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Crimes contra a Família

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Dos crimes contra a família – Artigos 235 à 249 do CP
1. Dos crimes contra o casamento
1.1. Bigamia
Art. 235 - Contrair alguém, sendo casado, novo casamento: 
Pena — reclusão, de dois a seis anos. 
§ 1º Aquele que, não sendo casado, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo essa circunstância, é punido com reclusão ou detenção de um a três anos. 
§ 2º Anulado por qualquer motivo o primeiro casamento, ou por outro motivo que não a bigamia, considera-se inexistente o crime.
1.1.1. Objetividade jurídica
Proteger a organização familiar, mais especificamente o casamento monogâmico, de modo a evitar reflexos indesejados na ordem jurídica no que pertine aos direitos e obrigações entre os cônjuges.
1.1.2. Tipo objetivo e sujeito ativo
A premissa do crime é a de que ao menos um dos contraentes seja casado. Este, ao contrair novo matrimônio, tem pena de dois a seis anos de reclusão. O consorte, se solteiro e ciente da condição do outro, tem pena de reclusão ou detenção de um a três anos. Se desconhece tal condição, não responde pelo crime por falta de dolo. Ao contrário, é também vítima do delito. Se os dois já são casados, ambos respondem pela figura principal. 
Na modalidade do caput o crime é próprio, pois só pode ser cometido por pessoas já casadas. 
A bigamia é crime de concurso necessário porque pressupõe o envolvimento de duas pessoas, ainda que uma delas possa, eventualmente, não ser punida por falta de dolo. Respondem também pelo crime as pessoas ou testemunhas que, cientes do fato, colaborem com o aperfeiçoamento do segundo casamento. Tais pessoas são consideradas partícipes do delito. 
Se o agente é separado judicialmente ou separado de fato, mas ainda não é divorciado, comete o crime quando vem a casar-se novamente. Apenas o divórcio extingue o vínculo e abre a possibilidade de novo matrimônio lícito. 
Se o primeiro casamento for nulo ou anulável, mas ainda não tiver sido declarado como tal, haverá crime. No entanto, sendo posteriormente declarada a anulação ou nulidade do primeiro casamento, considera-se inexistente o delito. O simples casamento religioso não configura o crime, salvo se for realizado na forma do art. 226, § 2º, da CF (com efeitos civis). Por falta de previsão legal, não constitui crime viver em união estável com duas pessoas.
1.1.3. Sujeito passivo
O Estado, o cônjuge ofendido do primeiro casamento, bem como o cônjuge de boa-fé do segundo.
1.1.4. Consumação
Ocorre no momento em que os nubentes manifestam formalmente a vontade de contrair casamento perante a autoridade competente, durante a celebração. Trata-se de crime instantâneo, de efeitos permanentes.
1.1.5. Tentativa
Quando iniciada a celebração, a concretização do casamento é impedida. O processo de habilitação (anterior à celebração) constitui mero ato preparatório, não configurando a tentativa de bigamia, mas, sim, crime de falsidade ideológica a declaração de pessoa casada de que é desimpedida. 
1.1.6. Prazo prescricional
O lapso somente passa a correr da data em que o fato se torna conhecido da autoridade pública. 
1.1.7. Ação Penal
É pública incondicionada.
1.2. Induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento
Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior: 
Pena — detenção, de seis meses a dois anos. 
Parágrafo único. A ação penal depende de queixa do contraente enganado e não pode ser intentada senão depois de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento.
1.2.1. Objetividade jurídica
A regularidade na constituição do matrimônio, nos termos exigidos pela Lei Civil.
1.2.2. Tipo objetivo
A conduta típica é contrair casamento. Para que haja delito, entretanto, é necessário que o agente tenha induzido o consorte inocente em erro essencial ou que lhe tenha ocultado a existência de impedimento para a celebração do casamento — que não o matrimônio anterior, que configuraria o crime de bigamia. Premissa do crime, portanto, é que a outra parte esteja de boa-fé e tenha sido enganada pelo agente. É modalidade de norma penal em branco porque pressupõe complemento, que é encontrado em outra lei.
1.2.3. Sujeito ativo
Qualquer pessoa.
1.2.4. Sujeito passivo
O Estado e o contraente de boa-fé.
1.2.5. Consumação
Ocorre no momento da celebração do casamento.
1.2.6. Tentativa
Inviável em termos jurídicos. A ação penal só pode ser proposta se já tiver transitado em julgado a sentença que anulou o casamento em razão do erro ou do impedimento e só existe sentença declarando a tal anulação se o casamento se concretizou.
1.2.7. Prescrição
Tem início na data em que transita em julgado a sentença que declarou a anulação do casamento. A sentença anulando o casamento é condição de procedibilidade.
1.2.8. Ação penal
É privada personalíssima, sendo a competência do Juizado Especial Criminal.
1.3. Conhecimento prévio de impedimento
Art. 237 - Contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause nulidade absoluta: 
Pena — detenção, de três meses a um ano.
1.3.1. Objetividade jurídica
A regularidade do matrimônio.
1.3.2. Tipo objetivo
A conduta típica é contrair casamento, desde que o agente o faça sabendo da existência de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta. Se sabe do impedimento e omite o fato da pessoa com quem irá se casar, incorre no crime em análise. Saliente-se, ainda, que, se o sujeito narra ao outro contraente a existência do impedimento antes de o matrimônio se realizar e este aceita se casar mesmo assim, ambos respondem pelo delito.
1.3.3. Elemento subjetivo
Apenas o dolo direto é capaz de tipificar este crime, na medida em que o dispositivo exige que o agente conheça o impedimento matrimonial. 
1.3.4. Sujeito ativo
Pode ser qualquer pessoa. Se ambos os cônjuges conhecerem a existência do impedimento, serão coautores do crime.
1.3.5. Sujeito passivo
O Estado e o outro contraente, desde que esteja de boa-fé.
1.3.6. Consumação
No momento em que é realizado o casamento.
1.3.7. Tentativa
Quando iniciada a celebração, a cerimônia é interrompida antes da concretização do casamento.
1.3.8. Ação penal
Pública incondicionada, de competência do Juizado Especial Criminal.
1.4. Simulação de autoridade para celebração de casamento
Art. 238. Atribuir-se falsamente autoridade para celebração de casamento: Pena — detenção, de um a três anos, se o fato não constitui crime mais grave.
1.4.1. Objetividade jurídica
A regularidade formal do ato matrimonial.
1.4.2. Tipo objetivo
A conduta ilícita consiste em simular a condição de juiz de paz para celebrar matrimônio. É evidente que, na prática, a intenção do sujeito é obter a remuneração pelo casamento; caso consiga, responderá apenas por crime de estelionato porque o tipo em estudo é expressamente subsidiário. Assim, considerando que esse crime se constitui pela simples conduta de atribuir-se a condição de autoridade para celebração de casamento, estará configurado o delito somente se, posteriormente, o agente não obtiver qualquer vantagem como consequência de tal ato. O casamento realizado por autoridade incompetente é anulável, mas se convalida se não for proposta a ação para a anulação no prazo de dois anos a contar da celebração.
1.4.3. Sujeito ativo
Pode ser qualquer pessoa.
1.4.4. Sujeito passivo
O Estado e os cônjuges de boa-fé.
1.4.5. Consumação
No momento em que o agente se atribui falsamente a condição de juiz de paz, independentemente da efetiva celebração do casamento. 
1.4.6. Tentativa
Quando o ato puder ser fracionado. Na prática, entretanto, não ocorre.
1.4.7. Ação penal
Pública incondicionada. 
1.5. Simulação de casamento
Art. 239 - Simular casamento mediante engano de outra pessoa: 
Pena — detenção, de um a três anos, se o fato não constitui elemento de crime mais grave.
1.5.1. Objetividade jurídica
A organização familiar e o regime jurídico do casamento.
1.5.2. Tipo objetivo
Para que haja crime, é necessário que o agente, por meio fraudulento, engane o outro nubente, de tal forma que este acredite que está
mesmo se casando.
O Juiz de Paz ou o Oficial do Cartório de Registro Civil que realiza a cerimônia, mas dolosamente engana os noivos e não registra ou não leva a registro o ato no livro respectivo, comete falsidade ideológica, consistente em omitir declaração que devia constar em documento público.
1.5.3. Sujeito ativo
Qualquer pessoa. Trata-se de crime comum.
1.5.4. Sujeito passivo
O Estado, bem como a pessoa enganada.
1.5.5. Consumação
No momento da celebração simulada.
1.5.6. Tentativa
É possível.
1.5.7. Ação penal
É pública incondicionada.
1.6. Adultério
Art. 240 - Cometer adultério: 
Pena — detenção, de quinze dias a seis meses. 
§ 1º Incorre na mesma pena o corréu. 
§ 2º A ação somente pode ser intentada pelo cônjuge ofendido, e dentro de um mês após o conhecimento do fato. 
§ 3º A ação penal não pode ser intentada:
I — pelo cônjuge desquitado; 
II — pelo cônjuge que consentiu no adultério ou o perdoou, expressa ou tacitamente. 
§ 4º O Juiz pode deixar de aplicar a pena: 
I — se havia cessado a vida em comum dos cônjuges; 
II — se o querelante havia praticado qualquer dos atos previstos no art. 317 do Código Civil.
A menção ao crime de adultério e às suas regras quanto à ação penal e ao perdão judicial foram mantidas apenas por razões históricas, já que esse crime foi revogado expressamente pela Lei n. 11.106/2005. O delito de adultério punia o relacionamento sexual, fora do casamento, com pessoa do sexo oposto.
2. Dos crimes contra o estado de filiação 
2.1. Registro de nascimento inexistente
Art. 241 - Promover no registro civil a inscrição de nascimento inexistente: 
Pena - reclusão, de dois a seis anos. 
2.1.1. Objeto jurídico
Tutela-se nesse capítulo, especificamente, o estado de filiação, bem como a fé pública dos documentos inscritos no registro civil. Considera-se inexistente o nascimento “quando se diz nascido filho de mulher que não deu à luz, quer por não se achar grávida, quer porque não houve ainda a délivrance; ou quando se declara o natimorto como tendo nascido vivo. Em ambos os casos não houve nascimento”. 
Contudo, o crime previsto no art. 241 é especial em relação ao falso documental, pois se refere especificamente à declaração falsa em registro de nascimento. 
Obs: Resolução do parto. Clinicamente, o estudo do parto analisa três fases ou períodos principais (dilatação do colo do útero, expulsão do feto, e dequitação, ou saída da placenta). 
2.1.2. Sujeito ativo
Crime comum. Assim, podem ser sujeitos ativos o oficial do registro civil que realiza a inscrição, os pais fictícios que a requerem etc. Nada impede a coautoria; cite-se como exemplo o médico ou as testemunhas que atestam falsamente o nascimento. 
2.1.3. Sujeito passivo
É o Estado, bem como o indivíduo prejudicado pelo registro. 
2.1.4. Elemento Subjetivo
Dolo. 
2.1.5. Consumação e Tentativa
Trata-se de crime instantâneo de efeitos permanentes, que se consuma com a efetiva inscrição do nascimento inexistente no registro civil. Assim, não basta a mera declaração falsa ao oficial do registro civil. Se este não realiza a inscrição, por circunstâncias alheias à vontade do agente, haverá a tentativa do crime. 
2.2. Parto suposto. Supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil de recém-nascido
Art. 242 - Dar parto alheio como próprio; registrar como seu o filho de outrem; ocultar recém-nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil:
Pena - reclusão, de dois a seis anos.
Parágrafo único - Se o crime é praticado por motivo de reconhecida nobreza: 
Pena - detenção, de um a dois anos, podendo o juiz deixar de aplicar a pena. 
O tipo penal, portanto, prevê quatro figuras criminosas: 
· Dar parto alheio como próprio: a punibilidade assenta-se, pois, não no simples fato de simular prenhes, mas na acompanhada ou completada pelo aparecimento de criança alheia, porque é então que advém dano à ordem da família, com a introdução nela de um indivíduo estranho, e prejuízo aos legítimos herdeiros, a quem caberiam os bens se não houvesse essa falsidade”. Não se exige a inscrição do nascimento no registro civil. A conduta de dar parto próprio como alheio não se enquadra nessa figura típica. 
· Registrar como seu o filho de outrem: adoção à brasileira. 
· Ocultar recém-nascido, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil: nessa modalidade criminosa, houve o nascimento de uma criança, mas ela é ocultada, isto é, escondida, encoberta, de forma que seu nascimento não se torne conhecido. Basta que não seja ela apresentada, acarretando com isso a supressão ou alteração de direito relativo ao estado de família. 
· Substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil: nessa modalidade delituosa há troca material dos recém -nascidos, a qual provoca a alteração no estado civil dos infantes, que passam a integrar família diversa da sua, sendo certo que, com isso, os direitos inerentes ao estado de filiação lhe são suprimidos, pois passam a ser exercidos pelo outro neonato. Não há necessidade de se operar a inscrição do recém-nascido no registro civil. Trata-se de crime de ação múltipla ou de conduta variada. 
2.2.1. Objeto jurídico
Tutela-se o estado de filiação, bem como a fé pública dos documentos inscritos no registro civil. 
2.2.2. Sujeito Ativo 
Crime próprio, só a mulher, mas nada impede concurso de pessoas.
2.2.3. Sujeito passivo
Em todas as modalidades delituosas o sujeito passivo principal é sempre o Estado. 
· Vítima: a pessoa prejudicada pela perda de direito que o teria não fosse a existência desse filho, ou seja, os herdeiros do sujeito ativo. 
· Sujeitos: lesados com o registro. 
· Sujeito passivo é o recém-nascido ocultado que tem seus direitos inerentes ao estado civil suprimidos ou alterados. 
· Sujeito passivo é o neonato substituído que tem seus direitos inerentes ao estado civil suprimidos ou alterados. 
2.2.4. Elemento subjetivo
Dolo em todas as hipóteses. 
2.2.5. Consumação e tentativa
2.2.5.1. Dar parto alheio como próprio: o crime não se consuma com a mera simulação da gravidez, mas “no momento em que é criada uma situação que importe alteração do estado civil do recém-nascido”. A tentativa é perfeitamente admissível. 
2.2.5.2. Registrar como seu o filho de outrem: consuma-se no momento em que é realizada a inscrição do infante alheio no registro civil. É possível a tentativa. 
2.2.5.3. Ocultar recém-nascido, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil: o crime consuma-se “no momento e no lugar em que, em consequência do ocultamento do neonato, se tenha criado uma situação material ou formal de se poder dizer suprimido o estado civil do mesmo neonato”. Se em consequência do ocultamento não se logra suprimir ou alterar direito inerente ao recém -nascido, há mera tentativa do crime. 
2.2.5.4. Substituir recém-nascido, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil: a consumação dá-se nos mesmos moldes da ocultação de recém-nascido. A troca ou substituição de crianças que, ato contínuo ou imediatamente, vem a ser descoberta não traduz, por si, consumação, pois mal se poderá falar em alteração de estado civil, isto é, ainda não se estabeleceu situação que não é correspondente à realidade... Será antes uma tentativa do crime, conquanto o agente possa tentá-lo sem avançar tanto na trajetória do delito”.
2.3. Sonegação de estado de filiação 
Art. 243 - Deixar em asilo de expostos ou outra instituição de assistência filho próprio ou alheio, ocultando-lhe a filiação ou atribuindo-lhe outra, com o fim de prejudicar direito inerente ao estado civil: 
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. 
2.3.1. Objeto jurídico
Tutela-se o estado de filiação. 
2.3.2. Sujeito ativo
Na modalidade deixar filho próprio, somente os pais do infante podem praticar esse crime. Já na modalidade deixar filho alheio, qualquer pessoa pode cometer o delito. 
2.3.3. Sujeito passivo
É o Estado, bem como o menor que é lesado em seus direitos inerentes ao estado civil. 
2.3.4. Elemento substancial
Dolo 
2.3.5. Consumação e tentativa
Consuma-se com o abandono
da criança em asilo de expostos ou outra instituição de assistência, havendo a ocultação de sua filiação ou atribuição de outra. Trata-se de crime material, portanto a tentativa é perfeitamente possível. 
3. Dos crimes contra a assistência familiar.
3.1. Abandono material
Art. 244 - Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente gravemente enfermo: 
Pena — detenção, de um a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incide quem, sendo solvente, frustra ou ilide, de qualquer modo, inclusive abandono injustificado de emprego ou função, o pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada.
3.1.1. Objetividade jurídica
O dispositivo visa proteger a família, no sentido de ser observada a regra Constitucional, Art. 229, que prevê a obrigação de assistência material recíproca.
3.1.2. Tipo objetivo
· Modalidade 1: O legislador incrimina o cônjuge, ascendente ou descendente que, sem justa causa, deixa de prover a subsistência de seus dependentes.
· Modalidade 2: O agente, sem justa causa, deixa de efetuar o pagamento da pensão alimentícia acordada, fixada ou majorada em processo judicial. 
· Modalidade 3: O sujeito que frustra ou ilide de qualquer modo o pagamento de pensão alimentícia.
Obs: A Lei de Alimentos, Art. 22, prevê pena de seis meses a um ano de detenção para o empregador ou funcionário público que deixar de prestar ao juízo competente as informações necessárias à instrução de processo ou execução de sentença ou acordo que fixe pensão alimentícia. Além disso, incorrerá na mesma pena quem, de qualquer modo, ajudar o devedor a eximir-se ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente fixada, acordada ou majorada, ou se recusar ou procrastinar a execução da ordem de descontos em folhas de pagamento expedida pelo juiz competente.
O Art. 244, caput, prevê também a configuração do delito de abandono material por parte de quem, sem justa causa, deixar de socorrer materialmente ascendente ou descendente gravemente enfermo independentemente da idade.
O Art. 90, parágrafo único, do Estatuto da Pessoa com Deficiência estabelece pena de reclusão, de seis meses a três anos, e multa para quem deixar de prover as necessidades básicas de pessoa com deficiência quando obrigado por lei ou mandado. Este artigo só terá incidência se faltar elementos do Art. 244.
3.1.3. Sujeito ativo
O crime do Art. 244 é próprio e só pode ser cometido por cônjuge, ascendente, descendente etc.
3.1.4. Sujeito passivo
O cônjuge, o filho menor de 18 anos ou incapacitado para o trabalho, o ascendente inválido ou maior de 60 anos, bem como o ascendente ou descendente gravemente enfermo. Como se trata de norma incriminadora, não existe a possibilidade de analogia para abranger o abandono material de convivente nos casos de união estável.
3.1.5. Consumação
A consumação se dá quando o agente, ciente de que a vítima passa por necessidades, deixa de socorrê-la materialmente ou no caso de pensão alimentícia ocorre no dia seguinte ao término do prazo para o pagamento da pensão estipulada.
3.1.6. Tentativa
Em todas as hipóteses, o crime é omissivo próprio; assim, não admite a tentativa.
3.2. Entrega de filho menor a pessoa inidônea
Art. 245 - Entregar filho menor de 18 anos a pessoa em cuja companhia saiba ou deva saber que o menor fica moral ou materialmente em perigo: 
Pena — detenção, de um a dois anos.
3.2.1. Objetividade jurídica
A assistência familiar, no sentido do cuidado que devem ter os pais em relação aos filhos menores, nos termos do art. 229 da Constituição Federal.
3.2.2. Tipo objetivo
A conduta típica é entregar o filho menor a alguém, demostrando que essa pessoa é inidônea.
3.2.3. Sujeito ativo
Apenas os pais, já que o tipo penal contém a expressão “entregar o próprio filho” a pessoa inidônea. Trata-se, pois, de crime próprio. É irrelevante que se trate de pai natural ou adotivo. Qualquer deles pode cometer o delito. O crime não pode ser cometido pelo tutor, por exemplo.
3.2.4. Sujeito passivo
O filho menor de 18 anos.
3.2.5. Consumação
O crime se consuma no instante em que o menor é entregue à pessoa inidônea. Não é necessário que fique em poder dela por tempo prolongado ou que o menor sofra qualquer espécie de dano.
3.2.6. Tentativa
É possível quando se evidencia, por exemplo, que o pai pretendia entregar o filho, mas que foi obstado por autoridade ou por outro parente da criança ou adolescente.
3.2.7. Figuras qualificadas
· § 1º A pena é de um a quatro anos de reclusão, se o agente pratica delito para obter lucro, ou se o menor é enviado para o exterior. – Nessa figura basta a intenção de lucro por parte do agente.
Na segunda o menor é mandado para o exterior.
· § 2º Incorre, também, na pena do parágrafo anterior quem, embora excluído o perigo moral ou material, auxilia a efetivação de ato destinado ao envio de menor para o exterior, com o fito de obter lucro. - Nessa figura o menor é mandado para o exterior, mas essa figura foi revogada pelo Art. 239 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que pune as condutas de “promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio de criança ou adolescente para o exterior com inobservância das formalidades legais ou com fito de lucro”. A pena é de reclusão, de quatro a seis anos.
3.2.8. Ação penal
É pública incondicionada. Na figura simples, a competência é do Juizado Especial Criminal.
3.3. Abandono intelectual
Art. 246 - Deixar, sem justa causa, de prover a instrução primária de filho em idade escolar: 
Pena — detenção, de 15 dias a um mês, ou multa.
3.3.1. Objetividade jurídica
Assegurar que os pais providenciem a educação primária dos filhos menores de idade.
3.3.2. Tipo Objetivo
O crime de abandono intelectual consiste no descumprimento, por parte dos pais, do dever de prover à instrução intelectual dos filhos menores em idade escolar. Para que exista crime, é necessário que haja dolo na conduta dos genitores, no sentido de privar os filhos menores da educação do ensino fundamental. 
3.3.3. Sujeito ativo
Só os pais podem ser sujeitos ativos e é irrelevante se vivem ou não em companhia de seus filhos. Assim, ainda que não convivam com seus filhos, são obrigados a lhes prover à instrução. Trata-se de crime próprio, que, entretanto, não abrange os meros tutores ou curadores do menor.
3.3.4. Sujeito passivo
Os filhos menores em idade escolar.
3.3.5. Consumação
O crime se consuma no momento em que, após a criança atingir a idade escolar, os genitores revelam inequivocamente a vontade de não cumprir com o dever familiar de lhe propiciar concretamente a instrução primária. Trata-se de crime permanente, pois sua consumação perdura enquanto o menor não for enviado à escola.
3.3.6. Tentativa
Por se tratar de crime omissivo próprio não admite a tentativa.
3.3.7. Ação penal
É pública incondicionada, de competência do Juizado Especial Criminal.
3.4. Abandono moral
Art. 247- Permitir alguém que menor de 18 anos, sujeito a seu poder ou confiado à sua guarda ou vigilância:
I — frequente casa de jogo ou mal afamada ou conviva com pessoa viciosa ou de má vida;
II — frequente espetáculo capaz de pervertê-lo ou de ofender-lhe o pudor, ou participe de representação de igual natureza;
III — resida ou trabalhe em casa de prostituição;
IV — mendigue ou sirva a mendigo para excitar a comiseração pública.
Pena — detenção, de um a três meses, ou multa.
3.4.1. Objetividade jurídica
A formação moral da criança ou adolescente.
3.4.2. Tipo objetivo
O delito consiste em permitir que o menor realize uma das condutas elencadas nos incisos do art. 247. A permissão pode ser expressa ou tácita, tendo, neste último caso, o sentido de tolerância apesar de ciente da conduta do menor.
3.4.3. Sujeito ativo
Trata-se de crime próprio, pois só pode ser cometido pelos
pais ou tutores, ou por outras pessoas a quem tenha sido confiada a guarda ou a vigilância da vítima.
3.4.4. Sujeito passivo
Apenas o menor de 18 anos que se encontre nas condições elencadas no tipo penal — sob o poder, guarda ou vigilância do agente.
Obs: No inciso I, é preciso que o menor frequente com habitualidade casa de jogo ou mal afamada (casa de prostituição, bar etc.), ou que conviva com pessoa viciosa ou de má vida. É necessário que o responsável saiba desse comportamento e permita, de forma expressa ou tácita, que se repita.
No inciso II, na sua 1ª parte, também se exige habitualidade do menor em frequência a espetáculo capaz de pervertê-lo. Em sua 2ª parte, entretanto, não é necessária habitualidade, bastando que o agente consinta em que o menor participe de representação de igual natureza. Caso, todavia, haja encenação de sexo explícito ou de cena pornográfica envolvendo.
No inciso III, o agente permite que o menor more ou trabalhe em casa de prostituição.
No inciso IV, a permissão é para que o menor mendigue ou sirva de mendigo para excitar a comiseração pública. 
3.4.5. Consumação
No momento em que o menor realiza a conduta elencada no tipo penal, independentemente da verificação de danos à sua moral. Nas hipóteses em que se exige a habitualidade de atos por parte do menor, a consumação só se dará pela reiteração permitida pelo agente.
3.4.6. Tentativa
É possível, quando o responsável, por exemplo, dá autorização para que o menor passe a mendigar com terceiro, mas o ato em si não se concretiza. Nas modalidades de crime habitual a tentativa é inadmissível.
3.4.7. Ação penal
Pública incondicionada, de competência do Juizado Especial Criminal.
4. Dos crimes contra o pátrio poder, tutela curatela.
4.1. Induzimento a fuga, entrega arbitrária ou sonegação de incapazes
Art. 248. Induzir menor de 18 anos, ou interdito, a fugir do lugar em que se acha por determinação de quem sobre ele exerce autoridade, em virtude de lei ou de ordem judicial; confiar a outrem sem ordem do pai, do tutor ou curador algum menor de 18 anos ou interdito, ou deixar, sem justa causa, de entregá-lo a quem legitimamente o reclame: 
Pena — detenção, de um mês a um ano, ou multa.
4.1.1. Objetividade jurídica
Tutela-se o pátrio poder (poder familiar), a tutela e a curatela.
4.1.2. Tipo objetivo
Existem três condutas distintas neste tipo penal:
4.1.2.1. Induzimento a fuga de menor ou interdito
4.1.2.1.1.Tipo Objetivo
O agente convence o incapaz a fugir da casa dos pais ou representantes legais. É necessário que a fuga ocorra por tempo razoável. Premissa do crime é que não haja consentimento dos pais ou representantes do menor.
4.1.2.1.2. Consumação
Só se consuma se o incapaz efetivamente empreender fuga.
4.1.2.1.3. Tentativa
A tentativa é possível quando o agente entabula conversa a fim de convencer o menor ou interdito a fugir, mas este não o faz ou é impedido por terceiro de fazê-lo.
4.1.2.2. Entrega não autorizada de menor ou interdito a terceiro
4.1.2.2.1. Tipo Objetivo
O agente entrega o incapaz a terceiro sem a anuência dos responsáveis. Se houver a concordância, o fato é atípico por expressa determinação legal.
4.1.2.2.2. Consumação
A consumação ocorre no momento da entrega.
4.1.2.2.3. Tentativa
É possível.
4.1.2.3. Sonegação de incapaz
4.1.2.3.1. Tipo Objetivo
O agente deixa de entregar o menor ou interdito, sem justa causa, a quem legitimamente o reclama.
4.1.2.3.2. Consumação
Se consuma no momento da primeira recusa na devolução.
4.1.2.3.3. Tentativa
Por ser um crime omissivo não se admite a tentativa.
4.1.3. Sujeito ativo
Pode ser qualquer pessoa, inclusive os pais se tiverem sido afastados do poder familiar. Trata-se de crime comum.
4.1.4. Sujeito passivo
As vítimas são os pais, tutores ou curadores, bem como os menores de idade e os interditos. O menor emancipado e o pródigo não pode ser agente passivo do crime do Art. 248. 
4.1.5. Ação penal
É pública incondicionada, de competência do Juizado Especial Criminal.
4.2. Subtração de incapazes
Art. 249 - Subtrair menor de dezoito anos ou interdito ao poder de quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou de ordem judicial: 
Pena — detenção, de dois meses a dois anos, se o fato não constitui elemento de outro crime.
§ 1º O fato de ser o agente pai ou tutor do menor ou curador do interdito não o exime de pena, se destituído ou temporariamente privado do pátrio poder, tutela, curatela ou guarda.
§ 2º No caso de restituição do menor ou do interdito, se este não sofreu maus-tratos ou privações, o juiz pode deixar de aplicar pena.
4.2.1. Objetividade jurídica
O direito à guarda da pessoa menor de 18 anos ou interdita, exercido pelo titular do poder familiar, tutor, curador etc.
4.2.2. Tipo objetivo - Consiste em retirar o menor de 18 anos ou o interdito da esfera de vigilância de quem exerce o pátrio poder, a tutela, a curatela ou a guarda.
· Subsidiariedade Expressa: O crime ficará também absorvido quando a intenção do agente for a colocação do menor subtraído em família substituta, uma vez que o Art. 237 do Estatuto da Criança e do Adolescente pune com reclusão, de dois a seis anos, e multa, quem o comete. 
4.2.3. Sujeito ativo
Pode ser qualquer pessoa, inclusive os pais, tutores ou curadores do menor ou interdito, desde que tenham sido destituídos ou afastados temporariamente do direito de guarda ou do poder familiar, tutela ou curatela.
4.2.4. Sujeito passivo
Os titulares do direito violado, bem como o menor ou interdito subtraído.
4.2.5. Consumação
No momento da subtração efetivada contra a vontade do titular do direito de guarda do menor ou interdito. Trata-se de crime de natureza permanente, cuja consumação se alonga no tempo enquanto o menor ou interdito não for restituído.
4.2.6. Tentativa
É possível.
4.2.7. Perdão Judicial
Prevê o § 2º do Art. 249 uma hipótese de perdão judicial quando o agente restitui o menor ou interdito sem tê-lo submetido a maus-tratos ou privações de qualquer ordem.
4.2.8. Ação penal
É pública incondicionada, de competência do Juizado Especial Criminal.
Referência
(Direito Penal Parte Especial Esquematizado – 9ª Edição - GONÇALVES, Vitor Eduardo Rios – 2019).

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