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Livro-Texto Unidade I - Cultura de Língua Inglesa

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Prévia do material em texto

Autor: Prof. Leandro Dias Carneiro Rodrigues
Colaboradores: Profa. Cielo Festino
Profa. Joana Ormundo
Profa. Tania Sandroni
Culturas de Língua Inglesa
Professor conteudista: Leandro Dias Carneiro Rodrigues
Leandro Dias Carneiro Rodrigues é professor de língua inglesa desde 1996. Trabalhou em alguns cursos de 
línguas estrangeiras em Brasília. Licenciou-se em Letras em 2003, pela Universidade de Brasília, obtendo na mesma 
universidade o título de especialista em Letras: Leitura, Análise e Produção de Textos, assim como o de mestre em 
Linguística Aplicada. O professor elaborou material de língua inglesa para crianças no programa Pelic (Programa de 
Ensino de Língua Inglesa para Crianças), na cidade de Luziânia, Goiás, do qual mais de quatorze mil crianças do 
município fazem parte. Atualmente, é professor adjunto do curso de Letras da Universidade Paulista e tem ministrado 
disciplinas de língua inglesa e das literaturas norte-americana e britânica.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
R696c Rodrigues, Leandro Dias Carneiro 
Culturas de língua inglesa / Leandro Dias Carneiro Rodrigues. – 
São Paulo: Editora Sol, 2013.
124 p. il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XIX, n. 2-007/14, ISSN 1517-9230.
1. Língua Inglesa. 2. Cultura. 3. História. I.Título
CDU 81
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dr. Cid Santos Gesteira (UFBA)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Lucas Ricardi Aiosa
 Virgínia Bilatto
Sumário
Culturas de Língua Inglesa
APRESENTAçãO ......................................................................................................................................................7
INTRODUçãO ...........................................................................................................................................................7
Unidade I
1 VOZES DO CENTRO: GRã-BRETANHA ..................................................................................................... 26
1.1 O Reino Unido ....................................................................................................................................... 26
1.2 Aspectos históricos .............................................................................................................................. 27
1.2.1 Nasce a Grã-Bretanha .......................................................................................................................... 37
1.2.2 O século XIX – O Império Britânico e a Rainha Vitória ........................................................... 40
1.2.3 O século XX .............................................................................................................................................. 41
1.3 Os celtas ................................................................................................................................................... 42
1.4 Aspectos culturais gerais – midiáticos e estereotipias .......................................................... 43
2 A ESCóCIA .......................................................................................................................................................... 47
2.1 Antecedentes históricos .................................................................................................................... 48
2.2 Mitologia .................................................................................................................................................. 49
2.3 A questão das tradições ..................................................................................................................... 50
3 VOZES DO CENTRO: ESTADOS UNIDOS .................................................................................................. 53
3.1 Antecedentes históricos .................................................................................................................... 53
4 OS ESTADOS UNIDOS NO CONTEXTO ATUAL ........................................................................................ 58
4.1 Aspectos culturais ................................................................................................................................ 60
4.2 Os indígenas norte-americanos ..................................................................................................... 64
4.3 Os negros americanos (african american) .................................................................................. 65
4.4 Aspectos culturais dos african american .................................................................................... 68
Unidade II
5 CANADÁ .............................................................................................................................................................. 73
5.1 Antecedentes históricos .................................................................................................................... 73
5.2 Questões culturais ................................................................................................................................ 75
5.2.1 O hóquei no gelo .................................................................................................................................... 76
6 AUSTRÁLIA ......................................................................................................................................................... 76
6.1 Antecedentes históricos .................................................................................................................... 77
6.2 Aspectos culturais ................................................................................................................................ 77
Unidade III
7 AS CULTURAS DIASPóRICAS (ÍNDIA, NIGéRIA E CARIBE – JAMAICA)....................................... 87
7.1 O pós-colonial ....................................................................................................................................... 87
8 AS NAçõES DIASPóRICAS ........................................................................................................................... 89
8.1 Índia ........................................................................................................................................................... 89
8.1.1 Antecedentes históricos ....................................................................................................................... 90
8.1.2 Aspectos culturais ................................................................................................................................... 93
8.2 Nigéria ......................................................................................................................................................97
8.2.1 Antecedentes históricos ....................................................................................................................... 98
8.2.2 Aspectos culturais ................................................................................................................................... 99
8.3 O Caribe (Jamaica) .............................................................................................................................101
8.3.1 Antecedentes históricos .....................................................................................................................102
8.3.2 Aspectos culturais ...............................................................................................................................103
8.3.3 Skinheads – as identidades em encontro ...................................................................................106
8.3.4 O reggae ...................................................................................................................................................106
7
APResentAção
Caro aluno,
seja bem-vindo à disciplina Culturas de Língua Inglesa!
Neste curso você fará uma pequena viagem panorâmica a alguns países em que a língua inglesa 
contribuiu, de certa forma, à formação identitária e cultural. Do ponto de vista cultural, o que nações 
como a Jamaica, os Estados Unidos, o Canadá, a Índia, a Inglaterra e a Nigéria têm em comum? A 
língua inglesa. Todavia, será que todas elas possuem características comuns devido à língua inglesa ou 
será que são parcialmente diferentes, mesmo compartilhando a mesma língua? O que se define como 
inglês, jamaicano, indiano ou nigeriano? Não há uma resposta precisa às questões estabelecidas. Discutir 
questões como identidade cultural de países cuja língua inglesa contribuiu para a sua história é o 
propósito deste curso, e o que se propõe é estabelecer discussões para isso em um contexto de formação 
para a docência em língua e cultura de língua inglesa.
Bons estudos.
IntRoDução
Em geral, é comum termos algum conhecimento acerca do conceito de cultura. De fato, há diversos 
tipos de cultura, em diversas áreas do conhecimento. Você, caro aluno, já deve ter ouvido frases como 
“ele não tem cultura”, “a cultura celta é muito interessante” ou “a cultura do milho está mais difícil”. 
Cultura é um termo que faz parte de várias áreas do conhecimento, podendo ser atribuído às ciências 
agrárias, sociais e até biológicas. No nosso curso, entretanto, contemplaremos as noções de cultura no 
que diz respeito, em geral, ao estilo de vida, bem como tradições, formas de organização, representação 
e identidade de um determinado povo.
O fenômeno cultura tem sido estudado em diversos ramos do conhecimento, sob inúmeros enfoques 
e concepções. Cultura é um termo que tem várias acepções e entendimentos, desde as ciências humanas 
até as ciências agrárias. Por essa razão, sugeri utilizar os parênteses para denotar a complexidade e 
possibilidades do conceito de cultura. Mediante esta rica variedade de visões acerca da cultura, serão 
apresentadas acepções provindas das ciências humanas que coadjuvam no processo de se compreender 
as ações sociais, simbólicas, representativas e ideológicas do ser humano, as quais constituem direta ou 
indiretamente a linguagem. Por essa razão, também se atribui o termo cultura no plural.
Portanto, pretendemos entender alguns conceitos de cultura, partindo-se de uma perspectiva das 
ciências humanas para, em seguida, chegar ao enfoque dos estudos culturais. 
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Culturas de língua Inglesa
Unidade I
A gênese do conceito de cultura
Desde o desenvolvimento da complexidade da linguagem humana, das categorizações e atribuições 
de conceitos, se entende que essa essência – até onde se sabe, eminentemente humana – a cultura, 
ainda não claramente categorizada e didaticamente investigada, se fez presente. 
Originalmente, o termo cultura derivou do latim colere, que significa “cultivar”. Segundo Santos 
(2004, p. 27), “pensadores romanos antigos ampliaram esse significado e a usaram para se referir ao 
refinamento pessoal, e isso está presente na cultura da alma”. Esse tipo de concepção pode ser entendido 
nos dias de hoje, em que pessoas de determinada classe social julgam como refinados os comportamentos 
oriundos de uma classe economicamente mais abastada, em detrimento das camadas populares, menos 
privilegiadas e, portanto, muitas vezes consideradas culturas menos refinadas.
Em primeira instância, o termo cultura foi apresentado por Tylor em sua obra Primitive Culture 
(1817), e sua acepção pode ser considerada o primeiro passo dos estudos antropológicos dessa natureza 
humana. Para ele, cultura “é todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes 
ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade” 
(TYLOR apud LARAIA, 2001, p. 25). é interessante notar que esse conceito abrange o homem como um 
ser social, constituído e construído em conjunto. O homem como indivíduo não era constituído somente 
por si, mas pela pluralidade dos seres que vivem em uma determinada região e adotam e categorizam 
costumes. 
Tal definição foi elaborada com base nos pensadores iluministas; embora nesse período já se 
conhecesse o fenômeno denominado cultura, não se tinha uma definição clara sobre ela. Muitos 
estudiosos investigavam a relação entre as atribuições humanas e suas condições físicas, o que se poderia 
entender o fazer do homem atribuído à sua origem genética ou hereditária. Nesse âmbito, John Locke 
(1632-1704) refutou a ideia de verdades inatas impressas hereditariamente e geneticamente concebidas, 
e ensaiou os primeiros passos do relativismo cultural. Como afirma Campos (s. d.), “John Locke, em 1690, 
afirmou que a mente humana era uma caixa vazia no nascimento, dotada de capacidade ilimitada 
de obter conhecimento, por meio do que atualmente chamamos de endoculturação – movimento de 
fora para dentro, de absorção”. Nesse sentido, Tylor desenvolve a concepção primitiva – entende-se: de 
primeira ordem – de Locke, de que o homem necessita do contato com outros homens para se constituir, 
formando, assim, a diversidade, o indivíduo. Nas palavras do próprio Tylor: “a diversidade é explicada 
como o resultado da desigualdade de estágios no processo de evolução” (LARAIA, 2001, p. 33).
No século XVIII, a ideia de cultura estava presente, embora o termo cultura, no início do século, 
ainda não tivesse sido desenvolvido. Jacques Turgot (1727-1781) contribuiu com o seu pensamento 
de que o cerne da composição de uma sociedade é a passagem de valores de geração em geração, o 
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que constituía e preservava, portanto, a cultura de um povo. Ele afirma que “[...] o homem é capaz de 
assegurar a retenção de suas ideias eruditas, comunicá-las para outros homens e transmiti-las para 
os seus descendentes como uma herança crescente” (TURGOT apud LARAIA, 2001, p. 27). Entende-se, 
portanto, “ideias eruditas” como um modo de vida relevante a uma sociedade e que há a necessidade de 
transmiti-las às gerações que se sucederiam. 
Tal concepção nos parece tão presente nos dias de hoje, não é mesmo? Basta nos lembrarmos de 
concepções preconceituosas que consistem na ideia de que alguns povos teriam uma cultura mais ou 
menos desenvolvida que outros.
Continuando a nossa trajetória histórica do conceito de cultura, no final do século XVIII, o termo 
kultur, em alemão, e com a tradução dúbia para o francês como civilization (civilização, em português), 
designava todos os aspectos espirituais de uma comunidade. Em razão da semelhança de conceitos,civilization destina-se às realizações materiais de um povo e reconhecidas em gerações posteriores 
– ideia concebida até os dias de hoje como “cultura”. Portanto, tal questão terminológica implica 
um estudo aprofundado, pois os termos cultura e civilização estão presentes em várias línguas e 
apresentam problemas de circularidade semântica. Veja, por exemplo, o que se constata brevemente na 
língua portuguesa, conforme exemplos retirados do dicionário eletrônico Aurélio Século XXI (FERREIRA, 
1999):
Civilização: [De civilizar + -ção; fr. civilisation.]:1. Ato, processo ou efeito 
de civilizar(-se). 2. Estado ou condição do que se civilizou. 3. O conjunto 
de características próprias à vida social coletiva; cultura. 4. Processo pelo 
qual os elementos culturais concretos ou abstratos de uma sociedade 
(conhecimentos, técnicas, bens e realizações materiais, valores, 
costumes, gostos etc.) são coletiva e/ou individualmente elaborados, 
desenvolvidos e aprimorados. 5. P. ext. O estado de aprimoramento ou 
desenvolvimento social e cultural assim atingido. 6. P. ext. Tipo de sociedade 
resultante de tal processo, ou o conjunto de suas realizações; 
em especial, aquele marcado por certo grau de desenvolvimento 
tecnológico, econômico e intelectual, considerado ger. segundo o 
modelo das sociedades ocidentais modernas, caracterizadas por 
diferenciação social, divisão do trabalho, urbanização e concentração 
de poder político e econômico. 
Cultura: 5. O conjunto de características humanas que não são inatas, 
e que se criam e se preservam ou aprimoram através da comunicação 
e cooperação entre indivíduos em sociedade. [Nas ciências humanas, 
opõe-se por vezes à ideia de natureza, ou de constituição biológica, e 
está associada a uma capacidade de simbolização considerada própria da 
vida coletiva e que é a base das interações sociais.] 11. Antrop. O conjunto 
complexo dos códigos e padrões que regulam a ação humana individual e 
coletiva, tal como se desenvolvem em uma sociedade ou grupo específico, 
e que se manifestam em praticamente todos os aspectos da vida: modos 
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de sobrevivência, normas de comportamento, crenças, instituições, 
valores espirituais, criações materiais etc. [Como conceito das ciências 
humanas, esp. da antropologia, cultura pode ser tomada abstratamente, 
como manifestação de um atributo geral da humanidade (cf. acepç. 5), ou, 
mais concretamente, como patrimônio próprio e distintivo de um grupo ou 
sociedade específica (cf. acepç. 6).] etc.1 (grifo nosso).
Embora examinar o tratamento terminológico de cultura e civilização não seja o foco do nosso 
texto, é importante verificar as semelhanças de conceitos por meio das palavras destacadas. Em 
civilização, pode-se perceber que a cultura está constituída no seu conceito: conhecimentos técnicos, 
valores, gostos etc. Há no conceito de cultura algumas palavras que também poderiam ser entendidas 
como civilização: crenças, instituições, criações materiais, normas de comportamento etc. Portanto, 
devido a essa imprecisão de definições, muitas vezes pode-se entender cultura no senso comum como 
civilização e vice-versa; entretanto, embora ambas tenham características semelhantes, os termos não 
são sinônimos. 
 observação
é óbvio, caros alunos, que essa discussão não acaba por aqui. Entretanto, 
não nos estenderemos aqui nessa questão.
No decorrer do século XIX, a concepção de cultura tornou-se eminentemente laica, geral. Essa visão 
teve como preocupação o entendimento da origem e transformação da sociedade e das espécies vivas. O 
evolucionismo era a principal característica e o paradigma desse tipo de concepção, e os fenômenos do 
comportamento humano eram explicados sob essa perspectiva. A razão de um determinado costume de 
um povo existir, por exemplo, teria explicações de ordem histórica, evolutiva. À época, o expansionismo 
das nações europeias, assim como o desenvolvimento da ciência e da tomada de territórios, foram fatores 
determinantes para a colonização, a qual incorporou a tecnologia e a visão de mundo dominante, e isso 
configurava a ocidentalização do mundo, entre outras coisas. Assim, a ideia de cultura – ainda, muitas 
vezes, presente nos dias de hoje – se fundamentou na dicotomia conceitual: o cultural e o selvagem. O 
primeiro era considerado pertencente à cultura dominante, do europeu, e o segundo era atribuído ao 
modo de vida do povo dominado, indígena, autóctone e até mesmo exótico.
A relação entre a cultura e a natureza biológica humana instigou muitos pensadores. Nesse contexto, 
Alfred Kroeber (1876-1960) levantou um ponto interessante para se estabelecer um conceito de cultura 
por meio da afirmação: “o homem passou a ser considerado um ser que está acima de suas limitações 
orgânicas” (KROEBER apud LARAIA, 2000, p. 36). Um pouco desvirtuado da acepção evolucionista 
que explicava os fenômenos do comportamento humano via condições físicas e genéticas, o homem 
conceitua, classifica e categoriza o seu mundo. 
1 Selecionamos somente exemplos em que são consideradas definições de cultura que possuem alguma relação 
hipônima com a definição de civilização.
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Contudo, pode-se afirmar que as ideias de cultura, a partir da gênese de sua concepção e demais 
atribuições, estendem-se a outros campos do conhecimento humano. Para os leigos, ou não estudiosos, 
cultura pode ser considerada os aspectos espirituais de uma comunidade, a ação humana, a realização 
material ou o complexo de crenças e atributos humanos, como afirmou Tylor, anteriormente.
Esse termo complexo tem sido definido, adaptado, reformulado e desconstruído de acordo com cada 
ciência e fins específicos, conforme os paradigmas de pesquisa e visão do mundo de cada época. Para 
tanto, não se pretende entrar a fundo em tais questões de âmbito terminológico, mas apresentar, em 
seguida, o percurso do que se entenderia acerca de tal fenômeno para, posteriormente, atribuir alguns 
de seus paradigmas às questões dos estudos culturais – relação de disciplinas que apresentam a cultura 
como elo comum.
O desenvolvimento do conceito de cultura
Primeiramente, considera-se uma definição de cultura bastante interessante aquela do 
antropólogo Clifford Geertz, referência em estudos de cultura e antropologia em vários âmbitos 
do saber humano: 
Acreditando [...] que o homem é um animal suspenso em teias de significados 
que ele mesmo teceu, entendo a cultura como sendo essas teias, e sua 
análise, portanto, como sendo não uma ciência experimental em busca de 
leis, mas uma ciência interpretativa em busca de significados [...] [A cultura 
é] o padrão de significados incorporados nas formas simbólicas que inclui 
ações, manifestações verbais e objetos significativos de vários tipos, em 
virtude dos quais os indivíduos comunicam-se entre si e partilham suas 
experiências, concepções e crenças (CLIFFORD GEERTZ, 1973, p. 5 apud 
ÁVILA, 2003, p. 28).
Essa definição abrange a visão de mundo particular que o homem, animal consciente e autoconsciente, 
tem; a partir desta, categoriza as coisas, atribuindo-lhes nomes e organizando-as de acordo com o 
seu universo específico. Esse processo de categorização complexa – uma habilidade eminentemente 
humana, até onde se sabe – pode ser considerado como simbolização, como bem afirma Geertz. Tais 
símbolos são construídos pelo social, comum, e estabelecem normas, padrões de comportamentos, 
atribuições linguísticas de registro – padrão, não-padrão – manifestações verbais e concepções acerca 
do mundo, entre outros fazeres humanos. Ainda nessa visão, Geertz (1973 apud ÁVILA, 2003) expõe 
algumas palavras-chave no seu entendimentoacerca da cultura que podem compreender a área dos 
estudos linguísticos e da linguística aplicada – e a área de ensino e aprendizagem de línguas. Formas 
simbólicas, ações, manifestações verbais e objetos significativos comunicam-se. Tais termos utilizados 
por Geertz (1973 apud ÁVILA, 2003) irradiam a função da linguagem nesse processo, ou seja, o uso da 
língua(gem) para manifestar ações por vias simbólicas – constituídas a partir do social – a fim de se 
comunicar objetos significativos deste mundo.
Contudo, há algumas ideias acerca dessa palavra polissêmica que também têm suas relevâncias, 
como nos lembra Geertz:
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Em cerca de vinte e sete páginas do seu capítulo sobre o conceito, Kluckhohn 
conseguiu definir cultura como: (1) modo de vida global de um povo; (2) o 
legado social que o indivíduo adquire do seu grupo; (3) uma forma de pensar, 
sentir e acreditar; (4) uma abstração do comportamento; (5) uma teoria, 
elaborada pelo antropólogo, sobre a forma pela qual um grupo de pessoas 
se comporta realmente; (6) um celeiro de aprendizagem em comum; (7) 
um conjunto de orientações padronizadas para os problemas correntes; (8) 
um comportamento aprendido; (9) um mecanismo para a regulamentação 
normativa do comportamento; (10) um conjunto de técnicas para se 
ajustar tanto ao ambiente externo como em relação aos outros homens; 
(11) um precipitado da história, e voltando-se, talvez em desespero, para as 
comparações, como um mapa, como uma peneira e uma matriz (GEERTZ, 
1989, p. 4).
De maneira semelhante ao pensamento de Geertz, outro estudioso da cultura, Nicolau Coll, a define 
como:
[...] o conjunto de valores, crenças, instituições e práticas que uma sociedade 
ou grupo humano desenvolve num certo momento do tempo e do espaço, 
em diferentes campos da realidade, a fim de assegurar sua sobrevivência 
material e a plenitude espiritual, tanto individualmente como coletivamente 
(COLL, 2003). 
Esse ponto de vista remete-se ao conceito de cultura de modo geral. O “conjunto de valores e 
crenças” é a habilidade do ser humano de categorizar o mundo que o rodeia em forma de regras de 
sistemas simbólicos – como afirmou Geertz anteriormente – dos quais se constroem significados 
e interpretações diversas. A partir do que conhecemos a respeito de nossos valores – religiosos, 
morais, éticos etc. – avaliamos o sistema alheio de forma categórica, na perspectiva da nossa 
própria visão de mundo e de nosso tempo. Por construirmos nosso mundo, temos a capacidade de 
definir, por exemplo, família, o que é considerado moralmente certo e errado, as noções de crime 
e pecado, entre outros. 
No processo de desenvolvimento da constituição humana, entende-se que o homem possa 
compreender os seus atos e o porquê deles. Também compreende-se o homem como um ser histórico 
que busca entender o fenômeno da cultura, e tem-se remetido, até certo ponto, ao estudo de sua 
relação com a natureza. Nesse ângulo, Marilena Chauí (apud SANTOS, 2004, p. 13), filósofa que também 
estuda a cultura e os sistemas simbólicos, define cultura como o “conjunto de criações humanas”, pois 
tudo que é criado seria o fruto da cultura e, portanto, das ações humanas. Desse modo, a autora faz uma 
relação da natureza – o reino da repetição –, e da cultura – o fenômeno de transformação de todo um 
complexo de significados moldados, construídos na interação humana. Sendo o homem capaz de criar 
linguagem a partir da comunicação e classificá-la em categorias que são transformadas no decorrer 
da história, a natureza humana seria a própria visão do concebido. Em outras palavras, o saber de um 
indivíduo acerca do mundo, a partir da concepção de mundo do social – isto é, pai, mãe, irmãos, escola, 
trabalho, região, país etc. – em que ele esteja inserido, somente o é por ser, nesse meio, afirmado como 
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tal. Portanto, as noções de valor, registro – língua e variações –, justiça e refinamento, entre outros, são 
unicamente o resultado de todo o complexo de “criações humanas”, como afirma Chauí, dentro daquela 
visão. 
Essa perspectiva é compartilhada por Laraia (2001), atribuindo ainda a questão da reflexão acerca da 
cultura em comparação aos outros modos de vida e o passado:
[...] cada cultura é o resultado das experiências particulares da população, 
passada e presente, que vive de acordo com ela. Deduz-se assim, pois, que a 
cultura só se pode compreender tendo em conta o mais plenamente possível, 
o seu passado, utilizando todos os recursos admissíveis – fontes históricas, 
comparações com outros modos de viver, manifestações arqueológicas – 
para entender seu conteúdo e evolução (LARAIA, 2001, p. 36).
O tratamento evolutivo atribuído ao estudo da cultura possibilitou outro tipo de análise a partir do 
pressuposto de que a cultura é dinâmica, por meio da análise comparativa entre modos de vida de povos 
diferentes, estudados com o conhecimento do passado e do presente, o que caracteriza a mudança 
cultural, de fato. Segundo Laraia (2001, p. 96): “existem dois tipos de mudança cultural: a interna – 
resultante da dinâmica do próprio sistema cultural –, e uma segunda, que é o resultado do contato de 
um sistema cultural com outro.” Portanto, podemos perceber a dinamicidade cultural a partir de valores 
e avaliações, como as mudanças dos padrões de beleza, o modo de se vestir e de se comportar, padrões 
de linguagem etc. ao longo dos anos.
Frente a tal questão, no contexto de uma possível instrução da cultura, Bennett (1996) apresenta a 
definição de cultura sob dois ângulos. O primeiro é o que ele denomina “Cultura”, com “C” maiúsculo, 
que se refere às instituições: música clássica, dança, literatura, arte, arquitetura, sistemas políticos 
e econômicos. Quando se visita um museu ou se vai a uma palestra ou concerto, segundo Bennett 
(1996), faz-se algo “Cultural”. A “cultura” com “c” minúsculo subdivide-se em: comportamento verbal; 
comportamento não verbal e como este modifica a linguagem; os estilos de comunicação e as formas 
como os padrões de comportamento e pensamento são constituídos. Portanto, esse tipo de cultura 
engloba os valores, normas de comportamento e configurações simbólicas regidas pela sociedade.
Há, portanto, a cultura considerada canônica e a não canônica, a cultura dos valores, comportamento, 
entre outros. Todavia, é importante nos atermos para a questão da cultura subordinada, ou culturas 
subordinadas. Como Jordan e Weedon (1995 apud CAMPBELL, 1996, p. 15) afirmam:
De que cultura deverá ser a oficial e de qual seria a subordinada? Quais culturas 
deveriam ser reconhecidas como valorosas de serem disponibilizadas e quais 
deveriam ser resguardadas, ocultadas? Qual História deveria ser relembrada 
e qual deveria ser esquecida? Quais imagens da vida social deveriam ser 
projetadas e quais deveriam ser marginalizadas? Quais vozes deveriam ser 
ouvidas e quais [deveriam] ser silenciadas? Quem está representando e 
quem está sendo representado e em qual base? (tradução nossa)
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A cultura é manifestação linguística. é narratividade. As culturas estão intrincadas nos nossos 
sentidos. Nessa realização ou fazer linguístico, pode-se afirmar que se concebe o cultural também. 
Utilizando o pensamento de Claire Kramsch, as palavras que as pessoas falam designam algo que 
compartilham, ou experimentam, em comum.
Elas expressam fatos, ideias ou eventos que são comunicáveis porque elas 
e referem-se a um repertório de conhecimento acerca do mundo que as 
pessoas compartilham.Palavras também refletem as atitudes e crenças dos 
seus autores (e criadores), seu ponto de vista, que também são palavras 
de outras pessoas. Em ambos os casos, a língua(gem) expressa a realidade 
cultural (KRAMSCH, 1998, p. 3, tradução nossa). 
O que Kramsch mostra é a realização da cultura via linguagem, a qual engloba a realidade cultural, 
ou seja, ela é um sistema de signos que é visto como possuidor de um valor cultural.
Partindo da forma da linguagem-cultura como um sistema simbólico, Palmer (2000, p. 23) afirma 
que: 
[...] a linguagem é um jogo de símbolos verbais utilizados na imaginação. 
A imaginação é algo que vemos com a mente, mas também é o sabor de 
uma manga, a sensação de caminhar embaixo de um ‘chapadão tropical’, a 
música de Mississipi [...]. O que imaginamos está assentado nas experiências 
individuais adquiridas através de todas as formas de percepção, e falamos.
Além dessa percepção da relação entre linguagem-cultura e mente, por meio da memória e da 
experiência, Duranti (1997, p. 337 apud KLEIN e SANTOS, 2006, p. 64), dialogando com Palmer, acrescenta 
que: 
[...] a linguagem está em nós tanto quanto estamos na linguagem. Por 
conectar pessoas aos passados, presentes e futuros, a linguagem não é 
apenas uma representação de um mundo estabelecido independentemente. 
A linguagem é também este mundo. Não no sentido simplista de que tudo 
que nós temos de nosso passado é linguagem, mas no sentido de que nossas 
memórias são inscritas em representações linguísticas, histórias, anedotas 
e nomes tanto quanto elas estão contidas em cheiros, sons e modos de 
expressão do nosso corpo.
De alguma forma, a relação entre linguagem e pensamento pode ser concebida como uma inter-
relação entre língua e cultura, determinando um pensamento.
Em algum momento de sua existência histórica, língua é heteroglótica 
de cima para baixo: ela representa a coexistência de contradições sócio-
ideológicas entre o presente e o passado. [...] Estas línguas/linguagens de 
heteroglossias intercedem-se de uma variedade de maneiras, formando 
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línguas/linguagens tipificadas (BAKHTIN, 1990, p. 291 apud CAMPBELL, 
2006, p. 12).
Conforme Eagleton:
[...] o pensamento pós-estruturalista tem reconhecido que os textos não são 
fechados, mas plurais, em um infinito jogo de significantes, os quais nunca 
podem ser rebaixados a um único centro, essência ou significado. Impor um 
único significado ou tentar encontrar um é desrepresentar a complexidade 
do texto (ou nações) em si, e é nossa contenção que uma variedade de 
leituras através das disciplinas é um método de explorar a plenitude de 
ambos – o texto e a nação –, para ouvirmos as muitas vozes que Bakhtin 
descreve (EAGLETON, 1983, p. 138 apud CAMPBELL, 2006, p. 15, tradução 
nossa).
Ainda na perspectiva discursiva, podemos considerar a cultura como política (frente aos estudos 
culturais, nosso ramo de estudo aqui). O que é considerado cultural, de valor, necessariamente é uma 
decisão política, a partir de uma concepção institucional. O que vemos, de fato, é que sempre houve 
o surgimento de novas identidades, com o contato entre pessoas de nacionalidades diferentes ou 
até mesmo dentro da mesma nacionalidade. Há um senso de que as tradições estariam se perdendo, 
por se considerar que haveria uma tradição, uma cultura estabelecida, estável e original. é o que vem 
acontecendo, por exemplo, na Inglaterra – um dos focos do nosso estudo – desde que Margareth 
Thatcher, primeira ministra britânica nos anos de 1980, legitimou tal questão. 
Nas últimas duas décadas, a cultura política britânica também tem sido 
massivamente transformada pelas forças de privatização e consumismo. Ao 
mesmo tempo, e devido ao vácuo moral que isso tem criado, tem aumentado 
uma preocupação com a questão de “valores”. Dessa forma, as duas últimas 
décadas têm testemunhado, contudo, um novo “pânico moral” na ideia da 
decadência dos valores de família e comunidade, associados com o desejo 
nostálgico de recuperar tradições “perdidas”. Dentre outras coisas, essas 
ansiedades surgem em relação a novas e emergentes formas de identidade 
sexual e estilo de vida que têm visto as consequências culturais do mercado 
livre “Thatcherista” para serem alojados ou considerados comuns e naturais. 
Por um lado, então, temos as forças da “privatização” e o individualismo 
movendo-se através de todas as esferas da vida, e, por outro, a inovação 
dos valores de comunidade e comunitários (MORLEY e ROBINS, 2005, p. 2, 
tradução nossa).
Segundo Santos (2004, p. 47):
cultura é uma construção histórica, seja como concepção, seja como dimensão 
do processo social; logo, cultura é um produto coletivo. [...] Nada do que é 
cultural pode ser estanque porque a cultura faz parte de uma realidade em 
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que a mudança é um aspecto fundamental. Assim, a dinamicidade da cultura, 
no âmbito diacrônico, possibilita reformas conceituais e o (re)arranjamento 
de visões de mundo e padrões de comportamento. No plano sincrônico, 
ou seja, com vistas ao momento, de forma atemporal, a cultura pode ser 
concebida como universal na experiência do homem. Cada manifestação 
local ou regional dela é única.
O estudo da cultura contribui para o respeito às diferenças e a harmonia das relações humanas. 
Procurando ler, compreender a cultura alheia significa entender-se por meio da autorreflexão. 
Na verdade, se a compreensão da cultura exige que se pense nos diversos 
povos, nações, sociedades e grupos humanos, é porque eles estão em 
interação. Se não estivessem, não haveria necessidade, nem motivo, nem 
ocasião para que se considerasse variedade nenhuma. [...] Portanto, a 
humanidade, em toda sua riqueza e multiplicidade de formas de existência, 
é a cultura (SANTOS, 2004, p. 9).
Por fim, 
[...] se definimos cultura na sua mais ampla perspectiva como “uma forma de 
vida”, então torna-se também claro que, ao restringir o estudo de produtos 
culturais a uma pequena gama de textos pré-concebidos, corre-se o risco de 
se omitir muita coisa. Uma recente sugestão leva à posição oposta; textos 
são simplesmente “aquelas estórias que os americanos [por exemplo] contam 
uns aos outros para que suas vidas tenham sentido” (MECHLING, 1989, p.4). 
De acordo com essa definição, então, uma completa gama de produtos 
culturais e artefatos se tornam disponíveis para análise. Deve ser ainda 
isso que em tal abordagem de estudo tem lugar para análise qualitativa, 
que algumas estórias carregam maiores convicções e ressonância do que 
outras, mas as possibilidades de se fazer conexões entre diferentes aspectos 
da cultura mais ampla são consideravelmente mais ampliadas (CAMPBELL, 
2006, p. 5, tradução nossa).
Então, cultura é o modo de vida de um povo, o legado cultural (a tradição) de um povo, a forma 
de pensar – o conceito e construções de mundo que o indivíduo adquire do seu grupo –, entre outras 
definições. Como se sabe, o assunto é inesgotável, portanto não vamos nos ater a toda essa discussão 
acerca do tema, mas somente ao que é mais relevante no aspecto da tradição.
 Lembrete
A discussão acerca do assunto não se esgota. Porém, no nosso contexto, 
foram mostrados alguns conceitos para adentrarmos nos estudos culturais.
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A questão das identidades culturais
Na conjuntura atual, o termo cultura tem apresentado uma dimensão mais global. Em outras 
palavras, com o advento dos meios de comunicação na era da tecnologia ou, até mesmo, na era digital e 
da informatização doconhecimento, as pessoas têm tido a oportunidade de se comunicar em dimensões 
globais. Tal fato diz respeito a uma economia global, na qual a interação entre os povos de várias 
culturas, originariamente distintas, tem ocorrido de modo freneticamente rápido, instantâneo. Isso até 
pode formar ou constituir uma espécie de “civilização mundial”, como afirma Santos (2004, pp. 39-40): 
[...] com a aceleração da interação entre povos, nações e culturas 
particulares, diminui a possibilidade de falar em cultura como totalidade, 
pois a tendência à formação de uma civilização mundial faz com que os 
povos, nações e culturas particulares existentes partilhem de características 
comuns fundamentais.
é interessante verificar que a complexidade da definição de cultura se inter-relaciona com o conceito 
de identidade. Na atual conjuntura, as condições de estabelecimento e afirmação de um indivíduo 
ou, por vezes, de um povo, têm atravessado fronteiras devido ao acesso frenético e democrático à 
comunicação midiática global. Como bem afirma Hall (2005, p. 47): 
No mundo moderno, as culturas nacionais em que nascemos se constituem 
em uma das principais fontes de identidade cultural. Ao nos definirmos, 
algumas vezes dizemos que somos ingleses ou gauleses ou indianos 
ou jamaicanos. Obviamente, ao fazer isso estamos falando de forma 
metafórica. Essas identidades não estão literalmente impressas em nossos 
genes. Entretanto, nós efetivamente pensamos nelas como se fossem parte 
de nossa natureza essencial.
Portanto, o indivíduo, pertencente a uma sociedade específica, falante de uma língua materna, mas 
possível conhecedor de outra(s), completa a sua formação formal, escolar, acadêmica e cultural, como 
indivíduo não pertencente a um país, mas a um conjunto de sociedades que se interajam. No âmbito 
educacional, a formação do indivíduo ocorre sob perspectiva pluralizada, a partir de percepções que vão 
além de demarcações territoriais, que nos fazem e nos constituem como indivíduos. 
Tal formação ainda pode entrar em choque com a formação cultural primitiva – individual, de 
primeira ordem – a partir de uma cultura nacional, pois há toda uma constituição de percepção de 
mundo que o indivíduo adquiriu ao longo de seu crescimento em possível confronto à rede mundial de 
comunicação – a outros padrões, portanto. Como afirma Hall (2005, pp. 49-50): 
[...] a formação de uma cultura nacional contribuiu para criar padrões de 
alfabetização universais, generalizou uma única língua vernácula como 
o meio dominante de comunicação em toda a nação, criou uma cultura 
homogênea e manteve instituições culturais nacionais como o sistema 
educacional nacional.
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Essa homogeneização cultural atribui de forma exacerbada os padrões culturais, que, por meio de 
invasões culturais e guerras, são instituídos e forçados a serem adotados em sociedades diversas. A partir 
dessa reflexão, Werneck (2003, p. 61) afirma que:
[...] o homem nasce não apenas em meio à natureza, mas, ainda, numa 
cultura. A criança vem ao mundo num meio cultural determinado e recebe 
numa fase de sua vida, caracterizada pelo conhecimento preconceitual, uma 
série de informações, de normas de conduta, de usos considerados como 
válidos pelo meio social em que nasceu. 
A expressão preconceitual a que Werneck refere-se diz respeito à cultura homogênea de Hall, como 
afirmado anteriormente. A criança, ainda em formação individual, recebe o que Werneck (2003, p. 
61) aprecia como “imaginário social, de uma cultura, uma visão de mundo, uma visão do outro, uma 
interpretação do real que vai aceitar de modo passivo, acrítico, preconceitual”, ou seja, um conceito pré-
estabelecido e determinado das coisas, que pode ser transformado com o amadurecimento.
é interessante se pensar na cultura, no que se entende por esse fenômeno, em perspectiva de sua 
instrução, e se isso é possível, no âmbito da educação formal. Em que lugar tal fenômeno se encontra 
nesse processo? Como apresentaríamos uma cultura de um povo – entende-se país ou nação – sem 
camuflarmos aspectos considerados importantes de seus aspectos culturais? Isso pode ser impossível. 
Sempre exporíamos alguns aspectos culturais mais relevantes, não é mesmo? 
Então, apesar de toda a aceleração, dos modos de interação e das diversidades e, ainda, das 
possibilidades de comunicação no mundo real e no virtual, o homem ainda mantém a sua essência: 
produzir significados. Posteriormente, Hall implicaria discutir a questão das identidades culturais na era 
da pós-modernidade ou, como se afirma, “modernidade tardia”. 
Nosso objetivo é aprender acerca das culturas de países que apresentam o inglês como língua oficial 
ou que tenham, de alguma forma, absorvido a contribuição desse idioma para a sua construção cultural. 
As identidades culturais são um conceito advindo das culturas, as quais podem ultrapassar regiões 
geográficas.
Nos dias de hoje, discute-se muito a questão das identidades culturais, principalmente por termos 
contato de forma instantânea, virtual, veloz e imediata com vários países e culturas. Uma pessoa que 
nasce no Brasil, por exemplo, pode muito bem se identificar e até se sentir um inglês, principalmente 
pela possibilidade de contato com esse país por meio virtual. Entretanto, não se pode considerar somente 
esse fator. O mercado e a economia mundial têm selecionado e contratado pessoas de diversas áreas do 
planeta. A migração de mão de obra entre países tem sido uma constante. Esse fato decorre não pela 
falta de profissionais qualificados em uma determinada região, mas, muitas vezes, por plena escolha 
individual, o que constitui e contribui para a hibridez cultural no mundo. Tal fato também ilustra a nova 
concepção de identidade. 
No mundo moderno, as culturas nacionais em que nascemos se constituem 
em uma das principais fontes de identidade cultural. Ao nos definirmos, 
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algumas vezes dizemos que somos ingleses ou galeses ou indianos ou 
jamaicanos. Obviamente, ao fazer isso estamos falando de forma metafórica. 
Essas identidades não estão literalmente impressas em nossos genes. 
Entretanto, nós efetivamente pensamos nelas como se fossem parte da 
nossa natureza essencial (HALL, 2005, p. 47).
 saiba mais
Para aprofundar seus estudos culturais, principalmente, no que diz 
respeito às identidades, não deixe de ler as seguintes obras do estudioso 
jamaicano Stuart Hall:
• A identidade cultural na era da pós-modernidade. Este livro é breve, 
mas muito completo quanto à identidade cultural e a problemática 
da pós-modernidade. Você pode ler este livro por inteiro.
• Da diáspora. Além de o autor trabalhar com o problema dos estudos 
culturais, em si, ele aborda também a problemática da diáspora 
– assunto que será tratado na última unidade deste livro-texto. 
Recomenda-se que se faça a leitura do capítulo 2 da parte 1, em que 
ele fala sobre a questão multicultural, e de toda a parte 3 do livro.
Algumas culturas se dizem em crise e pode-se afirmar que elas têm buscado por uma identidade. 
Fala-se em resgate ao que significa ser eminentemente americano, inglês ou canadense, mediante uma 
concepção racionalista de identidade. 
Você, caro aluno, poderá indagar a respeito de parâmetros culturais como etnia, música, costume, 
estilo de vida, culinária, danças típicas etc., que definiriam e/ou classificariam tais identidades culturais. 
Todavia, a grande questão é entender a dinâmica dos povos e como ela contribui para a criação de novas 
identidades culturais. Trata-se aqui de discutir, a partir da concepção do que entendemos por cultura 
americana, inglesa, caribenha, nigerianaetc. e sob o ponto de vista geográfico, outras possibilidades de 
identidades culturais – conforme afirma Hall (2005), fenômenos não estáticos ou fixos.
Hall discute algumas concepções relevantes acerca de identidade. Há, basicamente, três tipos: a) 
sujeito do Iluminismo; b) sujeito sociológico; c) sujeito pós-moderno.
O sujeito do Iluminismo diz respeito à:
[...] concepção da pessoa humana como um indivíduo totalmente centrado, 
unificado, dotado das capacidades da razão, de consciência e de ação, 
cujo “centro” consistia num núcleo interior, que emergia pela primeira vez 
quando o sujeito nascia e com ele se desenvolvia, ainda que permanecendo 
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essencialmente o mesmo – contínuo ou “idêntico” a ele – ao longo da 
existência do indivíduo. O centro essencial do eu era a identidade de uma 
pessoa (HALL, 2005, pp. 10-11).
é interessante pensarmos, por exemplo, nos Estados Unidos e nos americanos, seus habitantes 
falantes de língua inglesa, brancos – em sua maioria –, patriotas e, por vezes, egocêntricos (não podemos 
generalizar, não é mesmo?) e que exportam modos de vida baseados na economia de mercado e no 
capitalismo. Pensar dessa maneira em relação aos estadunidenses – ou americanos –, por exemplo, é ter 
uma percepção identitária iluminista.
A respeito de outra concepção acerca das identidades culturais, no contexto e panorama sociológico, 
Hall (2005, p. 11) ensina:
O sujeito sociológico refletia a crescente complexidade do mundo moderno 
e a consciência de que esse núcleo interior do sujeito não era autônomo 
e autossuficiente, mas era formado na relação com “outras pessoas 
importantes para com ele”, que mediavam para o sujeito os valores, sentidos 
e símbolos – a cultura – dos mundos que ele/ela habitava.
Basta pensarmos na questão da relação entre o outro e eu. O que eu significo para o outro? Como 
o outro faz a leitura de minha pessoa? é a mesma concepção de “mediação simbólica”, de Vygotsky. 
Pensemos, por exemplo, na questão da etnia branca no Brasil. Será que ser branco no Brasil tem o 
mesmo valor do que ser branco nos Estados Unidos? Por quê? Não vamos responder agora, pensemos 
mais um pouco.
Ainda na concepção sociológica, “a identidade [...] preenche o espaço entre o ‘interior’ e o ‘exterior’ – 
entre o mundo pessoal e o mundo público” (HALL, 2005, p. 11). é interessante pensarmos o quanto nos 
identificamos com alguma comida, arquitetura, tipo de música e/ou modo de vida particular de algum 
país que não seja o nosso natal. A mediação entre o que somos e o que é o outro pode-se entender como 
sujeito sociológico, a sua construção em si. 
O sujeito pós-moderno é conceitualizado como não tendo uma identidade 
fixa, essencial ou permanente. A identidade torna-se uma “celebração 
móvel”: formada e transformada continuamente em relação às formas pelas 
quais somos interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam (HALL, 
1987 apud HALL, 2005, p. 12). 
Tal concepção dialoga com o propósito de nossa disciplina: a discussão acerca das culturas de língua 
inglesa. 
A modernidade tardia, ou pós-modernidade (a era em que vivemos), é o período em que os valores 
culturais são transformados a cada momento. O poder de interação e de contato com pessoas de origem 
e gêneros diferentes e em lugares distantes é intenso e vasto. A identidade que buscamos atualmente, 
ou que pelo menos tentamos entender, é híbrida, líquida e instável. Ela se desloca, desconstrói, atualiza 
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e conceitua de forma incessante. Uma pessoa que nasce no continente americano pode se sentir ou 
se identificar como sendo pertencente a outro país – Japão ou China, por exemplo –, isso devido à 
significativa interação humana via tecnologia e à grande rede de comunicação: a internet. 
 observação
Embora não pretendamos adentrar no assunto, há mais de uma 
concepção de pós-modernidade.
Nossas ações dentro de um país geralmente apresentam dimensão política global. Um exemplo disso 
é a intervenção dos Estados Unidos da América no Iraque, que ocasionou a derrubada do ditador Saddam 
Hussein e também uma guerra. Movimentos políticos têm sido executados mediante contatos de redes 
sociais, enquanto ações em prol do meio ambiente em todo o mundo, derrubada de governos tiranos 
e passeatas a favor de direitos humanos são algumas ocorrências de fatos que possivelmente tiveram 
interferência da mídia local e mundial. Frente a essa interação, pode-se até afirmar quais identidades 
são formadas. 
A identidade marca o encontro de nosso passado com as relações sociais, 
culturais e econômicas nas quais vivemos agora [...]. A identidade é a 
intersecção de nossas vidas cotidianas com as relações econômicas e políticas 
de subordinação e dominação (RUTHERFORD, 1990 apud WOODWARD, 
2000, p. 19).
Muito além da migração física de populações no globo, a formação e/ou construção de novas 
identidades também é realizada pelas definições conceituais midiáticas globalizantes.
Precisamos vincular as discussões sobre identidade a todos aqueles processos 
e práticas que têm perturbado o caráter relativamente “estabelecido” de 
muitas populações e culturas: os processos de globalização, os quais, eu 
argumentaria, coincidem com a modernidade (HALL, 1996), e os processos 
de migração forçada (ou livre) que têm se tornado um fenômeno global do 
assim chamado mundo pós-colonial. As identidades parecem invocar uma 
origem que residiria em um passado histórico com o qual elas continuariam 
a manter uma certa correspondência. Elas têm a ver, entretanto, com a 
questão da utilização dos recursos da história, linguagem e da cultura para 
a produção não daquilo que nós somos, mas daquilo que nos tornamos. 
Têm a ver não tanto com as questões “quem nós somos” ou “de onde nós 
viemos”, mas muito mais com as questões “quem nós podemos nos tornar”, 
“como nós temos sido representados” e “como esta representação afeta a 
forma como nós podemos representar a nós próprios”. Elas têm tanto a ver 
com a invenção da tradição quanto com a própria tradição, a qual elas nos 
obrigam a ler não como uma incessante reiteração, mas como “o mesmo 
que se transforma” (GILROY, 1994): não o assim chamado “retorno às raízes”, 
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mas uma negociação com nossas “rotas”. Elas surgem da narrativização 
do eu […] construída na fantasia ou, ao menos, no interior de um campo 
fantasmagórico. 
é precisamente porque as identidades são construídas dentro (e não fora) do discurso que nós 
precisamos compreendê-las como produzidas em locais históricos e institucionais específicos, no 
interior de formações e práticas discursivas específicas, por estratégias e iniciativas específicas. […] 
As identidades são construídas por meio da diferença e não fora dela. Isso implica o reconhecimento 
radicalmente perturbador e que é apenas por meio da relação com o outro, da relação com aquilo que 
não é, com precisamente aquilo que falta, com aquilo que tem sido chamado de exterior constitutivo, 
que o significado “positivo” de qualquer termo – e, assim, sua “identidade” – pode ser construído 
(DERRIDA, 1981; LACLAU, 1990; BUTLER, 1993). […] Toda identidade tem, à sua “margem”, um excesso, 
algo a mais. A unidade, a homogeneidade interna, que o termo “identidade” assume como fundacional, 
não é uma forma natural, mas uma forma construída de fechamento: toda identidade tem necessidade 
daquilo que lhe “falta” – mesmo que esse outro que lhe falta seja um outro silenciado e inarticulado 
(HALL, 2005, pp. 109-110). 
Podemos entender,portanto, que as identidades são construídas por instituições sociais que 
procuram determinar e classificar culturas. 
A herança tem sido a palavra-chave no nosso vocabulário nacional; 
ela é o que a Grã-Bretanha vende – para turistas que vêm visitar os 
lares do estado e, nas indústrias audiovisuais, na forma do teatro (os 
filmes de Merchant-Ivory et al.). Essas imagens afetam não só como os 
outros nos veem, mas também como nós nos vemos e o nosso futuro, 
e nossos autores estão preocupados em traçar os caminhos pelos quais 
nós temos tentado simbolizar nossa identidade em (constantemente) 
formas modernas, do período pós-guerra (o Festival da Grã-Bretanha, 
por exemplo) até as formas culturais (muito comercializadas) da Loteria 
Nacional, para celebrações do milênio. 
Porém, nosso foco não é somente as formas públicas da política e 
seus símbolos institucionais, mas também os desenvolvimentos-
chave em várias formas de arte – música, literatura e as artes visuais 
– que refletem o estado da cultura britânica agora. Há profundas 
ambivalências aqui, acerca de repetidas chamadas para algum “retorno” 
para identidades culturais estabelecidas ou tradicionais. Também é 
importante colocar esses desenvolvimentos artísticos atuais no contexto 
de desenvolvimentos mais amplos do que na Grã-Bretanha (globalização 
cultural, europeização), envolvendo o reposicionamento da identidade 
britânica. Desse modo, no ramo da música, enquanto muitos celebravam 
o surgimento do britpop nos anos 1990 [...], é significante que isso 
era uma forma quase exclusivamente branca, enquanto a identidade 
britânica multicultural tem encontrado sua articulação em áreas 
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bastante diferentes da expressão musical (do bhangra ao jungle e ao 
new asian underground). Semelhantemente, na literatura, se Martin 
Amis tem sido central para a linha recente da literatura britânica, então 
escritores como Salman Rushdie, Hanif Kureishi, Meera Syal e Zadie 
Smith têm sido cruciais em darem voz às outras culturas britânicas não 
brancas (MORLEY e ROBINS, 2005, p. 9, tradução nossa).
A herança é uma busca que nos é impulsionada pelas instituições sociais: a Igreja, a escola, a família 
e a mídia em geral. No âmbito atual, com contato constante com outras vozes, novos falares e novas 
identidades são formadas. Trata-se de uma perspectiva híbrida, portanto. é impossível tratarmos da 
questão do cultural de forma pura, a partir de uma tradição (por exemplo, a britânica) que, porventura, 
estaria se perdendo por causa desse contato incessante. 
De forma oportuna, Hall discute em sua obra Da diáspora a questão do multicultural. Além de definir 
multicultural, ele contrasta tal definição com a de multiculturalismo. Vejamos:
Multicultural é um termo qualificativo. Descreve as características 
sociais e os problemas de governabilidade apresentados por qualquer 
sociedade na qual diferentes comunidades convivem e tentam construir 
uma vida em comum, ao mesmo tempo em que retêm algo de sua 
identidade “original”. Em contrapartida, o termo multiculturalismo é 
substantivo. Refere-se às estratégias e políticas adotadas para governar 
ou administrar problemas de diversidade e multiplicidade gerados 
pelas sociedades multiculturais. é usualmente utilizado no singular, 
significando a filosofia específica ou a doutrina que sustenta as 
estratégias multiculturais. “Multicultural”, entretanto, é, por definição, 
plural. Existem muitos tipos de sociedade multicultural, como por 
exemplo, os Estados Unidos da América, a Grã-Bretanha, a França, 
a Malásia, o Sri Lanka, a Nova Zelândia, a Indonésia, a África do Sul 
e a Nigéria. Esses são, de forma bastante distinta, “multiculturais”. 
Entretanto, todos possuem uma característica em comum. São, por 
definição, culturalmente heterogêneos. Eles se distinguem neste sentido 
do Estado-nação “moderno”, constitucional liberal, do Ocidente, que 
se afirma sobre o pressuposto (geralmente tácito) da homogeneidade 
cultural organizada em torno de valores universais, seculares e 
individualistas liberais (GOLDBERG, 1994 apud HALL, 2009, p. 50).
Vemos então que esses são termos que, aparentemente, se assemelham e trazem problemáticas 
distintas. O termo multicultural é adjetivo, qualificativo. Por exemplo, a música brasileira é 
multicultural, ou seja, ela é plural, constituída por elementos de várias culturas, mas possui uma 
característica comum que a define como brasileira – não só a língua portuguesa, mas a linguagem 
em si. O termo multiculturalismo é singular, substantivo. é um fenômeno tratado por meio de 
políticas públicas. A imigração é um fenômeno que gera o multiculturalismo. 
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Por fim, a partir de um olhar um tanto quanto tenebroso para a globalização e suas consequências, 
o sociólogo polonês Zigmunt Bauman desenvolveu uma teoria que complementa o nosso 
raciocínio quanto à questão das identidades em formação. Em várias obras, como Globalização, 
as consequências humanas (1998), Modernidade líquida (2000) e Amor líquido (2003), entre 
outras, ele afirma a metáfora do líquido atribuído às ações humanas no mundo pós-moderno. 
Logo, podemos afirmar, ainda que de modo geral, que as identidades de nossa era são líquidas, 
ou seja, elas não se solidificam, não se baseiam e nem se fixam. Elas simplesmente se esvaem, se 
transformam e, principalmente mediante à era digital, afirmam e configuram novas identidades de 
modo instantâneo, veloz e voraz.
Então, caro(a) aluno(a), pode-se afirmar que as identidades no contexto de globalização podem 
ser entendidas como um processo de construção, uma mistura de resgate cultural com uma cultura 
vigente e dominante. é importante levarmos em consideração esta concepção de Hall (2005), como 
afirmado anteriormente, para entendermos as representações culturais nos países. Em outras palavras, 
as questões que direcionam esta perspectiva são: “o que define o americano como americano?”, “o que 
define o inglês como inglês?”, e assim por diante. Tais questões não serão respondidas, e sim discutidas 
ao longo deste livro-texto. 
 Lembrete
Identidade muito se confunde com ideologia. Embora ambas tenham 
muito em comum, são conceitos distintos. Que não confundamos, ok?
 saiba mais
Recomendamos alguns filmes cuja temática é o multicultural e/ou o 
intercultural:
• Babel (2006), com Brad Pitt, Cate Blanchett e Gael Garcia Bernal. 
Direção: Alejandro González Iñarritu. Uma série de acontecimentos 
ocorre no mundo e todas elas se interligam pelo fator 
interculturalidade. Filme interessantíssimo para que possamos 
entender como o mundo se relaciona de alguma forma frente às 
culturas em diálogo e choque. 
• Entre os muros da escola (2007). Direção: Laurent Cantet. Filme 
francês interessantíssimo, cuja temática é a educação em uma 
França contemporânea e multicultural. 
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1 VoZes Do CentRo: GRã-BRetAnHA
Figura 1 – Bandeira do Reino Unido
é constantemente discutido de que modo os países-centro influenciaram e colonizaram nações 
diversas em todo o globo. Abordaremos as nações que difundiram a língua inglesa: a Inglaterra, em 
primeira instância, e os Estados Unidos, em segunda. Entretanto, é importante levarmos em conta a 
língua inglesa como língua de trabalho, língua do colonizador, mas que se transformou em língua 
de identidade de vários povos. A Grã-Bretanha, ou Reino Unido, seria a nação berço da exportação 
cultural via língua inglesa, seguida do seu filho, que mais tarde se tornou um órfão, pois agregou vários 
costumesde inúmeros povos e se transformou em uma potência que superou qualquer país da União 
Europeia: os Estados Unidos da América, nação que iniciou uma economia de mercado que, de alguma 
forma, influenciou o globo. 
Nesta unidade, você estudará as vozes do centro: a Grã-Bretanha e os Estados Unidos. Abordaremos 
questões culturais, determinadas geograficamente (do ponto de vista físico, histórico e econômico, 
entre outros) e discutiremos, no final, as questões que determinam identidades diversas mediante 
essas culturas. A pergunta guia é: o que define a Inglaterra e os Estados Unidos como tal? Os aspectos 
históricos e culturais são levados em conta para respondermos a essa pergunta. Será que o velho mundo 
inglês é definido como o mesmo desde sempre, desde seu estabelecimento como unidade cultural, ou 
hoje em dia se discutem identidades híbridas em um continente antigo?
1.1 o Reino unido
Ser inglês significa pertencer ao Reino Unido? Muitos acreditam que sim, mas a resposta “não” é tão 
assertiva quanto pensarmos no “sim”. Discutiremos acerca disso adiante. 
A partir de agora falaremos sobre a Grã-Bretanha, ou seja, a Inglaterra, a Escócia, o País de Gales e 
a Irlanda do Norte, que serão abordados como um todo, bem como os Estados Unidos, com ressalvas a 
algumas observações acerca de tradições inventadas, entre outros aspectos. 
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1.2 Aspectos históricos
A grande ilha que compõe os países Escócia, País de Gales e Inglaterra (e ainda incluindo a Irlanda 
do Norte) é o que conhecemos como Grã-Bretanha. Bretanha é o nome dado pelos romanos quando 
estiveram na ilha entre os anos 43 e 409 d.C. 
Quando os romanos se estabeleceram na ilha, chamaram seus habitantes 
de pretani. Com o uso diário dessa palavra pelos soldados, pretani se 
tornou britanni. é deste termo – britanni – que o nome britons (bretões, 
em português) se derivou, sendo usado até os dias de hoje para designar os 
nativos ou os habitantes da Bretanha (SILVA, 2005, p. 2). 
Como nos ensina Silva (2005), os pretani, que atualmente podemos chamar de britânicos, foram 
constituídos pela composição de vários outros povos indo-europeus, resultado de fluxos migratórios 
constantes, bem como invasões, desde a era do Homem de Neanderthal até os dias de hoje. 
A Inglaterra foi ocupada por povos de várias culturas por cerca de 35 mil anos. Dentre eles estão: os 
anglos – do qual derivou-se o nome Inglaterra (Angle Land = England) –, os saxões, os picts, os jutos e os 
celtas. Eles, entre outros povos que contribuíram para a formação da ilha, constituíram grande parte da 
Irlanda e da Escócia. Os romanos também contribuíram para a sua formação cultural. Londres (London, 
em inglês) é o nome de uma das tribos que constituíram o país.
Uns dos primeiros povos residentes na ilha foram os bretões, que atualmente habitam no País de 
Gales e falam galês. Posteriormente, no século V, a ilha foi invadida por povos bárbaros, assim chamados 
pelo fato de não serem cristãos. Em seguida, as legiões romanas deixaram a ilha e os anglo-saxões 
chegaram do noroeste da Europa – invasão finalizada no século VII. 
Os anglo-saxões acreditavam nos deuses germânicos. Como o território era habitado por cristãos, 
ambas as religiões passaram a conviver, influenciando-se mutuamente. Assim, a ilha tornou-se uma 
área de contato entre diferentes culturas, revelando como nenhuma cultura é homogênea, pois se 
forma a partir da relação com o outro, diferente tanto dentro como fora dos limites nacionais.
Os vikings chegaram ao território no século IX. Posteriormente, foram estabelecidos dois importantes 
reinos: o da Escócia no norte da ilha e o da Inglaterra no sul. 
Figura 2
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Assim, quando nos referimos ao Reino Unido, podemos considerar que ele é uma miscelânea 
cultural, formada por anglos, saxões, celtas, romanos, galeses e gauleses (franceses que também que 
invadiram a ilha no século XII, com William O Conquistador, o qual levou o regime feudal para a ilha, 
a língua latina e o francês antigo).
 Lembrete
Cuidado! Quando falamos de Reino Unido, obrigatoriamente, referimo-
nos aos países Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte (embora 
não abordemos aqui a Irlanda do Norte ou o País de Gales). Todavia, muitos 
consideram que o Reino Unido seja equivalente à Inglaterra, o que não está 
correto.
Um dos legados desta época é o livro Doomsday Book (O livro do Juízo Final), uma espécie de 
registro das terras da Inglaterra. William the Conqueror (Guilherme O Conquistador), delineou 
as terras da Inglaterra e instituiu o feudalismo, uma vez que o território era organizado por 
condados (shires).
O Reino da Inglaterra, que depois de 1284 incluiu Gales, era um Estado 
soberano até 1 de maio de 1707, quando os atos de União puseram em 
prática as condições estabelecidas no Tratado da União do ano anterior, 
resultando em uma união política com o Reino da Escócia para criar o Reino 
Unido da Grã-Bretanha. Em 1800, a Grã-Bretanha uniu-se com a Irlanda 
através de outra lei da União para se tornar o Reino Unido da Grã-Bretanha 
e da Irlanda. Em 1922, o Estado Livre Irlandês foi estabelecido como um 
domínio separado; posteriormente, a Irlanda do Norte foi incorporada ao 
Reino Unido, criando o Reino Unido e da Irlanda do Norte.2
Como nossa disciplina é bastante panorâmica e não temos tempo e nem espaço para explorarmos a 
história por completo, atentemo-nos a partir daqui ao período após o século XVII. 
A dinastia dos Tudor (1485-1603) foi muito importante para o reinado, pois trata-se do 
início de uma política que conduziria a Inglaterra ao crescimento econômico e também à uma 
transformação cultural. Seus reis e rainhas foram: Henry VII, Henry VIII, Edward VI, Mary I e 
Elizabeth I. Alguns foram mais gastadores, outros mais econômicos; dentre as mulheres (Mary 
I e Elizabeth I), a primeira foi conhecida como sanguinária, por tentar restaurar o catolicismo 
na ilha, enquanto a segunda, conhecida como “Rainha do povo”, teve pulso firme e buscou a 
prosperidade. Durante os reinados de Mary I (1553-1558) e Elizabeth I (1558-1603) ocorreram 
também as reformas protestante, de Martinho Lutero, e calvinista, de João Calvino – elementos 
marcantes que determinaram a perspectiva do reinado. 
2 Disponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/inglaterra/historia-da-inglaterra.php>. Acesso em: 2 
jan. 2013.
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Mary I e Elizabeth I foram duas mulheres de personalidade forte. 
Mary Tudor, a filha católica de Catarina de Aragão, se tornou rainha com a 
morte de seu irmão mais novo. Antes disso, porém, o apoio do povo, ainda 
ligado à fé católica, ajudou a filha mais velha de Henry VIII a sufocar uma 
tentativa do Parlamento de coroar a protestante Jane Grey como regente 
do país. Assim que chegou ao poder, Mary I colocou em prática seu projeto 
de restabelecer a Igreja Católica. […] Em tentativa de trazer a Igreja Católica 
de volta ao país durante seu curto reinado de cinco anos, Mary mandou 
queimar trezentos protestantes. O povo gradativamente se tonou desgostoso 
de sua rainha, e somente a notícia de que ela estava morrendo impediu uma 
revolta popular (SILVA, 2005, pp. 107-108).
Pois é, não é que a bebida Bloody Mary procede? O drink vermelho foi batizado de Mary para fazer 
jus à rainha sanguinária. Todavia, a rainha que a sucedeu foi diferente. Foi uma mulher voltada para as 
causas sociais, de pulso firme e personalidade também forte, mas não sanguinária ou perversa. A Rainha 
ElizabethI foi conhecida como a primeira Rainha do povo da Grã-Bretanha, de fato. 
Utilizando toda a astúcia que tinha lhe ajudado a sobreviver até aquele 
momento, Elizabeth se cercou dos melhores conselheiros que a ajudaram 
a enfrentar as dificuldades de uma economia arrasada pelas fanfarronices 
de seu pai. No Parlamento, Elizabeth demonstrou habilidade ao evitar 
radicalizações políticas. Ela conseguiu encontrar um ponto de equilíbrio 
entre os anseios de protestantes e católicos, ao mesmo tempo em que se 
firmou a sua posição como líder da Igreja Anglicana: “para mim, há apenas 
um Jesus Cristo e uma fé. O resto são trivialidades”, declarou certa vez. 
Uma ameaça constante ao seu reinado eram as tramas encabeçadas pela 
sua prima Mary, chamada de “rainha dos escoceses”. Apesar de tê-la mantido 
presa por 17 anos, Elizabeth sempre descobria que Mary estava por trás 
das várias tentativas católicas de derrubá-la. Após hesitar muito, Elizabeth 
ordenou a execução de Mary em 1587 (SILVA, 2005, pp. 108-109).
Elizabeth realmente tinha uma personalidade forte, e isso influenciou significativamente nas suas 
decisões políticas. 
Apesar de toda a turbulência política, religiosa e cultural do século XVI, 
causada pela Reforma Protestante e o Renascimento, o forte sentimento 
nacionalista representado pela figura de Elizabeth I e a habilidade política 
dos conselheiros reais nos assuntos internos conseguiram manter o país 
unido até a morte da rainha em 1604.
Como Elizabeth era a rainha virgem, obviamente ela não tinha deixado 
herdeiros para a coroa. Pelas leis de sucessão da Inglaterra, a coroa foi para 
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o seu primo, James VI, coroado rei da Escócia desde 1578, quando tinha 
apenas doze anos.
Com James VI, agora James I da Inglaterra, a dinastia Stuart se iniciou. Como se poderá constatar, 
ela foi infinitamente menos bem-sucedida que a dinastia Tudor, mas foi a protagonista dos eventos que 
levaram a Inglaterra a um fato inédito em sua história até então e que até hoje nunca mais se repetiu: 
um governo republicano (SILVA, 2005, p. 109). 
Figura 3
James I era teimoso, indolente. Seu governo ocorreu entre 1604 e 1625, trazendo muitos problemas 
para a Grã-Bretanha.
James I tinha a fama de intelectual, presunçoso e indolente. Ele tinha 
uma capacidade tal de falar as coisas certas nos momentos errados que 
o rei francês Henrique IV foi levado a descrevê-lo como “o tolo mais 
sábio da cristandade”. Apesar disso, o início do governo do novo rei 
foi recebido com esperança tanto pelo povo quanto pelo Parlamento 
devido à sua experiência bem-sucedida na regência da Escócia. Mas, 
como foi dito anteriormente, as coisas não seriam fáceis para os Stuart.
Os problemas começaram quando James I pediu ao Parlamento autorização 
para elevar uma taxa com a finalidade de cobrir os rombos no cofre real 
deixados por Elizabeth I. O Parlamento concordou, mas exigiu em troca que 
James discutisse com eles a sua política interna e externa para a Inglaterra. 
Aí começaram os problemas do “tolo mais sábio da cristandade”. Invocando 
seu “direito divino”, ou seja, a crença de que o rei era um escolhido de Deus, 
James declarou que não precisava discutir seus atos com ninguém, criando 
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assim um desentendimento com o Parlamento. Infelizmente para James, 
o poder efetivo da sociedade inglesa estava cada vez mais nas mãos dos 
comerciantes e donos de terra que constituíam o Parlamento.
Outra crise instalada logo no início do reinado de James I foi caracterizada 
pela pressão do grupo religioso radical do Parlamento, que exigiu que o rei 
aprovasse leis contra os católicos. Apesar de ter cedido à pressão, James 
I não conseguiu satisfazer os parlamentos protestantes, ao mesmo tempo 
em que levantou a fúria dos católicos. Em uma tentativa de matar o rei e o 
Parlamento, estes católicos planejaram um atentado que ficaria conhecido 
como a Conspiração da Pólvora (SILVA, 2005, pp. 138-139).
Com tanto abuso de poder, o que poderá acontecer? Insatisfação popular e parlamentar. Um grupo 
de puritanos tentará tomar o poder da Grã-Bretanha.
O grupo radical religioso no Parlamento que costumava se opor a James 
I eram os puritanos. Seguidores das ideias de João Calvino e de outras 
correntes religiosas radicais como o presbiterianismo, os puritanos 
receberam esse nome devido às suas investidas em sua estrutura. James, por 
sua vez, dedicou seu reinado a fazer com que os puritanos se convertessem 
ao anglicanismo: “eu vou fazê-los se adaptar ou vou varrê-los para fora da 
terra”. E foi isso que aconteceu. Em 1620, a perseguição de James I levou um 
grupo de puritanos a embarcar no navio Mayflower e partir para a América. 
Nos próximo vinte anos, mais de vinte mil puritanos partiram para o Novo 
Mundo seguindo os lendários pioneiros do Mayflower (SILVA, 2005, pp. 139-
140).
Logo depois que James I foi deposto, Charles I assumiu e reinou entre 1625 e 1649. E a quê o 
Mayflower nos remete? Ao Novo Mundo, os Estados Unidos da América, que estavam no rumo de serem 
encontrados.
James I morreu em 1625, passando a coroa para o seu filho Charles I. Foi 
com este que a relação entre rei e Parlamento desandou de vez. Seguindo 
a mesma linha de seu pai – incluindo a perseguição religiosa –, Charles 
invocou seu “direito divino” para justificar suas ações arbitrárias, como 
a dissolução do Parlamento. Toda vez que precisava de dinheiro para 
suas campanhas militares, ele convocava o Parlamento e descumpria as 
promessas feitas aos seus membros em troca de dinheiro. Em agosto de 
1642, o Parlamento decidiu recusar a liberação de fundos para o rei. Em 
represália, Charles tentou prender cinco Parlamentares. Foi a gota final. A 
Guerra Civil foi declarada, dividindo a Inglaterra entre as tropas reais, os 
cavaliers, e aquelas do Parlamento, os roundheads. Os dois lados da guerra 
apresentavam características que a literatura da época viria a refletir.
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Do lado do rei havia os despreocupados e imprudentes cavaliers (cavalheiros 
ou cavaleiros), referência aos brutais caballeros espanhóis que tinham 
oprimido os protestantes dos Países Baixos durante a luta dos holandeses 
pela independência. Apesar das conotações do apelido, Charles autorizou 
seu uso, comentando que ele significava apenas “um gentil homem servindo 
seu rei a cavalo”.
Os primeiros soldados do lado do Parlamento foram os aprendizes de 
Londres. Usando cabelos bem curtos exemplificando a austeridade e a 
resolução puritana, eles ganhariam o apelido de roundheads (cabeças 
redondas) (SILVA, 2005, p.140).
Podemos notar que o poder do Parlamento começou a ficar cada vez mais forte e influente. Isso é 
sinal de que a forma de governo está abalada. Ninguém estava satisfeito com rei algum. O povo queria 
um representante. 
No começo, parecia que as experientes tropas reais se sairiam melhor na 
guerra, mas das fileiras puritanas se ergueu um gênio militar com o nome de 
Oliver Cromwell. Até a eclosão da guerra, ele era apenas um simples fidalgo do 
campo com inclinações religiosas puritanas que participava do Parlamento 
e pensara em emigrar para a América. Na guerra, ele uniformizou seus 
homens com as melhores armas e armaduras disponíveis e os exortava para 
a batalha com inflamados sermões religiosos. Além disso, Cromwell passou 
o comando geral para Thomas Fairfax, que ficou responsável pela cavalaria. 
Com isso, a maré da batalha virou a favor do Parlamento. Em pouco tempo, 
as tropas reais começaram a ficar sem fundos para

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