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Ciclâmio Leite Barreto Gilvan Luiz Borba Rui Tertuliano de Medeiros Física e Meio AmbienteD I S C I P L I N A Eletricidade e Magnetismo II Autores aula 11 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Divisão de Serviços Técnicos Catalogação da publicação na Fonte. Biblioteca Central Zila Mamede – UFRN Coordenadora da Produção dos Materiais Célia Maria de Araújo Coordenador de Edição Ary Sergio Braga Olinisky Projeto Gráfi co Ivana Lima Revisores de Estrutura e Linguagem Eugenio Tavares Borges Marcos Aurélio Felipe Revisora das Normas da ABNT Verônica Pinheiro da Silva Revisores de Língua Portuguesa Janaina Tomaz Capistrano Sandra Cristinne Xavier da Câmara Revisora Tipográfi ca Nouraide Queiroz Ilustradora Carolina Costa Editoração de Imagens Adauto Harley Carolina Costa Diagramadores Bruno de Souza Melo Adaptação para Módulo Matemático Thaisa Maria Simplício Lemos Pedro Gustavo Dias Diógenes Imagens Utilizadas Banco de Imagens Sedis (Secretaria de Educação a Distância) - UFRN Fotografi as - Adauto Harley MasterClips IMSI MasterClips Collection, 1895 Francisco Blvd, East, San Rafael, CA 94901,USA. 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CDD 53 RN/UF/BCZM 2006/87 CDU 579 Aula 11 Física e Meio Ambiente 1 Apresentação Na aula 10 (Eletricidade e magnetismo I), discutimos as propriedades elétricas da matéria. Nesta, discutiremos suas propriedades magnéticas. O entendimento conjunto dessas propriedades deu origem a uma das mais belas sínteses da Física, e possivelmente da história da Ciência, a teoria eletromagnética de Maxwell. A força que representa a interação magnética, chamada força de Lorentz, tem uma componente de natureza elétrica e uma de natureza magnética e constitui uma das quatro forças fundamentais da Física (veja a aula 1 – O meio ambiente e a Física). Podemos começar nossa aula perguntando sobre o que ocorreria se não tivéssemos a eletricidade. Um exemplo real dessa situação aconteceu na cidade de Nova York (EUA), onde, na década de 1970, ocorreu um “apagão’’, ou blackout, o qual perdurou por cerca de 25 horas. Tal evento é relatado como um grande desastre tecnológico de nossa época. A partir disso, podemos perguntar o que aconteceria conosco e com a nossa sociedade, se de repente as propriedades magnéticas da matéria deixassem de existir. No caso, por exemplo, da equipe que está preparando o material de ensino a distância, fi caríamos impossibilitados de usar o computador, pois tanto o HD (disco rígido dos nossos computadores), onde se arquivam magneticamente dados, quanto o monitor de vídeo iriam parar e os dados arquivados magneticamente, em disquetes e nos HDs, desapareceriam. E lembramos ainda que não podemos abastecer de eletricidade nossas cidades sem o auxílio do magnetismo, pois os geradores instalados nas hidrelétricas, termoelétricas etc., fazem uso dele. Com o desaparecimento das propriedades magnéticas da matéria, coisas mais graves iriam acontecer, pois, como você aprendeu em Ciências da Natureza e Realidade, vivemos imersos no campo magnético terrestre, o chamado campo geomagnético, sem o qual toda a vida na Terra fi caria comprometida. Assim, nesta aula, estudaremos um pouco mais sobre uma das importantes forças da natureza, com a qual temos convivido desde o nosso nascimento, sendo a partir do conhecimento de algumas de suas características que poderemos entender melhor o mundo em que vivemos. Aula 11 Física e Meio Ambiente2 1 2 3 Objetivos Entender a natureza dos fenômenos magnéticos que ocorrem em nossa volta. Relacionar magnetismo com eletricidade. Entender a relação entre cargas elétricas em movimento e campos magnéticos. A natureza magnética da matéria Há muito tempo, sabe-se que alguns materiais possuem naturalmente a propriedade de atrair outros. Acredita-se que a capacidade de alguns materiais de atrair o ferro já era conhecida desde a Grécia antiga e que tais materiais (algumas pedras) eram encontrados freqüentemente na região grega da Magnésia (atual Turquia). Disso decorre o nome magnetismo para tais fenômenos e magnetita para a pedra que possui magnetismo. Você já deve estar acostumado com ímãs, como os de geladeira, nos quais se colocam enfeites sobre uma de suas faces; outros, mais modernos, são fl exíveis e têm a forma de uma fi ta na qual um lado é utilizado como material de propaganda, e o outro, como um ímã. Você também deve saber que os alto-falantes contêm ímãs, sendo uma de suas importantes propriedades (e dos ímãs em geral) a fi xação em qualquer material que contenha ferro. Existe ainda um outro tipo de imã, o eletroímã, ou ímã artifi cial. Sua grande diferença é que apresentam a propriedade de atrair apenas quando percorridos por uma corrente elétrica e podem ser muito mais intensos que os naturais. Na verdade, podemos classifi car os ímãs como naturais e artifi ciais, mas, em relação às propriedades magnéticas, podemos classifi car os materiais em três categorias: paramagnéticos, diamagnéticos e ferromagnéticos. Tanto os diamagnéticos quanto os paramagéticos são classificados como “não- magnéticos’’, sendo alguns exemplos: plásticos, madeira, alumínio etc. As substâncias diamagnéticas são aquelas que são fracamente atraídas por um ímã, por exempo, água, sal de cozinha (cloreto de sódio), quartzo e praticamente todo material orgânico. Em relaçao aos diamagnéticos, os paramagnéticos apresentam a propriedade de serem mais intensamente atraídos pelos ímãs (nesse grupo inclui-se o alumínio). E os ferromagnéticos são materiais Aula 11 Física e Meio Ambiente 3 Atividade 1 N A B C S S N S N magnéticos, apresentando comportamento semelhante ao do ferro e sendo fortemente atraídos pelos ímãs. Você pode fazer algumas experiências buscando verifi car quantos materiais a sua volta possuem propriedades magnéticas (isto é, de ser atraído por ímãs) e quantos não possuem essas propriedades. Um fenômeno importante relacionado aos ímãs é a inseparabilidade dos pólos, o que signifi ca que nunca iremos encontrar um ímã com apenas um pólo. Se partimos um ímã em dois pedaços (como mostrado na Figura 1), cada uma das partes será um novo ímã completo com os dois pólos e, por mais que continuemos com o processo de partição, continuaremos a ter novos ímãs e cada um deles com seus dois pólos. Essa é uma diferença marcante entre eletricidade e magnetismo, pois podemos isolar cargas elétricas. Assim, temos cargas positivas isoladas de cargas negativas, mas não temos pólo norte magnético isolado de pólo sul magnético. Como uma primeira experiência, corte um ímã de geladeira (daqueles tipo fi ta) em duas partes (esses ímãs apresentam sempre uma face sobre a qual se coloca algum tipo de propaganda). em seguida, aproxime as duas faces que contêm a propaganda. O que acontece? Repita agora o mesmo com as faces que não têm propaganda. O queacontece? Caso você disponha de um ímã de alto-falante e possa retirar um pedaço dele, faça a experiência com este, pois os resultados serão ainda melhores do que os obtidos com os de geladeira. Figura 1 – (a) um Ímã com seus dois pólos (N = norte, S = sul) é partido ao meio dando origem a dois novos ímãs (b) e (c), cada um contendo dois pólos magnéticos Aula 11 Física e Meio Ambiente4 Você deve ter verifi cado que no primeiro caso nada aconteceu, as fi tas não se atraíram; já no segundo caso, as fi tas se atraíram ou se repeliram. Mesmo antes de entrarem em contato, você deve ter percebido que ocorre atração ou repulsão. Isso signifi ca que existe uma força envolvida nesse processo, é a chamada força magnética, a qual, como a elétrica e a gravitacional, age a distância (em nossas aulas anteriores, tal situação nos sugere a existência de um campo, o campo magnético, o qual, a exemplo dos campos elétrico e gravitacional, que já conhecemos, age a distância). Da mesma forma que para sabermos da existência do campo gravitacional, basta soltarmos uma pedra e verifi car que ela se desloca como se fosse “puxada para baixo’’, para verifi car a presença de um campo elétrico, “basta colocar uma carga elétrica de prova’’ nas proximidades de uma carga fi xa e verifi car sua aceleração. A presença de um campo magnético pode ser detectada colocando-se limalha de ferro na região onde acreditamos que existe o campo, ou atirando uma carga elétrica e verifi cando sua aceleração (na verdade, como veremos em movimento ciclotrônico no fi nal desta aula, o campo magnético pode alterar drasticamente o movimento de partículas carregadas que são lançadas em seu interior). O fenômeno da atração e repulsão que observamos com os ímãs nos remete ao experimento realizado na atividade 2 da aula 10 (Eletricidade e magnetismo I), quando atraímos o papel com a caneta eletrizada. Entretanto, o tipo de atração que se verifi ca com os ímãs é diferente, pois se aproximamos o ímã do papel picado, não conseguiremos atraí-lo, mas se o aproximamos de pregos, conseguiremos. E, ainda, se aproximamos a caneta da porta da geladeira, por mais que a esfreguemos no cabelo ou na calça jeans, não a conseguiremos fi xá-la ou mesmo atrair o papel picado. Um ímã de geladeira (do tipo fi ta), pelo seu modo de confecção, não nos permite apreciar todas as propriedades interessantes do magnetismo, mas nos permite verifi car que materiais que contêm ferro são facilmente atraídos pelo ímã, enquanto outros, como o alumínio, não são. A força magnética Como a força elétrica, a força magnética é capaz de agir sobre cargas elétricas afetando seu movimento, sendo essa propriedade o que nos permite defi ni-la quantitativamente. Dizemos que em uma dada região do espaço existe um campo magnético, se ao lançarmos uma carga elétrica com uma velocidade v nessa região ela tiver sua trajetória peculiarmente alterada. Para caracterizar formalmente a força magnética, precisamos conhecer as características locais do campo magnético −→ B e da velocidade −→v da partícula carregada eletricamente. Como mostraremos na Figura 2, o vetor força magnética será perpendicular ao plano gerado pelos vetores −→v e−→B . E será na direção de −→F que a partícula será defl etida. Formalmente, a equação da força magnética que atua sobre uma partícula de carga elétrica Aula 11 Física e Meio Ambiente 5 z y x v B F B q θ F v q e que se move no interior do campo magnético com velocidade v é −→ F = q−→v ×−→B O símbolo “×” na equação anterior refere-se ao produto de dois vetores, portanto, não é o produto no sentido usual. Tal produto é chamado de produto vetorial e tem como resultado um vetor, o qual é perpendicular, nesse caso, tanto a v quanto a B. O módulo de F pode ser obtido pela relação F = qvBsen θ, em que θ é o ângulo entre v e B, como mostrado na Figura 3: Um modo simplifi cado da equação anterior é obtido quando fazemos a velocidade perpendicular ao campo, θ = 90ο. Experimentalmente isso é simples, é só aplicar o campo Figura 2 – Uma partícula lançada na direção y, em uma região onde existe um campo magnético B apontando na direção z, será defl etida por uma força magnética que a deslocará na direção x. Figura 3 – O vetor força magnética é perpendicular ao plano gerado pelos vetores velocidade da partícula, de carga q, e campo magnético, os quais formam entre si um ângulo θ. Produto vetorial É possível multiplicar dois vetores para obter como produto outro vetor. −→ (Eq. 01) (Eq. 02) Aula 11 Física e Meio Ambiente6 carga positiva (A) carga negativa (B) sem carga (C) Campo magnético entrando na página = magnético em uma direção e lançar, com velocidade constante v, uma partícula carregada na direção perpendicular à do campo. Com isso, temos uma força magnética atuando sobre a partícula com uma intensidade dada por: F = qvB. E como será o movimento da partícula nesse caso? Veja a Figura 4 a seguir. A força irá provocar uma defl exão no movimento das partículas carregadas, enquanto as neutras não sofrem a ação do campo. Lembre que ela irá atuar em uma direção que é perpendicular tanto a −→v quanto a −→B . Além disso, no caso de lançarmos a carga elétrica na direção paralela ao campo, isso não fará com que essa carga sofra a ação dele.Tal fato constitui mais uma diferença entre os campos elétricos, gravitacionais e magnéticos, sendo que nos dois primeiros a ação acontece com maior intensidade na direção pararela ao campo. No caso do campo magnético, a força sobre a carga nestas condições será nula. Se a força for medida em newtons, a velocidade em m/s e a carga elétrica em coulomb, ou seja, sistema SI, a intensidade do campo magnético será medida em tesla (símbolo T). Nesse sistema de unidades, o valor médio do campo magnético terrestre na superfície é de 10-5 T (o qual depende do local e da altura, em relação ao nível do mar, em que nos encontramos). Correntes elétricas e a bússola Desde que se começou a usar as bússolas em navios, um fenômeno estranho era relatado pelos marinheiros: quando caíam raios no navio ou próximo a ele, a bússola se desorientava. Parecia muito estranho, pois era como se os raios tivessem “o dom’’ de afetar as bússolas instaladas a bordo do navio, entretanto, isso acontecia somente Figura 4 – Cargas positivas e negativas são defl etidas em direções opostas (A, B), enquanto uma partícula neutra (C) não sofrerá a ação do campo magnético. (Eq. 03) Aula 11 Física e Meio Ambiente 7 N S quando ocorriam próximo às embarcações. Como ainda não se conhecia a natureza dos raios, esse era mais um dos mistérios contados pelos marujos. Assim, quando Benjamin Franklin mostrou a natureza elétrica dos raios, ele abriu uma porta para o entendimento desse comportamento das bússolas. Todavia, não existia nenhum meio de provar que era a eletricidade dos raios a responsável pelo comportamento anômalo da bússola. Foi então, em 1752, que esse cientista realizou uma das mais célebres experiências da Ciencia: ele soltou uma pipa que levava uma chave (portanto, um pedaço de metal), em um dia de tempestades, conseguindo com isso atrair um raio (ele não morreu por sorte, mas certamente essa é uma daquelas experiências que não devemos repetir!). Tal experimento, além de tornar o sábio norte-americano ainda mais famoso, convenceu a comunidade científi ca da epóca de que os raios são fenômenos elétricos, na verdade, descargas elétricas, permitindo ainda que inventasse o pára-raios. A solução dessa questão só viria em 1820, quando o professor Oersted, em uma aula, verifi cou que a pasagem de uma corrente elétrica em um circuito afeta o comportamento de uma bússola proxima a ele. Estava então descoberto um dos fenômenos fundamentais da natureza: “cargas elétricas em movimento criam em torno de si campos magnéticos’’ que são detectáveis com o uso de bússolas ou outro tipo de sensor magnético. Em outras palavras, cargas elétricas em movimento são afetadaspela presença de campos magnéticos. Voltando à bússola, se você já teve uma em suas mãos, deve ter verifi cado a insistência da agulha imantada em apontar sempre na mesma direção. Isso deve-se à ação do campo magnético terrestre. A Terra comporta-se como um gigantesco ímã que envolve toda a sua superfície e toda a sua atmosfera; seu campo estende-se para além da exosfera e pode ser sentido por veículos espaciais que se movem mesmo a distâncias da ordem de alguns raios terrestres (conforme você estudou na disciplina Ciências da Natureza e Realidade). Figura 5 – Uma corrente elétrica i, fl uindo em um fi o, próximo a uma bússola, afeta a orientação da agulha desta. Aula 11 Física e Meio Ambiente8 Atividade 2 Voltemos à propriedade dos ímãs de atração e repulsão em relação a outros ímãs. Você poderá verifi car melhor com ímãs do tipo que existem em alto-falantes. Se tiver um em casa, tente parti-lo em dois pedaços e, em seguida, tente aproximá-los novamente. Você verifi cará que numa confi guração os pedaços se atraem e em outra eles se repelem. Isso deve estar fazendo você se lembrar da aula 10 na qual foi dito que “cargas elétricas de mesmo sinal se repelem e de sinais contrários se atraem’’. No caso dos ímãs, há algo parecido, trocamos o conceito de cargas pelo de pólos e dizemos “pólos iguais se repelem, pólos opostos se atraem’’. Mas, lembre-se de que todos os imãs possuem dois pólos, não será possível, portanto, construir um ímã apenas com um pólo, enquanto podemos ter materiais eletrizados apenas positivamente ou apenas negativamente. Do mesmo modo que utilizamos as linhas de campo para visualizar a ação do campo elétrico, temos condições de representar as linhas de campo magnético de um ímã. Em geral, utiliza-se limalha de ferro, a qual é espalhada, por exemplo, sobre uma folha de papel e, sob esta, coloca-se um ímã. Em poucos segundos, aparece uma confi guração semelhante à mostrada na fi gura a seguir, que representa a confi guração das linhas de campo do ímã. Se você nunca utilizou uma bússola, pode montar um experimento simples que em muito se assemelha a ela. Para tanto, precisará de uma agulha de costura e de um pires com água. Em geral, as agulhas são imantadas, isto é, possuem campo magnético adquirido pelo contato com material magnético. Tente fazer fl utuar a agulha sobre a água do pires. Isso pode exigir alguma habilidade (se não conseguir, tente colocar a agulha apoiada sobre um pequeno pedaço de isopor). Espere um pouco até a agulha fi car em repouso. Agora, gire lentamente o pires. O que acontece com a orientação da agulha? Anote sua observação: Agora, aproxime da agulha o seu ímã de geladeira, o que acontece? Anote sua observação: Aula 11 Física e Meio Ambiente 9 N S ím ã Quando colocamos uma limalha de ferro em volta de um ímã, ela irá se mover e se orientar de modo a se alinhar pelo campo magnético criado. A partir da Figura 6, podemos esquematicamente representar a Figura 7 do seguinte modo: Nosso planeta comporta-se como um gigantesco ímã cujo campo magnético também apresenta dois pólos, o norte e o sul, os quais se situam, respectivamente, no hemisfério sul e no hesmisfério norte (note que as linhas da Figura 7 se orientam do norte para o sul). Figura 8 – Representação simplifi cada do campo magnético terrestre. Figura 6 – Confi guração de campo margnético modulado por limalha de ferro Figura 7 – Representação das linhas de campo de um ímã Aula 11 Física e Meio Ambiente10 i B(r) r Fio percorrido por uma corrente i Lembrando agora da confi guração das linhas do campo geomagnético, vemos que, pelo menos próximo à Terra, elas são bastante parecidas com a representação do campo do ímã, conforme está representado nas Figuras 6 e 7. Mas, qual a importância do campo magnético para o meio ambiente? Existe atualmente uma vasta bibliografi a científi ca que trata de um tema chamado de biomagnetismo. Uma das conclusões interessantes dessa área é que muitos animais se orientam tanto pelo campo geomagnético quanto pelas pequanas variações dele, ou seja, eles são capazes de indentifi car um local e gravar no célebro sua posição pelo mapeamento que fazem do campo magnético. Um exemplo desse comportamento é dado pelos pombos, que em seu vôo identifi cam o campo magnético e através dele se orientam defi nindo rotas de vôo. Verifi ca-se também que a lagosta defi ne suas rotas de migração nos fundos oceânicos, usando informações sobre o campo geomagnético para essa orientação. Aparentemente, nós humanos, ao longo de nossa evolução, perdemos a percepção do campo magnético, como ocorre com a maioria dos animais. Sobre esse tema, você pode se aprofundar um pouco mais com o fi lme “magnetismo; a força que atrai”, produzido pelo Discovery Channel em 1998. Campo magnético e corrente elétrica Falamos que Oersted verifi cou que a presença de uma corrente elétrica produz campo magnético. Sabemos agora que, algumas aves, como os pombos, são orientadas no espaço por campos magnéticos. Um dos resultados de nossa evolução tecnológica foi a proliferação das linhas de transmissão de energia elétrica. Ao longo dessas linhas, são transportadas correntes elétricas e, como conseqüência, temos em volta de cada uma dessas linhas de transmissão a presença de um campo magnético que irá afetar o sistema de orientação dos pombos. A partir disso, algumas perguntas podem surgir: qual a intensidade dos campos magnéticos em volta dos fi os percorridos por correntes, qual o alcance desses campos e quantas vezes ele é maior ou menor que o campo magnético terrestre. Para responder a essas questões, precisamos formalizar matematicamente as relações entre campo e corrente. Figura 9 – Fio percorrido por uma corrente i gerando um campo magnético B cuja intensidade a uma distância r é dada pela Lei de Biot-Savart. B(r) é tangente ao círculo de raio r. Aula 11 Física e Meio Ambiente 11 Limalha de Ferro Fio percorrido por uma corrente elétrica Configuração do campo magnético em torno da corrente é circunferencial Seja i a intensidade da corrente elétrica, e B a intensidade do campo magnético gerado por i, a uma distância r desta, de acordo com a Figura 9. Como será demostrado em seu curso de eletromagnetismo, para essa situação podemos escrever o campo magnético circunferencial. B = μ0i 2πr Na equação anterior, conhecida como equação de Biot-Savart µo é uma constante de proporcionalidade, e será sempre a mesma se fi zermos nossa experiência no vácuo, mas, podemos aplicá-la no ar sem incorrer em grandes erros (formalmente a chamamos de permeabilidade do vácuo e no sistema que estamos utilizando vale 4π × 10−7N/A2 ). Geometricamente, B envolve i como as camadas da cebola envolvem seu centro (veja a Figura 10), com a diferença que aqui a simetria é mais próxima da cilíndrica, enquanto na cebola, mais próxima da esférica. Se espalhamos limalha de ferro em torno de um fi o percorrido por uma corrente elétrica, os grãos de ferro irão se mover e se orientar, como mostrado na fi gura, indicando assim que existe um campo magnético em torno do fi o. Figura 10 – Confi guração de campo magnético gerado por corrente elétrica, modulado por limalha de ferro. (Eq. 04) Aula 11 Física e Meio Ambiente12 Atividade 3 A lei de Faraday O grande cientista inglês do séc. XIX, Michaell Faraday, tem uma história pessoal fascinante. Apesar de nosso objetivo não ser história, podemos dizer que uma série de eventos espetaculares acabam levando um jovem de família muito pobre, religiosa, sem pretenções acadêmicas a descobertas que mudaram a nossa sociedade. Faraday interessou-se muito pelos fenômenos elétricos e magnéticos (trabalhou 10 anos com esse tema), em especial, pelos experimentos de Oersted, os quais mostravam que correntes elétricas criam campo magnético. Acreditando em simetrias na natureza – idéia muito forte entre os físicos – se perguntou se o próprio campo magnético não criaria corrente elétrica. Pararesponder a essa questão, ele montou um circuito elétrico com uma espira acrescentou um aparelho capaz de medir correntes elétricas, mesmo muito pequenas (um galvanômetro) e com um ímã do tipo bastão fi cou introduzindo o ímã na espira, surpreendeu-se ao verifi car que, no momento em que introduzia o ímã, aparecia um pico de corrente no galvanômetro, que, imediatamente, voltava para o zero. Ao retirar o bastão, o mesmo fenômeno voltava a acontecer: ocorria um pico e, em seguida, a corrente voltava a zero. Faraday não entendia o que havia de errado em seu experimento, não conseguia gerar a corrente que ele imaginava que surgiria ao aproximar um ímã de um fi o. Numa tentativa, ele refez o experimento pouco mais de 300 vezes (quantos não teriam desistido bem antes!). Depois de muito tentar, acabou prestando mais atenção no fenômeno que ocorria quando aproximava e quando afastava o ímã da espira. Ora, só durante a fase de aproximar e de afastar o ímã aparece a corrente. Portanto, não é apenas o ímã que é importante, mas também o seu movimento e, de fato, movimentando o ímã através da espira ele consegue gerar a corrente que procurava e Determine a intensidade do campo magnético a uma distância de 0,50m de um fi o de alta tensão percorrido por uma corrente de 1000 A e compare seu resultado com o valor do campo magnético terrestre na superfície da Terra. Supondo que valores de campo magnético ultrapassem em 10% o do campo terrestre, podendo afetar momentaneamente o sistema de orientação dos pombos, um pombo que se aproximasse 50 cm do fi o de alta tensão seria afetado? Comente seus resultados. Aula 11 Física e Meio Ambiente 13 Ímã O pneu encosta na rodinha serrilhada e faz o ímã girar Bobinas Fios para a lâmpada concluiu ainda: campo magnético variável gera corrente elétrica. Era isso que ocorria quando ele aproximava ou afastava o ímã, o campo magnético em torno da espira variava. Durante o tempo em que o ímã fi cava em repouso no interior da espira, existia campo magnético sim, mas este não variava e, por isso, não aparecia a corente elétrica esperada! Ao término de seus experimentos, em 1831, ele abriu as portas para o desenvolvimento dos motores elétricos, como exemplos desses motores, podemos citar os dínamos que usamos nas bicicletas. Em linguagem moderna, dizemos que um campo magnético variável gera uma força eletromotriz, a qual irá fazer circular uma corrente elétrica em um circuito elétrico. No nosso dia-a-dia, chamamos a força eletromotriz de tensão (a tensão nas tomadas em sua casa é de 220 volts). Para melhor ilustrar, mostramos como o dínamo de bicicleta funciona. Quando encostamos a parte superior do dínamo no pneu da bicicleta e este roda, o eixo do dínamo também irá girar. Ligado ao eixo, há um ímã que, por sua vez, irá girar no interior de uma bobina (um conjunto de espiras). Assim ao girar o ímã surge um campo magnético variável que induzirá uma corrente elétrica, a qual circulará na bobina e alimentará o circuito da lâmpada do farol da bicicleta. Pense nisso da próxima vez que acionar o dínamo de sua bicicleta! Gerando energia elétrica Agora que voce já sabe como funciona um dínamo, e como ele produz energia elétrica para acender o farol da bicicleta, podemos ir um pouco mais longe e discutir como funciona uma usina que gera eletricidade. Em nosso país, há duas grandes formas de gerar eletricidade, as hidrelétricas e as termelétricas. As termelétricas utilizam-se de algumas fontes de calor, por exemplo o gás natural, o óleo diesel e a energia nuclear. Com isso, a questão principal é como fazer para girar o eixo no interior do campo magnético ou como girar o campo magnético no interior da bobina. Na verdade, a Lei de Faraday permite dois movimentos equivalentes: ou mantemos a espira fi xa e movimentamos o ímã, ou mantemos o ímã fi xo e movimentamos a espira. O que importa é o movimento relativo. Numa hidrelétrica, acumula-se energia potencial em um reservatório, a qual será transformada em energia cinética durante sua queda, colidindo com as pás de um dínamo e transferindo momento para estas, que vão girar e mover um gigantesco núcleo dentro de Figura 11 – Dínamo de uma bicicleta Aula 11 Física e Meio Ambiente14 bobinas, produzindo energia elétrica. Ao usar o gás ou a energia atômica, o que se pretende é aquecer água para que gere vapor, esse vapor d’água sob alta pressão será canalisado em direção a turbinas que, ao girarem fazem com que o eixo de um dínamo também gire, produzindo, assim, mais uma vez energia elétrica. É claro que a complexidade de uma usina nuclear é muito maior que a de uma termelétrica ou de uma hidrelétrica, no entanto, o fenômeno físico que transforma energia cinética em elétrica é o mesmo. O cíclotron Uma aplicação relevante do que temos estudado até aqui é o desenvolvimento de partículas carregadas no interior de campo magnético uniforme. Quando uma carga elétrica se desloca no interior de um campo magnético constante, em uma direção perpendicular a este, sofre a ação de uma força magnética de intensidade dada por FB = qvB que irá curvar a trajetória da partícula. Se o campo é sufi cientemente intenso, a curva acaba se fechando sobre si mesma e a partícula entra em órbita circular, cujo raio pode ser estimado com base em algumas considerações a seguir. A primeira é que a força magnética passa a se comportar como a força centrípeta, ou seja, FB = mac onde, como voce já sabe, a aceleração centrípeta ac é dada por ac = v2 R e assim, qvB = m v2 R , logo, R = mv qB , temos dessa forma que o raio depende da carga e da massa, sendo possível saber a relação entre carga e massa das partículas. O raio R é chamado de raio ciclotrônico. (Eq. 05) cíclotron O cíclotron é um dispositivo que acelera partículas em círculos cujos raios aumentam a cada semicírculo, mas são dados pela equação acima, para distintos valores de B. Aula 11 Física e Meio Ambiente 15 Resumo 1 2 3 4 5 6 Auto-avaliação A um raio pode ser associado uma corrente elétrica de 60.000 a 100.000 A. Determine a que distância do raio o campo magnético associado a cada uma dessas correntes seria igual ao campo da Terra. Cite duas semelhanças entre o campo magnético e o elétrico, e uma diferença entre essses campos e o gravitacional. Escreva, com suas próprias palavras, a Lei de Faraday. Escreva a Lei de Biot-Savart. A presença de fi os de alta-tensão, como os espalhados por todos os recantos de nosso planeta, pode afetar o meio ambiente? Justifi que sua resposta. Nesta aula, vimos que alguns animais podem se orientar pelo campo magnético terrestre. O ser humano, pode fazer o mesmo? Ele usa o campo magnético para sua orientação? Em caso afi rmativo, como ele faz isso? Nesta aula, discutimos sobre as propriedades magnéticas da matéria e as aplicações tecnológicas dessas propriedades. Vimos também como a Física explica essas propriedades e como, através desse conhecimento, chegou-se a leis fundamentais que permitiram a construção de grandes hidrelétricas, fornecedoras de energia elétrica para grande parte de nosso pais. Aula 11 Física e Meio Ambiente16 Referências MAGNETISMO: a força que atrai. Produzido por Discovery Channel. Brasília: Abril Vídeo, 1998. PURCELL, Edward M. Eletricidade e magnetismo: curso de física de Berkeley. São Paulo: Edgar Blücher, 1970. v.2. YOUNG, H.; FREEDMAN, R. A. Física III: eletromagnetismo: Sears e Zemansky. 10. ed. São Paulo: Addison-Wesley, 2003. EMENTA > Ciclamio Leite Barreto > Gilvan Luiz Borba > Rui Tertuliano de Medeiros Física e mensuração. Movimentos e conceitos da mecânica. Relatividade. Temperatura, calor e termodinâmica. Ondas, som e audição. Eletricidade e magnetismo. Ondas, luz e visão. Meio ambiente e Física Moderna. Aplicações tecnológicas contemporâneas FÍSICA E MEIO AMBIENTE – INTERDISCIPLINAR AUTORES AULAS 01 O meio ambiente e a Física 02 Física e mensuração 03 Movimentos: conceitos fundamentais e descrição04 Força e movimento 05 Leis da conservação da mecânica I 06 Leis da conservação da mecânica II 07 Teoria cinética dos gases 08 Calor e termodinâmica 09 Ondas, som e audição 10 Eletricidade e magnetismo I 11 Eletricidade e magnetismo II 12 Ondas, luz e visão 13 Relatividade 14 Física moderna e meio ambiente 15 Energia nuclear e seus usos na sociedade << /ASCII85EncodePages false /AllowTransparency false /AutoPositionEPSFiles false /AutoRotatePages /None /Binding /Left /CalGrayProfile (None) /CalRGBProfile (Apple RGB) /CalCMYKProfile (None) /sRGBProfile (sRGB IEC61966-2.1) /CannotEmbedFontPolicy /Error /CompatibilityLevel 1.3 /CompressObjects /Off /CompressPages true /ConvertImagesToIndexed true /PassThroughJPEGImages true /CreateJobTicket true /DefaultRenderingIntent /Default /DetectBlends false /DetectCurves 0.0000 /ColorConversionStrategy /LeaveColorUnchanged /DoThumbnails false /EmbedAllFonts true /EmbedOpenType false /ParseICCProfilesInComments true /EmbedJobOptions true /DSCReportingLevel 0 /EmitDSCWarnings false /EndPage -1 /ImageMemory 524288 /LockDistillerParams true /MaxSubsetPct 5 /Optimize false /OPM 1 /ParseDSCComments true /ParseDSCCommentsForDocInfo false /PreserveCopyPage true /PreserveDICMYKValues true /PreserveEPSInfo true /PreserveFlatness true /PreserveHalftoneInfo false /PreserveOPIComments false /PreserveOverprintSettings true /StartPage 1 /SubsetFonts true /TransferFunctionInfo /Remove /UCRandBGInfo /Remove /UsePrologue false /ColorSettingsFile (None) /AlwaysEmbed [ true ] /NeverEmbed [ true ] /AntiAliasColorImages false /CropColorImages true /ColorImageMinResolution 150 /ColorImageMinResolutionPolicy /OK /DownsampleColorImages true /ColorImageDownsampleType /Bicubic /ColorImageResolution 180 /ColorImageDepth -1 /ColorImageMinDownsampleDepth 1 /ColorImageDownsampleThreshold 1.50000 /EncodeColorImages true /ColorImageFilter /DCTEncode /AutoFilterColorImages true /ColorImageAutoFilterStrategy /JPEG /ColorACSImageDict << /QFactor 0.76 /HSamples [2 1 1 2] /VSamples [2 1 1 2] >> /ColorImageDict << /QFactor 0.15 /HSamples [1 1 1 1] /VSamples [1 1 1 1] >> /JPEG2000ColorACSImageDict << /TileWidth 256 /TileHeight 256 /Quality 30 >> /JPEG2000ColorImageDict << /TileWidth 256 /TileHeight 256 /Quality 30 >> /AntiAliasGrayImages false /CropGrayImages true /GrayImageMinResolution 150 /GrayImageMinResolutionPolicy /OK /DownsampleGrayImages true /GrayImageDownsampleType /Bicubic /GrayImageResolution 180 /GrayImageDepth -1 /GrayImageMinDownsampleDepth 2 /GrayImageDownsampleThreshold 1.50000 /EncodeGrayImages true /GrayImageFilter /DCTEncode /AutoFilterGrayImages true /GrayImageAutoFilterStrategy /JPEG /GrayACSImageDict << /QFactor 0.76 /HSamples [2 1 1 2] /VSamples [2 1 1 2] >> /GrayImageDict << /QFactor 0.15 /HSamples [1 1 1 1] /VSamples [1 1 1 1] >> /JPEG2000GrayACSImageDict << /TileWidth 256 /TileHeight 256 /Quality 30 >> /JPEG2000GrayImageDict << /TileWidth 256 /TileHeight 256 /Quality 30 >> /AntiAliasMonoImages false /CropMonoImages true /MonoImageMinResolution 1200 /MonoImageMinResolutionPolicy /OK /DownsampleMonoImages true /MonoImageDownsampleType /Bicubic /MonoImageResolution 1200 /MonoImageDepth -1 /MonoImageDownsampleThreshold 1.50000 /EncodeMonoImages true /MonoImageFilter /CCITTFaxEncode /MonoImageDict << /K -1 >> /AllowPSXObjects false /CheckCompliance [ /None ] /PDFX1aCheck false /PDFX3Check false /PDFXCompliantPDFOnly true /PDFXNoTrimBoxError false /PDFXTrimBoxToMediaBoxOffset [ 0.00000 0.00000 0.00000 0.00000 ] /PDFXSetBleedBoxToMediaBox true /PDFXBleedBoxToTrimBoxOffset [ 0.00000 0.00000 0.00000 0.00000 ] /PDFXOutputIntentProfile (None) /PDFXOutputConditionIdentifier () /PDFXOutputCondition () /PDFXRegistryName () /PDFXTrapped /False >> setdistillerparams << /HWResolution [2400 2400] /PageSize [1700.700 1133.800] >> setpagedevice
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