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OS: 0084/1/18-Gil DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 1 CONCURSO: ASSUNTO: 1. Poder Constituinte.............................................................................................................01 2. Princípios Fundamentais...................................................................................................04 3. Direitos e Garantias Fundamentais...................................................................................06 3.1. Direitos e Deveres Individuais e Coletivos................................................................09 3.2. Direitos Sociais...........................................................................................................39 3.3. Nacionalidade.............................................................................................................47 3.4. Direitos Políticos e Partidos Políticos........................................................................50 4. Organização do Estado......................................................................................................55 5. Organização dos Poderes..................................................................................................70 5.1. Poder Legislativo........................................................................................................70 5.2. Poder Executivo..........................................................................................................98 5.3. Poder Judiciário........................................................................................................105 6. Funções Essenciais à Justiça.............................................................................................127 7. Questões de Concursos....................................................................................................132 8. CF/88 - Atualizada até a Emenda Constitucional 99/2017.............................................143 Capítulo 1 Poder Constituinte 1. CONCEITO DE PODER CONSTITUINTE E TITULARIDADE É o poder de elaborar ou atualizar uma Constituição, é a manifestação soberana da vontade política de um povo, social e juridicamente organizado. Para a doutrina moderna a titularidade do poder constituinte pertence ao povo, embora seja exercido ou por uma assembleia nacional constituinte (convenção) ou outorgada por um movimento revolucionário. Vale lembrar que o abade Emmanuel Joseph Sieyès, que traçou as linhas mestras da Teoria do Poder Constituinte através da sua obra “¿Que é o terceiro Estado?” (“Quést-ce que le tiers État?”), apontava como titular do poder constituinte a nação. 2. ESPÉCIES DE PODER CONSTITUINTE 2.1. Originário (inicial, inaugural, genuíno, instituidor, ou de 1º grau) Instaura um novo Estado, organizando-o, rompendo por completo com a antiga ordem jurídica. Tanto haverá poder constituinte no surgimento de uma primeira constituição, quanto na elaboração de qualquer constituição posterior. Pode ser subdividido em histórico (o primeiro) ou revolucionário (todos os posteriores ao histórico), como pode ser material ou formal. O material é o sentimento de elaborar uma nova ordem e o formal é aquele que se exterioriza por meio de um procedimento que tem como objetivo elaborar uma constituição. O formal deve estar de acordo com as ideias do poder constituinte originário material. Ex: Decreto n. 1 de 1899. O poder constituidor caracteriza-se por ser inicial, já que a sua obra, a constituição, é a base da ordem jurídica, por ser ilimitado juridicamente e autônomo porque não está de modo algum limitado pelo direito anterior, não tendo que respeitar os limites postos pelo direito positivo antecessor, por ser incondicionado, pois não está sujeito a qualquer forma prefixada para manifestar sua vontade e por ser permanente porque não desaparece com a realização de sua obra, continua latente, manifestando-se novamente mediante uma nova assembleia nacional constituinte ou um ato revolucionário. Embora o Brasil tenha adotado a corrente positivista, onde nem mesmo o direito natural limitaria o poder constituinte originário contrapondo-se a corrente jusnaturalista, destaca-se entre a doutrina moderna a visão de Canotilho, o qual observa que o poder constituinte originário “... obedece a padrões e modelos de conduta espirituais, culturais, éticos e sociais, radicados na consciência jurídica geral da comunidade e, nesta medida, considerados como ‘vontade do povo’”. 2.2. Derivado (instituído, constituído, secundário, ou de 2º grau ou remanescente) Está inserido na própria constituição, pois decorre de uma regra jurídica de autenticidade constitucional (poder constituinte originário), portanto conhece limitações constitucionais expressas e implícitas e é passível de controle de constitucionalidade. Caracteriza-se por ser derivado, uma vez que retira sua força do poder constituinte originário, por ser subordinado, pois se encontra limitado pelas normas explícitas e implícitas do texto constitucional e por ser condicionado, porque seu exercício deve seguir regras previamente estabelecidas no texto da constituição federal. Subdivide-se em: poder constituinte derivado revisor (competência de revisão), Poder constituinte derivado OS: 0084/1/18-Gil DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 2 reformador (competência reformadora) e poder constituinte derivado decorrente. 2.2.1. Poder Constituinte Derivado Revisor Vinculado ao poder constituinte originário, foi estabelecido no art. 3º do ADCT, que reza: “A revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão unicameral”. Desta competência, que adotou um procedimento simplificado, surgiram 6 (seis) Emendas Constitucionais de Revisão, valendo destacar que a Resolução 1-RCF do Congresso Nacional fixou as mesmas limitações materiais (cláusulas pétreas) do art. 60, § 4º, da CF/88. Dito poder não poderá mais se manifestar em razão da eficácia exaurida e aplicabilidade esgotada da regra constitucional. Jurisprudência relacionada ao tema: EMENTA. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. RESOLUÇÃO N. 1 - RCF, DO CONGRESSO NACIONAL, DE 18.11.1993, QUE DISPÕE SOBRE O FUNCIONAMENTO DOS TRABALHOS DE REVISÃO CONSTITUCIONAL E ESTABELECE NORMAS COMPLEMENTARES ESPECIFICAS. AÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE AJUIZADA PELO GOVERNADOR DO ESTADO DO PARANA. ALEGAÇÕES DE OFENSA AO PARÁGRAFO 4. DO ART. 60 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, EIS QUE O CONGRESSO NACIONAL, PELO ATO IMPUGNADO, "MANIFESTA O SOLENE DESIGNIO DE MODIFICAR O TEXTO CONSTITUCIONAL", MEDIANTE "'QUORUM' DE MERA MAIORIA ABSOLUTA", "EM TURNO ÚNICO" E "VOTAÇÃO UNICAMERAL". SUSTENTA-SE, NA INICIAL, ALÉM DISSO, QUE A REVISÃO DO ART. 3. DO ADCT DA CARTA POLÍTICA DE 1988 NÃO MAIS TEM CABIMENTO, POR QUE ESTARIA INTIMAMENTE VINCULADA AOS RESULTADOS DO PLEBISCITO PREVISTO NO ART. 2. DO MESMO INSTRUMENTO CONSTITUCIONAL TRANSITORIO. "EMENDA" E "REVISÃO", NA HISTORIA CONSTITUCIONAL BRASILEIRA. EMENDA OU REVISÃO, COMO PROCESSOS DE MUDANCA NA CONSTITUIÇÃO, SÃO MANIFESTAÇÕES DO PODER CONSTITUINTE INSTITUIDO E, POR SUA NATUREZA, LIMITADO. ESTA A "REVISÃO" PREVISTA NO ART. 3. DO ADCT DE 1988 SUJEITA AOS LIMITES ESTABELECIDOS NO PARÁGRAFO 4. E SEUS INCISOS, DO ART. 60, DA CONSTITUIÇÃO. O RESULTADO DO PLEBISCITO DE 21 DE ABRIL DE 1933 NÃO TORNOU SEM OBJETO A REVISÃO A QUE SE REFERE O ART. 3. DO ADCT. APÓS 5 DEOUTUBRO DE 1993, CABIA AO CONGRESSO NACIONAL DELIBERAR NO SENTIDO DA OPORTUNIDADE OU NECESSIDADE DE PROCEDER A ALUDIDA REVISÃO CONSTITUCIONAL, A SER FEITA "UMA SÓ VEZ". AS MUDANCAS NA CONSTITUIÇÃO, DECORRENTES DA "REVISÃO" DO ART. 3. DO ADCT, ESTAO SUJEITAS AO CONTROLE JUDICIAL, DIANTE DAS "CLAUSULAS PETREAS" CONSIGNADAS NO ART. 60, PAR. 4. E SEUS INCISOS, DA LEI MAGNA DE 1988. NÃO SE FAZEM, ASSIM, CONFIGURADOS OS PRESSUPOSTOS PARA A CONCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR, SUSPENDENDO A EFICACIA DA RESOLUÇÃO N. 01, DE 1993 - RCF, DO CONGRESSO NACIONAL, ATÉ O JULGAMENTO FINAL DA AÇÃO. MEDIDA CAUTELAR INDEFERIDA. (STF - ADI-MC: 981 PR, Relator: NÉRI DA SILVEIRA, Data de Julgamento: 16/12/1993, TRIBUNAL PLENO, Data de Publicação: DJ 05-08-1994 PP- 19299 EMENT VOL-01752-01 PP-00030) 2.2.2. Poder Constituinte Derivado Reformador Consiste na possibilidade de se alterar o texto constitucional, respeitando-se a regulamentação especial prevista na própria constituição federal e será exercitado por determinados órgãos com caráter representativo. Além das limitações expressas ou explícitas, existem as limitações implícitas (a titularidade do poder constituinte e as limitações expressas) A Carta de Outubro prevê em seu art. 60, a única maneira de se modificar as normas constitucionais originárias, vejamos: Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; II - do Presidente da República; III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. § 2º A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros. § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais. 2.2.3. Poder Constituinte Derivado Decorrente Diz respeito a possibilidade que os Estados-membros têm, em virtude de sua autonomia político-administrativa, de se auto organizarem por meio de suas respectivas constituições estaduais, sempre respeitando as regras limitativas estabelecidas pela constituição federal, nos termos do art. 25, caput e do art. 11 do ADCT: Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição. Art. 11. Cada Assembleia Legislativa, com poderes constituintes, elaborará a Constituição do Estado, no prazo de um ano, contado da promulgação da Constituição Federal, obedecidos os princípios desta. No que diz respeito ao “observados os princípios desta Constituição” constante no caput do art. 25 da Constituição Federal, deve ser entendido por princípios constitucionais sensíveis (apontados ou enumerados), que se encontram positivados na constituição, mais precisamente no art. 34, OS: 0084/1/18-Gil DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 3 VII, princípios constitucionais estabelecidos (organizatórios), que segundo Bulos “são aqueles que limitam, vedam, ou proíbem a ação indiscriminada do Poder Constituinte Decorrente”, como exemplo, tem-se as regras de repartição de competência (arts. 21, 22, 23 e 24), do sistema tributário nacional (arts. 145 e ss), da organização dos poderes (arts. 44 e ss), dos direitos e garantias individuais (art. 5º) etc, e os princípios constitucionais extensíveis, que ainda segundo Bulos “são aqueles que integram a estrutura da federação brasileira, relacionando-se, por exemplo, com a forma de investidura em cargos eletivos (art. 77), o processo legislativo (arts. 59 e ss), os orçamentos (arts. 165 e ss), os preceitos lidados à Administração Pública (arts. 37 e ss) etc.”. No que se refere aos Municípios, sabe-se que há divergência doutrinária quanto a existência da competência derivada decorrente, considerando o art. 29, caput, da CF/88 (texto permanente) e § único do art. 11 do ADCT. Entretanto, a doutrina majoritária se posiciona no sentido de que o poder constituinte derivado decorrente dado aos Estados Federados não se estende aos Municípios, principalmente no que tange ao critério jurídico-formal. Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos: Art. 11. Cada Assembleia Legislativa, com poderes constituintes, elaborará a Constituição do Estado, no prazo de um ano, contado da promulgação da Constituição Federal, obedecidos os princípios desta. Parágrafo único. Promulgada a Constituição do Estado, caberá à Câmara Municipal, no prazo de seis meses, votar a Lei Orgânica respectiva, em dois turnos de discussão e votação, respeitado o disposto na Constituição Federal e na Constituição Estadual. No caso do Distrito Federal, como a derivação da competência é direta da Norma Constitucional, apesar de ser regido por Lei Orgânica (critério jurídico-formal), a Jurisprudência Pátria tem entendido pela existência da manifestação do poder constituinte derivado decorrente, nos termos do art. 32, caput: “O Distrito Federal, vedada sua divisão em Municípios, reger-se-ão por lei orgânica, votada em dois turnos com interstício mínimo de dez dias, a aprovada por dois terços da Câmara Legislativa, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição”. Jurisprudência relacionada ao tema: EMENTA. A Lei Orgânica do Distrito Federal constitui instrumento normativo primário destinado a regular, de modo subordinante – e com inegável primazia sobre o ordenamento positivo distrital – a vida jurídico- administrativa e político-institucional dessa entidade integrante da Federação brasileira. Esse ato representa, dentro do sistema de direito positivo, o momento inaugural e fundante da ordem jurídica vigente no âmbito do Distrito Federal. Em uma palavra: a Lei Orgânica equivale, em força, autoridade e eficácia jurídicas, a um verdadeiro estatuto constitucional, essencialmente equiparável às Constituições promulgadas pelos Estados-membros. (Rcl 3.436, 01.08.05). EMENTA. (...) 3. Conquanto submetido a regime constitucional diferenciado, o Distrito Federal está bem mais próximo da estruturação dos Estados-membros do que da arquitetura constitucional dos Municípios. (ADI 3.756/DF, Rel. Min. Carlos Britto, DJ 19.10.2007). 2.3. Poder Constituinte Difuso Uadi Lammêgo Bulos cita o poder constituinte difuso, chamado assim porque não vem formalizado nas constituições, embora esteja presente nos ordenamentos jurídicos. É caracterizado como um poder de fato e se concretiza por meio das mutações constitucionais, uma vez que se manifesta de maneira informal e espontânea, em decorrência de fatores sociais, políticos e econômicos, sempre observando os princípios estruturantes da Constituição. 2.4. Poder Constituinte Supranacional Segundo Kildare Gonçalves Carvalho, o poder constituinte supranacional tem sua fonte de validade na cidadania universal, no pluralismo de ordenamentos jurídicos, na vontade de integração e em um conceito remodelado de soberania. Cria uma ordem jurídica de cunho constitucional, haja vista que passa a aderir ao direito comunitário dos Estados Nacionais. 2.5. Poder Constituinte Originário e a teoria da Retroatividade Mínima. Quando nasce uma nova ordem aplica-se a Teoria da Retroatividade Mínima,salvo se a própria norma dispuser em sentido contrário (Retroatividade Média ou Máxima). A Jurisprudência do Suprem Tribunal Federal conceituou os institutos quando do julgamento do Recurso Extraordinário 242.740. Jurisprudência relacionada ao tema: EMENTA (...). Já se firmou a jurisprudência desta Corte no sentido de que os dispositivos constitucionais têm vigência imediata, alcançando os efeitos futuros de fatos passados (retroatividade mínima). Salvo disposição expressa em contrário - e a Constituição pode fazê-lo -, eles não alcançam os fatos consumados no passado nem as prestações anteriormente vencidas e não pagas (retroatividades máxima e média). (...). (RE 242.740/GO, Rel. Min. Moreira Alves, 1ª. Turma, DJ 18.05.2001). Capítulo 2 Princípios Fundamentais OS: 0084/1/18-Gil DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 4 O termo princípio traduz-se na ideia de início, origem, começo, e ainda, numa outra acepção, em mandamento, norma nuclear de um sistema. Nesse contexto, os princípios fundamentais nada mais são que as diretrizes básicas que produzem decisões políticas imprescindíveis à estruturação do Estado. São alicerce, a base, as linhas mestras sociais e políticas que norteiam e inspiram os conteúdos positivados pelo legislador constituinte originário. No art. 1º estão estabelecidos os fundamentos da República Federativa do Brasil, como se vê a seguir: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Nesse dispositivo tem-se a definição da República Federativa do Brasil sob o aspecto territorial, ou físico, a República é composta dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Há de se observar que República Federativa do Brasil é o nome do Estado Brasileiro, que adota o federalismo, por isso a designação Estado Federal. Este, por sua vez, compõe- se de coletividades regionais autônomas denominadas Estados-membros ou federados. Para Celso Bastos, soberania é atributo que se confere ao poder do Estado em virtude de ser juridicamente ilimitado (todo o poder). Já autonomia é margem de discrição de que uma pessoa goza para decidir sobre seus negócios (parcela do poder). A Constituição adotou como Forma de Estado o Federalismo, que no conceito de Dalmo Dallari é uma “aliança ou união de Estados”, baseada em uma constituição e onde “os Estados que ingressam na federação perdem sua soberania no momento mesmo do ingresso, preservando, contudo, uma autonomia político- administrativa”. Assim, não se admite secessão, separação ou segregação. Lembre-se, o legislador constituinte determinou a impossibilidade de qualquer deliberação sobre proposta de emenda constitucional tendente a abolir a Federação (art. 60, § 4º, I da CF). A República foi a Forma de Governo assumida pelo país, tendo como características: a eletividade, temporariedade e responsabilidade do governante perante os governados. O Princípio da indissolubilidade do vínculo federativo, em nosso Estado Federal, foi consagrado em nossas constituições republicanas desde 1891 e tem duas finalidades básicas: a unidade nacional e a necessidade descentralizadora. Inadmissível, portanto, qualquer pretensão de separação de um Estado-membro, do Distrito Federal ou de qualquer Município da Federação, inexistindo em nosso ordenamento jurídico o denominado direito de secessão, pois a mera tentativa de secessão permitira a decretação de intervenção federal (art. 34, I da CF). O Estado Democrático de Direito é mais amplo que Estado de Direito. A expressão “Estado de Direito” na sua origem significa governo a partir de leis, porém quaisquer leis. Com a introdução da característica de ser democrático na Constituição Federal de 1988, impõe-se a todas as normas a observância a tal princípio; não sendo suficientes apenas as leis, mas principalmente que nestas esteja inserido o conteúdo democrático, uma vez que o regime político adotado é a democracia. A soberania significa poder ilimitado na ordem interna e independente na ordem internacional. A cidadania está relacionado com a titularidade de direitos políticos, implicando, assim, na parcela detentora de capacidade eleitoral ativa. A dignidade da pessoa humana compreende o direito de nascer com vida e permanecer vivo com uma vida digna. Deve ser interpretado com o máximo de amplitude possível na hora de conceituá-lo, aplicando o princípio da máxima efetividade ou eficiência. Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa são características do sistema capitalista: valorização do trabalho, único responsável pela subsistência e desenvolvimento dos indivíduos e do país e a prevalência da livre iniciativa, a qual afasta os ideais socialistas de planificação da economia. O pluralismo político não significa apenas pluripartidarismo, sendo este uma espécie do gênero daquele. Caracteriza-se pela aceitação de diversidade de opiniões, participação plural na sociedade do mais diversos modos, abrangendo associações, sindicatos, partidos políticos, igrejas, universidades, escolas etc. O Regime Político adotado no Brasil é o democrático, ou seja, governo do povo, para o povo, pelo povo. O poder advém do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente (democracia semidireta ou participativa). Dispositivo correspondente: art. 170, CF. Jurisprudência relacionada ao tema: EMENTA. (...) Ninguém é obrigado a cumprir ordem ilegal, ou a ela se submeter, ainda que emanada de autoridade judicial. Mais: é dever de cidadania opor-se à ordem ilegal; caso contrário, nega-se o Estado de Direito. (STF HC 73.454/RJ). OS: 0084/1/18-Gil DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 5 EMENTA. (...) O princípio da livre iniciativa não pode ser invocado para afastar regras de regulamentação do mercado e de defesa do consumidor. (STF RE 349.686, 14.06.2005). Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Defende a doutrina que a divisão é de Funções, e não de Poderes, considerando que o Poder é uno, além de ser indivisível e indelegável. A Tripartição de Poderes foi esboçada por Aristóteles e firmada por Montesquieu e Locke. Os poderes participam, por vezes, das atribuições uns dos outros, a fim de que se garanta a harmonia entre eles, a inocorrência de abusos e a consequente realização do bem da coletividade, através do sistema de freios e contrapesos – checks and balances. Assim as funções administrativa, legislativa e judiciária não são exercidas com exclusividade, mas apenas preponderantemente por cada “Poder”. Daí a denominação em funções típicas e atípicas (secundárias ou subsidiárias). Os Poderes são harmônicos e independentes, ou seja, entre os órgãos há cortesia no trato recíproco e na atuação do exercício de suas atribuições não há ingerência dos demais, com liberdade para organizar serviços e tomar decisões, apesar da doutrina indicar na própria constituição exceções a separação dos poderes, como por exemplo, o art. 50, § 1º. Como exemplo, tem-se a competência de legislar do Poder Legislativo. O Congressoaprova os projetos de leis, que podem ser sancionados ou vetados pelo Presidente da República e no caso de haver sanção, poderá o Poder Judiciário declarar a inconstitucionalidade. Ressalte-se que a Separação dos Poderes é cláusula pétrea (art. 60, § 4º, III). Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Não se trata de um rol taxativo, mas exemplificativo. Dispositivo correspondente: art. 170, CF. Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I - independência nacional; II - prevalência dos direitos humanos; III - autodeterminação dos povos; IV - não intervenção V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz; VII - solução pacífica dos conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X - concessão de asilo político. Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações. Os dez princípios de relações internacionais que devem ser hermeneuticamente analisados e concretizados com o intuito de lograr o objetivo constante no parágrafo único e consistem em verdadeiros desafios das relações internacionais rumo a efetiva implantação de uma comunidade latino-americana de nações. O princípio da independência nacional retrata, segundo Cretela Júnior, a afirmativa da soberania como fundamento da República, previsto no art. 1º da Lei Maior. O princípio da autodeterminação dos povos também está marcado pela Soberania, pois diz respeito aos limites a todo e qualquer poder colonizante. Ainda no campo da soberania, o princípio da não intervenção consiste na proibição de um Estado interferir sobre outro em assuntos de natureza interna. Acerca do princípio da prevalência dos direitos humanos, tem-se a lição de Pedro Dallari: "a prevalência dos direitos humanos, enquanto princípio norteador das relações exteriores do Brasil e fundamento colimado pelo País para a regência da ordem internacional não implica tão-somente o engajamento no processo de edificação de sistemas de normas vinculados ao Direito Internacional Público. Impõe- se buscar a plena integração das regras de tais sistemas à ordem jurídica interna de cada Estado". O princípio da igualdade prevê que todos os Estados são iguais perante a lei brasileira. O princípio da solução pacífica dos conflitos determina como o Brasil se posiciona em relação aos conflitos. O desinteresse em envolver-se em um conflito e a falta de incentivo a prática da guerra estão relacionados ao princípio da defesa da paz, um objetivo supranacional. O princípio do repúdio ao racismo e ao terrorismo é um compromisso ético-jurídico assumido pelo Estado Brasileiro, quer perante a sua própria Constituição, quer em face da comunidade internacional. Há adesão do Brasil a tratados e acordos multilaterais que repudiam quaisquer discriminações raciais, de cor, credo, descendência ou origem inspiradas na pretensa superioridade de um povo sobre outro. OS: 0084/1/18-Gil DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 6 Sobre o princípio da cooperação para o progresso da humanidade, o legislador pretende alcançar uma cooperação entre países para um desenvolvimento unilaterial ou bilateral ou multilateral. Nesse sentido, o Brasil já possui relações internacionais de cooperação, tais como: a Declaração de Princípios sobre a Cooperação entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo do Canadá para a Manutenção da Paz e da Segurança Internacionais, realizado em Brasília, em 15 de janeiro de 1998, e o Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta entre a República Portuguesa e a República Federativa do Brasil, aprovado pela Resolução da Assembléia da República 83/2000, de 14 de dezembro de 2000. Partindo do conceito, segundo o mestre Rezec, asilo político “... é o acolhimento, pelo Estado, de estrangeiro perseguido alhures – geralmente, mas não necessariamente, em seu próprio país patrial –, por causa de dissidência política, de delitos de opinião, ou por crimes que, relacionados com a segurança do Estado, não configuram quebra do direito penal comum”, verifica-se que não há incompatibilidade entre o instituto do asilo político e o da extradição passiva, na exata medida em que o Supremo Tribunal Federal não está vinculado ao juízo formulado pelo Poder Executivo na concessão administrativa daquele benefício. A condição jurídica de asilado político não suprime, só por si, a possibilidade de o Estado brasileiro conceder, presentes e satisfeitas às condições constitucionais e legais que a autorizam, a extradição que lhe haja sido requerida. O estrangeiro asilado no Brasil só não será passível de extradição quando o fato ensejador do pedido assumir a qualificação de crime político ou de opinião. É importante, ainda, comentar sobre a relativização da soberania em prol dos direitos humanos. A teoria da soberania absoluta e plena foi sendo transformada até se alcançar o que se denomina de princípio da soberania. Os princípios da não-intervenção e da igualdade formal dos Estados não exercem papel imperativo no contexto internacional, tendo em vista as justificativas dadas pelas grandes forças mundiais, tais como o terrorismo, os Direitos Humanos e até mesmo a busca pela justiça e pela paz, na tomada de medidas que interferem fora do âmbito daquilo que poderíamos chamar de soberania interna dos Estados. No Brasil, um novo conceito de soberania surgiu frente os avanços trazidos pela Constituição Federal de 1988 e as jurisprudências do Supremo Tribunal Federal, em que prevalece a dignidade humana nas relações internacionais. Exemplo disso é a submissão do Brasil ao Tribunal Penal Internacional (art. 5º, § 4º, da CF/88). Capítulo 3 Direitos e Garantias Fundamentais 1. BREVE EVOLUÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS A história dos direitos fundamentais está diretamente ligada ao aparecimento do constitucionalismo no final do século XVIII, que, entretanto, herdou da idade média as ideias de contenção do poder do Estado em favor do cidadão, tendo como ponto ápice a célebre Magna Carta, escrita na Inglaterra, em 1215, pela qual o Rei João Sem Terra reconhecia alguns direitos dos nobres, limitando o poder do monarca. Com a Revolução Francesa, em 1789, se acentuaram os movimentos e documentos escritos que buscavam garantir aos cidadãos os seus direitos elementares em face da atuação do poder público. Destaque-se a denominada Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, produto daquela revolução ocorrida em território francês. Pouco antes disso, porém, outro documento entrava para a história, como resultado da revolução Americana, a Declaração de Virgínia, elaborada em 1776, estabelecendo os direitos fundamentais do povo norte-americano, tais como a liberdade, a igualdade, eleição de representantes, dentre outros. Em 1948, logo após a 2a Guerra Mundial, a Organização das Nações Unidas fazia editar a Declaração Universal dos Direitos do Homem, estendendo para praticamente todo o mundo o respeito e a proteção aos direitos fundamentais do ser humano. Paulo Bonavides, comentando sobre a importância das declarações dos direitos do homem, enaltecendo aquela nascida na França, em mais umalição magistral, ensina que: “Constatou-se então com irrecusável veracidade que as declarações antecedentes de ingleses e americanos podiam talvez ganhar em concretude, mas perdiam em espaço de abrangência, porquanto se dirigiam a uma camada social privilegiada (os barões feudais), quando muito a um povo ou a uma sociedade que se libertava politicamente, conforme era o caso das antigas colônias americanas, ao passo que a Declaração francesa de 1789 tinha por destinatário o gênero humano. Por isso mesmo, e pelas condições da época, foi a mais abstrata de todas as formulações solenes já feitas acerca da liberdade”. 2. DISTINÇÃO ENTRE DIREITO E GARANTIA Muitos doutrinadores diferem “Direitos” de “Garantias” Fundamentais. Essa distinção, no direito brasileiro, foi feita por Rui Barbosa, ao separar as disposições declaratórias, e as garantias, disposições assecuratórias. Em outras palavras, o direito é o “bem” protegido pela norma e a garantia é o mecanismo criado pela norma para defender o direito. Em contrapartida, Sampaio Dória, defende a tese de que as Garantias também são Direitos. Os direitos e garantias fundamentais, consagrados na constituição federal, não são ilimitados, absolutos, uma vez que encontram seus limites nos demais direitos igualmente consagrados pela Carta Magna (Princípio da relatividade ou convivência das liberdades públicas). Na lição de Canotilho, os direitos fundamentais exercem a função de defesa do cidadão sob dupla perspectiva: a) no OS: 0084/1/18-Gil DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 7 plano jurídico-político, funcionam como normas de competência negativa para os Poderes Públicos, proibindo- os de atentarem contra a esfera individual da pessoa; b) no plano jurídico-subjetivo, implicam o poder de exercer positivamente os direitos fundamentais (liberdade positiva), e de exigir omissões dos poderes públicos. 3. CLASSIFICAÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS A doutrina, baseada na ordem histórica cronológica em que passam a ser institucionalmente reconhecidos, classifica os direitos fundamentais em dimensões (gerações). Em primeira análise, Paulo Bonavides, os classificou em: Direitos de primeira dimensão: são os direitos civis e políticos, e compreendem as liberdades clássicas (liberdade, propriedade, vida, segurança). São direitos do indivíduo perante o Estado, são limites impostos à atuação do Estado, resguardando direitos considerados indispensáveis a cada pessoa humana. Significa uma prestação negativa, um não fazer do Estado, em prol do cidadão. Direitos de segunda dimensão: correspondem aos direitos sociais, que são direitos de conteúdo econômico e cultural que visam melhorar as condições de vida e de trabalho da população. Significa uma prestação positiva, um fazer do Estado em prol dos menos favorecidos pela ordem social e econômica. Esses direitos nasceram em razão de lutas de uma nova classe social, os trabalhadores. Direitos de terceira dimensão: corresponde aos direitos difusos e coletivos, são os direitos de solidariedade e fraternidade, considerados transindividuais, os direitos de pessoas coletivamente consideradas. São direitos coletivos, como a proteção ao meio ambiente, à qualidade de vida saudável, ao progresso, à paz, à autodeterminação dos povos e a defesa do consumidor, da infância e da juventude. Note-se que há um comparativo desses direitos ao lema da Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade. Em outra oportunidade, o mencionado autor cita ainda os direitos de quarta dimensão: “são direitos da quarta geração o direito à democracia, o direito à informação e o direito ao pluralismo. Deles depende a concretização da sociedade aberta ao futuro, em sua dimensão de máxima universalidade, para a qual parece o mundo inclinar-se no plano de todas as relações de convivência”. Embora alguns doutrinadores afirmem que o direito à paz esteja inserido entre os direitos de terceira dimensão, Paulo Bonavides o desloca para a quinta dimensão, em virtude de suas características próprias e independentes, pois estaria em um “patamar superior”, merecendo visibilidade superior aos demais direitos fundamentais. E para tanto, afirma expressamente que “A dignidade jurídica da paz deriva do reconhecimento universal que se lhe deve enquanto pressuposto qualitativo da convivência humana, elemento de conservação da espécie, reino de segurança dos direitos”. Jurisprudência relacionada ao tema: EMENTA. (...). Enquanto os direitos de primeira geração (direitos civis e políticos) – que compreendem as liberdades clássicas, negativas ou formais – realçam o princípio da liberdade e os direitos de segunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais) – que se identifica com as liberdades positivas, reais ou concretas – acentuam o princípio da igualdade, os direitos de terceira geração, que materializam poderes de titularidade coletiva atribuídos genericamente a todas as formações sociais, consagram o princípio da solidariedade e constituem um momento importante no processo de desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados, enquanto valores fundamentais indisponíveis, nota de uma essencial inexauribilidade. (...) (STF MS 22.164, 17/11/95). 4. EFICÁCIA VERTICAL E HORIZONTAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS (EFICÁCIA PRIVADA OU EXTERNA) Quando se fala da relação entre particulares, vê-se que existe eficácia horizontal dos direitos fundamentais, mas quando se está diante da relação entre particular e Estado, passa a existir eficácia vertical dos direitos fundamentais. Jurisprudência relacionada ao tema: EMENTA. (...) Eficácia dos direitos fundamentais nas relações privadas. As violações a direitos fundamentais não ocorrem somente no âmbito das relações entre o cidadão e o Estado, mas igualmente nas relações travadas entre pessoas físicas e jurídicas de direito privado. Assim, os direitos fundamentais assegurados pela Constituição vinculam diretamente não apenas os poderes públicos, estando direcionados também à proteção dos particulares em face dos poderes privados. Os princípios constitucionais como limites à autonomia privada das associações. (...). (STF RE 201.819, 27/10/06). 5. EFICÁCIA “IRRADIANTE” DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS Dimensão subjetiva é a visão clássica dos Direitos Fundamentais. Consiste em enxergá-los como um direito da pessoa em face do Estado, o qual deve exercer um papel negativo (abstenção de intervir para que não viole os direitos previstos, notadamente os direitos e garantias individuais) ou positivo (prestações que o Estado faz para as pessoas de forma a garantir condições mais dignas de sobrevivência, notadamente os direitos sociais). A dimensão objetiva dos direitos fundamentais tem como consequência a eficácia irradiante dos direitos para o legislativo na função de legislar, para o executivo na função de administrar e para o Judiciário na função jurisdicional. É a nova visão, onde os Direitos Fundamentais devem ser enxergados não só sob a ótica dos “direitos das pessoas frente ao Estado”, mas como enunciados que contém alta carga valorativa. Valores, princípios, regras que norteiam a aplicação do ordenamento jurídico e assumem um papel central no constitucionalismo. Nesse aspecto, a visão objetiva cumpre com o papel de: estruturar, regulamentar, concretizar, estruturar, impor o cumprimento das normas o mais rápido possível (visto que os direitos fundamentais têm aplicação imediata); em suma, devem ser observados pelas OS: 0084/1/18-Gil DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro– Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 8 normas jurídicas futuras. Importante lembrar que esses direitos podem ser condicionados uns em relação aos outros (caso, de sigilo de dados, por exemplo), preservando-se os núcleos essenciais de cada um. 6. CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS As características dos direitos fundamentais é um tema doutrinário, assim dá ensejo a muitas discussões jurídicas. Há um rol enumerativo das características, mas nunca deixando de existir divergências entre as teses dogmáticas apresentadas. Com fundamento nas doutrinas constitucionalistas e nos reconhecimentos jurisprudenciais, as características mais importantes no que tange aos direitos e garantias fundamentais são: universalidade, indivisibilidade, interdependência, interrelacionaridade, imprescritibilidade, complementaridade, individualidade, inviolabilidade, indisponibilidade, inalienabilidade, historicidade, irrenunciabilidade, vedação ao retrocesso, efetividade e limitabilidade. 1. Universalidade: os direitos e garantias fundamentais vinculam-se ao princípio da liberdade, conduzido pela dignidade da pessoa humana, os mesmos devem ser destinados a todos os indivíduos, independente da raça, credo, nacionalidade, convicção política, a coletividade jurídica em geral. 2. Indivisibilidade: os direitos compõem um único conjunto, uma totalidade, pois não são analisados de maneira isolada, separada. O desrespeito a um deles constitui a violação de todos. 3. Interdependência: os direitos fundamentais são intrinsecamente relacionados, pois para atingirem suas principais finalidades possuem intersecções. 4. Interrelacionaridade: a evolução da proteção nacional e internacional dos direitos fundamentais assegurou maior abrangência a inviolabilidade dos direitos e garantias fundamentais no âmbito regional e mundial. Dita característica concede a pessoa a opção da proteção da inviolabilidade do seu direito fundamental, a global ou regional. 5. Imprescritibilidade: os direitos fundamentais não se perdem com o tempo, não prescrevem, apesar de existir exceções a essa regra. 6. Inalienabilidade: os direitos são intransferíveis, inegociáveis e indisponíveis, sem cunho patrimonial. Tal inalienabilidade resulta da dignidade da pessoa humana. 7. Historicidade: os direitos fundamentais nasceram de uma única evolução e desenvolvimento histórico e cultural. Como afirmava o saudoso professor Norberto Bobbio: “os direitos do homem, por mais fundamentais que sejam, são direitos históricos, ou seja, nascidos em certas circunstâncias, caracterizadas por lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes, e nascidos de modo gradual, não todos de uma vez e nem de uma vez por todas. (...) o que parece fundamental numa época histórica e numa determinada civilização não é fundamental em outras épocas e em outras cultuas”. 8. Irrenunciabilidade: parte da premissa de que os direitos fundamentais não podem ser renunciados pelo seu titular, que não pode fazer com eles o que quiser, uma vez que os mesmos possuem uma eficácia objetiva no sentido de que não importa apenas ao sujeito ativo, mas interessam a toda coletividade. Entretanto, a suprema Corte Constitucional (STF) vem admitindo a renúncia, ainda que excepcional, de certos direitos. 9. Vedação ao retrocesso: os direitos fundamentais uma vez estabelecidos não se admite o retrocesso visando a sua limitação ou diminuição, existindo parte da doutrina afirmando que tais direitos constituem uma limitação metajurídica ao poder constituinte originário, atuando como critério de aferição da legitimidade do conteúdo constitucional. A referida característica impede a revogação de normas garantidoras de direitos fundamentais e impede a implementação de políticas públicas de enfraquecimento de direitos fundamentais. A exegese constitucional assegurada a proteção do núcleo essencial e intangível dos direitos fundamentais, tendo origem no próprio Estado Democrático de Direito que se define pela proteção extremada da dignidade do Homem e plena eficácia das normas implementadas, sendo que os direitos sociais já realizados e efetivados pela legislação devem ser tidos como constitucionalmente garantido, tendo como consequência a invalidade das medidas que visam anular ou cancelar o núcleo dos direitos fundamentais, devendo as mesmas ser consideradas inconstitucionais. 10. Efetividade: o Estado deve exercer o papel de garantir a máxima efetividade dos direitos fundamentais. 11. Limitabilidade ou relatividade: reza que nenhum direito fundamental poderá ser considerado absoluto, mas devem ser interpretados e aplicados levando-se em consideração os limites fáticos e jurídicos existentes, especialmente quando estão diante de outros direitos fundamentais. Conforme ressalta Paulo Gustavo Gonet Branco: “(...) os direitos fundamentais podem ser objeto de limitações, não sendo, pois, absolutos. (...) Até o elementar direito à vida tem limitação explícita no inciso XLVII, a, do art. 5º, em que se contempla a pena de morte em caso de guerra formalmente declarada”. Ademais, as limitações aos direitos fundamentais não são ilimitadas, só podendo ser limitado o estritamente necessário, uma vez que com os preceitos constitucionais devem respeitar os princípios da razoabilidade e proporcionalidade. Segundo Konrad Hesse: “A limitação de direitos fundamentais deve, por conseguinte, ser adequada para produzir a proteção do bem jurídico, por cujo motivo ela é efetuada. Ela deve ser necessária para isso, o que não é o caso, quando um meio mais ameno bastaria. Ela deve, finalmente, ser proporcional em sentido restrito, isto é, guardar relação adequada com o peso e o significado do direito fundamental.” OS: 0084/1/18-Gil DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 9 12. Inviolabilidade: impõe a observância dos direitos fundamentais por normas infraconstitucionais ou por atos das autoridades públicas. 13. Complementaridade: os direitos fundamentais constitu- cionais se complementam e não há hierarquia entre eles. 14. Concorrência: podem ser exercidos cumuladamente por um mesmo sujeito ativo. 15. Aplicação imediata (eficácia direta, imediata e vinculante): com base no art. 5º, § 1º da Constituição Federal que diz: “As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata”, assevera que cabe aos poderes públicos (Judiciário, Legislativo e Executivo) promover o avanço desses direitos. Para o professor José Afonso da Silva, afirmar que as normas tem “aplicação imediata” significa que as normas são aplicáveis até onde possam, até onde as instituições ofereçam condições para seu atendimento. “Aplicabilidade”, por outro lado, é um conceito desenvolvido pelo referido professor que se refere ao fato de as normas já poderem ser aplicadas às situações quando da promulgação da Constituição. Assim, todas as normas são aplicáveis, mas nem todas têm aplicação imediata. Jurisprudência relacionada ao tema: EMENTA. OS DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS NÃO TÊM CARÁTER ABSOLUTO. Não há, no sistema constitucional brasileiro, direitos ou garantias que se revistam de caráter absoluto, mesmo porque razões de relevante interesse público ou exigências derivadas do princípio de convivência das liberdades legitimam, ainda que excepcionalmente, a adoção, por parte dos órgãos estatais, de medidas restritivas das prerrogativas individuais ou coletivas, desde que respeitados os termos estabelecidos pela própria Constituição. O estatuto constitucional das liberdades públicas, ao delinear o regime jurídico a que estas estão sujeitas - e considerado o substrato ético que as informa - permite que sobre elas incidam limitações de ordem jurídica, destinadas, de umlado, a proteger a integridade do interesse social e, de outro, a assegurar a coexistência harmoniosa das liberdades, pois nenhum direito ou garantia pode ser exercido em detrimento da ordem pública ou com desrespeito aos direitos e garantias de terceiros. (STF RMS 23.452/RJ, Relator Ministro Celso de Mello, DJ de 12.05.2000). EMENTA. A PROIBIÇÃO DO RETROCESSO SOCIAL COMO BSTÁCULO CONSTITUCIONAL À FRUSTRAÇÃO E AO INADIMPLEMENTO, PELO PODER PÚBLICO, DE DIREITOS PRESTACIONAIS. - O princípio da proibição do retrocesso impede, em tema de direitos fundamentais de caráter social, que sejam desconstituídas as conquistas já alcançadas pelo cidadão ou pela formação social em que ele vive. - A cláusula que veda o retrocesso em matéria de direitos a prestações positivas do Estado (como o direito à educação, o direito à saúde ou o direito à segurança pública, v.g.) traduz, no processo de efetivação desses direitos fundamentais individuais ou coletivos, obstáculo a que os níveis de concretização de tais prerrogativas, uma vez atingidos, venham a ser ulteriormente reduzidos ou suprimidos pelo Estado. Doutrina. Em consequência desse princípio, o Estado, após haver reconhecido os direitos prestacionais, assume o dever não só de torná-los efetivos, mas, também, se obriga, sob pena de transgressão ao texto constitucional, a preservá-los, abstendo-se de frustrar - mediante supressão total ou parcial - os direitos sociais já concretizados. (...) (STF ARE 639337 AgR, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 23/08/2011, DJe-177 DIVULG 14-09-2011 PUBLIC 15-09-2011 EMENT VOL-02587-01 PP-00125). 3.1. DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS DIREITOS. DESTINATÁRIOS. PRINCÍPIO DA ISONOMIA. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: Os destinatários dos direitos e deveres ora mencionados são os brasileiros e estrangeiros residentes no país, devendo a expressão “residentes no país” ser interpretada no sentido de que tais direitos só serão assegurados dentro do território brasileiro, não excluindo o estrangeiro em trânsito pelo território nacional, segundo entendimento defendido pela doutrina e pela jurisprudência pátria. Tais direitos são extensíveis às pessoas jurídicas, no que couber, bem como ao próprio Estado. O princípio da Igualdade ou princípio da isonomia está previsto no caput desse artigo, prescrevendo que toda pessoa tem o direito de tratamento idêntico pela lei, em concordância com os critérios albergados pelo ordenamento jurídico. Entretanto, deve-se buscar não somente a igualdade formal, direcionada ao legislador, mas a igualdade real ou material ou substancial, direcionada ao operador do direito, ao intérprete. Parte-se da premissa de que a verdadeira igualdade está em tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais. O referido princípio não veda o tratamento diferenciado estabelecido pela lei, proíbe as diferenças arbitrárias, as discriminações absurdas, já que o tratamento desigual aos desiguais é uma questão de justiça, sendo justificável pelo objetivo que se pretende atingir pela lei, conforme a Súmula 683 do STF que reza: “O limite de idade para a inscrição em concurso só se legitima em face do art. 7º, XXX, da Constituição, quando possa ser justificado pela natureza do cargo a ser preenchido”. Entretanto somente serão possíveis tais distinções se estiverem previstas em lei. Vale destacar as discriminações positivas (affirmative actions), proveniente do direito norte americano, que cuida em estabelecer medidas de compensação para reduzir as desigualdades sociais. É neste escólio que traz a lição do Ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim B. Barbosa Gomes, que ensina: As ações afirmativas 'consistem em OS: 0084/1/18-Gil DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 10 políticas públicas (e também privadas) voltadas à concretização do princípio constitucional da igualdade material e à neutralização dos efeitos da discriminação racial, de gênero, de idade, de origem nacional e de compleição física. Impostas ou sugeridas pelo Estado, por seus entes vinculados e até mesmo por entidades puramente privadas, elas visam a combater não somente as manifestações flagrantes de discriminação de fundo cultural, estrutural, enraizada na sociedade'. A discriminação reversa deve-se revestir de uma índole compensatória e não meramente garantir uma repartição de bens, sem levar em conta o uso da liberdade das pessoas e o esforço e mérito de cada um. Avaliadas sob o teste do princípio da proporcionalidade, as medidas de discriminação reversa devem ser adequadas para superar os obstáculos que o preconceito gerou para o grupo. Para isso devem-se dirigir a propiciar condições de acesso a bens e serviços que a discriminação vedou. Devem ter em mira o restabelecimento de uma igualdade de oportunidades tão efetiva quanto possível. Jurisprudência relacionada ao tema: EMENTA. (...) O súdito estrangeiro, mesmo o não domiciliado no Brasil, tem plena legitimidade para impetrar o remédio constitucional do “habeas corpus”, em ordem a tornar efetivo, nas hipóteses de persecução penal, o direito subjetivo, de que também é titular, à observância e ao integral respeito, por parte do Estado, das prerrogativas que compõem e dão significado à cláusula do devido processo legal. - A condição jurídica de não-nacional do Brasil e a circunstância de o réu estrangeiro não possuir domicílio em nosso país não legitimam a adoção, contra tal acusado, de qualquer tratamento arbitrário ou discriminatório. (...). (STF HC 94.404/SP. Min. Rel. Celso de Mello. DJ 18.06.2010). EMENTA. (...) Inexistência de ofensas ao direito à vida e da dignidade da pessoa humana, pois a pesquisa com células- tronco embrionárias (inviáveis biologicamente ou para os fins a que se destinam) significa a celebração solidária da vida e alento aos que se acham à margem do exercício concreto e inalienável dos direitos à felicidade e do viver com dignidade (Ministro Celso de Mello). (...) A potencialidade de algo para se tornar pessoa humana já é meritória o bastante para acobertá-la, infra constitucionalmente, contra tentativas levianas ou frívolas de obstar sua natural continuidade fisiológica. Mas as três realidades não se confundem: o embrião é o embrião, o feto é o feto e a pessoa humana é a pessoa humana. Donde não existir pessoa humana embrionária, mas embrião de pessoa humana. O embrião referido na Lei de Biossegurança (“in vitro” apenas) não é uma vida a caminho de outra vida virginalmente nova, porquanto lhe faltam possibilidades de ganhar as primeiras terminações nervosas, sem as quais o ser humano não tem factibilidade como projeto de vida autônoma e irrepetível. (...) Ação direta de inconstitucionalidade julgada totalmente improcedente. (STF ADI 3510/DF, Rel. Min. AYRES BRITTO. 29/05/2008). EMENTA. (...). Na espécie, aduziu inescapável o confronto entre, de um lado, os interesses legítimos da mulher em ver respeitada sua dignidade e, de outro, os de parte da sociedade que desejasse proteger todos os que a integrariam, independentemente da condição física ou viabilidade de sobrevivência. (...) Afirmou que, conforme a Resolução 1.480/1997 do Conselho Federal de Medicina (CFM), os exames complementares a serem observados para a constatação de morte encefálica deveriam demonstrar, de modo inequívoco, a ausência de atividade elétrica cerebral ou metabólica deste órgão ou, ainda, inexistência de perfusão sanguínea nele. Elucidou que, por essa razão, o CFM, mediante a Resolução1.752/2004, consignara serem os anencéfalos natimortos cerebrais. Desse modo, eles jamais se tornariam pessoa. Nessa senda, sintetizou que não se cuidaria de vida em potencial, porém, seguramente, de morte. (...). Exprimiu, pois, que a anencefalia mostrar-se-ia incompatível com a vida extrauterina, ao passo que a deficiência, não. (...) Observou que seria improcedente a alegação de direito à vida dos anencéfalos, haja vista que estes seriam termos antitéticos. (...). Destarte, a interrupção de gestação de feto anencefálico não configuraria crime contra a vida, porquanto se revelaria conduta atípica. (...). Por derradeiro, versou que atuar com sapiência e justiça, calcados na Constituição e desprovidos de qualquer dogma ou paradigma moral e religioso, determinaria garantir o direito da mulher de manifestar-se livremente, sem o temor de tornar-se ré em possível ação por crime de aborto. (STF ADPF 54, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 12-4- 2012, Plenário). EMENTA. (...). Sabemos, tal como já decidiu o STF (RTJ 136/444, Rel. p/ o ac. Min. Celso de Mello), que o princípio da isonomia – cuja observância vincula todas as manifestações do Poder Público – deve ser considerado, em sua precípua função de obstar discriminações e de extinguir privilégios (RDA 55/114), sob duplo aspecto: a) o da igualdade na lei e b) o da igualdade perante a lei. A igualdade na lei – que opera numa fase de generalidade puramente abstrata – constitui exigência destinada ao legislador, que, no processo de formação do ato legislativo, nele não poderá incluir fatores de discriminação responsáveis pela ruptura da ordem isonômica. (...) A igualdade perante a lei, de outro lado, pressupondo lei já elaborada, traduz imposição destinada aos demais poderes estatais, que, na aplicação da norma legal, não poderão subordiná-la a critérios que ensejem tratamento seletivo ou discriminatório. A eventual inobservância desse postulado pelo legislador, em qualquer das dimensões referidas, imporá, ao ato estatal por ele elaborado e produzido, a eiva de inconstitucionalidade. (STF AI 360.461 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, 2ª T, DJ de 28-3-2008). EMENTA. (...). No mérito, asseverou-se que a norma adversada erigira a educação à condição de direito social, dever do Estado e uma de suas políticas públicas prioritárias. (...) Rechaçaram-se, de igual modo, as alegações de afronta aos princípios da igualdade, da isonomia, da não discriminação e do devido processo legal ao argumento de que não se afiguraria legítimo, no ordenamento, que vagas no ensino superior fossem reservadas com base na condição OS: 0084/1/18-Gil DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 11 socioeconômica do aluno ou em critério racial ou de suas condições especiais. Salientou-se que a igualdade seria valor que teria, no combate aos fatores de desigualdade, o seu modo próprio de realização. Além disso, a distinção em favor dos estudantes que tivessem cursado o ensino médio em escolas públicas e os egressos de escolas privadas contemplados com bolsa integral constituiria discrímen a compensar anterior e factual inferioridade. (...). (STF ADI 3.330, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 3-5-2012, Plenário). I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; Somente poderá existir tratamento diferenciado entre os dois sexos quando a finalidade pretendida for atenuar os desníveis, constantes na constituição e nas leis infraconstitucionais. Exemplos: arts. 7º, XVIII e XIX, 40, III, 143, §§ 1º e 2º, 202, I e II, da CF. Jurisprudência relacionada ao tema: EMENTA. (...). No mérito, prevaleceu o voto proferido pelo Min. Ayres Britto, relator, que dava interpretação conforme a Constituição ao art. 1.723 do CC para dele excluir qualquer significado que impeça o reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar, entendida esta como sinônimo perfeito de família. Asseverou que esse reconhecimento deveria ser feito segundo as mesmas regras e com idênticas consequências da união estável heteroafetiva. (...). (STF ADI 4.277/DF, rel. Min. Ayres Britto, DJ 5.5.2011). (ADPF 132). EMENTA. Violência doméstica. (...) O art. 1º da Lei 11.340/2006 surge, sob o ângulo do tratamento diferenciado entre os gêneros – mulher e homem –, harmônica com a CF, no que necessária a proteção ante as peculiaridades física e moral da mulher e a cultura brasileira. (STF ADC 19, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 9-2-2012, Plenário). PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL. PRINCÍPIO DA ESTRITA LEGALIDADE. II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal; Consagração do princípio da legalidade. Tal princípio visa combater o poder arbitrário do Estado, pois somente mediante espécies normativas elaboradas segundo as regras do processo legislativo pátrio podem-se criar obrigações para os indivíduos. O princípio da legalidade se difere do princípio da reserva legal nesse ponto, pois este consiste em dizer que a regulamentação de determinada matéria há de fazer-se necessariamente pelo poder legislativo, aparecendo na constituição sob a forma: “nos termos da lei” ou “na forma da lei” e aquele é a submissão e o respeito à lei. A Constituição Federal estabelece essa reserva de lei, de modo absoluto ou relativo. Assim, temos a reserva legal absoluta quando a norma constitucional exige para sua integral regulamentação a edição de lei formal, entendida como ato normativo emanado do Congresso Nacional elaborado de acordo com o devido processo legislativo constitucional. Por outro lado, temos a reserva legal relativa quando a Constituição Federal, apesar de exigir edição de lei formal, permite que este fixe tão somente parâmetros de atuação para o órgão administrativo, que poderá complementa-la por ato infralegal, sempre, porém, respeitados os limites ou requisitos estabelecidos pela legislação. Existe ainda a reserva legal simples e a qualificada. A reserva legal simples ocorre no caso de a Constituição Federal estabelecer, em seus artigos, que determinado assunto seja objeto de lei (“na forma da lei”, “nos termos da lei”). A lei não pode limitar o conteúdo da Constituição ou suprimi-lo, ou seja, há limites implícitos na lei que será elaborada. A reserva legal qualificada ocorre no caso de, além de estabelecer qual assunto será objeto de lei, o dispositivo da Constituição estabelece as condições ou fins que devem ser objeto da norma (“para fins de”). Como exemplos pode se indicar os incisos VII e XII, ambos do presente artigo. Além do princípio da reserva legal, previsto no inciso XXXIX, tem-se o princípio da anterioridade, que diz: não há crime sem lei “anterior” que o defina e não há pena sem “prévia” cominação legal (nullun crimem, nulla poena sine praevia lege). Vale ressaltar que a Administração Pública é regida pela legalidade estrita (art. 37, caput), pois não pode atuar contra a lei, nem na ausência da lei. Jurisprudência relacionada ao tema: SÚMULA VINCULANTE 44. Só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a habilitação de candidato a cargo público. EMENTA. (...). A reserva de lei em sentido formal qualifica-se como instrumento constitucional de preservação da integridade de direitos e garantias fundamentais. O princípio da reserva de lei atua como expressiva limitação constitucional ao poder do Estado, cuja competência regulamentar, por tal razão, não se reveste de suficiente idoneidade jurídica que lhe permita restringir direitos ou criar obrigações. Nenhum ato regulamentar pode criar obrigações ou restringir direitos,sob pena de incidir em domínio constitucionalmente reservado ao âmbito de atuação material da lei em sentido formal. (STF ACO 1.048- QO, 31/10/07). LIBERDADE DE EXPRESSÃO IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; OS: 0084/1/18-Gil DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 12 IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença; XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional; Segundo o ilustre Alexandre de Morais, “a proteção constitucional abrange não só o direito de expressão oral ou por escrito, mas também o direito de ouvir, assistir e ler”. A vedação do anonimato é ampla, inclui todos os meios de comunicação. O direito de resposta aplica-se em relação às ofensas, configurem ou não infrações penais, tendo como requisito a proporcionalidade, devendo o desagravo ter o mesmo destaque, a mesma duração e o mesmo tamanho que a notícia geradora da lesão. A responsabilidade pela divulgação do direito de resposta é do órgão de comunicação. O dano pode ser material (danos sofridos e lucros cessantes), moral (à intimidade da pessoa) e à imagem (dano produzido contra a pessoa em suas relações externas). Dispositivos correspondentes: art. 220, caput e § 2º, da CF. Jurisprudência relacionada ao tema: EMENTA. (...). Programas humorísticos, charges e modo caricatural de pôr em circulação ideias, opiniões, frases e quadros espirituosos compõem as atividades de ‘imprensa’, sinônimo perfeito de ‘informação jornalística’ (§ 1º do art. 220). Nessa medida, gozam da plenitude de liberdade que é assegurada pela Constituição à imprensa. Dando-se que o exercício concreto dessa liberdade em plenitude assegura ao jornalista o direito de expender críticas a qualquer pessoa, ainda que em tom áspero, contundente, sarcástico, irônico ou irreverente, especialmente contra as autoridades e aparelhos de Estado. Respondendo, penal e civilmente, pelos abusos que cometer, e sujeitando-se ao direito de resposta a que se refere a Constituição em seu art. 5º, V. A crítica jornalística em geral, pela sua relação de inerência com o interesse público, não é aprioristicamente suscetível de censura. Isso porque é da essência das atividades de imprensa operar como formadora de opinião pública, lócus do pensamento crítico e necessário contraponto à versão oficial das coisas, conforme decisão majoritária do STF na ADPF 130. Decisão a que se pode agregar a ideia de que a locução ‘humor jornalístico’ enlaça pensamento crítico, informação e criação artística. (...). (STF ADI 4.451-MC - REF, rel. min. Ayres Britto, Plenário, DJ de 24-8-2012). EMENTA. (...). Não é proibindo, recolhendo obras ou impedindo sua circulação, calando-se a palavra e amordaçando a história que se consegue cumprir a Constituição. (...). A norma infraconstitucional não pode amesquinhar preceitos constitucionais, impondo restrições ao exercício de liberdades”. (...). O que não me parece constitucionalmente admissível é o esquartejamento das liberdades de todos pela censura de uns, especialmente no caso de obras biográficas que dizem respeito não apenas ao biografado, mas que diz respeito a toda coletividade pela sua natureza de referenciabilidade do que precisa ser aproveitado. (...). (STF ADI 4815, Min. Rel. Cármem Lúcia, DJ 10/06/2015). EMENTA. Editais de concurso público não podem estabelecer restrição a pessoas com tatuagem, salvo situações excepcionais em razão de conteúdo que viole valores constitucionais. Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, deu provimento a recurso extraordinário em que se discutia a constitucionalidade de proibição, contida em edital de concurso público, de ingresso em cargo, emprego ou função pública para candidatos que possuam tatuagem. No caso, o recorrente fora excluído de concurso público para provimento de cargo de soldado da polícia militar por possuir tatuagem em sua perna esquerda. (...) A opção pela tatuagem relacionar-se-ia, diretamente, com as liberdades de manifestação do pensamento e de expressão (CF, art. 5º, IV e IX). Na espécie, estaria evidenciada a ausência de razoabilidade da restrição dirigida ao candidato de uma função pública pelo simples fato de possuir tatuagem, já que seria medida flagrantemente discriminatória e carente de qualquer justificativa racional que a amparasse. Assim, o fato de uma pessoa possuir tatuagens, visíveis ou não, não poderia ser tratado pelo Estado como parâmetro discriminatório quando do deferimento de participação em concursos de provas e títulos para ingresso em carreira pública. Entretanto, tatuagens que representassem obscenidades, ideologias terroristas, discriminatórias, que pregassem a violência e a criminalidade, discriminação de raça, credo, sexo ou origem, temas inegavelmente contrários às instituições democráticas, poderiam obstaculizar o acesso a função pública. Eventual restrição nesse sentido não se afiguraria desarrazoada ou desproporcional. Essa hipótese, porém, não seria a do recorrente que teria uma tatuagem tribal, medindo 14 por 13 cm. (STF RE 898.450, rel. min. Luiz Fux, j. 17.08.2016). EMENTA. Ação direta de inconstitucionalidade. Expressão “em horário diverso do autorizado”, contida no art. 254 da Lei 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente). Classificação indicativa. Expressão que tipifica como infração administrativa a transmissão, via rádio ou televisão, de programação em horário diverso do autorizado, com pena de multa e suspensão da programação da emissora por até dois dias, no caso de reincidência. Ofensa aos arts. 5º, inciso IX; 21, inciso XVI; e 220, caput e parágrafos, da Constituição Federal. Inconstitucionalidade. 1. A própria Constituição da República delineou as regras de sopesamento entre os valores da liberdade de expressão dos meios de comunicação e da proteção da criança e do adolescente. Apesar da garantia constitucional da liberdade de expressão, livre de censura ou licença, a própria Carta de 1988 conferiu à União, com exclusividade, no art. 21, inciso XVI, o desempenho da atividade material de “exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões públicas e de programas de rádio e televisão”. A Constituição Federal estabeleceu mecanismo apto a oferecer aos telespectadores das diversões públicas e de programas de rádio e televisão OS: 0084/1/18-Gil DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 13 as indicações, as informações e as recomendações necessárias acerca do conteúdo veiculado. É o sistema de classificação indicativa esse ponto de equilíbrio tênue, e ao mesmo tempo tenso, adotado pela Carta da República para compatibilizar esses dois axiomas, velando pela integridade das crianças e dos adolescentes sem deixar de lado a preocupação com a garantia da liberdade de expressão. 2. A classificação dos produtos audiovisuais busca esclarecer, informar, indicar aos pais a existência de conteúdo inadequado para as crianças e os adolescentes. O exercício da liberdade de programação pelas emissoras impede que a exibição de determinado espetáculo dependa de ação estatal prévia. A submissão ao Ministério da Justiça ocorre, exclusivamente, para que a União exerça sua competência administrativa prevista no inciso XVI do art. 21 da Constituição, qual seja, classificar, para efeito indicativo,as diversões públicas e os programas de rádio e televisão, o que não se confunde com autorização. Entretanto, essa atividade não pode ser confundida com um ato de licença, nem confere poder à União para determinar que a exibição da programação somente se dê nos horários determinados pelo Ministério da Justiça, de forma a caracterizar uma imposição, e não uma recomendação. Não há horário autorizado, mas horário recomendado. Esse caráter autorizativo, vinculativo e compulsório conferido pela norma questionada ao sistema de classificação, data venia, não se harmoniza com os arts. 5º, IX; 21, inciso XVI; e 220, § 3º, I, da Constituição da República. 3. Permanece o dever das emissoras de rádio e de televisão de exibir ao público o aviso de classificação etária, antes e no decorrer da veiculação do conteúdo, regra essa prevista no parágrafo único do art. 76 do ECA, sendo seu descumprimento tipificado como infração administrativa pelo art. 254, ora questionado (não sendo essa parte objeto de impugnação). Essa, sim, é uma importante área de atuação do Estado. É importante que se faça, portanto, um apelo aos órgãos competentes para que reforcem a necessidade de exibição destacada da informação sobre a faixa etária especificada, no início e durante a exibição da programação, e em intervalos de tempo não muito distantes (a cada quinze minutos, por exemplo), inclusive, quanto às chamadas da programação, de forma que as crianças e os adolescentes não sejam estimulados a assistir programas inadequados para sua faixa etária. Deve o Estado, ainda, conferir maior publicidade aos avisos de classificação, bem como desenvolver programas educativos acerca do sistema de classificação indicativa, divulgando, para toda a sociedade, a importância de se fazer uma escolha refletida acerca da programação ofertada ao público infanto-juvenil. 4. Sempre será possível a responsabilização judicial das emissoras de radiodifusão por abusos ou eventuais danos à integridade das crianças e dos adolescentes, levando-se em conta, inclusive, a recomendação do Ministério da Justiça quanto aos horários em que a referida programação se mostre inadequada. Afinal, a Constituição Federal também atribuiu à lei federal a competência para “estabelecer meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o disposto no art. 221” (art. 220, § 3º, II, CF/88). 5. Ação direta julgada procedente, com a declaração de inconstitucionalidade da expressão “em horário diverso do autorizado” contida no art. 254 da Lei 8.069/90. (STF ADI 2.404/DF, Relator(a): Min. Dias Toffoli, Julgamento: 31/08/2016, Plenário). LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA E DE CRENÇA VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias; A Constituição de 1824, em seu art. 179, V, já assegurava os direitos religiosos, desde que respeitasse a do Estado, nos seguintes termos: “Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Políticos dos Cidadãos Brasileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição do Império, pela maneira seguinte. V. Ninguém pode ser perseguido por motivo de Religião, uma vez que respeite a do Estado, e não ofenda a Moral Publica”. A partir da Constituição Federal de 1891, estabeleceu-se o Estado Laico ou Leigo, que não adota qualquer religião como oficial. Como ensina José Afonso da Silva, “na liberdade de crença entra a liberdade de escolha de religião, a liberdade de aderir à qualquer seita religiosa, a liberdade (ou o direito) de mudar de religião, mas também compreende a liberdade de não aderir à religião alguma, assim como a liberdade de descrença, a liberdade de ser ateu e de exprimir o agnosticismo”. Bom lembrar que o livre exercício dos cultos é assegurado enquanto não forem contrários à ordem, tranquilidade e sossego públicos, bem como compatíveis aos bons costumes. E a liberdade religiosa não é absoluta, uma vez que não será permitido a qualquer religião ou culto atos atentatórios à lei, sob pena de responsabilidade civil e criminal. Recentemente, o Supremo Tribunal Federal julgou improcedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4439, na qual a Procuradoria-Geral da República questionava o modelo de ensino religioso nas escolas da rede pública de ensino do país. Por maioria dos votos, os ministros entenderam que o ensino religioso nas escolas públicas brasileiras pode ter natureza confessional, ou seja, vinculado às diversas religiões. Dispositivos correspondentes: arts. 210, § 1º; 215, § 2º, da CF. PREÂMBULO Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a OS: 0084/1/18-Gil DIREITO CONSTITUCIONAL PARA CONCURSOS CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 14 proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Segundo posicionamento jurisprudencial, o Preâmbulo não constitui norma central, não se trata de norma de reprodução obrigatória na Constituição do Estado, já que não tem força normativa. Entretanto, o Preâmbulo faz parte da estrutura da Constituição Federal, que se divide em Preâmbulo, texto permanente e texto temporário (Ato das Disposições Constitucionais Transitórias - ADCT). Jurisprudência relacionada ao tema: EMENTA. CONSTITUCIONAL. CONSTITUIÇÃO: PREÂMBULO. NORMAS CENTRAIS. Constituição do Acre. I. Normas centrais da Constituição Federal: essas normas são de reprodução obrigatória na Constituição do Estado-membro, mesmo porque, reproduzidas, ou não, incidirão sobre a ordem local. Reclamações 370-MT e 383-SP (RTJ 147/404). II. Preâmbulo da Constituição: não constitui norma central. Invocação da proteção de Deus: não se trata de norma de reprodução obrigatória na Constituição estadual, não tendo força normativa. III. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente. (ADI 2.076/AC. Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 08.08.2003). VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva; Hospitais, asilos (públicos e privados), presídios e quartéis são locais de internação coletiva. VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei; A escusa de consciência e de crença aplica-se às obrigações legais de forma genérica e não somente ao serviço militar obrigatório, embora esse seja o exemplo mais indicado pelos doutrinadores quando enfocam o assunto. O art. 143 da Constituição Federal, prescreve: Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei. § 1º às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essencialmente militar. O serviço alternativo no caso de descumprimento do serviço militar obrigatório por imperativo de consciência é estabelecido pela Lei 8.239/91.
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