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Metodologia de Ensino de Língua Inglesa A sala de aula de Língua Inglesa e a formação para a cidadania Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Silvana Nogueira da Rocha Revisão Textual: Prof. Esp. Bruno Reis 5 • A sala de aula de Língua Inglesa Como já foi possível colher bastante informação sobre Metodologia de Ensino de Língua Inglesa ao longo das unidades, finalizaremos o nosso livro-texto, falando um pouco mais sobre a sala de aula de Língua Inglesa, centralizando agora a questão do letramento crítico, que é tão importante para a formação do cidadão. Você terá chance de refletir um pouco mais sobre as práticas de ensino de Língua Inglesa, tão bem detalhadas nas primeiras unidades, compará-las entre si, ressaltando seus pontos positivos e negativos, e decidir qual a melhor delas para que o aluno tenha um bom aproveitamento de seu aprendizado no segundo idioma. É necessário que você leia toda a parte teórica e complemente sua leitura com as dicas dadas, para ampliar ainda mais seus conhecimentos sobre o assunto. Nesta unidade estudaremos um pouco a dinâmica das salas de aula de Língua Inglesa, a interação entre professor e aluno, as atividades que facilitam o desenvolvimento do aprendizado, agregando valores para o aluno como ser ativo no processo de construção do conhecimento, e sua formação como cidadão. A sala de aula de Língua Inglesa e a formação para a cidadania • A formação para a cidadania 6 Unidade: A sala de aula de Língua Inglesa e a formação para a cidadania Contextualização Muito já foi estudado sobre métodos de ensino e parece que o assunto está sempre em constante mudança. O que era ideal há alguns anos, hoje parece não surtir um bom efeito no que se refere ao aprendizado sólido dos alunos. Sobre metodologias, sempre há alguém que prefere uma em relação a outra, expondo seus pontos positivos e negativos. Parece que tem a ver com as necessidades de cada um, não é mesmo? Parece que a maneira como se ensinava há alguns anos ficou um tanto fora de moda, pois hoje tem-se uma preocupação muito grande em não somente alfabetizar, mas sim formar cidadãos, prontos para os desafios de nossa sociedade. Quando falamos em um segundo idioma, seja qual for, não podemos destrinchar língua de cultura, pois as duas caminham juntas. A língua falada por um povo tem muito a ver com sua cultura, tradição, religião, crenças, etc. Problemas polêmicos, debatidos na atualidade, devem ser incorporados em nossos estudos linguísticos também, já que vivemos num mundo globalizado! Essas questões não podem ficar de fora do processo de aprendizado de um segundo idioma. E essa nova abordagem serve para minimizar os preconceitos que talvez possam surgir entre as diversas culturas existentes. Quando estudamos um segundo idioma, não estamos exaltando uma cultura em detrimento de outra, ou seja, não estamos desprezando o nosso e valorizando o outro ou vice-versa, mas sim, tentamos observar as semelhanças e diferenças existentes entre eles (língua e povo falante nativo) para que tenhamos uma visão mais completa desse povo e suas tradições. Assim, com uma proposta mais abrangente para o aprendizado de um segundo idioma, que não esteja centralizada apenas em questões da língua, gramaticalmente falando, pode-se propor ao aprendiz um desafio maior, para que se torne um ser ativo em sala de aula, com opiniões próprias e fundamentadas e, acima de tudo, mais bem preparado para interagir na sociedade em que vive. 7 A sala de aula de Língua Inglesa Diante disso, é importante repensarmos essa interação existente na sala de aula, questionando e avaliando sempre se o que é ensinado realmente contribui ou tem relevância para a formação desse indivíduo crítico. Sabemos que a interação positiva na sala de aula leva a experiências incríveis, pois revela as diferentes culturas de aprender e ensinar de professores e alunos, pois cada um tem suas crenças e razões para estarem ali naquele ambiente. Vamos fazer rapidamente uma retrospectiva entre a abordagem tradicional e a abordagem crítica observando o quadro abaixo para perceber o quão dinâmica é esta última e a quantidade de pontos positivos ela oferece no aprendizado de um segundo idioma, segundo Dourado (2007): Agora que você já estudou e se familiarizou com as ações didáticas do professor, os métodos e abordagens de ensino-aprendizagem, o processo avaliativo, as estratégias de leitura e os gêneros textuais no processo de aprendizado da Língua Inglesa, podemos refletir um pouco mais sobre a sala de aula de Língua Inglesa, mencionando e ressaltando a importância do letramento crítico e a formação para a cidadania. Todos nós sabemos que a sala de aula é o ambiente onde são realizados os momentos de interação entre aluno e professor, e entre os próprios alunos também. A sala de aula é, ou deveria ser, portanto, um ambiente em que todos têm muito a contribuir com sua bagagem cultural e experiência de vida, e as divergências encontradas encaradas como algo positivo, que somam e ajudam a formar indivíduos críticos, prontos para os desafios em nossa sociedade, em qualquer área de atuação. Fonte: T hinkstock/G etty Im ages 8 Unidade: A sala de aula de Língua Inglesa e a formação para a cidadania ABORDAGEM TRADICIONAL ABORDAGEM CRÍTICA Significados decodificáveis e estáveis Significados situados, contextualizados, negociados, dinâmicos Orientação cognitiva Orientação social e contextual Foco na competência individual Foco na competência realizada socialmente na interação Dicotomia falante nativo/não nativo (modelo de falante ideal) Falante nativo/não nativo em interação (comunicação intercultural) Falante nativo - modelo de competência Os falantes da língua em interação em diferentes contextos sociais Variante padrão: meta Variante padrão: mito Contextos comunicativos neutros Contextos ideologicamente moldados (tendo implicações reais para os participantes) Foco em ambientes formais de aprendizagem Foco no discurso num leque de contextos e esferas discursivas Aprendiz como sujeito (objeto) Aprendiz como identidade social, realizada em situações sociais específicas Busca de regras, métodos, consenso e soluções Reflexão sobre as contingências da situação comunicativa em foco Perspectiva externa ao contexto de produção Centralidade da perspectiva dos participantes Foco no desenvolvimento de competência comunicativa Foco nas dimensões contextuais e interacionais da lingua(gem) O “bom aprendiz” aprende O iniciante falso e autêntico faz parte de hierarquias sociais, que rotulam e discriminam Ênfase nas ‘dificuldades’ dos alunos Ênfase na ação discursiva. Problemas são vistos como fenômenos sociais possíveis, decorrentes de toda a ação social Falha de comunicação decorrente da interação nativo/não nativo Falha de comunicação inerente a toda situação de comunicação Conceitos-chave: interlíngua, fossilização, foreigner talk, near-nativeness Conceitos-chave: língua em uso, identidades e contextos sociais, relação linguagem e poder Ainda segundo Dourado (2007), podemos perceber que muitas coisas mudaram. Diferentemente de épocas anteriores em que predominava a racionalidade técnica, atualmente, o professor de inglês tem sido convidado a: deslocar sua prática pedagógica de acordo com visões tanto sócio-construtivistas de aprendizagem quanto críticas acerca da linguagem, promover e navegar em vivências de aprendizagem formativas, significativas, sensíveis à realidade local/ global e socialmente igualitárias, abarcar dimensões de valores e ética, de uma perspectiva não doutrinária, e oportunizar situações de aprendizagem na e da língua inglesa. 9 Para tanto, dentre os saberes necessários ao professor de língua inglesa em formação inicial e continuada, é conveniente destacar que é fundamental ter proficiência linguístico-discursiva na língua inglesa, que é o conhecimento declarativo (saber sobre) e procedural (saber como) da língua, (multi)letramentocrítico (geral e na língua inglesa), princípios da perspectiva sócio- construtivista de aprendizagem, premissas básicas de uma pedagogia crítica, teorias linguísticas e sociais de língua(gem), iniciativas mundiais de pedagogia crítica na área de inglês para falantes de outras línguas, consciência das concepções que sustentam seu fazer pedagógico, e capacidade de transposição didática, levando em consideração sua própria realidade de ensino. Sendo assim, fica mais lógico pensar (fazendo muito mais sentido então) que cada um de nós tem a capacidade de refletir sobre o que se espera do nosso local de estudo e de troca de experiências e informações, tendo em vista seu histórico particular cultural, social, político e econômico. Talvez seja por isso que tanto ouvimos falar que uma sala de aula é um lugar difícil de lidar e que o professor é um profissional que tem que ter muito jogo de cintura para atuar. Nada mais óbvio, não é mesmo? Afinal de contas, existem tantas divergências e pontos de vistas diferentes! Mas o primordial nesta questão é que toda a diferença deve ser respeitada acima de tudo. Convivendo num ambiente enriquecido pela escrita – um ambiente letrado – mesmo o professor de formação tradicional poderá aos poucos refletir sobre como propiciar atividades que, de fato, contribuam para o letramento de seu aluno, sobre como fazer e registrar as observações avaliativas, tanto para diagnosticar como para mensurar aprendizagem. E o professor virá talvez, nesse percurso reflexivo de letramento e autoformação, abandonar atividades que só permitem se preocupar com o tema da redação, que será seguida da atividade de ler, prestando atenção apenas à entonação, postura correta e pontuação durante a leitura. Fonte: T hinkstock/G etty Im ages Segundo Kleiman (2007), o entorno, o contexto em que se dá a prática social, precisa ser transformado. Não é possível levar a sério a heterogeneidade se os alunos não têm como se reunir em pequenos grupos para desenvolver atividades diferenciadas. A sala de aula deve contemplar espaços bem equipados para as atividades de toda a turma, como as rodas de leitura, para a atividade individual, ou para as atividades em pequenos grupos. É importante lembrar que ensinar a ler e escrever não é uma questão técnica. É uma questão política. 10 Unidade: A sala de aula de Língua Inglesa e a formação para a cidadania Então, nota-se que os papéis sociais são muito importantes para essa relação positiva, e os professores têm grande expectativa sobre o seu papel na sala de aula, como formadores de opinião. Está sempre refletindo sobre como deve prosseguir a lição, como anda seu planejamento de trabalho, que normalmente é amparado em um livro didático. Além disso, o professor também tem uma expectativa sobre o papel dos alunos, ou seja, preocupa-se como eles vão se comportar e de que modo será o andamento de suas atividades. Segundo Silva (2005), se de um lado, há essa preocupação do professor em cumprir com seu papel, os alunos, por sua vez, também possuem expectativas sobre o papel do professor. Podemos então dizer que a interação entre as expectativas entre professor e aluno é que vai determinar o sucesso e progresso da lição. Em Síntese Podemos dizer que a atuação do estudante na interação em sala de aula se caracteriza, segundo Allwright (1984:160-161), por três maneiras de participação. A mais tradicional é denominada compliance, isto é, o cumprimento adequado do papel do aluno de acordo com a atividade proposta pelo professor. Este tipo de atuação é muito comum nas salas de aula cujo professor é o controlador do tópico do discurso e cujas atividades são baseadas em pergunta-resposta- avaliação. Isto é, “é o professor que faz as perguntas sobre as respostas que já sabe, que controla o discurso e que, portanto, detém o poder” (MOITA LOPES, 1996:98). O segundo modo de atuação é conhecido como navigation, em que os alunos, através da fala, esclarecem dúvidas e confirmam a sua compreensão sobre o assunto estudado. Essa participação do aluno possibilita observar como o estudante individualiza os conteúdos fornecidos em aula, direcionando-o para as suas necessidades particulares. Além disso, essa forma de atuação pode ser vista como um simples tipo de negociação de sentido que pode ajudar a compreensão e pode contribuir para o desenvolvimento da língua-alvo. Com certeza, trata-se de uma forma de atuação menos assimétrica que a compliance. A terceira forma de atuação do aluno na interação, em sala de aula, denominada negotiation é possivelmente a menos usada pelos estudantes e professores. Nessa forma, o aluno interage com o professor por meio de padrões de interação praticamente simétricos, em busca de um consenso, ou seja, não cabe nesse tipo de interação as decisões unilaterais do professor. Segundo Allwright (1984) esse tipo de participação dos alunos é pouco frequente, pois é considerada arriscada para os aprendizes e exige muito do professor, já que é um tipo de interação altamente desafiadora para eles. As salas de aula de língua estrangeira sempre trabalham com certa dificuldade para motivar todos os seus alunos. Esse fato é de suma importância para a realização do processo interacional e principalmente para a aquisição da língua-alvo, pois se o professor não consegue motivar os alunos para aquela determinada lição que está em sua agenda, certamente está fadado ao fracasso, já que não há uma dinâmica nas aulas e interação entre o grupo e o professor. Dessa maneira, haverá um desinteresse real pela atividade, o que leva os alunos ao descontentamento e a um possível veto da atividade, pois se não há uma colaboração às propostas interativas do professor, elas simplesmente não são realizadas pelo descrédito dos estudantes. 11 Acho que todos nós temos uma historinha para contar sobre o ensino de Língua Inglesa que tivemos na escola, não é mesmo? Algumas são traumáticas, outras desanimadoras, e outras ainda até engraçadas. Porém, o que se nota mesmo é que nunca vemos pessoas satisfeitas com o seu primeiro contato com o segundo idioma. Daí, temos duas possibilidades: aquelas que desistem definitivamente de aprender, pois acham que “não nasceram para a coisa” e as que persistem, por serem apaixonadas pela língua e pela cultura, dando continuidade aos estudos, graduando-se, especializando-se e aprofundando-se cada vez mais no assunto. Não se cansam de pesquisar e trilhar caminhos desafiadores para ser um bom profissional dentro da sala de aula e um cidadão crítico e participativo fora dela. Seu objetivo é sempre encontrar a maneira ideal de prender a atenção do seu aluno e facilitar o seu aprendizado, sem deixar traumas ou feridas. Em qual caso você se enquadra? O letramento crítico Ao contrário do tradicional conceito de alfabetização, que todos nós sabemos muito bem, em que os alunos deveriam dominar as habilidades de leitura e escrita de forma mecânica, sem a preocupação com a capacidade de interpretar, compreender e criticar, o letramento apresenta-se como um processo em que o ensino da leitura e da escrita acontece dentro de um contexto social e que essa aprendizagem faça parte da vida dos alunos efetivamente. Fonte: Thinkstock/Getty Images As habilidades adquiridas na escola devem fazer parte das relações comunicativas dos indivíduos. Os textos de circulação social contribuem com o letramento dos indivíduos, de forma significativa. Segundo Soares (1998), o letramento tem um sentido ampliado da alfabetização, pois consiste em práticas de leitura e escrita, que vão além da alfabetização funcional, em que indivíduos são alfabetizados, mas não sabem fazer uso da leitura e da escrita. Muitos não têm habilidade sequer para preencher um requerimento. Você já vivenciou isso? Algo a ser pensado com bastante seriedade, não é mesmo? 12 Unidade: A sala de aula de Língua Inglesa e a formação para a cidadania A prática social é possível quando sabemos como agir discursivamentenuma determinada situação, ou seja, quando sabemos qual gênero do discurso usar. Talvez agora você tenha percebido a importância de se utilizar os gêneros textuais no aprendizado de um segundo idioma, conforme vimos na Unidade V. Eles viabilizam a comunicação na prática social. No entanto, isso não significa que a atividade da aula deva ser organizada em função de qual gênero ensinar. De acordo com Kleiman (2005), o conceito de letramento e suas implicações para a alfabetização leva a sério a heterogeneidade de uma turma, abrindo mão de pré-requisitos e progressões rígidas em relação à apresentação de conteúdos curriculares. Na concepção social da escrita, não é a progressão do mais fácil ao mais difícil o que facilita ou dificulta a aprendizagem, até porque não é possível dizer, com qualquer grau de segurança, o que torna algo fácil ou difícil a um indivíduo. Se, na prática social, o aluno se depara com textos não simplificados, numa sala de aula em que a prática social é estruturante, o aluno deveria também se deparar com os textos que circulam na vida social. É uma maneira de você alertá-lo sobre as coisas que existem na sociedade, e com as quais ele terá contato em algum momento de sua existência. As letras, as sílabas e as palavras passam a ser ensinadas a partir de elementos salientes, tanto verbais como não verbais, que se destacam nesses textos (manchetes, títulos, elementos ilustrativos). Nessa perspectiva, as famosas “dificuldades ortográficas”, sempre tardias na progressão tradicional, podem aparecer em qualquer etapa do processo, desde que sejam apreendidas dentro de um contexto significativo. Portanto, já foi possível perceber que o processo de alfabetização pode acontecer a partir de outros suportes, como jornais e revistas, não ficando restrito apenas ao livro didático. Assim, as habilidades de leitura e escrita acontecem dentro de situações reais de comunicação, ou seja, situações que fazem sentido para o aluno, pois são vivenciadas em seu dia a dia. Fonte: T hinkstock/G etty Im ages Você Sabia ? O professor, nesse processo, como mediador, serve para preparar o aluno para a realidade, pois está antecipando, ou melhor, mostrando os obstáculos que a leitura de tais textos pode apresentar. E a leitura, na atividade cooperativa com seus colegas, cada um com seus diferentes saberes, pontos fracos e fortes, enriquece a aula, propondo discussões e promovendo a exposição dos seus pontos de vista. 13 Segundo Soares (2003), letramento é o estado ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita. A mesma autora (1998) argumenta que é possível alfabetizar letrando, por meio de práticas de leitura e escrita, com materiais de qualidade como textos de jornais, revistas, literatura infantil, que substituam as velhas cartilhas que ensinam sentenças como “Vovô viu a uva”, em situações que as crianças, muitas vezes, nunca viram ou, ao menos, comeram uma uva. A autora ressalta ainda a importância do aluno ser alfabetizado em um contexto em que leitura e escrita tenham sentido. Além desse aspecto positivo, há de se lembrar e levar em consideração a riqueza de imagens e diversidade de gêneros textuais que esses suportes apresentam, o que pode contribuir com a visão crítica e cidadã dos envolvidos no processo de aprendizagem. De acordo com Kleiman (2007), o letramento tem como objeto de reflexão, de ensino, ou de aprendizagem os aspectos sociais da língua escrita. Assumir como objetivo o letramento no contexto do ciclo escolar implica adotar na alfabetização uma concepção social da escrita, em contraste com uma concepção tradicional que considera a aprendizagem de leitura e produção textual como a aprendizagem de habilidades individuais. Essa escolha implica que a pergunta estruturadora do planejamento das aulas seja “quais os textos significativos para o aluno e para sua comunidade”, em vez de “qual a sequência mais adequada de apresentação dos conteúdos” (geralmente, as letras para formarem sílabas, as sílabas para formarem palavras e das palavras para formarem frases). Para ela, determinar o que seja um texto significativo para a comunidade implica, por sua vez, partir da bagagem cultural diversificada dos alunos, que, antes de entrarem na escola, já são participantes de atividades corriqueiras de grupos sociais que, central ou perifericamente, com diferentes modos de participação (mais ou menos autônomos, mais ou menos diversificados, mais ou menos prestigiados), já pertencem a uma cultura letrada. É justamente porque devemos partir dessa bagagem cultural diversificada dos alunos como participantes de uma cultura letrada que podemos permitir que o aluno tome parte de forma variada das situações e crie táticas diferentes para lidar com suas limitações ou potencialidades nessas situações diversas. Para Pensar Uma atividade que envolve o uso da língua escrita (um evento de letramento) não se diferencia de outras atividades da vida social: é uma atividade coletiva e cooperativa, porque envolve vários participantes, com diferentes saberes, que são mobilizados segundo interesses, intenções e objetivos individuais e metas comuns. Já a prática de uso da escrita dentro da escola envolve prioritariamente a demonstração da capacidade individual de realizar todos os aspectos de todas as atividades, seja: soletrar, ler em voz alta, responder a perguntas oralmente ou por escrito, escrever uma redação ou um ditado. Apesar das práticas homogeneizadoras ensinadas/aprendidas na escola, é importante incentivarmos nossos alunos a aportarem suas compreensões diversas, provenientes exatamente das experiências e aprendizagens extremamente variadas por que passaram, antes mesmo de ocuparem os bancos escolares. Diante disso, o papel do professor muda sob esta perspectiva de alfabetização e letramento como prática social, e uma grande vantagem do enfoque socialmente contextualizado é a autonomia que ele ganha no planejamento das unidades de ensino e na escolha de materiais didáticos. 14 Unidade: A sala de aula de Língua Inglesa e a formação para a cidadania O professor volta a ser o profissional que decide sobre um curso de ação com base em sua observação e seu diagnóstico da situação. É ele que deverá decidir questões relativas à seleção dos materiais, saberes e práticas que se situam entre o local, o aplicado e o funcional à vida dos alunos e da comunidade e o socialmente relevante, que um dia poderá ser utilizado para melhorar o futuro do próprio aluno e de seu grupo. Finalmente, é importante também que haja uma negociação daquilo que pode não interessar momentaneamente ao aluno, mas precisa ser ensinado pela sua real relevância em nossa cultura e sociedade. A perspectiva não se exime de focalizar o impacto social da escrita, particularmente as mudanças e transformações sociais decorrentes das novas tecnologias e novos usos da escrita, com seus reflexos no homem. Esse foco necessariamente amplia a concepção do que venha a ser a escrita, antes reservada para os textos literários – de fato, os textos extraordinários que pouquíssimos conseguem escrever – passando a incluir os textos do cotidiano, os textos comuns do dia a dia, mesmo que sejam utilizados como recursos pedagógicos para construir a autossegurança do aluno em relação à sua própria capacidade de ler e escrever: listas, bilhetes, receitas, avisos, letreiros, propagandas outdoor, placas de rua, crachás, camisetas, enfim, a escrita ambiental em sua enorme variedade passa a ser assim reconhecida e utilizada. Essa ampliação se estende também às instituições em que os textos circulam. Embora os textos das instituições públicas de prestígio forneçam, de direito, grande parte do acervo a ser incluído, também os textos que circulam em outras esferas, como a da intimidade doméstica (bilhetes, recados e cartas pessoais, contas, extratos e cheques, exames, laudos, carteiras de vacinação, boletim escolar e diplomas)podem ser incluídos. Ou seja, o aluno pode escrever sua história familiar fazendo legendas e notas para as fotos de um álbum de família e consultando certidões; pode ler e recortar anúncios; fazer os registros de saúde, de educação, dos membros da família; agendar, rotular. As funções da escrita na vida cotidiana, mesmo que limitadas e finitas, introduzirão práticas de identidade, de contato e de comunicação, assim como gêneros que terão uma vida muito útil em muitas outras práticas sociais. O letramento crítico e a interculturalidade nas aulas de Língua Inglesa Ao se pensar sobre ensino de uma língua estrangeira na escola é imprescindível levar em consideração que dentro deste contexto o currículo necessita voltar-se para a formação do educando para a cidadania visando superar visões utilitaristas que buscam apenas atingir fins comunicativos e que ao mesmo tempo “restringem as possibilidades de sua aprendizagem como experiência de identificação social e cultural (DCE – LEM 2008, p. 53)”. O professor precisa ter autonomia para decidir sobre a inclusão daquilo que pode e deve fazer parte do cotidiano da escola, porque é legítimo e/ou imediatamente necessário, e, por outro lado, sobre a exclusão daqueles conteúdos desnecessários e irrelevantes para a inserção do aluno nas práticas letradas que, parece-nos, persistir por inércia e tradição. 15 Nesse sentido, é necessário incorporar novas práticas que possibilitem o debate de temas que auxiliem na (re) construção da criticidade do educando fazendo-o entrar em contato com aspectos da vida social e cultural. Assim, os alunos podem se imaginar de outro modo; para estar envolvidos eticamente com a diferença; e para entender as implicações potenciais de seus pensamentos e ações. O ensino sob a ótica do letramento crítico propõe a “problematização dos textos como forma de refletir sobre os sentidos construídos e de (re)conhecer e (re)elaborar as construções discursivas de si e dos outros no processo de leitura (EDMUNDO, 2010, p. 34-35)”.Fo nt e: T hi nk st oc k/ G et ty Im ag es A formação para a cidadania Antes de falarmos sobre o ensino de língua inglesa e a formação para a cidadania, vamos verificar o conceito de cidadania. Segundo Roberto Alejandro (1998), é preciso ver cidadania não como uma categoria jurídica ou conjunto de atitudes cívicas, mas como horizonte, como prática, como um elemento importante da condição humana. Para ele, cidadania é um texto que se revela através da relação entre as ações de cidadãos e as instituições políticas. É sempre histórica, datada, enraizada em grupos sociais específicos, que têm agendas políticas diferenciadas e que podem atribuir sentidos diferentes aos mesmos conceitos. O conceito que as pessoas, de uma maneira geral, têm sobre cidadania é sinônimo de direitos. Portanto, ainda nessa linha de raciocínio, estariam o direito à saúde, à educação, à informação, ou mesmo direitos linguísticos. Quando tratamos de exclusão social e falamos de cidadania, provavelmente temos a preocupação em vinculá-la às necessidades básicas, um patamar a ser assegurado a todos. Assim, falar de cidadania seria falar da garantia de respeito a esses direitos. Há notícias sobre “cidadania” sendo veiculadas na imprensa, como: “os alunos estão tendo lições de cidadania, pois aprendem a se candidatar, fazer campanha e serem eleitos para cargos de diretores-mirins”; ou “ações para garantir cidadania», tendo sua proximidade no texto com «defesa dos direitos humanos e organização das populações mais carentes». Portanto, cidadania seria participação, estando vinculada a direitos. A busca de sentido no Novo Dicionário Aurélio nos revela que cidadão é S.m. 1. Indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado, ou no desempenho de seus deveres para com este. 2. Habitante da cidade. 3. Pop. Indivíduo, homem, sujeito. 16 Unidade: A sala de aula de Língua Inglesa e a formação para a cidadania Esses modos de ver cidadania, que estão associados à tradição liberal, parecem tão arraigados que nem pensamos em definições alternativas. Partindo do princípio que a cidadania é construída discursivamente, na interação com os outros, para determinação do bem comum, podemos entender a sala de aula de língua estrangeira como um espaço em que essa visão pode ser encorajada ou desestimulada dependendo da visão de linguagem que transmitimos. O ensino de línguas estrangeiras pode assim ser encarado com uma finalidade educacional na medida em que favorece a participação no processo discursivo. Em Síntese Assim, aprender sobre linguagem, seja ela estrangeira ou materna, possibilita aos indivíduos se constituírem enquanto cidadãos - interagindo com outros e dando assim existência à cidadania, que deverá ser construída; e os educandos, desta maneira, seriam levados a pensar a pluralidade, analisá-la, ouvir pontos de vista alternativos. Resumidamente, seriam levados a deliberar, ou seja, ajudar a criar um público. Portanto, os desafios, os objetivos e as necessidades do ensino de língua inglesa atualmente estão além do desenvolvimento de funções básicas de: solicitar informação, cumprimentar, desculpar-se, participar de situações, prioritariamente, consensuais, com um propósito comunicativo claro e pré-estabelecido, comunicar-se em um contexto específico ou ‘realizar’ algo pela língua, pois existe a necessidade premente de lidar com falta de consenso, embates, visões divergentes, muitas vezes conflitantes ou excludentes. É necessário comunicar-se interculturalmente, questionar, resistir, agir e transformar, perceber relação estreita existente entre mecanismos discursivos, constitutivos da língua(gem) e questões de ideologia, identidade e poder (DOURADO; ESCALANTE, 2007). 17 Material Complementar Explore https://bit.ly/3wYrNpX. http://vimeo.com/31296412. Acesso em 15 de janeiro de 2014. 18 Unidade: A sala de aula de Língua Inglesa e a formação para a cidadania Referências ALEJANDRO, R. Models of citizenship. Kettering Review. Spring 1998. p. 6-12. ALLWRIGHT, R. The importance of interaction in classroom language learning. Applied Linguistics 5 (2), p. 156-171, 1984. EDMUNDO, E. S. O ensino de inglês na escola pública sob a perspectiva do letramento crítico. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em Letras: Estudos Linguísticos, 2010. Disponível em: http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/handle/1884/24961/DISSERTACAO%20 ELIANA%20SANTIAGO.pdf?sequence=1. Acesso em: 10 de janeiro de 2014. DOURADO, M.; ESCALANTE, M. Conhecimentos de língua estrangeira. In: REFERENCIAIS curriculares para o ensino médio da Paraíba. João Pessoa: A União, 2007, p. 101-213. GIMENEZ, T. O ensino de língua estrangeira e a formação do público. Universidade Estadual de Londrina. KLEIMAN, A. Preciso “ensinar” o letramento? Não basta ensinar a ler e escrever? Cefiel/Unicamp & MEC, 2005. ________________. O conceito de letramento e suas implicações para a alfabetização. Projeto temático letramento do professor. Unicamp, 2007. MOITA LOPES, L. P. da. Oficina de linguística aplicada. Campinas, SP: Mercado de Letras,1996. SEVERINO, A. J. Filosofia da Educação: construindo a cidadania. São Paulo: FTD, 1994. SILVA, A. T. da. Idealização e realização na sala de aula de língua inglesa: foco na construção da interação. 2003, 270f. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, São José do Rio Preto, SP. 19 Anotações www.cruzeirodosulvirtual.com.br Campus Liberdade Rua Galvão Bueno, 868 CEP 01506-000 São Paulo SP Brasil Tel: (55 11) 3385-3000
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