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DIMENSÕES RÍTMICAS E EXPRESSIVAS DO MOVIMENTO HUMANO Fernanda Regina Pires 2 1 RITMO Neste bloco, aprenderemos sobre o ritmo, sua definição, onde podemos observá-lo e uma introdução de como o encontraremos na prática da Educação Física. Dessa forma, o objetivo desse conteúdo é trazer uma base sólida sobre ritmo para que possamos avançar no conhecimento e em sua aplicabilidade. 1.1 O que é ritmo O ritmo está presente na vida do ser humano desde seu primórdio. Segundo Galway (1987), o homem pré-histórico percebeu o ritmo quando notou a pulsação de seu coração e, ainda, através dos sons emitidos pela natureza, como matas, água, vento. Não é difícil encontrarmos pessoas que mencionam que o ritmo está na música, mas não só nela. O ritmo é encontrado em diversas situações do cotidiano e da vida e não está relacionado apenas com som. Um exemplo disso são as estações do ano. Dentro de um ano, temos 4 estações: primavera, verão, outono e inverno. Elas possuem um ritmo, uma duração, uma característica. O nosso corpo e a nossa fisiologia possuem um ritmo. Quando assistimos um jogo de voleibol feminino, existe um ritmo de jogo, certo? O ritmo de jogo no setor masculino é o mesmo? Normalmente não. O masculino normalmente é mais rápido. E perceba que não existe uma música, um som contínuo dentro da partida. O que é preciso deixar claro é que o ritmo está presente em várias situações, e não necessariamente onde há música. Mas então, o que é ritmo? Vamos ver a seguir algumas definições de estudiosos do ritmo e do movimento, que foram apresentadas na obra de Artaxo e Monteiro (2008): “O ritmo é uma organização ou uma estruturação de fenômenos que se desenrolam no tempo” – Le Boulch. 3 “O ritmo é o elemento essencial de tudo que vive. Desde que a vida tem caráter contínuo, o ritmo também é contínuo” – Bode. “O ritmo é movimento ordenado” – Platão. “É uma estrutura que se repete ciclicamente” – LaPierre. Você deve ter percebido que nessa breve explicação sobre ritmo foram mencionados termos como: som, tempo, continuidade e velocidade. Então, vamos compreendê-los! Segundo Artaxo e Monteiro (2008, p. 15), o som é a vibração de algum corpo e pode ser percebida pelo sistema auditivo, ou seja, o “som é tudo aquilo que impressiona o órgão auditivo, como resultado do choque de dois corpos que produzem a vibração do ar”. Nem todo som produzido é ritmo, mas as vibrações rítmicas produzem outras sensações, tais como emoção, alegria, tristeza, entre outras. O som pode ser grave ou agudo. Os sons agudos são os que encontramos mais vibrações em um período de tempo; já o som grave apresenta menos ondas/vibrações no mesmo período de tempo. Fazendo uma analogia, a palavra “agudo” lembra a palavra “agulha”, que se trata de um objeto fino. O som agudo nos parece um som mais “fino”/estridente, enquanto o som grave nos parece um som mais “grosso”. Já o tempo se trata da duração. No caso do ritmo, podemos entender que o tempo se relaciona com o período em que este evento ou som ritmado acontece. A continuidade está relacionada à não interrupção, à persistência de um evento ou som. E por fim, a velocidade. Ela se trata do deslocamento de algo, seja o som, o movimento, um objeto, podendo ser rápida, moderada ou lenta e ter relação com a duração. Sendo assim, o ritmo está relacionado a vida, eventos, movimentos e sons. 4 Além disso, é importante mencionar que o termo “ritmo” também possui uma conceituação bastante específica para a área da Educação Física, pois se trata também de uma capacidade física coordenativa. Para Weineck (1986), a coordenação trata-se de uma sequência de movimentos a partir do trabalho conjunto entre o sistema nervoso e os músculos esqueléticos. E, dessa forma, o ritmo é uma capacidade física coordenativa que, segundo Barbanti (1996), é a capacidade de associar o desenvolvimento temporal e da dinâmica de movimento. Outras conceituações que levam em consideração o ritmo como capacidade coordenativa: “É a qualidade física explicada pelo encadeamento de tempo ou pelo encadeamento energético, pela mudança de tensão e de repouso, enfim, pela variação com repetições periódicas, estando presente em todas as modalidades esportivas” – Tubino. “A bibliografia científica que estuda as manifestações desportivas denomina-o sentido rítmico ou ainda ritmização” – Platanov. “É a capacidade de reproduzir, mediante o movimento, um ritmo externo ou interno do executante” – Manso. “É a capacidade de adaptar-se a um ritmo dado, interiorizá-lo em movimento” – Weineck. E, nesse sentido, é importante evidenciar que, na perspectiva da Educação Física, o ritmo é inerente à vida e ainda uma capacidade física. Obviamente possuem relação entre si, mas são perspectivas distintas. 1.2 Estruturação do ritmo Segundo Artaxo e Monteiro (2008), o ritmo possui uma estruturação, dividida em: 5 • Individual – Cada indivíduo é único e possui características pessoais. Nesse sentido, o ritmo individual está relacionado ao ritmo biológico, de crescimento, amadurecimento, entre outros, próprio de cada indivíduo. • Grupal – Como a nomenclatura já sugere, trata-se de uma estruturação em grupo, ou seja, com mais de uma pessoa: atividades como Ginástica Rítmica por equipe, remo, nado sincronizado. A estruturação grupal necessita da sincronia do grupo, seja através de um estímulo acústico ou de uma música propriamente dita. A estruturação grupal não quer dizer que, necessariamente, o grupo irá realizar os movimentos no mesmo momento, mas também pode haver situações como o cânone, que cada integrante realiza o movimento em um momento, porém o grupo executa em uma estrutura rítmica igual. • Mecânico – Esta estruturação não possui variação rítmica; como o próprio nome sugere, vem de máquinas, podemos mencionar como exemplo o relógio, o micro-ondas, entre outros. • Disciplinado – “Condicionamento de um ritmo pré-determinado. Uma vez assimilada qualquer marcação rítmica, passará a ser um ritmo disciplinado” (Artaxo e Monteiro, p. 12, 2008). • Refletido – Trata-se da reflexão sobre a métrica, ou seja, a medida do ritmo. Ouvir, perceber e refletir sobre a célula rítmica, através da comunicação com o Sistema Nervoso Central (SNC). 1.3 Ritmo, arritmia e rítmica Já compreendemos o que é ritmo, mas ainda precisamos compreender mais dois termos: arritmia e rítmica. Segundo Artaxo e Monteiro (2008), para que um indivíduo estabeleça ritmo, é preciso que haja uma comunicação com o sistema nervoso central deste indivíduo. Se ocorre alguma falha ou deficiência nessa comunicação, pode provocar uma arritmia. Quanto às manifestações rítmicas, podemos classificar como: 6 • Indivíduo rítmico – Trata-se da pessoa que será harmoniosa corporalmente. É importante que a criança seja sensível e estimulada para experiências musicais e rítmicas. • Indivíduo arrítmico (movimento) – Segundo Artaxo e Monteiro (2008), trata-se do indivíduo que possui ausência da harmonia e ritmo de movimento ou a um desenho coreográfico. Não se trata de ritmo biológico, mas sim do ritmo relacionado ao movimento corporal. • Indivíduo não-arrítmicos – São indivíduos que sentem dificuldade em qualquer manifestação rítmica, e pode acontecer por falta de concentração, vontade, atenção, confiança em si, baixa autoestima, timidez, dificuldade de memorização (ARTAXO; MONTEIRO, 2008). Já o termo rítmica está relacionado com a educação musical através de uma experiência corporal ou uma educação corporal através da vivência musical. Segundo Dalcroze (apud ARTAXO; MONTEIRO 2008, p. 14) “a rítmica se baseia em ter primeiro a vivência musical através do corpo e depois a compreensão musical através do intelecto”. Para trabalhar de forma rítmica, o autor propõe possibilidades. Realiza-se um trabalho corporalincluindo os cinco sentidos; já de maneira cognitiva, utiliza-se representações mentais através de exercícios simbólicos, entre outros; e, por fim, a participação ativa do indivíduo, levando em consideração e respeitando suas características pessoais. 1.4 Relação com a música Por óbvio que a música possui relação direta com o ritmo. No entanto, se faz necessário evidenciar que aqui trataremos da relação do ritmo com o movimento e sua análise sob essa perspectiva. O que quero dizer é que, se você toca algum instrumento musical, por exemplo, possivelmente conheça termos correlatos aos que trataremos aqui. E, ainda, existem alguns termos, definições e práticas musicais que não serão trabalhadas aqui, pois iremos voltar o olhar para a aplicação nos movimentos e seu diálogo com a música. 7 1.5 Elementos do ritmo O ritmo é uma ciência exata, e isso quer dizer que trabalhamos com números. Vamos tratar neste subtema dos quatro elementos do ritmo: pulso, acento, andamento e intensidade. • Pulso O pulso é a batida contínua da música, e possui, via de regra, a mesma distância entre uma batida e outra. Consideramos sinônimos os termos pulso, batida e tempo, ou seja, você pode encontrar literaturas diferentes que utilizam estes termos para significar a batida contínua. Quanto mais próxima uma batida da outra, mais rápida é a música, e quanto mais distante, mais lenta. • Acento O acento é a ênfase dada a alguma batida (tempo ou pulso) na música. Essa ênfase pode ser um som mais grave, agudo ou um instrumento. Esta ênfase pode caracterizar o compasso musical. Os compassos mais encontrados são: ▪ Compasso binário: Possui 2 tempos. Um acento (batida forte) e um pulso. Fonte: Artaxo e Monteiro, 2008, p. 29. Figura 1.1 – Dois tempos. 8 ▪ Compasso ternário: Possui 3 tempos. Um acento (batida forte) e dois pulsos. Fonte: Artaxo e Monteiro, 2008, p. 29. Figura 1.2 – Três tempos. ▪ Compasso quaternário: Possui 4 tempos. Um acento (batida forte) e três pulsos. Fonte: Artaxo e Monteiro, 2008, p. 29. Figura 1.3 – Quatro tempos. • Andamento O andamento trata-se da velocidade. Vamos pensar na palavra “andamento” que vem da palavra andar. Podemos andar rápido ou lento; sendo assim, esse elemento utiliza como base o pulso, e podemos ajustar o andamento rápido ou lento. Andamento lento (metade do pulso): o movimento é realizado em pulsos alternados, ou seja, um pulso realiza o movimento e em outro não. O andamento lento pode ser utilizado quando realizamos um movimento amplo ou que precise de mais tempo para ser executado. Andamento rápido (dobro do pulso): o movimento é realizado no pulso e exatamente nos seus intervalos. Pode ser utilizado em movimentos pequenos que necessitem de menos tempo para serem executados. 9 Como já foi mencionado, o ritmo é uma ciência exata e, dessa forma, ao explorar o andamento, os movimentos devem ser executados exatamente no dobro ou metade do pulso. • Intensidade A intensidade, pela perspectiva do som, está relacionada com o volume: baixo e alto. Músicas com a intensidade fraca possuem o som mais baixo, enquanto músicas com a intensidade forte possuem o som mais alto. Existem músicas que possuem variação de intensidade, ou seja, em uma mesma música encontramos diferença de intensidade. Com relação ao movimento, a intensidade está relacionada à força empregada na execução. Por exemplo, eu posso realizar um movimento de elevação dos braços. Eu posso executar colocando força no movimento ou fazendo o movimento de forma mais suave. Essa é a intensidade. É importante considerar a intenção da execução em atividades que utilizem música. Isso porque a música também possui intensidade e, dessa forma, se a música possui intensidade forte, o movimento deve ser executado com força, e o contrário se for fraca. Conclusão Neste bloco, aprendemos a definição de ritmo, onde o percebemos e sua estruturação (individual, grupal, mecânico, disciplinado e reflexivo). Além disso, compreendemos que o ritmo possui elementos importantes: pulso, acento, andamento (rápido e lento) e intensidade (forte e fraco). 10 REFERÊNCIAS ARTAXO, I.; MONTEIRO, G. de A. Ritmo e movimento: Teoria e Prática. São Paulo: Phorte Editora. 4. ed., 2008. BARBANTI, V. Treinamento físico: bases científicas. São Paulo: CLR Balieiro, 3. ed., 1996. GALWAY, J. A música no tempo. São Paulo: Martins Fontes, 1987. WEINECK, J. Manual do Treino Desportivo. São Paulo. Manole, 2. ed., 1986.
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