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CONTEUDO INGLES VI

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Metodologia de Ensino 
de Língua Inglesa
A sala de aula de Língua Inglesa e a formação para a cidadania
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Profa. Ms. Silvana Nogueira da Rocha
Revisão Textual:
Prof. Esp. Bruno Reis
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• A sala de aula de Língua Inglesa
Como já foi possível colher bastante informação sobre Metodologia de Ensino de Língua 
Inglesa ao longo das unidades, finalizaremos o nosso livro-texto, falando um pouco mais 
sobre a sala de aula de Língua Inglesa, centralizando agora a questão do letramento crítico, 
que é tão importante para a formação do cidadão.
Você terá chance de refletir um pouco mais sobre as práticas de ensino de Língua Inglesa, 
tão bem detalhadas nas primeiras unidades, compará-las entre si, ressaltando seus pontos 
positivos e negativos, e decidir qual a melhor delas para que o aluno tenha um bom 
aproveitamento de seu aprendizado no segundo idioma.
É necessário que você leia toda a parte teórica e complemente sua leitura com as dicas 
dadas, para ampliar ainda mais seus conhecimentos sobre o assunto.
Nesta unidade estudaremos um pouco a dinâmica das salas de 
aula de Língua Inglesa, a interação entre professor e aluno, as 
atividades que facilitam o desenvolvimento do aprendizado, 
agregando valores para o aluno como ser ativo no processo de 
construção do conhecimento, e sua formação como cidadão.
A sala de aula de Língua Inglesa e a 
formação para a cidadania
• A formação para a cidadania
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Unidade: A sala de aula de Língua Inglesa e a formação para a cidadania
Contextualização
Muito já foi estudado sobre métodos de ensino e parece que o assunto está sempre em 
constante mudança.
O que era ideal há alguns anos, hoje parece não surtir um bom efeito no que se refere ao 
aprendizado sólido dos alunos.
Sobre metodologias, sempre há alguém que prefere uma em relação a outra, expondo seus 
pontos positivos e negativos. Parece que tem a ver com as necessidades de cada um, não é mesmo?
Parece que a maneira como se ensinava há alguns anos ficou um tanto fora de moda, pois 
hoje tem-se uma preocupação muito grande em não somente alfabetizar, mas sim formar 
cidadãos, prontos para os desafios de nossa sociedade.
Quando falamos em um segundo idioma, seja qual for, não podemos destrinchar língua de 
cultura, pois as duas caminham juntas. A língua falada por um povo tem muito a ver com sua 
cultura, tradição, religião, crenças, etc. Problemas polêmicos, debatidos na atualidade, devem ser 
incorporados em nossos estudos linguísticos também, já que vivemos num mundo globalizado!
Essas questões não podem ficar de fora do processo de aprendizado de um segundo idioma. 
E essa nova abordagem serve para minimizar os preconceitos que talvez possam surgir entre as 
diversas culturas existentes.
Quando estudamos um segundo idioma, não estamos exaltando uma cultura em detrimento 
de outra, ou seja, não estamos desprezando o nosso e valorizando o outro ou vice-versa, mas 
sim, tentamos observar as semelhanças e diferenças existentes entre eles (língua e povo falante 
nativo) para que tenhamos uma visão mais completa desse povo e suas tradições. 
Assim, com uma proposta mais abrangente para o aprendizado de um segundo idioma, que 
não esteja centralizada apenas em questões da língua, gramaticalmente falando, pode-se propor ao 
aprendiz um desafio maior, para que se torne um ser ativo em sala de aula, com opiniões próprias 
e fundamentadas e, acima de tudo, mais bem preparado para interagir na sociedade em que vive.
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A sala de aula de Língua Inglesa
Diante disso, é importante repensarmos essa interação existente na sala de aula, questionando 
e avaliando sempre se o que é ensinado realmente contribui ou tem relevância para a formação 
desse indivíduo crítico.
Sabemos que a interação positiva na sala de aula leva a experiências incríveis, pois revela as 
diferentes culturas de aprender e ensinar de professores e alunos, pois cada um tem suas crenças 
e razões para estarem ali naquele ambiente.
Vamos fazer rapidamente uma retrospectiva entre a abordagem tradicional e a abordagem 
crítica observando o quadro abaixo para perceber o quão dinâmica é esta última e a quantidade 
de pontos positivos ela oferece no aprendizado de um segundo idioma, segundo Dourado (2007):
Agora que você já estudou e se familiarizou com as ações didáticas do professor, os métodos e 
abordagens de ensino-aprendizagem, o processo avaliativo, as estratégias de leitura e os gêneros 
textuais no processo de aprendizado da Língua Inglesa, podemos refletir um pouco mais sobre a 
sala de aula de Língua Inglesa, mencionando e ressaltando a importância do letramento crítico e 
a formação para a cidadania.
Todos nós sabemos que a sala de aula é o ambiente onde são realizados os momentos de interação 
entre aluno e professor, e entre os próprios alunos também. A sala de aula é, ou deveria ser, portanto, 
um ambiente em que todos têm muito a contribuir com sua bagagem cultural e experiência de 
vida, e as divergências encontradas encaradas como algo positivo, que somam e ajudam a formar 
indivíduos críticos, prontos para os desafios em nossa sociedade, em qualquer área de atuação.
Fonte: T
hinkstock/G
etty Im
ages
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Unidade: A sala de aula de Língua Inglesa e a formação para a cidadania
ABORDAGEM TRADICIONAL ABORDAGEM CRÍTICA
Significados decodificáveis e estáveis Significados situados, contextualizados, 
negociados, dinâmicos
Orientação cognitiva Orientação social e contextual
Foco na competência individual Foco na competência realizada socialmente 
na interação
Dicotomia falante nativo/não nativo (modelo de 
falante ideal)
Falante nativo/não nativo em interação 
(comunicação intercultural)
Falante nativo - modelo de competência Os falantes da língua em interação em diferentes 
contextos sociais
Variante padrão: meta Variante padrão: mito
Contextos comunicativos neutros Contextos ideologicamente moldados (tendo 
implicações reais para os participantes)
Foco em ambientes formais de aprendizagem Foco no discurso num leque de contextos e 
esferas discursivas
Aprendiz como sujeito (objeto) Aprendiz como identidade social, realizada em 
situações sociais específicas
Busca de regras, métodos, consenso e soluções Reflexão sobre as contingências da situação 
comunicativa em foco
Perspectiva externa ao contexto de produção Centralidade da perspectiva dos participantes
Foco no desenvolvimento de competência 
comunicativa
Foco nas dimensões contextuais e interacionais 
da lingua(gem)
O “bom aprendiz” aprende O iniciante falso e autêntico faz parte de 
hierarquias sociais, que rotulam e discriminam
Ênfase nas ‘dificuldades’ dos alunos
Ênfase na ação discursiva. Problemas são vistos 
como fenômenos sociais possíveis, decorrentes 
de toda a ação social
Falha de comunicação decorrente da interação 
nativo/não nativo
Falha de comunicação inerente a toda situação 
de comunicação
Conceitos-chave: interlíngua, fossilização, 
foreigner talk, near-nativeness
Conceitos-chave: língua em uso, identidades e 
contextos sociais, relação linguagem e poder
Ainda segundo Dourado (2007), podemos perceber que muitas coisas mudaram. 
Diferentemente de épocas anteriores em que predominava a racionalidade técnica, atualmente, 
o professor de inglês tem sido convidado a: deslocar sua prática pedagógica de acordo com visões 
tanto sócio-construtivistas de aprendizagem quanto críticas acerca da linguagem, promover e 
navegar em vivências de aprendizagem formativas, significativas, sensíveis à realidade local/
global e socialmente igualitárias, abarcar dimensões de valores e ética, de uma perspectiva não 
doutrinária, e oportunizar situações de aprendizagem na e da língua inglesa.
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Para tanto, dentre os saberes necessários ao professor de língua inglesa em formação inicial e 
continuada, é conveniente destacar que é fundamental ter proficiência linguístico-discursiva na 
língua inglesa, que é o conhecimento declarativo 
(saber sobre) e procedural (saber como) da 
língua, (multi)letramentocrítico (geral e na língua 
inglesa), princípios da perspectiva sócio-
construtivista de aprendizagem, premissas básicas 
de uma pedagogia crítica, teorias linguísticas e 
sociais de língua(gem), iniciativas mundiais de 
pedagogia crítica na área de inglês para falantes 
de outras línguas, consciência das concepções 
que sustentam seu fazer pedagógico, e capacidade 
de transposição didática, levando em 
consideração sua própria realidade de ensino.
Sendo assim, fica mais lógico pensar (fazendo muito mais sentido então) que cada um 
de nós tem a capacidade de refletir sobre o que se espera do nosso local de estudo e de 
troca de experiências e informações, tendo em vista seu histórico particular cultural, social, 
político e econômico.
Talvez seja por isso que tanto ouvimos falar que uma sala de aula é um lugar difícil de lidar e 
que o professor é um profissional que tem que ter muito jogo de cintura para atuar. Nada mais 
óbvio, não é mesmo? Afinal de contas, existem tantas divergências e pontos de vistas diferentes! 
Mas o primordial nesta questão é que toda a diferença deve ser respeitada acima de tudo.
Convivendo num ambiente enriquecido pela escrita – 
um ambiente letrado – mesmo o professor de formação 
tradicional poderá aos poucos refletir sobre como propiciar 
atividades que, de fato, contribuam para o letramento de 
seu aluno, sobre como fazer e registrar as observações 
avaliativas, tanto para diagnosticar como para mensurar 
aprendizagem. E o professor virá talvez, nesse percurso 
reflexivo de letramento e autoformação, abandonar 
atividades que só permitem se preocupar com o tema da 
redação, que será seguida da atividade de ler, prestando 
atenção apenas à entonação, postura correta e pontuação 
durante a leitura.
Fonte: T
hinkstock/G
etty Im
ages
Segundo Kleiman (2007), o entorno, o contexto em que se dá a prática social, precisa ser 
transformado. Não é possível levar a sério a heterogeneidade se os alunos não têm como se reunir 
em pequenos grupos para desenvolver atividades diferenciadas. A sala de aula deve contemplar 
espaços bem equipados para as atividades de toda a turma, como as rodas de leitura, para a 
atividade individual, ou para as atividades em pequenos grupos.
É importante lembrar 
que ensinar a ler e 
escrever não é uma 
questão técnica. É uma 
questão política.
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Unidade: A sala de aula de Língua Inglesa e a formação para a cidadania
Então, nota-se que os papéis sociais são muito importantes para essa relação positiva, e os 
professores têm grande expectativa sobre o seu papel na sala de aula, como formadores de 
opinião. Está sempre refletindo sobre como deve prosseguir a lição, como anda seu planejamento 
de trabalho, que normalmente é amparado em um livro didático.
Além disso, o professor também tem uma expectativa sobre o papel dos alunos, ou seja, 
preocupa-se como eles vão se comportar e de que modo será o andamento de suas atividades.
Segundo Silva (2005), se de um lado, há essa preocupação do professor em cumprir com 
seu papel, os alunos, por sua vez, também possuem expectativas sobre o papel do professor. 
Podemos então dizer que a interação entre as expectativas entre professor e aluno é que vai 
determinar o sucesso e progresso da lição.
Em Síntese
Podemos dizer que a atuação do estudante na interação em sala de aula se caracteriza, segundo 
Allwright (1984:160-161), por três maneiras de participação. A mais tradicional é denominada 
compliance, isto é, o cumprimento adequado do papel do aluno de acordo com a atividade 
proposta pelo professor. Este tipo de atuação é muito comum nas salas de aula cujo professor 
é o controlador do tópico do discurso e cujas atividades são baseadas em pergunta-resposta-
avaliação. Isto é, “é o professor que faz as perguntas sobre as respostas que já sabe, que controla 
o discurso e que, portanto, detém o poder” (MOITA LOPES, 1996:98).
O segundo modo de atuação é conhecido como navigation, em que os alunos, através da fala, 
esclarecem dúvidas e confirmam a sua compreensão sobre o assunto estudado. Essa participação 
do aluno possibilita observar como o estudante individualiza os conteúdos fornecidos em aula, 
direcionando-o para as suas necessidades particulares. Além disso, essa forma de atuação pode 
ser vista como um simples tipo de negociação de sentido que pode ajudar a compreensão e 
pode contribuir para o desenvolvimento da língua-alvo. Com certeza, trata-se de uma forma de 
atuação menos assimétrica que a compliance.
A terceira forma de atuação do aluno na interação, em sala de aula, denominada negotiation 
é possivelmente a menos usada pelos estudantes e professores. Nessa forma, o aluno interage 
com o professor por meio de padrões de interação praticamente simétricos, em busca de um 
consenso, ou seja, não cabe nesse tipo de interação as decisões unilaterais do professor.
Segundo Allwright (1984) esse tipo de participação dos alunos é pouco frequente, pois 
é considerada arriscada para os aprendizes e exige muito do professor, já que é um tipo de 
interação altamente desafiadora para eles.
As salas de aula de língua estrangeira sempre trabalham com certa dificuldade para motivar 
todos os seus alunos. Esse fato é de suma importância para a realização do processo interacional 
e principalmente para a aquisição da língua-alvo, pois se o professor não consegue motivar os 
alunos para aquela determinada lição que está em sua agenda, certamente está fadado ao 
fracasso, já que não há uma dinâmica nas aulas e interação entre o grupo e o professor. Dessa 
maneira, haverá um desinteresse real pela atividade, o que leva os alunos ao descontentamento 
e a um possível veto da atividade, pois se não há uma colaboração às propostas interativas do 
professor, elas simplesmente não são realizadas pelo descrédito dos estudantes.
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Acho que todos nós temos uma historinha para contar sobre o ensino de Língua Inglesa que 
tivemos na escola, não é mesmo? Algumas são traumáticas, outras desanimadoras, e outras 
ainda até engraçadas. Porém, o que se nota mesmo é que nunca vemos pessoas satisfeitas com 
o seu primeiro contato com o segundo idioma. Daí, temos duas possibilidades: aquelas que 
desistem definitivamente de aprender, pois acham que “não nasceram para a coisa” e as que 
persistem, por serem apaixonadas pela língua e pela cultura, dando continuidade aos estudos, 
graduando-se, especializando-se e aprofundando-se cada vez mais no assunto. Não se cansam 
de pesquisar e trilhar caminhos desafiadores para ser um bom profissional dentro da sala de aula 
e um cidadão crítico e participativo fora dela. Seu objetivo é sempre encontrar a maneira ideal 
de prender a atenção do seu aluno e facilitar o seu aprendizado, sem deixar traumas ou feridas.
Em qual caso você se enquadra?
O letramento crítico
Ao contrário do tradicional conceito de 
alfabetização, que todos nós sabemos muito 
bem, em que os alunos deveriam dominar 
as habilidades de leitura e escrita de forma 
mecânica, sem a preocupação com a 
capacidade de interpretar, compreender 
e criticar, o letramento apresenta-se como 
um processo em que o ensino da leitura e 
da escrita acontece dentro de um contexto 
social e que essa aprendizagem faça parte 
da vida dos alunos efetivamente. Fonte: Thinkstock/Getty Images
As habilidades adquiridas na escola devem fazer parte das relações comunicativas dos indivíduos.
Os textos de circulação social contribuem com o letramento dos indivíduos, de forma significativa.
Segundo Soares (1998), o letramento tem um sentido ampliado da alfabetização, pois consiste 
em práticas de leitura e escrita, que vão além da alfabetização funcional, em que indivíduos 
são alfabetizados, mas não sabem fazer uso da leitura e da escrita. Muitos não têm habilidade 
sequer para preencher um requerimento.
Você já vivenciou isso? Algo a ser pensado com bastante seriedade, não é mesmo?
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Unidade: A sala de aula de Língua Inglesa e a formação para a cidadania
A prática social é possível quando sabemos 
como agir discursivamentenuma determinada 
situação, ou seja, quando sabemos qual 
gênero do discurso usar.
Talvez agora você tenha percebido a 
importância de se utilizar os gêneros textuais 
no aprendizado de um segundo idioma, 
conforme vimos na Unidade V. Eles viabilizam a 
comunicação na prática social. No entanto, isso 
não significa que a atividade da aula deva ser 
organizada em função de qual gênero ensinar.
De acordo com Kleiman (2005), o conceito 
de letramento e suas implicações para a 
alfabetização leva a sério a heterogeneidade 
de uma turma, abrindo mão de pré-requisitos e 
progressões rígidas em relação à apresentação 
de conteúdos curriculares.
Na concepção social da escrita, não é a progressão do mais fácil ao mais difícil o que facilita 
ou dificulta a aprendizagem, até porque não é possível dizer, com qualquer grau de segurança, 
o que torna algo fácil ou difícil a um indivíduo.
Se, na prática social, o aluno se depara com textos não simplificados, numa sala de aula em 
que a prática social é estruturante, o aluno deveria também se deparar com os textos que circulam 
na vida social. É uma maneira de você alertá-lo sobre as coisas que existem na sociedade, e com 
as quais ele terá contato em algum momento de sua existência.
As letras, as sílabas e as palavras passam a ser ensinadas a partir de elementos salientes, 
tanto verbais como não verbais, que se destacam nesses textos (manchetes, títulos, elementos 
ilustrativos). Nessa perspectiva, as famosas “dificuldades ortográficas”, sempre tardias na 
progressão tradicional, podem aparecer em qualquer etapa do processo, desde que sejam 
apreendidas dentro de um contexto significativo.
Portanto, já foi possível perceber que o processo de alfabetização pode acontecer a partir de 
outros suportes, como jornais e revistas, não ficando restrito apenas ao livro didático.
Assim, as habilidades de leitura e escrita acontecem dentro de situações reais de comunicação, 
ou seja, situações que fazem sentido para o aluno, pois são vivenciadas em seu dia a dia.
Fonte: T
hinkstock/G
etty Im
ages
Você Sabia ?
O professor, nesse processo, como mediador, serve para preparar o aluno para a realidade, 
pois está antecipando, ou melhor, mostrando os obstáculos que a leitura de tais textos pode 
apresentar. E a leitura, na atividade cooperativa com seus colegas, cada um com seus diferentes 
saberes, pontos fracos e fortes, enriquece a aula, propondo discussões e promovendo a 
exposição dos seus pontos de vista.
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Segundo Soares (2003), letramento é o estado ou condição que adquire um grupo social 
ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita. A mesma autora (1998) 
argumenta que é possível alfabetizar letrando, por meio de práticas de leitura e escrita, com 
materiais de qualidade como textos de jornais, revistas, literatura infantil, que substituam as velhas 
cartilhas que ensinam sentenças como “Vovô viu a uva”, em situações que as crianças, muitas 
vezes, nunca viram ou, ao menos, comeram uma uva. A autora ressalta ainda a importância do 
aluno ser alfabetizado em um contexto em que leitura e escrita tenham sentido.
Além desse aspecto positivo, há de se lembrar e levar em consideração a riqueza de imagens 
e diversidade de gêneros textuais que esses suportes apresentam, o que pode contribuir com a 
visão crítica e cidadã dos envolvidos no processo de aprendizagem.
De acordo com Kleiman (2007), o letramento tem como objeto de reflexão, de ensino, ou 
de aprendizagem os aspectos sociais da língua escrita. Assumir como objetivo o letramento no 
contexto do ciclo escolar implica adotar na alfabetização uma concepção social da escrita, em 
contraste com uma concepção tradicional que considera a aprendizagem de leitura e produção 
textual como a aprendizagem de habilidades individuais. Essa escolha implica que a pergunta 
estruturadora do planejamento das aulas seja “quais os textos significativos para o aluno e 
para sua comunidade”, em vez de “qual a sequência mais adequada de apresentação dos 
conteúdos” (geralmente, as letras para formarem sílabas, as sílabas para formarem palavras e 
das palavras para formarem frases).
Para ela, determinar o que seja um texto significativo para a comunidade implica, por sua 
vez, partir da bagagem cultural diversificada dos alunos, que, antes de entrarem na escola, já são 
participantes de atividades corriqueiras de grupos sociais que, central ou perifericamente, com 
diferentes modos de participação (mais ou menos autônomos, mais ou menos diversificados, 
mais ou menos prestigiados), já pertencem a uma cultura letrada.
É justamente porque devemos partir dessa bagagem cultural diversificada dos alunos como 
participantes de uma cultura letrada que podemos permitir que o aluno tome parte de forma 
variada das situações e crie táticas diferentes para lidar com suas limitações ou potencialidades 
nessas situações diversas.
Para Pensar
Uma atividade que envolve o uso da língua escrita (um evento de letramento) não se diferencia 
de outras atividades da vida social: é uma atividade coletiva e cooperativa, porque envolve 
vários participantes, com diferentes saberes, que são mobilizados segundo interesses, intenções 
e objetivos individuais e metas comuns. Já a prática de uso da escrita dentro da escola envolve 
prioritariamente a demonstração da capacidade individual de realizar todos os aspectos de todas as 
atividades, seja: soletrar, ler em voz alta, responder a perguntas oralmente ou por escrito, escrever 
uma redação ou um ditado.
Apesar das práticas homogeneizadoras ensinadas/aprendidas na escola, é importante 
incentivarmos nossos alunos a aportarem suas compreensões diversas, provenientes exatamente 
das experiências e aprendizagens extremamente variadas por que passaram, antes mesmo de 
ocuparem os bancos escolares.
Diante disso, o papel do professor muda sob esta perspectiva de alfabetização e letramento como 
prática social, e uma grande vantagem do enfoque socialmente contextualizado é a autonomia 
que ele ganha no planejamento das unidades de ensino e na escolha de materiais didáticos. 
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Unidade: A sala de aula de Língua Inglesa e a formação para a cidadania
O professor volta a ser o profissional que decide sobre um curso de ação com base em sua 
observação e seu diagnóstico da situação. É ele que deverá decidir questões relativas à seleção 
dos materiais, saberes e práticas que se situam entre o local, o aplicado e o funcional à vida 
dos alunos e da comunidade e o socialmente relevante, que um dia poderá ser utilizado para 
melhorar o futuro do próprio aluno e de seu grupo.
Finalmente, é importante também que haja uma negociação daquilo que pode não interessar 
momentaneamente ao aluno, mas precisa ser ensinado pela sua real relevância em nossa cultura 
e sociedade. A perspectiva não se exime de focalizar o impacto social da escrita, particularmente 
as mudanças e transformações sociais decorrentes das novas tecnologias e novos usos da 
escrita, com seus reflexos no homem. Esse foco necessariamente amplia a concepção do que 
venha a ser a escrita, antes reservada para os textos literários – de fato, os textos extraordinários 
que pouquíssimos conseguem escrever – passando a incluir os textos do cotidiano, os textos 
comuns do dia a dia, mesmo que sejam utilizados como recursos pedagógicos para construir a 
autossegurança do aluno em relação à sua própria capacidade de ler e escrever: listas, bilhetes, 
receitas, avisos, letreiros, propagandas outdoor, placas de rua, crachás, camisetas, enfim, a 
escrita ambiental em sua enorme variedade passa a ser assim reconhecida e utilizada.
Essa ampliação se estende também às instituições em que os textos circulam. Embora os 
textos das instituições públicas de prestígio forneçam, de direito, grande parte do acervo a ser 
incluído, também os textos que circulam em outras esferas, como a da intimidade doméstica 
(bilhetes, recados e cartas pessoais, contas, extratos e cheques, exames, laudos, carteiras de 
vacinação, boletim escolar e diplomas)podem ser incluídos. Ou seja, o aluno pode escrever sua 
história familiar fazendo legendas e notas para as fotos de um álbum de família e consultando 
certidões; pode ler e recortar anúncios; fazer os registros de saúde, de educação, dos membros 
da família; agendar, rotular. As funções da escrita na vida cotidiana, mesmo que limitadas e 
finitas, introduzirão práticas de identidade, de contato e de comunicação, assim como gêneros 
que terão uma vida muito útil em muitas outras práticas sociais.
O letramento crítico e a interculturalidade nas aulas de 
Língua Inglesa
Ao se pensar sobre ensino de uma língua estrangeira na escola é imprescindível levar em 
consideração que dentro deste contexto o currículo necessita voltar-se para a formação do 
educando para a cidadania visando superar visões utilitaristas que buscam apenas atingir fins 
comunicativos e que ao mesmo tempo “restringem as possibilidades de sua aprendizagem como 
experiência de identificação social e cultural (DCE – LEM 2008, p. 53)”.
O professor precisa ter autonomia para decidir sobre a inclusão daquilo que pode e deve fazer 
parte do cotidiano da escola, porque é legítimo e/ou imediatamente necessário, e, por outro 
lado, sobre a exclusão daqueles conteúdos desnecessários e irrelevantes para a inserção do 
aluno nas práticas letradas que, parece-nos, persistir por inércia e tradição.
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Nesse sentido, é necessário incorporar novas práticas que 
possibilitem o debate de temas que auxiliem na (re)
construção da criticidade do educando fazendo-o entrar em 
contato com aspectos da vida social e cultural. Assim, os 
alunos podem se imaginar de outro modo; para estar 
envolvidos eticamente com a diferença; e para entender as 
implicações potenciais de seus pensamentos e ações.
O ensino sob a ótica do letramento crítico propõe a 
“problematização dos textos como forma de refletir sobre 
os sentidos construídos e de (re)conhecer e (re)elaborar as 
construções discursivas de si e dos outros no processo de 
leitura (EDMUNDO, 2010, p. 34-35)”.Fo
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A formação para a cidadania
Antes de falarmos sobre o ensino de língua inglesa e a formação para a cidadania, vamos 
verificar o conceito de cidadania.
Segundo Roberto Alejandro (1998), é preciso ver cidadania não como uma categoria 
jurídica ou conjunto de atitudes cívicas, mas como horizonte, como prática, como um elemento 
importante da condição humana. Para ele, cidadania é um texto que se revela através da relação 
entre as ações de cidadãos e as instituições políticas. É sempre histórica, datada, enraizada 
em grupos sociais específicos, que têm agendas políticas diferenciadas e que podem atribuir 
sentidos diferentes aos mesmos conceitos.
O conceito que as pessoas, de uma maneira geral, têm sobre cidadania é sinônimo de direitos. 
Portanto, ainda nessa linha de raciocínio, estariam o direito à saúde, à educação, à informação, 
ou mesmo direitos linguísticos. Quando tratamos de exclusão social e falamos de cidadania, 
provavelmente temos a preocupação em vinculá-la às necessidades básicas, um patamar a ser 
assegurado a todos.
Assim, falar de cidadania seria falar da garantia de respeito a esses direitos.
Há notícias sobre “cidadania” sendo veiculadas na imprensa, como: “os alunos estão tendo 
lições de cidadania, pois aprendem a se candidatar, fazer campanha e serem eleitos para cargos 
de diretores-mirins”; ou “ações para garantir cidadania», tendo sua proximidade no texto com 
«defesa dos direitos humanos e organização das populações mais carentes». Portanto, cidadania 
seria participação, estando vinculada a direitos.
A busca de sentido no Novo Dicionário Aurélio nos revela que cidadão é S.m. 1. Indivíduo 
no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado, ou no desempenho de seus deveres para 
com este. 2. Habitante da cidade. 3. Pop. Indivíduo, homem, sujeito.
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Unidade: A sala de aula de Língua Inglesa e a formação para a cidadania
Esses modos de ver cidadania, que estão associados à tradição liberal, parecem tão arraigados 
que nem pensamos em definições alternativas.
Partindo do princípio que a cidadania é construída discursivamente, na interação com os 
outros, para determinação do bem comum, podemos entender a sala de aula de língua estrangeira 
como um espaço em que essa visão pode ser encorajada ou desestimulada dependendo da 
visão de linguagem que transmitimos.
O ensino de línguas estrangeiras pode assim ser encarado com uma finalidade educacional 
na medida em que favorece a participação no processo discursivo.
Em Síntese
Assim, aprender sobre linguagem, seja ela estrangeira ou materna, possibilita aos indivíduos se 
constituírem enquanto cidadãos - interagindo com outros e dando assim existência à cidadania, 
que deverá ser construída; e os educandos, desta maneira, seriam levados a pensar a pluralidade, 
analisá-la, ouvir pontos de vista alternativos. Resumidamente, seriam levados a deliberar, ou seja, 
ajudar a criar um público.
Portanto, os desafios, os objetivos e as necessidades do ensino de língua inglesa atualmente 
estão além do desenvolvimento de funções básicas de: solicitar informação, cumprimentar, 
desculpar-se, participar de situações, prioritariamente, consensuais, com um propósito 
comunicativo claro e pré-estabelecido, comunicar-se em um contexto específico ou ‘realizar’ 
algo pela língua, pois existe a necessidade premente de lidar com falta de consenso, embates, 
visões divergentes, muitas vezes conflitantes ou excludentes. É necessário comunicar-se 
interculturalmente, questionar, resistir, agir e transformar, perceber relação estreita existente 
entre mecanismos discursivos, constitutivos da língua(gem) e questões de ideologia, identidade 
e poder (DOURADO; ESCALANTE, 2007).
17
Material Complementar
 
 Explore
https://bit.ly/3wYrNpX. 
http://vimeo.com/31296412. Acesso em 15 de janeiro de 2014.
18
Unidade: A sala de aula de Língua Inglesa e a formação para a cidadania
Referências
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Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, São José do 
Rio Preto, SP.
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