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Psicopatia X Psicopatologia

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Psicopatia X Psicopatologia: Conceito e Origem
Psicopatia
A natureza e a origem da psicopatia têm sido, ao longo do tempo, objeto de intensas controvérsias. Uma visão panorâmica das diversas opiniões, do início da psiquiatria no século XIX até os dias de hoje, mostra uma polarização de posições que vão desde a atribuição do comportamento psicopático a causas puramente orgânicas, com reforço no conceito de degeneração constitucional, até a atribuição dos distúrbios a estados adquiridos através de experiências afetivas primitivas, negando, portanto o inato. A maioria das opiniões atuais é, contudo, eclética, admitindo uma diversidade de fatores na constituição da psicopatia.
Durante muito tempo, em função da falta de conceituação, definição e categorização da doença mental em geral, o termo de personalidade psicopática foi utilizado para designar um conjunto de quadros que, apesar de certos traços em comum, dificilmente poderiam, pelos padrões atuais, ser incluídos numa mesma categoria. Inversamente encontra-se também ao longo do tempo uma diversidade de rótulos caracterizando anomalias que poderiam ser agrupadas sob o termo psicopatia. Até recentemente, encontra-se na literatura psiquiátrica uma variedade de termos utilizados para a designação de tais casos que inclui as denominações de desequilibrados mentais, sociopatas, desadaptados, perversos, neuróticos de caráter, como algumas das mais frequentes. Em síntese, vê-se que a indefinição de conceitos, inerente não só ao campo da psicopatia, mas a todo o campo abrangido pela psiquiatria tornou difícil durante muito tempo uma diferenciação precisa da psicopatia em relação a outros quadros clínicos, de conduta etc.
De modo geral, a psicopatia é um estado mental patológico caracterizado por desvios, principalmente, de caráter, que desencadeiam comportamentos antissociais. Esse desvio de caráter costuma ir se estruturando desde a infância. Por isso, na maioria das vezes, alguns dos seus sintomas podem ser observados nesta fase e/ou na adolescência, por meio de comportamentos agressivos que, durante estes períodos, são denominados de transtornos de conduta. É um transtorno que tende a se cronificar e causar prejuízos na vida do próprio indivíduo e de quem com ele convive e, até mesmo, na sociedade.
As características típicas de um psicopata, de acordo com a análise de profissionais especializados em Psiquiatria Forense, são as seguintes: a boa lábia; o ego inflado; mentir em excesso; sede por adrenalina; reação explosiva; impulsividade; comportamento antissocial; ausência de culpa; sentimentos superficiais; falta de empatia; irresponsabilidade; má conduta na infância. Essas características fazem parte de uma escala conhecida pelos Psiquiatras como a Escala de Robert Hare, onde fica estabelecido que cada característica possui uma certa pontuação, e a soma destas determinam o grau de psicopatia do indivíduo.
 É importante ressaltar que os psicopatas possuem níveis variados de gravidade: leve, moderado e grave. Os primeiros se dedicam a trapacear, aplicar golpes e pequenos roubos, mas provavelmente não cometerão assassinatos. Já os últimos são cruéis e sentem prazer ao realizar seus atos brutais.
O sociopata têm uma necessidade de estímulo maior que a normal, o que o leva a correr frequentes riscos sociais, físicos, financeiros ou jurídicos. Costumam ser capazes de induzir outras pessoas a os acompanharem em empreitadas arriscadas e, como grupo, são conhecidos por mentir e enganar de modo exagerado e doentio, assim como por estabelecer de quão instruídos ou bem posicionados sejam na idade adulta, podem apresentar um histórico de problemas comportamentais precoces, que às vezes inclui o uso de drogas ou episódios de delinquência juvenil e no qual a incapacidade de assumir a responsabilidade por quaisquer erros tem presença garantida.
Contudo, os psicopatas se destacam, sobretudo, pela superficialidade da emoção, pela natureza vazia e transitória de quaisquer sentimento de afeto que possam alegar e por uma insensibilidade surpreendente. Eles não demonstram nenhum sinal de empatia nem de interesse genuíno em se envolver emocionalmente com um parceiro. Se o psicopata valoriza minimamente o cônjuge é porque o vê como uma posse e, se perdê-lo, ficará furioso, mas jamais triste ou culpado.
Por fazer parte dos transtornos de personalidade, a psicopatia só pode ser diagnosticada a partir dos dezoito anos de idade, sendo importante ressaltar que os transtornos de personalidade não são propriamente doenças, mas anormalidades do desenvolvimento psicológico que perturbam a integração psíquica de forma persistente e ocasionam no indivíduo padrões profundamente entranhados, inflexíveis e mal ajustados, tanto em relação a seus relacionamentos, quanto à percepção do ambiente e de si mesmos.
No caso dos psicopatas pode-se verificar que tais indivíduos sofrem de um déficit emocional, falta de afetividade e ausência de empatia. Esses sentimentos são crucias para a formação do chamado “julgamento moral”, que utiliza a razão e a emoção para discernir o certo do errado. Na figura do psicopata então, faltaria o entendimento, ainda que parcial, do caráter criminoso da ação, já que para ele a visão do licito e do ilícito estaria, de forma patológica, distorcida. Enquadra-se, portanto nos critérios da semi-imputabilidade.
Já a incapacidade absoluta quando atribuída aos psicopatas, é declarada através da interdição, medida proposta judicialmente, devendo quem requerer provar a sua legitimidade, para que seja válida, uma vez que atesta a nulidade dos atos do agente, bem como o exime de responsabilidade. No que tange ao Direito Penal, a medida a ser atribuída é a medida de segurança, ao invés das penas restritivas de direito ou privativas de liberdade, sendo atestada quando verificada a insanidade mental, e o grau de periculosidade do agente.
Psicopatologia
 A psicopatologia é uma disciplina científica que estuda a doença mental em seus vários aspectos: suas causas, as alterações estruturais e funcionais relacionadas, os métodos de investigação e suas formas de manifestação. É uma ciência autônoma, e não meramente um ramo da psicologia, nascendo a partir da clínica psiquiátrica.
 Relacionadas à múltiplas abordagens e referenciais teóricos, as psicopatologias podem se dividir em explicativas e descritivas, sendo as primeiras modelos teóricos ou achados experimentais que buscam esclarecimentos quanto à etiologia dos transtornos mentais e as descritivas, a descrição e categorização precisa de experiências anormais, como informadas pelo paciente e observadas em seu comportamento. Explicação e descrição não se excluem, se completam.
 A Psicopatologia deve considerar o indivíduo globalmente atentando sempre para os padrões de normalidade aonde o indivíduo a ser questionado está inserido, não se deixando guiar “cegamente” pelos sintomas. Considerar um sintoma isolado é fazer com que o objetivo principal de entendê-lo seja esquecido.
 Conclui-se, portanto, que a Psicopatologia refere-se tanto ao estudo dos estados mentais patológicos, quanto às manifestações comportamentais, ou experiências que possam indicar um estado mental psicologicamente anormal. Percebe-se, entretanto, que a sua principal preocupação está direcionada com a doença da mente. Além disso, a Psicopatologia está diretamente ligada com diferentes áreas do conhecimento. Sobretudo, com a Psicologia, Psicanálise, Neurologia e Psiquiatria. Dessa forma, devido aos muitos discursos que ela abrange demonstra uma grande dificuldade de coesão teórica.
Referências
GOMES & ALMEIDA, C. C. G. &. R. M. M. D. Psicopatia em homens e mulheres. n°1. : Arquivos Brasileiros de Psicologia, v. 62, 2010.
CHENIAUX, E. Manual de Psicopatologia. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
D'ASSUMPÇÃO, E. F. V. Psicopatia. A Psicologia na Esfera Criminal. [S.l.]: Artigo Científico apresentado à Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, 2011.
DEMINCO, M. PSICOPATOLOGIA. Definições, Conceitos, Teorias & Práticas. [S.l.]: [s.n.], 2018.
< Https://stefanocmm.jusbrasil.com.br/artigos/112095246/analise-da-psicopatia-sob-o-ponto-de-vista-psicologico-e-juridico>. Acesso em: 23 Set. 2019.
BITTENCOURT, M. I. G. F. Conceito de Psicopatia: Elementos para uma definição. [S.l.]: [s.n.].

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