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I CENTRO REGIONAL UNIVERSITÁRIO DE ESPÍRITO SANTO DO PINHAL CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA USO DE PRÓTESES PARA RECONSTRUÇÃO DE BICO DE AVES LÍVIA BRAGHIROLI BERNADELLI ESPÍRITO SANTO DO PINHAL 2020 CENTRO REGIONAL UNIVERSITÁRIO DE ESPÍRITO SANTO DO PINHAL II CENTRO REGIONAL UNIVERSITÁRIO DE ESPÍRITO SANTO DO PINHAL CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA USO DE PRÓTESES PARA RECONSTRUÇÃO DE BICO DE AVES O presente trabalho foi realizado para a matéria de Metodologia Científica LÍVIA BRAGHIROLI BERNADELLI ESPÍRITO SANTO DO PINHAL 2020 III SUMÁRIO RESUMO .....................................................................................................................1 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................1 2. CONSIDERAÇÕES ANATÔMICAS E CIRÚRGICAS ............................................1 3. CASOS ....................................................................................................................4 3.1 .....................................................................................................................4 3.2 .....................................................................................................................4 3.3 .....................................................................................................................5 3. DISCUSSÃO ...........................................................................................................6 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................6 5. REFERÊNCIAS .......................................................................................................7 1 RESUMO O presente trabalho relata três casos que foram utilizadas próteses odontológicas de diferentes materiais para a correção de traumas da ranfoteca de aves de diferentes espécies e famílias (Ranfastídeos e Psitacídeos) com o intuito de melhorar sua qualidade de vida. São relatados as espécies, materiais, métodos utilizados e resultados observados nos procedimentos analisados. Palavras chave: aves, ranfoteca, cirurgia, odontologia, trauma 1. INTRODUÇÃO Na última década, houve um grande avanço em estudos sobre animais não convencionais; juntamente com maior interesse para adquiri-los, o que aumentou a casuística na rotina clínica, fazendo com que o médico veterinário se habituasse a esse novo nicho. De acordo com Prazeres et al. (2013), as espécies mais difundidas são as aves, sendo comum a procura para correções de fraturas traumáticas. Com isso, surge maior necessidade de profissionais capacitados para atender e auxiliar casos dessa natureza. Nos casos citados de reconstrução do bico por meio de uso de próteses, é esperada a cicatrização e recuperação das funções primárias e secundárias do animal (ingestão de alimento e água e interação social, respectivamente), assegurando que seu bem estar foi restaurado. Esse trabalho teve como objetivo reunir relatos de diferentes casos que foi realizado esse procedimento cirúrgico. 2. CONSIDERAÇÕES ANATÔMICAS E CIRÚRGICAS As aves, apesar de serem anatomicamente semelhantes, possuem diferenças interespecíficas. De acordo com Cubas et al. (2014) os Ranfastídeos (família dos tucanos) possuem a ranfoteca comprida, profunda e larga, bem pigmentada e com tomia serrilhada; já os Psitacídeos (família do papagaio e arara) possuem o bico superior curto e arqueado, de base larga que se encaixa no bico inferior. Porém, de maneira geral, o bico das aves é uma estrutura de crescimento constante, constituídas pelos ossos maxilares superior (pré maxila e nasal) e inferior (mandíbula), cobertos por bainhas epidérmicas queratinizadas denominado de ranfoteca (FECCHIO, 2008), sendo a parte superior rinoteca e inferior gnatoteca. 2 Embora apresentem diferenças anatômicas, o processo de reconstrução consiste em fazer a assepsia e raspagem do bico remanescente para fixar a prótese, com a utilização de adesivos, cimento de uso veterinário e parafusos. Ainda não foram relatados estudos a longo prazo de próteses permanentes, sendo possível que os materiais utilizados resultem em absorção óssea ou tornem o animal uma ameaça para outras espécies em vida livre devido maior força na mordida. Dentre as dificuldades encontradas, se encontram mesurar a força de oclusão, o crescimento ósseo progressivo da ranfoteca, uso de materiais que não causam reabsorção e não comprometam o bem estar do animal. Antes de realizar o procedimento, deve-se fazer uma avaliação geral do estado da ave para determinar se a mesma está apta ao procedimento. Caso o resultado seja positivo; após a cirurgia, o animal deve ser observado por 72 horas, com o intuito de verificar seu comportamento sozinho e em relação ao ambiente. Depois de observado, o animal inicia as sessões de fisioterapia, com a finalidade de se adaptar melhor à prótese e garantir seu bem estar. Ainda não há estudos sobre a possibilidade do animal retornar a natureza, uma vez que esse procedimento necessita de manutenção a cada 6 meses e não tem evidências que a ave não irá se sobressair em relação aos outros e desregular o ecossistema.1 1 Informações obtidas em conversa informal com o Médico Veterinário Dr. Roberto Fecchio Figura 1: Descrição anatômica do bico 3 Figura 2: tucano de bico verde (Ramphastus dicolorus), animal do grupo dos Ranfastídeos Figura 3: crânio de arara canindé (Ara ararauna), animal do grupo dos Psitacídeos 4 2. CASOS 2.1 Tucano-de-bico-verde (Ramphastos dicolorus): Um tucano-de-bico-verde (Ramphastos dicolorus) foi atendido no Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP; pela equipe coordenada pelo doutorando Roberto Fecchio. O animal apresentava deformidade no bico superior, dificultando sua alimentação. Foi feita moldagem do bico em 3D com o uso de gesso dentário, possibilitando fazer simulação da prótese. O material utilizado foi ácido polilático (PLA) e resinas odontológicas especiais para aplicar e fixar a prótese. De acordo com o professor Ricardo José Garcia Pereira, "a ave ainda está em fase de adaptação, mas já é possível observar melhora em seu comportamento alimentar. Outra grande vantagem é que isso melhora suas possibilidades de encaminhamento para zoológicos ou criadores legalizados". 2.2 Papagaio charão (Amazona pretrei): Um exemplar de papagaio charão (Amazona pretrei) foi encaminhado pelo IBAMA ao zoológico da UPF (Universidade de Passo Fundo), onde foi recebido e tratado. Em vistoria de rotina para aplicação de vermífugos, foi constatado que o animal apresentava bifurcação da gnatoteca. Essa lesão prejudicava o desempenho alimentar do animal. Dentre as alternativas de tratamento, foi escolhido o uso de prótese homóloga da gnanoteca (originária do cadáver de outra ave de mesma espécie). Os materiais utilizados foram: microretífica para moldar o bico da própria ave, solução NaCl 0,9% para limpeza, broca nº1 para perfuração do bico e fios de aço nº4 para realizar a cerclagem e metil metacrilato para recobrir a área cirúrgica. Foi retirado o bico lesionado do animal e realizado sua assepsia; para a fixação da gnanoteca, a mesma foi sobreposta no bico residual, fixada por cerclagem e envolta por metil metacrilato. 5 A ave apresentou rápida recuperação do procedimento e se adaptou à prótese; no entanto, no 23º dia foi a ave foi encontrada morta em seu recinto devido ataque de guaxinim, não sendo possívelobter resultados ao longo prazo. Figura 4: A e B: animal quando chegou, apresenta lesões da gnatoteca nas faces rostral e lateral 2.3 Arara canindé (Ara ararauna): Uma arara canindé (Ara ararauna) foi encaminhada ao Centro de Atención y Valoración/Centro de Educación Ambiental y de Rescate de Fauna Silvestre (CAV/CEARFS), localizado na Colômbia e foi atendida pela equipe médica local. O animal apresentava fratura na rinatoteca com perda óssea, sendo sugerido uso de prótese para reconstrução da lesão. Para a operação, foram utilizados silicone, catalisadores a base de silicone A, resina acrílica de odontologia, tinta e arames. Os procedimentos consistiram na confecção do molde com uso de silicone e modelar a parte perdida do bico, em sequência, o molde foi preenchido com resina para a formação da prótese. Para a fixação da prótese, a mesma foi lixada para se encaixar corretamente com o bico, foram feitos furos no bico e na prótese e posterior cerclagem para encaixe, seguidos de arames para melhor fixação; após isso, foi colocada mais uma camada de resina, para garantir a aderência. Foi observado que o animal se recuperou rapidamente; porém algumas ações, como usar o bico para se segurar e escalar geraram desgaste na prótese, sendo necessário um novo ajuste nos fios. 6 Figura 5: A direita, animal que recebeu a prótese realizando interação social 3. DISCUSSÃO Nos relatos citados, há a utilização de dois tipos de próteses: homóloga (oriunda de um animal da mesma espécie), como foi o caso do papagaio charão (Amazona pretrei), ou sintéticas (provindas de materiais inorgânicos), utilizada nos casos do tucano de bico verde (Ramphastos dicolorus) e da arara canindé (Ara ararauna). Próteses permanentes de bico ainda não foram estudadas em longo prazo e as técnicas que empregam parafusos e pinos podem resultar em reabsorção óssea e consequente falha do implante (PRAZERES, et al. 2013), sendo que a maior parte dos materiais utilizados nesses procedimentos é originário da odontologia humana. Vale ressaltar que, apesar de haver pouco estudo sobre o sistema estomatognático das aves, esse tipo de procedimento é realizado há 20 anos na FMVZ de acordo com o professor Marco Antonio Gioso. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS No presente trabalho, foi realizada uma introdução na anatomia da ranfoteca, apresentação da técnica cirúrgica utilizada e suas dificuldades, seguida de relatos onde foi realizado o tratamento. Foi possível observar que embora os materiais utilizados são de uso humano, os resultados imediatos foram positivos e de acordo com o esperado. 7 A tendência que é ocorra aumento na realização dos procedimentos, seguido com especialização no protocolo cirúrgico e maiores estudos a média e longo prazo, bem como a possibilidade de soltura desses animais em seu habitat. 5. REFERÊNCIAS ACESSORIA DE IMPRENSA DA FMVZ. Prótese criada na FMVZ em impressora 3D reabilita tucano com deformidade no bico. Disponível em: <https://www5.usp.br/98437/protese-criada-na-fmvz-reabilita-tucano-com- deformidade-no-bico/ >. Acesso em 20 de mar. 2020 CUBAS, Z. S. Tratado de animais selvagens: medicina veterinária / Zalmir Silvino Cubas, Jean Carlos Ramos Silva, José Luiz CatãoDias. 2. ed. São Paulo: Roca, 2014. 2470 p.: il.; 28 cm FECCHIO, R. S. GOMES, M. S. KOLOSKI, J. PETRI, B. S. S. ROSSI, J. L. GIOSO, M. A. Estudo da biomecânica oclusal e da aderência da resina acrílica auto- polimerizável (polimetilmetacrilato) em fraturas de rinoteca de tucanos (Ramphastos toco). SciElo. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100- 736X2008000700003>. Acesso em 18 mar. 2020. FERANTI, J.P.S.; SILVA FILHO, J.R.; IDALENCIO, R. et al. 2013. Uso de prótese de bico na correção de defeito em gnatoteca de papagaio charão (Amazona pretrei). Acta Scientiae Veterinariae. 41(Suppl 1): 34 MOREIRA, D. A. BLOOT, D. H. A Clínica – prática diária no atendimento de pequenos animais. Curitiba: Medvep, 2019. 428p. PRAZERES, R. F. FIEBIG, W. J. FECCHIO, R. S. BIASI, C. CASTRO, M. F. S. GIOSO, M. A. PACHALY, J. R. Técnicas de reconstituição de bico em aves – artigo de revisão. J Health Sci Inst. 2013 TORRES, M. Y. QUINTERO, V. FERNANDO, C. DÍAZ, E. DELGADO, M. J. DÍAZ, L. Reparación de la rinoteca de una Guacamaya (Ara ararauna) 10usando siliconas y resinas odontológicas REDVET. Revista Electrónica de Veterinaria, vol. 14, núm. 11B, noviembre-, 2013, pp. 1-8 Veterinaria Organización Málaga, España https://www5.usp.br/98437/protese-criada-na-fmvz-reabilita-tucano-com-deformidade-no-bico/ https://www5.usp.br/98437/protese-criada-na-fmvz-reabilita-tucano-com-deformidade-no-bico/ http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-736X2008000700003 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-736X2008000700003
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