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QUEIMADURAS Lesões decorrentes de agentes (tais como a energia térmica, química ou elétrica) que produzem calor excessivo que danifica os tecidos e gera morte celular. Essas lesões, dependendo da gravidade, causam resposta inflamatória intensa com repercussão sistêmica. Epidemiologia Prognóstico Principal parâmetro é pela % de superfície corpórea queimada (melhor preditor de sobrevida) Principalmente a partir de 2º grau – efeitos sistêmicos e lesão de órgão-alvo 1º - dificilmente desenvolve efeitos sistêmicos com repercussão hemodinâmica Idade Abuso de álcool Obesidade Alterações neurológicas Lesão inalatória Queimadura da via aérea superior Intoxicação por gases tóxicos (monóxido de carbono, cianeto) Inflamação pulmonar (alveolite) – fumaça aquecida, com fuligem que causarão essa inflamação ↑ 7x vezes a mortalidade Traumas associados (queimou e teve um TCE) Doenças cardíaca, hepática e pulmonar pré-existentes Mortalidade distribuição bimodal imediatamente após a lesão (principal causa) ou semanas mais tarde - principal etiologia é a falência multiorgânica, geralmente associada à sepse grave ou ao choque séptico Fisiopatologia Queimaduras são lesões da pele e partes moles → resposta inflamatória → efeitos sistêmicos: EFEITOS SISTÊMICOS CHOQUE HIPOVOLÊMICO Ocorre disfunção da microcirculação → liberação de mediadores (histamina, bradicinina, prostaciclina e PGE) → permeabilidade capilar → extravasamento de líquido → choque hipovolêmico HIPERMETABOLISMO por conta da ativação celular para reparo tecidual → ↑ demanda de caloria, proteína, gordura (ácidos graxos) Pela ↑ de citocinas e de hormônios que promovem catabolismo tecidual (cortisol, catecolaminas, glucagon etc.) → até 200% taxa metabólica basal ocorre proteólise → reservas proteicas esgotam → à desnutrição e à perda de tecido muscular ativo. Lipólise → AG são liberados dos depósitos de gordura → vão ao fígado (onde são reesterificados como TG) → esteatose ESTADO DE IMUNOSSUPRESSÃO Na área queimada ocorre ↑ na produção de citocinas → circulação → efeitos sistêmicos IL-1 e a IL-6: funcionam como fatores quimiotáticos para neutrófilos A IL-6 - + síntese de proteínas de fase aguda pelo fígado IL-2: ficam ↓ → deficit na imunidade celular Além de disfunção na resposta imune de origem celular (mediada por linfócitos), o queimado apresenta imunidade humoral alterada (mediada por anticorpos) com ↓ na produção de IgG Observa-se também alteração na função de macrófagos e neutrófilos. EDEMA Vai edemaciar tanto extremidades como alças e pode fazer síndrome compartimental abdominal/extremidades ↓ F sanguíneo renal (por conta da hipovolemia) → insuficiência renal aguda EFEITOS EM RELAÇÃO À FERIDA o que ocorre com a ferida/local da queimadura. As queimaduras causam NECROSE DE COAGULAÇÃO do tecido A PROFUNDIDADE da lesão depende da temperatura, tempo de exposição e calor específico do agente (capacidade que o agente lesivo tem de passar calor ao queimado). Então se aumenta algum desses fatores, aumenta o grau de lesão tecidual ZONAS DE LESÃO: Zona de coagulação: área central da lesão onde ocorre necrose (irreversível) Ponto inicial de contato com a maior temperatura Diferença grandes e pequenos queimados: grande provoca > estímulo → > resposta inflamatória Zona de estase: Ao redor da zona de coagulação Ocorre um edema tecidual → compromete a circulação → área de hipoperfusão (reversível) Área a ser salva com o tratamento → impedindo que zona de estase vire zona de coagulação (evitando que queimadura ↑ extensão e profundidade) Zona de hiperemia/hiper-reatividade área de vasodilatação (viável) compensatória como a zona de estase está em isquemia → libera mediadores que + vasodilatação das arteríolas para jogar mais sangue na área que está em isquemia (estase) para compensar o edema → transformando essa área em área de vasodilatação compensatória ↑ suporte hídrico pro individuo → melhorar perfusão tecidual da região → evitar a piora da necrose MECANISMO DE CURA 1º GRAU regeneração completa 3-6 dias 2º GRAU processo de reepitelização + processo cicatricial > profunda (mais perto do 3ºgrau) > fibrose/cicatriz > superficial > reepitelização e menos cicatrização Lembrando que reepitelização ocorre pelas bordas das feridas e pelso anexos cutâneos (gl. Sebáceas, sudoríparas e folículo piloso) o Quanto mais anexo cutâneo, mais rápida é a reepitelização e menos cicatriz 3º grau: nunca cicatriza pois é queimadura de espessura completa da pele. Necessário escaratomia (retirada da escara) e na sequência ocorre a cicatrização (se deixar naturalmente) ou enxerto Classificação CLASSIFICAÇÃO POR CAUSA Chama Escaldadura Contato Química Elétrica Frio CLASSIFICAÇÃO POR PROFUNDIDADE 1º GRAU Limitada à epiderme Mecanismo fisiológico causa hiperemia Dor por conta do estímulo inflamatório da região 2º GRAU SUPERFICIAL: Até a derme superficial (papilar) flictenas (bolhas), úmida, hiperemia, dor intensa, empalidece quando sofre compressão Diferenciar superficial e profunda: quando fizer o desbridamento, o leito da ferida vai ser diferente. Quando remove bolha, é visto leito vermelho, que tem vaso sanguíneo PROFUNDO: Até a derme profunda (reticular), quase já atingindo o subcutâneo flictenas, áreas esbranquiçadas, dor menos intensa ou indolor, seca Quando remove bolha, é visto leito esbranquiçado 3º GRAU Pele total (todas as camadas da pele) endurecida (“couro”), mosqueada ou marmórea, indolor (queima as terminações nervosas), seca, não empalidece quando comprimida 4º GRAU Até fáscia, músculo, osso e órgãos. Perda funcional, muito comum em queimaduras elétricas de alta voltagem, indolor CÁLCULO DA SUPERFÍCIE CORPÓREA QUEIMADA 9 DE WALLACE Mais utilizado em casos de queimaduras extensas Cabeça e pescoço: 9% Tronco: 18% cada lado (anterior e posterior) MMSS: 9% inteiro (4,5% anterior e 4,5% posterior) Genitália e períneo: 1% MMII: 18% cada REGRA DA PALMA DA MÃO: Utilizada para queimaduras de pouca extensão ou que atinjam apenas partes dos segmentos corporais. A palma da mão do paciente corresponde a 1% da sua superfície corpórea DIAGRAMA DE LUND&BROWDER: Método mais fidedigno, principalmente para crianças Variação de acordo com a idade para: cabeça, coxa e perna. CRITÉRIOS PARA INTERNAÇÃO EM CENTRO DE QUEIMADOS Espessura parcial > 10% SCT Face, mãos, pés, genitália, períneo ou articulações → maior risco de evoluir com complicações. Qualquer queimadura de espessura total. Queimadura elétrica. Queimaduras químicas. Lesão inalatória. Paciente com comorbidades. Trauma concomitante. Crianças e idosos. Intervenção social e reabilitação de longo prazo Tratamento ATENDIMENTO INICIAL DO TRAUMA Lembrar que o paciente queimado frequentemente é um politraumatizado, devemos ter atenção a outras possíveis lesões e traumas sofridos por esse paciente Interromper contato c/ substância lesiva Suspeitar de lesão por inalação → IOT + VM Iniciar reposição volêmica Remover anéis, relógios, joias, cintos e metais diversos Colar cervical + prancha rígida Aquecer pcte - queimado tem risco de hipotermia Água em temperatura ambiente vertida no ferimento nos primeiros 15 minutos Após 15 minutos, a lesão por temperatura do agente lesivo já ocorreu CHEGANDO NO HOSPITAL, PROTOCOLO ATLS: POLITRAUMATIZADO AVALIAÇÃO PRIMÁRIA: ABCDE A: PERMEABILIDADE DA VIA AÉREA Suspeita-se de lesão inalatória quando: queimaduras da face, vibrissas nasais chamuscadas, escarro carbonáceo, taquipneia e rouquidão Conduta:IOT o mais rápido possível (pois esses pacientes evoluem com edema da região supraglótica de forma muito rápida → obstrução de via aérea) Realizar a estabilização da coluna cervical Caso não tenha lesão inflamatória Oxigênio suplementar: 15L/min Sedação só quando necessário e evitar bloqueador neuromuscular (pois ↑ K+ no sangue → risco de hipercalemia) B: VENTILAÇÃO Preocupações: hipóxia (tanto pela obstrução de via aérea superior como pela inalação por CO) e fumaça (além de queimar via aérea, pode inflamar alvéolo e causar pulmão de sara) Queimadura circunferencial de tórax: fazer escarotomia (garantir a boa expansão torácica) Lesão inalatória = IOT + ventilação mecânica Intoxicação por monóxido de carbono (CO): fazer oxigenoterapia suplementar com máscara a 100% C: CIRCULAÇÃO COM CONTROLE DE HEMORRAGIA Se preocupar com estabilização hemodinâmica, lembrando que grande queimado perde muito líquido, então é necessário cálculo para REPOSIÇÃO VOLÊMICA do pcte Necessário 2 acessos venosos calibrosos Uso preferencialmente de soluções cristaloides (Ringer Lactato é o de escolha) Cálculos iniciais: o Fórmula de Parkland: 4ml/kg por % SCQ. o Fórmula de Brooke modificada: 2ml/kg por % SCQ (1º grau não entra nessa conta) - preferencial pelo ATLS atualizado) Avalia-se a resposta do paciente a fluidos para medir a necessidade de administrar mais volume, visto que são pacientes que possuem a permeabilidade vascular muito aumentada, perdendo líquido para o terceiro espaço e ficando hipovolêmicos. o Infundir 50% nas primeiras 8 horas e os outros 50% nas 16 horas seguintes (completando 24h de tto). Fazer reavaliação constante à da perfusão tecidual e um dos principais parâmetros utilizados é a avaliação do débito urinário através da diurese. Manter a diurese entre 0,5 a 1 ml/kg/h. No trauma elétrico, manter a diurese em torno de 1,5 ml/kg/h ou até o clareamento da urina Monitorização cardíaca para avaliar arritmias Coletar amostra de sangue: análise buiquimica, hematólogica... D: NEUROLÓGICO Avalia nível de consciência (Escala de coma de Glasgow) resposta pupilar avaliar sinais de lateralização e o nível de lesão medular E: EXPOSIÇÃO E CONTROLE DO AMBIENTE Prevenir hipotermia o O paciente queimado não tem a barreira natural da pele para proteger contra hipotermia, logo é necessário manter o paciente aquecido Avaliar sinais de isquemia em extremidades. Isso ocorre em 2 situações o Queimadura de 3ºgrau que é circunferencial e causa efeito de constrição da perfusão distal do membro → necessário escaratomia (incisão da escara/queimadura de 3º grau) Síndrome compartimental (ocorre pois tem restrição da expansibildiade da musculatura por conta da fascia, e esse fascia superficial precisa ser incisada → fasciotomia. Caso não seja feita na fase aguda → evolui para isquemia daquela extremidade Dor à movimentação Parestesia Edema Pulos fracos/ausentes Síndrome compartimental abdominal – pcte terá ↑ Volume abdominal com compressão dos vasos retroperitoneais e dessa forma isquemia das vísceras abdomais Reposição volêmcia agressiva aumenta chance de síndrome compartimental TTO: escarotomia, descompressão cirúrgica (através da peritoneostomia) AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA: Avaliar localização, extensão e profundidade das feridas MEDIDAS AUXILIARES (Após já estabilizado) Deixar pcte em jejum – pois pode precisar de cirurgia, o próprio tratamento das feridas já é cirúrgico Não utilizar antibióticos sistêmicos na fase inicial Só se prescreve antibiótico em casos de infecção comprovada com cultura Ao dar antibiótico sistêmico → seleciona mcirobiota → microbiota mais resistente causa prejuízo ao tto Analgesia Endovenosa Cuidado com narcóticos para não ter rebaixado ou instabilidade hemodinâmica Protetor de mucosa gástrica Evitar úlcera de Curling Deve-se prescrever IBP MEDIDAS AUXILIARES TTO inicial das feridas o Lavagem c/ SF 0,9% e degermante o Evitar isquemia de extremidades → descolonizar essa ferida o Desbridamento de tecidos desvitelizados o Curativo estéril Tipos de curativos TRATAMENTO DAS FERIDAS: 03 fases: avaliação, tratamento e reabilitação Limpeza e desbridamento da ferida com água e clorexidina degermante a 2% (na falta desta, usar sabão neutro) Cobertura com curativo adequado: atadura de tecido sintético + sulfadiazina de prata a 1%, com objetivo de: Diminuir colonização bacteriana e fúngica Manter posição funcional dos membros Diminuir perdas de calor, líquidos e eletrólitos. Diminuir a dor Não utilizar antibióticos sistêmicos na fase inicial das queimaduras, somente os tópicos quando necessários. Antibióticos sistêmicos são reservados para infecções confirmadas, o que pode ocorrer dentro de alguns dias, sendo a principal causa de morte nesses pacientes. Alguns sinais e sintomas de infecção em queimaduras: mudança da coloração da lesão, edema de bordas das feridas ou do segmento corpóreo afetado, aprofundamento das lesões, mudança de odor, descolamento precoce da escara seca e transformação em escara úmida, coloração hemorrágica sob a escara, celulite ao redor da lesão, vasculite no interior da lesão (pontos avermelhados), aumento ou modificação da queixa dolorosa Por profundidade: o 1º grau: hidratante + analgesia → Regenera → o 2º grau superficial: antibiótico tópico ou revestimento sintético ou biológico temporário → Restaura o 2º grau profundo e 3º grau: excisão + enxertia → cicatriza Nutrição: o Hipermetabolismo: 200% taxa normal o Reposição energética - fórmula de Curreri: 25kcal/kg/dia + 40kcal por % SCQ o Reposição proteica: 1-2g/kg/dia o Via de administração: preferencialmente enteral ou, quando não é possível, parenteral QUEIMADURA ELÉTRICA: Identificar se o trauma foi por fonte de alta tensão, por corrente alternada ou contínua e se houve passagem de corrente elétrica com ponto de entrada e saída Avaliar outros traumas associados Avaliar se ocorreu perda de consciência ou parada cardiorrespiratória no momento do acidente Fazer monitorização cardíaca contínua por 24h a 48h e coletar as enzimas (CPK e CKMB) Avaliar mioglobinúria e estimular o aumento da diurese com reposição volêmica vigorosa Avaliar a necessidade de escaratomia se houver síndrome compartimental TRATAMENTO DA DOR: Adultos: Dipirona 500mg a 1g em injeção endovenosa (EV) ou Morfina 1ml (ou 10mg) + 9ml SF 0,9%, fazer de 0,5 a 1mg para cada 10kg de peso Criança: Dipirona 15-25 mg/kg em EV ou Morfina 10mg diluído em 9ml de SF 0,9%, fazer de 0,5 a 1 mg para cada 10kg.
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