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Teoria Política I - Livro

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Prévia do material em texto

2019
1a Edição
Teoria PolíTica i
Prof. Sandro Luiz Bazzanella
Prof. Walter Marcos Knaesel Birkner
Copyright © UNIASSELVI 2019
Elaboração:
Prof. Sandro Luiz Bazzanella
Prof. Walter Marcos Knaesel Birkner
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
B364t
 Bazzanella, Sandro Luiz
 Teoria política I. / Sandro Luiz Bazzanella; Walter Marcos Knaesel 
Birkner. – Indaial: UNIASSELVI, 2019.
 231 p.; il.
 ISBN 978-85-515-0300-3
1. Teoria política. – Brasil. I. Birkner, Walter Marcos Knaesel. II. 
Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 320.1
III
ApresentAção
Caro acadêmico!
Estamos iniciando os estudos em Teoria Política. Faremos uma 
imergência no universo das ideias políticas que fundamentam a cultura 
política ocidental. Trata-se de compreender, ainda que introdutoriamente, 
como a política foi edificada, desde a sua estruturação até às instituições 
políticas que orientam nossas escolhas em relação à condição de viver 
em sociedade. Nesta perspectiva apresentaremos autores e seus conceitos 
através da história das ideias políticas da civilização ocidental, desde o 
Mundo Antigo, passando pela Idade Média, até chegarmos à modernidade 
em que vivemos até hoje, iniciada há mais de cinco séculos. Se somos os 
filhos da modernidade e, na medida em que iniciamos nossos estudos sobre 
a teoria política, é elementar que estejamos cientes dos significados de termos 
e conceitos igualmente fundamentais à nossa capacidade de compreender 
e verbalizar o mundo em que vivemos. Entre eles, está a ideia-conceito de 
modernidade e, se somos os filhos da modernidade, precisamos conhecer 
nossa paternidade. 
Para tanto, faremos nossa exposição teórica da seguinte maneira: 
Na Unidade 1 apresentaremos os fundamentos da teoria política 
desde a Grécia Antiga e seus dois principais pensadores políticos: Platão e 
Aristóteles. Em seguida, adentraremos à teoria política da Idade Média, até 
o limiar da modernidade. 
Na segunda unidade compreenderemos propriamente o significado 
de modernidade, por meio da abordagem das análises e dos pressupostos 
de alguns dos principais pensadores constituintes desse período histórico 
e civilizatório. Começaremos pelo fundador da Ciência Política, Nicolau 
Maquiavel, e passaremos pelas ideias de autores iluministas que ajudaram a 
edificar o símbolo político da modernidade: o Estado moderno.
Na Unidade 3 conheceremos algumas das principais teorias políticas 
que fundamentaram as ideias liberais, entre conservadoras, libertárias 
e revolucionárias que, depuradas historicamente, nos conduziram à 
contemporaneidade, preparando o terreno para o século XX e seus 
desdobramentos políticos até os nossos dias.
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Agora, lembre-se: cada vez que encontrar alguma palavra, ideia e ou 
conceito cuja definição suscite alguma dúvida, não hesite em recorrer às fontes 
de consulta à disposição, seja nos livros, seja na internet, que também levarão 
aos livros, artigos e outras fontes de informação. Além disso, compreenda 
que o seu esforço de leitura e estudo trarão a satisfação incomensurável de 
conhecer as coisas, melhorar sua vida e o universo à sua volta.
Bons estudos!
Dr. Sandro Luiz Bazzanella
Dr. Walter Marcos Knaesel Birkner
V
VI
VII
UNIDADE 1 – ORIGENS DO PENSAMENTO POLÍTICO ............................................................ 1
TÓPICO 1 – MUNDO GREGO ANTIGO: A PHXSIS, A POLIS E A DEMOCRACIA .............. 3
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 O MUNDO GREGO ANTIGO E O CONCEITO DE PHYSIS: PRESSUPOSTOS 
 TELEOLÓGICOS MATERIALIZADOS NA CONSTITUIÇÃO DA POLIS ............................. 5
2.1 A POLIS COMO O LOCUS QUALIFICAÇÃO DA VIDA DO CIDADÃO ............................. 8
3 O QUE OS GREGOS COMPREENDIAM POR DEMOCRACIA ............................................... 13
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 23
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 24
TÓPICO 2 – ANTIGUIDADE: SÓCRATES, PLATÃO E ARISTÓTELES .................................... 25
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 25
2 OS SOFISTAS E SÓCRATES.............................................................................................................. 26
2.1 A FILOSOFIA DE PLATÃO COMO REAÇÃO À MORTE DE SÓCRATES ............................ 35
2.2 ARISTÓTELES E O IDEAL DE RECONSTITUIÇÃO DA POLIS ............................................. 41
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 48
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 49
TÓPICO 3 – IDADE MÉDIA: SANTO AGOSTINHO E SANTO TOMÁS DE AQUINO ........ 51
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 51
2 A CONSTITUIÇÃO DO OCIDENTE DE ROMA A JERUSALÉM:
 A COSMOVISÃO JUDAICO-CRISTÃO ......................................................................................... 52
2.1 A CONCEPÇÃO POLÍTICA DE SANTO AGOSTINHO ........................................................... 56
2.2 A CONCEPÇÃO POLÍTICA DE SÃO TOMÁS DE AQUINO .................................................. 60
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 64
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 67
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 68
UNIDADE 2 – PENSAMENTO POLÍTICO MODERNO ................................................................ 69
TÓPICO 1 – O REALISMO POLÍTICO DE MAQUIAVEL ............................................................. 71
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 71
2 RAZÃO CIENTÍFICA, ESTADO E PENSAMENTO POLÍTICO MODERNO ........................ 71
3 A RUPTURA RENASCENTISTA DE MAQUIAVEL E O PENSAMENTO
 POLÍTICO MODERNO ....................................................................................................................... 74
4 ANTROPOLOGIA DO PENSAMENTO POLÍTICO DE MAQUIAVEL ................................... 76
4.1 VIRTÙ E FORTUNA ........................................................................................................................ 76
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 81
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 82
TÓPICO 2 – CONTRATUALISTAS: LOCKE, HOBBES E ROUSSEAU ....................................... 83
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 83
2 O PODER SOBERANO: ESTADO OU SOCIEDADE CIVIL....................................................... 83
sumário
VIII
3 O CONTRATO SOCIAL: ESTADO DE NATUREZA E SOCIEDADE....................................... 87
4 HOBBES E O ABSOLUTISMO – O ESTADO ACIMA DE TODOS .......................................... 88
5 HOMEM, LOBO DO HOMEM .......................................................................................................... 90
6 LOCKE E O LIBERALISMO ............................................................................................................... 93
7 O PRIMEIRO TRATADO .................................................................................................................... 96
8 O SEGUNDO TRATADO .................................................................................................................. 96
9 O ESTADO DE NATUREZA E O CONTRATO SOCIAL ............................................................. 99
9.1 PROPRIEDADE ..............................................................................................................................100
9.2 ORGANIZAÇÃO DO GOVERNO ..............................................................................................102
10 ROUSSEAU E A DEMOCRACIA DIRETA .................................................................................102
10.1 OS TRABALHOS MAIS CONHECIDOS DO AUTOR ...........................................................104
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................112
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................113
TÓPICO 3 – ILUMINISMO: MONTESQUIEU, DAVID HUME E IMMANUEL KANT ........115
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................115
2 MONTESQUIEU – TEORIA DA SEPARAÇÃO DOS PODERES: EXECUTIVO, 
 LEGISLATIVO E JUDICIÁRIO – O ESPÍRITO E ORIGEM DAS LEIS ................................116
3 LIBERDADE ........................................................................................................................................120
4 O ESPÍRITO DAS LEIS .....................................................................................................................122
5 DAVID HUME – A CONCEPÇÃO DE NATUREZA HUMANA E O CONCEITO
 DE ESTADO .........................................................................................................................................125
5.1 VIDA E OBRA ................................................................................................................................126
5.2 MATURIDADE INTELECTUAL .................................................................................................127
5.3 CRENÇA .........................................................................................................................................129
5.4 ESCRITOS MORAIS E HISTORIOGRÁFICOS ..........................................................................129
5.5 A INFLUÊNCIA DE DAVID HUME ..........................................................................................131
5.5.1 Na condição de escritor .....................................................................................................132
5.5.2 Na condição de historiador .................................................................................................132
5.5.3 Na condição de economista ................................................................................................132
5.5.4 Na condição de filósofo........................................................................................................133
5.6 A CONCEPÇÃO DE ESTADO .....................................................................................................134
6 KANT – ESTADO, AUTONOMIA E ESCLARECIMENTO .......................................................135
6.1 PARA INÍCIO DE ESTUDO .........................................................................................................136
6.2 UMA NATUREZA HUMANA ....................................................................................................137
6.3 A AUTONOMIA DA VONTADE ................................................................................................138
6.4 O DIREITO EM SUA RELAÇÃO COM A MORAL ..................................................................138
6.5 O ESTADO POLÍTICO E O RESPEITO ÀS LEIS .......................................................................139
6.7 UMA FEDERAÇÃO DE NAÇÕES LIVRES ...............................................................................140
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................................141
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................141
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................143
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................144
UNIDADE 3 – LIBERALISMO, SOCIALISMO E FEDERALISMO ............................................145
TÓPICO 1 – TEORIAS CONSERVADORAS: LIBERALISMO DE BURKE,
 TOCQUEVILLE E STUART MILL ..............................................................................147
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................147
2 O LIBERALISMO CONTRARREVOLUCIONÁRIO DE EDMUND BURKE ........................148
3 SUA IDEIA ACERCA DA ORDEM PROVIDENCIAL PELA
 LEI HISTÓRICA NATURAL ............................................................................................................149
IX
4 COMENTÁRIOS ACERCA DA REVOLUÇÃO FRANCESA ....................................................152
5 O LIBERALISMO IGUALITÁRIO DE ALEXIS DE TOCQUEVILLE ......................................155
6 O LIBERALISMO DE JOHN STUART MILL CONTRA A TIRANIA DA MAIORIA .........163
7 SUA VIDA POLÍTICA E SEU TRABALHO INTELECTUAL ....................................................164
8 SOBRE A LIBERDADE ......................................................................................................................167
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................172
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................174TÓPICO 2 – CRÍTICA AO ESTADO E SOCIALISMO: KARL MARX E O MARXISMO ......175
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................175
2 A CONCEPÇÃO MARXISTA DE ESTADO ..................................................................................176
3 ASPECTOS BIOGRÁFICOS .............................................................................................................176
4 MATERIALISMO HISTÓRICO E DIALÉTICO ...........................................................................178
5 O COMUNISMO ................................................................................................................................186
6 OS MARXISTAS REVISIONISTAS: GRAMSCI E GARAUDI ................................................188
7 ANTÔNIO GRAMSCI .......................................................................................................................190
8 ROGER GARAUDY ...........................................................................................................................192
9 O REVISIONISMO MARXISTA DA ESCOLA DE FRANKFURT: MARCUSE,
 BLOCH, HORKHEIMER E ADORNO ...........................................................................................193
9.1 HERBERT MARCUSE ...................................................................................................................194
10 ERNEST BLOCH ...............................................................................................................................197
11 MAX HORKHEIMER E THEODOR ADORNO .........................................................................199
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................204
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................206
TÓPICO 3 – O FEDERALISTA: HAMILTON, JAY E MADISON ................................................207
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................207
2 O FEDERALISTA: UM LIVRO, UMA CONSTITUIÇÃO .........................................................207
3 AS INOVAÇÕES DOS FEDERALISTAS .......................................................................................209
4 A UNIDADE NACIONAL NA AUTONOMIA FEDERATIVA .................................................212
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................218
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................222
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................223
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................225
X
1
UNIDADE 1
ORIGENS DO PENSAMENTO 
POLÍTICO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• compreender a cosmovisão dos gregos antigos e como se constituíram os 
principias conceitos políticos do Ocidente; 
• constatar a contribuição dos sofistas e contraponto com Sócrates em torno 
dos conceitos de política e democracia presente na Atenas do Século IV a.C.;
• analisar os conceitos da filosofia política de Platão para compreender a 
extensão de sua influência nas categorias políticas ao longo da trajetória 
da civilização Ocidental;
• compreender os conceitos políticos de Aristóteles e sua contribuição para 
os debates contemporâneos da Ciência Política;
• compreender aspectos da constituição política do Ocidente a partir da fusão 
de suas duas matrizes civilizatórias, a greco-romana e a judaico-cristã;
• analisar a concepção política de Santo Agostinho e sua contribuição para 
a constituição de uma concepção da política alinhada com a concepção de 
progresso;
• compreender a concepção política de Santo Tomás de Aquino a luz da 
matriz do pensamento aristotélico na transição entre mundo medieval e 
mundo moderno.
Esta unidade está organizada em três tópicos. Em cada um deles você 
encontrará diversas atividades que o ajudarão na compreensão das 
informações apresentadas.
TÓPICO 1 – MUNDO GREGO ANTIGO: A PHYSIS, A POLIS E A 
DEMOCRACIA
TÓPICO 2 – ANTIGUIDADE: SÓCRATES, PLATÃO E ARISTÓTELES
TÓPICO 3 – IDADE MÉDIA: SANTO AGOSTINHO E SÃO TOMÁS DE 
AQUINO
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
MUNDO GREGO ANTIGO: A PHXSIS, A 
POLIS E A DEMOCRACIA
1 INTRODUÇÃO
Por que estudar teoria política? A apresentação da pergunta pressupõe 
tomar em consideração três conceitos fundamentais: estudar, teoria e política. 
Iniciemos pela compreensão do que significa estudar. Estudar é um verbo que 
pode ser conjugado no passado, no presente, ou no futuro. Neste caso, estudar é 
uma ação que se requer no presente. Trata-se, portanto, de uma ação exigente em 
relação a compreensão de um aspecto fundamental do fazer humano, a política. 
Mas, acima de tudo, estudar indica uma ação que transcende o senso comum, o 
olhar cotidiano, as opiniões sobre o que é, ou o que significa a política. 
Nesta direção, estudar indica compreender o óbvio para além de 
suas obviedades corriqueiras, expressas a partir de visões reducionistas e 
preconceituosas, entre elas o fato dos indivíduos se referirem à política como 
atividade desonesta, ou como uma profissão a partir da qual indivíduos 
enriquecem às expensas dos recursos públicos. Mas, também de superar visões 
matizadas da política como a esfera ideal do fazer humano (dever ser), do alcance 
e da realização de prerrogativas altruístas, ou como, locus do alcance do bem, do 
belo e da justiça. Assim, estudar requer disposição para a compreensão da política 
como ela é, de suas formas humanas de funcionamento. Sob tais pressupostos, 
estudar é ampliar o horizonte compreensivo do mundo, da existência, das relações 
humanas que conformam a política em toda sua intensidade e legitimidade. 
Por seu turno a palavra teoria etimologicamente de origem grega 
θεωρία, significa capacidade de contemplação, de observação e, de introspecção 
como estratégia de compreensão de uma determinada situação, ou de uma 
determinada realidade. O ato de contemplar a realidade é condição sine qua non da 
potência do pensamento, que instiga o indivíduo formular hipóteses, explicações 
prévias em relação a determinado fenômeno, seja ele individual, social ou 
mesmo natural. A comprovação, ou não, da hipótese inicialmente estabelecida 
como forma de compreensão prévia do fenômeno está vinculada à capacidade 
de observação do fenômeno, bem como da intensidade reflexiva mobilizada pelo 
observador na constituição de uma explicação ao fenômeno (teoria). 
Ou seja, a necessidade de elaboração de uma teoria como estratégia de 
compreensão de um determinado fenômeno, parte do pressuposto de que a realidade 
em sua multiplicidade de aspectos constitutivos não se apresenta de forma imediata 
ao entendimento. O conhecimento científico requer empenho no questionamento 
UNIDADE 1 | ORIGENS DO PENSAMENTO POLÍTICO
4
dos acontecimentos, dos fatos e da multiplicidade informações e percepções que se 
apresentam de forma imediata aos sentidos. Assim, conhecer implica inicialmente 
a capacidade de selecionar e agrupar fatos e acontecimentos correlacioná-los 
temporalmente e espacialmente, bem como contextualizá-los socialmente. 
A partir destes movimentos da potência do pensamento se estabelecem os 
conceitos. O conceito é a expressão sistematizada e unificada de um fenômeno em 
sua multiplicidade de modos de manifestação. Desta forma, o conceito é condição 
sine qua non para a composição e afirmação de uma teoria, cuja pretensão é a 
compreensão do fenômenoem suas especificidades, mas também em sua 
totalidade. Ou seja, estudar e a articular conceitos na constituição de uma teoria 
sobre a política é um dos trabalhos mais concretos que um ser humano pode 
executar, pois se trata de pensar o mundo e, os modos de ação constitutivos da 
vida qualificada politicamente disponíveis em determinadas circunstâncias. 
Nesta perspectiva, uma teoria se apresenta como o horizonte de 
possibilidade de compreensão humana sobre o mundo em sua condição 
fenomênica. É resultante do compromisso de superação da imediaticidade e 
fugacidade espaço-temporal ao qual o homem é lançado no mundo. É a expressão 
da concretude do trabalho conceitual e intelectual. Nesta direção, a teoria política 
se circunscreve no âmbito das exigências e necessidades inerentes aos seres 
humanos em compreenderem o sentido e a finalidade de suas formas de vida 
circunstanciadas num determinado tempo e num determinado espaço.
A política, por sua vez, diz respeito a condição prática da vida humana em 
sociedade. Em função de sua incompletude o ser humano necessita da convivência 
com outros seres humanos para afirmar e executar estratégias de sobrevivência. 
Mas, ao humano não basta meramente sobreviver é preciso viver, qualificar a 
vida, conferir-lhe um sentido e uma finalidade. Estas exigências ontológicas 
determinam a condição política do humano. É nesta direção que Aristóteles (384 a 
322 a.C.) define o homem como um animal político, (dzóon politikón) e, sobretudo, 
é um animal político porque é dotado de fala (zóon lógon ékhon). É por meio da 
linguagem, da fala, que o humano negocia com os demais humanos que com ele 
condividem tempos e espaços simultâneos à constituição de um espaço público a 
partir do qual é possível alcançar o bem viver e a finalidade última da existência 
qualificada que é a felicidade. 
Mesmo considerando que nos encontramos distantes há mais de dois 
milênios da definição aristotélica do humano como um animal político, da 
importância da polis, do espaço público na constituição e qualificação da vida, 
integrados a sociedades modernas demograficamente extensas, bem como as 
formas de governos representativos, ao exercício da política por vias institucionais, 
os pressupostos definidores do humano de matriz aristotélica continuam válidos. 
Mas, com a modernidade e a ascensão do Estado moderno, da racionalidade 
científica, tecnológica, econômica, a política passou ser concebida também como 
esfera do conflito entre os diversos grupos sociais e seus interesses. Sob tais 
pressupostos, a política como lócus par excellence do conflito é também a única via 
da negociação e mediação do conflito.
TÓPICO 1 | MUNDO GREGO ANTIGO: A PHXSIS, A POLIS E A DEMOCRACIA
5
 Nas sociedades globais contemporâneas em que estamos inseridos 
intensificam-se os conflitos e, ato contínuo se requer cada vez mais à política, 
mesmo que seja para criticá-la em sua inércia institucional. Esta condição 
conflitiva advém da percepção de inúmeros paradoxos civilizatórios, entre eles: 
a) A conformação de uma sociedade mundial de plena produção e pleno consumo 
num planeta cujos recursos naturais são finitos e, muitos destes recursos não são 
renováveis; b) A capacidade científica e tecnológica de produção de bens e serviços 
em escalas inimagináveis, mas a restrição a parcelas significativas da humanidade 
ao acesso de tais bens e serviços; c) A implementação da globalização econômica 
favorecendo restrito grupo de países e empresas que detém capacidade de agregar 
significativo valor a sua pauta de exportação em detrimento de povos países 
exportadores de matérias primas e de produtos desprovidos de valor tecnológico 
agregado; d) A economização da política institucional, submetida a variáveis da 
economia financeirizada, que se tornou um fim em si mesma, colocando a política 
e as instituições a serviço de sua lógica de acumulação; e) As transformações 
cientificas, tecnológicas e comunicacionais que incidem no desaparecimento de 
profissões, no desemprego, bem como em mudanças na forma das relações dos 
seres humanos consigo mesmo, e os demais seres humanos na vida em sociedade. 
Estas variáveis conflitivas potencializam a percepção de incerteza, de que 
vivemos em sociedades globais de risco (Ulrich Beck), em sociedades líquidas 
(Zygmunt Bauman, 2016), ou em sociedades cujo paradigma ontológico é o campo 
de concentração potencializado em constante estado de exceção a produção de 
vida-nua. Vidas que podem ser controladas, vigiadas e descartadas de acordo 
com o interesse estratégico do poder soberano. É no âmbito destas contradições 
e paradoxos civilizatórios que se faz necessário e urgente estudar teoria política. 
Retomar os conceitos e categorias da política ocidental é de fundamental 
importância diante dos desafios civilizatórios em que nos encontramos inseridos. 
Reitere-se que a compreensão do que está acontecendo requer a retomada do 
debate político e, sobretudo a retomada das principais categorias que fundamenta 
o pensamento político ocidental, sobretudo, moderno e contemporâneo. Urge 
retomar o conceito de Estado, de soberania, de democracia, de estado de exceção, 
de fascismo, de totalitarismo, entre outras variáveis conceituais estratégicas para 
a compreensão de nossa contemporaneidade em curso.
2 O MUNDO GREGO ANTIGO E O CONCEITO DE PHYSIS: 
PRESSUPOSTOS TELEOLÓGICOS MATERIALIZADOS NA 
CONSTITUIÇÃO DA POLIS
Para compreender suficientemente os conceitos políticos que constituíram 
e constituem o ocidente na atualidade é preciso retornar ao mundo grego antigo. 
Foram os gregos antigos que estabeleceram as bases conceituais da civilização 
ocidental e o fizerem a partir da invenção da filosofia. Nesta direção é preciso ter 
presente que a invenção da filosofia não é o resultado exclusivo da genialidade 
grega em si mesma. A filosofia entendida aqui como o desenvolvimento de certo 
UNIDADE 1 | ORIGENS DO PENSAMENTO POLÍTICO
6
modo de uso da razão na compressão e ação sobre o mundo é o resultado de um 
conjunto de fatores geopolítico estratégicos, característicos do mundo antigo, bem 
como da necessidade de transcender a explicação do mundo oferecida pelos deuses. 
Sem dúvida, os gregos sofreram a influência de outros povos. Todo 
povo desenvolve certas ideias sobre a vida e o mundo, desdobra certas 
concepções sobre a alma, sobre a origem do mundo a partir do caos, 
sobre os ciclos cósmicos e a unidade do universo, etc. Estas ideias, sobre 
a forma de mitos, estão presentes nas mais antigas religiões. Povos 
mais adiantados, como o do Egito e de outros países do Oriente Médio, 
chegaram até mesmo a desenvolver uma matemática, uma astronomia, 
uma medicina. Que o contato com todos estes povos não poderia deixar 
os gregos imunes, é óbvio. Muitos dos temas que vão ocupar os filósofos 
gregos estão longe de poderem ser considerados originais. Mas a despeito 
disto, pode-se dizer que os gregos constituem uma exceção e que nos 
legaram uma cultura altamente original (BORNHEIM, 1977, p. 8).
Assim, a filosofia se apresenta entre os gregos como a forma assumida 
pela potência da razão humana que assume a responsabilidade de compreensão 
do mundo em sua totalidade, bem como parâmetro para orientar a ação humana 
no mundo. “A Filosofia é um produto da cultura grega, devendo-se reconhecer 
que se trata de uma das mais importantes contribuições daquele povo antigo 
ao mundo ocidental” (BORNHEIM, 1977, p. 7). Ainda nesta direção é preciso 
reconhecer e salientar “que se instaura nas Grécia um tipo de comportamento 
humano mais acentuadamente racional. É este maior respeito à dimensão 
especificamente racional do homem, sem o qual é impossível pensar o surto da 
Filosofia, que caracteriza o povo grego” (BORNHEIM, 1977, 8).
Em sua obra Metafísica, Aristóteles argumenta que a filosofia nasceu 
do espanto, da admiração do homem perante a vastidão do cosmos em sua 
multiplicidade de formas de manifestação, bem como de sua ordem e harmonia, 
permitindo sob tais condiçõesa percepção da beleza em sua totalidade expressa 
na relação microcósmica integrada no macrocosmo. 
É importante salientar que os gregos antigos não possuíam um conceito de 
natureza na forma como os modernos a estabeleceram. “E aqui convém chamar 
a atenção para um desvio em que facilmente incorre o homem contemporâneo. 
Posto que a nossa compreensão do conceito de natureza é muito mais estreito e 
pobre que a grega “[...] (BORNHEIM, 1977, p. 14). Para a cosmovisão moderna, 
assentada na racionalidade científica e tecnológica a natureza se apresenta 
como algo externo à vida humana. A natureza se apresenta como objetivo a ser 
compreendido, dominado, racionalizado e utilizado a serviço dos interesses e da 
necessidade humana. Por seu turno os gregos antigos tomam o mundo como uma 
totalidade em que todos os entes e formas de vida que apresentam encontram-se 
integrados harmonicamente. A Physis é o conceito que expressa tal condição.
À physis pertencem o céu e a terra, a pedra e a planta, o animal e o 
homem, o acontecer humano como obra do homem e dos deuses, 
e, sobretudo, pertencem à physis os próprios deuses. Devido a esta 
amplidão e radicalidade a palavra physis designa outra coisa que no 
TÓPICO 1 | MUNDO GREGO ANTIGO: A PHXSIS, A POLIS E A DEMOCRACIA
7
nosso conceito de natureza. Vale dizer que na base do conceito de 
physis não está a nossa experiência da natureza, pois a physis possibilita 
ao homem uma experiência totalmente outra que não a que nós temos 
frente a natureza (BORNHEIM, 1977, p. 14).
É sob tais pressupostos que a physis conforma a percepção da realidade 
a partir da qual os gregos antigos pensam e agem na constituição das categorias 
políticas que conformam a polis como lócus da realização e qualificação da vida 
humana. Ressalte-se ainda nesta direção, o caráter imanente que a religião 
grega assume neste contexto. Os deuses não transcendem a physis, mas se 
encontram integrados a ela. Tal concepção religiosa implica o fato de que mesmo 
considerando a dimensão divina, supra-humana que conforma a condição dos 
deuses, os mesmos não se sobrepõem de forma absoluta aos seres humanos. 
Participar da physis com as demais formas de existência requer dos deuses a 
condição da negociação, do compartilhamento dos anseios, dos desejos, das 
paixões e necessidades que circunscrevem as demais formas de vidas, sobretudo, 
a forma de vida humana. 
A religião grega não é uma religião do livro. Afora algumas correntes 
sectárias e marginais, como o orfismo, ela não conhece texto sagrado ou 
escrituras sagradas, nos quais a verdade da fé se encontraria definida 
e depositada uma vez por todas. Não há lugar, dentro dela, para 
dogmatismo. As crenças que os mitos veiculam, enquanto acarretam 
a adesão não possuem nenhum caráter de força ou de obrigação; elas 
não constituem um corpo de doutrinas que fixam as raízes teóricas 
da piedade, assegurando aos fiéis, no plano intelectual, uma base de 
certeza indiscutível (VERNANT, 2002, p. 229).
A physis conforma a vida do homem grego antigo a partir da exigência 
de liberdade de pensamento e ação no reconhecimento da beleza e da harmonia 
em que se circunscreve a existência. Desprovidos de deuses transcendentes que 
circunscreveriam a physis e nela a vida humana num projeto de criação e numa 
economia da salvação, a partir de uma ação voluntariosa constitutiva do ato da criação, 
o grego antigo concebe a physis assim como ela se apresenta em sua totalidade. 
A teologia antiga também é, assim, essencialmente uma poesia, 
o discurso sobre os deuses também é uma narrativa mítica. É na 
forma de relatos que constam suas aventuras lendárias, ao longo de 
acontecimentos dramáticos que, desde seu nascimento, marcam as 
carreiras dos deuses que as Potências do além são visadas, expressas, 
pensadas, em suas relações recíprocas, nas zonas de ação que lhes são 
atribuídas, nos tipos de poder que as caracterizam, em suas oposições 
e seus acordos, em seus modos particulares de intervenção sobre a 
terra e de afinidade com os homens (VERNANT, 2002, p. 230).
Sob tais pressupostos, o grego antigo é convocado a pensar e agir no 
seio da physis por própria conta e risco. “Pensar o todo do real a partir da physis 
é pensar a partir daquilo que determina a realidade e a totalidade do ente” 
(BORNHEIM, 1977, p. 14). Talvez este seja um dos motivos que levou Aristóteles, 
conforme anunciado anteriormente, a afirmar que a filosofia — como uma forma 
específica de uso da razão na interpretação do mundo — nasce do espanto, da 
UNIDADE 1 | ORIGENS DO PENSAMENTO POLÍTICO
8
admiração do homem diante do cosmos. O espanto, ou admiração não surgem 
espontaneamente. Resultam de um reconhecimento anterior de si mesmo, de sua 
condição no seio da physis, que lhe exige pensar e agir na qualificação da própria 
vida. Ou seja, o espanto e admiração não são expressões de ingenuidade, ou, 
de um ser humano acomodado no mundo, mas da percepção que a realidade 
o desafia à sua compreensão, de que não há salvação pela vida dos deuses, de 
que a justificativa qualificada de sua existência depende exclusivamente de sua 
capacidade, compartilhada com a disposição e a capacidade dos demais seres 
humanos em conformar um mundo no qual seja possível justificar a existência.
Nesta perspectiva, ao contemplar a physis (cosmos), o grego reconhece 
em sua constituição, equilíbrio, harmonia e beleza. Reconhece também que 
tais qualidades não são inatas, ou doadas por entidades transcendentes, mas o 
resultado do constante jogo de forças, da vontade de poder que move a physis em 
sua totalidade. Alcançar tais qualidades e constantemente afirmá-las é a exigência 
que se apresenta ao ser humano no cumprimento da determinação teleológica de 
sua existência circunscrita no âmbito da physis.
A dimensão cosmológica admirada e reconhecida em seus pressupostos se 
consubstancia na polis, na organização da cidade-comunidade, a partir da política 
como arte da negociação a partir de interesses individuais, do jogo de forças e da 
vontade de poder que movem os indivíduos em seus interesses específicos. Mas, 
a primazia pertence ao espaço público. É nele que se materializam a condição 
constitutiva da physis. O espaço público se constituirá como locus por excelência 
do exercício da ética como manifestação estética ação e qualificação da vida 
humana. Talvez possamos afirmar que esta é a condição política indispensável 
por todo e qualquer povo que almeja a condição de civilização.
2.1 A POLIS COMO O LOCUS QUALIFICAÇÃO
DA VIDA DO CIDADÃO
O homem grego imerso no contexto da physis se sente convocado a um 
uso específico da razão diante dos desafios cosmológicos que se lhe apresentam. 
Mas, se em seus momentos iniciais, a filosofia, na forma como os filósofos pré-
socráticos a praticaram, voltava-se para a compreensão dos aspectos físicos, o 
ser da physis como forma de compreensão da “totalidade do real: do cosmos, 
dos deuses e das coisas particulares, do homem e da verdade, do movimento 
e da mudança, do animado e do inanimado, do comportamento humano e da 
sabedoria, da política e da justiça” (BORNHEIM, 1077, p. 14), volta-se também 
para a polis e para as questões políticas, éticas e estéticas. 
O aparecimento da polis constitui, na história do pensamento grego, 
um acontecimento decisivo. [...], desde seu advento, que se pode 
situar entre os séculos VIII e VII, marca um começo, uma verdadeira 
invenção; por ela, a vida social e as relações entre os homens tomam 
uma forma nova, cuja originalidade será plenamente sentida pelos 
gregos (VERNANT, 1986, p. 34).
TÓPICO 1 | MUNDO GREGO ANTIGO: A PHXSIS, A POLIS E A DEMOCRACIA
9
Neste contexto é interessante notar a forma político-jurídica de cidades-
estados adotadas pelos gregos, que não se apresenta como característica presente 
na maioria dos demais povos antigos, que se organizavam na forma de reinos 
em que o poder era exercido sob pressupostos teocráticos. As cidades-estados 
gregas tinha em comum hábitos, costumes, tradições,a língua grega antiga, 
mas, a despeito desta tradição comum, cada cidade-estado era autônoma em 
sua constituição política. “Entre os produtos marcantes do que é chamado de 
“milagre grego” [...], o mais característico é essa forma política original que é a 
Polis, a Cidade” (CHÂTELET; DUHAMEL; PISIER-KOUCHNER, 1985, p. 13).
Talvez se possa dizer que polis é resultado de extensa trajetória temporal 
que envolveu a colonização e conformação da Hélade a partir do II milênio a.C., 
marcada por políticas estruturais arcaicas, até o século VIII a.C., quando da 
conformação da cidade-estado de Esparta e Atenas, entre outras. Para o filósofo e 
historiador da filosofia política, o francês Philippe Nemo: “A Cidade grega surgiu 
graças a uma catástrofe: a destruição, por volta de 1200 a.C., das monarquias 
centralizadas de caráter sagrado do tipo miceniano existentes na Grécia. Seguiu-
se uma longa Idade Média, séculos obscuros de que emergiu, finalmente, 
em meados do século VIII, uma realidade inaudita, produto de um ‘salto’ da 
evolução, a Cidade” (NEMO, 2005, p. 17).
O surgimento da polis fragmenta o poder mágico-religioso das monarquias 
micenianas, que centralizava o exercício do poder. A cidade grega passa a ser 
governada por magistrados que assumem as diversas funções administrativas. 
“A monarquia cedeu lugar à república. O poder político tornou-se coletivo – foi 
colocado en to meson, no meio da comunidade tornando-se ‘assunto de todos’” 
(NEMO, 2005, p. 17). A cidade de Atenas foi a protagonista desta transição, “onde 
por volta do ano 600 a.C. – Dracón e Sólon sucessivamente, foram encarregados 
de enunciar os princípios ordenadores das relações entre os membros da 
coletividade” (CHÂTELET; DUHAMEL; PISIER-KOUCHNER, 1985, p. 13).
Estes legisladores instauram os princípios fundamentais que irão reger a 
vida na polis “determinando com precisão a participação de cada um na defesa 
e na gestão das questões comuns da Cidade, as instâncias de onde devem provir 
as decisões que envolvem a coletividade, a arbitragem dos conflitos e a punição 
dos crimes e dos delitos” (CHÂTELET; DUHAMEL; PISIER-KOUCHNER, 1985, 
p. 14). Surge, assim, o espaço público onde os principais magistrados conduzem 
o debate político e a tomada de decisões de interesse da polis. “Ágora, a praça 
em que eram realizadas as assembleias dos cidadãos, e a mudança de estatura 
da escrita, que se tornou o meio de publicar os pensamentos, de oferecê-los ao 
julgamento de um público anônimo” (NEMO, 2005, p. 18).
Desde seus primórdios, a polis é locus par excellence da palavra. É por meio da 
palavra e do discurso, do exercício do contraditório como condição do exercício da 
política, que se instituem os debates na ágora, pois “o sistema da polis é primeiramente 
uma extraordinária preeminência da palavra sobre todos os outros instrumentos 
de poder. Torna-se instrumento político por excelência, a chave de toda autoridade 
UNIDADE 1 | ORIGENS DO PENSAMENTO POLÍTICO
10
no Estado, o meio de comando e de domínio de outrem” (VERNANT, 1986, p. 34). 
A participação no espaço público, na ágora requeria o domínio da palavra, a arte 
do discurso, na medida em que as questões políticas estratégicas para afirmação 
e manutenção da Cidade exigiam o alcance do consenso por meio do exercício do 
contraditório. “Todas as questões de interesse geral que o soberano tinha por função 
regularizar e que definem o campo da arché são agora submetidas à arte oratória e 
deverão resolver-se na conclusão de um debate” (VERNANT, 1986, p. 35).
Sob tais pressupostos, é possível compreender porque tais autores situam 
o surgimento da polis como um “acontecimento” civilizatório decisivo. É na polis 
que se constitui a arte da política como arte do discurso, do comércio da palavra, 
a partir da qual os cidadãos colocam em disputa seus interesses privados, sob a 
condição de preservação do espaço público. Mais do que isto, é na preservação do 
espaço público onde se institui o debate, o exercício da palavra, do discurso que o 
cidadão transcende a existência como um mero fato biológico (zoé), submetido às 
leis da natureza e, qualifica sua vida (bios) ao contribuir com as condições públicas 
necessárias ao bem viver, a busca da felicidade. “A arte da política é essencialmente 
exercício da linguagem; e o logos, na origem, toma consciência de si mesmo, de suas 
regras, de sua eficácia, através da função política” (VERNANT, 1986, p. 35).
A polis e, em seu centro, a ágora como espaço do exercício da linguagem, 
do discurso, do comércio da palavra constitutivos da arte da política requerem 
a garantia da liberdade de expressão dos cidadãos, bem como o acesso irrestrito 
aos mais diversos discursos que se apresentam no espaço público. 
Uma característica da polis é o cunho de plena publicidade dada às 
manifestações mais importantes da vida social. [...] a polis existe 
apenas na medida em que se distinguiu um domínio público, nos dois 
sentidos diferentes, mas solidários do termo: um setor de interesse 
comum, opondo-se aos assuntos privados (VERNANT, 1986, p. 35).
Esta efervescência política constitutiva da polis pressupõe uma concepção 
jurídico-antropológica que superasse tendências de exercício tirânicas, ou 
aristocráticas que estiveram na origem da polis. “A polis no início (século VIII a.C.) 
é uma cidade-estado aristocrática, dominada por proprietários de terra. [...] tal 
aristocracia se enfraquece, tanto devido à competição entre os referidos proprietários, 
quanto pelo desenvolvimento do comércio e da colonização [...]” (ASSMANN; 
DUTRA, 2008, p. 10). Participar da ágora, do espaço público, exigia que os indivíduos 
se reconhecessem como “membros da sociedade civil, com acesso ao espaço público, 
aceitavam-se, de forma cada vez mais natural, como semelhantes, homoïoï, e iguais, 
isoï (NEMO, 2005, p. 18). A posição do homem grego na comunidade desvincula-se 
da condição de súdito em relação ao poder soberano do rei, bem como desvincula-
se de determinações religiosas, ou de linhagens sanguíneas “para se basear em sua 
capacidade para, de um lado, combater na falange dos hoplitas e, de outro, apresentar 
argumentos racionais na ágora” (NEMO, 2005, p. 18).
O homem grego liberto de distinções e estruturas hierárquicas, que 
cerceavam o uso público da razão encontra-se em condições de igualdade 
TÓPICO 1 | MUNDO GREGO ANTIGO: A PHXSIS, A POLIS E A DEMOCRACIA
11
discursiva, que lhe permitem observar, analisar, questionar qualquer discurso, 
seja o discurso de um magistrado, de um notável, ou mesmo de um cidadão 
humilde. Sob tais condições, qualquer cidadão poderia ser substituído por 
qualquer outro cidadão na medida em que não estivesse comprometido com a 
polis, com a afirmação do espaço público. “Surge, assim, um homem abstrato, 
igual a todos os outros perante a lei, no duplo sentido em que estava submetido 
a ela e participava de sua elaboração” (NEMO, 2005, p. 19).
Estamos diante do nascimento e afirmação do cidadão grego. O grego 
antigo tem ciência de que o exercício da cidadania se constituiu a partir da garantia 
e constante afirmação da igualdade entre os cidadãos que efetiva na esfera do 
uso público da razão e do direito. É importante, neste momento, ressaltar a 
constituição de polis, da cidade comunidade na forma apresentada até o presente 
momento, não se apresenta em totalidade de transformações extensiva a todas 
as cidades da comunidade grega. Tais mudanças de concepção antropológica, 
política e jurídica, bem como o próprio desenvolvimento da filosofia, é um 
fenômeno que se apresenta com maior intensidade em Atenas.
No que concerne ao exercício da cidadania é importante ter presente que 
em Atenas, somente eram considerados e admitidos como cidadãos na ágora os 
indivíduos que possuíam condições econômicas suficientes, que lhes permitissem 
dispor de tempo livre para o exigente exercício da política. Ou seja, exigia-se para 
o exercício da cidadania que o cidadão possuísse uma oikonomia suficiente para o 
cumprimento dacidadania que era participar ativamente dos debates públicos, 
assumir cargos administrativos quando convocado para tal função, bem como 
defender a cidade diante de ameaças estrangeiras. 
Possuir uma oikonomia significa possuir uma casa (oikos), escravos, 
trabalhadores, membros da família, a partir dos quais se estabeleciam e governavam 
as relações de produção material necessárias à manutenção da vida biológica. 
Aqui se fazem necessárias duas observações que talvez possibilitem compreender 
aspectos da cosmovisão constitutiva da polis, cujos reflexos se apresentam em 
nossa contemporaneidade. A primeira reside no fato de que no mundo antigo a 
“economia” é compreendida majoritariamente como oikonomia. Atividade que se 
constitui no espaço das sombras (oikos) e cujas leis (nomia) gerais vinculam-se à 
atividade da produção e do consumo, necessárias à manutenção da vida biológica, 
definida pelos gregos pelo termo zoé. A segunda observação se circunscreve no 
fato de que as exigências da sobrevivência, do trabalho cotidiano impostas pela 
oikonomia impedem o exercício da vida qualificada, que os gregos designavam pelo 
termo bíos, e que somente se constitui pelo pleno exercício da política.
Os gregos não possuíam um termo único para exprimir o que nós 
queremos dizer com a palavra vida. Serviam-se de dois termos, 
semântica e morfologicamente distintos, ainda que reportáveis a um 
étimo comum: zoe, que exprimia o simples fato de viver comum a 
todos os seres vivos (animais, homens e deuses) e bíos, que indicava a 
forma ou maneira de viver própria de um indivíduo ou de um grupo 
(AGAMBEN, 2002, p. 9).
UNIDADE 1 | ORIGENS DO PENSAMENTO POLÍTICO
12
A partir destas perspectivas, escravos, estrangeiros, artesãos, trabalhadores 
e mulheres não alcançavam o título de cidadãos e, portanto, não participavam 
dos debates na ágora e, por decorrência lógica, da cidadania ateniense. 
A simples vida natural é, porém, excluída, no mundo clássico, da 
polis propriamente dita e resta firmemente confinada, como mera 
vida reprodutiva, ao âmbito do oikos. [...] a meta da comunidade 
perfeita, ele o faz justamente opondo o simples fato de viver (to zên) 
à vida politicamente qualificada (to eu zen): ginoméne mèn oûn toû zen 
béneken, oûsia dè toû eû zên “nascida em vista do viver, mas existente 
essencialmente em vista do viver bem” [...] (AGAMBEN, 2002, p. 10).
Ainda no âmbito das realizações do mundo grego antigo, a polis se constitui 
no locus privilegiado da distinção entre physis e nomos. As leis da physis são 
invariáveis. Submetem os homens e as demais formas de vida às leis da necessidade 
em sua condição cíclica do nascimento, do desenvolvimento e da morte a que 
estão submetidos todos os seres que vem à existência. Aos seres humanos compete 
contemplar diuturnamente os imperativos advindos das leis da necessidade. 
Quando bem-sucedidas as intervenções humanas em tais leis apenas conseguem 
retardar, ou acelerar determinados fenômenos naturais, que incidem sobre sua 
vida biológica. No reino da necessidade circunscrito pela physis não há espaço para 
o exercício da liberdade, apenas a obediência ao reino da necessidade.
 
No entanto, os gregos reconhecem o equilíbrio, a harmonia e a beleza no 
jogo de forças cosmológicas constitutivas das leis de physis. As leis da necessidade 
obedecem a uma teleologia, a uma finalidade que, em fundo último, vinculam-se 
à própria manutenção da physis em sua totalidade. A constituição da polis, como 
espaço público do bem viver, do alcance da felicidade, condição teleológica que 
constitui a condição humana requer se transcenda as leis da necessidade da physis, 
transpondo seus princípios de equilíbrio, harmonia e beleza como mediadoras 
das relações humanas no espaço público. Trata-se da “ideia de que a própria lei, 
sendo humana, podia ser modificada livremente pelo homem e de que a ordem 
social podia ser modificada livremente pelo homem e de que a ordem social podia 
ser submetida à crítica e à mudança” (NEMO, 2005, p. 20).
A perspicácia dos gregos antigos transcende as leis da necessidade da 
physis, ao instituir o nomos (a lei, regra). Superam a necessidade imediata da lei 
para normatizar ações administrativas, a conduta dos governantes, bem como os 
direitos e deveres dos cidadãos. Mas, constatam que a legalidade da norma não 
se encerra em si mesmo. Ou seja, que a afirmação da legalidade de uma lei não é 
condição imediata de sua legitimidade, ou mesmo que não será suficiente para a 
manutenção ágora, do espaço público. Assim, os gregos constatam a necessidade 
constante da “discussão radical sobre as próprias regras da vida social. O que 
pressupunha uma tomada de consciência sobre a autonomia da ordem social em 
relação a ordem natural” (NEMO, 2005, p. 20).
O que está em jogo é o fato de que os gregos antigos constatam que a 
instituição da legalidade, ao fundar a ordem artificial criada pelos homens, 
TÓPICO 1 | MUNDO GREGO ANTIGO: A PHXSIS, A POLIS E A DEMOCRACIA
13
constitutiva do mundo humano é “variável segundo os tempos e os lugares, 
submetida a críticas e reformas, a do nomos, resultante de uma convenção” 
(NEMO, 2005, p. 20).
Neste contexto, de criação e afirmação da polis, os gregos constatam que 
sua manutenção e constante aperfeiçoamento dependem, entre outros fatores já 
anunciados, de uma sólida formação humana e intelectual de seus membros. É 
sob tais pressupostos que se desenvolve uma proposta educacional que contemple 
uma formação integral suficiente para o exercício da cidadania. Surge a “Paideia” 
que constitui a proposta grega antiga de educação.
 
É fácil de compreender como pôde surgir a franca admiração por uma 
figura distinta, uma educação adequada e um movimento nobre, numa 
raça de homens acostumados, desde tempos imemoriais, a considerar 
estes valores como a mais alta excelência humana, e que, numa luta 
incessante, se tinha esforçado, com sagrada seriedade, por levar as 
forças do corpo e da alma à sua maior perfeição (JAEGER, 1995, p. 240).
É importante ter presente que a constituição de uma proposta educacional 
por parte de uma comunidade, ou de um povo, pressupõe a vontade manifesta 
deste povo em repassar às jovens gerações, os hábitos, os costumes, as crenças 
e, sobretudo, a ciência alcançada e acumulada em seus múltiplos campos de 
saber, sejam eles as ciências exatas, as ciências naturais e humanas. Este empenho 
educacional está comprometido com a manutenção da memória de seus principais 
líderes e representantes, com a formação adequada das crianças e dos jovens 
como forma de manutenção da condição civilizatória alcançada, e de seu grau de 
distinção frente às outras comunidades e povos. “É somente como o surgimento 
de uma ciência desinteressada, ‘liberal’, como atividade unicamente intelectual 
e desembaraçada de qualquer modalidade técnica, esportiva ou militar, que se 
criam as condições para organizar uma instituição especial dedicada a transmiti-
la à juventude” (NEMO, 2005, p. 25).
Sob tais pressupostos é fundamental reconhecer que o desenvolvimento social, 
político, econômico e institucional de um povo está intimamente vinculado à excelência 
de sua proposta educacional. Assim, aprendemos com os gregos que a desconsideração 
com a educação é o caminho mais rápido para a mediocridade civilizatória. 
3 O QUE OS GREGOS COMPREENDIAM POR 
DEMOCRACIA
Do ponto de vista etimológico, ciência que se caracteriza pelo estudo da 
origem dos termos, das palavras, democracia deriva do termo grego demokratía. 
Esta palavra é conformada a partir da junção das palavras “povo” (demos) e 
“domínio” (kratein). Nesta perspectiva, constitui-se o conceito de democracia 
vinculado ao domínio do povo, vontade do povo, em nome do povo, ou governo 
do povo. 
UNIDADE 1 | ORIGENS DO PENSAMENTO POLÍTICO
14
A democracia, no sentido etimológico da palavra, significa o 
“governo do povo”, o “governo da maioria”. Prevalece nesta primeira 
aproximação deste fenômeno político uma definição quantitativa. 
Basta lembrarque a democracia, na antiguidade grega, mais 
particularmente em Heródoto, é uma “forma de governo” entre duas 
outras: a monarquia ou “governo de um só” e a “aristocracia ou 
“governo de alguns” (ROSENFIELD, 1980, p. 7).
Talvez se possa afirmar que a questão da democracia para os gregos 
antigos não se apresenta como uma questão quantitativa, em que todos “devem” 
participar. Mas, se apresenta no âmbito qualitativo ao se questionarem sobre 
qual a melhor forma de governo. “Observa-se que a questão concernente 
à ‘forma de governo’ é, para o pensamento antigo, uma questão vital que diz 
respeito ao próprio valor de uma determinada forma de organização da política” 
(ROSENFIELD, 1980, p. 7). Afinal, trata-se do governo da polis, do espaço público 
que se constitui a possibilidade de uma vida qualificada, do bem viver, da busca 
da felicidade. É neste sentido que Heródoto apresenta uma classificação dos 
diversos regimes de governo: 
• O bom regime é aquele no qual comanda apenas um — a monarquia 
—, que governa para sua glória e a de seus súditos?
• ou aquele no qual comanda uma minoria — a oligarquia —, 
constituída de cidadãos reconhecidos como “superiores” por seu 
nascimento, sua riqueza, sua competência religiosa ou militar?
• ou aquele onde comanda a maioria — a democracia —, maioria 
constituída pela população dos camponeses, dos artesãos, dos 
comerciantes, dos marinheiros? (CHÂTELET; DUHAMEL; PISIER-
KOUCHNER, 1985, p. 16). 
DICAS
Heródoto — Historiador grego (485-425 a.C.). Também conhecido como o "Pai 
da História". Enquanto muitos homens recebem o crédito de terem "moldado" a história, há 
um de quem se pode dizer que a "criou". Heródoto desenvolveu os meios pelos quais nós, 
do mundo ocidental, podemos saber e avaliar a história e seus momentos mais importantes. 
Nascido em Halicarnasso, na Ásia Menor, ele teve um papel importante na revolução 
contra o tirano Lídames. Posteriormente, mudou-se para Atenas, onde começou a anotar 
sistematicamente a história de sua própria época — particularmente as guerras entre Grécia 
e Pérsia — e os fatos que a precederam. Embora acontecimentos anteriores já houvessem 
sido registrados, Heródoto é considerado o "Pai da História", por ter sido o primeiro homem 
a tentar um estudo ordenado e objetivo das inter-relações entre os eventos históricos. 
Heródoto viajou para o Egito e percorreu o Mediterrâneo, estudando as culturas dessas 
regiões e registrando os fatos do modo mais fiel possível para a época. Ao teorizar sobre a 
História, ele aplicou a tradicional ideia grega da moderação, ou meio termo, segundo a qual 
o equilíbrio é desejável, e o excesso e o desequilíbrio são a receita para o desastre. Devido a 
essa teoria, o arrogante Xerxes I estava inevitavelmente condenado à derrota.
FONTE: <https://www.sohistoria.com.br/biografias/herodoto/>. Acesso em: 27 mar. 2019.
TÓPICO 1 | MUNDO GREGO ANTIGO: A PHXSIS, A POLIS E A DEMOCRACIA
15
Por volta do século VIII a.C., Atenas era uma cidade-estado governada 
pela aristocracia e controlada politicamente pelos grandes proprietários de terra. 
Durante os séculos subsequentes, significativas transformações ocorreram, com 
significativas repercussões na ordem da política e da organização da cidade-
estado, entre as quais: a) o desenvolvimento do comércio com as demais cidades-
estados, com os povos circunvizinhos da Europa ocidental, do oriente próximo, 
do norte da África; b) aumento das desavenças internas e a competição entre os 
proprietários de terra; c) melhorias na capacidade militar substituindo a cavalaria 
pela infantaria composta por hoplitas, soldados que se apresentavam nos campos 
de batalha revestidos de armaduras, o que se apresentava como vantagem em 
combate; d) a constituição de uma frota marítima consistente que contribuíra para 
que Atenas se transformasse numa potência militar por volta do século V a.C., 
levou ao enfraquecimento da aristocracia por um lado e, por outro, ao aumento 
do número de cidadãos.
É neste contexto que se estabelece um quadro conflitivo entre a 
aristocracia decadente e sua resistência em relação à permanência no poder e, as 
reivindicações do povo (demos) de maior participação na vida política da polis. Foi 
com Sólon (638 – 558 a.C.), estadista, legislador e poeta, que governou Atenas no 
ano de 594 a.C., que se constituiu a polis como espaço público comum, em que os 
interesses individuais foram submetidos a regras coletivas e compartilhadas que 
se alcançou uma solução para o conflito. 
A diké (justiça), embora continue divina, passa a ser reconhecida 
também como humana. As leis apresentam-se ditadas pelo Oráculo 
de Délfos, mas adquirem uma conotação comunitária. A força (kratos) 
da lei, que recorre também à violência, cria um espaço intermediário 
público e neutro para além dos interesses das facções. E tal espaço 
absorve também a religião (ASSMANN; DUTRA, 2008, p. 11).
Por volta do século VI a.C., após o conjunto de reformas política, econômica 
e social realizadas por Sólon, em Atenas, apresenta-se, novamente, um período 
conflituoso envolvendo famílias da aristocracia, que instituem no governo a tirana 
de Pisístrato (600 – 528 a.C.). Pisístrato, governou Atenas no período de 546 a 527 
a.C. e tomou uma série de medidas no campo econômico, que contribuíram para 
a prosperidade de Atenas. No campo político preservou os avanços implantados 
por Sólon. Porém, procurou favorecer seus aliados indicando-os para os principais 
cargos administrativos e jurídicos da polis. Vencidos, a tirania e sua sequência 
de governos, foi com Clístenes (565 a 492 a.C.), a partir do século V a.C., por 
volta de 508 a.C., que a democracia se afirmou e permaneceu como um regime de 
governo razoavelmente estável durante 180 anos, até por volta do ano de 322 a.C. 
O período áureo da democracia ateniense foi alcançado entre as décadas de 440 a 
430 a.C., também conhecido como o “século de Péricles”.
No final do século VI a.C. e durante a segunda metade do século seguinte, 
o poder democrático realizou uma série de reformas que estenderam 
o estatuto de cidadãos plenos à totalidade dos habitantes masculinos 
nascidos atenienses, assegurando-lhes assim a igualdade diante da lei 
(isonomia) e o acesso às magistraturas. É instituída uma centena de 
UNIDADE 1 | ORIGENS DO PENSAMENTO POLÍTICO
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municipalidades, agrupadas em dez tribos, que são administradas por 
um conselho que compreende todos os cidadãos nelas englobados. O 
poder central é exercido pela Assembleia Popular, que reúne todos 
os cidadãos dez vezes por ano e nas circunstâncias graves; é ela que 
toma as decisões soberanamente, adota decretos, elege os magistrados 
encarregados do executivo, designa de seu seio os membros das câmaras 
de justiça; e o faz por maioria, todo cidadão tendo direito de palavra. 
As magistraturas executivas — dos estrategistas aos inspetores dos 
mercados — são colegiais, limitadas; e necessitam-se de sérias razões 
para que um magistrado seja reeleito para suas funções (CHÂTELET; 
DUHAMEL; PISIER-KOUCHNER, 1985, p. 16).
Péricles (495 – 429 a.C.) foi um general, político e orador eloquente, 
considerado um dos principais defensores da democracia ateniense. Péricles 
uniu as demais cidades-estados gregas na Liga Délia durante as guerras médicas, 
sobretudo procurando proteger-se dos ataques persas. Tais prerrogativas 
fortaleceram Atenas e a transformaram num centro político, econômico e 
cultural e educacional da Grécia Antiga. É neste contexto, favorável à afirmação 
da democracia que se institui o princípio da isonomia, “todos passam a estar 
submetidos à mesma lei, enquanto a rotatividade e o sorteio na participação em 
cargos públicos indicam que todos dispõem da mesma Arete e podem participar 
igualitariamente na vida comunitária” (ASSMANN; DUTRA, 2008, p. 11).
A democracia ateniense consolida assim “o princípio do governo pela lei 
e o da liberdade individual que lhe está indissoluvelmente associado, base cívica 
da qual serão construídos os Estados de direitomodernos” (NEMO, 2005, p. 20). 
O princípio do governo pela lei afirma a prerrogativa de que todos os cidadãos 
estão submetidos a uma única regra. Imparcial. Estabelece condições iguais para 
todos os cidadãos. “A regra é pública, conhecida antecipadamente, bem definida 
e estável, o cidadão sabe a priori como agir para não ser submetido à coerção de 
quem quer que seja” (NEMO, 2005, p. 21).
Ciente das normas gerais, dos direitos e deveres que possui com a polis, é 
de responsabilidade do cidadão agir respeitosamente em relação aos direitos dos 
demais cidadãos e da polis, evitando assim o litígio com ambas as partes, bem 
como comprometer-se com a manutenção e fortalecimento do espaço público.
A característica de um regime de liberdade é o fato de estar respaldado 
apenas em regras gerais e não em ordens particulares ou ordens dadas 
em nome de todos. O juiz ou o governante dão ordens particulares 
somente nos casos em que se trate de preencher as inevitáveis lacunas 
da lei. Definitivamente, o que os gregos inventaram não foi, como 
se afirma habitualmente, a democracia, mas o “Estado de direito”. 
[...]. Pela primeira vez na História, um sistema social admite não ser 
fundado em comunidade de origem (NEMO, 2005, p. 22).
A democracia ateniense manteve-se consistente até por volta do ano 430 
a.C. Em função de derrotas sofridas na guerra contra Esparta e, por extensão de 
crise econômica, dificuldade de gerenciamento de conflitos internos, fragilização 
da liderança ateniense no contexto do mundo grego antigo, desencadeia-se uma 
profunda crise da democracia. Porém, o período da crise ateniense resultará num 
TÓPICO 1 | MUNDO GREGO ANTIGO: A PHXSIS, A POLIS E A DEMOCRACIA
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conjunto de reflexões sobre os meios e fins da política, os diversos regimes de 
governo, a fragilidades da democracia, que atravessam a civilização ocidental 
e chegam aos nossos dias. Parte significativa das questões e tensões políticas 
que as sociedades contemporâneas vivenciam, salvaguardas as especificidades 
temporais se encontram refletidas em seus pormenores no pensamento de 
Sócrates, Platão e Aristóteles. Mas, no que concerne especificamente a democracia, 
os gregos nos legaram a percepção de que sua afirmação e manutenção estão 
vinculados ao comprometimento de todos os cidadãos com o debate diuturno no 
espaço público em torno da preservação do bem comum. 
[...] Pericles. O que ele compreendera e seus sucessores haviam 
esquecido, é que a democracia — o melhor dos regimes de políticos, 
por garantir a isonomia e assegurar as liberdades privadas — exige 
uma constante atenção de todos os cidadãos. Ela só subsiste se os 
dirigentes que o povo escolheu não deixarem nunca de calcular 
e refletir sobre suas decisões. Regime de liberdade que leva aos 
grandes empreendimentos, ela entra em colapso quando esses não 
são conduzidos somente pelo princípio da inteligência (o nous), do 
intelecto calculador que não apenas elabora estratégias de prudência, 
mas visa também a não lesar nem favorecer nenhum dos grupos 
constitutivos da coletividade (CHÂTELET; DUHAMEL; PISIER-
KOUCHNER, 1985, p. 17).
Ao que tudo indica e, no atual contexto da sociedade brasileira, urge 
retornar ao pensamento político grego antigo se quisermos compreender 
suficientemente o que significa construir um Estado democrático de direito, bem 
como afirmar que vivemos numa democracia. A afirmação de que vivemos numa 
sociedade democrática a partir do funcionamento das instituições, da liberdade de 
opinião pública, da preservação das liberdades individuais, do dever de votar, da 
garantia de propriedade, bem como dos contratos com rentistas e, fundos privados 
operadores da economia financeirizada não demonstra consistência democrática. 
Ou, dito de outro modo, democracia exige comprometimento dos cidadãos com a 
distinção entre espaço público e privado, entre interesses individuais e coletivos. 
A democracia é a esfera por excelência da ação comum na primazia da dimensão 
pública. Todo e qualquer discurso que se anuncia democrático desconsiderando 
tal condição é ilegítimo.
NOTA
UMA CIDADANIA REDUZIDA A DADOS BIOMÉTRICOS
Giorgio Agamben
 “A segurança está entre aquelas palavras com sentidos tão abrangentes que nós nem 
prestamos mais muita atenção ao que ela significa. Erigido como prioridade política, esse 
apelo à manutenção da ordem muda constantemente seu pretexto (a subversão política, o 
terrorismo…), mas nunca seu propósito: governar as populações” (GIORGIO AGAMBEN).
UNIDADE 1 | ORIGENS DO PENSAMENTO POLÍTICO
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 A expressão “por razões de segurança” funciona como um argumento de autoridade 
que, cortando qualquer discussão pela raiz, permite impor perspectivas e medidas inaceitáveis 
sem ela. É preciso opor-lhe a análise de um conceito de aparência banal, mas que parece ter 
suplantado qualquer outra noção política: a segurança.
 Poderíamos pensar que o objetivo das políticas de segurança seja simplesmente 
prevenir os perigos, os problemas ou mesmo as catástrofes. A genealogia remonta a origem 
do conceito ao provérbio romano “Salus publica suprema lex” – “A salvação do povo é a lei 
suprema” – e, assim, a inscreve no paradigma do estado de exceção. Pensemos no senatus 
consultum ultimum e na ditadura em Roma;1 no princípio do direito canônico, segundo o 
qual “necessitas legem non habet” (“necessidade não tem lei”); nos Comitês de Salvação 
Pública2 durante a Revolução Francesa; ou ainda no artigo 48 da Constituição de Weimar 
(1919), fundamento jurídico do regime nacional socialista, que igualmente mencionava a 
“segurança pública”.
 Embora correta, essa genealogia não permite compreender os dispositivos de 
segurança contemporâneos. Os procedimentos de exceção visam uma ameaça imediata 
e real, que deve ser eliminada ao se suspender por um período limitado as garantias da lei; 
as “razões de segurança” de que falamos hoje constituem, ao contrário, uma técnica de 
governo normal e permanente.
 Mais do que no estado de exceção, Michel Foucault3 aconselha procurar a origem 
da segurança contemporânea no início da economia moderna, em François Quesnay (1694-
1774) e nos fisiocratas.4 Se pouco depois do Tratado de Vestfália (1648)5 os grandes Estados 
absolutistas introduziram em seus discursos a ideia de que a soberania deveria velar pela 
segurança de seus súditos, foi preciso esperar Quesnay para que a seguridade — ou melhor, 
a “segurança” — se tornasse o conceito central da doutrina do governo.
 
 Seu artigo consagrado aos “Grãos” na Enciclopédia permanece, dois séculos e 
meio depois, indispensável para compreender o modo de governo atual. Voltaire diz que, 
desde que esse texto surgiu, os parisienses pararam de discutir teatro e literatura para falar de 
economia e agricultura… Um dos principais problemas que os governos então precisavam 
enfrentar era o da escassez de alimento e a fome. Até Quesnay, eles tentavam preveni-los 
criando celeiros públicos e proibindo a exportação de grãos. Mas essas medidas preventivas 
tinham efeitos negativos sobre a produção. A ideia de Quesnay foi inverter o procedimento: 
em vez de tentar prevenir a fome, era preciso deixá-la acontecer e, pela liberação do 
comércio exterior e interior, governá-la quando ocorresse. “Governar” retoma aqui seu 
sentido etimológico: um bom piloto – aquele que detém o governo – não pode evitar a 
tempestade, mas, se ela ocorre, ele deve ser capaz de dirigir seu barco.
 É nesse sentido que devemos compreender a expressão atribuída a Quesnay, mas 
que, na verdade, ele nunca escreveu: “Laisser faire, laisser passer”. Longe de ser apenas a divisa 
do liberalismo econômico, ela designa um paradigma de governo que situa a segurança – 
Quesnay evoca a “segurança dos agricultores e trabalhadores” — não na prevenção dos 
problemas e desastres, mas na capacidade de canalizá-los numa direção útil.
 É preciso considerar a implicação filosófica dessa inversão que perturba a relação 
hierárquica tradicional entre as causas e os efeitos: pois é vão, ou de qualquermodo 
custoso, governar as causas, é mais útil e mais seguro governar os efeitos. A importância 
desse axioma não é negligenciável: ele rege nossas sociedades, da economia à ecologia, da 
política externa e militar às medidas internas de segurança e de polícia. É ele também que 
permite compreender a convergência antes misteriosa entre um liberalismo absoluto na 
economia e um controle de segurança sem precedentes.
 Tomemos dois exemplos para ilustrar essa aparente contradição. Primeiro, o da 
água potável. Ainda que se saiba que esta vai logo faltar numa grande parte do planeta, 
TÓPICO 1 | MUNDO GREGO ANTIGO: A PHXSIS, A POLIS E A DEMOCRACIA
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nenhum país segue uma política séria para evitar seu desperdício. Ao contrário, vê-se se 
desenvolverem e se multiplicarem, nos quatro cantos do globo, as técnicas e usinas para o 
tratamento de águas poluídas – um mercado considerável no futuro.
 Segundo exemplo. Consideremos no presente os dispositivos biométricos, que são 
um dos aspectos mais inquietantes das tecnologias de segurança atuais. A biometria surgiu 
na França na segunda metade do século XIX. O criminologista Alphonse Bertillon (1853-
1914) se apoiaria na fotografia signalética e nas medidas antropométricas para constituir 
seu “retrato falado”, que utiliza um léxico padronizado para descrever os indivíduos numa 
ficha com seus sinais. Pouco depois, na Inglaterra, um primo de Charles Darwin e grande 
admirador de Bertillon, Francis Galton (1822-1911), desenvolveu a técnica das impressões 
digitais. Esses dispositivos, evidentemente, não permitem prevenir os crimes, mas perseguir 
criminosos reincidentes. Encontramos aqui ainda a concepção de segurança dos fisiocratas: 
é apenas com o crime cometido que o Estado pode intervir com eficácia.
 Pensadas para os delinquentes recidivos e os estrangeiros, as técnicas 
antropométricas permaneceram por muito tempo privilégio exclusivo deles. Em 1943, o 
Congresso dos Estados Unidos recusou o Citizen Identification Act (Ato de Identificação do 
Cidadão), que visava dotar todos os cidadãos de carteiras de identidade com suas impressões 
digitais. Foi apenas na segunda metade do século XX que elas se generalizaram. Mas a 
última novidade aconteceu há pouco tempo. Os scanners ópticos, que permitem revelar 
rapidamente as impressões digitais e a estrutura da íris, fizeram os dispositivos biométricos 
sair das delegacias de polícia para ancorar na vida cotidiana. Em certos países, a entrada nas 
cantinas escolares é controlada por um dispositivo de leitura óptica sobre o qual a criança 
pousa a mão distraidamente.
Leis mais severas que no fascismo
 Preocupações se acumulam sobre os perigos de um controle absoluto e sem 
limites por parte de um poder que disporia de dados biométricos e genéticos de seus 
cidadãos. Com essas ferramentas, o extermínio dos judeus (ou qualquer outro genocídio 
imaginável), baseado numa documentação incomparavelmente mais eficaz, teria sido total 
e extremamente rápido. Em matéria de segurança, a legislação hoje em vigor nos países 
europeus é, em certos aspectos, sensivelmente mais severa do que a dos Estados fascistas 
do século XX. Na Itália, um texto único das leis sobre segurança pública (Testo Unico delle 
Leggi di Pubblica Sicurezza, Tulsp) adotado em 1926 pelo regime de Benito Mussolini está, 
no essencial, ainda em vigor; mas as leis contra o terrorismo votadas durante os “anos de 
chumbo” (de 1968 ao início dos anos 1980) restringiram sensivelmente as garantias nele 
contidas. Como a legislação francesa contra o terrorismo é ainda mais rigorosa que sua 
homóloga italiana, o resultado de uma comparação com a legislação fascista não seria 
muito diferente.
 A crescente multiplicação de dispositivos de segurança testemunha uma mudança 
na conceituação política, a ponto de podermos legitimamente nos perguntar não apenas se 
as sociedades em que vivemos ainda podem ser qualificadas de democráticas, mas também 
e acima de tudo se elas ainda podem ser consideradas sociedades políticas.
 No século V a.C., como demonstrou o historiador Christian Meier, uma 
transformação do modo de conceber a política já tinha se produzido na Grécia, por meio 
da politização (Politisierung) da cidadania. Uma vez que o pertencimento à cidade (a polis) 
era até então definido pelo estatuto e pela condição — nobres e membros das comunidades 
culturais, agricultores e comerciantes, senhores e clientes etc. —, o exercício da cidadania 
política se tornou um critério da identidade social. “Cria-se assim uma identidade política 
especificamente grega, na qual a ideia de que os indivíduos devem se conduzir como 
cidadãos encontra uma forma institucional”, escreve Meier. “O pertencimento a grupos 
constituídos com base nas comunidades econômicas ou religiosas foi relegado a segundo 
UNIDADE 1 | ORIGENS DO PENSAMENTO POLÍTICO
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plano. À medida que os cidadãos de uma democracia se dedicavam à vida política, eles 
compreendiam a si mesmos como membros da polis. Polis e politeia, cidade e cidadania, 
se definem reciprocamente. A cidadania se torna assim uma atividade de uma forma de vida 
para aqueles para quem a polis, a cidade, constituía um domínio claramente distinto de oikos, 
a casa. A política se tornou um espaço público livre, oposto enquanto tal ao espaço privado 
onde reinava a necessidade.”6 Segundo Meier, esse processo de politização especificamente 
grego foi transmitido como herança à política ocidental, na qual a cidadania permaneceu — 
com altos e baixos, certamente — o fator decisivo.
 É precisamente esse fator que hoje está se revertendo de modo progressivo: trata-se 
de um processo de despolitização. Antes limiar da politização ativa e irredutível, a cidadania 
se tornou uma condição puramente passiva, em que a ação ou a inação, o público e o 
privado se desvanecem e se confundem. O que se concretizava por uma atividade cotidiana 
e uma forma de vida se limita hoje a um estatuto jurídico e ao exercício de um direito de voto 
cada vez mais parecido com uma pesquisa de opinião.
“Todo cidadão é um terrorista potencial”
 Os dispositivos de segurança têm desempenhado um papel decisivo nesse processo. 
A extensão progressiva a todos os cidadãos das técnicas de identificação outrora reservadas 
aos criminosos inevitavelmente afeta a identidade política. Pela primeira vez na história da 
humanidade, a identidade não é mais função da “pessoa” social e de seu reconhecimento, do 
“nome” e da “nominação”, mas de dados biológicos que não podem manter nenhuma relação 
com o sujeito, como os rabiscos sem sentido que meu polegar molhado de tinta deixou sobre 
a folha de papel ou a inscrição de seus genes na dupla hélice do DNA. O fato mais neutro e 
mais privado se torna assim o veículo de identidade social, removendo seu caráter público.
 Se critérios biológicos, que em nada dependem da minha vontade, determinam 
minha identidade, então a construção de uma identidade política se torna problemática. 
Que tipo de relação eu posso estabelecer com minhas impressões digitais ou com meu 
código genético? O espaço da ética e da política que estamos acostumados a conceber 
perde seu sentido e exige ser repensado a partir do zero. Enquanto a cidadania grega se 
definia pela oposição entre o privado e o público, a casa (sede da vida reprodutiva) e a cidade 
(lugar do político), a cidadania moderna parece evoluir numa zona de indiferenciação entre 
o público e o privado, ou, para tomar emprestadas as palavras de Thomas Hobbes, entre o 
corpo físico e o corpo político.
 Essa indiferenciação se materializa no vídeo de vigilância das ruas em nossas 
cidades. Tal dispositivo conheceu o mesmo destino que o das impressões digitais: concebido 
para prisões, ele tem sido progressivamente estendido para os lugares públicos. Um espaço 
vídeo vigiado não é mais uma ágora, não tem mais nenhuma característica pública; é 
uma zona cinzenta entre o público e o privado, a prisão e o fórum. Tal transformação tem 
uma multiplicidade de causas, entre as quais

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