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Teoria Geral da Segurança Física Aula 01: A História da Sociedade na Busca por Proteção Apresentação Compreenderemos que as necessidades por medidas de segurança existem desde a pré-história, quando os riscos limitavam-se aos oferecidos pela própria natureza ou por seus semelhantes. Também entenderemos como ocorreram as evoluções das necessidades protetivas, cada vez mais especí�cas. Objetivos Discutir a evolução das atividades segurança ao longo dos anos. Identi�car as medidas de segurança que eram aplicadas no passado, comparando-as com a realidade atual. Analisar a origem das necessidades de proteção. Premissa Você sabe a origem da palavra segurança? Ela é derivada dos advérbios latinos secure e securus. Originalmente, seu signi�cado era sem preocupação, em segurança ou isento de perigo. Atualmente é utilizada para de�nir um estado de ausência de perigo, uma atividade para afastamento de riscos/perigos e até mesmo para denominar os próprios instrumentos de proteção. O homem sempre sentiu a necessidade de se proteger. Inicialmente, procurou proteção para si e sua família dentro de cavernas, com a utilização de machados de pedra, arcos e lanças. Mais tarde, já em grupamentos maiores, a necessidade era de uma proteção coletiva contra grupos que poderiam conquistar os seus territórios, saquear os seus bens, roubar as suas mulheres e os seus �lhos e escravizar ou exterminar o seu povo. Origem da segurança (Fonte: https://cultura.culturamix.com). A evolução da segurança física das instalações Com o passar do tempo, houve uma mudança de comportamento. Antes o homem possuía a característica de coletor e predador. Explorava os locais e, quando os recursos estavam se esgotando, migrava para outra área. Segurança privada (Fonte: Shutterstock). Com a necessidade da �xação em território, da produção de alimentos e utensílios e do surgimento das primeiras aldeias, cujas casas eram construídas próximas aos rios e lagos, surgiu a necessidade das primeiras medidas de proteção, dando assim origem às primeiras ações de segurança física. Às primeiras ações de segurança física Clique no botão acima. javascript:void(0); As casas eram cada vez mais resistentes e seguras, de forma a proteger a família de animais. As vilas passaram a ser cercadas por muralhas para proteção do ataque Acontecimentos importantes Acontecimentos importantes Da época colonial até a independência, coexistiram no Brasil diversas instituições com encargos de segurança, sendo as principais: • A tropa regular da Coroa Portuguesa; • Os Regimentos de Milícias; • Companhias de Ordenanças, além do serviço prestado pelos “Quadrilheiros”. A tropa regular era um serviço militar remunerado pela administração colonial, e as demais, uma consequência da política de estímulo ao serviço militar não remunerado e não pro�ssional, que se apoiava essencialmente na distribuição de privilégios e recompensas aos detentores dos cargos superiores. O serviço militar não remunerado, prestado como dever cívico pelos cidadãos, foi um fenômeno registrado em variados períodos históricos da humanidade. Tratava-se de um antigo sistema de recrutamento militar, baseado na solidariedade tribal e na responsabilidade coletiva. Esse quadro se prolonga, com pequenas variações no tempo e no espaço colonial, até o início do século XIX, quando a chegada da família real ao Brasil (em 1808) muda profundamente o quadro e favorece as alterações provocadas pela brusca so�sticação ocorrida na ex-colônia, transformada em sede do Reino. Ainda no ano de 1808, foi criada a Intendência Geral da Corte e do Estado do Brasil, que absorveu e centralizou as atribuições de segurança de várias autoridades menores e foi o núcleo da instituição hoje conhecida como Polícia Civil. No ano seguinte, foi criada uma instituição chamada de Divisão Militar da Guarda Real de Polícia, repetindo, no Brasil a organização já existente em Lisboa que, após passar por diversas denominações ao longo dos anos, hoje conhecemos como Polícia Militar. Ambas traziam para o Brasil estruturas mais modernas, resultado da experiência francesa espalhada na Europa, com organizações já pro�ssionalizadas, centralizadas e especializadas. Elas visavam objetivamente à ordem pública na Corte do Brasil, e acabaram por favorecer o aparecimento de instituições de idêntica organização no restante do território brasileiro. Com o retorno da família real ao continente europeu, foi criada no Brasil, em 1822, uma instituição denominada Corpo de Guarda Cívica: uma organização não regular, não pro�ssionalizada e não especializada que seria reunida e atuaria em ações de segurança apenas quando convocada. Sua existência foi breve. Com a abdicação de D. Pedro I em 1831, teve início um período de regências até a declaração da maioridade de D. Pedro II, o segundo Imperador. Durante o primeiro período regencial, foi criada, em 18 de agosto de 1831, uma milícia denominada de Guarda Nacional, que foi modelada com base em milícias já existentes na França e nos Estados Unidos. A nova organização teve intensa atuação no campo militar e de segurança, dentro do princípio de que as milícias seriam a melhor opção para a manutenção da ordem interna, deixando aos exércitos as tarefas de ataque e defesa. Essa tendência de utilizar forças de milícias não remuneradas pelo governo e amadoras contrariava uma corrente já observada na Europa que utilizava forças pro�ssionais, especializadas e remuneradas pelo Estado em substituição às milícias privadas. Esse movimento originou-se na Inglaterra em 1829, quando a polícia de Londres foi reformulada. A instituição criada em substituição aos corpos auxiliares das Milícias, Ordenanças e Guardas Municipais tornou-se um importante elemento de emprego na manutenção da ordem interna e da integridade nacional até 1850, quando foi reformulada, dando início a um longo período de declínio. Ela praticamente desapareceu depois da Guerra do Paraguai, até que foi formalmente extinta em 1917. As primeiras referências sobre a necessidade de criação de uma milícia cívica, amadora e composta por cidadãos que atuasse sob a autoridade de um Juiz com a �nalidade de representar a força física daquela autoridade no lugar das desgastadas Ordenanças, tiveram lugar na Câmara dos Deputados por volta de 1830, dando margem a diversas propostas e discussões. As manifestações de julho de 1831, os movimentos revoltosos do Exército e da Polícia, bem como a ine�ciência da atuação das forças auxiliares (Milícias, Ordenanças e Guardas Civis) na manutenção da ordem interna, criaram as condições objetivas para que, em agosto do mesmo ano, fosse criada a Guarda Nacional e extintos os corpos auxiliares das Milícias, Ordenanças e Guardas Municipais. A nova instituição foi incumbida da manutenção da ordem interna, para a defesa da Constituição, da liberdade, da independência e da integridade do Império, para manter a obediência às leis, conservar ou restabelecer a ordem e a tranquilidade pública, como também para auxiliar o Exército na defesa das fronteiras e costas, e foi vista inicialmente como uma alternativa à própria existência de um exército nacional. A Guarda Nacional, composta por cidadãos que prestavam seus serviços gratuitamente à nação, cujos serviços eram de natureza permanente, obrigatória e pessoal, englobava todos os cidadãos brasileiros até a idade máxima de sessenta anos que fossem "�lhos de família" e que tivessem renda que os quali�casse como eleitores. A instituição foi organizada por Província do Império e distribuída pelos municípios, paróquias e curatos, �cando subordinada sucessivamente aos Juízes de Paz, aos Juízes Criminais, aos Presidentes das Províncias e ao Ministro da Justiça do Império. Cabia à Câmara Municipal sua distribuição territorial por Seções de Companhia, Batalhões e Legiões, com organização das “armas” de infantaria, cavalaria e artilharia, quando necessário. As milícias sem treinamento satisfatório, enfraquecidas e limitadas desde as alterações introduzidas em 1850, pouco produziame muito atrapalhavam as atividades pro�ssionais dos seus membros, sendo que no interior do país serviam principalmente como instrumento de dominação política. As di�culdades vividas e as mazelas observadas no período de guerra (1864-1870) provocaram mudanças radicais no pós-guerra, com o reconhecimento do valor das forças armadas e a valorização e o desenvolvimento das forças policiais pro�ssionais e de políticas governamentais adotadas no ocaso do Império e no nascente período republicano que se seguiria. O aumento da população e a sua urbanização deram margem a uma tentativa de controle que já se fazia necessária. Em 1890, o país contava com 14 milhões de habitantes, que em 1900 já eram 17 milhões e que em 1920 superaram 30 milhões de habitantes, com signi�cativa parcela de imigrantes. Esses e outros problemas agravaram o cenário onde havia um novo e híbrido Código Penal, aprovado em 1890 e em vigor até 1942. Sua estrutura clássica remetia ao livre- arbítrio, embora consagrando princípios positivistas e operando em conjunto com uma Constituição promulgada em 1891, totalmente inspirada na tradição liberal anglo-americana. É desse período a criação da Escola de Polícia do Distrito Federal (em 1907), a regulamentação do Serviço Policial (em 30 de março de 1907) e a iniciativa de identi�cação universal da população (em 1908), com a utilização do método Vucetich de datiloscopia. As organizações de segurança se multiplicaram não só no quadro estatal. Também novos organismos privados passaram a atuar na prestação de serviços para atividades comerciais e industriais, apesar que de maneira rudimentar e concentrada em vigilância patrimonial orgânica. Num aspecto mais amplo e já em meados do século passado, as Guardas Noturnas - organizações privadas e tipicamente urbanas - passaram a operar em um limbo divisório e muito pouco nítido entre a atividade pública e a atividade privada, em praticamente todo o país, atendendo tanto necessidades individuais quanto coletivas, sempre remuneradas por entes privados, mas prestando um serviço de natureza pública. De uma maneira geral, esse quadro se repete por todo o país, principalmente nos centros urbanos e suas periferias, atravessando o �nal do Estado Novo quando, no Rio de Janeiro, a Polícia Civil do Distrito Federal foi transformada em Departamento Federal de Segurança Pública (DFSP) por força do Decreto-Lei nº 6.378, de 28 de fevereiro de 1945. O quadro pouco foi alterado nos períodos subsequentes, conhecidos como período de redemocratização e período desenvolvimentista. Até que nos anos 1960, o movimento revolucionário de março de 1964 alterou fundamentalmente a história republicana, tanto pelo ciclo de governos militares que lhe foi consequente quanto pela reação de grupos políticos de esquerda que os contestaram de forma violenta. O �nal da década de 1960 e o início da década de 1970 foram marcados por roubos a bancos e a outras instituições �nanceiras, bem como sequestros e outras modalidades criminosas a�ns, com o objetivo de levantar fundos para �nanciar e divulgar a luta armada contra o regime militar. No início do ano de 1969, a luta armada achava-se em pleno curso, contando com organizações clandestinas que operavam principalmente em ambiente urbano, situação favorecida pela precariedade e pelo amadorismo com que as instituições �nanceiras, carros-fortes, paióis de explosivos e casas de armas eram protegidas. Foi, sem dúvida, um período fértil para a atividade de guerrilha urbana, sendo que durante o ano de 1968 foi contabilizado um assalto a cada três semanas contra carros-fortes e agências bancárias em São Paulo. Esse número foi suplantado nos cinco meses �nais do ano de 1969, quando foi veri�cada a ocorrência de um assalto a cada seis dias. As atividades empresariais que hoje entendemos como “segurança privada” não eram conhecidas no Brasil até a década de 1960. Até aquela época era possível, mas não comum, encontrar em grandes corporações e autarquias, de forma orgânica, pequenos aparatos de segurança orientados quase que exclusivamente para a vigilância patrimonial. Eram pouco so�sticados, de organização simples e execução estática e rudimentar. Também se encontravam, sob a forma de prestação não o�cial, os serviços de segurança pessoal. Exclusivamente para quem pudesse pagar por esses serviços ou para os que contavam com a simpatia ou a identi�cação político-ideológica de membros de instituições policiais ou militares. A atividade de segurança privada foi regulamentada nos anos 1960, quase que unicamente por legislação estadual, e voltada exclusivamente para a segurança bancária. Somente em outubro de 1969 foi editado o Decreto-Lei nº 1034/69, que uniformizou em todo o país as regras para a segurança da área bancária, bem como de�niu o tipo de prestadores desses serviços e regulou suas atividades. Em 1983, a legislação foi modi�cada pela edição da Lei Nº 7 102/83. Se por um lado as providências adotadas pelos governos militares foram aptas a desarticular e praticamente suprimir o movimento contestatório - armado de esquerda -, por outro lado foram inaptas a controlar a criminalidade crescente, situação agravada na década seguinte (anos 1980), quando da eleição para os governos estaduais de políticos até pouco tempo antes considerados adversários do regime militar. Políticas equivocadas em relação aos direitos humanos, de caráter clientelista e populista, provocaram uma onda de permissividade e aumento da ousadia dos infratores da lei, situação para a qual nem o aparato de segurança pública, nem o de segurança privada estavam preparados. A consequência foi uma explosão descontrolada da violência e da criminalidade, que praticamente triplicou no período (1980 a 1990). O convívio em sociedade também originou uma outra vertente da segurança, que é o estabelecimento de regras para disciplinar os limites, deveres e obrigações dos indivíduos. As �guras que vamos apresentar a seguir são das cidades erguidas na região da Mesopotâmia, entre os anos 4.000 a.C e 539 a.C. Ao analisarmos as imagens, identi�camos facilmente várias medidas de segurança física que foram utilizadas na época e continuam sendo empregadas nos dias atuais. Você conseguiu identi�car? • Sistemas especí�cos de controle de acesso • Barreiras físicas sucessivas com a aplicação da Teoria dos Círculos Concêntricos, que será objeto de estudo em outra aula. Saltando para a idade média, imaginamos logo os grandes castelos. Nessa época, milhares deles foram construídos, uma vez queas guerras eram muito comuns. Os castelos eram verdadeiras fortalezas, onde os senhores feudais, reis e outros nobres aplicavam várias técnicas de segurança física nas suas construções. Tudo para proteger seus bens materiais e suas famílias. Ao analisarmos as medidas de proteção empregadas nos castelos, também identi�caremos que elas continuam sendo utilizadas nos dias atuais. Vamos analisar as �guras a seguir: Conseguiram identi�car? 1 – Área de segurança externa Grandes áreas livres, sem vegetação ou objetos ao redor do castelo. A área livre era a primeira barreira contra o inimigo e tinha duas �nalidades especi�cas: excluir qualquer coisa que pudesse ser utilizada como esconderijo pelo inimigo e facilitar a observação. 2 – Fosso Normalmente cheio de agua, era a segunda barreira de proteção ou segunda linha de defesa. Essa técnica, por questões óbvias, só não era utilizada quando o castelo era construído no alto de uma rocha. 3 – Muro A terceira linha de defesa eram os muros. Sim, os muros que formavam anéis concêntricos protegendo a torre principal e outras instalações. 4- Torres de Vigilância Construídas sobre os muros, tinham a �nalidade de abrigar os soldados para o exercício da observação permanente de toda a extensão e das áreas adjacentes, com o objetivo de identi�car potenciais ameaças. 5 – Área de segurança interna Espaço compreendido entre o muro e a construção principal. Também considerada a quarta linha de defesa, possibilitava a visão dos agressores que, por ventura,tivessem conseguido ultrapassar a muralha principal. 6 – Cabine do portão e ponte levadiça Dispositivos que permitiam controlar o acesso. Em alguns castelos, ainda utilizavam o conceito de “eclusas”, isso é, dois portões que não abriam simultaneamente. Abre-se um, a pessoa entra naquele espaço con�nado, fecha o portão, e o segundo só é aberto após o fechamento total do primeiro. Esse sistema de eclusas também será objeto de estudo mais especi�camente em outra aula. Outras técnicas muito utilizadas nos castelos são as “saídas secretas”. Rotas de fuga em caso de derrota iminente. Também utilizavam portas reforçadas de muito boa resistência nos locais mais sensíveis, caracterizando a quinta linha de defesa. Os primeiros vigilantes de que se tem registro surgiram na Inglaterra, por volta do século XVI, e eram compostos por pessoas da própria localidade. Eram escolhidos por possuírem habilidades na arte da luta e no uso da espada. A remuneração era paga pelos senhores feudais com os impostos cobrados dos cidadãos. Esses vigilantes tinham por missão patrulhar as cidades e as estradas contra ladrões e salteadores, que a�uíam às cidades construídas junto às muralhas dos castelos. Progressivamente, a competência dessa atividade foi aplicada também à proteção da população. Atividades 1 - No que se baseavam a Teoria Liberal, de Loche, Voltaire e Montesquieu, e a Teoria Democrática, de Rousseau? a) Ambas se baseavam na premissa de que o Estado era um mal necessário e que o governo deveria repousar numa base contratual. b) Ambas se baseavam na premissa de que o Estado era um mal necessário e que o governo não deveria repousar numa base contratual. c) Ambas se baseavam na premissa de que o país era um mal necessário e que o prefeito deveria repousar numa base contratual. d) Apenas a Teoria Liberal se baseava na premissa de que o país era um mal necessário e que o prefeito deveria repousar numa base contratual 2 - No século XIX, com a marcha para o Oeste, a ocupação do Meio-Oeste e da fronteira do Norte, bem como pela ocorrência da Guerra da Secessão (1861), qual a missão principal de patrulha? a) Ostensiva e captura de criminosos. b) Preventiva e captura de criminosos. c) Ostensiva preventiva. d) Captura de criminosos. e) Ostensiva, preventiva e captura de criminosos. Evolução da Segurança no mundo Teoria Liberal. Montesquieu (Fonte: https://commons.wikimedia.org). Durante as Guerras Napoleônicas, a grande maioria dos Estados europeus adaptaram ou criaram suas organizações de segurança com base no modelo utilizado na França. As di�culdades de natureza política, econômica, administrativa e, principalmente, �nanceira, acumuladas nos três séculos seguintes, se cristalizou em duas teorias particulares, expressando as preocupações e as aspirações da burguesia europeia, já rica e ascendente. A primeira delas foi a Teoria Liberal, de Loche, Voltaire e Montesquieu. A segunda foi a Teoria Democrática, de Rousseau. Embora antagônicas, tiveram algo em comum. Elas se baseavam na premissa de que o Estado era um mal necessário e que o governo deveria repousar numa base contratual. Cada qual tinha sua doutrina de soberania popular, ainda que com visões diferentes. Ambas sustentavam os direitos fundamentais dos indivíduos. Outros movimentos Clique no botão acima. javascript:void(0); A consequência foi revolucionária a partir da Independência Americana (1776) e da Revolução Francesa (1789), com a tripartição dos poderes do Estado, a separação do religioso e do laico, bem como a separação do público e do privado. A distinção entre as atividades públicas e privadas cria condições objetivas também para a �xação de critérios distintivos entre os segmentos empenhados nas atividades de segurança, permitindo separar com maior clareza as iniciativas estatais (segurança pública) e as iniciativas privadas (segurança particular). No século XVII e em grande parte do século XVIII, a responsabilidade por fazer cumprir as leis foi sendo transferida gradativamente do cidadão comum para o especialista policial, com o aparecimento das primeiras organizações do gênero em ambiente urbano. Nova York, ainda com o nome de Nova Amsterdã, criou uma Vigília Burguesa. A Guerra de Independência Americana (1776) e a uni�cação das Treze Colônias favoreceram a formação de forças de segurança para a defesa do território e o cumprimento das leis, ainda que baseada na ideia de defesa urbana. No século XIX, as organizações de segurança foram ampliadas e disseminadas com a missão principal de patrulha preventiva, ostensiva e captura de criminosos. A missão de investigação �cava a cargo dos particulares (agentes privados), através de detetives contratados e caçadores de recompensas. Nova York, a maior cidade americana no início do século XIX, somente organizou sua força policial no ano de 1845, com base no Departamento de Polícia criado em 1783. Já no �nal do século XIX e início do século XX, as forças de segurança pública se reformulam e passam a importar modelos europeus de organização e prática policial. Primeiramente da França e depois da Inglaterra, cuja força policial de Londres fora totalmente reformulada em 1829, por iniciativa do Ministro Robert Peel, baseada numa estrutura organizacional civil e estável, e�caz, militarmente organizada e sob controle do governo, em contraponto ao modelo napoleônico. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Comentário É interessante rati�car que somente em 1748 foi instituída na Inglaterra uma força de segurança de caráter permanente, pro�ssional e remunerado, com impostos recolhidos dos cidadãos. Ela era encarregada das patrulhas nas cidades e estradas e contava com investigadores, em um modelo claramente inspirado na experiência francesa de substituir as milícias privadas dos grandes empresários e proprietários de terras. Evolução da segurança no Brasil As instituições de segurança de caráter público são dominantes nos dias de hoje, mas já vimos que uma grande parte delas foi originalmente de caráter privado, tendo convivido por um bom período com estruturas híbridas. De um lado, a hierarquia tradicional ou senhorial, caracteristicamente patrimonialista, pessoal e individualizada. De outro lado, a hierarquia moderna, caracteristicamente pública, impessoal e padronizada. Policia militar do Estado do Rio de Janeiro (Fonte: Google Search). Durante as Guerras Napoleônicas, a grande maioria dos Estados europeus adaptaram ou criaram suas organizações de segurança com base no modelo utilizado na França. As di�culdades de natureza política, econômica, administrativa e, principalmente, �nanceira, acumuladas nos três séculos seguintes, se cristalizou em duas teorias particulares, expressando as preocupações e as aspirações da burguesia europeia, já rica e ascendente. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online A primeira delas foi a Teoria Liberal, de Loche, Voltaire e Montesquieu. A segunda foi a Teoria Democrática, de Rousseau. Embora antagônicas, tiveram algo em comum. Elas se baseavam na premissa de que o Estado era um mal necessário e que o governo deveria repousar numa base contratual. Cada qual tinha sua doutrina de soberania popular, ainda que com visões diferentes. Ambas sustentavam os direitos fundamentais dos indivíduos. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Acontecimentos importantes Clique no botão acima. javascript:void(0); Da época colonial até a independência, coexistiram no Brasil diversas instituições com encargos de segurança, sendo as principais: • A tropa regular da Coroa Portuguesa; • Os Regimentos de Milícias; • Companhias de Ordenanças, além do serviço prestado pelos “Quadrilheiros”. A tropa regular era um serviço militar remunerado pela administração colonial, e as demais, uma consequência da política de estímulo ao serviço militar não remunerado e não pro�ssional, que se apoiava essencialmente na distribuição de privilégios e recompensas aos detentores dos cargos superiores.O serviço militar não remunerado, prestado como dever cívico pelos cidadãos, foi um fenômeno registrado em variados períodos históricos da humanidade. Tratava-se de um antigo sistema de recrutamento militar, baseado na solidariedade tribal e na responsabilidade coletiva. Esse quadro se prolonga, com pequenas variações no tempo e no espaço colonial, até o início do século XIX, quando a chegada da família real ao Brasil (em 1808) muda profundamente o quadro e favorece as alterações provocadas pela brusca so�sticação ocorrida na ex-colônia, transformada em sede do Reino. Ainda no ano de 1808, foi criada a Intendência Geral da Corte e do Estado do Brasil, que absorveu e centralizou as atribuições de segurança de várias autoridades menores e foi o núcleo da instituição hoje conhecida como Polícia Civil. No ano seguinte, foi criada uma instituição chamada de Divisão Militar da Guarda Real de Polícia, repetindo, no Brasil a organização já existente em Lisboa que, após passar por diversas denominações ao longo dos anos, hoje conhecemos como Polícia Militar. Ambas traziam para o Brasil estruturas mais modernas, resultado da experiência francesa espalhada na Europa, com organizações já pro�ssionalizadas, centralizadas e especializadas. Elas visavam objetivamente à ordem pública na Corte do Brasil, e acabaram por favorecer o aparecimento de instituições de idêntica organização no restante do território brasileiro. Com o retorno da família real ao continente europeu, foi criada no Brasil, em 1822, uma instituição denominada Corpo de Guarda Cívica: uma organização não regular, não pro�ssionalizada e não especializada que seria reunida e atuaria em ações de segurança apenas quando convocada. Sua existência foi breve. Com a abdicação de D. Pedro I em 1831, teve início um período de regências até a declaração da maioridade de D. Pedro II, o segundo Imperador. Durante o primeiro período regencial, foi criada, em 18 de agosto de 1831, uma milícia denominada de Guarda Nacional, que foi modelada com base em milícias já existentes na França e nos Estados Unidos. A nova organização teve intensa atuação no campo militar e de segurança, dentro do princípio de que as milícias seriam a melhor opção para a manutenção da ordem interna, deixando aos exércitos as tarefas de ataque e defesa. Essa tendência de utilizar forças de milícias não remuneradas pelo governo e amadoras contrariava uma corrente já observada na Europa que utilizava forças pro�ssionais, especializadas e remuneradas pelo Estado em substituição às milícias privadas. Esse movimento originou-se na Inglaterra em 1829, quando a polícia de Londres foi reformulada. A instituição criada em substituição aos corpos auxiliares das Milícias, Ordenanças e Guardas Municipais tornou-se um importante elemento de emprego na manutenção da ordem interna e da integridade nacional até 1850, quando foi reformulada, dando início a um longo período de declínio. Ela praticamente desapareceu depois da Guerra do Paraguai, até que foi formalmente extinta em 1917. As primeiras referências sobre a necessidade de criação de uma milícia cívica, amadora e composta por cidadãos que atuasse sob a autoridade de um Juiz com a �nalidade de representar a força física daquela autoridade no lugar das desgastadas Ordenanças, tiveram lugar na Câmara dos Deputados por volta de 1830, dando margem a diversas propostas e discussões. As manifestações de julho de 1831, os movimentos revoltosos do Exército e da Polícia, bem como a ine�ciência da atuação das forças auxiliares (Milícias, Ordenanças e Guardas Civis) na manutenção da ordem interna, criaram as condições objetivas para que, em agosto do mesmo ano, fosse criada a Guarda Nacional e extintos os corpos auxiliares das Milícias, Ordenanças e Guardas Municipais. A nova instituição foi incumbida da manutenção da ordem interna, para a defesa da Constituição, da liberdade, da independência e da integridade do Império, para manter a obediência às leis, conservar ou restabelecer a ordem e a tranquilidade pública, como também para auxiliar o Exército na defesa das fronteiras e costas, e foi vista inicialmente como uma alternativa à própria existência de um exército nacional. A Guarda Nacional, composta por cidadãos que prestavam seus serviços gratuitamente à nação, cujos serviços eram de natureza permanente, obrigatória e pessoal, englobava todos os cidadãos brasileiros até a idade máxima de sessenta anos que fossem "�lhos de família" e que tivessem renda que os quali�casse como eleitores. A instituição foi organizada por Província do Império e distribuída pelos municípios, paróquias e curatos, �cando subordinada sucessivamente aos Juízes de Paz, aos Juízes Criminais, aos Presidentes das Províncias e ao Ministro da Justiça do Império. Cabia à Câmara Municipal sua distribuição territorial por Seções de Companhia, Batalhões e Legiões, com organização das “armas” de infantaria, cavalaria e artilharia, quando necessário. As milícias sem treinamento satisfatório, enfraquecidas e limitadas desde as alterações introduzidas em 1850, pouco produziam e muito atrapalhavam as atividades pro�ssionais dos seus membros, sendo que no interior do país serviam principalmente como instrumento de dominação política. As di�culdades vividas e as mazelas observadas no período de guerra (1864-1870) provocaram mudanças radicais no pós-guerra, com o reconhecimento do valor das forças armadas e a valorização e o desenvolvimento das forças policiais pro�ssionais e de políticas governamentais adotadas no ocaso do Império e no nascente período republicano que se seguiria. O aumento da população e a sua urbanização deram margem a uma tentativa de controle que já se fazia necessária. Em 1890, o país contava com 14 milhões de habitantes, que em 1900 já eram 17 milhões e que em 1920 superaram 30 milhões de habitantes, com signi�cativa parcela de imigrantes. Esses e outros problemas agravaram o cenário onde havia um novo e híbrido Código Penal, aprovado em 1890 e em vigor até 1942. Sua estrutura clássica remetia ao livre- arbítrio, embora consagrando princípios positivistas e operando em conjunto com uma Constituição promulgada em 1891, totalmente inspirada na tradição liberal anglo-americana. É desse período a criação da Escola de Polícia do Distrito Federal (em 1907), a regulamentação do Serviço Policial (em 30 de março de 1907) e a iniciativa de identi�cação universal da população (em 1908), com a utilização do método Vucetich de datiloscopia. As organizações de segurança se multiplicaram não só no quadro estatal. Também novos organismos privados passaram a atuar na prestação de serviços para atividades comerciais e industriais, apesar que de maneira rudimentar e concentrada em vigilância patrimonial orgânica. Num aspecto mais amplo e já em meados do século passado, as Guardas Noturnas - organizações privadas e tipicamente urbanas - passaram a operar em um limbo divisório e muito pouco nítido entre a atividade pública e a atividade privada, em praticamente todo o país, atendendo tanto necessidades individuais quanto coletivas, sempre remuneradas por entes privados, mas prestando um serviço de natureza pública. De uma maneira geral, esse quadro se repete por todo o país, principalmente nos centros urbanos e suas periferias, atravessando o �nal do Estado Novo quando, no Rio de Janeiro, a Polícia Civil do Distrito Federal foi transformada em Departamento Federal de Segurança Pública (DFSP) por força do Decreto-Lei nº 6.378, de 28 de fevereiro de 1945. O quadro pouco foi alterado nos períodos subsequentes, conhecidos como período de redemocratização e período desenvolvimentista. Até que nos anos 1960, o movimento revolucionário de março de 1964 alterou fundamentalmente a história republicana, tanto pelo ciclo de governos militares que lhe foi consequente quanto pela reação de grupos políticos de esquerda que os contestaram de forma violenta. O �nal da década de 1960 e o início da década de 1970 foram marcados por roubos a bancos e a outras instituições �nanceiras, bem como sequestrose outras modalidades criminosas a�ns, com o objetivo de levantar fundos para �nanciar e divulgar a luta armada contra o regime militar. No início do ano de 1969, a luta armada achava-se em pleno curso, contando com organizações clandestinas que operavam principalmente em ambiente urbano, situação favorecida pela precariedade e pelo amadorismo com que as instituições �nanceiras, carros-fortes, paióis de explosivos e casas de armas eram protegidas. Foi, sem dúvida, um período fértil para a atividade de guerrilha urbana, sendo que durante o ano de 1968 foi contabilizado um assalto a cada três semanas contra carros-fortes e agências bancárias em São Paulo. Esse número foi suplantado nos cinco meses �nais do ano de 1969, quando foi veri�cada a ocorrência de um assalto a cada seis dias. As atividades empresariais que hoje entendemos como “segurança privada” não eram conhecidas no Brasil até a década de 1960. Até aquela época era possível, mas não comum, encontrar em grandes corporações e autarquias, de forma orgânica, pequenos aparatos de segurança orientados quase que exclusivamente para a vigilância patrimonial. Eram pouco so�sticados, de organização simples e execução estática e rudimentar. Também se encontravam, sob a forma de prestação não o�cial, os serviços de segurança pessoal. Exclusivamente para quem pudesse pagar por esses serviços ou para os que contavam com a simpatia ou a identi�cação político-ideológica de membros de instituições policiais ou militares. A atividade de segurança privada foi regulamentada nos anos 1960, quase que unicamente por legislação estadual, e voltada exclusivamente para a segurança bancária. Somente em outubro de 1969 foi editado o Decreto-Lei nº 1034/69, que uniformizou em todo o país as regras para a segurança da área bancária, bem como de�niu o tipo de prestadores desses serviços e regulou suas atividades. Em 1983, a legislação foi modi�cada pela edição da Lei Nº 7 102/83. Se por um lado as providências adotadas pelos governos militares foram aptas a desarticular e praticamente suprimir o movimento contestatório - armado de esquerda -, por outro lado foram inaptas a controlar a criminalidade crescente, situação agravada na década seguinte (anos 1980), quando da eleição para os governos estaduais de políticos até pouco tempo antes considerados adversários do regime militar. Políticas equivocadas em relação aos direitos humanos, de caráter clientelista e populista, provocaram uma onda de permissividade e aumento da ousadia dos infratores da lei, situação para a qual nem o aparato de segurança pública, nem o de segurança privada estavam preparados. A consequência foi uma explosão descontrolada da violência e da criminalidade, que praticamente triplicou no período (1980 a 1990). Atividade 3 - Coexistiram no Brasil, durante a época colonial até a independência, diversas instituições com encargos de segurança. Quais foram as principais? a) Tropa regular da Coroa Portuguesa b) Regimentos de Milícias c) Companhias de Ordenanças, além do serviço prestado pelos “Quadrilheiros” d) Todas as repostas acima estão corretas. 4 - No ano de 1808, foi criada a Intendência Geral da Corte e do Estado do Brasil, que absorveu e centralizou as atribuições de segurança de várias autoridades menores e foi o núcleo da instituição hoje conhecida como: a) Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro b) Polícia Civil c) Exército Brasileiro d) Regimento de Milícias e) Tropa regular da Coroa Portuguesa 5 - A Polícia Civil do Distrito Federal foi transformada em Departamento Federal de Segurança Pública (DFSP) por força de qual decreto? a) Lei nº 6.378, de 28 de fevereiro de 1945 b) Lei nº 6.370, de 28 de fevereiro de 1945 c) Lei nº 6.381, de 28 de fevereiro de 1945 d) Lei nº 6.379, de 28 de fevereiro de 1945 e) Lei nº 6.375, de 28 de fevereiro de 1945 6 - No âmbito da área privada, a atividade de segurança foi regulamentada nos anos 1960. Em que ano ela foi atualizada e qual a lei que regulamenta os serviços de segurança privada no Brasil? a) 1969, Lei 7105/83 b) 1983, Lei 7106/83 c) 1983, Lei 7102/83 d) 1983, Lei 7100/83 e) 1983, Lei 7104/83 NotasReferências PORTELLA, Paulo Roberto Aguiar. Segurança física. Sistemas de proteção. História, metodologia e doutrina. 3. ed. - revista e ampliada (ISBN: 85-7579-027-7) ORDENANÇAS E MILÍCIAS NO BRASIL COLONIAL. In: Revista do Exército Brasileiro, Rio de Janeiro, v. 136, p. 16 a 22, 2º quadrimestre de 1999. COULANGES, Fustel de. A cidade antiga. São Paulo: Hemus, 2000. Próxima aula A importância do Gestor de Segurança para as instituições privadas; As normatizações do cargo e das atribuições. Explore mais Pesquise na internet sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto. Em caso de dúvidas, converse com seu professor online por meio dos recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem.
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