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ANA MARIA FERREIRA BARCELOS INTRODUÇÃO Estudos recentes (Walker, 20„3i Paiva, 2003; Gimene2i 2005; Co„solo, sores Ha ' i'-ln pre0cuPaÿa0 r:'J,n a proficiência linguística de profes-linguis,iX«ptfessoÿsTC7Cr°<2004>' 3 Pr0fiCÍênd"não é ou não se cons,VI 1uestl°navel ,já que a grande maioria (2005) afirma- ÿ C°mPetenl:e na língua que ensina. Gimenez 38 ANA MARIA FERRE|ra BARCELOS a baixa proficiência do professor de inglês tem sido apontada«a das vilãs da qualidade de ensino oferecida nas escolas mantidas pelo Estado. Embora não se possa dizer que o quadro seja muito diferente nas esco as p ticulares de ensino regular, parece haver um consenso de que um om pro es sor de inglês é aquele que sabe se expressar oralmente naquela ingua (p. Gimenez dá exemplos de outros países, como os Estados Unidos, em que professores de línguas estrangeiras (LE) candidatos ao cargo de pro¬ fessor devem se submeter a testes, definidos regionalmente, de compre ensão oral, leitura e produção de textos, e expressão oral na LE. Esses testes cobram compreensão oral, leitura e produção de textos, além de expressão oral. Infelizmente, para admissão em escola pública no Brasil nossos professores de LE não são submetidos a esses tipos de testes nem a uma prova didática em LE. Existe apenas prova escrita. Talvez essa seja mais uma razão para as limitações linguísticas que muitos professores de LE apresentam. Se não forem cobrados para dar aulas em inglês, os pro¬ fessores não o farão. É importante definir o que seria essa proficiência linguística dos pro¬ fessores de LE no Brasil.De acordo com Martins (2005), o domínio de uso da língua específico para o professor de LE é definido como a capacidade de: (a) usar a língua-alvo tanto como meio quanto como objeto de ensino; (b) modificar o insumo para que ele seja compreensível ao aprendiz; (c) produzir insumo estruturado e adequado; (d) ser capaz de falar sobre a forma e o uso da língua por meio da própria língua (metalinguagem). Uma busca rápida na internet por dicas para proficiência de profes¬ sores de inglês não encontra muitos resultados. O que se encontra são dicas para alunos melhorarem suas habilidades linguísticas, comunicação e fluência; nada para os professores. Assume-se que professores já são proficientes na língua, e é o que deveria acontecer. Entretanto, sabemos que no Brasil, devido a vários fatores, tais como salas muito cheias em faculdades particulares, uso do português nas aulas de formação de pro¬ fessores, licenciatura dupla e nível linguístico dos alunos, muitas vezes, temos professores que não se sentem proficientes na língua, conforme ilustra depoimento de uma professora do PECPLI1, abaixo: A TT 1 PE<TP.LIr. |,roJeto de Educação Continuada para Professores de Língua Inglesda Universidade Federal de Viçosa, MG. 39 "I CAN 00 IT,": VENCER LIMITAÇÕES PESSOAIS NO USO DO INGLÊS Fui para o PECPLI, toda receosa, morta de vergonha de diftr Sim, moita vergonha. Eo era professora de hngua inglesa, mas * «„ quase nada falava em inglês! Eu corna dos professores de cursi„h"*"<> »» acreditava que eles fossem melhores do que eu (Ferreira, 20l0: 2l4')P°rqÿ O problema parece duplo. Além de não se considerarem propj . para lecionar, esse problema passa muitas vezes por indetectável p'ÿ ro,porque o professor mal usa a língua em sala, com nlgumas exe ~ segundo, porque, como já é professor, sente-se envergonhado de diz ÿ e' não fala a língua que ensina. Temos assim, mais um círculo vicioso ÿÿ sair dele? Como podemos ajudar os professores? °' 2.1. LIMITAÇÕES Professores que apresentam limitações de proficiência li sentem-se restritos na sua liberdade de se expressar na língua ueÿ nam. Acredito existirem dois tipos de limitações: ÿ 6 (a) sócio-histórico-políticas; (b) cognitivas e emocionais, referentes às crenças e emoções, que con-fluem nas conftgurações pessoais de cada um em relação a sna com-petencia linguística. V v, «xaiunco-pouticas letras!!?,,ÇÕeS SÓCÍ0-hisló'k°-P°»«caS se iniciam na gradação em problemas da forma!'de0"?' V4r'0S aUt°reS sinalizam °s Pa»a, 2003; Gimenez 2m r *™BraSil (WaU<et' aponta o "círculo viefoso" n' Assls-Paterson, 2008). Walker (2003)no ensino de inglês em nível nacional: grade curricular dc)8ÿ0ÿ03 3n0S de 'íngua estrangeira moderna na faculdade de letras enS'n° básico leva muitos estudantes a ingressar em muitas universidad ÿ n8nbum Gemínio de língua inglesa. Por sua vez, tais deficiências f0 8 'nSt'tutos de er|sino superior não conseguem supdr tura (Walker, 2003' profissionais fracos nos seus cursos de licencia- paiva (2003) também discorre sobre o círculo vicioso: 40 MAR|A FERREIRA BARCELOS Os cursos de letras não formam bons professores, esses professores não têm competência para ensinar a língua, o ensino básico não oferece um ensino de língua estrangeira de qualidade e seus egressos procuram o curso de letras para se transformarem em professores no prazo de três anos (p. 77). Para Gimenez (2011: 44), os problemas e desafios na formação de pro¬ fessores de inglês na contemporaneidade estão relacionados à "ausência de políticas educacionais que favoreçam o aprendizado de línguas estran¬ geiras no contexto escolar", "currículos desatualizados, descrença na es¬ cola, professores desmotivados, baixo desempenho dos alunos em tarefas comunicativas", além de condições precárias do ensino. Além desses problemas, temos as crenças atuantes em nossa socie¬ dade, entre elas as de vários pais que acreditam que não se aprende inglês na escola pública, de que o inglês da escola pública é "para tapear" (Cox & Assis-Peterson, 2008: 47). O professor precisa ter muitacoragem e resistên¬ cia para ser um revolucionário e acreditar justamente no contrário. Se ele acredita nessa crença difusa, provavelmente não se esforçará para falar inglês. Ou pode acreditar que a sala de aula é o lugar onde não se precisa falar inglês, já que todos acreditam nisso. Além dessas questões no contexto educacional, existem várias ques¬ tões de ordem prática, referentes às condições de trabalho dos professores, de organização estrutural da escola, verdadeiros empecilhos para um am¬ biente mais propício ao uso da língua. Emprimeiro lugar, há um isolamento de muitos professores de inglês em suas escolas. Muitas vezes, a professora de inglês está sozinha, é a úni¬ ca naquele ambiente, o que dificulta a convivência e a interação, a troca de ideias e a cooperação com pares profissionais, não somente em relação a práticas pedagógicas, mas também em relação à prática da língua. Devido a essas restrições, a professora não pratica a língua. Excluídas as raras exceções, ela não faz parte de nenhuma comunidade de aprendizagem de prática de línguas. O círculo vicioso se aplica aqui também: por não se achar competente, não pratica e assim se acha cada vez menos profi¬ ciente e competente, o que leva à falta de prática e uso. É também comum a professora não ver os alunos como parceiros de fala na escola (discorro melhor sobre isso na próxima seção). 41 "I CAN DO IT!":VENCER LIMITAÇÕES PESSOAIS NO USO DO INGLÊS r , himt as condições de trabalho de muitos professores 0sEmfSdgrMuitos professores trabalham em duas ou três escolas e dà0'ZZ 40horas/aula por semana, 1,dando com— a,unos „u mabde manha, à .arde,à noite. Muitos vivem estressados e fa, gados, ,ss„pr,Leao entusiasmo, o ânimo e a dedicação que se podem ter para es,„d.r além das aulas a serem dadas. Nesse caso, o ideal e que a professora tivesse um planejamento de uso pessoal da língua: aos poucos, começar a usar mais a língua em sala de aula, buscando o tempo todo praticar a língua. Por fim, os professores tem outras preocupações, como o ambiente escolar, por exemplo. Muitas vezes, o ambiente da escola é hostil, fazendo com que os professores se sintam acuados e ofendidos por perceberemque os outros não "dão importância à sua disciplina. É importante lembrar e pensar quais ações seria possível tomar nesse contexto para mostrar a importância do inglês. 2.1.2. Limitações cognitivas e emocionaisTodos conhecemos o forte papel que as crenças exercem sobre nossas ações. As crenças agem como filtro que colorem nossa realidade. Além disso, crenças são inseparáveis das emoções e das identidades (Barcelos, 2013). Visitemos brevemente algumas crenças que os professores podem ter e que podeminfluenciar a forma como se veem, o tipo de emoções que sentem ao falar inglês e as identidades que podem (ou não) construir parasi mesmos como falantes de inglês e que podem afetar sua autoestima(Mastrella-Andrade, 2011). Crença bastante comum, citada por Murphey (1998), é que a aprendi¬zagem de línguas é algo linear. Na verdade, ela se parece mais com umamontanha russa com muitos altos e baixos. Para poder ter êxito, precisa¬mos compreender que teremos momentos de sucesso e de fracasso e tere¬mos de saber como atravessar os momentos baixos e utilizar estratégiaspara subir" novamente nessa montanha russa. Crucial, nesse aspecto, ér lidar com as emoções negativas que surgem, uma das razões ou li"mitações para desenvolver melhor a proficiência linguística._ *Sim COmo 05 alunos. os professores acreditam que não devem ounao podem cometer erros. Essa crença pode impedir que eles se arrisquem 42 AN* '«"IA FERREIRA BARCELOS e experimentem. Um bom aprendiz aprende errando. Erramos se esta¬ mos aprendendo algo novo. Se não estamos errando é porque não estamos aprendendo nada. Mas talvez, pelo fato de ter de demonstrar que sabem, pela identidade de professores que assumem, demonstrar que também er¬ ram pode prejudicar sua autoestima e trazer medo da rejeição e do fra¬ casso. Todos queremos ser aceitos, e os professores também querem ser aceitos e tidos como competentes. Devido a isso, outra crença que pode surgir é a de que é preciso mo¬ rar em um país do exterior para poder falar a língua fluentemente. Ra- jagopalan (2011) desconstrói esse mito afirmando que morar em um país de língua inglesa "não é precondição para adquirir um bom domínio do inglês ou de qualquer outro idioma. Tampouco suficiente ' (p. 60). Somam-se a isso, as crenças e a visão dos professores sobre a própria profissão, sobre o local onde trabalham, sobre a sala de aula e os alunos e as emoções relacionadas a essas crenças. Sabe-se que em muitas escolas o professor está sozinho, sem uma comunidade de aprendizagem na qual possa praticar a língua. Suas crenças sobre os alunos como "não motiva¬ dos, desinteressados" também não os ajudam a falar a língua com eles. As¬ sim, onde está o espaço para a professora praticar quando ela acredita que tudo e todos estão contra ela? De acordo com Murphey (1998), quando não gostamos do ambiente, do professor, quando nos sentimos ameaçados (e, neste caso, o ambiente escolar tende a ser bastante negativo e os professo¬ res sentem-se ameaçados pelos alunos, pela indisciplina e violência), não estamos abertos a aprender. É imprescindível os professores aprenderem a ser mais gentis consigo mesmos e a procurarem a companhia de alunos e de outros professores que os façam sentirem-se bem, com os quais possam praticar a língua. Nessa interação, podem aprender a praticar e a se per¬ mitirem cometer erros ao se comunicarem na língua-alvo. Para lidar com essas emoções negativas seria importante ser gentil e reconhecer o que já conseguem fazer. 2.2. SUGESTÕES PARA PROFESSORES Embora cada um deva encontrar seu próprio caminho para superar suas limitações, é preciso que os professores façam um trabalho interno e 43 "I CAN DO IT!":VENCER LIMITAÇÕES PESSOAIS NO USO DO INGLES , identificar suas próprias crenças em relação à aprendi *P' node lingua inglesa, além das emoções que vivenciam a6e"> Cellar a língua. Se falas a língua traz medo e ans.edade, é prÿ° trabalhar essas emoções, talvez através da anahse de crenças por tráj£ sas emoções. Pode ser que voce acredite que deva falar sem cometer erro ou com acento nativo, por exemplo. Essas crenças podem trazer estreSs e aumentar o nervosismo e a pressão. Identificando a crença, é p0SSÍVe tomar certa distância dela, questioná-la e, assim, talvez, relaxar e come. çar a praticar a língua de uma forma mais tranquila. Escrever sobre essas emoções e crenças em um diário (se for em inglês, melhor ainda) ou con. versar sobre essas questões com alguém em quem confia faz com que você possa ver e imaginar possibilidades. Isso é muito importante para avançar e começar a se arriscar mais. Dessa forma, comece, aos poucos,praticando sozinho, gravando a si mesmo e falando a língua em casa. Você pode, por exemplo, gravar um relato de como foi o dia na escola e depois se ouvir É interessante também ensaiar e gravar a própriaaula em inglês antes de dar a aula e no momento do ensino também. Ouvir músicas para crian¬ ças também ajuda na compreensão oral, assim como vários podcasts2 online em inglês. Existem vários sites que ajudam, tais como os listados abaixo: ÿ http://www.podcastsinenglish.com/index.shtml ÿ http://learnenglish.britishcouncil.org/en/elementary-podcasts ÿ http://learningenglish.voanews.eom/podcast/0.htrnl ÿ http://www.bbc.co.uk/podcasts/series/tae O site abaixo oferece outros cinquenta websites compodcasts que você pode utilizar tanto para você mesmo quanto para seus alunos: hhp-//www.teachthought.com/technology/51-education-podcasts- -for-the-21st-century-teacher/ de ouvir podcasts, também pode ser interessante você produzir P óprios. Grave palestras, músicas, poemas e histórias para ouvir , 'Ver na esco'a ou andando na rua, ou esperando na fila. E para vo ver profissionalmente, é importante frequentar sites de desen MP3 ou AAC (este úIh?ÿ j° 3° antuivo de áudio digital, frequentemente em íor™\e podeasting na internet e at?6 COnter imagens estáticas e links), publicado aÿraÿ.ÿ_dlOS de algum programa " Zad° *RSS' Também P°de - referir à série de 0»Pt-wikipedia.org/w?/poaHqUant0 a fo™a em que este é distribuído" (Wikipeÿ- «Podeast; acesso: 20/06/2016. 44 ANA Maria ferreira Barcelos volvimento profissional para fazer atividades, ler artigos em inglês e se conectar com outros professores. Alguns sites interessantes são. ÿ http://www.cambridgeenglish.org/teaching-english > http://www.onestopenglish.com Os seguintes endereços listam os melhores sites para assistir aulas de inglês dadas por outros professores. Essa é uma ótima maneira de se aperfeiçoar de ambas as formas: ÿ http://larryferlazzo.edublogs.org/2009/05/04/the-best-online-videos- -showing-eslefl-teachers-in-the-classroom/ ÿ http://www.teachingenglish.org.uk Em relação ao ambiente escolar e à prática em sala de aula, em pri¬ meiro lugar, seria preciso instituir práticas diárias de contato e exposição à língua inglesa (para o próprio professor e para os alunos). Uma prática diária relativamente fácil e eficaz para a participante do estudo de Cunha (2014) foi levar diálogos para sala de aula e fazer repetição com os alunos. Ao fazer isso, a própriaprofessora afirma que também estava aprendendo. Há críticas ao excesso de repetição, mas, nesse caso, repetir foi um instru¬ mento eficaz para essa professora. Além disso, é importante ler em inglês. Pode-se começar lendo so¬ zinho e depois também ler em inglês em voz alta para seus alunos, sem traduzir. Memorizar pequenas histórias e piadas em inglês para contar para seus alunos ou colegas também é muito interessante. Você pode con¬ tar uma história a cada semana! Abaixo, cito alguns sites com histórias e piadas em inglês: ÿ http://www.teacherjoe.us/Jokes.html ÿ http://academictips.org/blogs/jokes ÿ http://academictips.org/funny-jokes/teacher-jokes ÿ http://www.teach-nology.com/jokes Em segundo lugar, é preciso arriscar e convidar seus colegas profes¬ sores ou alunos com os quais se sente bem para se reunirem e conversa¬ rem em inglês. Você pode convidá-los para assistir a umfilme sem legenda em inglês e a tomarem notas sobre o filme, sobre o novo vocabulário e depois a discutirem e compartilharem notas, tentando falar em inglês. É preciso arriscar a falar mais em sala de aula. Para isso é importante fazer dos alunos parceiros, usarrealmente a língua (Cunha, 2014). Encarando 45 "I CAN DO IT1": VENCER LIMITAÇÕES PESSOAIS NO USO DO INGLÊS aprendam a identificar suas próprias crenças em relação à aprendizagertl e ao ensino de língua inglesa, além das emoções que vivenciam quand têm de falar a língua. Se falar a língua traz medo e ansiedade, é preciso trabalhar essas emoções, talvez através da análise de crenças por trás des sas emoções. Pode ser que você acredite que deva falar sem cometer erros ou com acento nativo, por exemplo. Essas crenças podem trazer estresse e aumentar o nervosismo e a pressão. Identificando a crença, é possível tomar certa distância dela, questioná-la e, assim, talvez, relaxar e come¬ çar a praticar a língua de uma forma mais tranquila. Escrever sobre essas emoções e crenças em um diário (se for em inglês, melhor ainda) ou con¬ versar sobre essas questões com alguém em quemconfia faz com que você possa ver e imaginar possibilidades. Isso é muito importante para avançar e começar a se arriscar mais.Dessa forma, comece, aos poucos,praticando sozinho, gravando a si mesmo e falando a língua em casa. Você pode, por exemplo, gravar um relato de como foi o dia na escola e depois se ouvir. Éinteressante também ensaiar e gravar aprópriaaula eminglêsantes de dar a aula e no momento do ensino também. Ouvir músicas para crian¬ ças também ajuda na compreensão oral, assim como vários podcasts2 online em inglês.Existemvários sites que ajudam, tais como os listados abaixo: ÿ http://www.podcastsinenglish.com/index.shtml ÿ http://learnenglish.britishcouncil.org/en/elementary-podcasts ÿ http://learningenglish.voanews.eom/podcast/0.htrnl »ÿ http://www.bbc.co.uk/podcasts/series/tae O site abaixo oferece outros cinquenta websites compodcasts que você pode utilizar tanto para você mesmo quanto para seus alunos: ÿ http://www.teachthought.com/technology/51-education-podcasts- -for-the-21st-century-teacher/ Além de ouvir podcasts, também pode ser interessante você produzir os seus próprios. Grave palestras, músicas, poemas e histórias para ouvir quando estiver na escola ou andando na rua, ou esperando na fila. E para se desenvolver profissionalmente, é importante frequentar sites de desen- 2 Podcast "é o nome dado ao arquivo de áudio digital, frequentemente em formato MP3 ou AAC (este último pode conter imagens estáticas e links), publicado através de podeasting na internet e atualizado via RSS. Também pode se referir à série de episó¬ dios de algum programa quanto à forma em que este é distribuído" (Wikipédia: ttp:// pt.wikipedia.org/wiki/Podcast; acesso: 20/06/2016. 44 ANA MARIA FERREIRA BARCELOS volvimento profissional para fazer atividades, ler artigos em inglês e se conectar com outros professores. Alguns sites interessantes são: ÿ http://www.cambridgeenglish.org/teaching-english ÿ http://www.onestopenglish.com Os seguintes endereços listam os melhores sites para assistir aulas de inglês dadas por outros professores. Essa é uma ótima maneira de se aperfeiçoar de ambas as formas: ÿ http://larryferlazzo.edublogs.org/2009/05/04/the-best-online-videos- -showing-eslefl-teachers-in-the-classroom/ ÿ http://www.teachingenglish.org.uk Em relação ao ambiente escolar e à prática em sala de aula, em pri¬ meiro lugar, seria preciso instituir práticas diárias de contato e exposição à língua inglesa (para o próprio professor e para os alunos). Uma prática diária relativamente fácil e eficaz para a participante do estudo de Cunha (2014) foi levar diálogos para sala de aula e fazer repetição com os alunos. Ao fazer isso, a própriaprofessora afirma que também estava aprendendo. Há críticas ao excesso de repetição, mas, nesse caso, repetir foi um instru¬ mento eficaz para essa professora. Além disso, é importante ler em inglês. Pode-se começar lendo so¬ zinho e depois também ler em inglês em voz alta para seus alunos, sem traduzir. Memorizar pequenas histórias e piadas em inglês para contar para seus alunos ou colegas também é muito interessante. Você pode con¬ tar uma história a cada semana! Abaixo, cito alguns sites com histórias e piadas em inglês: ÿ http://www.teacherjoe.us/Jokes.html ÿ http://academictips.org/blogs/jokes ÿ http://academictips.org/funny-jokes/teacher-jokes ÿ http://www.teach-nology.com/jokes Em segundo lugar, é preciso arriscar e convidar seus colegas profes¬ sores ou alunos com os quais se sente bem para se reunirem e conversa¬ rem em inglês.Você pode convidá-los paraassistir a umfilme sem legenda em inglês e a tomarem notas sobre o filme, sobre o novo vocabulário e depois a discutirem e compartilharem notas, tentando falar em inglês. É preciso arriscar a falar mais em sala de aula. Para isso é importante fazer dos alunos parceiros, usar realmente a língua (Cunha, 2014). Encarando 45 "I CAN DO IT!": VENCER LIMITAÇÕES PESSOAIS NO USO DO INGLÊS seus alunos como parceiros, todos ganham e aprendem muito! Experi. mente usar cada dia mais inglês em sala de aula. Comece conversas em inglês com seus alunos, perguntando sobre a vida deles e seus interesses. Se possível, marque de se encontrar com seus alunos fora da sala de aula e pratiquem inglês por um tempo ou o tempo todo, se possível. Seria in¬ teressante também ensaiar uma peça em inglês com seus alunos na qUal você também participe falando inglês3. É preciso procurar alternativas para praticar a língua. Se não exis¬ te nenhuma possibilidade em sua comunidade, crie uma ou se envolva em comunidades virtuais de prática da língua. Também é bom verificar se a universidade local oferece um conversation club, como acontece, por exemplo, na Universidade Federal de Viçosa. Outra oportunidade são os estagiários de inglês, que podem ser seus parceiros de conversação, ou até mesmo oferecer um conversation club específico para professores de inglês na própria escola, no horário de janela do professor. E, por fim, cantar é muito importante. A música faz parte de nossas vidas e todos têm um cantor favorito que canta em inglês. Sendo assim, se nenhuma das suges¬ tões acima for interessante, cante em inglês! Sozinho, ou acompanhado, e principalmente com os alunos, cante e solte a voz e você vai ver como seu inglês vai melhorar. 2.3. CONCLUSÃO As limitações de uso da língua inglesa por parte de professores de ingles de escolas são de ordem sócio-histórico-cultural-política e de or- cognitivo emocional. Em relação às primeiras, é preciso um engaja- pÿ ítico e conjunto das associações representativas de professores, 'ações linguísticas e entidades, além das universidades e projetos deormaçao continuada, para investir em mudanças na estrutura de carga ra H a' nfUmer° de alunos> admissão de professores, com a devida cobran- lnta ÿ1v 1CÍênCÍa ÿinSuística para atuarem na escola. Somente com umaluta politica, poderemos mudar esse quadro. madores ** hmÍtaçÕes cognhivas e emocionais, professores e forpro essores precisam construir uma visão futura de professo- 3 Veja o capítulo S "P-rmo comunicativo de vocabulário" [p. 80], neste livro. 46 ANA "ARIA FERREIRA BARCELOS res falantes e usuários efetivos da LI. Os professores precisam se imaginar e visualizar falando a língua e os formadores também devem visualizar e estimular esses professores a usarem realmente a língua. Por conta de crenças e de vergonha, muitos professores não saem da zona de conforto, não se sentem cobrados, não se sentem confortáveis e acabam deixando que essas crenças e emoções os impeçam de tentar. Mas é preciso também ação. Visão sem ação nos torna apenas sonhadores e pode adiar, senão im¬ pedir a tão desejada mudança. É preciso que os professores e os cursos de formação (com ações mais exigentes, com provas de níveis de proficiência linguística ao final do curso) realmente tomem iniciativas que levem a professora a praticar e usar a língua. Os professores precisam ver os benefícios pessoais e profissionais de falar a língua, de ousar, de se tornarem um modelo. Isso é um fator mo¬ tivador, tanto para o professor quanto para o aluno. Apesar da crença ao contrário,o aluno quer ver o professor falar em inglês, desta maneira se sente motivado a falar. Isso, por sua vez, pode motivar também o profes¬ sor. É uma via de mão dupla. Seria interessante que todos os professores encarassem sua aprendizagem de inglês como algo divertido e não como umpeso ou uma tarefa impossível, como afirma Murphey (1998: 27, ênfase no original): A coisa que fazemos (por exemplo, aprender a língua) não é em si mesma "divertida" ou "não divertida". É como nós fazemos ou como pensamos sobre ela que a torna divertida. E nós podemos decidir pensar sobre o que estamos fazendo de uma forma divertida ou não. Pensem sobre sua aprendizagem de inglês de forma diferente e vejam como ela pode ser contínua e produtiva. Mas, principalmente, ao decidir vê-la assim, realmente utilizem a língua no seu dia a dia, tornando-a me¬ nos "estrangeira" e o mais íntima possível. Que a língua inglesa seja sua melhor amiga, com quem vocês conversam sempre! Assim, vocês estarão servindo de modelo para seus alunos que, com certeza, também irão se encantar pelo aprendizado de línguas estrangeiras e as tornarão também conhecidas e menos "estrangeiras". 47 I CAN DO IT!":VENCER LIMITAÇÕES PESSOAIS NO USO DO INGLÊS WALKYRIA MAGNO E SILVA VERA LÚCIA MENEZES DE OLIVEIRA E PAIVA INTRODUÇÃO ]'_ m°S acÿu' 0 PaPel do professor e do aluno na sala de aula de Ann a r 1Cÿ°naÿ entendida como um sistema adaptativo complexa autora d 'J1™05 a Saÿa auÿa como um sistema complexo, a primeira da aiit-n a- tCXt0 ÿocara 0 Papel da professora e, em seguida, a seguiÿ autora Escorrerá s„bre opapeldialuno deles n n f em°S ÿ°'s agentes importantes para a aprendizagem- l' ' Pr° eSSOr' ÿue modernamente deixa o seu papel tradicional um e LKYRIA MAGN0 E SILVA & vera lúcia menezes de oliveira e paiva assume outras funções, algumas advindas das práticas de aconselhamen¬ to linguageiro (AL); o outro, o aluno, que também passa a se comportar de maneira diversa na sala de aula do século XXI e além dela. Por meio da análise de alguns dados provenientes de projetos de pesquisa coordenados pelas autoras, este capítulo demonstrará como as ações de professores e alunos alteram as regras do jogo, subvertendo os resultados esperados, gerando outras possibilidades e fazendo emergir si¬ tuações inesperadas, caracterizando, uma vez mais, esse tipo de sistema como adaptativo e complexo. 3.1. A SALA DE AULA COMO SISTEMA COMPLEXO A sala de aula pode ser considerada como um sistema adaptativo complexo, tendo em vista as interações dinâmicas entre seus elementos, as transformações ao longo do tempo, as influências sofridas por elementos internos e externos e sua capacidade de adaptação e de auto-organização. Davis & Sumara (2006: 90) nos lembram: "Unidades complexas podem ser (e geralmente são) simultaneamente unidades coletivas de unidades autó¬ nomas e subsistemas dentro de grandes unidades. Eles são aninhados '1. Uma sala de aula é um sistema complexo onde outros sistemas complexos interdependentes — cada aluno e cada professor — estão aninhados. A relação entre esses subsistemas faz emergir comportamentos imprevisí¬ veis. Por sua vez, a sala de aula também está aninhada em outros sistemas como a escola, a cidade etc. Como um sistema complexo, a sala de aula está aberta a influências externas. Larsen-Freeman & Cameron (2008: 67) listam como exemplos de influências "as mudanças globais tais como a mobilidade crescente, as mudanças nas oportunidades de emprego [...]". De acordo com Davis & Sumara (2006: 11), em um sistema complexo, "as interações entre os componentes não são fixas e nem claramente defi¬ nidas, mas estão sujeitas a coadaptações contínuas". Na sala de aula, isso é muito visível, pois as interações nunca são estáveis e totalmente previ¬ síveis, por mais que sigam alguns padrões, como, por exemplo, pergunta- 1 Essa e as demais traduções são de responsabilidade das autoras. 51 PAPEIS do professor e do aluno ÿgsse „tári02 outros comportamentos emergem. Como lerabramrZZ*& Cÿron(2008: 181), esse padrão *é um atrator queinabilidade em torno de um padrão estável, pes se adapta era"posta a contingências par.tcnlares da turma .O comendo -,erceiro turno do padrão -pode ainda variar emtempo e sofisticação, situando-se ao longo de um contínuo desde um simples "muito bem até uma sumari- zação do que foidito ouuma complementação da informação. A professora pode conscientemente interferir nesse padrão, tornando-o mais produtivo para a aprendizagem. Bacias atratoras são também identificáveis nas fases em que o sistema se estabiliza3, ainda que temporariamente. Na aprendi¬ zagem de línguas adicionais, essas bacias podem ser aqueles períodos em que nada parece acontecer, momentos em que "o sistema para, o sistema orbita na bacia atratora ou acomoda-se dentro dela" (Larsen-Freeman & Cameron, 2008: 52). Essas mudanças, típicas dos sistemas adaptativos complexos, são de vários tipos. "A não linearidade do sistema pode levar a uma mudança súbita chamada de 'mudança de fase' e à emergência de novos compor¬ tamentos" (Larsen-Freeman & Cameron, 2008: 43). Veremos mais adiantecomo essas mudanças ocorrem efetivamente no sistema de aprendizagemde línguas adicionais. 3.2. O PAPEL DO PROFESSOR O professor tem vários papéis em um sistema complexo de ensinop ndizagem de uma língua adicional: selecionar material, motivar osa unos, oferecer insumo em linguagem autêntica, estimular a interação eg ção de sentido, estimular o uso de estratégias de aprendizagem . f . ° Umÿ°S clue c°nsideramos muito importante é rara-e ra a o na literaturasobre ensino de línguas: o papel de conselheiro. situa ent nSÊ fment° lm&uageiro é exercido por umprofissional que seÿÿP-fessorae o monitor de um centro de autoacesso. O conse- input — response — feedback (IRfTtÿ ÿl*3ÿ UmaIaestabilizada, para o termo em ing'êsocorrente na sala de aula é entena a P3drà° lnteracionaf extensivamente descrito como3 Essa estabilidade nos sic/ °"°Parad'Sma da complexidade como um atrator.'idade, porque, embora estável o7?'adaPtativo* complexos,não é sinónimo de imo"«• s.stema mantém seu dinamismo.' WALKVRW MAGNO ESILW, 52 ERALUC'A MENEZES DE 0LIVEIRA E PAIVA liteiro linguageiro precisa de características de ambos, mas é mais do que a soma dos dois juntos. Além de expor aqui diversas definições e maneiras de operar dos conselheiros linguageiros, pretendemos ilustrar com excer¬ tos retirados de um questionário de pesquisa dirigido aos conselheiros que fazem parte do grupo que atua na Universidade Federal do Pará, como de fato essa coadaptação dos papéis se dá na interpretação desses sujeitos. Complementam os dados trechos do relatório com os resultados do pri¬ meiro biénio do projeto (Magno & Silva, 2013). Já em 1997, Riley definia o conselheiro como a pessoa que ajuda o aprendente a tomar as suas próprias decisões, tornando-o consciente de suas representações, crenças e atitudes. O conselheiro ajuda também o aprendente a identificar seu estilo de aprendizagem e suas preferências.Ele auxilia o aprendente a explicitar suas necessidades e objetivos de apren¬ dizagem de línguas, detalhando-os a um nível operacional e controlável. Para Mozzon-McPherson (2007), o conselheiro linguageira-é um gera¬ dor de sinergia no processo de aprendizagem dos alunos. Os conselheiros dominam não só a língua estrangeira em foco como principalmente os instrumentos necessários para criar empatia com os alunos aconselhados, de forma a que eles se sintam à vontade para discutir suas questões a res¬ peito da aprendizagem da LE. Ao atuar como conselheiro linguageiro, o professor fica mais atento à necessidade de criar elos com os alunos. Isso pode ser comprovado pelo excerto abaixo: O contato com a aconselhada que tive fez-me pensar mais no aluno de forma global, como alguém feito de diversas identidades, com problemas e suces¬ sos variados. Passei a me preocupar mais com os sentimentos em relação ao processo de aprendizagem, pois observei que muitas vezes as barreiras não são apenascognitivas (C5)J. Na parte grifada, percebe-se que foi o trabalho como conselheira que mudou a maneira de essa professora encarar o que ocorre no plano emo¬ cional dentro da sala de aula. Reinders (2008: 13) define aconselhamento linguageiro como "uma forma de apoio". Ele diz que "o propósito do aconselhamento é prover orientação aos alunos a respeito da sua aprendizagem de línguas e encora- 4 Todos os negritos nos excertos são das autoras deste texto. 53 PAPÉIS DO PROFESSOR E DO ALUNO jà-los a desenvolver sua autonomia .Percebe-se nessa açao a importâ da prática de estratégias metacognit.vas que tem parte preponderailte ' trajetória do aluno. Saber o que funciona e o que não ajuda seu p ' de aprendizagem é fundamental para o sucesso nessa trajetória. Reinder° evidencia também a necessidade de as sessões de aconselhamentoÿ altamente personalizadas, uma vez que estão focadas nas necessidades de cada aprendente. A negociação entre conselheiro e aconselhado a respeito das ações a serem desenvolvidas é parte crucial desses encontros. Stickler (2001) diz que o conselheiro linguageiro deve ser uma espécie de guia, servindo de andaime para o aprendente, principalmente na utili zação de estratégias. Ela acrescenta que o conselheiro precisa conhecer ambiente de aprendizagem do aprendente para saber o que ele oferece (ou não) e precisa ter (ou desenvolver) boas habilidades de aconselhamento Algum conhecimento sobre os diversos sistemas aninhados dos quais o aluno faz parte (Davis & Sumara, 2006) pode criar espaços de manobra mais produtivos para uma comunidade de aprendizagem bem-sucedida. Esta questão transparece nas falas de dois conselheiros: nÍUHmtP:edÍSP0Sta 3 0UVÍr meus alunos' Para saber das suas múlti- int i funcionamento do seu meio e tento, cada vez menosntumvãmente, mserir o que vou descobrindo desses cenários no cotidianodas minhas intervenções em sala de aula (C3). tomTmliwer10 mudar muito Profissional e pessoalmente. Me de sala de aulaÿ qU3nt° ÿ Práticas de ensino que realizo dentro e fora e "o que pretendoÿlnf3 ÿ qUeSt'°nar mais "° que faǰ"> "Por Pue faç0"que a maioria dos at err°g° tambem se ating' meu objetivo final, coisa docentes culpam os aT'5 Pr°ÿessores "esquece" de se perguntar. Muitos questionam as "suas"3 Un°S P0'° fracasso de "sua" disciplina e raramente a mesma receita de b ÿ 3t'CaS de ens'no- Alguns repetem, exaustivamente, muda, as pessoas mudÿ 3110 3P°S an°' Sem Se dar conta de que 0 mund° cada "nova" turma P ÿ 3S 'dent'dades dos alunos são diferentes a a palavra final, a abn h ÿÿ°educador está sempre certo e só ele detém h°le "ma professora ÿ 8tC Graças 30 aconselhamento, sou meus alunos (ci). t0 mais c°mpleta, compreensiva e justa com deSses Professores em <: 1 "Se'beiros linguageiros modificou a atuaçã0a a de aula, em benefício dos alunos. Percebe-se WALKY*'A MAGNO Esilva 54A LÚCIA MENEZES DE OLIVEIRA E PAIVA a coadaptação (Davis & Sumara, 2006) ocorrida nos diferentes sistemas aninhados: professores e conselheiros diante de aprendizes. Como as duas autoras dos excertos acima são formadoras de professores, pode-se ante¬ ver a importância desse tipo de modificação, imaginando que os profes¬ sores formados com esse tipo de preocupação provavelmente levarão isso em conta quando eles próprios estiverem em sala de aula. Segundo Mozzon-McPherson (2007: 76), as funções dos conselheiros linguageiros são: Oferecer orientação adequada e clara e apoio para que os alunos trabalhem autonomamente; ajudar a instituição a prover oportunidades de aprendi¬ zagem de línguas apropriadas; monitorar os padrões de aprendizagem dos usuários do serviço e prover retorno relevante e eficaz; monitorar a dispo¬ nibilidade de recursos disponíveis em relação às necessidades dos usuários; facilitar a habilidade dos aprendentes em tornarem-se mais proficientes por meio de um melhor entendimento do seu próprio processo de aprendiza¬ gem; ouvir as necessidades dos aprendentes e elicitar conversas sobre a língua e sobre a aprendizagem. O conselheiro linguageiro atua tanto junto aos alunos (orienta, apoia, monitora e dá retorno, conscientiza, conversa) quanto junto à instituição (leva a prover recursos e oportunidades adequados). Esta dupla função só pode ser exercida por alguém que saiba a língua e que tenha conhecimen¬ to do que são línguas adicionais e de como as pessoas as aprendem. Ainda segundo Mozzon-McPherson, a habilidade de a professora provocar conversas sobre o que é língua, o que é usar a língua e o que é aprendê-la beneficia-se de sua experiência como conselheira linguageira. Em nossos dados, esse fato aparece representado no trecho abaixo: O aconselhamento me ajudou a refletir sobre meu papel como conselheira e professora. Os artigos discutidos, além das experiências compartilhadas entre os membros do projeto, me ajudaram a aperfeiçoar minhas próprias sessões de aconselhamento e minha atuação como conselheira de meus alunos em sala de aula (C6). Os agentes em um sistema complexo de aprendizagem influenciam- -se mutuamente, pois o contato com os alunos muda o professor e vice- -versa, assim como mudam os próprios conselheiros nas interações entre os membros do grupo. 55 PAPEIS DO PROFESSOR E DO ALUNO odesenvolvimento de habtlidades de aconselhamento passa pelo co. nhecimento de algumas técnicas tais como o espelhamento a parâfrase e a surnarização. Stickler (2001) descreve cada uma dessas técnicas paraILpronta utilização pelo conselheiro, assegurando que cada uma delas ,em o papel de criar a empatia necessária para que o trabalho se dese„. volva Por espelhamento entende-se a repetição de palavras ou partes do discurso que o aconselhado usou na sua descrição dos problemas. Assim agindo, o conselheiro demonstra ao aconselhado que entendeu suas preo- cupações. A paráfrase serve para checar se o que o aconselhado disse foi efetivamente o que o conselheiro compreendeu. Dessa forma, passa-se se¬ gurança ao aconselhado ao demonstrar que seu problema foi compreendi¬ do ou, no caso de a paráfrase não refletir exatamente o que o aconselhado relatou, é garantida a oportunidade de esclarecimento de equívocos ou de complementação de enunciados. O sumário, que consiste em resumir brevemente o relato do aconselhado, serve de base para o trabalho que se desenvolverá subsequentemente. Pode-se perceber na literatura especializada que alguns autores es¬ tão se preocupando com a grande influência que o conselheiro lingua- geiro pode ter no processo de ensino e aprendizagem de línguas adicio¬ nais, apoiando, ou em alguns casos, substituindo o ensino em sala de aula, principalmente em nível superior (Gardner & Miller, 1999; Mozzon- -Mcpherson, 2007; Riley, 1997; Vieira, 2007). Tendo como foco as diferentes ações não habituais que podem con¬tribuir para a aprendizagem dentro das salas de aula de LE, exploraremoso conhecimento já acumulado que traz para os ambientes mais formais deaprendizagem alguns dos procedimentos do conselheiro linguageiro. Comisso, espera-se que as aulas se centrem verdadeiramente no aprendente.Antes de trazermos exemplos do contexto brasileiro, iremos descreveras situações no exterior, nas quais os papéis de conselheiro e professororam complementares: a primeira (Davies & Mckee, 2001) se deu em um , ° aPrend'zagem de uma língua adicional na Irlanda e a segunda.2001) mostra como foi resolvida a questão de aprimoramento daingua em uma turma heterogénea de holandês na Inglaterra.Davies & McKee (2001) relatam problemas na comunicação oral dealunos de francês nas apresentações orais que faziam. Eles não considera- walkyria MAGNO E Sll ím „ „ERA LÚCIA MENEZES DE OLIVEIRA E PAIVA vam essas apresentações como atividades comunicativas, mas sim como meros exercícios a serem cumpridos. Então, implementou-se um progra¬ ma de desenvolvimento de habilidades orais que visava: encorajar os alu¬ nos a se tornarem mais reflexivos e autónomos, valorizando suas próprias pesquisas e as pesquisas de seus colegas em apresentações orais; equipar os alunos com habilidades transferíveispara prepará-los melhor para o ambiente de trabalho, tais como utilização de recursos tecnológicos, me¬ lhoria na comunicação e trabalho em equipe. Tanto o conselheiro lingua¬ geiro quanto o professor trabalharam em conjunto para utilizar os recur¬ sos tecnológicos e explicitar aos alunos a função dessas apresentações. Discutia-se com os alunos sobre que elementos eram importantes para uma boa apresentação. As sessões com os conselheiros centravam-se no uso de recursos visuais e postura, enquanto os professores lidavam com questões relacionadas ao conteúdo e à comunicação. Para a apresentação final no projeto, os próprios alunos sugeriram e negociaram os critérios de avaliação: audibilidade, compreensibilidade e linguagem corporal; organização, estrutura e uso de recursos tecnoló¬ gicos; pesquisa e conteúdo; qualidade do francês. Os alunos declararam ter ampliado sua autoconfiança no uso de recursos tecnológicos, no falar em público e no uso de habilidades gerais de apresentações. Eles também se tornaram mais atentos às apresentações dos colegas por se conscienti- zarem do esforço que o preparo desses trabalhos demanda, valorizando assim o desenvolvimento da tarefa. Professores e conselheiros avaliaram que a apresentação e organização do conteúdo, bem como o uso de recur¬ sos visuais, melhoraram bastante de um semestre para o outro. O papel do conselheiro como apoio e não como avaliador tornou os alunos mais propensos a falar sobre suas dificuldades e a experimentar novos rumos. Os alunos se beneficiaram do duplo apoio do professor e do conselheiro e desenvolveram sua capacidade de reflexão e aprendizagem autónoma. O Departamento de Estudos de Língua Holandesa da Universidade de Hull na Inglaterra (Rossum, 2001) deparou-se com um grupo hetero¬ géneo de alunos e precisou rever sua forma de ensino. Esse grupo dife- renciava-se não só em termos de idade e experiência educacional, mas principalmente pela proficiência na língua. Na disciplina de escrita avan¬ çada, que separava os alunos entre iniciantes e avançados, esta situação 57 PAPEIS DO PROFESSOR E DO ALUNO Untitled