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Aula 07 Direito Civil p/ PC-MA (Delegado) Pós-Edital Professor: Paulo H M Sousa http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Paulo H M Sousa www.estrategiaconcursos.com.br 1 de 122 DIREITO CIVIL – PC/MA Teoria e Questões Aula 07 – Prof. Paulo H M Sousa AULA 07 RESPONSABILIDADE CIVIL II Sumário Sumário .................................................................................................... 1 Considerações Iniciais ................................................................................ 2 RESPONSABILIDADE CIVIL ......................................................................... 2 9.2. Responsabilidade Civil imprópria ........................................................... 2 1. Responsabilidade por fato de terceiro .................................................... 3 2. Responsabilidade por fato de coisa ...................................................... 10 3. Responsabilidade por fato de animal .................................................... 12 9.3. Responsabilidade Civil, Penal e Administrativa ...................................... 13 1. Distinções entre ilícito civil e penal ...................................................... 13 2. Influência da jurisdição criminal no cível .............................................. 19 3. Distinções entre ilícito civil e administrativo.......................................... 22 9.4. Abuso de direito ................................................................................ 24 Legislação pertinente ................................................................................ 30 Jurisprudência e Súmulas Correlatas .......................................................... 30 Questões ................................................................................................. 41 Questões sem comentários ..................................................................... 41 Gabaritos ............................................................................................. 67 Questões com comentários ..................................................................... 73 Resumo ................................................................................................ 119 Considerações Finais .............................................................................. 121 http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Paulo H M Sousa www.estrategiaconcursos.com.br 2 de 122 DIREITO CIVIL – PC/MA Teoria e Questões Aula 07 – Prof. Paulo H M Sousa AULA 07 – RESPONSABILIDADE CIVIL II Considerações Iniciais Na aula passada, começamos a tratar da Responsabilidade Civil. Repito: relativamente às provas de Nível Superior, a Responsabilidade Civil não é um tema lá muito forte. Como eu disse, é uma escolha dos examinadores, talvez a Responsabilidade Civil seja questionada em outras tantas áreas, como o Direito do Consumidor, Direito Ambiental, Direito Administrativo etc. Isso ficará claro quando eu falar de algumas situações mais peculiares da Responsabilidade Civil, remetendo sua análise detalhada a essas outras áreas. Apesar de não ser assim tão relevante, é sempre mais prudente evitarmos que seja esse o motivo pelo qual você não conseguiria sua aprovação. Como diz o ditado, é melhor prevenir do que remediar! Contraprova é que na última prova da PC/MA tivemos uma questão sobre o tema, que será vista nesta aula! RESPONSABILIDADE CIVIL 9.2. Responsabilidade Civil imprópria A cisão entre Schuld e Haftung fica bem clara ao tratarmos das hipóteses da responsabilidade civil elencadas pelo CC/2002. Dentre elas encontram-se as situações de responsabilidade por fato de terceiro, responsabilidade por fato de coisa e responsabilidade por fato de animal. Ou seja, ainda que o causador do dano seja outra pessoa, ou mesmo quando sequer uma pessoa causa o dano, mas um animal, ou ainda se for ele causado por algo inanimado, responsabilizaremos alguém, imputando a ela a indenização. Aqui, o Direito Civil se afasta enormemente da responsabilidade penal contemporânea, sistema de responsabilização do qual seria, em linhas gerais, impensável imputar ao acusado pena por ato cometido por outrem; mais absurdo ainda responsabilizar alguém pelo dano causado a outrem por uma coisa. Assim, é possível aduzir que, em regra, a responsabilidade civil é por fato próprio, ou seja, responsabiliza-se o causador direto do dano. No entanto, na responsabilidade civil imprópria responsabiliza-se alguém por fato não cometido http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Paulo H M Sousa www.estrategiaconcursos.com.br 3 de 122 DIREITO CIVIL – PC/MA Teoria e Questões Aula 07 – Prof. Paulo H M Sousa diretamente por ela, mas que, por uma série de razões, o ordenamento jurídico imputa a responsabilidade, ainda que indiretamente, àquele que não causou o dano. Por fim, vimos já anteriormente, que na atualidade é possível falar em responsabilidade sem culpa mesmo, a chamada responsabilidade objetiva, na qual se prescinde totalmente da contraprova da culpabilidade. 1. Responsabilidade por fato de terceiro Vê-se aqui a possibilidade de não causar dano a outrem e, ainda assim, ser responsabilizado. A lei, em situações especiais, remete a responsabilidade por um dano a terceiro, que não o causador do dano. Mas isso pode acontecer a qualquer um, de qualquer modo, a qualquer tempo? Não. Via de regra, o fundamento é um dever de guarda, controle, vigilância ou proteção. Em regra, se verifica a responsabilidade por fato de outrem em relações de submissão ou autoridade, como no caso do patrão e empregado ou do pai e filho, por exemplo. Juridicamente falando, responsabiliza-se um terceiro porque ele se omitiu no seu dever, ou seja, há responsabilidade pela omissão (o pai que deixa de punir moderadamente o filho, o patrão que não exerce sua autoridade disciplinar sobre o funcionário). Há, em algum sentido, desleixo, descaso, falta de vigilância. Isso porque quem tem alguém sob seu comando, controle, autoridade ou submissão, deve zelar tanto pelo agente quanto pelas pessoas e coisas com as quais o agente entra em contato. Quais são essas hipóteses? Elas estão presentes nos incisos do art. 932 do CC/2002: http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Paulo H M Sousa www.estrategiaconcursos.com.br 4 de 122 DIREITO CIVIL – PC/MA Teoria e Questões Aula 07 – Prof. Paulo H M Sousa Mas a responsabilidade dessas pessoas é objetiva ou subjetiva? Segundo o art. 933 do CC-2002, a responsabilidade é objetiva, sequer existindo espaço para que o terceiro prove que tomou todas as medidas que lhe competiam para evitar o dano: As pessoas indicadas no artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos. Ou seja, nem que o responsabilizado prove que não teve culpa alguma e não podia ter evitado o dano, responderá. Mas o responsável legal arca com o prejuízo? Sim, mas há a possibilidade de ação regressiva contra o causador do dano, nos termos do art. 934, que esclarece que aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz. Segundo Venosa, ainda que não se diga expressamente, inclui-se na exceção do art. 934 também os tutores e curadores pelos danos causados pelos pupilos ou curatelados. Veja-se que, em verdade, o art. 932 não trata apenas dos casos de responsabilidade civil imprópria, mas é de redação bastante geral: Art. 934. Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou,salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz. • Pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia Os pais • Pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições O tutor e o curador • Por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele O empregador ou comitente • Pelos seus hóspedes, moradores e educandos Os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação • Até a concorrente quantia Os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Paulo H M Sousa www.estrategiaconcursos.com.br 5 de 122 DIREITO CIVIL – PC/MA Teoria e Questões Aula 07 – Prof. Paulo H M Sousa É com base nesse dispositivo que se dá azo à ação in rem verso, prevista genericamente no art. 886 (“Não caberá a restituição por enriquecimento, se a lei conferir ao lesado outros meios para se ressarcir do prejuízo sofrido”). Assim, aquele que ressarce dano causado por outrem empobrece ao mesmo tempo em que o causador do dano enriquece, na medida em que deixa de indenizar não fica mais rico, literalmente, mas, ao deixar de empobrecer, quando deveria, enriquece. Não se permite, com base na vedação ao enriquecimento sem causa, que alguém se enriqueça às custas de outrem. As saídas são muitas (ou, processualmente falando, as ações), mas, mesmo quando o processo não dá instrumento específico, o enriquecimento sem causa não deve prosperar. Como compatibilizar essas percepções aparentemente contraditórias? A partir da residual ação in rem verso, por meio do qual “aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou”. Em todos os casos supracitados, a responsabilidade do causador do dano com o responsável legal é solidária, por previsão expressa do art. 942, parágrafo único do CC/2002. Curiosamente, se há responsabilidade civil por dano causado por incapaz, quem responde são responsáveis legais. Porém, se os responsáveis legais não tiverem a obrigação de indenizar (não estiver o menor sob a autoridade, p.ex.) ou quando estes não possuírem meios para adimplir com a indenização, segundo o art. 928 do CC/2002, os próprios incapazes responderão. Nesse caso, no entanto, há limitação da responsabilidade dos incapazes para não privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem, atentando-se ao mínimo existencial, nos termos do parágrafo único desse artigo. 2016 – FAURGS – TJ/RS – Juiz Estadual Substituto Sobre a reparação de danos, é correto afirmar que a) apenas a culpa concorrente da vítima é admitida como causa de redução da indenização pelo Código Civil, constituindo exceção ao princípio da reparação integral. b) se adota, segundo entendimento majoritário, a teoria do risco integral como fundamento da imputação de responsabilidade, independente de culpa em razão de atividade de risco (artigo 927, parágrafo único). c) todos os membros de um grupo, pela adoção da teoria da causalidade alternativa, podem ser responsabilizados, quando não seja possível determinar, dentre eles, quem deu causa à lesão. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Paulo H M Sousa www.estrategiaconcursos.com.br 6 de 122 DIREITO CIVIL – PC/MA Teoria e Questões Aula 07 – Prof. Paulo H M Sousa d) a responsabilidade pelo fato do animal é independente de culpa do seu dono ou detentor, não podendo ser afastada mesmo quando ausente o nexo de causalidade. e) o patrimônio do incapaz não pode servir ao pagamento da indenização, cabendo exclusivamente aos pais, tutores ou curadores, conforme o caso, responder pelos danos que ele causar. Comentários A alternativa A está incorreta, pois o art. 944, parágrafo único (“Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização“) permite a redução da indenização em outros casos. A alternativa B está incorreta, já que o referido dispositivo adota a responsabilidade objetiva, mas não integral, excepcionalíssima no ordenamento privado. A alternativa C está correta, sendo esse caso excepcional de responsabilização civil. A alternativa D está incorreta, já que, obviamente, a ausência de nexo de causalidade afasta o dever de indenizar, como, por exemplo, no caso de culpa exclusiva da vítima que atiça o animal. A alternativa E está incorreta, na literalidade do art. 928: “O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes”. Vejamos cada uma dessas situações detalhadamente. 1. Responsabilidade dos pais Em regra, os filhos não exercem atividades que possibilitem auferir renda, não possuem patrimônio e não terão como arcar com a indenização, se devida, ao contrário dos pais, que, também geralmente, possuem melhores condições para tanto. Mesmo que inexista capacidade, o dano causado pelo menor deve ser indenizado, já que o direito civil pretende a tutela da vítima; mesmo que o menor não tenha causado ato ilícito, pois incapaz, há responsabilidade civil. Cuidado em relação às expressões “sob sua autoridade” e “em sua companhia”. A autoridade liga-se ao poder familiar; se um ou ambos ou genitores não detém poder familiar sobre o menor, não responde pelo dano, como, por exemplo, no caso do filho sob a guarda de um dos pais, ou sob a guarda dos avós. A companhia não remete apenas à companhia momentânea, mas duradoura, ou seja, se o menor sai, à noite, e causa um dano, os pais são responsáveis, ainda que não na companhia efetiva do menor; veja-se que se o filho não está na companhia dos pais por desídia destes, não se afasta a responsabilidade. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Paulo H M Sousa www.estrategiaconcursos.com.br 7 de 122 DIREITO CIVIL – PC/MA Teoria e Questões Aula 07 – Prof. Paulo H M Sousa A emancipação legal concedida pelos pais excluiria sua responsabilidade, mas a jurisprudência do STJ a mantém. Ao contrário, nos demais casos em que adquire a maioridade (como nos casos de casamento, exercício efetivo de emprego público, existência de economia própria decorrente de emprego e estabelecimento de empresa), a responsabilidade dos pais cessa. 2. Responsabilidade do tutor/curador Em regra, os próprios pais são os tutores e curadores, mas nem sempre. Há grande crítica à responsabilidade objetiva, especialmente em relação à curatela, que é, em geral, ato de altruísmo e gratuito. De qualquer forma, o CC/2002 mantém a responsabilidade dos tutores e curadores pelos atos praticados pelos tutelados e curatelados, igualmente de maneira objetiva. 3. Responsabilidade do empregador/comitente O conceito de empregador não está contido na legislação civil, mas no art. 2º da CLT: Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço. Esse artigo, no § 1º, equipara determinadas figuras ao empregador: Equiparam-se ao empregador, para os efeitos exclusivos da relação de emprego, os profissionais liberais, as instituições de beneficência, as associações recreativas ou outras instituições sem fins lucrativos, que admitirem trabalhadores como empregados. Ou seja, em resumo, todo aquele que contrata alguém e se utiliza de seu trabalho, mediante remuneração, para auferir algum benefício, mediante estabelecimento de uma relação hierárquica de subordinação, é empregador, ao menos para os fins desse artigo do CC/2002. Por outro lado, a noção de comitente está no art. 693 do CC/2002: O contrato de comissão tem por objeto a aquisição ou a venda de bens pelocomissário, em seu próprio nome, à conta do comitente. Ou seja, o comitente é o “favorecido” pelos negócios. Essa responsabilização ocorre, em regra, apenas durante a execução da atividade subordinada, ou seja, durante o “expediente”. Porém, com base na Teoria da Aparência, há exceções, eis que aquele que sofre o dano “acredita” que o causador do dano o fez em razão do emprego e, por isso, deve ser indenizado. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Paulo H M Sousa www.estrategiaconcursos.com.br 8 de 122 DIREITO CIVIL – PC/MA Teoria e Questões Aula 07 – Prof. Paulo H M Sousa 2015 – FCC – TRT 15ª REGIÃO – Juiz do Trabalho Substituto O motorista de um supermercado, dirigindo veículo da empresa e no horário de trabalho, envolveu-se em acidente, do qual resultou a morte de ocupante de outro veículo, mas foi absolvido na ação penal por insuficiência de prova. Sua culpa, entretanto, assim como os demais requisitos para a responsabilização civil, foram provados em ação indenizatória movida pelo cônjuge e filhos da vítima contra aquele motorista e seu empregador. Neste caso, a) o motorista e seu empregador serão solidariamente responsáveis pela indenização. b) somente o empregador será responsável pela indenização, porque o empregado foi absolvido no juízo criminal. c) somente o motorista será responsável pela indenização, se o seu empregador provar que diligenciou na escolha do preposto e o vigiou, mas ambos serão solidariamente responsáveis se essa prova não for realizada. d) o motorista e seu empregador serão conjuntamente responsáveis pela indenização, sendo subsidiária a responsabilidade do empregador. e) não haverá obrigação de indenizar, porque a sentença penal absolutória eliminou a responsabilidade civil. Comentários A alternativa A está correta, segundo o art. 942, parágrafo único (“São solidariamente responsáveis com os autores os coautores e as pessoas designadas no art. 932”) conjugado com o art. 932, inc. III (“São também responsáveis pela reparação civil o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele”. A alternativa B está incorreta, conforme o art. 942: “Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação”. A alternativa C está incorreta, consoante o art. 933: “As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos”. A alternativa D está incorreta, de acordo com o parágrafo único do art. 942, supracitado. A alternativa E está incorreta, já que o art. 935 (“A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal”) prevê que as questões não podem ser discutidas, mas a exclusão da responsabilidade penal por ausência de prova não obsta sua prova no juízo cível. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Paulo H M Sousa www.estrategiaconcursos.com.br 9 de 122 DIREITO CIVIL – PC/MA Teoria e Questões Aula 07 – Prof. Paulo H M Sousa 4. Responsabilidade dos estabelecimentos de albergue A amplitude desse artigo abrange todo tipo de estabelecimento de albergue remunerado: creche, escola, hotel, motel, SPA, asilo, hospital, sanatório, centros de recuperação de dependentes etc. Sublinhe-se a necessidade de contraprestação para haver responsabilidade objetiva. Essa responsabilidade abrange os danos causados pelos hóspedes a terceiros e pelo estabelecimento aos hóspedes. No mesmo sentido, o art. 14 do CDC estabelece a responsabilidade objetiva na prestação de serviços. Mesmo danos causados fora da instituição são passíveis de indenização por ela, como, por exemplo, no caso de uma excursão de alunos organizada pela escola. Além disso, cláusulas que atenuam ou isentam a responsabilidade do estabelecimento são nulas, mesmo que existam avisos ostensivos, conforme regra do art. 51, inc. I do CDC. 5. Responsabilidade pela participação em produto de crime Primeiro, não confunda participação com a coautoria, talqualmente não se pode fazer no âmbito da responsabilidade penal. Resumidamente, na coautoria o sujeito participa do evento, ainda que de maneiras distintas, ao passo que na participação apenas auxilia. Aqui, o agente apenas recebe o produto do crime. Em realidade, essa participação configura o tipo de receptação do art. 180 do CP. No entanto, a repercussão penal é irrelevante para a responsabilidade civil. Nesse caso, responde ao partícipe penas pelo dano até o valor que recebeu. Ao contrário, na coautoria, responderia integralmente pelo dano, e não de maneira limitada, como no caso tratado especificamente pelo art. 932 do CC/2002. 2014 – FMP – PGE/AC – Procurador do Estado É caso de responsabilidade subjetiva: (A) a dos pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia. (B) a do tutor pelo pupilo que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia. (C) a dos que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia. (D) a do incapaz se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes. Comentários http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Paulo H M Sousa www.estrategiaconcursos.com.br 10 de 122 DIREITO CIVIL – PC/MA Teoria e Questões Aula 07 – Prof. Paulo H M Sousa A alternativa A está incorreta, de acordo com art. 932, inc. I (“São também responsáveis pela reparação civil os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia”) em conjunto com o art. 933 (“As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos”). A alternativa B está incorreta, conforme o art. 932, inc. II (“São também responsáveis pela reparação civil o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições”) em conjunto com o art. 933 (“As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos”). A alternativa C está incorreta, na literalidade do art. 932, inc. V (“São também responsáveis pela reparação civil os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia”) em conjunto com o art. 933 (“As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos”). A alternativa D está correta, conforme a regra geral do art. 927, não contrariada pelo art. 928 (“O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes”). Veja-se que, inexistindo menção expressa sobre a responsabilidade ser objetiva, segue-se a regra de responsabilização objetiva. 2. Responsabilidade por fato de coisa Segundo Arnaldo Rizzardo: O dono de uma coisa inanimada é responsável pelos danos que a mesma causar. A responsabilidade por fato de coisa abrange tanto o proprietário quanto aquele que exerce sua guarda (detentor). No CC/2002 adotou-se a responsabilidade objetiva, ou seja, o lesado deve apenas provar o dano e o nexo causal com a conduta, sendo desnecessário questionar a culpa do dono da coisa. Ainda assim, o agente poderá eximir-se da responsabilidade se conseguir comprovar o caso fortuito/força maior ou a culpa exclusiva da vítima.Não há um dispositivo legal próprio para essa espécie de responsabilidade, aplicando-se o art. 927. Isso porque se entende a responsabilidade por fato da coisa como espécie da responsabilidade objetiva por risco de atividade. A responsabilidade por fato da coisa diferencia-se das demais espécies porque não requer uma conduta direta do autor do dano com a coisa em relação ao dano. Basta a posse, propriedade ou detenção da coisa e o dano para configurar-se a responsabilidade. Duas espécies têm grande importância: http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Paulo H M Sousa www.estrategiaconcursos.com.br 11 de 122 DIREITO CIVIL – PC/MA Teoria e Questões Aula 07 – Prof. Paulo H M Sousa 1. Responsabilidade pela ruína de edifício Caso especial de responsabilidade for fato de coisa está presente no art. 937 do CC/2002, que estipula que: O dono do edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta. A responsabilidade do dono da obra é objetiva, pois se entende que não agiu com o devido cuidado, seja falta de reparos, seja por falha construtiva. Contudo, o art. 937 abre amplas possibilidades de defesa do dono da obra, pois lhe permite provar que agiu com o devido cuidado, inexistindo falta de reparos. Além disso, o artigo menciona a manifesta necessidade dos reparos para configurar a responsabilidade. Nada obstante, aqui, surge um caso curioso, pois, em regra, um edifício não desaba se estiver em perfeitas condições, cai apenas quando há necessidade de algum reparo ou há uma falha na construção. Assim, presume-se a necessidade de reparos se o edifício desaba. Apesar de objetiva, há uma mínima chance de a parte se desincumbir da indenização. A responsabilidade pela ruína estende-se a todo tipo de imóvel, não apenas às construções ou imóveis novos, incluindo-se aí a responsabilidade do proprietário que adquire imóvel já com muitos anos de uso, pois se entende que deveria tê-lo vistoriado adequadamente. Abrange, em verdade, todo tipo de edificação: pontes, canalizações (gás canalizado), andaimes (de prédios em obras), arquibancadas (de estádios), marquises (eventos em geral), escadas rolantes (de shopping center). O único modo de afastar a responsabilização é comprovar a ocorrência de um caso fortuito ou de culpa exclusiva da vítima. 2. Responsabilidade pela queda ou lançamento de coisas de edifícios Outro caso especial de responsabilidade for fato de coisa está presente no art. 938 do CC/2002, que aduz que aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido. O termo “prédio” é entendido de maneira bastante larga, compreendendo, além do condomínio edilício vertical, casas, hotéis, estações, escritórios, templos, escolas, clínicas, ou seja, todo local em que as pessoas ficam, permanecem, “habitarem” (também em sentido largo, e não apenas “morar”) O termo “coisa” é também genérico, abrangendo lixo, placas, pequenos objetos, vasos de plantas e mesmo água (que cai sobre um equipamento eletrônico em funcionamento, por exemplo). A responsabilidade do dono do edifício é objetiva, pois se entende que não agiu com o devido cuidado ao deixar que coisas fossem lançadas ou caíssem do http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Paulo H M Sousa www.estrategiaconcursos.com.br 12 de 122 DIREITO CIVIL – PC/MA Teoria e Questões Aula 07 – Prof. Paulo H M Sousa edifício. Não importa quem lançou o objeto para a vítima, acionando-se todos os proprietários. Se condomínio edilício, geralmente aciona-se o próprio condomínio, pois é difícil, ou mesmo impossível, precisar o autor. Porém, se possível for fixar quem foi o autor do dano, não pode a vítima pretender obter a indenização do condomínio, pois manifesta sua ilegitimidade passiva. Mesmo que o lançamento ou queda sejam efetuados por terceiro (um parente que visita em casa, criança na escola, hóspede do hotel), o proprietário responde, com vistas na teoria do risco. 3. Responsabilidade por fato de animal Mesmo na vigência do CC/1916 havia presunção de culpa do proprietário do animal que causa dano, pela presunção de falta de cuidado e diligência do dono. O CC/2002 exclui a responsabilidade apenas nos casos de culpa exclusiva da vítima ou de força maior, segundo art. 936. 2014 – FUNRIO – IF/PI – Professor de Direito No tocante a responsabilidade civil é correto afirmar que a. haverá obrigação de reparar o dano, dependentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. b. o incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes. c. os responsáveis não são responsáveis civilmente pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e companhia. d. o dono, ou detentor, do animal não ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior. e. aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou, mesmo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz. Comentários A alternativa A está incorreta, nos termos do art. 927, parágrafo único: “Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Paulo H M Sousa www.estrategiaconcursos.com.br 13 de 122 DIREITO CIVIL – PC/MA Teoria e Questões Aula 07 – Prof. Paulo H M Sousa A alternativa B está correta, segundo o art. 928: “O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes”. A alternativa C está incorreta, conforme o art. 932, inc. I: “São também responsáveis pela reparação civil os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia”. A alternativa D está incorreta, na forma do art. 936: “O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior”. A alternativa E está incorreta, de acordo com o art. 934: “Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz”. A fuga do animal, ou sua permanência em local inapropriado, portanto, importam em presunção de culpa do dono. São os casos de animal que pula o muro, animal que morde a pessoa através de uma grade ou ataca alguém durante uma festa de rua. Nesses casos, o animal deveria estar bem guardado/não deveria estar lá. Por isso, a vítima deve apenas apontar o dano e o nexo causal com a conduta. Cumprirá ao dono provar a existência de culpa exclusiva da vítima ou de força maior. O excludente de culpa exclusiva da vítima limita-se à culpa exclusiva; se a vítima concorre com o dano, responde o dono. Por exemplo, se vítima que provoca o animal, que vem a pular o muro e atacá-la, há culpa concorrente, já que se estivesse bem preso, o animal provocado não causaria dano; a vaca que atravessa a rodovia rapidamente numa curva, estando o motorista em excesso de velocidade, ocasiona culpa concorrente; se ela estava parada numa longa reta, e vai invadindo a pista lentamente, é culpa exclusiva, já que o motorista tinha de reduzir, prudentemente. Os animais selvagens ou sem dono não geram dever de indenizar a ninguém, eis que não há “alguém” propriamente dito para responsabilizar.Se para evitar uma colisão o sujeito causa dano a outrem, responsabiliza-se o causador do dano, que tem direito de regresso contra o proprietário ou, se animal selvagem ou sem dono, arca o agente sozinho. 9.3. Responsabilidade Civil, Penal e Administrativa 1. Distinções entre ilícito civil e penal O ato ilícito pode ter naturezas jurídicas distintas, a partir de sua perspectiva de análise. Lembro bem da graduação, nas aulas de Direito Penal (e essa talvez seja uma das coisas que jamais esquecerei sobre penal) é que o crime, no seu conceito analítico, é a “conduta típica, antijurídica e culpável”. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Paulo H M Sousa www.estrategiaconcursos.com.br 14 de 122 DIREITO CIVIL – PC/MA Teoria e Questões Aula 07 – Prof. Paulo H M Sousa Lembro disso porque, desde aquela época, já me preocupava em diferenciar a responsabilidade civil da responsabilidade penal e como visualizar suas semelhanças e pontos de contato. Isso porque, originariamente, o conceito de ato ilícito não tinha distinção no Direito Civil e no Direito Penal. A noção mais clássica de ato ilícito, independente se civil ou criminal consolidou-se ao longo do tempo e se cristalizou, sob uma perspectiva claramente dotada dessa historicidade, no art. 186 do CC/2002: Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. É daí que se retira o conceito mais elementar de ato ilícito, dotado de culpabilidade e antijuridicidade, respectivamente pela exigência de culpa, caracterizada tanto por ação quanto por omissão (conduta negligente ou imprudente), e pela exigência de violação direito alheio, causando-lhe dano. Desse conceito é que se caracterizam os pressupostos do dever de indenizar, quais sejam a conduta (ilícita), o dano e o nexo de causalidade entre a conduta e o dano, somados à culpa, no caso da responsabilidade subjetiva. A conduta, seja comissiva, seja omissiva, precisa ser violadora da esfera de direitos de outrem e passível de lhe causar dano. Essa conduta precisa ser culposa, na responsabilidade como regra geral trazida pelo art. 927. Se conduta há, mas não se pode imputar culpa ao agente, não se pode falar em dever de indenizar. Por outro lado, mesmo havendo conduta culposa, não há dano, não há dever de indenizar, da mesma forma. Por fim, por óbvio, entre a conduta e o dano deve haver uma nexo de causalidade, um liame que ligue ambos os pontos. Segundo a tradição civilística, esse liame deve ser direto e imediato. Danos indiretos ou mediatos não são indenizáveis, mas nem sempre essa teoria se aplica de maneira tão restrita. O mesmo vale para o Direito Penal, cuja noção de ato ilícito se confunde com a noção de ato ilícito civil, ante a ausência de diferenciação que havia entre ambos. Porém, paralelamente ao estabelecimento do princípio da legalidade cria-se também a noção de tipicidade. Isso ocorre, segundo boa parte da doutrina, especialmente com a Carta Magna de 1215, que limitava o poder real ao devido processo legal; a partir do compromisso do monarca, nenhum homem livre poderia ser aprisionado sem um julgamento legal, feito por seus pares, pela lei do território. Essa noção, ainda bastante ampla, foi fixada num regime de tipicidade, mais ou menos como hoje o conhecemos, com a revolucionária Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, que previa, no art. 4º: A liberdade consiste em poder fazer tudo aquilo que não prejudique outrem: assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão os que asseguram http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Paulo H M Sousa www.estrategiaconcursos.com.br 15 de 122 DIREITO CIVIL – PC/MA Teoria e Questões Aula 07 – Prof. Paulo H M Sousa aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites apenas podem ser determinados pela Lei. 1 Veja que na última parte fica claramente disposto que os limites à atuação estão na Lei. Vale lembrar que, a partir da divisão de poderes bem clássica de Montesquieu, só é Lei o que o Poder Legislativo assim o estabelece. Portanto, as condutas que limitam o exercício de direitos devem ser estabelecidas pela lei. No caso do Direito Penal, os tipos penais passam a ser a regra para a verificação da ilicitude. Aí eu volto para aquele conceito analítico tradicional de crime, a “conduta típica, antijurídica e culpável”. Fora a tipicidade, a antijuridicidade e a culpabilidade já eram pressupostos do ato ilícito, válido também para o Direito Civil. A tipicidade, portanto, é o elemento que distingue a verificação do ato ilícito, nuclearmente. Obviamente, como a tipicidade simplesmente não existe no Direito Civil, numerosas soluções – e problemas – sobre a tipicidade não são objeto de análise na responsabilidade civil. Assim, os excludentes de tipicidade, como o caso da aplicação do princípio da insignificância, não se analisam na responsabilidade civil, por absoluta incompatibilidade. Por mais insignificante que seja, o furto de um objeto cumpre os requisitos de antijuridicidade e culpabilidade presentes no art. 186 do CC/2002, o que caracteriza o dever de indenizar. É possível que estejam presentes os elementos da responsabilização e, por isso, exista o dever de indenizar, mas não veremos repercussão alguma na esfera cível. Isso porque o agente simplesmente nada faz, por ausência de razoabilidade patrimonial. O custo, tanto em termos objetivos – financeiros e de tempo –, quanto em termos subjetivos – desgaste, stress etc. –, pode ser excessivo para a vítima. Por exemplo, alguém me furta um sabonete comum. Provavelmente não seria condenada na esfera criminal, já que o valor insignificante do objeto seria fundamento suficiente para a exclusão da tipicidade por aplicação do princípio da insignificância. Não obstante a presença dos elementos do dever de indenizar, provavelmente eu não a acionaria judicialmente, buscando indenização pelo dano. O custo com o transporte da minha casa até o JEC supera o valor do bem furtado, sem contar com o desgaste emocional e o “tempo perdido”. Mas posso fazê-lo, se quiser, independentemente dos custos financeiros e psicológicos, e o autor do dano não pode se escusar com base no princípio da insignificância. Ademais, a forma como se analisa os pressupostos de antijuridicidade e culpabilidade são distintos. Ao passo que a doutrina civilística mantém a culpabilidade baseada na culpa em sentido amplo (subdividida em culpa em 1Vide a seguinte versão da Declaração: http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/atuacao-e-conteudos-de- apoio/legislacao/direitos-humanos/declar_dir_homem_cidadao.pdf http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Paulo H M Sousa www.estrategiaconcursos.com.br 16 de 122 DIREITO CIVIL – PC/MA Teoria e Questões Aula 07 – Prof. Paulo H M Sousa sentido estrito e dolo), a doutrina penal ampliou horizontes, criando também as figuras da culpa consciente e do dolo eventual. Inclusive, a distinção de culpa e dolo é irrelevante na maioria dos casos para aplicação da responsabilidade civil, exigindo-se dolo para responsabilizar o agente apenas em situações excepcionais, como no caso da responsabilidade do doador pelos danos causados ao donatário em relação ao bem doado. Ao contrário, no Direito Penal, a distinção é imprescindível e irá impactar profundamente na aplicação do direito, já que existem numerosos casos de tipos apenas dolosos, como o tipo de dano (ao passo que no Direito Civil o dano independe de dolo!). Grande parte da responsabilidade civil passa ao largo dessas discussões sobre culpabilidade, pela aplicação da responsabilidade civil objetiva, que afasta completamente as noções subjetivas. Igualmente, o graude culpabilidade é em regra irrelevante no Direito Civil, exceto no caso de aplicação do art. 944, parágrafo único (“Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização”). Veja-se que, inclusive, era tão difícil para a doutrina civilística tradicional falar em responsabilidade civil sem culpa que se chamava ela de culpa objetiva (o que é uma contradição em termos, já que a culpabilidade é essencialmente subjetiva). Somente mais recentemente é que se passou a falar, sem grandes problemas, em responsabilidade civil sem culpa. Curiosamente, por outro lado, a responsabilidade civil ainda se encontra essencialmente ligada ao dano, por conta do princípio da restituição integral. Não se fala em responsabilidade civil sem dano. Quando, em uma situação concreta, não existe dano ou sua prova é impossível, a doutrina e a jurisprudência se valem do chamado dano in re ipsa, ou dano presumido. Exemplo da presunção de dano pela dificuldade de prova é o art. 953, parágrafo único. Este dispositivo estabelece que no caso de indenização por injúria, difamação ou calúnia, caso o ofendido não possa provar prejuízo material, caberá ao juiz fixar, equitativamente, o valor da indenização, na conformidade das circunstâncias do caso. Ou seja, o dano não é afastado, mas presumido, ante a impossibilidade ou extrema dificuldade de comprovação do dano. O mesmo ocorre quando não há dano a ser indenizado. A partir de uma dada conduta, há situações nas quais determinada conduta ilícita gera dano, mas, às vezes, em outras situações sequer há dano. Novamente, presume-se o dano, ainda que a contraparte comprove a inexistência dele. Isso ocorre com o dano moral no caso de inclusão indevida do consumidor em órgão restritivo de crédito. A jurisprudência, uníssona, estabelece o dever de indenizar a partir do dano in re ipsa. Sinceramente, na maioria das http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Paulo H M Sousa www.estrategiaconcursos.com.br 17 de 122 DIREITO CIVIL – PC/MA Teoria e Questões Aula 07 – Prof. Paulo H M Sousa situações trata-se de responsabilidade sem dano. Pode haver dano, claro, como no caso de uma pessoa que perde uma oportunidade de negócio porque não consegue empréstimo bancário para honrar negócio em decorrência da inclusão indevida. Posso ter consultado a SERASA apenas por curiosidade e visto meu nome incluído indevidamente no órgão – e não houve dano algum. Ao contrário, posso até ter ficado feliz, pela perspectiva de receber indenização, mas receberei indenização do mesmo jeito, não importa. Ainda assim, é necessário recorrer ao expediente do dano in re ipsa, pois não se reconhece a responsabilidade civil sem dano. No Direito Penal, ao contrário, ainda que sob fortes críticas, o tipo de dano vem se tornando mais comum, especialmente nos tipos penais presentes no Código de Trânsito Brasileiro – CTB. O art. 306 do CTB estabelece que a condução de veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de substância psicoativa que determine dependência é vedada. A pena é aplicada ainda que o condutor não tenha causado dano algum, apenas pelo perigo decorrente da conduta eventualmente danosa. Ainda dentro da culpabilidade, outro foco de grande discussão no Direito Penal é a imputabilidade. As discussões sobre a maioridade penal provavelmente se eternizarão, alguns clamando por sua redução – e, no limite, pela exclusão de um critério temporal objetivo –, outros clamando por sua extensão – e, no limite, pela exclusão quiçá da própria punição estatal. A imputabilidade é assunto de suma importância no crime. No cível, essa discussão é praticamente inócua. Tecnicamente falando, por conta dos institutos da tutela, curatela e representação, estende-se a responsabilidade dos “inimputáveis” a seus representantes legais. O Direito Civil vai além, fixando a responsabilidade civil objetiva dos pais pelos danos causados pelos seus filhos e a responsabilidade civil objetiva dos tutores e dos curadores pelos danos causados pelos tutelados e curatelados, segundos o art. 932, incs. I e II c/c art. 933. Com isso, contorna-se a discussão sobre o grau de consciência de uma pessoa sobre a prática de um ato danoso. Os críticos da imputabilidade penal aos 18 anos dizem que a pessoa entre 16 e 18 anos é plenamente apta a compreender os efeitos de sua conduta. No Direito Civil, em que pese a redução da “maioridade civil” trazer mudanças para o dever de indenizar, essa redução teria pouco ou nenhum impacto, já que, de qualquer forma, os pais se responsabilizariam. Isso porque, já no âmbito das obrigações, analisamos as diferenças entre obrigação e responsabilidade, pelo que se pode imputar a alguém a responsabilidade pelo inadimplemento de uma obrigação de outrem (como no casos dos pais pelos filhos). Esse raciocínio é impensável no Direito Penal, já que a condenação de alguém, que não o próprio agente, pela conduta alheia significaria que a pena ultrapassa a pessoa do ofensor. Nem mesmo as propostas criminais mais endurecedoras sugerem essa possibilidade. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Paulo H M Sousa www.estrategiaconcursos.com.br 18 de 122 DIREITO CIVIL – PC/MA Teoria e Questões Aula 07 – Prof. Paulo H M Sousa As diferenças também existem quanto ao nexo de causalidade. Enquanto se utiliza, largamente, no Direito Civil a teoria do dano direto e imediato para limitar o nexo de causalidade, no Direito Penal, o limitador do nexo causal é o dolo, pela teoria finalista. Se analisada a teoria da imputação objetiva do Direito Penal, chegaremos à concussão de ela se parece, em certa medida, com a teoria do dano direto e imediato do Direito Civil. Ainda que seja pouco utilizada a teoria da imputação objetiva lá, já que ela não resolve a maioria das situações concretas, as críticas a ela dirigidas são bastante parecidas com as críticas que a teoria do dano direto e imediato sofrem aqui, no Direito Privado. A própria essência do Direito Civil e do Direito Penal é distinta. Enquanto na responsabilidade civil a tutela se volta à vítima, no Direito Penal a tutela se volta ao ofensor, em linhas gerais. Na responsabilidade civil é frequente a crítica a dispositivos que tutelam o ofensor, como o parágrafo único do art. 944 (“Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir a indenização”). A redução da indenização se dá em razão do ofensor; a vítima ficará sem restituição integral, o que viola a racionalidade básica do sistema. Na responsabilidade penal, ao contrário, há frequente crítica a dispositivos que tutelam a vítima, como o art. 72 da Lei 9.099/1995 (Na audiência preliminar, presente o representante do MP, o autor do fato e a vítima, o Juiz esclarecerá sobre a possibilidade da composição dos danos). Quebra-se, em alguma medida, o monopólio estatal da aplicação da lei penal, já que o ofendido poderá obstar a continuidade da persecução penal, voluntariamente. Igualmente, a base de aplicação da responsabilidade é distinta. Ao passo que no crime a pena privativa de liberdade éa regra, ela é a exceção no cível; ao contrário, ao passo que no cível a indenização seja a regra, no crime ela é exceção. Modernamente, os pontos de contato também se tornam mais frequentes. Enquanto há uma tendência, no Direito Penal, ao uso maior das penas restritivas de direitos em detrimento das privativas de liberdade, há uma tentativa, no Direito Civil, de ampliar o uso de medidas não-pecuniárias de reparação, como o direito de resposta e as obrigações de não-fazer. Ainda que atualmente as diferenças entre a responsabilidade civil e a responsabilidade penal sejam marcantes e bastante evidentes, suas semelhanças também se evidenciam quando analisamos ambos os objetos, com certo “distanciamentocientífico”. Essas semelhanças se explicam pela origem comum da responsabilidade do agente causador de danos, eis que ambas – a cível e a criminal – eram indistintas. A cisão ocorrerá de maneira mais completa apenas com o positivismo jurídico, com sua exigência de cientificidade. Veremos os laços que ainda unem a responsabilidade civil e a reponsabilidade penal, especialmente em relação aos impactos, na esfera judicial, de uma sobre http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Paulo H M Sousa www.estrategiaconcursos.com.br 19 de 122 DIREITO CIVIL – PC/MA Teoria e Questões Aula 07 – Prof. Paulo H M Sousa a outra. Isso porque uma mesma conduta pode ter repercussões, ao mesmo tempo, na esfera cível e criminal, como no caso do homicídio, fato jurídico que atrai a aplicação do art. 121 do Código Penal – CP e do CPP, e do art. 928 do CC/2002 e do CPC. 2. Influência da jurisdição criminal no cível O art. 935 do CC/2002, como dito, aduz existir independência do juízo cível e criminal, porém não se pode discutir mais a autoria e existência do fato quando já há decisão na esfera criminal. Os julgamentos cíveis e criminais são independentes, mas não devem ser contraditórios. A ideia de que o julgamento criminal faz coisa julgada para o cível é visto com muitas ressalvas. 2015 – FUNDATEC – PGE/RS – Procurador do Estado Em relação à obrigação de indenizar, analise as seguintes assertivas: I. O incapaz pode responder, equitativamente, por prejuízos por ele causados. II. O pai pode ressarcir-se perante o filho, relativamente incapaz, pela indenização paga a terceiro por ato cometido pelo seu descendente. III. A obrigação de prestar reparação transmite-se com a herança. IV. A responsabilidade civil independe da criminal, podendo se questionar quanto à existência do fato mesmo quando esta questão se achar decidida no juízo criminal. Quais estão corretas? A) Apenas I e III. B) Apenas II e III. C) Apenas I, II e III. D) Apenas I, II e IV. E) Apenas I, III e IV. Comentários O item I está correto, como vimos em aula anterior, de acordo com o art. 928: “O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes”. O item II está incorreto, na forma do art. 934: “Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou, d http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Paulo H M Sousa www.estrategiaconcursos.com.br 20 de 122 DIREITO CIVIL – PC/MA Teoria e Questões Aula 07 – Prof. Paulo H M Sousa salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz”. O item III está correto, segundo o art. 943: “O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com a herança”. O item IV está incorreto, conforme o art. 935: “A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal”. A alternativa A está correta, portanto. Há a concorrência da responsabilidade civil-criminal. Um atropelamento gera responsabilidade civil e criminal, ou seja, pode o ofensor ser punido em ambas as esferas ou em apenas uma delas, seja no cível, seja no criminal. O problema é que há atipicidade da responsabilidade civil e tipicidade da responsabilidade criminal; nesta, impera o subjetivismo, naquela, caminha- se para a objetividade. O crime visa punir o agressor; o cível visa tutelar a vítima. Por isso, a atuação do juiz criminal não limita a do juiz cível. Como pode haver concorrência de responsabilidades, pode um delito ser julgado pelo juiz cível e pelo criminal ao mesmo tempo. A coisa julgada cível é influenciada pela criminal, mas não o inverso. O juiz criminal, de certo modo, guia a instrução quanto à autoria e ao ato/fato criminoso. Feita coisa julgada no cível, em pendência de processo criminal, a sentença criminal não poderá reverter a sentença cível, já transitada em julgado. Apenas quando há uma sentença condenatória cível e, em fase de execução cível, o juízo criminal não encontra autoria no fato, o executado cível pode, se ainda pendente a execução, impugnar a sentença, alegando a ausência de autoria. Se, no entanto, a execução cível já está terminada, ou seja, o executado já adimpliu com a indenização, nada mais há para se fazer. Logicamente, a autoria e a materialidade do fato deveriam ser apuradas primeiro no Juízo criminal, mas, por vezes, a esfera cível acaba por resolver essa questão antes. O art. 91, inc. I, do CP coloca que a função da sentença criminal é tornar certa a obrigação de indenizar, mas não diz qual é a extensão do dano, nem mesmo se houve dano. O art. 387, inc. IV do CPP, porém, estabeleceu a possibilidade de o juiz criminal fixar um valor mínimo de indenização, que servirá de piso ao juiz cível na hora da liquidação, que se dá na forma vista mais abaixo. Outra inovação importante foi feita pela Lei 12.403/2011, que alterou o art. 336 do CPP, colocando que a fiança criminal poderá ser usada para o pagamento de indenização, no caso de o réu ser condenado. Já o art. 63 do CPP fala que transitada em julgado a sentença condenatória, pode-se promover o cumprimento da sentença para reparação do dano. b http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Paulo H M Sousa www.estrategiaconcursos.com.br 21 de 122 DIREITO CIVIL – PC/MA Teoria e Questões Aula 07 – Prof. Paulo H M Sousa Ainda que exista uma sentença criminal absolutória, pode-se ingressar com uma ação cível indenizatória, por: falta de provas e atipicidade de conduta. Isso se dá porque as possibilidades de responsabilização na esfera cível são muito mais amplas que no criminal e a atipicidade e falta de provas não faz coisa julgada para o cível, como dissemos antes. Outra possibilidade de haver indenização cível no criminal existe no art. 72 da Lei 9.099/1995 (Lei dos Juizados Especiais Estaduais). Na audiência preliminar levada a cabo perante o Juizado Especial Criminal, o réu e o autor podem fazer a composição dos danos, evitando-se a persecução criminal. O juiz cível pode sobrestar o processo civil para aguardar o processo penal, segundo o art. 64 do CPP c/c art. 315 do CPC. Em geral, isso ocorre nos casos de existência de fato delituoso e legítima defesa. Porém, por vezes não ocorre na prática por conta do regramento do §1º do art. 315, que estabelece que se a ação penal não for exercida dentro de 3 meses, contados da intimação do despacho de sobrestamento, cessará o efeito deste, decidindo o juiz cível a questão, incidentalmente. Da propositura da ação penal, o juízo cível suspenderá o feito por, no máximo, 1 ano, prazo o qual, se superado, exige que o cível decida incidentalmente a questão prévia. Por fim, você lembra da aula sobre prescrição e decadência? Tínhamos um detalhe importante sobre as regras de prescrição que se aplicam aqui: Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva. Assim, se for necessário apurar algo no Juízo Criminal, a prescrição ficará suspensa até que o juiz do crime tenha proferido sentença definitiva, ou seja, não sujeita a recurso (trânsito em julgado). Discussões Juízo Cível Visa indenizar a vítima Objetividade (tendência à responsabilidade objetiva) Não influencia no outro Executa a sentença transitada em julgado no Criminal Sentença condenatória penal é título executivo judicial Juízo Criminal Visa punir o agressor Subjetividade (tendência à responsabilidade baseada na culpa) Influencia na autoria e materialidade Pode estabelecer indenização mínima e fiança para o Cível Juizado EspecialCriminal: pode fazer composição cível 6 http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Paulo H M Sousa www.estrategiaconcursos.com.br 22 de 122 DIREITO CIVIL – PC/MA Teoria e Questões Aula 07 – Prof. Paulo H M Sousa acerca do cumprimento da pena já em segundo grau de jurisdição são irrelevantes para a aplicação do art. 200 do CC/2002, já que o texto legal é expresso em falar em “sentença definitiva”. 3. Distinções entre ilícito civil e administrativo Para além das semelhanças e diferenças entre a responsabilidade civil e a responsabilidade criminal, há ainda a responsabilidade administrativa. Assim como pode haver uma conduta geradora de responsabilidade civil e penal concomitantes, pode ela gerar responsabilidade administrativa. Há, obviamente, conexões entre a responsabilidade penal e a responsabilidade administrativa. Não analisaremos essas conexões, pois fogem do nosso objetivo. Serão elas vistas nessas respectivas áreas. A nós interessa as conexões entre a responsabilidade civil e a responsabilidade administrativa, estabelecida pela CF/1988, pelo CC/2002 e pela Lei 8.112/1990, a lei que trata dos servidores públicos civis – LSP. O art. 125 dessa lei prevê que as sanções civis, penais e administrativas poderão cumular-se, sendo independentes entre si. A rigor, a responsabilidade civil tem relevância na análise dos danos causados pelos agentes públicos no exercício de suas funções. A base está em dois artigos, o art. 43 do CC/2002 e o art. 37, §6º da CF/1988. Diz o art. 43 do CC/2002: As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo. Por outro lado, a redação do art. 37, § 6º da CF/1988 vai um pouco além, além de deixar mais claro os limites de aplicação do dispositivo legal: As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. Veja-se que o CC/2002 não trata das “pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos”; a CF/1988 o faz, de modo a afastar qualquer dúvida sobre a extensão da responsabilidade civil do Estado, que se dá de maneira bastante ampla. A responsabilidade, frise-se, é do Estado, que terá direito de regresso contra o agente público causador do dano, mas apenas nos casos de culpa ou dolo. Trata-se, portanto, de caso de responsabilidade civil objetiva na relação vítima-Estado (seja ela relativa aos usuários ou aos não-usuários do serviço) e de responsabilidade civil subjetiva, na relação Estado-agente público, em linhas gerais. O Estado responde independentemente de culpa, ao passo que ele deve provar a culpa do agente causador do dano, por força de aplicação do referido artigo constitucional. 9 http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Paulo H M Sousa www.estrategiaconcursos.com.br 23 de 122 DIREITO CIVIL – PC/MA Teoria e Questões Aula 07 – Prof. Paulo H M Sousa A relação Estado-agente público fica mais transparente no seu art. 121 da LSP, que estabelece de maneira bem evidente que o servidor público responde civil, penal e administrativamente pelo exercício irregular de suas atribuições. De modo bastante repetitivo a LSP traz a mesma regra do CC/2002 (que reproduz, em grande parte, o art. 15 do CC/1916) e da CF/1988. O art. 122 prevê que a responsabilidade civil do funcionário público decorre de ato omissivo ou comissivo, doloso ou culposo, que resulte em prejuízo ao erário ou a terceiros. Mas não só. Nossa realidade jurídica tipicamente legalista vai repetir, dois artigos depois, a mesma coisa! O art. 124 repisa que a responsabilidade civil- administrativa resulta de ato omissivo ou comissivo praticado no desempenho do cargo ou função. É pra não deixa dúvida! Mas não só (de novo)! O art. 122, §2º diz que houver dano a terceiros, responderá regressivamente o servidor perante o erário. Ufa! É pra não deixar dúvidas meeesmo. O ponto positivo desse artigo é esclarecer que o agente público é responsável pessoalmente pelo ato praticado no desempenho do cargo. Ora, se ele pratica ato ilícito fora do exercício do cargo, será pessoalmente responsável, não se cogitando em responsabilidade regressiva a partir da responsabilidade objetiva do Estado pelo ato. Nos casos de responsabilização por ato praticado no exercício da função, o servidor responde pessoalmente perante a Administração Pública. O §3º do art. 122 ainda deixa claro que a obrigação de reparar o dano estende-se aos sucessores do servidor e contra eles será executada, até o limite do valor da herança recebida. A cobrança estatal seguirá a forma comum, com a obtenção de bens que assegurem a execução do débito pela via judicial. O art. 122, §1º, permite que, no caso de dolo, o Estado possa exercer o direito regressivo de maneira peculiar. Em geral, diz o art. 45, salvo por imposição legal, ou mandado judicial, nenhum desconto incidirá sobre a remuneração ou provento. Igualmente, o vencimento, a remuneração e o provento não serão objeto de arresto, sequestro ou penhora, exceto nos casos de prestação de alimentos resultante de decisão judicial, prevê o art. 48. No entanto, no caso de ato ilícito doloso, a cobrança rege-se pelo art. 46. Nesses casos, o erário previamente comunicada o servidor ativo, aposentado ou o pensionista sobre a indenização a ser cobrada, dando-lhe prazo máximo de 30 dias para pagamento. O servidor pode solicitar o parcelamento do valor. Se solicitado o parcelamento, o §1º, o valor de cada parcela não poderá ser inferior ao correspondente a 10% da remuneração, provento ou pensão. 7 http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Paulo H M Sousa www.estrategiaconcursos.com.br 24 de 122 DIREITO CIVIL – PC/MA Teoria e Questões Aula 07 – Prof. Paulo H M Sousa Relevante é o art. 126 da LSP. Segundo o dispositivo legal, a responsabilidade administrativa do servidor será afastada no caso de absolvição criminal que negue a existência do fato (materialidade) ou sua autoria. Isso é importante para as relações da responsabilidade penal-civil-administrativa. Isso porque o art. 935 do CC/2002 estabelece que não se pode discutir, no cível, a autoria e a existência do fato já decidas no criminal. Assim, se há ação no cível e procedimento administrativo sobre determinado ato, mas, nesse meio tempo, o crime afasta (ou reconhece) a autoria ou a materialidade do fato, tanto no cível quanto no administrativo não poderão mais ser discutidas essas questões. De modo a ajudar no combate à corrupção, a Lei 12.527/2011 inseriu o art. 126- A à LSP. Segundo ele, nenhum servidor poderá ser responsabilizado civil, penal ou administrativamente por dar ciência à autoridade superior ou, quando houver suspeita de envolvimento desta, a outra autoridade competente para apuração de informação concernente à prática de crimes ou improbidade de que tenha conhecimento, ainda que em decorrência do exercício de cargo, emprego ou função pública. Por fim, maiores digressões sobre a Responsabilidade Civil do Estado são vistas com mais propriedade no Direito Administrativo, já que é lá que outras categorias específicas, e necessárias para melhor análise dos institutos, são vistas. Por exemplo, a distinção entre as pessoas jurídicas de direito público, a responsabilidade do Estado por omissão (que é diferente da por ato comissivo), entre tantas outras coisas. Para evitar repetições, que comprometem o seu tempo, e eventualmente contradições, vou deixar para o professor de Administrativo cuidar do “caso”, OK? Vamos adiante, portanto.9.4. Abuso de direito A figura do abuso de direito é velha conhecida da doutrina civilística. Segundo Francisco Amaral, O abuso de direito consiste no uso imoderado do direito subjetivo, de modo a causar dano a outrem. Em princípio, aquele que age dentro do seu direito a ninguém prejudica (neminem laedit qui jure suo utitur). No entanto, o titular do direito subjetivo, no uso desse direito, pode prejudicar terceiros, configurando ato ilícito e sendo obrigado a reparar o dano. O instituto vem previsto especificamente no art. 187, ainda que não com o nome de “abuso de direito”. Diz o dispositivo que também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim socioeconômico, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Ou seja, a ilicitude não está na conduta em si, mas no abuso dela. Assim, a edificação de um muro é ato lícito, mas se edificado em altura incompatível com http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Paulo H M Sousa www.estrategiaconcursos.com.br 25 de 122 DIREITO CIVIL – PC/MA Teoria e Questões Aula 07 – Prof. Paulo H M Sousa o razoável, com o intuito manifesto de prejudicar a insolação natural ao prédio vizinho, veremos o abuso do direito de edificar, reputado ilícito pelo art. 187. 2015 – UEPA – PGE/PA – Procurador do Estado Sobre a responsabilidade civil, é correto afirmar que: a) na responsabilidade civil decorrente do abuso de direito o ofensor não pratica ato ilícito, mas apenas se excede no exercício de um direito respaldado em lei. b) de acordo com a jurisprudência predominante do STF, a responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito privado, prestadoras de serviços públicos, é objetiva apenas relativamente a terceiros usuários do serviço; não abrangendo os não-usuários, que devem provar a culpa das concessionárias e/ou permissionárias. c) de acordo com a jurisprudência predominante do STF, a indenização acidentária exclui a de direito comum devida pelo causador do dano resultante de acidente do trabalho, de modo a evitar o bis in idem. d) de acordo com a jurisprudência predominante do STJ, a anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito dá ensejo a indenização por dano moral, mesmo quando preexistente legítima inscrição. e) não é possível ao STJ rever o valor da indenização por danos morais pelas instâncias ordinárias, por aplicação da Súmula nº 7 daquele Tribunal Superior, ressalvadas as hipóteses em que esse valor se mostrar ínfimo ou exagerado. Comentários A alternativa A está incorreta, já que o art. 187 é claro ao dispor que o abuso de direito gera ato ilícito. A alternativa B está incorreta, como vimos anteriormente, já que se entende que a responsabilidade da Administração Pública é objetiva em relação a terceiros, sejam usuários e não-usuários. A alternativa C está incorreta, conforme ficará mais claro na jurisprudência correlata, adiante, pois se tratam de indenizações de fontes diferentes. A alternativa D está incorreta, conforme ficará mais claro na jurisprudência correlata, adiante, já que a anotação prévia, regular ou não, é que causa o dano, sendo que a posterior não acrescenta dano à vítima. A alternativa E está correta, conforme ficará mais claro na jurisprudência correlata, adiante, dado que o próprio STJ excepciona a aplicação da Súmula 7. Por isso, os requisitos para a verificação do abuso de direito são: http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Paulo H M Sousa www.estrategiaconcursos.com.br 26 de 122 DIREITO CIVIL – PC/MA Teoria e Questões Aula 07 – Prof. Paulo H M Sousa No entanto, prevê o art. 188, não constituem atos ilícitos: I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido; II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente. No caso do inc. II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo, pela leitura integral do parágrafo único. 2014 – UFPR – DPE/PR – Defensor Público Estadual A respeito da Responsabilidade Civil no Código Civil de 2002, é correto afirmar: a) Ainda que a responsabilidade por fato de terceiro seja objetiva em relação aos pais, incumbe ao ofendido provar a culpa do filho menor que estiver sob a autoridade ou em companhia daqueles e que seja o causador do dano, com o que estará configurado o dever de indenizar. b) Aquele que requerer em Juízo a busca e apreensão de determinado bem sem necessidade não pratica ato ilícito, uma vez que apenas está exercendo seu direito constitucional de ação. c) Os atos praticados em estado de necessidade são considerados lícitos, razão pela qual não obrigam o seu autor a indenizar o dono da coisa deteriorada ou destruída, mesmo que este não seja culpado pela situação de perigo que motivou a ação. d) O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com a herança, sendo ilimitada a responsabilidade do sucessor a título universal. 1. Titularidade do direito pelo agente 2. Exercício excessivo do direito 3. Ultrapassagem dos limites impostos 4. Violação do direito alheio 5. Nexo de causalidade http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Paulo H M Sousa www.estrategiaconcursos.com.br 27 de 122 DIREITO CIVIL – PC/MA Teoria e Questões Aula 07 – Prof. Paulo H M Sousa e) Compreende-se no conceito de dano emergente aquilo que a vítima efetivamente perdeu e o que razoavelmente deixou de ganhar com a ocorrência do fato danoso. Comentários A alternativa A está correta, pela literalidade do art. 933: “As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos”. Ou seja, os responsável legais respondem objetivamente, mas não se fala o mesmo sobre os causadores dos danos. A alternativa B está incorreta, visualizando-se, in casu, típico caso de abuso de direito, nos termos do art. 187 A alternativa C está incorreta, dado que o art. 188, incs. I e II limitam a licitude à legítima defesa, ao exercício regular de direito e à destruição de pessoa/coisa para evitar perigo iminente, mas não o estado de necessidade A alternativa D está incorreta, pelo princípio do direito hereditário brasileiro de que as dívidas não atingem os herdeiros quando ultrapassarem as forças da herança. Veremos o abuso de direito se desdobrar em variadas situações específicas, geralmente vinculados ao princípio da boa-fé objetiva, como deixa claro o Enunciado 412 do CJF, que podemos classificar da seguinte maneira: A) Vedação ao comportamento contraditório O venire contra factum proprium foi tema tratado no Direito dos Contratos, pois é lá que sua aplicação é mais evidente. No entanto, já no Direito das Obrigações tratamos dele, em relação ao tema específico do local do pagamento (“Art. 330. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato”). Assim, se alguém age de determinada forma, toma determinada conduta, criando uma expectativa justa outrem, com base na confiança, não pode, posteriormente, agir de maneira contrária. É por isso que o art. 330 proíbe ao credor que reiteradamente recebe em local distinto do contratado pretender cobrar do devedor, posteriormente, no local anteriormente previsto, sem que este concorde. Igualmente, se não comparecer ao local habitual, a mora será sua, e não do devedor que não paga, por esperar pelo credor, sem obter resposta. O STJ, nesse sentido, em repetidas decisões veda o comportamento contraditório, por aplicação dos princípios da confiança e da lealdade, deveres laterais de conduta decorrentes da cláusulageral da boa-fé objetiva. http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Paulo H M Sousa www.estrategiaconcursos.com.br 28 de 122 DIREITO CIVIL – PC/MA Teoria e Questões Aula 07 – Prof. Paulo H M Sousa B) Supressão e surgimento A supressio é instituto intimamente ligado à vedação ao comportamento contraditório e à caducidade. Ocorre nas situações nas quais a pessoa não exercita seu exercício em tempo adequado, pelo que o transcurso do tempo torna seu exercício abusivo. A supressio, assim, inibe o exercício de um direito, até então reconhecido, pelo seu não exercício. Não se confunde com a caducidade, apesar da ligação com os institutos da prescrição e da decadência. O mesmo art. 330 serve de exemplo, já que não há prescrição ou decadência em relação à alteração do local do pagamento. Ocorre, porém, que como o titular do direito creditório deixou o tempo fluir sem exercitar o direito de exigir que o devedor realizasse o pagamento no local devido, o exercício, após largo prazo, é abusivo. Suprime-se seu direito, portanto, em outras palavras. Já o surrectio é a outra face da supressão, tratando-se da situação na qual não há direito algum, mas o exercício contrariamente à norma legal ou contratual que gera estabilização daquela relação jurídica para o futuro. A surrectio, assim, é a aquisição de um direito pelo decurso do tempo, pela expectativa legitimamente despertada por ação ou comportamento. O art. 330, igualmente, demonstra o surgimento. Apesar de não ser direito do devedor fazer o pagamento em local diverso do ajustado, sua reiteração faz surgir o direito. C) A ninguém é dado aproveitar-se da própria torpeza O tu quoque, tradicionalmente ligado ao nemo auditur propriam turpitudinem allegans, é, em alguma medida, a expressão civil da perspectiva criminal de que a ninguém é dado alegar o desconhecimento da lei. Assim, não pode a pessoa alegar o desconhecimento de uma situação jurídica justamente para não a observar. Trata-se da surpresa de uma parte por ato injustificado da outra. Ou, em outras palavras, para usar um exemplo tipicamente contratual, não pode um contratante alegar que não leu o contrato para se escusar de cumpri-lo, sob a exata alegação de que não sabia de seu conteúdo. Não pode uma das partes querer que a outra cumpra sua parte sem que tenha previamente cumprido a sua. D) Vedação ao agravamento do prejuízo Conhecido por sua versão anglo-saxônica, o duty to mitigate the loss, igualmente deriva do princípio da boa-fé objetiva e liga-se umbilicalmente ao nemo auditur propriam turpitudinem allegans. Nesse sentido, o credor tem de evitar o próprio prejuízo, tomando medidas judiciais cabíveis para proteger seu http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Paulo H M Sousa www.estrategiaconcursos.com.br 29 de 122 DIREITO CIVIL – PC/MA Teoria e Questões Aula 07 – Prof. Paulo H M Sousa crédito, sendo que posteriormente não pode agravar os prejuízos do devedor ou de terceiros por conta de sua desídia. 2015 – COPS/UEL – PGE/PR – Procurador do Estado Com relação à responsabilidade civil no direito civil brasileiro contemporâneo, é CORRETO afirmar que: A) O abuso do direto pressupõe logicamente a existência do direito, embora o titular se exceda no exercício dos poderes que o integram. Assim, quem alega a ausência de direito não pode validamente alegar a existência de abuso de direito. E quem pretende indenização pelos danos decorrentes do exercício abusivo de direito deve comprovar a culpa neste exercício abusivo de um direito existente. B) Como a responsabilidade civil da Administração Pública é objetiva, não se lhe aplicam as excludentes de responsabilidade por ausência de nexo de causalidade entre a conduta e o dano ou por inexistência de dano. C) Em regra, o fundamento da responsabilidade civil extracontratual no direito brasileiro é uma atuação culposa. Excepcionalmente, poderá haver imputação pelo risco. D) Na responsabilidade civil contratual, a violação de deveres laterais impostos pelo princípio da boa-fé, tais como os deveres mútuos de proteção, lealdade, informação e assistência, não gera o dever de indenizar perdas e danos, mas tão somente a anulação do contrato. E) Nos casos de deferimento judicial de indenização por danos morais decorrentes de ato ilícito, os juros de mora contam-se a partir da citação. Comentários A alternativa A está incorreta, porque o abuso de direito não pressupõe comprovação de culpa, basta demonstrar o excesso, abusivo, como vimos anteriormente. A alternativa B está incorreta, dado que, em que pese se tratar de responsabilidade civil objetiva, seja para a Administração Pública ou não, os excludentes de responsabilidade por exclusão do nexo de causalidade (no caso, a culpa exclusiva da vítima) também se aplicam à espécie. A alternativa C está correta, por aplicação da regra do art. 927 e de seu parágrafo único, vistos na aula passada. A alternativa D está incorreta, como vimos acima, já que a violação desses deveres é abusiva, na forma do art. 187 do CC/2002. A alternativa E está incorreta, como vimos na aula de Direito das Obrigações, por aplicação da Súmula 54 do STJ (“Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual”). http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Paulo H M Sousa www.estrategiaconcursos.com.br 30 de 122 DIREITO CIVIL – PC/MA Teoria e Questões Aula 07 – Prof. Paulo H M Sousa Legislação pertinente No que tange aos elementos da aula de hoje, há mais que se falar na jurisprudência, como já fizemos durante a aula, do que da legislação, já que se tratam de temas de legislação aberta, própria à colmatação judicial. Por isso, vamos direto ao próximo item. Na aula que vem, quanto aos Direito Reis, voltarei a tratar da legislação pertinente. Foco! Jurisprudência e Súmulas Correlatas Ainda que o menor seja emancipado voluntariamente pelos pais, a responsabilidade destes se mantém em caso de dano causado por aquele: AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. ATROPELAMENTO. LESÕES CORPORAIS. INCAPACIDADE. DEVER DE INDENIZAR. REEXAME DE MATÉRIA DE FATO. REVISÃO DO VALOR DA INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. PENSÃO MENSAL. BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. CUMULAÇÃO. POSSIBILIDADE. JULGAMENTO ULTRA PETITA. OCORRÊNCIA. RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PAIS. EMANCIPAÇÃO. A emancipação voluntária, diversamente da operada por força de lei, não exclui a responsabilidade civil dos pais pelos atos praticados por seus filhos menores (AgRg no Ag 1239557/RJ, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 09/10/2012, DJe 17/10/2012). Veja que esse posicionamento do STJ vem de longa data, ou seja, a Corte mantém o entendimento de que a emancipação voluntária dos pais não têm o condão de eximir-lhes de indenizar pelos atos praticados pelos filhos: Responsabilidade civil. Pais. Menor emancipado. A emancipação por outorga dos pais não exclui, por si só, a responsabilidade decorrente de atos ilícitos do filho. (REsp 122.573/PR, Rel. Ministro EDUARDO RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em 23/06/1998, DJ 18/12/1998, p. 340). Ainda que o menor possa ser responsabilizado pelos danos causados, diretamente, de maneira subsidiária e mitigada, por força do art. 928 do CC/2002, não há litisconsórcio necessário na lide, mas apenas litisconsórcio facultativo simples, opcional ao autor da ação: DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL POR FATO DE OUTREM - PAIS PELOS ATOS PRATICADOS PELOS FILHOS MENORES. ATO ILÍCITO COMETIDO POR MENOR. RESPONSABILIDADE CIVIL MITIGADA E SUBSIDIÁRIA DO INCAPAZ PELOS SEUS ATOS (CC, ART. 928). LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO. INOCORRÊNCIA. A responsabilidade http://www.iceni.com/infix.htm Prof. Paulo H M Sousa www.estrategiaconcursos.com.br