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Ambulatório - DRGE Consiste no deslocamento, sem esforço, do conteúdo gástrico para o esôfago. A presença de refluxo implica em incompetência do EEI (esfíncter esofágico interior), que pode resultar de perda generalizada do tônus desse esfíncter ou de relaxamentos recorrentes e temporários (i.e., não relacionados à deglutição). Os relaxamentos transitórios do EEI são desencadeados por distensão gástrica ou estímulo faríngeo subliminar. O Consenso Brasileiro da Doença do Refluxo Gastresofágico (CBDRGE) define a DRGE como uma afecção crônica (e recidivante) decorrente do fluxo retrógrado do conteúdo gastroduodenal para o esôfago e/ou órgãos adjacentes a ele (laringe, faringe, etc.), acarretando um espectro variável de sintomas e/ou sinais esofagianos e/ou extra esofagianos, associados ou não a lesões teciduais. Fatores que contribuem para a competência da junção esofagogástrica incluem o ângulo da junção cardioesofágica, a ação do diafragma e a gravidade (i.e., em pé). Fatores que podem contribuir para o refluxo incluem ganho de peso, alimentos gordurosos, bebidas gasosas ou com cafeína, álcool, tabaco e determinados fármacos. Fármacos que diminuem a pressão do EEI incluem anticolinérgicos, anti-histamínicos, antidepressivos tricíclicos, bloqueadores do canal de cálcio, progesterona e nitratos. Causas: hérnia de hiato, porque o EIE fica deslocado da sua posição normal intra abdominal para o interior do torax, não podendo mais ser protegido pelos pilares do diafragma; obesidade, gravidez, alcoolismo, tabagismo. Complicações: A DRGE pode causar esofagite, úlcera péptica esofágica, estenose esofágica, esôfago de Barrett e adenocarninoma esofágico. Os fatores que contribuem para o desenvolvimento de esofagite incluem a natureza cáustica do material refluído, a inabilidade para eliminar o material refluído do esôfago, o volume do conteúdo gástrico e as funções protetoras da mucosa. Alguns pacientes, em particular recém-nascidos, podem aspirar o material refluído. Principais sintomas são pirose e regurgitação Fisiopatologia A patogênese do refluxo esta ligada a alterações nas barreiras anatômicas e funcionais na junção gastroesofagica, cujos responsáveis principais são o esfíncter inferior esofágico e a musculatura estriada dos pilares do diafragma Sem essa espécie de válvula, refluxo do conteúdo gástrico para o esôfago seria constante, porque a pressão intra abdominal é maior do que a intratorácica Tanto os sintomas quanto as lesões teciduais resultam do contato da mucosa com o conteúdo gástrico refluxado, decorrentes de falha em uma ou mais das seguintes defesas do esôfago: barreira antirrefluxo, mecanismos de depuração intraluminal e resistência intrínseca do epitélio. https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-gastrointestinais/tumores-do-trato-gastrointestinal/c%C3%A2ncer-esof%C3%A1gico#v895529_pt Barreira antirrefluxo A barreira antirrefluxo, principal proteção contra o RGE, é composta por: esfíncter interno (ou esfíncter inferior do esôfago – EIE – propriamente dito) e esfíncter externo (formado pela porção crural do diafragma). O EIE mantem-se fechado em repouso e relaxa com a deglutição e com a distensão gástrica. O relaxamento não relacionado com a deglutição é chamado relaxamento transitório do EIE (RTEIE), sendo considerado o principal mecanismo fisiopatológico associado a ̀ DRGE, res- pensável por 63 a 74% dos episódios de RGE. Em pacientes com formas graves de DRGE, a pressão de repouso do EIE está ́ diminuída. Muitas substancias afetam a pressão do EIE: a colecistocinina (CCK) é responsável pela diminuição da pressão de EIE observada após a ingestão de gorduras; outros neuro- transmissores estão envolvidos, entre os quais se destacam o oxido nítrico (ON) e o peptídeo intestinal vasoativo (VIP). O comprimento total e o comprimento abdominal do EIE são outros parâmetros usados para avaliar a função do EIE, e que são valorizados quando estão diminuídos. A presença de hérnia hiatal contribui para o funcionamento inadequado da barreira antirrefluxo através da dissociação entre o esfíncter externo e o interno e do refluxo sobreposto (fluxo retrógrado do conteúdo refluxado preso no saco hernia ́rio para a porção tubular do esôfago). A distensão gástrica, principalmente após as refeições, contribui para o refluxo gastresofágico. O retardo do esvaziamento gástrico, o aumento da pressão intragástrica (ambos presentes quando há́ obstrução ou semiobstruc ̧ão antropilo ́rica) e a alteração da secreção gástrica (como a hipersecreção da síndrome de Zollinger-Ellison) são fatores que podem estar presentes, mas são pouco frequentes. Normal Hérnia de hiato Mecanismo de depuração intraluminal A depuração (ou “clareamento”) do material refluxado presente na luz do esôfago decorre de uma combinação de mecanismos mecânicos (retirando a maior quantidade do volume refluído, através do peristaltismo e da gravidade) e químicos (neutralização do conteúdo residual pela saliva ou pela muco- sã). A alteração do peristaltismo pode ser primária (no caso dos distúrbios motores do esôfago, como na motilidade esofágica ineficaz) ou secundária (nas doenças do tecido conjuntivo, como esclerodermia, síndrome CREST ou doença mista do tecido conjuntivo). A diminuição do fluxo salivar pode ser secundária à síndrome de Sjögren ou ao uso de diversos medicamentos. A depuração do ácido pela saliva não é instantânea e, sob ótimas circunstancias, requer 3 a 5 min para restaurar o pH após um único episódio de refluxo. Cada 7 ml de saliva é capaz de neutralizar 1 ml de HCl 0,1 N. Episódios de refluxo ocorridos durante a noite, na posição supina, são duradouros e tem grande chance de causar lesão mucosa devido a diminuição do fluxo de saliva, que ocorre normalmente a noite, associada a falta de ação da gravidade. Resistência intrínseca do epitélio A resistência intrínseca da mucosa é constituída pelos seguintes mecanismos de defesa, normalmente presentes no epitélio esofágico: Defesa pre-epitelial (composta por muco, bicarbonato e agua no lúmen do esôfago, formando uma barreira físico- química, que é pouco desenvolvida no esôfago, quando comparada a ̀ mucosa gástrica e duodenal); Defesa epitelial (junções intercelulares firmes, características do epitélio estratificado pavimentoso, o que dificulta a retrodifusa ̃o de íons, e substancias tamponadoras inters- ticiais, como proteínas, fosfato e bicarbonato); Defesa pós-epitelial (suprimento sanguíneo, responsável tanto pelo aporte de oxigênio e nutrientes quanto pela remoção de metabolitos). O defeito mais comum da re- sistência epitelial e ́ o aumento da permeabilidade para- celular. A esofagite ocorre quando os fatores de defesa são sobrepujados pelos fatores agressivos. Outro constituinte do material refluxado, que tem sido correlacionado com maior agressividade para a mucosa do esôfago, é o conteúdo duodenal (bile e secreções pancreáticas), que atinge o estomago, através do piloro e, subsequentemente, chega ao esôfago. O refluxo duodeno-gastresofa ́gico é um fenomeno fisiológico, de composição variada, que lesa a mucosa esofágica pela ação das enzimas proteolíticas, potencializando a lesão provocada pelo ácido. A variabilidade da composição do conteúdo refluxado é uma das possíveis explicações para os diferentes graus de esofagite observadas em pacientes com a mesma quantidade de refluxo ácido demonstrado por exames pHme ́tricos. O mecanismo responsável pelas manifestações extraesofagicasda DRGE, como tosse e broncoespasmo, nem sempre é a aspiração com lesão da mucosa de vias respiratórias por contato direto. Pode ser via reflexo vagal por acidificação da mucosa esofágica distal. No caso de granulomas de cordas vocais e estenose subglótica, é necessário, provavelmente, o contato direto com a mucosa das vias respiratórias. Sintomatologia Sintomas típicos: Os sintomas clássicos da DRGE são pirose (sensação de queimação retroesternal, ascendente em direção ao pescoço) e regurgitação (retorno de conteúdo gástrico, ácido ou amargo, até́ a faringe), de fácil reconhecimento. Sintomas atípicos: A causa mais comum da dor torácica de origem esofágica é a DRGE, que pode ser indistinguível da dor de origem cardíaca. O estimulo de quimiorreceptores da mucosa esofágica pelo refluxato desencadeia essa dor, visto que a inervação do esôfago e do miocárdio é a mesma. Sintomas extra esofágicos: Manifestações extraesofágicas pulmonares (tosse crônica, asma, bronquite, fibrose pulmonar, aspiração recorrente, dentre outras), otorrinolaringológicas (rouquidão, globus, roncos, pigarro, alterações das cordas vocais, laringite cronica, sinusite e erosões dentárias) estão associadas à DRGE, mas não são específicas. A maioria dos pacientes com sinais e/ou sintomas extraesofa ́gicos não apresenta sintomas típicos concomitante- tes. Sintomas de alarme: As manifestações de alarme, que sugerem formas mais agressivas ou complicações da doença, são: odinofagia, disfagia, sangramento, anemia e emagrecimento. Apresentação clinica De acordo com o resultado da pHmetria, os portadores de DRGE com endoscopia normal podem ser subdivididos em dois grupos: doença do refluxo não erosiva e pirose funcional. Doença do refluxo não erosiva: Trata-se de condição na qual o paciente apresenta sintomas típicos da DRGE e o exame endoscópico não evidencia alterações da mucosa esofágica. Baseados na resposta terapêutica com IBP e pHmetria esofágica prolongada, esses pacientes podem ser classificados em: o Pacientes com exposição ácida anormal (que tem resposta terapêutica semelhante a ̀ dos pacientes com esofagite endoscópica); o Pacientes com exposição ácida normal e com correlação positiva entre sintomas e episódios de refluxo (estimado pelo índice de sintomas, que é positivo) e resposta ao uso de inibidores da bomba de prótons (IBP). Pirose funcional: O esôfago de Barrett é uma condição em que um epitélio colunar associado a ̀ metaplasia intestinal substitui o epitélio escamoso normal que recobre o esôfago distal. Trata-se, na grande maioria das vezes, de uma sequela da DRGE de longa evolução. O exame histopatológico do epitélio de Barrett geralmente evidencia uma forma incompleta de metaplasia intestinal. A grande preocupação causada pelo esôfago de Barrett é a predisposição de suas células sofrerem alterações genéticas associadas ao adenocarcinoma. Esofagite erosiva: O grupo mais facilmente identificável e com alterações fi- siopatolo ́gicas mais claras é o dos portadores de esofagite erosiva. A visualização endoscópica de erosões esofágicas sela o diagnóstico de DRGE. Apesar disso, ainda cabem diagnósticos diferenciais, como lesão esofágica induzida por comprimido e esofagite eosinofílica, dentre outros. Exame clinico pHmetria esofagica prolongada: A pHmetria esofágica prolongada (ou de 24 horas), é um exame que tem por finalidade detectar e caracterizar o fenômeno do refluxo gastroesofágico através da medida da acidez (pH) no esôfago. A pHmetria esofágica prolongada constitui o melhor procedimento disponível até o momento para caracterizar o refluxo gastroesofágico (ácido) e permite a correlação dos sintomas referidos pelos pacientes com os episódios de refluxo (índice de sintomas). Por meio da pHmetria esofágica prolongada é possível quantificar a intensidade da exposição da mucosa esofágica ao ácido. Importante lembrar que a pHmetria prolongada não se presta ao estabelecimento diagnóstico da esofagite de refluxo; serve apenas para caracterizar o refluxo propriamente dito. Também não está indicada para o diagnóstico do refluxo duodeno gástrico (frequentemente denominado, de modo inadequado, de “refluxo alcalino”). O fato de a pHmetria ser um exame feito ao longo de 24h, tem-se outra limitação: o paciente pode não apresentar neste intervalo um episódio de refluxo patológico e não ser detectado pelo exame, o que pode gerar uma interpretação errônea. A pHmetria se torna importante quando ela identifica mais de 7% de episódios de refluxo com pH abaixo de 4, considerando, neste caso, um exame positivo para doença do refluxo. As principais indicações são: Pacientes com sintomas típicos de DRGE que não apresentam resposta satisfatória ao tratamento com inibidor da bomba protônica e nos quais o exame endoscópico não revelou dano a mucosa esofágica. Nesses casos, o exame deve ser realizado na vigência da medicação; Pacientes com manifestações atípicas extra esofágicas sem presença de esofagite. Nesses casos, recomenda-se a realização do exame pHmétrico com dois ou mais canais sensores de pH para caracterização simultânea do refluxo gastresofágico e do refluxo supraesofágico (laringofaringeo); Pré-operatário nos casos bem caracterizados, em que o exame endoscópico não revelou esofagite; Recorrência dos sintomas após a cirurgia anti-refluxo com ausência de lesões esofágicas. Impedância/phmetria: A impedância intraluminal esofágica é um método diagnóstico que registra o fluxo retrógrado de conteúdo gástrico, independente de seu pH. Quando combinado com pHmetria (Impedâncio-pHmetria), permite detectar o Refluxo Gastro-Esofágico (RGE) ácido e “não-ácido”. Portanto, permite definir se um sintoma é relacionado com refluxo ácido, relacionado com refluxo “não-ácido”, ou não relacionado com refluxo. Além disso, a Impedâncio-pHmetria permite caracterizar o RGE quanto à sua composição (líquido, gasoso ou líquido-gasoso) e identificar o nível de ascensão do refluxo no esôfago Endoscopia digestiva alta: O exame endoscópico, embora apresente uma sensibilidade de cerca de 60%, pela facilidade de sua execução e disponibilidade na maioria dos centros médicos em nosso meio, o método de escolha para o diagnóstico das lesões causadas pelo refluxo gastresofágico. Por meio da endoscopia, é possível avaliar também a gravidade da esofagite e realizar biópsias quando necessário; como, por exemplo, nos casos de complicações do refluxo gastresofágico (úlceras, neoplasias, estenose péptica e esôfago de Barrett). As principais indicações para a realização da EDA são: Presença de manifestações de alarme e/ou manifestações atípicas importantes; Idade > 45 anos; Pirose por mais de duas vezes por semana ou queixas prolongadas (4 – 8 semanas), mesmo em pacientes jovens; Necessidade de avaliação da gravidade da esofagite; Orientação de tratamento. Exame radiológico contrastado de esôfago (Esofagograma): O exame radiológico, embora seja muito difundido e apresente custo relativamente baixo, não está indicado na rotina de investigação da DRGE, pois apresenta baixa sensibilidade, particularmente nos casos de esofagite leve. Hoje em dia, vem sendo substituído pela endoscopia. As principais informações que o exame radiológico pode oferecer referem-se a avaliação da anatomia esofágica, como nas lesões estenosantes do esôfago e alterações motoras pelo achado de ondas terciárias e espasmos do órgão. A indicação do método radiológico no diagnóstico da DRGE está restrita ao esclarecimento do significadoda disfagia e da odinofagia. Cintilografia esofágica. O exame cintilografico (com tecnÇcio-99) apresenta indicações restritas, estando reservado para casos onde exista suspeita de aspiração pulmonar de conteúdo gástrico, pacientes que não toleram a pHmetria (pediátricos por exemplo) ou nos casos em que exista necessidade de se determinar o tempo de esvaziamento gástrico. Testes provocativos: O teste de Bernstein-Baker objetiva comprovar que o sintoma do paciente decorre do refluxo ácido gastresofágico. Esse teste utiliza a infusão de ácido clorídrico a 0,1 N na luz esofágica, na tentativa de reproduzir o sintoma ti ́pico do paciente, e a infusa ̃o de soluc ̧ão salina como placebo. Considera-se o teste positivo naquele paciente que apresentou sintomas típicos apenas durante a infusa ̃o de ácido clorídrico. Esse teste é considerado de alta especificidade ao atribuir a origem do sintoma ao refluxo ácido. Deve ser reservado para situações em que não se dispõe de pHmetria prolongada, ou para pacientes que apresentam sintomas infrequentes, e que não ocorreram durante o monitoramento esofágico do pH. Manometria esofagica: A manometria é um exame utilizado para aferir a pressão dentro da luz esofágica. É um exame extremamente útil para o diagnóstico de distúrbios motores do esôfago. Contudo, na suspeita de DRGE, é um exame pouco utilizado. As principais indicações para este teste são: Investigaçao de peristalse ineficiente do esôfago em pacientes com indicação de tratamento cirúrgico; Determinar a localização precisa do esfíncter esofágico inferior; Investigar apropriadamente alterações motoras do esôfago; Avaliar o peristaltismo e alterações do tônus do esfíncter esofágico inferior. Complicações da DRGE Esôfago de barret O esôfago de Barrett é uma condição em que um epitélio colunar associado a metaplasia intestinal substitui o epitélio escamoso normal que recobre o esôfago distal. Trata- se, na grande maioria das vezes, de uma sequela da DRGE de longa evolução. O exame histopatológico do epitélio de Barrett geral- mente evidencia uma forma incompleta de metaplasia intestinal. A grande preocupação causada pelo esôfago de Barrett é a predisposição de suas células sofrerem alterações genéticas associadas ao adenocarcinoma. A DRGE em pacientes com esôfago de Barrett: A função motora esofágica está́ frequentemente comprometida nesses indivíduos, traduzindo-se por baixa amplitude das ondas peristálticas associada a uma maior frequência de contrações anormais. Essas anormalidades comprometem o clareamento esofágico do material refluído, aumentando o tempo de contato do refluxato com epitélio esofágico. Em mais de 90% dos pacientes, observam-se alterações do esfíncter esofágico inferior, como hipotonia e pequeno comprimento intra-abdominal, além de uma alta incidência de hérnia hiatal. Esses fatores favorecem o refluxo gastresofágico, inclusive durante o período noturno. Estudos utilizando pHmetria esofágica prolongada mostram que, em portadores de esôfago de Barrett, o refluxo ácido gastresofágico é mais intenso e duradouro que em portadores de DRGE não complicada. Além disso, o refluxo de secreções duodenais (bile e suco pancreático) parece desempenhar um importante papel na patogênese do esôfago de Barrett. Quadro clinico esôfago de barret: Uma história clinica detalhada dos portadores de esôfago de Barrett geralmente identifica sintomas de longa duração que incluem pirose, regurgitação e disfagia esofágica. Existe também uma maior associação do esôfago de Barrett com outras complicações da DRGE, como estenose, ulcerações e sangramentos. Entretanto, quando ocorre o desenvolvimento da doença, a maioria desses pacientes apresenta uma grande melhora dos seus sintomas, tornando- se mesmo oligossintomáticos. Essa melhora é explicada pela maior resistência do epitélio de Barrett a agressão ácida. Diagnostico esôfago de barret Atualmente, propõe-se a seguinte classificação para o epitélio colunar de Barrett: Segmento longo do esôfago de Barrett (metaplasia intestinal ≥ 3 cm). Segmento curto do esôfago de Barrett (metaplasia intestinal < 3 cm). Tecido cárdico com metaplasia intestinal. Essa classificação é importante, pois, até́ o momento, o risco de degeneração maligna somente está ́ bem estabelecido no segmento longo do esôfago de Barrett. O diagnóstico do esôfago de Barrett baseia- se no aspecto endoscópico do epitélio colunar recobrindo o esôfago e no exame histopatológico desse epitélio, que evidencia a presença de metalepsia intestinal incompleta. O diagnóstico desta complicação deve ser realizado por meio da associação entre achados da EDA e análise histopatológica da lesão: a presença de lesão avermelhada no terço inferior do esôfago vista por EDA obriga o examinador a realizar biópsias, conduzindo, assim, a fundamentação de um diagnóstico macroscópico embasado a um diagnóstico microscópico. Úlcera péptica do esôfago (úlcera de Wolf) A úlcera pode estar associada a DRGE e, sempre quando presentes a EDA, devem ser submetidas a biópsia. Tais úlceras podem causar sangramento importante e, por tal razão, devem ser tratadas de modo efetivo. Contudo, a úlcera de esôfago é considerada uma condição rara. O sangramento esofágico na DRGE costuma ser lento e insidioso e, muitas vezes, é o responsável por quadros de anemia crônica. Estenose péptica do esôfago Outro tipo de complicação da doença do refluxo ou de úlceras pépticas do esôfago é a estenose, secundária a cicatrização ou fibrose vigente destas situações. 10% de pacientes com DRGE apresentam estenose. O principal sintoma é a disfagia insidiosa, que evolui para dificuldade de deglutir sólidos, alimentos pastosos e, por fim, para líquidos. Tratamento Medidas gerais higienodietéticas: Tais medidas sempre devem ser destacadas e associadas ao tratamento estabelecido. São elas: Elevação da cabeceira da cama (15 cm) Moderar a ingestão dos seguintes alimentos, na dependência da correlação com sintomas: gordurosos, cítricos, café, bebidas alcoólicas, bebidas gasosas, menta, hortelã, produtos a base de tomate, chocolate Cuidados especiais com medicamentos potencialmente “de risco”, como colinérgicos, teofilina, bloqueadores de canal de cálcio, alendronato Evitar deitar-se nas duas horas posteriores as refeições Evitar refeições copiosas ou ingerir líquidos durante a refeição Suspensão do fumo Redução do peso corporal em obesos Tratamento medicamentoso: O tratamento clínico tem como objetivo o alívio dos sintomas, a cicatrização das lesões e a prevenção de recidivas e complicações. Para esofagites erosivas (com hiperemia, mucosa de aspecto esbranquiçado), que provoquem pirose pelo menos mais de 2 vezes por semana, podem ser tratadas com inibidores de bomba de prótons (IBP) em dose plena ou dobrada (Omeprazol 40mg, Lansoprazol 30mg, Pantoprazol 40mg, Rabeprazol 20mg, Esomeprazol 40mg), uma vez ao dia, tomados em jejum (30 minutos antes da primeira refeição do dia) por, pelo menos, 4 – 12 semanas. O objetivo é manter pH acima de 4,0. Para esofagite não-erosiva, podemos optar por bloqueadores dos receptores H2, com dose diária em duas tomadas (Ranitidina 300mg, Cimetidina 800mg, Nizatidina 300mg) e/ou Procinéticos (Bromoprida e Domperidona) se houver sintomas de empachamento pós-prandial (entalo). O uso de antiácidos está indicado para alívio sintomático, sem contribuir na resolução do quadro em si. Tem-se indicação ainda quando há suspeita de refluxo biliar (nesta situação, podemos optar por quelantes de sais biliares).O tempo ideal da terapêutica da DRGE é de 6 a 12 semanas. Tratamento cirúrgico: A cirurgia antirrefluxo pode ser convencional ou laparoscópica, ambas operações de fundoplicatura (que consiste na aplicação do fundo gástrico em torno do terço distal do esôfago, contribuindo, assim, como um novo aparato anatômico anti-refluxo). Ambas as técnicas são equivalentes no que diz respeito ao desaparecimento dos sintomas, com base em observações por períodos de até três anos. As indicações do tratamento cirúrgico da DRGE não-complicada são as seguintes: Pacientes que não respondem satisfatoriamente ao tratamento clínico, inclusive aqueles com manifestações atípicas cujo refluxo foi devidamente comprovado Pacientes dos quais é exigido tratamento de manutenção com IBP, especialmente aqueles com menos de 40 anos de idade Casos em que não é possível a continuidade do tratamento de manutenção, por exemplo, a impossibilidade de arcar financeiramente com os custos do tratamento clínico a longo prazo Esofagite hemorrágica com insucesso terapêutico clínico ou endoscópico Complicações: estenose péptica (que não respondem à dilatação esofágica) ou úlcera; Barrett com displasia de alto grau (além de fazer uso de dose dobrada de IBP) ou neoplasia. Tratamento das complicações Para o controle clínico do esôfago de Barrett, o tratamento adequado é obtido com IBP por tempo indeterminado, no intuído de estabelecer um controle rigoroso do refluxo. Nos casos de Barrett curto, recomenda-se a utilização de IBP em dose plena; nos demais casos de Barrett, IBP em dose dupla em duas tomadas diárias. O tratamento via endoscópica pelos métodos de ablação é tido como promissor, mas ainda inconclusivo, podendo ser empregado somente em protocolos de investigação. O tratamento clínico da úlcera esofágica constitui a melhor opção terapêutica. Recomenda-se o emprego de IBP em dose dupla por um período de pelo menos oito semanas. Após a cicatrização, deve ser instituído um tratamento de manutenção. Na eventualidade de opção por tratamento cirúrgico, ele deve seguir as recomendações para tal conduta. No caso das estenoses, a conduta cirúrgica apropriada depende da extensão e da localização da estenose, bem como da avaliação prévia da função motora do corpo do órgão, realizada por meio da manometria. Nas estenoses baixas, com função motora normal, está indicada a fundoplicatura total. Quando existir disfunção motora significativa, a fundoplicatura parcial mostra- se adequada. Nos casos em que se observa estenose longa e filiforme, o tratamento cirúrgico mais apropriado é a ressecção com abordagem torácica. Os pacientes com estenose também podem ser tratados com IBP e dilatação por sondas.
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