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Raça e Etnicidade na Sociologia

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Sociologia, Ética e Resp. Socioambiental
6º Aula
Raça e etnia
Caros ( as) Alunos(as) 
É importante a discussão entre os aspectos 
relacionados à raça e etnicidade. Considerando o Brasil 
enquanto um dos países mais misturados em termos raciais 
no mundo. Podemos entender temas como o preconceito 
e a discriminação como fatores desse caldeirão de grupos 
étnicos. A questão das cotas raciais, por exemplo, ainda 
gera muita polêmica e posicionamentos que levam em 
conta os possíveis efeitos positivos ou negativos de sua 
implementação. O racismo entendido muitas vezes como 
um tema tabu entre os brasileiros ou tema pouco discutido, 
uma vez que, no Brasil ninguém se considera racista.
Vamos ao texto!
Boa leitura!!
Boa aula!
Objetivos de aprendizagem
Ao término desta aula, vocês serão capazes de::
• entender o processo de evolução das Ciências Sociais e a sua contribuição para entender o desenvolvimento social 
porque passou sociedade humana;
• conhecer os pensadores e os termos utilizados nas Ciências Sociais para um melhor entendimento e desenvolvimento 
de uma perspectiva sociológica;
• conhecer as abordagens sociológicas teóricas modernas.
47
Seções de estudo
1 - Raça e etinicidade
2 - Breve histórico das ideias raciais
1 - Raça e etinicidade
2 - Breve histórico das ideias raciais
3 - Debate sobre “Raça” no Brasil
4 - “Raça” e pobreza 
5 - Desigualdade, raça e classe.
É importante atentarmos para a discussão entre os 
aspectos relacionados à raça e etnicidade considerando o Brasil 
enquanto um dos países mais misturados em termos raciais 
no mundo. Podemos entender temas como o preconceito e 
discriminação como fatores dessa mistura de grupos étnicos. 
A questão das cotas raciais, por exemplo, ainda gera muita 
polêmica e posicionamentos que levam em conta os possíveis 
efeitos positivos ou negativos de sua implementação. 
O racismo entendido muitas vezes como um tema 
tabu entre os brasileiros ou tema pouco discutido, uma vez 
que, no Brasil ninguém se considera racista, gera discussões 
e controvérsias , no que diz respeito ao amplo assunto da 
desigualdade social. Coloca o tema raça e etnicidade como um 
ponto de reflexão, pois é parte de nosso cotidiano. Essa é a 
proposta da sociologia quanto ao estudo de raça e etnicidade. 
O tema referente aos diversos grupos de seres humanos 
e suas particularidades, teve maior destaque a partir do processo 
das grandes navegações na Europa. Conforme Adrian ( 2013) a 
“descoberta” de novos grupos humanos como o africano, o 
asiático e principalmente o índio americano, proporcionou uma 
nova postura do europeu quanto a essa diversidade étnico-cultural. 
Diferentes hábitos e costumes variados de acordo com 
Brym, (2006) forçaram os europeus há pensar um pouco mais 
sobre o papel desses grupos recém descobertos. Foi no século 
XVI, com as grandes navegações o inicio do enfretamento 
do mundo europeu com esses novos grupos humanos 
(denominados de selvagens). 
Segundo Brym, (2006) a expansão marítima empurrou 
navegadores, comerciantes, administradores, aventureiros e 
religiosos para outros continentes descobrindo novas culturais 
além da compreensão europeia. Cada um, a seu modo e tempo, 
descreveram a fauna, a flora do “Novo Mundo”. 
Essa imagem construída correu o imaginário 
coletivo europeu e ajudou a desenhar a 
arquitetura de uma nova ciência social, séculos 
depois, chamada Antropologia. Antropologia 
(antropos, pessoa/homem; logos razão) foi a 
primeira ciência a estudar os hábitos e culturas 
de diferentes civilizações, necessariamente a 
compreensão do homem ou o “novo homem”. 
No início das grades navegações tivemos o 
que normalmente era chamada de antropologia 
Espontânea, pois estava alicerçada em narrativa 
e relatos (cartas, diários, relatórios), feitos 
por leigos (não cientistas) como missionários, 
viajantes, comerciantes, exploradores e 
administradores de terras; por exemplo, o relato 
da carta do escrivão Pero Vaz de Caminha 
descrevendo as formas dos nativos: Os cabelos 
seus são corredios. E andavam tosquiados, de 
tosquia alta, mas que de sobrepente, de boa 
gravura e rapados até por cima das orelhas. 
E um deles trazia por baixo da solopa, de 
fonte a fonte para detrás, uma espécie de 
cabeleira de penas de ave amarelas, que seria 
do comprimento de um coto, mui basta e mui 
cerrada, que lhe cobria as orelhas... A visão 
sobre esse novo homem era de estranhamento, 
o europeu entendia o índio como um ser 
inferior ou selvagem. (BRYM, 2006 p.211)
A discussão na Europa destacava questões: esse índio é 
de fato ser humano? E qual o seu grau de evolução intelectual? 
Nos dois casos a visão etnocêntrica racista era frequente. A 
igreja católica, por exemplo, tendia a olhar para o índio como 
uma criança que deveria ser orientada para a religião cristã.
Posteriormente alguns intelectuais como o filósofo 
iluminista Rousseau elaborou o conceito do “Bom selvagem” 
sobre o índio, um ser puro e sem maldade que ainda não havia 
sido corrompido pelos valores da “civilização.” Aos poucos, a 
concepção de homem e da sua história deixou as fronteiras da 
Teologia e ingressou no campo da ciência. 
Primeiro Conceito
Raça - As teorias científi cas sobre raça surgiram no fi nal do século 
XVIII e inicio do século XX, sendo utilizadas para justifi car a ordem 
social emergente à medida que a Inglaterra e outras nações da 
Europa tornavam-se potenciais imperiais que submetiam territórios 
e populações ao seu domínio (...) termo “raça” criada pelos europeus 
classifi cava os indivíduos nas categorias diferentes visto como 
características físicas: raça branca, negra e oriental. (GIDDENS, 
2005) Raça e etnicidade são idéias socialmente construídas. Nós as 
utilizamos para distinguir pessoas com base em diferenças físicas ou 
culturais percebidas, o que traz conseqüências profundas para suas 
vidas. Marcas e identidades raciais e étnicas mudam de acordo com 
a época e o lugar. Relações entre grupos raciais e étnicos ajudam a 
modelar essas marcas e identidades. (BRYM, 2006 p.211)
Evolucionismo Social: O ingresso da Antropologia na 
era da Ciência. 
De acordo com Adrian (2013) a antropologia pode 
ser compreendida como ciência somente a partir do século 
XIX, quando diversas teorias como o Evolucionismo social 
começaram a atuar com mais velocidade. A antropologia, no 
seu início, como estudo científico apresenta-se com ideias 
ainda conservadoras e preconceituosas. 
Dentre essas ideias temos o Evolucionismo que destacava 
os grupos humanos a partir de processos de desenvolvimento 
intelectual e racial. 
De inicio foi a obra de Charles Darwin 
conhecida como A Origem das Espécies de 
1859, que provocou uma revolução científi ca 
na forma de entender os processos de evolução. 
Em sua obra Darwin formula a teoria da 
evolução das espécies, via seleção natural: no 
processo, ocorrem com os indivíduos variações 
úteis na luta pela existência; essas variações 
48Sociologia, Ética e Resp. Socioambiental
3 - Debate sobre “raça” no Brasil
Segundo Conceito: preconceito e discriminação 
Preconceito é a manifestação de uma atitude negativa contra toda uma 
transmitem-se, reforçadas, aos descendentes. 
Com base nessas observações, elaborou a 
teoria evolucionista(BRYM, 2006 p.212)
Herbert Spencer, outro teórico do século XIX, citado 
por Brym, (2006) procurou aplicar as leis de evolução das 
espécies, desenvolvida por Charles Darwin, a todos os níveis 
da atividade humana. Ele é considerado no campo das ciências 
sociais como o mais importante teórico do Darwinismo 
Social, mesmo nunca tendo usado esse termo para expressar 
suas idéias. 
De acordo com Brym, (2006) seu conceito básico se 
expressava na seguinte noção: “sobrevivência do mais apto”. 
Graças a essas noções, Spencer é considerado o principal 
teórico do racismo “científico”, ou seja, a noção de que se 
pode comprovar a superioridade racial de um grupo em 
relação a outro, como base na ciência. (XAVIER, p 45, 2008) 
Para Brym, (2006) a escola Darwinistainfluenciou 
fortemente o debate racial. As ideias dessa escola também 
ecoam fortemente nas perspectivas que colocam a “raça” 
“branca” no topo da escala hierárquica dos grupos humanos. 
O traço fundamental dessa escola é a ideia de uma 
superioridade da raça branca em relação aos índios e negros. 
Para Brym, (2006) a presença de um tipo híbrido – da “mistura 
das raças” – seria um perigo para a “superioridade” branca. 
Dentro da condenação da mistura das raças temos diversos 
teóricos que usam da ciência como um instrumento da 
divulgação do racismo declarado. Alinhado a essa escola, temos 
aquele que é chamado de o pai do racismo: o francês Arthur de 
Gobineau (1816- 1882) que entendia as “raças” em processo de 
evolução sendo o branco, a mais evoluída dos seres humanos, 
desprezando o oriental e o negro como raças menores. 
Brym ( 2006) afirma que Gobineau destaca ainda a 
condenação da miscigenação, ou seja, não concorda com as 
misturas de raças; ele entendia que, pior do que ser negro 
era ser híbrido. Para Gobineau a mistura dos grupos raciais 
proporciona a degeneração das pessoas, o surgimento de 
seres humanos inferiores e decadentes. 
Dentro das ideias da ciência racista do século XIX, segundo 
Brym, (2006) temos o norte americano Dr. Samuel George 
Morto (que colecionou e mensurou Crânios humanos vindos de 
diversos lugares e épocas, pertencentes a membros de diferentes 
raças. Conforme imaginava, Morton entendia que quanto maior 
o cérebro, mais inteligente o indivíduo. Esse cientista chegou a 
conclusão de que aquelas raças que estavam no todo da evolução 
como os brancos europeus teriam o cérebros maiores do que os 
negros e os orientais e, portanto bem mais evoluído.
De acordo com Brym, (2006) outro autor em destaque 
da ciência racista do século XIX, foi Cesare Lombroso 
conhecido como o pai da antropologia criminal, interessou-se 
pelo fenômeno da delinquência ao observar as frases obscenas 
tatuadas nos corpos dos soldados da Calábria, no sul da Itália. Ele 
acreditava que essas tatuagens permitiam distinguir o soldado 
desonesto do honesto. Lombroso também compreendia que 
certos traços físicos poderiam identificar criminosos. (Robert 
Brym, 213, 2006)
categoria de pessoas, geralmente minorias éticas ou raciais. Se você se 
ressente porque seu colega é bagunceiro, você não e necessariamente 
preconceituoso. Mas, se você estereotipa (marca social) seu colega 
imediatamente com base em características, como raça, etnia ou religião, 
isso será uma forma de preconceito. O preconceito tende a estabelecer 
defi nições falsas de indivíduos e grupos. (SCHAEFER, p. 245, 2006) 
Discriminação: é o tratamento injusto de pessoas devido ao fato de 
pertencerem a um determinado grupo. criminosos. (BRYM, 2006 p.211) 
O termo “raça” surgiu da influencia das ciências biológicas, 
tendo a ideia equivocada de raças variadas. Hoje sabemos que 
raça só existe uma, a raça humana ( ADRIAN, 2013).
Considerando também que as diferenças físicas e mesmo 
os padrões culturais distintos estão relacionados ao termo etnia. 
Entretanto durante muito tempo a ciência utilizou o termo das 
ciências Naturais para definir os indivíduos em superiores e 
inferiores. 
De acordo com Brym (2006) no Brasil os grandes 
representantes do racismo científico foram os médicos Silvio 
Romero (1851- 1914) e Raimundo Nina Rodrigues (1862-
1906). Os dois autores influenciados por ideias racistas 
acreditavam na perspectiva evolucionista do atraso das raças 
ou do “atraso” do brasileiro em relação ao europeu. 
Encontramos aqui, segundo Brym (2006) uma releitura 
de elementos das escolas mencionadas anteriormente. O 
mestiço é interpretado, segundo esses autores, como um 
tipo “indesejado”, já que o cruzamento de “raças” diferentes 
transmitiria tipos de “defeitos” pela herança biológica. 
Ainda segundo Brym (2006), para o autor Nina Rodrigues, 
a presença negra no Brasil seria um fator explicativo para a 
“inferioridade” do povo brasileiro. É importante considerar 
que Nina Rodrigues foi professor de Medicina da Universidade 
da Bahia e um dos maiores representantes do chamado racismo 
científico. Nina Rodrigues também considerou a cultura 
afrobrasileira como inferior. Isso proporcionou uma análise 
negativa do caráter racial brasileiro, que efetuavam relações 
da raça negra e mestiça como “potenciais criminosos”: traços 
da aparência de um sujeito poderiam revelar uma natureza 
delinquente e perigosa. 
Essa visão racista sobre o povo brasileiro, segundo Adrian 
(2013) acabou sendo muito desenvolvida (a partir de meados 
do século XIX), principalmente na ideia da miscigenação da 
população como um aspecto fundamental de degradação da 
sociedade. 
Entretanto na década 30 do século XX, com o trabalho 
de Gilberto Freyre (1900-1987), teremos mudanças na forma 
de olhar o homem brasileiro. A visão deixa de ser biológica 
(determinista) para ser de caráter cultural; Freyre em sua obra 
“Casa Grade e Senzala” destaca de maneira inovadora para 
os padrões da época, o lado positivo da miscigenação da 
população brasileira. 
O autor Freyre vai exaltar a cultura brasileira 
e mencionar a contribuição do negro africano 
para a sociedade. Segundo sociólogo Gilberto 
Freyre a mistura racial promoveria o clima fértil 
para a construção de uma harmonia das raças. 
49
Para Freyre essa harmonia passa na ideia que 
no Brasil não existiu a segregação entre brancos 
e negros, ao contrário, a relação pacífi ca entre 
esses grupos proporcionou uma “Democracia 
racial”. ( ADRIAN, 2013 p. 08).
Essa harmonia, segundo Adrian ( 2013) contudo 
contribuiria para a diluição de outras fronteiras na sociedade, 
como a existente entre ricos e pobres, homens e mulheres e 
assim por diante. A mistura realizada entre brancos, negros e 
índios seria um elemento de promoção da ‘ harmonia social 
e não de decadência ou atraso do povo brasileiro, como nos 
demonstraram outras correntes e autores. 
 Para Adrian (2013) a teoria de Gilberto Freyre destaca o 
caráter positivo da miscigenação dos grupos, o que apresentaria 
uma suposta ausência de preconceito racial no Brasil. E o 
famoso “mito da democracia racial” que menciona, o brasileiro 
como não sendo preconceituoso. 
A ideia de que o brasileiro não seria racista, pois os grupos 
étnicos apesar de suas diferenças viviam sem conflitos ou 
discriminações declaradas. Segundo Daisy Barcellos: o fato de 
a sociedade brasileira possuir a democracia racial como ideal 
afirmado e desejado, conduziu encobrimento da realidade das 
relações entre brancos e negros. 
O sentido discriminador e indiretamente 
segrega dor que essas relações apresentam 
tendeu a fi car encoberto pelo discurso da 
ideologia dominante. Este discurso, de um 
lado, afi rma a igualdade e investe na negação 
do racismo; de outro mantém a profundidade 
das desigualdades sociais só explicáveis através 
da discriminação e do preconceito, cuja 
consequência mais imediata é a segregação 
social. (ULBRA, 2009 apud ADRIAN, 2013).
Para Gilberto Freyre as relações entre os grupos étnicos 
são bem mais igualitárias no Brasil. Segundo Adrian ( 2013) o 
próprio brasileiro não se vê como racista e mesmo aqueles que 
são discriminados, buscam formas ou status para fugir da marca 
social. No Brasil o racismo é bem atuante, mais diferente do 
racismo norte-americano (direto), o nosso racismo apresenta-
se de forma escondida, menos direta nas relações. A maneira 
como as pessoas encara o racismo é diferente, pois se busca 
na postura alegre do povo brasileiro o discurso ideal para não 
falarmos de racismo.
Gilberto Freyre teve seus méritos para criticar os critérios 
das ciências naturais na definição dos grupos. Mas, segundo 
Adrian ( 2013) não é possível considerar a sociedade brasileira 
como não racista sem nenhum tipo de preconceito, vivendo 
numa democracia racial. O preconceito efetivamente existe, 
a diferença é que no Brasil tendemos a considerar sempre o 
outro como racista. O indivíduo em si jamais se entende como 
racista ou apresentamqualquer tipo de preconceito.
4 - “Raça” e pobreza 
5 - Desigualdade, raça e classe
O Brasil tem experimentado transformações importantes, 
propícias a um debate sobre a agenda de estudos das 
desigualdades em geral e, em particular, das desigualdades 
raciais. Tais transformações estão associadas a mudanças de 
caráter estrutural, mas há também ênfase sobre o esforço de 
enfrentamento das desigualdades via políticas sociais. Sua 
ampliação e reformulação têm sido extremamente importantes 
para a configuração de um novo cenário social (Barros et al., 
2000).
No que tange às desigualdades raciais, há mudanças 
recentes visando à sua diminuição, também relacionadas 
com os efeitos das ações afirmativas. Isso se deve, em grande 
medida, às políticas sociais, especialmente as de transferência de 
renda. Entretanto, os avanços até então conquistados ainda são 
tímidos, uma vez que o patamar inicial sobre o qual ocorrem 
tais transformações é marcado por alto grau de desigualdade. 
Estudos que fazem projeções acerca da diminuição da 
desigualdade racial apontam que será necessário manter esse 
ritmo de queda durante longo período para que se consolide 
uma sociedade realmente mais igualitária (Ipea, 2008).
O tema da desigualdade mobiliza diferentes campos 
disciplinares que segundo Lima (2012) procuram explicações 
para suas origens, causas e efeitos, bem como apresenta 
diversas possibilidades de enfoques. Relaciona-se com as 
temáticas do desenvolvimento econômico, da pobreza e 
da estratificação social. No campo da filosofia política, as 
reflexões sobre desigualdade tratam da relação entre liberdade 
e igualdade e de concepções de sociedade justa.
Esse tema permanece caro à agenda de estudos 
de tais campos principalmente pelo desafi o 
analítico de compreender a estabilidade e a 
durabilidade da desigualdade a despeito das 
transformações econômicas. A resposta a 
essa questão tem sido buscada por diversos 
caminhos analíticos e metodológicos, mas 
que têm em comum o rompimento com a 
perspectiva que entende as desigualdades a 
partir de diferenças no plano das capacidades 
e dos desempenhos individuais e que, além 
disso, mensura esse fenômeno tendo somente 
a renda como referência.( LIMA, 2012 p.06)
No diálogo com essa perspectiva, Amartya Sen (2000 
apud Lima 2012) elabora uma teoria que parte de uma 
distinção fundamental entre o que significa a “satisfação 
individual” (avaliada pela prerrogativa da renda) e o que ele 
define como “vantagem individual”. A “vantagem individual” 
é uma categoria avaliadora de bem-estar mais abrangente que 
permite conceber os “bens individuais” (num sentido amplo, 
os interesses racionais dos indivíduos) como passíveis de 
comparação e ordenação. O bem-estar alcançado por meio da 
renda não é uma medida suficiente da “vantagem individual”.
O trabalho de Charles Tilly (2006 apud LIMA 2012) 
preconiza a importância da abordagem histórica e relacional na 
explicação das transformações das questões sociais no mundo 
contemporâneo. Segundo o autor, a desigualdade é uma relação 
entre pessoas ou conjunto de pessoas na qual a interação 
gera mais vantagens para um dos lados. Portanto, a questão 
a ser enfrentada é como, por que e com quais consequências 
as desigualdades nas chances de realização socioeconômica 
distinguem categorias de pessoas socialmente diferentes.
Ao encontrarmos essa resposta, encontramos também 
50Sociologia, Ética e Resp. Socioambiental
a resposta para a durabilidade da desigualdade (Idem, p. 
50). É nesse escopo interpretativo que as denominadas 
variáveis acrescentadas ganham destaque na explicação das 
desigualdades sociais. (LIMA, 2012)
Em primeiro lugar, porque não se relacionam com 
as diferenças de atributos ou desempenhos, mas estão 
consolidadas nas desvantagens historicamente produzidas 
entre os grupos sociais, étnicos e de gênero, prevendo então, 
por conta disso, as chances de sucesso dos indivíduos.
Em segundo lugar, porque ajudam a compreender 
os mecanismos e processos de produção e reprodução das 
desigualdades, na medida em que evidenciam a relação entre 
características individuais e estrutura social, entre experiência 
biográfica e ordem societária.
No caso brasileiro, segundo LIMA ( 2012) a relação entre 
raça e classe é tema constitutivo do campo da sociologia das 
relações raciais, onde sempre predominou a preocupação analítica 
de identificar a variável raça na configuração das desigualdades 
de classe. Segundo Guimarães, os estudiosos desse campo 
estão “fadados a se mover entre teorias de classe e as teorias de 
identidades sociais, entre ‘classe’ e ‘raça’” (2004, p. 34). 
As transformações recentes na sociedade brasileira, 
principalmente a implantação de políticas afirmativas, suscitaram 
um debate inédito no espaço público. Para Lima ( 2012) o 
esteio dessas discussões está fortemente marcado pelo debate 
acerca da necessidade de políticas específicas para combater a 
desigualdade racial, portanto, um debate sobre raça e classe.
Essas políticas estão fortemente apoiadas nos estudos 
sobre desigualdades raciais que têm utilizado um conjunto 
de dados agregados para identificar se “raça” é uma variável 
significativa na distribuição desigual de recursos e de 
oportunidades (Hasenbalg, 1979; Hasenbalg e Silva, 1988; 
Telles, 2003).
A tese principal desses estudos, segundo Lima ( 2012) é 
a de que preconceito e discriminação raciais estão intimamente 
associados à competição por posições na estrutura social, 
refletindo sobre diferenças entre os grupos de cor na 
apropriação de posições na hierarquia social. No que diz 
respeito à relação entre raça e situações de pobreza, ela pode ser 
entendida a partir de duas perspectivas. Uma é a maneira como 
os estudos sobre raça tratam a questão da pobreza; outra, como 
os estudos sobre pobreza lidam com a variável raça.
No campo de estudo das desigualdades raciais, Para 
Lima ( 2012) a ênfase ocorre tanto na sobrerrepresentação 
da população negra entre os pobres, como na proporção de 
pobres dentro de cada grupo racial. Há mais negros (pretos 
e pardos) entre os pobres, da mesma forma que há maior 
proporção de pobres no grupo negro do que no grupo 
branco. Outro aspecto que se destaca é a manutenção dessas 
diferenças a despeito das recentes e significativas mudanças 
nas situações de pobreza.
Retomando a aula
Parece que estamos indo bem. Então, para encerrar 
essa aula, vamos recordar:
1 - Raça e etinicidade
 Na primeira seção da aula seis compreendemos que as 
discussões travadas, no que diz respeito ao amplo assunto 
da desigualdade social, coloca o tema raça e etnicidade como 
ponto de discussões que fazem parte de nosso cotidiano e 
essa é a proposta da sociologia quanto ao estudo de raça e 
etnicidade. 
2 - Breve histórico das ideias raciais
Na segunda seção da aula seis estudamos que 
historicamente o tema referente aos diversos grupos de seres 
humanos e suas particularidades, teve maior destaque a partir do 
processo das grandes navegações na Europa. A “descoberta” 
de novos grupos humanos como o africano, o asiático e 
principalmente o índio americano, proporcionou uma nova 
postura do europeu quanto a essa diversidade étnico-cultural. 
3 - Debate sobre “Raça” no Brasil.
Na terceira seção da aula seis analisamos o debate sobre 
“Raça” no Brasil. O termo “raça” surgiu da influencia das 
ciências biológicas, tendo a ideia equivocada de raças variadas. 
Hoje sabemos que raça só existe uma, a raça humana.
4 – “Raça” e pobreza 
Na quarta seção da aula seis discutimos Raça” e pobreza, 
o Brasil tem experimentado transformações importantes, 
propícias a um debate sobre a agenda de estudos das 
desigualdades em geral e, em particular, das desigualdades 
raciais. Tais transformações estão associadas a mudanças de 
caráter estrutural, mas há também ênfase sobre o esforço 
de enfrentamento das desigualdades via políticas sociais. Sua 
ampliação e reformulação têm sido extremamente importantes 
para a configuração de um novo cenário social.5 – Desigualdade, raça e classe.
Na quinta seção da aula seis conhecemos os conceitos 
de desigualdade, raça e classe. Entendemos que preconceito 
e discriminação raciais estão intimamente associados à 
competição por posições na estrutura social, refletindo sobre 
diferenças entre os grupos de cor na apropriação de posições 
na hierarquia social. No que diz respeito à relação entre raça e 
situações de pobreza, ela pode ser entendida a partir de duas 
perspectivas. Uma é a maneira como os estudos sobre raça 
tratam a questão da pobreza; outra, como os estudos sobre 
pobreza lidam com a variável raça.
Minhas anotações

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