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HISTÓRIA MODERNA E CONTEMPORÂNEA - Livro-Texto

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Autora: Profa. Ivy Judensnaider
Colaboradores: Prof. Vinícius Albuquerque
 Prof. Francisco Alves da Silva
 Prof. Gabriel Lohner Gróf
História Moderna 
e Contemporânea
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Professora conteudista: Ivy Judensnaider
É economista pela Fundação Armando Álvares Penteado e mestra pela Pontifícia Universidade Católica de São 
Paulo, no Programa de Estudos Pós‑Graduados em História da Ciência e da Tecnologia. Atualmente é professora da 
Universidade Paulista/UNIP, onde coordena o curso de Ciências Econômicas no campus Marquês (SP). Também atua no 
setor de publicações e é autora de inúmeros textos de divulgação científica publicados na internet. Nos últimos dez 
anos, tem trabalhado na elaboração de textos e de livros para uso em ensino a distância.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
J92h Judensnaider, Ivy.
História moderna e contemporânea. / Ivy Judensnaider. – São 
Paulo: Editora Sol, 2015.
168 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XVII, n. 2‑037/15, ISSN 1517‑9230.
1. Feudalismo. 2. Absolutismo. 3. Neoliberalismo. I. Judensnaider, 
Ivy. II. Título.
CDU 94
A‑XIX
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Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Giovanna Oliveira
 Cristina Z. Fraracio
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Sumário
História Moderna e Contemporânea
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7
Unidade I
1 A QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO E O MUNDO FEUDAL .....................................................................9
1.1 Contando a história ................................................................................................................................9
1.2 O surgimento do mundo feudal ..................................................................................................... 10
1.3 A decadência do sistema feudal .................................................................................................... 18
2 O PODER MUDA DE MÃOS: A CONSOLIDAÇÃO DO ANTIGO REGIME ........................................ 24
2.1 O fortalecimento das monarquias absolutistas e dos Estados nacionais ...................... 29
2.1.1 Na França ................................................................................................................................................... 34
2.1.2 Na Inglaterra ............................................................................................................................................. 35
2.1.3 No restante da Europa .......................................................................................................................... 38
3 CRUZANDO‑SE OS MARES, UM NOVO MUNDO É DESCOBERTO ................................................ 39
4 O DESPOTISMO ESCLARECIDO E O SÉCULO DAS LUZES .................................................................. 45
Unidade II
5 A CRISE DO ABSOLUTISMO E A ASCENSÃO DO ESTADO LIBERAL ............................................... 54
5.1 A discussão sobre o poder ................................................................................................................ 56
5.2 As revoluções burguesas ................................................................................................................... 61
5.2.1 A Revolução Francesa ........................................................................................................................... 62
5.2.2 A Revolução burguesa na Inglaterra .............................................................................................. 66
6 A CRISE DO FINAL DO SÉCULO XIX .......................................................................................................... 80
Unidade III
7 OS SÉCULOS XX E XXI .................................................................................................................................... 97
7.1 A Primeira Guerra Mundial .............................................................................................................. 97
7.2 A crise de 1929 ....................................................................................................................................104
7.3 A Segunda Guerra Mundial e os Anos Dourados do Capitalismo ..................................110
7.3.1 A Segunda Guerra Mundial .............................................................................................................. 110
7.3.2 Os Anos Dourados do Capitalismo ................................................................................................ 120
7.3.3 A Guerra Fria .......................................................................................................................................... 123
7.3.4 A crise do petróleo e os efeitos na economia mundial ........................................................ 128
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8 O NEOLIBERALISMO E SEUS DESDOBRAMENTOS ............................................................................133
8.1 O neoliberalismo e o Consenso de Washington ....................................................................133
8.2 O século XXI e as reações ao neoliberalismo...........................................................................136
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APRESENTAÇÃO
Ao longo de nosso livro‑texto, vamos apresentar uma visão contextual da Europa moderna inserida 
na transição do feudalismo ao capitalismo e das suas múltiplas implicações no mundo do trabalho. 
Nossa intenção é identificar a articulação que se estabeleceu entre a estrutura social e a organização 
do poder, acompanhando o período de consolidação do Estado absolutista e a disseminação de ideias 
que teriam como objetivo mudanças radicais desse mesmo Estado. Também trataremos das correntes de 
pensamento presentes no período: a escolástica, o Renascimento e o iluminismo.
Faremos ainda a análise da crise do absolutismo e da ascensão do Estado liberal. Também destacaremos 
o caráter social das revoluções burguesas da Inglaterra e da França por meio da apresentação de 
discussões históricas sobre o processo de industrialização e da introdução de novos paradigmas sociais 
do liberalismo clássico e da democracia popular. Para isso, identificaremos, nas contradições do Antigo 
Regime, o avanço do
ideário liberal e de suas manifestações revolucionárias, estabelecendo relações 
entre as características contraditórias do capitalismo e as ideias socialistas. Também abordaremos o 
capitalismo monopolista do imperialismo e do neocolonialismo no contexto da segunda metade do 
século XIX, investigando as raízes da Primeira Guerra Mundial e o fim da hegemonia europeia.
Por fim, estudaremo a Primeira e a Segunda Guerra Mundial e discutiremos o processo de concentração 
da riqueza no contexto do mundo globalizado, que gerou novos mapas e contextos geopolíticos.
INTRODUÇÃO
A disciplina História Moderna e Contemporânea, cujo livro‑texto agora se apresenta, tem como 
objetivo primordial oferecer uma visão da Europa inserida na transição do feudalismo para o capitalismo, 
acompanhando o período de consolidação e de crise do Estado absolutista até a ascensão do Estado 
liberal e do capitalismo do século XX. Nosso objetivo principal é investigar as articulações que se 
estabeleceram entre as estruturas socioculturais e a organização do poder.
Para isso, serão enfatizados os estudos referentes às origens, estruturação e consolidação do Estado 
absolutista, bem como o posterior processo das revoluções burguesas e da montagem do Estado liberal. 
Dessa forma, investigaremos a crise do Antigo Regime e a expansão do liberalismo, a Revolução Industrial 
e a disseminação das doutrinas socialistas.
Em relação ao século XIX, estudaremos o capitalismo monopolista e o imperialismo; já em relação 
ao século XX, discutiremos a Primeira Guerra Mundial, a crise mundial da década de 1930, a Segunda 
Guerra Mundial, o cenário polarizado da Guerra Fria, o processo de globalização e os novos mapas 
geopolíticos a partir daí desenhados.
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HISTÓRIA MODERNA E CONTEMPORÂNEA
Unidade I
1 A QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO E O MUNDO FEUDAL
Apresentaremos uma visão contextual da Europa moderna inserida na transição do feudalismo 
ao capitalismo. Nossa intenção é acompanhar o período de consolidação do Antigo Regime, 
bem como os prenúncios para a sua decadência. Para isso, investigaremos as diversas formas 
de organização econômica e sociopolítica presentes no período, assinalando as principais 
correntes do pensamento filosófico entre os séculos XV e XVIII (a escolástica, o Renascimento e 
o iluminismo).
1.1 Contando a história
Segundo Arruda (2008, p. 8), a História permite que ultrapassemos o “eu” na direção do “nós”, quer 
dizer, que possamos compreender a relação do homem com outros homens ao longo do tempo. Nesse 
processo de transição do particular para o geral, “a consciência histórica, que é parte fundante do 
conhecimento da História, pressupõe a ultrapassagem do ‘eu individualista’ e é, concomitantemente, um 
dos principais caminhos para realizar essa superação” (ARRUDA, loc. cit.).
Aceitar a importância da narrativa histórica, permanece, entretanto, uma dificuldade comum a 
todos os historiadores que se propõem a fazê‑lo: das muitas histórias existentes, qual deve ser contada? 
Como narrar o tempo e os acontecimentos que nele transcorreram? Com que olhos examinar o passado 
e como alcançar a objetividade necessária para esse exame?
No caso específico da tarefa aqui empreendida, nossos pressupostos, e que nos nortearão nessa 
tarefa de contar a história moderna e contemporânea, são os seguintes:
• É possível identificar uma rede intrincada de relações entre as transformações sociais, o pensamento 
político‑filosófico e o ambiente científico. Esse mosaico de relações cria o contexto que explica 
as mudanças ocorridas do ponto de vista das estruturas econômicas e políticas construídas pela 
sociedade ao longo do tempo.
• A História é caótica, não linear, cheia de ocasos e acasos. Ela não funciona por meio de associações 
claras de causa e efeito, embora a descoberta da natureza dessas associações seja tarefa à qual se 
dedique o historiador.
• Os acontecimentos históricos narrados são aqueles percebidos pelo historiador como os mais 
relevantes. Do nosso ponto de vista, esses acontecimentos dizem respeito à disseminação do 
capitalismo como sistema econômico hegemônico e ao liberalismo como sistema político 
dominante. Além disso, é importante ressaltar que contaremos a história relativa a populações com 
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Unidade I
as quais fomos levados historicamente a nos identificar – sem de fato combater o eurocentrismo 
muito presente na produção historiográfica, trabalharemos com fatos e análises concernentes 
apenas ao Ocidente.
• Reconhecemos que as concepções gerais e os valores que o historiador possui influenciam 
sua forma de ver o objeto de estudo, distorcendo ou não o seu campo visual, aumentando ou 
diminuindo a percepção de determinados aspectos do mundo observado.
• A História é um processo tenso, contraditório e sem finalidade imanente, na qual agentes (grupos 
sociais) com interesses comuns e constituídos a partir de possibilidades e limites determinados 
afirmam e fazem reconhecer suas necessidades sociais.
• Contaremos a História por meio da narrativa de historiadores que escreveram sobre história, 
resgatando a passagem do tempo e organizando‑o de forma que o passado possa ser compreendido 
e o presente observado com espírito crítico.
Esse será o nosso eixo norteador: contaremos a História dos desenvolvimentos relacionados ao 
processo de disseminação do capitalismo e que se fez acompanhar de profundas transformações 
sociais e políticas do ponto de vista do exercício e da distribuição de poder entre as várias camadas 
da sociedade.
1.2 O surgimento do mundo feudal
A desintegração do Império Romano a partir do século III e o seu desmembramento em inúmeros 
reinos bárbaros fizeram desaparecer a unidade econômica e política encontrada até então na região. 
A inexistência de um governo centralizador estimulou a criação de uma colcha de retalhos de grandes 
propriedades autossuficientes, isoladas e comandadas por forças locais. De acordo com Heilbroner e 
Milberg (2008, p. 43),
[...] com a segurança e a proteção substituídas por autarquias e anarquia 
locais, as longas viagens dos artigos para comércio tornaram‑se bastante 
arriscadas, e a vida até pouco tempo efervescente das grandes cidades 
ficou impossível. Desaparecida uma moeda e uma legislação comuns, 
[...] a rede já estabelecida das conexões econômicas foi rompida ou 
caiu em desuso. Com doenças e invasões, [...] as pessoas passaram, 
necessariamente, para formas mais defensivas de organização [...]. Surge 
uma nova necessidade: a de comprimir a organização viável da sociedade 
no menor perímetro possível.
O feudalismo europeu surgiu como resultado do retrocesso da base econômica que, inicialmente 
avançada (ao menos do ponto de vista das atividades comerciais), voltou‑se para o estágio da 
agricultura de subsistência em propriedades agrícolas e autossuficientes. Segundo Magalhães Filho 
(1991, p. 102), “cada comunidade volta‑se sobre si mesma, as cidades despovoam‑se, e os grandes 
latifúndios passam a produzir para a subsistência local”. Essa forma de sobrevivência, hegemônica 
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durante a Idade Média e responsável pelo surgimento de uma nova e específica ordem social e política, 
recebeu o nome de feudalismo.
 Observação
A Idade Média (entre os séculos V e XV) é dividida em dois períodos: a 
Alta Idade Média (entre os séculos V e X) e a Baixa Idade Média (entre os 
séculos X e XV). Para alguns historiadores, a queda de Constantinopla (1453) 
marca o início da modernidade histórica, que vai durar até a Revolução 
Francesa (1789).
Figura 1 – Istambul, antiga Constantinopla (Turquia)
Antes de avançarmos, é importante esclarecer
que o imaginário que cerca a Idade Média como 
uma época de obscurantismo integra uma percepção errônea, depreciativa e equivocada sobre o 
período. Ao contrário das trevas simbolizadas pela hegemonia da Igreja, é importante ressaltar 
que, se não fossem as instituições católicas, todo o pensamento clássico teria se perdido. Longe da 
escuridão imaginada, a Idade Média criou as universidades, locais onde se estudavam Geometria 
Euclidiana, Lógica, Metafísica, Ética, Medicina, Física e Direito. A escolástica, escola de pensamento 
filosófico desse período, recebeu influência determinante dos clássicos e foi marcada pela tentativa de 
conciliação entre fé e razão. Nos monastérios, monges trataram de recepcionar, traduzir e preservar 
obras gregas, romanas, árabes e judaicas. Claro que esses textos passaram por um curioso processo 
de “cristianização”: tratava‑se, afinal, de adequá‑los à teologia cristã. No entanto, distante do mundo 
escuro, árido e retrógrado que o imaginário ocidental construiu, a Idade Média foi o momento em 
que a nossa civilização passou a ser construída.
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Unidade I
Figura 2 – Copistas trabalhando em três línguas: grego, latim e árabe – Palermo, Itália
 Saiba mais
Sugerimos, sobre o assunto, o filme O Nome da Rosa, baseado no 
romance homônimo de Umberto Eco.
O NOME da rosa. Dir. Jean‑Jacques Annaud. Itália; Alemanha; França: 
Neue Constantin Film, 1986. 130 minutos.
Outro cuidado importante diz respeito à impossibilidade de pensarmos a Idade Média como algo 
compactado e uniforme. Para Heilbroner e Milberg (2008), devemos investigar esse período em termos 
de sua variedade: o camponês da Normandia no século X não tem nada em comum com o florentino 
do século IV, apenas para darmos um exemplo. Dessa forma, a Idade Média não pode ser retratada de 
forma monocromática; ao contrário, “nem estagnação, nem progresso linear lento, mas marés seculares 
imensas e irregulares marcam a longa história do feudalismo, e somos por ela alertados contra uma 
concepção simplista de seu desenvolvimento” (HEILBRONER; MILBERG, 2008, p. 43).
Tratemos, então, de estudar o sistema feudal em termos de suas características mais relevantes, 
entre elas as relações de vassalagem. Segundo Rezende (2007, p. 43),
[...] a característica básica desse novo sistema [...] é a redução de todo 
aquele que realiza uma tarefa manual a uma condição implícita de perda 
da liberdade individual, uma vez que, desempenhando sua tarefa, ele 
estará necessariamente permitindo que outros possam se dedicar com 
exclusividade a outras duas funções: lutar e rezar.
A base desse sistema era a propriedade manorial administrada pelo senhor feudal: ele era o gerente, 
o protetor, o juiz, o chefe de política e o administrador. Sua moradia ficava no centro da propriedade, 
em uma imensa e fortificada casa, quase semelhante a um castelo.
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Figura 3 – Castelo de Coucy (séc. XIII, aprox.) – região francesa da Picardia
O servo era o trabalhador a serviço do senhor feudal. Ele era parte da terra, estando a ela ligado e 
dela não podendo ser afastado. No sistema feudal, o servo não era um escravo: não podia ser vendido 
e sua família não podia ser desmembrada. Ele mudava de senhor quando a terra passava para outras 
mãos; pois da terra não podia ser expulso e não podia fugir.
Figura 4 – Servos trabalhando na terra – ilustração de um manuscrito do século XII
 Observação
Essa relação só se modificou quando a terra, per si, passou a representar 
um bem econômico passível de ser transacionado.
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Unidade I
 Lembrete
O feudalismo europeu surgiu como resultado do retrocesso da base 
econômica que, inicialmente avançada (ao menos do ponto de vista 
das atividades comerciais), voltou‑se para o estágio da agricultura de 
subsistência em propriedades agrícolas e autossuficientes.
O entendimento das características da servidão é fundamental para compreendermos o modo de 
produção feudal. Segundo Dobb (1986), a servidão era uma obrigação imposta ao produtor pela força e, 
independentemente de sua vontade, pelas exigências econômicas de um senhor, fossem elas quais fossem. 
Essa obrigação podia fazer com que o servo tivesse compromissos financeiros ou prestasse determinados 
serviços e, em função dessas características, não há como confundir a situação do servo com a do escravo.
Se o escravo era parte da propriedade e podia ser comprado ou vendido [...] 
a qualquer tempo, o servo, ao contrário, não podia ser vendido fora da terra. 
Seu senhor deveria transferir a posse do feudo a outro, mas isso significava, 
apenas, que o servo teria um novo senhor; ele próprio permanecia em seu 
pedaço de terra. Esta era uma diferença fundamental, pois concedia ao servo 
uma espécie de segurança que o escravo nunca teve. Por pior que fosse o 
seu tratamento, o servo possuía família e lar e a utilização de alguma terra 
(HUBERMAN, 1974, p. 15).
 Lembrete
A questão da servidão, que permeia o período do feudalismo, é fundamental 
para a compreensão das características da organização social naquele tempo. 
Longe de ser apenas um aspecto folclórico daquele instante, essa forma de 
relacionamento explica a estrutura socioeconômica da era feudal.
É importante destacar que os graus de servidão variavam muito. Para Magalhães Filho (1991), 
havia servos que pertenciam ao senhor, havia outros cujos vínculos e obrigações eram menores. Havia, 
inclusive, “arrendatários” cuja única obrigação era o pagamento de uma taxa fixa anual. Em geral, o 
servo vivia num casebre miserável, retirando da terra apenas o necessário para a sua sobrevivência e 
deixando o restante para o senhor. Em troca das muitas horas de trabalho nas terras do senhor, o servo 
recebia proteção contra ataques e saqueadores. De acordo com o mesmo Magalhães Filho (1991, p. 118):
[...] as terras cultivadas pelos camponeses para si mesmos, assim como as 
que cultivavam para o senhor, eram plantadas em faixas alternadas, o que 
permitia a rotação das culturas, favorecendo maior rendimento. Anualmente, 
uma das faixas era deixada em pouso, para descanso e recuperação do 
solo. Cada família camponesa trabalhava duas ou três faixas, geralmente 
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não contíguas, das terras da aldeia, devendo, além disso, prestar trabalho 
gratuito nos domínios do senhor. Essa obrigação, a corveia, era uma das 
características básicas do sistema, variando suas formas no espaço e no 
tempo, mas existindo sempre.
Embora fosse raro, também acontecia de um servo “comprar” sua libertação, e tal fenômeno só não era mais 
frequente por conta da dificuldade em se obter dinheiro em uma economia caracterizada pela autossuficiência 
e pela subsistência. “Somente quando o comércio foi gradativamente ressurgindo é que essa forma de libertação 
tornou‑se mais acessível, ainda que apenas para uma minoria” (MAGALHÃES FILHO, 1991, p. 119).
É importante salientar que a relação de vassalagem não se limitava ao senhor feudal e aos seus 
servos. Essa forma de relacionamento alcançava o próprio senhor feudal, já que ele, por sua vez, era 
vassalo de algum nobre dono das terras em que vivia, ou de um rei. Em troca da concessão de gestão 
das terras, o senhor feudal devia obrigações financeiras ou militares.
O senhor do feudo, como o servo, não possuía a terra, mas era, ele próprio, 
arrendatário de outro senhor, mais acima na escala. O servo, aldeão 
ou cidadão “arrendava” sua terra do senhor do feudo que, por sua vez, 
“arrendava” a terra de um conde, que já a “arrendara” de um duque, que, 
por seu lado, a “arrendara” do rei. E, às vezes, ia ainda mais além, e um rei 
“arrendava” a
terra a um outro rei! A relação de vassalagem, inclusive, é 
transferida hereditariamente, de pai para filho: o filho será servo daquele 
a quem seu pai e seu avô também foram servos (HUBERMAN, 1974, p. 18).
Foi esse sistema, portanto, que caracterizou a organização econômica de uma Europa Ocidental que 
passava, naquele momento, por um amplo processo de ruralização. Segundo Rezende (2007, p. 44),
[...] esse sistema procedeu a um notável alargamento da camada dos não 
livres, para que através da compulsão do trabalho, a produção pudesse, ao 
menos, manter‑se em um volume mínimo para a satisfação das necessidades 
básicas, em uma fase cujo traço dominante foi descrito como sendo uma 
escassez endêmica.
Outra característica importante do feudalismo foi o crescimento da população a partir da Alta Idade 
Média: antes sujeita a um recuo demográfico significativo, a Europa Ocidental cresceu, ficando sua 
população próxima dos 20 milhões de habitantes no século XIV.
 Observação
O crescimento populacional foi contido pelas grandes epidemias de peste 
que chegaram a dizimar um quarto da população. Para que se tenha uma 
noção do que isso representou na Europa, a população voltou aos marcos 
anteriores ao século XIV apenas no século XVI (MAGALHÃES FILHO, 1991).
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A quem pertenciam as terras administradas pelos senhores feudais? Além de reis e nobres, as ordens 
monásticas ou instituições religiosas eram as maiores proprietárias de terras. Não havia sido difícil 
amealhar tanta terra: deixadas em herança para a Igreja por homens preocupados em garantir um lugar 
no paraíso, ou doadas por pessoas que imaginavam estar ajudando os pobres, ou ainda doadas por reis 
depois de batalhas e guerras vencidas; aos poucos, a Igreja foi se apropriando de terras, até que chegou 
a possuir entre um terço e metade do território europeu (HUBERMAN, 1974).
Além de possuir a maior porção das terras, a Igreja também era responsável por disseminar as crenças 
e valores que norteavam a vida de todos. A vida era apenas um preparo para a vida na eternidade. Em 
função disso, pregava‑se o conformismo àquilo que a vida havia destinado a cada um; trabalhar com o 
objetivo de ter mais – ou possuir mais – refletia ganância. Era pecado correr atrás do lucro ou do ganho 
pessoal, trabalhando além do necessário para satisfazer as necessidades mais básicas. Quem tivesse o 
suficiente para viver e, não obstante, continuasse a trabalhar incessantemente,
[...] [fosse] para conseguir uma posição social melhor, [fosse] para viver 
mais tarde sem trabalhar, ou para que seus filhos se tornassem homens de 
riqueza e importância – todos esses estavam dominados por uma avareza, 
sensualidade ou orgulho condenáveis. [...] O bom cristão ajudava o vizinho 
sem pensar em lucro. [...] O justo era receber apenas o que se emprestava, e 
nada mais nem menos (HUBERMAN, 1974, p. 46‑48).
É importante ressaltar que essas regras eram impostas e defendidas por quem não as seguia. Os bispos 
e reis, embora combatessem e fizessem leis contra os juros, estavam entre os primeiros a desrespeitá‑las. 
Prova disso eram os portentosos prédios da administração religiosa nas cidades: a riqueza da Igreja não 
se limitava às propriedades rurais.
Nas cidades, poucas delas com mais de cem mil habitantes, ficavam também a produção de 
manufaturas e alguns pontos estratégicos de comércio e troca de mercadorias. Nas aldeias externas às 
terras feudais, a produção manufatureira ficava a cargo das pequenas oficinas artesanais, organizadas 
sob a forma de um sistema de corporações de ofícios, as guildas.
 Observação
Em guildas reuniam‑se padeiros, pintores, curtidores de couro, ferreiros, 
açougueiros, fruteiros, cirurgiões, jornaleiros, entalhadores, costureiros e 
sapateiros. As guildas se constituíam na união de mestres que definiam 
as regras e condutas de cada negócio. Assim, para que alguém pudesse 
abrir uma oficina de sapato, deveria receber a autorização da guilda dos 
sapateiros. De fato, o processo não era tão simples assim: antes de ser 
autorizado a trabalhar por conta própria, o aprendiz deveria ficar durante 
vários anos na oficina do mestre, aprendendo seu ofício. Apenas depois 
desse treinamento, ele estaria em condições de solicitar autonomia para 
administrar sua própria unidade de negócio.
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Exemplo de aplicação
Os modernos sindicatos de trabalhadores são agremiações que têm o objetivo de defender os 
interesses de seus membros.
Reflita a respeito das semelhanças e das diferenças entre os atuais sindicatos e as guildas da Idade 
Média.
O que a guilda objetivava não era o lucro: suas finalidades eram a conservação do ofício dentro 
de normas severas de conduta e o convívio social entre seus membros sem quaisquer conflitos. Em 
uma sociedade em que praticamente não havia circulação de moeda, a guilda não defendia o livre 
estabelecimento de preços, a livre concorrência, a busca de vantagens comparativas ou as práticas 
comerciais agressivas. O que ela queria, ao contrário, era defender seus membros de toda e qualquer 
concorrência ou prática que pudesse ameaçar a qualidade dos produtos e a manutenção da profissão, 
o que incluía os segredos de ofício. Huberman (1974, p. 65) nos dá um breve exemplo a respeito dos 
estatutos dos curtidores de couro branco na Inglaterra de 1346:
[1] se qualquer pessoa do dito ofício sofrer de pobreza pela idade, ou porque 
não possa trabalhar, terá toda semana sete dinheiros para seu sustento, se 
for homem de boa reputação.
[2] E nenhum estrangeiro trabalhará no dito ofício se não for aprendiz ou 
homem admitido à cidadania do dito lugar.
[3] E ninguém tomará o aprendiz de outrem para seu trabalho durante o 
aprendizado, a menos que seja com a permissão de seu mestre. E se alguém 
do dito ofício tiver em sua casa trabalho que não possa completar, os demais 
do mesmo ofício o ajudarão, para que o dito trabalho não se perca.
[4] E se qualquer aprendiz se comportar impropriamente para com seu mestre, 
e agir de forma rebelde para com ele, ninguém do dito ofício lhe dará trabalho, 
até que tenha feito as reparações perante o Alcaide e os Intendentes.
[5] Também a boa gente do mesmo ofício uma vez por ano escolherá dois 
homens para serem supervisores do trabalho e de todas as outras coisas 
relacionadas com as transações daquele ano, pessoas que serão apresentadas 
ao Alcaide e Intendentes. Prestando perante eles o juramento de indagar e 
pesquisar, e apresentar lealmente ao dito Alcaide e Intendentes os erros que 
encontrarem no dito comércio, sem poupar ninguém, por amizade ou ódio. 
Todas as peles falsas e mal trabalhadas serão denunciadas.
[6] Ninguém que não tenha sido aprendiz e não tenha concluído seu termo 
de aprendizado do dito ofício poderá exercer o mesmo.
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Unidade I
É possível que, a essa altura, você já consiga formar um quadro preciso do contexto do mundo 
feudal: interiorizada e ruralizada, a vida seguia as normas e os valores da Igreja. Como os feudos eram 
autossuficientes, havia pouca oportunidade para o comércio. Aliás, a moeda era escassa e variava de 
lugar para lugar, dificultando as trocas e o câmbio. A vida feudal era, basicamente, uma economia de 
consumo para a sobrevivência.
1.3 A decadência do sistema feudal
Essa situação foi mudando aos poucos. Aliás, tudo aquilo que sustentava o mundo feudal foi 
ruindo lentamente, abrindo brechas para um novo mundo e uma nova vida. O comércio foi crescendo, 
as cidades surgiram, o senhor feudal perdeu o poder e a rígida hierarquia de classes foi deixando 
de fazer sentido. Esse é um processo ao qual devemos dar atenção, porque ele está na raiz das 
mudanças que tornaram as monarquias o centro de onde emanava o poder.
Vejamos, portanto, como 
isso ocorreu.
O aumento da produtividade por meio de técnicas quase rudimentares (como o esquema de descanso 
para as terras e o uso de cavalos para arar os campos) provocou o aumento do excedente econômico. 
Esse excedente precisava ser trocado e o aumento da riqueza dos senhores feudais fez aumentar a 
procura por artigos de luxo, inexistentes na Europa, mas disponíveis no Oriente e em outros lugares 
distantes, alcançados por meio das rotas comerciais.
O excedente econômico também era trocado nos pequenos mercados medievais, utilizados para 
a aquisição de produtos agrícolas, sal, peixes, metais e artigos manufaturados. Os vendedores eram 
os próprios agricultores e os artífices: não havia intermediários. Os servos também utilizavam esses 
pequenos mercados para trocar produtos entre si. Com o passar do tempo, a intensificação das trocas 
introduziu a figura do vendedor intermediário, que também passou a se especializar na venda de 
determinados produtos.
Esses vendedores percorriam as estradas medievais em grupo, levando nas sacolas os produtos que 
haviam atravessado a Europa, ou que tinham a Arábia e a Índia como origem. Dentro do esquema 
do mundo feudal, eles não eram servos ou senhores feudais, não faziam parte da nobreza ou da vida 
religiosa, mas passaram a compor a paisagem social, sendo tolerados, já que necessários. E, afinal, eram 
eles que traziam “o primeiro sopro de comércio e relações comerciais para uma Europa que afundara 
numa estagnação manorial quase sem trocas e autossuficiente” (HEILBRONER; MILBERG, 2008, p. 57).
O comércio, mesmo ainda incipiente, sofria com as condições de tráfego e estradas, situação que 
aos poucos iria mudar. De qualquer forma, a existência desses novos agentes intermediários fez surgir 
“as grandes feiras, que caracterizar[iam] o comércio europeu nos séculos XII e XIII” (MAGALHÃES FILHO, 
1991, p. 126). As feiras de Saint‑Denis (próxima a Paris) e as da região de Champagne são as mais antigas 
e famosas. “Essas feiras eram o ponto onde os produtos provenientes do sul da Europa e do comércio 
da bacia do Mediterrâneo eram trocados pelos do norte da Europa e do comércio do Báltico” (ibidem, 
p. 127). O que pensavam os senhores feudais a respeito das feiras que aconteciam nas suas terras? Em 
troca de comissões pelos negócios que eram realizados, eles apoiavam essa atividade comercial; afinal, 
elas traziam lucro e prosperidade.
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No entanto, não eram apenas as estradas que precisavam ser melhoradas. Em meio a inúmeras 
diferentes moedas, era necessário que agentes fizessem a troca de dinheiro, estabelecendo o 
câmbio. O cenário então se distanciava daquele ruralizado e interiorizado dos primórdios da era 
feudal. Havia feiras, agentes comerciais e “banqueiros”. As cidades cresciam, fazendo surgir uma 
população que não estava comprometida com a terra e com as relações de vassalagem oriundas 
da posse da terra. Essa população urbana via o comércio como um fator de enriquecimento, lícito 
e desejado. De fato, a expansão comercial europeia fazia parte do processo que, mais adiante, 
caracterizaria o Antigo Regime.
Como se deu essa expansão comercial? As antigas rotas que partiam do Mediterrâneo para a Ásia, e 
que já haviam sobrevivido às invasões bárbaras e árabes dos séculos XIII ao X, foram reativadas para que 
os artigos de luxo pudessem ser trazidos para a Europa. Cidades ao longo da costa italiana e outras, em 
posição geográfica privilegiada, passaram a ser utilizadas para o comércio que, depois, atingia as regiões 
da Catalunha e de Bolonha.
A partir do século XI, o comércio recebeu um impulso significativo, em especial por conta das 
Cruzadas.
Atualmente, podemos contar com muitas teorias que tentam explicar o 
motivo da convocação das Cruzadas para libertar a Terra Santa. Quase todas 
concordam com a ideia de que tenha sido um movimento de busca de novos 
espaços de ocupação no sentido de promover uma diminuição da pressão 
interna exercida na sociedade ocidental pela demanda crescente de bens e 
de ações militares. Segundo esse ponto de vista, as Cruzadas teriam servido 
para canalizar a violência dos cavaleiros para fora da Cristandade, numa 
atividade que, no imaginário, condizia com sua função social e dignidade. 
De fato, os privilegiados, senhores de terras, padeciam de um processo 
crescente de esgotamento de seu patrimônio, resultado das frequentes 
partilhas entre os filhos a cada geração. Acabaram por adotar o sistema de 
sucessão patrimonial que privilegiava apenas o primogênito; no entanto, 
essa estratégia geraria um excedente de filhos de nobres não contemplados 
com bens que constituíam importante foco de agitação social. As Cruzadas 
ocupariam esses nobres numa função útil ao conjunto da Cristandade 
(FERNANDES, 2006, p. 108).
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 Saiba mais
Sugerimos a leitura de A História das Guerras, coletânea de textos sobre as 
guerras mais importantes da humanidade organizados por Demétrio Magnolli, 
e disponível na Biblioteca Digital. Recomendamos a leitura do livro todo, mas 
enfatizamos o capítulo que trata exclusivamente de todas as Cruzadas:
FERNANDES, F. R. Cruzadas na Idade Média. In: MAGNOLI, D. 
História das Guerras. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2006. (Disponível na 
Biblioteca Digital).
Os Estados Latinos Oriente (século XII)
Países muçulmanos Lugares santos
Chegada dos cruzados
Figura 5 – As Cruzadas
Ao longo do caminho dos cruzados em direção ao Oriente, foram surgindo entrepostos comerciais, 
sementes de futuras cidades. Segundo Magalhães Filho (1991, p. 133):
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[...] o transporte de milhares de cruzados e seu equipamento, a construção dos 
navios necessários para isso, a conquista dos principais portes levantinos e 
bizantinos, inclusive a própria Constantinopla, com o correspondente saque, 
a ocupação definitiva de pontos estratégicos sobre as rotas mais importantes, 
tudo isso enriqueceu rapidamente os comerciantes europeus. Por outro lado, 
os contatos com a civilização islâmica, com seu desenvolvimento cultural 
e científico superior ao europeu, e com uma variada gama de produtos e 
costumes desconhecidos na Europa, repercutiriam nos hábitos de consumo 
desse continente.
Na verdade, os ganhos comerciais com as Cruzadas não foram poucos, já que algumas expedições 
nada mais eram do que verdadeiras operações de saque das cidades orientais. Se, para Roma, as Cruzadas 
permitiam a disseminação do catolicismo (aumentando, assim, sua área de influência, ao mesmo tempo 
que limitavam o avanço muçulmano), para os nobres e senhores feudais endividados, as Cruzadas eram 
oportunidades para adquirir riquezas. Finalmente, para várias cidades, as Cruzadas eram perfeitas para a 
conquista de vantagens comerciais. Assim, embora desastrosas do ponto de vista religioso (uma vez que 
não conseguiram conter o avanço muçulmano e tampouco aumentar a esfera de influência de Roma), 
as Cruzadas tiveram o mérito de tirar a Europa do seu sono profundo, colocando‑a em contato com 
outras culturas e estimulando o comércio.
 Saiba mais
Sobre o assunto, sugerimos o filme Cruzada de Ridley Scott:
CRUZADA. Dir. Ridley Scott. EUA; Reino Unido; Espanha; Alemanha; 
Marrocos: Twentieth Century Fox Film Corporation, 2005. 144 minutos.
Chega a ser irônico: motivadas por razões religiosas, as Cruzadas acabaram por favorecer a construção 
de um mundo ao qual a Igreja se opunha, e com todas as suas forças.
As Cruzadas oportunizaram o encontro repentino e perturbador de dois 
mundos diferentes. Um deles foi a ainda sonolenta sociedade do feudalismo 
europeu, com toda sua inércia rural, sua aversão ao comércio e as concepções 
ingênuas de negócios;
o outro foi a brilhante sociedade de Bizâncio e 
Veneza, com sua vitalidade citadina, seu aproveitamento nada disfarçado 
do enriquecimento e suas sofisticadas formas de negociar. Os cruzados, 
originários de seus castelos ventosos e de rotinas manoriais aborrecidas, 
acreditavam encontrar no Oriente apenas selvagens sem instrução e 
religião. Foram surpreendidos pelo encontro com um povo mais civilizado, 
infinitamente mais sofisticado e bastante mais voltado ao dinheiro que eles 
(HEILBRONER; MILBERG, 2008, p. 59).
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As Cruzadas estabeleceram a primazia de Veneza e Gênova como maiores potências comerciais. 
Dessas cidades saíam sedas, artesanatos e especiarias (como pimenta, canela, baunilha, noz‑moscada 
e açúcar), algodão, tintas e corantes, frutas, perfumes, remédios e metais a serem distribuídos por 
toda a Europa. Para a Ásia também seriam exportados tecidos produzidos na Itália ou na região 
de Flandres. Claro que não apenas as cidades italianas serviam de ponto de chegada e partida de 
mercadorias: os portos do sul da França exportavam vinhos para o Oriente, com quem também os 
catalães faziam negócios.
Ainda em relação à intensa atividade comercial: não era apenas no Mediterrâneo que ela acontecia. 
No mar do Norte e no Báltico também podiam ser vistos navios carregados de peixe, madeira, peles, 
couros e peliças (HUBERMAN, 1974). Bruges, em Flandres, se tornou um importante centro comercial e 
estabeleceu o contato com o mundo russo‑escandinavo.
Como consequências do aumento da atividade comercial, ocorreu o aperfeiçoamento das técnicas 
de construção naval, o desenvolvimento do sistema monetário (com a introdução de moedas, como o 
florim, o florentino e o ducado), a evolução das instituições de crédito e o estabelecimento de bancos. 
Para que o comércio continuasse aumentando, eram necessárias mudanças e elas foram sendo realizadas 
aos poucos.
Figura 6 – Rotas comerciais ao final da Idade Média
De fato, o mundo medieval deixava de existir aos poucos. Com o dinheiro ganho nas atividades 
comerciais, os mercadores compraram terras de senhores feudais endividados. Para que se pudesse 
comerciar, as cidades passaram a defender leis garantindo a liberdade de ação dos comerciantes. Os 
servos também queriam liberdade: já não dependiam única e exclusivamente do senhor feudal, visto 
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que poderiam negociar o excedente produzido em troca de dinheiro. Aliás, a própria noção de riqueza se 
transformava, sendo medida não pela propriedade possuída, mas pelo dinheiro amealhado. A percepção 
de que a terra era também mercadoria, e passível de ser vendida, dava o golpe de morte no sistema 
feudal. Segundo Huberman (1974, p. 44),
[...] os direitos que mercadores e cidades conquistaram refletem a importância 
crescente do comércio como fonte de riqueza. E a posição dos mercadores na 
cidade reflete a importância crescente da riqueza em capital em contraste 
com a riqueza em terras. [...] No período feudal, a posse da terra, a única 
fonte de riqueza, implicava o poder de governar para o clero e a nobreza. 
Agora, a posse do dinheiro [...] trouxera consigo a partilha no governo, para 
a nascente classe média.
A crescente urbanização foi o resultado mais visível do aumento do comércio. Não se tratava apenas 
do número de pessoas que moravam nas cidades, mas de nelas viverem homens livres, desembaraçados 
dos laços de vassalagem do mundo feudal.
Duas atividades urbanas, tanto pela quantidade de mão de obra 
empregada, como pelo volume de capital imobilizado, formaram o esteio 
da atividade econômica das cidades: a manufatura têxtil e a construção. 
Além da maior necessidade de moradias, devida à reativação da vida 
urbana, ocorreu uma maciça e generalizada construção de edifícios 
públicos, notadamente catedrais, algumas de proporções monumentais 
(REZENDE, 2007, p. 63).
Esse novo ambiente de negócios e de atividades comerciais provocou a expansão dos meios de 
pagamento, apesar dos inúmeros problemas com a diversidade de moedas e com as restrições religiosas 
aos mecanismos de crédito. Indiferente a esses obstáculos,
[...] os bancos acabaram desenvolvendo‑se e a atividade bancária como 
se conhece hoje – o empréstimo a juros de parte dos valores em depósito 
– nasceu da reativação do comércio interno europeu em uma época de 
extrema diversificação monetária. Isso acabou obrigando o mercado a 
buscar uma uniformização de valor que facilitasse as trocas. Nas cidades 
italianas, particularmente em Gênova, os mercadores de dinheiro (cambistas), 
personagens cada vez mais necessários, passaram a ser conhecidos também 
como banqueiros, e a efetuar transações que incluíam o aceite de depósitos 
de particulares, as transferências de fundos para outras praças comerciais e 
os empréstimos a juros (REZENDE, 2007, p. 66).
Essas cidades, também chamadas de burgos, eram encontradas especialmente na Itália e na 
Alemanha. O ambiente era de liberdade, ao menos econômica e social. As leis precisavam atender 
às necessidades de comerciantes, donos de manufaturas, pequenos empresários e industriais e aos 
moradores dessas cidades:
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[...] desejavam fixar seus impostos, à sua maneira, e o fizeram. Opunham‑se 
à municipalidade dos impostos feudais, pagamentos, ajudas e multas, que 
eram irritantes e, num mundo em evolução, apenas serviam para aborrecer. 
Desejavam empreender negócios e, assim, empenharam‑se em abolir as 
taxas, de qualquer tipo, que as tolhessem (HUBERMAN, 1974, p. 39).
Claro que esse processo não transcorreu pacificamente em todas as localidades. Em algumas cidades, 
a conquista de autonomia foi resultado de muita violência. Para Dobb (1986), isso ocorreu especialmente 
na Inglaterra, em Flandres, e na Itália, durante os séculos XI, XII e XIII, lugares onde mosteiros foram 
invadidos e manifestações populares disseminaram o terror.
As cidades significavam liberdade. Em vez de representar o núcleo do poder feudal, a ele se opunham, 
rompendo as amarras e abalando os alicerces do mundo feudal. De qualquer forma, não podemos 
pensar nesses centros urbanos de maneira simplificada: as várias cidades conquistaram graus diferentes 
de liberdade. Algumas se tornaram totalmente independentes, outras apenas conseguiram alguns 
privilégios e direitos concedidos pelo senhor feudal dono das terras.
Talvez você não perceba a dimensão dessa mudança, mas o surgimento de quase mil cidades durante 
os mil anos da Idade Média representou
[...] um estímulo considerável à comercialização e à monetarização da vida. 
Cada cidade possuía seus centros de comércio, postos de pedágio, muitas 
vezes seu próprio local para cunhar moedas, seus silos e lojas, tabernas e 
estalagens, e sua própria atmosfera de “vida urbana”, que contrastava muito 
com a do interior (HEILBRONER; MILBERG, 2008, p. 58).
2 O PODER MUDA DE MÃOS: A CONSOLIDAÇÃO DO ANTIGO REGIME
Quem detinha o poder no mundo feudal? A nobreza e a Igreja, donas das terras, e os senhores feudais, gestores 
das rendas da terra e responsáveis pela manutenção da ordem e da lei (fosse ela qual fosse) em suas propriedades.
Já vimos como as cidades passaram a legislar a favor do comércio e dos comerciantes. Outro fator 
aprofundaria de forma significativa a perda de poder dos senhores feudais, e Dobb (1986) se apoia em 
Marx para explicar esse processo: a renda do senhor feudal só poderia aumentar mediante um aumento 
na apropriação de mais excedente tendo como fonte o trabalho servil. No entanto, a terra apresentava 
uma baixa produtividade, tornando a pressão sobre o servo maior ainda. Cada vez com mais frequência, 
o servo era impedido de trabalhar na sua faixa de terra para trabalhar para o senhor feudal, cada vez
mais necessitado de excedente econômico para fazer frente às despesas com artigos de luxo. Ainda, o 
crescimento natural das famílias nobres “aumentava o tamanho da classe parasita que tinha que ser 
sustentada pelo trabalho excedente da população servil” (DOBB, 1986, p. 34). O incremento da pressão 
sobre os servos acabaria por acontecer e
[...] o resultado dessa pressão maior foi não só exaurir a galinha que punha 
ovos de ouro para o castelo, mas provocar, pelo desespero, um movimento 
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de emigração ilegal das propriedades senhoriais; uma deserção [...] [em 
massa] por parte dos produtores, que estava destinada a retirar do sistema 
seu sangue vital e a provocar uma série de crises nas quais a economia 
feudal se acharia mergulhada nos séculos XIV e XV (DOBB, 1986, p. 34).
A insatisfação dos servos acabou por alimentar revoltas armadas e violentas. O cenário era o pior 
possível: a guerra havia extenuado a população, com sacrifícios e perdas significativas. A peste havia 
dizimado milhares de pessoas. Escassez de alimentos e de pessoas para trabalhar: essa era a realidade de 
maior parte da Europa do século XIV.
Não demorou muito para que os camponeses percebessem que o ambiente era propício para a 
obtenção de melhores condições de trabalhos. Se a mão de obra era rara, mais espaço para negociação 
teriam aqueles em condições de trabalhar. Claro que os senhores feudais e os membros da nobreza não 
percebiam a situação da mesma forma, e os conflitos entre camponeses armados e senhores de terra 
não tardaram a acontecer. Para Huberman (1974, p. 59),
[...] era forçoso o choque entre os senhores da terra e os trabalhadores 
da terra. Estes haviam experimentado as vantagens da liberdade, e isso 
lhes despertara o apetite para mais. No passado, o ódio provocado pela 
opressão esmagadora dera violentas revoltas de servos. Mas eram apenas 
explosões locais, facilmente dominadas apesar de sua fúria. As revoltas 
dos camponeses do século XIV foram diferentes. A escassez do trabalho 
dera aos trabalhadores agrícolas uma posição forte, despertando neles um 
sentimento de poder. Numa série de levantes em toda a Europa Ocidental, 
os camponeses utilizaram esse poder numa tentativa de conquistar, pela 
força, as concessões que não podiam obter – ou conservar – de outro modo.
Embora controladas posteriormente, as revoltas provocaram abalos profundos no sistema de 
vassalagem que, aos poucos, se transformaria em uma relação mediada por dinheiro e não mais pelo 
contrato de prestação de trabalho servil. Não apenas isso: se antes a vassalagem comandava as relações 
entre trabalhadores e donos de terra por meio de uma servidão espontânea, agora havia insatisfação e 
desconfiança.
Os senhores feudais, já extremamente endividados, preferiram então cercar as terras, destinando 
para o pasto o que antes era trabalhado pelo servo para a sua sobrevivência. A solução para os problemas 
dos senhores feudais acossados por dívidas e pelo descontentamento dos trabalhadores passava 
pelo arrendamento da terra, mesmo que isso custasse a expulsão dos camponeses que até então lá 
trabalhavam. Posteriormente, essa estratégia atingiu os próprios arrendatários, expulsos para darem 
lugar às criações de ovelhas, tão necessárias à indústria têxtil nascente. Segundo Heilbroner e Milberg 
(2008, p. 67), “no século V, [...] cerca de três quartos a nove décimos dos arredantários de algumas 
propriedades foram postos para fora das terras”. Em meados do século XV, o trabalho servil já estava 
praticamente abolido, tendo sido substituído pelo arrendamento pago em dinheiro ou pela contratação 
assalariada de mão de obra (HUBERMAN, 1974). Do sistema feudal, sobrava, então, pouco: basicamente, 
havia restado o imenso poder da Igreja, e isso também não tardaria a ser golpeado.
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Aos poucos, a Igreja perdia poder em função do crescente processo de urbanização e da 
intensificação da atividade comercial. Claro que, nesse cenário, os dogmas católicos contrários ao lucro 
não encontravam um terreno fértil; ao contrário. Dado um ambiente de concorrência comercial e de 
intensa atividade econômica, um novo conjunto de valores morais guiava os agentes em direção ao 
trabalho, à acumulação do capital e ao lucro. Para Huberman (1974):
A moderna noção de que qualquer transação comercial é lícita desde que 
seja possível realizá‑la não fazia parte do pensamento medieval. O homem 
de negócios bem‑sucedido de hoje, que compra pelo mínimo e vende pelo 
máximo, teria sido duas vezes excomungado na Idade Média. O comerciante, 
porque exercia um serviço público necessário, tinha direito a uma boa 
recompensa e a nada mais do que isso (HUBERMAN, 1974, p. 47).
A transição de uma sociedade que se baseava na noção do justo preço (aquele que era “justo” ser 
cobrado, sem que qualquer um dos agentes tivesse vantagem sobre o outro) para outra que perseguia o 
sucesso econômico requeria uma mudança drástica na maneira de pensar e agir, resultante de uma nova 
ética. “A suspeita e o constrangimento que cercavam as ideias de lucro, mudança e mobilidade social 
dev[iam] dar lugar a novas ideias que encoraj[assem] essas mesmas atitudes e atividades” (HEILBRONER, 
1987, p. 64). Para que a transição fosse efetiva, a mudança que introduziria uma nova forma de pensar 
deveria ser ampla e irreversível.
Do ponto de vista filosófico e científico, paulatinamente a escolástica cedeu espaço para o espírito 
renascentista. Com o apoio da autoridade dos textos clássicos, os filósofos naturais renascentistas 
buscaram a matemática, a cabala e os métodos de observação como formas de obter maiores níveis 
de certeza nas abstrações sobre o homem e a natureza: o texto bíblico já não dava conta de responder 
a todas as perguntas feitas. Para isso, era necessário que a Razão fosse utilizada como antídoto para 
as superstições, as paixões e a imaginação. Havia respeito e reverência ao conhecimento antigo e às 
antigas tradições, mas havia também a necessidade e a coragem de ir além. Assim, o típico pensador 
da Renascença buscou conhecer o Homem e entender as relações entre o humano e o divino. Na 
Medicina, mais do que em qualquer outra área do conhecimento, houve sofisticação dos métodos 
de investigação através da dissecação, vivisseção, estudos de anatomia e tentativas de observação 
acurada e detalhada, embora se buscasse preservar a antiguidade por meio dos textos e ensinamentos 
de Aristóteles e Galeno.
Kepler saiu em busca da compreensão dos mecanismos da visão. Os céus e as estrelas, símbolos da 
crença medieval de perfeição e equilíbrio, passaram a ser observados por meio de instrumentos guiados 
por homens incrédulos. A terra foi colocada, finalmente, em movimento e, posteriormente, deixou de ser 
o centro do Universo. Tycho Brahe descobriu uma nova estrela, e essa descoberta colidiu com a ideia de 
imutabilidade dos céus. Os renascentistas empurraram as fronteiras do saber, reverenciando os antigos, 
mas libertando‑se das amarras que formas ultrapassadas de pensar representavam.
Do ponto de vista religioso, essas transformações e esses movimentos contrários ao poder da Igreja 
Católica tomaram corpo com a Reforma Protestante. Até então, Roma havia sido responsável pela 
difusão e pela defesa dos valores morais. O calvinismo e o luteranismo, movimentos contrários ao poder 
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católico, provocaram uma mudança significativa na forma de se ver e pensar o mundo: uma nova ética 
foi introduzida, e essa nova ética conclamava a todos à adoção de uma nova moral.
Em contraste com os teólogos católicos, propensos a considerar a 
atividade humana como coisa fútil e vã, os calvinistas santificavam e 
aprovavam
o esforço humano como uma espécie de indicador de valor 
espiritual. De fato, cresceu entre os calvinistas a ideia de um homem 
dedicado ao seu trabalho: “vocacionado” para ele, por assim dizer. Daí, a 
fervorosa entrega de cada um à sua própria vocação, muito ao contrário 
de evidenciar um afastamento dos fins religiosos, passou a ser considerada 
uma evidência da dedicação à vida religiosa. O comerciante enérgico e 
empreendedor era, aos olhos calvinistas, um homem piedoso, não um 
ímpio; e desta identificação de trabalho e virtude não foi necessário 
mais que um passo para se desenvolver a noção de que, quanto mais 
bem‑sucedido um homem fosse na vida, mais virtuoso e mais valor ele 
tinha (HEILBRONER, 1987, p. 79).
O movimento de oposição ao catolicismo não havia surgido tão abruptamente, pois o clima de 
insatisfação com Roma datava de décadas. O crescimento de um intenso sentimento anticlerical 
já era perceptível na segunda metade do século XIV: tratava‑se de um misto de sentimentos 
antipapistas e de descontentamento em relação ao fato de os clérigos serem isentos do pagamento 
de impostos, embora fossem proprietários de terras. No Parlamento inglês, debatia‑se sobre a 
cobrança de impostos aos clérigos e sobre o confisco de terras. Para piorar o cenário, as epidemias 
de pestes haviam atingido o corpo religioso, matando padres, freiras e clérigos, justamente os que 
mais próximos aos doentes estavam. A fome e as doenças estimularam o misticismo e a Igreja 
passou a sofrer ameaças com o crescimento de sentimentos nacionalistas. Na Inglaterra, chegou‑se 
a proibir a apelação ao tribunal papal nos casos de processos judiciais, bem como o envio de taxas 
eclesiásticas para o exterior.
Para Selvatici (2007, p. 17),
[...] o protesto contra a riqueza e os privilégios da Igreja era generalizado. 
O ideal de vida religiosa havia se desvirtuado e tanto bispos quanto padres, 
monges e freis eram criticados por esse progressivo desvirtuamento do ideal 
para a prática mundana e pecadora.
A insatisfação com o fato de a Igreja ser proprietária de tanta terra e de praticar aquilo que censurava 
nos púlpitos, assim como a venda indiscriminada de indulgências (perdão aos pecados mediante alguma 
contribuição financeira), eclodiram com a excomunhão de Martin Lutero (século XVI). O motivo inicial 
foi o aumento da venda de indulgências para o financiamento da construção da Basílica de São Pedro. 
Indignado com essa estratégia, Lutero se manifestou com a publicação de 95 proposições e, por isso, 
acabou excomungado.
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Figura 7 – Basílica de São Pedro
 Saiba mais
Sobre o tema, sugerimos o filme:
LUTERO. Dir. Eric Till. Alemanha; EUA: Eikon Film, 2003. 112 minutos.
Posteriormente, no século XVI, a doutrina luterana foi alvo de aprofundamento por parte de João 
Calvino, e o calvinismo se disseminou na França e na Inglaterra. A nova moral pregava, além da dedicação 
ao trabalho e do mérito alcançado por meio deste esforço, que tanto o trabalho quanto seu fruto seriam 
sagrados, cabendo aos homens e mulheres viver uma vida ascética e sem luxos. Quer dizer, não era 
pecado trabalhar e ganhar; o luxo, o ócio e o desrespeito ao dinheiro eram as atitudes que constituíam 
pecados abomináveis. Dessa forma, segundo Heilbroner e Milberg (2008), as palavras‑chaves para o 
calvinismo eram retidão, severidade e diligência. O trabalho e o esforço eram medidas de virtude e de 
grande valor espiritual.
A busca zelosa do próprio papel na Terra, longe de evidenciar um desvio 
dos fins religiosos, foi entendida como evidência de uma dedicação à 
vida religiosa. [...] O calvinismo proporcionou um clima religioso que, 
diferentemente do catolicismo, encorajou o enriquecimento e a disposição 
para um mundo de negócios (HEILBRONER; MILBERG, 2008, p. 63).
Assim, o calvinismo introduziu um comportamento que passou a representar um aspecto 
fundamental da vida econômica e peça chave para a expansão do espírito capitalista: a parcimônia. 
A sobriedade nos gastos e a simplicidade, especialmente dos que eram ricos, permitiam a poupança 
que, por sua vez, seria aplicada à produção e à geração de lucro. A abstinência consciente da renda 
faria aumentar a própria renda.
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[...] [o calvinismo] fez da poupança, da abstinência consciente do usufruto 
da renda uma virtude. Fez do investimento, do uso da poupança para fins 
produtivos um instrumento tanto de devoção como de lucro. Justificou 
até [...] o pagamento de juros. De fato, o calvinismo estimulou uma nova 
concepção de vida econômica. Em lugar do antigo ideal de estabilidade 
social e econômica, de se conhecer e manter o “lugar” de cada um, conferiu 
respeitabilidade a um ideal de luta, de aperfeiçoamento e progresso material, 
de crescimento econômico (HEILBRONER, 1987, p. 80).
Max Weber definiu as características da nova ética por meio do que denominou espírito do 
capitalismo:
O homem é dominado pela geração de dinheiro, pela aquisição como 
propósito final da vida. A aquisição econômica não mais está subordinada 
ao homem como um meio para a satisfação de suas necessidades materiais. 
Essa inversão daquilo que chamamos de relação natural, tão irracional 
de um ponto de vista ingênuo, é evidentemente um princípio guia do 
capitalismo, tanto quanto soa estranha para todas as pessoas que não estão 
sob a influência capitalista (WEBER, 1996, p. 21).
Até mesmo o conceito de pecado associado à usura foi revisto. Segundo Huberman (1974, p. 50), 
tratava‑se de adaptar a doutrina às novas práticas.
É bastante significativo que Charles Dumoulin, advogado francês que 
escreveu no século XVI, tenha alegado a “prática comercial diária como 
justificativa para a legalização de uma usura moderada e aceitável”. Eis aqui 
sua argumentação: “A prática comercial diária mostra que a utilidade do uso 
de uma soma considerável de dinheiro não é pequena nem permite dizer 
que o dinheiro por si não frutifica; pois nem mesmo os campos frutificam 
sozinhos, sem gastos, trabalho e indústria dos homens; o dinheiro, da 
mesma forma, mesmo quando deve ser devolvido dentro de um prazo, 
proporciona nesse período um produto considerável, pela indústria do 
homem. E por vezes priva a quem empresta de tudo aquilo que traz a quem 
o toma emprestado. Portanto, toda a condenação, todo o ódio à usura, deve 
ser compreendido como aplicável à usura excessiva e absurda, não à usura 
moderada e aceitável”.
A Igreja católica deixou de ser o centro do qual emanavam as regras morais e as explicações para o 
funcionamento do mundo e da natureza.
2.1 O fortalecimento das monarquias absolutistas e dos Estados nacionais
À medida que o senhor feudal e a Igreja perderam poder, a identidade nacional ganhou importância 
para a população, tendo como símbolo a figura do rei e impulsionando a luta por seus territórios e pela 
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formação de uma única identidade. Passou a existir uma busca pela língua, moeda e legislação nacional 
– todas conquistas guiadas e conduzidas pela unidade central de poder.
Em fins da Idade Média, no decorrer do século XV [...] surgiram nações, 
as divisões nacionais se tornaram acentuadas, as literaturas nacionais 
fizeram seu aparecimento, e regulamentações nacionais para a indústria 
substituíram as regulamentações locais. Passaram a existir leis nacionais, 
línguas nacionais e até mesmo Igrejas nacionais. Os homens começaram a 
considerar‑se não como cidadãos de Madri, de Kent ou de Paris, mas como 
da Espanha, Inglaterra ou França. Passaram a dever fidelidade não à sua 
cidade ou ao senhor feudal, mas ao rei, que é o monarca de toda uma nação 
(HUBERMAN, 1974, p. 79).
Quem deu início a esse processo foram a classe média nascente, os moradores
das cidades e os 
comerciantes: o que eles queriam era um poder que os protegesse dos senhores feudais e da Igreja.
É claro que isso não ocorreu de um dia para o outro; o fortalecimento de um poder central foi lento 
e gradual, chegando – em alguns casos – a demorar séculos para acontecer. No entanto, e como em 
outras ocasiões na História, as antigas instituições deram lugar a novas.
As cidades, aos poucos, legitimaram o poder do rei e a ele fizeram empréstimos e doações em 
dinheiro para que um exército profissional e único pudesse ser organizado. Tudo contribuiu para 
que o poder mudasse de mãos: os senhores feudais estavam endividados; a nobreza não tinha mais 
como tirar dinheiro dos seus vassalos; as cidades enriqueciam cada vez mais e o progresso técnico 
fez surgirem novas armas. “O rei foi grato aos grupos comerciais e industriais que lhe possibilitaram 
contratar e pagar um exército permanente, bem equipado com as últimas armas” (HUBERMAN, 
1974, p. 81). Em troca dessa ajuda, o rei colaborava com as cidades, instituindo uma moeda única 
e uma legislação única em todo o reino, tornando o comércio mais fácil e colaborando para o bom 
desempenho das atividades monetárias.
Estava claro para os soberanos que sua sobrevivência dependia de dinheiro e que as cidades o 
tinham. O comércio e a indústria eram as atividades capazes de fazer fluir o dinheiro na direção das 
arcas reais. Nesse contexto, até mesmo a legislação monopolista das guildas parecia demasiada e Carlos, 
rei da França, buscou resolver a questão.
Carlos, pela graça de Deus Rei da França depois de demorada deliberação 
de nosso Grande Conselho ordena que em nossa dita cidade de Paris não 
haverá, doravante, mestres de ofício ou comunidades de qualquer tipo, mas 
desejamos e ordenamos que em todo ofício serão escolhidos pelo nosso 
Preboste certos elementos antigos do dito ofício e que portanto estão 
proibidos de realizar qualquer reunião como associação de oficiais ou 
outras, a menos que tenham o nosso consentimento, permissão e licença, 
ou consentimento de nosso Preboste sob pena de serem tratados como 
rebeldes e desobedientes de nós e de nossa coroa da França, e de perda de 
direitos e possessões (HUBERMAN, 1974, p. 84).
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Não somente as guildas foram alvo da ação imperial: as grandes cidades que haviam se especializado 
no comércio também se viram na obrigação de abrir mão de privilégios. Nas cortes, assessorando os reis, 
homens de finanças e grandes comerciantes se tornaram conselheiros. O centro do poder então estava 
na figura do rei e na de seus assessores.
Em resumo, o Estado nacional surgiu como resultado da luta do poder das cidades e da nascente 
classe média contra
[...] o particularismo – a jurisdição autônoma senhorial, com seus tributos, 
moedas, pedágios, e contra o universalismo – a pretensão da Igreja em 
representar o universo dos fiéis, regulando todas as esferas da vida comum, 
da econômica à cultural (REZENDE, 2007, p. 74).
Nesse contexto de luta pelo poder e tendo a Itália como pano de fundo, Nicolau Maquiavel (1469–1527) 
escreveu sua obra‑prima, O Príncipe (1512), texto que resumiu de maneira magnífica o espírito de seu tempo.
Maquiavel, filho de um advogado estudioso das humanidades, trabalhou em funções diplomáticas 
em meio à luta entre os Médici, a Espanha e a França. Por conta de acusações de traição e conspiração, 
chegou a ser preso e torturado. Posteriormente, conseguiu se libertar da prisão, embora sem voltar ao 
serviço público. Para os republicanos, ele era tido como simpático à monarquia. Para os monarcas, era 
visto como favorável aos ideais republicanos. De fato, o que interessava a Maquiavel era falar sobre o 
Estado. “Não o melhor Estado, aquele tantas vezes imaginado, mas que nunca existiu. Mas o Estado 
real, capaz de impor a ordem” (SADEK, 2001, p. 17). Tratava‑se de uma verdadeira ruptura em relação ao 
saber anterior, pois ignorava a premissa de uma ordem natural e eterna.
A ordem, produto necessário da política, não é natural, nem a materialização 
de uma vontade extraterrena, e tampouco resulta do jogo de dados do 
acaso. Ao contrário, a ordem tem um imperativo: deve ser construída pelos 
homens para se evitar o caos e a barbárie e, uma vez alcançada, ela não será 
definitiva, pois há sempre, em germe, o seu trabalho em negativo, isto é, a 
ameaça de que seja desfeita (SADEK, 2001, p. 18).
A política, a partir dessa visão, poderia ser comparada a um feixe de forças que nem sempre eram 
racionais. Para se entender o poder, seria necessário, portanto, assumir a incerteza, a contingência e a 
falta de estabilidade. Os traços humanos imutáveis seriam aqueles associados à ingratidão, covardia e 
ganância. Por isso, a História encontrava‑se repleta de conflitos, caos e anarquia. Segundo Maquiavel, o 
conhecimento das relações de causa e efeito entre os fenômenos se daria por meio do estudo dos fatos 
do passado; afinal, a História seria cíclica.
O poder político tem, pois, uma origem mundana. Nasce da própria 
“malignidade” que é intrínseca à natureza humana. Além disso, o poder 
aparece como a única possibilidade de enfrentar o conflito, ainda que 
qualquer forma de “domesticação” seja precária e transitória. Não há 
garantias de sua permanência. A perversidade das paixões humanas sempre 
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volta a se manifestar, mesmo que tenha permanecido oculta por algum 
tempo (SADEK, 2001, p. 20).
Para Maquiavel, só havia duas respostas possíveis para a anarquia: o principado e a república. a 
escolha entre uma delas dependia de quão preparada uma sociedade estava para a vida republicana, 
afinal, a república requeria que o povo fosse virtuoso e que as instituições fossem estáveis. Caso a nação 
estivesse dividida e à mercê da corrupção ou de inimigos externos, só havia uma saída: “o surgimento de 
um homem virtuoso capaz de fundar um Estado. Era preciso, enfim, um príncipe” (SADEK, 2001, p. 21).
[Há] a impossibilidade de manter o governo republicano em uma cidade 
corrompida, ou de estabelecê‑lo aí. Em um e em outro caso seria melhor 
inclinar‑se para a monarquia que para o Estado popular, a fim de que esses 
homens, cujas únicas leis não conseguem reprimir a insolência, sejam ao 
menos subjugados por uma autoridade, por assim dizer, real (MAQUIAVEL 
apud SADEK, 2001, p. 50).
Nesses termos, o príncipe não era necessariamente o mais forte, mas o que conseguia manter o 
domínio adquirido e o respeito dos seus governados. O príncipe deveria aparentar possuir as qualidades 
valorizadas pelos seus governados, porque a política tinha regras próprias e fazia parte do jogo a 
ambiguidade entre aparência e essência.
O poder emanava da força, mas sua sustentação dependia do controle e do domínio. Nem tudo aquilo 
que podia ser considerado uma virtude em se tratando de pessoas comuns o era em relação ao príncipe.
Maquiavel era incisivo: alguns vícios eram, na verdade, virtudes. Esperava‑se que o príncipe, para 
manter o poder, tivesse a sabedoria de agir conforme as circunstâncias.
Não tema, pois, se o príncipe que deseje se manter no poder “incorrer no 
opróbrio dos defeitos mencionados, se tal for indispensável para salvar o 
Estado”. [...] Os ditames da moralidade convencional podem significar sua 
ruína. Um príncipe sábio deve guiar‑se pela necessidade – “aprender os 
meios de não ser bom e a fazer uso ou não deles, conforme as necessidades”. 
(MAQUIAVEL apud SADEK, 2001, p. 23).
Maquiavel escreveu tendo a crise na Itália como pano de fundo, mas sua obra dizia respeito a 
todos os países em que a monarquia se estabelecia, àquele momento, como força absoluta. De fato, as 
monarquias absolutistas eram a forma de governo dos Estados nascentes.
Esses Estados são mesmo imensos e constituídos por zonas de cidades, ou 
por grandes cidades isoladas,
com arrabaldes férteis e povoados separados 
por vastos espaços semidesérticos, por florestas, pinhais ou estepes. Entre 
províncias e entre Estados estendem‑se “fronteiras” [...] Essa geografia, 
resultado da história humana, favorece certo aspecto federativo que os 
Estados apresentam em graus diferentes (MOUSNIER, 1995, p. 176–177).
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Os Estados menores e médios submetiam‑se aos maiores. Por meio de casamentos ou alianças, casas 
imperiais se juntavam umas às outras, reunindo seus Estados a partir de uma única liderança, o rei.
A maioria destes Estados evolui para a monarquia absoluta. É o regime 
em que o rei, encarnando o ideal nacional, possui, além disso, de direito e 
de fato, os atributos da soberania: poder de decretar leis, de fazer justiça, 
de arrecadar impostos, de manter um exército permanente, de nomear 
funcionários, de julgar os atentados contra o bem público e, em especial, a 
autoridade real por meio de jurisdições de exceção emanadas do seu poder 
de justiceiro supremo. A ideia de monarquia absoluta acrescenta‑se, sem 
destruí‑las, às velhas ideias de contrato e de costume que regulamentavam 
as relações dos reis com seus vassalos e súditos e que, ao mesmo tempo, a 
temperavam (MOUSNIER, 1995, p. 177–178).
O sentimento patriótico transformou‑se em nacionalismo exacerbado. O rei não era apenas alguém 
com o direito de governar, mas era um “herói”, um semideus que dominava de forma sábia e absoluta. O 
povo necessitava desse domínio: as nações guerreavam entre si e os conflitos exigiam que o governo tivesse 
autoridade, que fosse capaz de tomar decisões rápidas e que tivesse a certeza de ser obedecido em toda parte.
Que conflitos eram esses? Eram basicamente os conflitos entre os burgueses e a nobreza. A monarquia 
defendia os burgueses, porque deles vinha o dinheiro tão necessário para a manutenção de soldados 
e funcionários. A burguesia, enriquecida, desejava um status social parecido com a nobreza e para o 
rei pedia títulos e cargos. A nobreza, para defender seu espaço na sociedade, precisava de favores do 
rei. Assim, cada vez mais, o monarca precisava conciliar os interesses antagônicos da burguesia e da 
nobreza, sendo necessário considerar que
[...] tais monarquias absolutas, aliás, possuem menos força efetiva, menos 
influência real sobre a vida quotidiana de seus súditos do que os governos 
democráticos liberais do século XIX. A lei divina cristã, as leis fundamentais 
do reino, que exprimem algumas dessas condições de existência, as leis 
do direito das gentes, como as que garantem a propriedade, os corpos e 
as comunidades, seus contratos, costumes e privilégios, tudo isso limita o 
poder do rei (MOUSNIER, 1995, p. 184–185).
Os processos de fortalecimento dos Estados nacionais, as lutas pela expansão das fronteiras e 
dos mercados, os conflitos resultantes do choque entre monarquias centralizadoras e as rivalidades 
surgidas em função das diferenças religiosas entre protestantes e católicos acabaram por alimentar 
diversas guerras. A mais longa e dramática delas foi a Guerra dos Trinta Anos (1618–1648) que envolveu, 
de um lado, Suécia, Boêmia, Dinamarca, Noruega, Escócia, França e Inglaterra; de outro, Império 
Romano‑germânico, Áustria, Baviera, Hungria, Croácia e Espanha.
Os Estados absolutistas que surgiram na Europa e em outros continentes apresentaram feições 
diferenciadas dependendo do lugar em que se estabeleceram e, para efeito da nossa disciplina, 
buscaremos distinguir as monarquias da França, da Inglaterra e de alguns outros países da Europa.
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2.1.1 Na França
Os reis franceses do período compreendido entre 1483 e 1547 (Carlos VIII, Luís XII e Francisco I) são 
exemplos de monarcas detentores de um poder realmente absoluto.
A sua soberania é um legado divino: o rei é responsável apenas perante 
Deus; tem todos os poderes; [pode] declarar guerra e fazer paz; lançar 
impostos a seu bel‑prazer; legislar, pois o rei é a lei viva; julgar, pois é o 
justiceiro supremo e as suas decisões não admitem apelação. Entretanto, 
deve respeitar os contratos e os costumes, as leis fundamentais do reino 
[...] e o juramento sagrado que o obriga a defender a Igreja contra a heresia 
(MOUSNIER, 1995, p. 186).
O rei tinha à sua disposição um imenso aparato administrativo formado por milhares de funcionários, 
soldados, oficiais e membros de tribunais. Graças a esse aparato, ele se sobrepunha ao poder da Igreja.
Os bispos e os padres são considerados vassalos do rei e devem defendê‑lo como 
chefe temporal da Igreja, que sanciona as leis eclesiásticas e é o único que pode 
convocar ou autorizar os concílios e guardar os bens da Igreja. A Concordata de 
1516 atribui‑lhe a nomeação dos bispos e abades [...]. O rei obrigava a Igreja a 
contribuir para as despesas do reino (MOUSNIER, 1995, p. 187).
O rei dominava os senhores feudais e também exercia o poder nas vilas e comunidades.
Apodera‑se das eleições nas cidades, fiscaliza a atividade dos corpos eleitos, 
desmembra as suas atribuições judiciais e financeiras. Erige em sistema a 
organização em corporações e constitui os artesãos e o povo miúdo das 
cidades em corpos privilegiados, hierarquizados, sob a jurisdição dos oficiais 
reais, que dirigem, por sua vez, o exercício dos ofícios livres (MOUSNIER, 
1995, p. 188).
A França seria o berço do símbolo maior do absolutismo monárquico: Luís XIV (1638–1715), que se 
autointitulava Rei Sol. Há, inclusive, quem atribua a ele a frase “o Estado sou eu” (L’État c’est moi), o que 
só faz reforçar o mito de realeza e de poder que ele exerceu durante seu reinado.
O Renascimento, a disseminação do capitalismo, a Reforma Protestante, o mercantilismo e a 
competência de Colbert na gestão das finanças francesas contribuíram para a construção de cenário de 
opulência e de poder absoluto do reinado de Luís XIV. Os modos e hábitos da corte francesa (cheios de 
glamour e etiqueta) eram exemplo para o restante da Europa: o uso de talheres, os modos de civilidade, 
a forma de destrinchar a carne, tudo era copiado em outros países. O Rei, por seu turno, era adorado e 
admirado em estátuas e tapeçarias. A França, por meio de sua monarquia, criou padrões e critérios de 
distinção de classes.
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Figura 8 – O rei Luís XIV, o Rei Sol, representou o absolutismo na França
Figura 9– Ao mandar construir o Palácio de Versalhes, 
o rei Luís XIV procurou associar seu nome ao luxo e à suntuosidade
2.1.2 Na Inglaterra
Na Inglaterra, o absolutismo atingiu seu ápice no século XVI, apesar das leis antigas que limitavam 
o poder do rei, ou que impunham ao rei a vontade dos senhores feudais; de fato, o poder do Rei 
esbarrava no Parlamento, na Câmara dos Lordes e na Câmara dos Comuns. Na Inglaterra, o rei não 
podia fazer o que bem quisesse, sem ter que dar satisfações. No entanto, as guerras civis nas quais 
a população foi envolvida e o embate entre o Rei Henrique VIII (1491–1547) e a Igreja de Roma 
aumentaram os sentimentos nacionalistas, fundamentais para o fortalecimento de seu poder. Além 
disso, o desenvolvimento de uma burguesia que necessitava do apoio do poder real colaborou para a 
consolidação do absolutismo na Inglaterra.
Essa burguesia havia surgido em função da Revolução Industrial – e aqui vale a pena discutir o 
que teria levado a Inglaterra a realizar, e melhor do que os outros países, a acumulação primitiva 
de capitais
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[...] que permitiu a introdução contínua de inovações técnicas e da forma 
fabril de produção. Esse pioneirismo da Inglaterra foi fundamental para que 
ela se mantivesse, durante todo

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