heparina, proteoglicanos), podendo também aderir a integrinas celulares através do tripeptídeo arginina-glicina-ácido aspártico (RGD). Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral A fibronectina tecidual forma agregados fibrilares nos locais de cura de feridas; a fibronectina plasmática se liga à fibrina dentro do coágulo sanguíneo que se forma na ferida, fornecendo substrato para deposição de MEC e reepitelização. • A laminina é um heterodímero em forma de cruz, de 820 kDa, que conecta as células aos componentes da MEC, como o colágeno tipo IV e o heparan sulfato. Além de mediar a adesão à membrana basal, a laminina pode também modular a proliferação, a diferenciação e a motilidade celulares. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral • As integrinas pertencem a uma família de cadeias de glicoproteínas heterodiméricas transmembrana que foram introduzidas no contexto da adesão dos leucócitos ao endotélio. Elas também constituem os principais receptores celulares para os componentes da MEC, como fibronectinas e lamininas. As integrinas estão presentes na membrana plasmática da maioria das células, com exceção dos eritrócitos. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Elas se ligam a muitos componentes da MEC através dos motivos RGD, iniciando as cascatas de sinalização que influenciam a locomoção, a proliferação e a diferenciação das células. Seus domínios intracelulares se ligam a filamentos de actina, influenciando, assim, a forma e a motilidade celulares. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral Funções da matriz extracelular A MEC faz muito mais do que preencher os espaços em torno das células. Suas várias funções incluem: • Suporte mecânico para a ancoragem da célula e migração celular, e manutenção da polaridade celular. • Controle da proliferação celular por se ligar e exibir fatores de crescimento e por sinalização através de receptores celulares da família das integrinas. O tipo de proteína da MEC pode influenciar o grau de diferenciação das células, agindo em grande parte através de integrinas de superfície celular. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral • Arcabouço para renovação tecidual. A manutenção da estrutura normal do tecido requer uma membrana basal ou um arcabouço de estroma. A integridade da membrana basal ou do estroma de células parenquimatosas é, portanto, crítica para a regeneração organizada dos tecidos. Assim, embora células lábeis e estáveis sejam capazes de regeneração, o rompimento dessas matrizes resulta em falha na regeneração, e o reparo é feito por cicatriz Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral • Estabelecimento de microambientes teciduais. A membrana basal funciona como limite entre o epitélio e o tecido conjuntivo subjacente e forma também parte do aparelho de filtração no rim. Regeneração Celular e Tecidual Introdução à Patologia Geral A importância da regeneração na substituição de tecidos lesados varia nos diferentes tipos de tecidos e com a gravidade da lesão. • Em tecidos lábeis, como o epitélio do trato gastrointestinal e da pele, as células lesadas são rapidamente substituídas por proliferação das células residuais e diferenciação das células- tronco do tecido fornecida pela membrana basal intacta. Os fatores de crescimento envolvidos nesses processos não estão definidos. Regeneração no Reparo Tecidual Introdução à Patologia Geral A perda de células sanguíneas é corrigida pela proliferação de progenitores hematopoiéticos presentes na medula óssea e em outros tecidos, orientada pelas CSFs, que são produzidas em resposta à redução do número decélulas sanguíneas. • A regeneração tecidual pode ocorrer em parênquimas de órgãos com populações celulares estáveis, mas, com exceção do fígado, normalmente é um processo limitado. O pâncreas, a adrenal, a tireoide e os pulmões possuem alguma capacidade regenerativa. Regeneração no Reparo Tecidual Introdução à Patologia Geral A remoção cirúrgica de um rim induz uma resposta compensatória do rim contralateral que consiste em hipertrofia e hiperplasia das células dos ductos proximais. Os mecanismos que geram essa resposta não estão compreendidos. • A resposta regenerativa do fígado que ocorre após remoção cirúrgica de tecido hepático é única e notável entre todos os órgãos. Cerca de 40-60% do fígado pode ser removido em um procedimento chamado transplante de doador vivo, no qual uma porção do fígado é retirada de uma pessoa saudável e transplantada para um paciente receptor com doença hepática em fase terminal ou após hepatcomia parcial realizada para remoção de tumor. Regeneração no Reparo Tecidual Introdução à Patologia Geral Regeneração no Reparo Tecidual Introdução à Patologia Geral Em ambas as situações, a remoção do tecido desencadeia uma resposta proliferativa dos hepatócitos restantes (normalmente quiescentes) e uma subsequente replicação de células hepáticas não parenquimatosas. Em sistemas experimentais, a replicação dos hepatócitos após hepatectomia parcial é iniciada por citocinas (por exemplo, TNF, IL-6) que preparam as células para a replicação estimulando a transição no ciclo celular de G0 para G1. Regeneração no Reparo Tecidual Introdução à Patologia Geral A progressão através do ciclo celular é dependente da atividade de fatores de crescimento, como o HGF (produzido por fibroblastos, células endoteliais e células hepáticas não parenquimatosas) e fatores da família EGF, que incluem o fator de crescimento transformador a (TGF-α), produzido por muitos tipos celulares. Um ponto digno de ênfase é que extensa regeneração ou hiperplasia compensatória pode ocorrer apenas se a trama de tecido conjuntivo residual estiver estruturalmente intacta. Regeneração no Reparo Tecidual Introdução à Patologia Geral Ao contrário, se todo o tecido é lesado por infecção ou inflamação, a regeneração é incompleta e feita por cicatrização. Por exemplo, a destruição extensa do fígado com colapso da trama de reticulina, como ocorre no abscesso hepático, leva à formação de cicatriz, mesmo que as células hepáticas possuam capacidade de se regenerar. Regeneração no Reparo Tecidual Introdução à Patologia Geral Como discutido inicialmente, se a lesão do tecido é grave ou crônica e resulta em dano às células do parênquima e do tecido conjuntivo ou se células que não se dividem forem lesadas, o reparo não pode ser feito apenas por regeneração. Nessas condições, ocorre o reparo por substituição das células não regeneradas por tecido conjuntivo, levando à formação de uma cicatriz ou por combinação de regeneração de algumas células e formação de cicatriz. Formação da Cicatriz Introdução à Patologia Geral Etapas na formação de cicatriz O reparto por deposição de tecido conjuntivo consiste em um processo sequencial que segue a resposta inflamatória: • Formação de novos vasos (angiogênese) • Migração e proliferação de fibroblastos e deposição de tecido conjuntivo que, junto com a abundância de vasos e leucócitos dispersos, tem aparência granular e rósea, sendo chamado de tecido de granulação • Maturação e reorganização do tecido fibroso (remodelamento pra produzir uma cicatriz fibrosa estável Formação da Cicatriz Introdução à Patologia Geral Formação da Cicatriz Introdução à Patologia Geral O reparo se inicia dentro de 24 horas da lesão por migração dos fibroblastos e indução de proliferação dos fibroblastos e células endoteliais. Em 3-5 dias, uma característica do processo de cura é o surgimento do tecido de granulação. O nome tecido de granulação deriva da sua aparência macroscópica, na superfície das feridas. Sua aparência histológica é caracterizada pela proliferação de fibroblastos e por novos e delicados capilares de paredes finas (angiogênese) em MEC frouxa, frequentemente com células inflamatórias, principalmente macrófagos. Formação da Cicatriz Introdução à Patologia Geral Progressivamente, o tecido de granulação acumula mais fibroblastos que depositam colágeno, resultando, finalmente, na formação de cicatriz. Com o tempo, as cicatrizes se remodelam. Descreveremos a seguir cada uma das etapas desse processo. Formação da Cicatriz Introdução à Patologia Geral Formação da Cicatriz Introdução à Patologia Geral Angiogênese A angiogênese é o processo de desenvolvimento de novos vasos a partir de vasos preexistentes, primariamente vênulas. A angiogênese é essencial para a cura nos locais de lesão, para o desenvolvimento de circulações colaterais em locais de isquemia e para permitir o aumento de tumores e sua disseminação. Muitos esforços têm sido feitos para se compreender os mecanismos da angiogênese e terapias que aumentem o processo (por exemplo, aumentando o fluxo sanguíneo para um coração danificado por aterosclerose coronária) ou que o inibam (por exemplo, frustrando o crescimento de um tumor ou bloqueando o crescimento patológico de um vaso, como na retinopatia diabética). Formação da Cicatriz Introdução à Patologia Geral A angiogênese envolve o brotamento de novos vasos a partir de vasos preexistentes e consiste nas seguintes etapas: • Vasodilatação em resposta ao NO e aumento da permeabilidade induzida pelo VEGF; • Separação dos pericitos da superfície abluminal; • Migração de células endoteliais em direção à área da lesão; • Proliferação de células endoteliais logo atrás da frente principal de células migratórias; • Remodelação em tubos capilares; Formação da Cicatriz Introdução à Patologia Geral • Recrutamento de células periendoteliais (pericitos em pequenos capilares e células musculares lisas para vasos maiores) para formar o vaso maduro. • Supressão da proliferação e migração endotelial e deposição de membrana basal. O processo de angiogênese envolve uma série de fatores de crescimento, de interações célula-célula, interações com as proteínas da MEC e enzimas teciduais. Formação da Cicatriz Introdução à Patologia Geral Formação da Cicatriz Introdução à Patologia Geral • Fatores de crescimento envolvidos na angiogênese Vários fatores de crescimento contribuem para a angiogênese; os mais importantes são o VEGF e o fator de crescimento fibroblástico básico (FGF-2). – A família de fatores de crescimento VEGF inclui VEGF-A, B, C, D e E e o fator de crescimento placentário (PIGF). O VEGF-A é geralmente mencionado como VEGF e é o principal indutor de angiogênese após lesão e em tumores; o VEGF-B e o PIGF estão envolvidos no desenvolvimento vascular do embrião; VEGF-C e D estimulam a linfangiogênese e a angiogênese. Formação da Cicatriz Introdução à Patologia Geral Os VEGFs são expressos na maioria dos tecidos adultos, com expressão máxima nas células epiteliais adjacentes ao epitélio fenestrado (por exemplo, podócitos no rim, epitélio pigmentar da retina). Eles se ligam a uma família de receptores tirosina- cinase (VEGFR-1, 2 e 3). Para a angiogênese, o receptor mais importante é o VEGFR-2, expresso por células-alvo do VEGF, especialmente as células endoteliais. A hipóxia é o indutor mais importante de VEGF; outros indutores são o fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF), o TGF-α e o TGF-β. Formação da Cicatriz Introdução à Patologia Geral O VEGF estimula a migração e a proliferação das células endoteliais, iniciando assim o processo de brotamento dos capilares durante a angiogênese. Ele promove vasodilatação por estimulação da produção de NO e contribui para a formação do lúmen vascular. Os anticorpos contra VEGF são aprovados no tratamento de alguns tumores que dependem da angiogênese para sua disseminaçãoe crescimento. Esses anticorpos também são usados no tratamento da degeneração macular “úmida” (neovascular), a principal causa de dificuldade visual em adultos acima de 50 anos de idade, e nos ensaios clínicos para o tratamento da angiogênese associada a retinopatia da prematuridade e vasos permeáveis que levam ao edema macular diabético. Formação da Cicatriz Introdução à Patologia Geral – A família dos fatores de crescimento FGF possui mais de 20 membros; os mais caracterizados são o FGF-1 (FGF ácido) e o FGF-2 (básico). Esses fatores são produzidos por muitos tipos celulares e se ligam a uma família de receptores de membrana plasmática com atividade tirosina-cinase. O FGF liberado pode se ligar ao heparan sulfato e ser armazenado na MEC. O FGF-2 participa da angiogênese estimulando, principalmente, a proliferação de células endoteliais. Ele também promove a migração de macrófagos e fibroblastos para a área lesada e estimula a migração de células epiteliais para recobrir feridas cutâneas. Formação da Cicatriz Introdução à Patologia Geral – As angiopoietinas Ang 1 e Ang 2 são fatores de crescimento que exercem um papel na angiogênese e na maturação estrutural dos novos vasos. Os vasos recém-formados precisam ser estabilizados pelo recrutamento de pericitos e células musculares lisas e pela deposição de tecido conjuntivo. A Ang1 interage com o receptor tirosina-cinase nas células endoteliais, chamado Tie2. Os fatores de crescimento PDGF e TGF-b também participam do processo de estabilização – o PDGF recruta células musculares lisas e o TGF-b reprime a proliferação e a migração endotelial e aumenta a produção de proteínas da MEC. Formação da Cicatriz Introdução à Patologia Geral Durante o desenvolvimento embrionário, o crescimento de vasos sanguíneos é chamado de vasculogênese. Nesse processo, os vasos são formados pela fusão de precursores endoteliais chamados angioblastos. Os angioblastos são originados dos hemangioblastos, os quais também fornecem os precursores do sistema hematopoiético. Além disso, existem progenitores endoteliais no adulto que são derivados de células-tronco da medula óssea e que circulam. A contribuição dessas células para a angiogênese nos adultos não está definitivamente estabelecida. Formação da Cicatriz Introdução à Patologia Geral As proteínas da MEC participam do processo de brotamento dos vasos na angiogênese, em grande parte através de interações com os receptores de integrina nas células endoteliais e por promoverem o arcabouço para o crescimento vascular. As enzimas da MEC, particularmente as metaloproteinases de matriz (MMPs) degradam a matriz para permitir o remodelamento e a extensão dos tubos vasculares. Os vasos recém-formados são permeáveis porque as junções entre as células endoteliais são incompletas e porque o VEGF aumenta a permeabilidade vascular. Formação da Cicatriz Introdução à Patologia Geral Essa permeabilidade explica por que o tecido de granulação é frequentemente edematoso e responde, em parte, pelo edema que pode persistir na cura de feridas muito tempo depois que a resposta inflamatória foi resolvida. Além disso, ela leva a uma alta pressão intratumoral e é a base para o edema que é tão problemático na angiogênese ocular nos processos patológicos, como a degeneração macular úmida. Formação da Cicatriz Introdução à Patologia Geral Ativação de fibroblastos e deposição de tecido conjuntivo Na cicatriz, a deposição de tecido conjuntivo ocorre em duas etapas: 1. migração e proliferação de fibroblastos para o local da lesão; 2. deposição de proteínas da MEC produzidas por essas células. O recrutamento e a ativação de fibroblastos para sintetizar proteínas do tecido conjuntivo são orientados por muitos fatores de crescimento, incluindo PDGF, FGF-2 (descritos anteriormente) e TGF-β. Formação da Cicatriz Introdução à Patologia Geral As células inflamatórias constituem a principal fonte desses fatores, particularmente os macrófagos, presentes no local da lesão e no tecido de granulação. Os sítios de inflamação são também ricos em mastócitos e, em um meio quimiotático apropriado, os linfócitos também podem estar presentes. Cada um desses tipos celulares pode secretar citocinas e fatores de crescimento que contribuem para a proliferação e a ativação dos fibroblastos. Com a progressão da cura, o número de fibroblastos e de novos vasos em proliferação diminui; entretanto, progressivamente, os fibroblastos assumem um fenótipo mais sintetizador, aumentando a deposição de MEC. Formação da Cicatriz Introdução à Patologia Geral A síntese do colágeno, em particular, é essencial para o desenvolvimento da resistência no local da cura da ferida. Como já descrito, a síntese de colágeno, pelos fibroblastos, inicia-se logo nas feridas (3-5 dias) e se continua por várias semanas, dependendo do tamanho da ferida. No entanto, o acúmulo final de colágeno depende não apenas de aumento de síntese, mas também da diminuição da degradação do colágeno (discutida adiante). Basicamente, o tecido de granulação evolui para uma cicatriz composta de fibroblastos fusiformes e inativos, colágeno denso, fragmentos de fibras elásticas e outros componentes da MEC. Formação da Cicatriz Introdução à Patologia Geral Com a maturação da cicatriz, ocorre uma regressão vascular progressiva que, finalmente, transforma o tecido de granulação, altamente vascularizado, em uma cicatriz amplamente avascular e pálida. Formação da Cicatriz Introdução à Patologia Geral • Fatores de crescimento envolvidos na deposição de MEC e na formação de cicatriz Muitos fatores de crescimento estão envolvidos nesses processos, incluindo TGF-b, PDGF e FGF. Como o FGF também está envolvido na angiogênese, ele foi descrito inicialmente. Aqui, descreveremos brevemente as principais propriedades de TGF-β e PDGF. Formação da Cicatriz Introdução à Patologia Geral – fator de crescimento transformador β (TGF- β) pertence a uma família de peptídeos homólogos (TGF- β1, β2 e β3) que inclui outras citocinas, como as proteínas morfogenéticas do osso. A isoforma TGF- β1 é amplamente distribuída e usualmente é referida como TGF- β. O fator ativo se liga a dois receptores de superfície celular com atividade serina-treonina-cinase, desencadeando a fosforilação dos fatores de transcrição chamados Smads. Dependendo do tipo celular e do estado metabólico do tecido, o TGF-β possui muitos efeitos frequentemente opostos. No contexto da inflamação e reparo, o TGF-β tem duas funções principais: Formação da Cicatriz Introdução à Patologia Geral • O TGF-β estimula a produção de colágeno, fibronectina e proteoglicanos, e inibe a degradação do colágeno através da diminuição da atividade da proteinase e aumento da atividade dos inibidores de proteinases teciduais, conhecidos como TIMPs (discutidos adiante). O TGF-β está envolvido não apenas na formação de cicatriz após lesão, mas também no desenvolvimento de fibrose no pulmão, fígado e rins que sucede a inflamação crônica. • O TGF-β é uma citocina anti-inflamatória que funciona para limitar e terminar as respostas inflamatórias. Essas ações são realizadas através da inibição de proliferação dos linfócitos e da atividade de outros leucócitos. Os camundongos com deficiência de TGF-β exibem inflamação disseminada e abundante proliferação de linfócitos. Formação da Cicatriz Introdução à Patologia Geral – O fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF) pertence a uma família de proteínas intimamente relacionadas, cada uma consistindo em duas cadeias, designadas A e B. Existem cinco principais isoformas de PDGF, das quais a isoforma BB é o protótipo; frequentemente ela é referida simplesmente como PDGF. Os PDGFs se ligam a receptores chamados PDGFRa e PDGFRb. O PDGF é armazenado nas plaquetas e liberado na ativação das plaquetas; é produzido também por células endoteliais, macrófagos ativados, células musculares lisas e muitascélulas tumorais. O PDGF promove a migração e a proliferação de fibroblastos e células musculares lisas, podendo contribuir para a migração de macrófagos. Formação da Cicatriz Introdução à Patologia Geral – As citocinas (discutidas anteriormente como mediadores da inflamação, também podem funcionar como fatores de crescimento e participar na deposição de MEC e formação de cicatriz. Por exemplo, IL-1 e IL-13 agem nos fibroblastos estimulando a síntese de colágeno, podendo também aumentar a proliferação e a migração dos fibroblastos. Formação da Cicatriz Introdução à Patologia Geral Remodelamento do tecido conjuntivo Após sua síntese e deposição, o tecido conjuntivo da cicatriz continua sendo modificado e remodelado. Dessa maneira, o resultado do processo de reparo é o equilíbrio entre síntese e degradação das proteínas da MEC. discutimos as células e os fatores que regulam a síntese da MEC. A degradação dos colágenos e de outros componentes da matriz é realizada por uma família de metaloproteinases (MMPs), que são dependentes de zinco para a sua atividade. Formação da Cicatriz Introdução à Patologia Geral As MMPs devem ser distinguidas da elastase dos neutrófilos, da catepsina G, da plasmina e de outras enzimas que também degradam a MEC e que são serina-proteases e não metaloenzimas. As MMPs incluem as colagenases intersticiais (MMP-1, 2 e 3), que clivam os colágenos fibrilares; as gelatinases (MMP-2 e 9), que degradam o colágeno amorfo e a fibronectina; as estromelisinas (MMP-3, 10 e 11), que degradam uma variedade de componentes da MEC, incluindo proteoglicanos, laminina, fibronectina e colágenos amorfos. Formação da Cicatriz Introdução à Patologia Geral As MMPs são produzidas por vários tipos celulares (fibroblastos, macrófagos, neutrófilos, células sinoviais e algumas células epiteliais), e sua síntese e secreção são reguladas por fatores de crescimento, citocinas e outros agentes. A atividade das MMPs é estreitamente controlada. Elas são produzidas como precursores inativos (zimogênios) que precisam ser ativados, e essa ativação é realizada por proteases (por exemplo, plasmina) presentes apenas no local de lesão. Formação da Cicatriz Introdução à Patologia Geral Além disso, as MMPs ativadas podem ser rapidamente inibidas pelos inibidores de metaloproteinases (TIMPs), produzidos pela maioria das células mesenquimais. Assim, durante a cicatrização, as MMPs são ativadas para remodelar a MEC depositada e sua atividade é inibida pelos TIMPs. Formação da Cicatriz Introdução à Patologia Geral O reparo tecidual pode ser alterado por uma série de influências que frequentemente reduzem a qualidade ou a adequação do processo reparador. Os fatores que modificam a cura podem ser extrínsecos (como na infecção) ou intrínsecos ao tecido lesado. Particularmente importantes são as infecções e o diabetes. • A infecção é clinicamente a causa mais importante do retardo da cura; ela prolonga a inflamação e aumenta a lesão local. • A nutrição exerce profundos efeitos no reparo; por exemplo, a deficiência de proteína, e especialmente a deficiência de vitamina C, inibe a síntese de colágeno e retarda a cicatrização. Fatores que Influenciam o Reparo Tecidual Introdução à Patologia Geral • Os glicocorticoides (esteroides) possuem efeitos anti- inflamatórios bem documentados; sua administração pode resultar em cicatrização deficiente porque inibem a produção de TGF-b e diminuem a fibrose. Entretanto, algumas vezes, os efeitos anti-inflamatórios dos glicocorticoides são desejáveis. Por exemplo, em infecções da córnea, algumas vezes os glicocorticoides são prescritos (junto com antibióticos) para reduzir a probabilidade de opacidade que pode resultar da deposição de colágeno. Fatores que Influenciam o Reparo Tecidual Introdução à Patologia Geral • Fatores mecânicos, como aumento da pressão ou torção local, podem causar separação ou deiscência da ferida. • Perfusão deficiente, devido a aterosclerose e diabetes ou obstrução de drenagem venosa (p. ex., em veias varicosas), também impede a cura. • Corpos estranhos, como fragmentos de aço, vidro ou mesmo osso, impedem a cura. Fatores que Influenciam o Reparo Tecidual Introdução à Patologia Geral • O tipo e a extensão da lesão influenciam o reparo. A restauração completa pode ocorrer apenas em tecidos compostos por células lábeis e estáveis; a lesão a tecidos compostos por células permanentes inevitavelmente resulta em cicatriz, como no infarto do miocárdio. Fatores que Influenciam o Reparo Tecidual Introdução à Patologia Geral • A localização da lesão e a natureza do tecido onde ocorre a lesão também são importantes. Por exemplo, a inflamação que surge nos espaços teciduais (por exemplo, nas cavidades pleural, peritoneal e sinovial) desenvolve extensos exsudatos. O reparo subsequente ocorre por digestão do exsudato, iniciado por enzimas proteolíticas dos leucócitos e reabsorção do exsudato liquefeito. Isso é chamado de resolução e, geralmente, na ausência de necrose, a arquitetura normal do tecido é restaurada. Contudo, em grandes acumulações, o exsudato sofre organização: o tecido de granulação cresce dentro do exsudato e uma cicatriz fibrosa é formada. Fatores que Influenciam o Reparo Tecidual Introdução à Patologia Geral • As aberrações do crescimento celular e da produção de MEC podem ocorrer mesmo nos processos de cura de feridas que se iniciam de modo normal. Por exemplo, o acúmulo de quantidade excessiva de colágeno pode gerar uma cicatriz proeminente e elevada conhecida como queloide. A formação queloide parecer ser uma predisposição hereditária, sendo mais comum em afro-americanos. A cura de feridas pode gerar também quantidade excessiva de tecido de granulação que se projeta acima do nível da pele circundante e impede a reepitelização. Fatores que Influenciam o Reparo Tecidual Introdução à Patologia Geral Esse tecido é chamado de “carne esponjosa” no velho linguajar médico, e a restauração da continuidade do epitélio requer cauterização ou excisão cirúrgica do tecido de granulação. Fatores que Influenciam o Reparo Tecidual Introdução à Patologia Geral Kumar, V. Abbas, A., Aster C. Robbins & Cotran Patologia – Bases Patológicas das Doenças. Tradução da 9° Edição. Elsevier Editora Ltda. Rio de Janeiro. 2016. Junqueira, Carneiro. Biologia Celular e Molecular. 9° Edição. Guanabara Koogan. Rio de Janeiro. McPhee, Stephen J. Fisiopatologia da doença: uma introdução à Medicina Clínica / Stephen J. McPhee, William F. Ganong. – 5. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre: AMGH, 2011. Patologia Geral. FOP/UNICAMP. Áreas de semiologia e patologia. Disponível em: https://w2.fop.unicamp.br/ddo/patologia/downloads/db301_un1_Les-Morte- Cel.pdf Referências https://w2.fop.unicamp.br/ddo/patologia/downloads/db301_un1_Les-Morte-Cel.pdf FIM DA APRESENTAÇÃO
Compartilhar