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36 Fármacos anti-infl amatórios não esteroides, fármacos antirreumáticos modifi cadores da doença, analgésicos não opioides e fármacos usados na gota e s T u D o D e C A s o Nabeel H. Borazan, MD, e Daniel E. Furst, MD Um homem de 48 anos procura atendimento médico com queixas de rigidez bilateral matinal nos punhos e nos joe- lhos, além de dor nessas articulações com o exercício físico. Ao exame físico, observa-se uma discreta tumefação das articulações. O resto do exame é inespecífi co. Os achados laboratoriais também são negativos, exceto pela presença de anemia discreta, elevação da velocidade de hemossedi- mentação e fator reumatoide positivo. Com o diagnóstico de artrite reumatoide, o paciente começa um esquema de naproxeno, em uma dose de 220 mg, duas vezes ao dia. Depois de uma semana, aumenta-se a dose para 440 mg duas vezes ao dia. Os sintomas diminuem com essa dose, porém o paciente queixa-se de pirose signifi cativa, que não é controlada com antiácidos. O medicamento é então substituído por celecoxibe, em uma dose de 200 mg, duas vezes ao dia. Com esse esquema, ocorre resolução dos sin- tomas articulares e da pirose. Dois anos depois, o pacien- te retorna com aumento dos sintomas articulares. Nesse momento, as mãos, os punhos, os cotovelos, os pés e os joelhos estão acometidos e inchados, quentes e dolorosos à palpação. Que opções terapêuticas devem ser considera- das agora? Quais as possíveis complicações? C A P Í T U L O siGLAs AiJ Artrite idiopática juvenil eA Espondilite anquilosante AiJs Artrite idiopática juvenil sistêmica FArMD Fármaco antirreumático modificador da doença AiNe Anti-inflamatório não esteroide iL Interleucina AiJP Artrite idiopática juvenil poliarticular Les Lúpus eritematoso sistêmico AP Artrite psoriásica oA Osteoartrite Ar Artrite reumatoide TNF Fator de necrose tumoral (tumor necrosis factor) CoX Cicloxigenase http://booksmedicos.org CAPÍTuLo 36 Fármacos anti-inflamatórios não esteroides, fármacos antirreumáticos modificadores da doença... 619 A resPostA imune Ocorre resposta imune quando células imunologicamente com- petentes são ativadas em reação a organismos estranhos ou a substâncias antigênicas liberadas durante a resposta inflamató- ria aguda ou crônica. O resultado da resposta imune pode ser deletério para o hospedeiro quando leva à inflamação crônica, sem regressão do processo lesivo subjacente (ver Capítulo 55). A inflamação crônica envolve a liberação de múltiplas citocinas e quimiocinas, juntamente com uma interação muito complexa de células imunoativas. As doenças autoimunes (p. ex., AR, vascu- lite, LES) e as condições inflamatórias (p. ex., gota) derivam, em todo seu espectro, de anormalidades nessa cascata. A lesão celular associada à inflamação atua sobre as mem- branas celulares, liberando enzimas lisossômicas dos leucócitos; a seguir, ocorre a liberação de ácido araquidônico a partir de compostos precursores, e são sintetizados vários eicosanoides (ver Capítulo 18). A via da lipoxigenase do metabolismo do ara- quidonato produz leucotrienos, que exercem um poderoso efei- to quimiotático nos eosinófilos, nos neutrófilos e nos macrófa- gos, e que também promovem broncoconstrição e alterações da permeabilidade vascular. Durante a inflamação, a estimulação das membranas dos neutrófilos produz radicais livres deriva- dos do oxigênio e outras moléculas reativas, como peróxido de hidrogênio e radicais hidroxila. A interação dessas substâncias com o ácido araquidônico resulta na formação de substâncias quimiotáticas, perpetuando, assim, o processo inflamatório. estrAtégiAs terAPÊuticAs O tratamento de pacientes com inflamação envolve dois ob- jetivos primários: em primeiro lugar, aliviar os sintomas e pre- servar a função, que em geral constituem as principais queixas constantes do paciente; em segundo lugar, retardar ou deter o processo responsável pela lesão tecidual. Na AR, são utilizados vários índices combinados e validados para definir a resposta (p. ex., Índice de Atividade da Doença [DAS], Índice de Resposta do American College of Rheumatology Response Index [Respos- ta ACR]). Com frequência, esses índices combinam a presença de hipersensibilidade e tumefação articulares, a resposta do paciente e os dados laboratoriais. A redução da inflamação com AINEs frequentemente resulta em alívio da dor por um período signi- ficativo. Além disso, os analgésicos não opioides (ácido acetilsa- licílico, etc.) exercem, em sua maioria, efeitos anti-inflamatórios, de modo que são apropriados para o tratamento das condições inflamatórias tanto agudas como crônicas. Os glicocorticoides também exercem poderosos efeitos anti-inflamatórios e, quando introduzidos pela primeira vez, foram considerados como a resposta final ao tratamento da ar- trite inflamatória. Embora existam dados de que os corticoste- roides em baixas doses apresentam propriedades modificadoras da doença, sua toxicidade torna-os menos preferidos que ou- tros medicamentos, quando é possível utilizar outros fármacos. Todavia, os glicocorticoides continuam desempenhando uma função significativa no tratamento em longo prazo da artrite. Outro grupo importante de agentes é constituído pelos FARMDs, incluindo os agentes biológicos (um subgrupo dos FARMDs). Esses fármacos diminuem a inflamação, aliviam os sintomas e retardam o processo de lesão óssea associado à AR. Afetam mecanismos inflamatórios mais básicos do que os gli- cocorticoides ou os AINEs. Além disso, podem ser mais tóxicos do que essas medicações alternativas. � fármAcos Anti-inflAmA- tórios nÃo esteroides Os salicilatos e outros agentes semelhantes usados no tratamen- to da doença reumática compartilham a capacidade de supri- mir os sinais e os sintomas da inflamação, incluindo dor. Esses fármacos também exercem efeitos antipiréticos. Como o ácido acetilsalicílico, que é o AINE original, apre- senta diversos efeitos adversos, foram desenvolvidos muitos outros AINEs na tentativa de aumentar sua eficácia e diminuir sua toxicidade. Química e farmacocinética Os AINEs são divididos em várias classes químicas, como mos- tra a Figura 36-1. Essa diversidade química é responsável pela ampla variedade de características farmacocinéticas (Tabela 36-1). Embora existam muitas diferenças na cinética dos AINEs, esses fármacos possuem algumas propriedades gerais em co- mum. Todos os AINEs, com exceção de um, são ácidos orgâni- cos fracos; a exceção é a nabumetona, um profármaco de cetona que é metabolizado ao fármaco ativo ácido. A maior parte desses fármacos é bem absorvida, e sua bio- disponibilidade não é consideravelmente modificada pela pre- sença de alimento. Os AINEs são, em sua maioria, altamente metabolizados, alguns pelos mecanismos de fase I, seguida de fase II, e outros por glicuronidação direta (fase II) apenas. O metabolismo dos AINEs ocorre, em grande parte, pelas famí- lias CYP3A ou CYP2C das enzimas P450 do fígado (ver Capítu- lo 4). Embora a excreção renal seja a via mais importante de eli- minação final, quase todos os AINEs sofrem graus variáveis de excreção biliar e reabsorção (circulação êntero-hepática). Com efeito, o grau de irritação do trato gastrintestinal (GI) inferior correlaciona-se com a extensão da circulação êntero-hepática. A maioria dos AINEs liga-se altamente às proteínas (cerca de 98%), em geral à albumina. Em sua maior parte, os AINEs (p. ex., ibuprofeno, cetoprofeno) consistem em misturas racê- micas, ao passo que um deles, o naproxeno, é apresentado como enantiômero individual, e alguns não possuem centro quiral (p. ex., diclofenaco). Todos os AINEs podem ser encontrados no líquido sino- vial após administração repetida. Os fármacos com meias-vidas curtas permanecem nas articulações por mais tempo do que o previsto por suas meias-vidas, já os fármacos com meias-vidas mais longas desaparecem do líquido sinovial em uma taxa pro- porcional às suas meias-vidas. Farmacodinâmica A atividade anti-inflamatóriados AINEs é mediada principal- mente pela inibição da biossíntese de prostaglandinas (Figura 36-2). Vários AINEs apresentam possíveis mecanismos adicio- nais de ação, incluindo a inibição da quimiotaxia, a infrarregula- ção da produção de interleucina-1 (IL-1), a produção diminuí da de radicais livres e superóxido e a interferência nos eventos in- tracelulares mediados pelo cálcio. O ácido acetilsalicílico acetila e bloqueia irreversivelmente a COX das plaquetas, ao passo que os AINEs não seletivos da COX são inibidores reversíveis. A seletividade para COX-1 versus COX-2 mostra-se variá- vel e incompleta no caso dos AINEs mais antigos; todavia, fo- ram sintetizados inibidores seletivos da COX-2. Esses inibido- res não afetam a função plaquetária quando administrados em http://booksmedicos.org 620 seÇÃo Vi Fármacos usados no tratamento de doenças do sangue, inflamação e gota doses habituais. A eficácia dos fármacos seletivos para a COX-2 é igual à dos AINEs mais antigos, embora a segurança GI pos- sa estar melhorada. Por outro lado, os inibidores seletivos da COX-2 aumentam a incidência de edema, hipertensão e, possi- velmente, infarto do miocárdio. Desde agosto de 2011, o cele- coxibe e o meloxicam menos seletivos são os únicos inibidores da COX-2 comercializados nos Estados Unidos. O celecoxibe possui uma “tarja preta” determinada pela FDA, advertindo so- bre os riscos cardiovasculares. Foi recomendada a revisão dos rótulos de todos os produtos de AINEs para incluir os riscos cardiovasculares. Os AINEs diminuem a sensibilidade dos vasos sanguíneos à bradicinina e à histamina, afetam a produção de linfocinas pe- los linfócitos T e revertem a vasodilatação da inflamação. Todos os AINEs mais recentes são, em graus variáveis, analgésicos, an- ti-inflamatórios e antipiréticos, e todos (à exceção dos agentes seletivos da COX-2 e dos salicilatos não acetilados) inibem a agregação plaquetária. Todos os AINEs são irritantes gástricos e também podem estar associados a úlceras e sangramento GI, embora, como grupo, os fármacos mais recentes tenham ten- dência a causar menos irritação GI do que o ácido acetilsali- cílico. A nefrotoxicidade, que é relatada com todos os AINEs, deve-se, em parte, à interferência na autorregulação do fluxo sanguíneo renal, que é modulada pelas prostaglandinas. Além disso, pode ocorrer hepatotoxicidade com qualquer AINE. Embora esses fármacos inibam efetivamente a inflamação, não há evidências de que – em contrapartida com certos fárma- cos, como o metotrexato e outros FARMDs – possam alterar a evolução de qualquer distúrbio artrítico. Vários AINEs (incluindo o ácido acetilsalicílico) reduzem a incidência de câncer de cólon quando administrados croni- camente. Diversos estudos epidemiológicos de grande porte mostraram uma redução de 50% no risco relativo dessa ne- oplasia quando os fármacos são tomados durante cinco anos ou mais. O mecanismo desse efeito protetor ainda não foi es- clarecido. Embora nem todos os AINEs estejam aprovados pela FDA para a ampla variedade de doenças reumáticas, a maioria prova- velmente é efetiva para a AR, as espondiloartropatias soronega- tivas (p. ex., AP e artrite associada à doença inflamatória intesti- nal), a OA, as síndromes musculoesqueléticas localizadas (p. ex., distensão e entorse, dor lombar) e a gota (com exceção da tol- metina, que parece ser ineficaz nessa doença. Os efeitos colate- rais costumam ser bastante semelhantes para todos os AINEs: 1. No sistema nervoso central: cefaleias, zumbido, tontura e, raramente, meningite asséptica. 2. Cardiovasculares: retenção hídrica, hipertensão, edema e, raramente, infarto do miocárdio e insuficiência cardíaca congestiva (ICC). 2 C H CH CH COOH CH3 Derivado do ácido propiônico Ibuprofeno Derivado indólico O COOH N C O CI Indometacina Fenamato N H COOH Cl Ácido meclofenâmico Derivado do ácido pirrolalcanoico Tolmetina C O N COOH N N O O CH2 CH2 CH3 CH2 CH2 CH3 Derivado da pirazolona Fenilbutazona Oxicam C OHO H3C NH N N S O Piroxicam CH2 CH3 Derivado do ácido fenilalcanoico Flurbiprofeno Profármaco do ácido naftilacético Nabumetona NH CI Derivado do ácido fenilacético Diclofenaco CH2CH2CCH3 O H3C H3C H3C H3C CH3 O Cl F CH COOH CH3 O CH3 CH2COOH CI FiGurA 36-1 Estruturas químicas de alguns anti-inflamatórios não esteroides. http://booksmedicos.org CAPÍTuLo 36 Fármacos anti-inflamatórios não esteroides, fármacos antirreumáticos modificadores da doença... 621 3. Gastrintestinais: dor abdominal, displasia, náuseas, vômi- tos e, raramente, úlceras ou sangramento. 4. Hematológicos: raramente, trombocitopenia, neutropenia ou até mesmo anemia aplásica. 5. Hepáticos: provas de função hepáticas anormais e, rara- mente, insuficiência hepática. 6. Pulmonares: asma. 7. Cutâneos: exantemas de todos os tipos, prurido. 8. Renais: insuficiência renal, falência renal, hiperpotassemia e proteinúria. ácido AcetilsAlicílico A longa história de uso do ácido acetilsalicílico e sua disponibi- lidade sem prescrição médica diminuem seu apelo em compa- ração com os AINEs mais recentes. Hoje, o ácido acetilsalicílico raramente é usado como anti-inflamatório e só será discutido em termos de seus efeitos antiplaquetários (i.e., em doses de 81 a 325 mg, 1 vez/dia). 1. Farmacocinética: O ácido salicílico é um ácido orgânico simples com pKa de 3. O ácido acetilsalicílico (AAS) tem uma pKa de 3,5 (ver Tabela 1-3). O ácido acetilsalicílico é absorvido em sua forma inalterada e sofre rápida hidrólise (meia-vida sérica de 15 minutos) a ácido acético e salicila- to por esterases presentes nos tecidos e no sangue (Figura 36-3). O salicilato liga-se de modo não linear à albumina. A alcalinização da urina aumenta a taxa de excreção de sali- cilato livre e de seus conjugados hidrossolúveis. 2. Mecanismos de ação: O ácido acetilsalicílico inibe a COX plaquetária, de modo que o efeito antiplaquetário tem du- ração de 8 a 10 dias (tempo de sobrevida da plaqueta). Em outros tecidos, a síntese de nova COX substitui a enzima inativada, de modo que as doses habituais têm uma duração de ação de 6 a 12 horas. 3. Usos clínicos: O ácido acetilsalicílico diminui a incidência de ataques isquêmicos transitórios, angina instável, trombose da artéria coronária com infarto do miocárdio e trombose após enxerto de derivação da artéria coronária (ver Capítulo 34). 4. Os estudos epidemiológicos realizados sugerem que o uso prolongado de ácido acetilsalicílico, em pequenas doses, está associado a uma menor incidência de câncer de cólon, possi- velmente relacionada com seus efeitos inibidores da COX. 5. Efeitos colaterais: Além dos efeitos colaterais comuns já mencionados, os principais efeitos colaterais do ácido ace- tilsalicílico em doses antitrombóticas consistem em descon- forto gástrico (intolerância) e úlceras gástricas e duodenais. A hepatotoxicidade, a asma, os exantemas, o sangramento GI e a toxicidade renal raramente ocorrem em doses anti- trombóticas. 6. A ação antiplaquetária do ácido acetilsalicílico contraindi- ca seu uso por pacientes com hemofilia. Embora não tenha sido previamente recomendado durante a gravidez, o áci- do acetilsalicílico pode ser valioso no tratamento da pré- -eclâmpsia-eclâmpsia. sAlicilAtos nÃo AcetilAdos Esses fármacos incluem o salicilato de colina e magnésio, o sali- cilato de sódio e o salicilsalicilato. Todos os salicilatos não aceti- lados são fármacos anti-inflamatórios efetivos, embora possam ser analgésicos menos efetivos do que o ácido acetilsalicílico. Por serem muito menos efetivos do que o ácido acetilsalicíli- co como inibidores da COX e por não inibirem a agregação plaquetária, seu uso pode ser preferível quando não se deseja a inibição da COX, como em pacientes com asma, em pacientes com tendência hemorrágica e até mesmo (sob estreita supervi- são) naqueles com disfunção renal. Os salicilatos não acetilados são administrados em doses de até3 a 4 g de salicilato por dia e podem ser monitorados pela determinação dos níveis séricos de salicilato. inibidores seletiVos dA cox-2 Os inibidores seletivos da COX-2, ou coxibes, foram desenvol- vidos na tentativa de inibir a síntese de prostaglandinas pela isoenzima COX-2 induzida em locais de inflamação, sem afetar a ação da isoenzima COX-2 de “manutenção” constitutivamen- te ativa, encontrada no trato GI, nos rins e nas plaquetas. De forma semelhante, os inibidores da COX-2, em doses habituais, não têm impacto sobre a agregação plaquetária, que é mediada pelo tromboxano produzido pela isoenzima COX-1. Em con- trapartida, eles inibem a síntese de prostaciclina mediada pela COX-2 no endotélio vascular. Em consequência, os inibidores TABeLA 36-1 Propriedades do ácido acetilsalicílico e de alguns outros fármacos anti-inflamatórios não esteroides Fármaco Meia-vida (horas) excreção urinária do fármaco inalterado Dose anti- -inflamatória recomendada Ácido acetilsalicílico 0,25 < 2% 1.200-1.500 mg, 3 x/dia Salicilato1 2-19 2-30% –2 Celecoxibe 11 27%3 100-200 mg, 2 x/dia Diclofenaco 1,1 <1% 50-75 mg 4 x/dia Diflunisal 13 3-9% 500 mg, 2 x/dia Etodolaco 6,5 <1% 200-300 mg 4 x/dia Fenoprofeno 2,5 30% 600 mg 4 x/dia Flurbiprofeno 3,8 <1% 300 mg, 3 x/dia Ibuprofeno 2 <1% 600 mg 4 x/dia Indometacina 4-5 16% 50-70 mg, 3 x/dia Cetoprofeno 1,8 <1% 70 mg, 3 x/dia Meloxicam 20 <1% 7,5-15 mg ao dia Nabumetona4 26 1% 1.000-2.000 mg/dia5 Naproxeno 14 <1% 375 mg, 2 x/dia Oxaprozina 58 1-4% 1.200-1.800 mg/dia5 Piroxicam 57 4-10% 20 mg/dia5 Sulindaco 8 7% 200 mg, 2 x/dia Tolmetina 1 7% 400 mg, 4 x/dia 1Principal metabólito anti-inflamatório do ácido acetilsalicílico. 2O salicilato costuma ser administrado na forma de ácido acetilsalicílico. 3Excreção urinária total, incluindo metabólitos. 4A nabumetona é um profármaco; a meia-vida e a excreção urinária referem-se a seu metabólito ativo. 5É suficiente uma única dose ao dia, devido à meia-vida longa. http://booksmedicos.org 622 seÇÃo Vi Fármacos usados no tratamento de doenças do sangue, inflamação e gota – – – – – Distúrbio das membranas celulares Estímulo Fosfolipídeos Ácido araquidônico Fosfolipase Lipoxigenase Leucotrienos LTC4/D4/E4 Alteração da permeabilidade vascular, constrição brônquica, aumento da secreção Broncospasmos, congestão, tampões de muco LTB4 Ativação e atração dos fagócitos Inflamação Prostaglandinas Tromboxano Prostaciclina Cicloxigenase Modulação dos leucócitos Inflamação Inibidores da fosfolipase Corticosteroides Substituição de ácidos graxos (dieta) Inibidores da lipoxigenase Antagonistas do receptor Colchicina AINE, AAS FiGurA 36-2 Mediadores prostanoides derivados do ácido araquidônico e locais de ação dos fármacos. AAS, ácido acetilsalicílico; LT, leuco- trieno; AINE, anti-inflamatório não esteroide. CH2 CH3 CH3O C C OH O OÁcido acetilsalicílico OH C O O Salicilato de sódio Na OH C O– O Salicilato HO C O Ácido acético OH C O Ácido salicilúrico N H COOH OH C O Ácido gentísico (1%) OHSalicilato livre HOÉster e éter de glicuronídeos Conjugação com ácido glicurônico Conjugação com glicina Oxidação FiGurA 36-3 Estrutura e metabolismo dos salicilatos. (Reproduzida, com autorização, de Meyers FH, Jawetz E, Goldfien A: Review of Medical Pharmacology, 7th ed. McGraw-Hill, 1980. Copyright © The McGraw-Hill Companies, Inc.) http://booksmedicos.org CAPÍTuLo 36 Fármacos anti-inflamatórios não esteroides, fármacos antirreumáticos modificadores da doença... 623 da COX-2 não apresentam os efeitos cardioprotetores dos AINEs não seletivos tradicionais. As doses recomendadas de inibidores da COX-2 causam toxicidades renais semelhantes àquelas asso- ciadas a AINEs tradicionais. Os dados clínicos disponíveis suge- rem uma maior incidência de eventos trombóticos cardiovas- culares associados aos inibidores da COX-2, como rofecoxibe e valdecoxibe, o que levou à sua retirada do mercado. Celecoxibe O celecoxibe é um inibidor seletivo da COX-2 – cerca de 10 a 20 vezes mais seletivo para a COX-2 do que para a COX-1. As considerações farmacocinéticas e de dosagem são apresen- tadas na Tabela 36-1. O celecoxibe está associado a menos úlceras endoscópicas do que a maioria dos outros AINEs. Provavelmente por ser uma sulfonamida, pode causar exantemas cutâneos. O fármaco não afeta a agregação plaquetária nas doses habituais. Em certas ocasiões, interage com a varfarina – como seria esperado de um fármaco metabolizado pela CYP2C9. Os efeitos colaterais con- sistem nas toxicidades comuns já citadas. O S O H2N H3C N N CF3 Celecoxibe Meloxicam O meloxicam é uma enolcarboxamida relacionada com o pi- roxicam que inibe preferencialmente a COX-2 em compara- ção com a COX-1, em especial quando administrado na dose terapêutica mais baixa de 7,5 mg/dia. Esse fármaco não é tão seletivo quanto o celecoxibe e pode ser considerado “preferen- cialmente” seletivo, mais do que “altamente” seletivo. O meloxi- cam está associado a menos sintomas gastrintestinais clínicos e complicações do que o piroxicam, o diclofenaco e o naproxeno. De modo semelhante, embora se saiba que o meloxicam inibe a síntese de tromboxano A2, mesmo em doses supraterapêuticas, o bloqueio do tromboxano A2 não alcança níveis que resultam em diminuição da função plaquetária in vivo (ver efeitos colate- rais comuns, anteriormente). inibidores nÃo seletiVos dA cox Diclofenaco O diclofenaco é um derivado do ácido fenilacético que é relati- vamente não seletivo como inibidor da COX. As características farmacocinéticas e as dosagens são fornecidas na Tabela 36-1. A ulceração GI pode ocorrer menos frequentemente do que com alguns outros AINEs. Uma preparação que associa o diclo- fenaco e o misoprostol diminui a ulceração GI alta, mas pode resultar em diarreia. Outra associação de diclofenaco com ome- prazol também demonstrou ser efetiva na prevenção de sangra- mento recorrente; entretanto, os efeitos colaterais renais foram comuns em pacientes de alto risco. O diclofenaco, em uma dose de 150 mg/dia, parece comprometer o fluxo sanguíneo renal e a taxa de filtração glomerular. A elevação dos níveis séricos das aminotransferases é mais comum com esse fármaco do que com outros AINEs. Recomenda-se uma preparação oftálmica a 0,1% para a pre- venção da inflamação oftálmica pós-operatória; essa preparação pode ser usada após implante de lente intraocular e cirurgia para estrabismo. Um gel tópico contendo diclofenaco a 3% é efetivo para a ceratose solar. O diclofenaco na forma de supositório retal pode ser considerado para analgesia preemptiva e náuseas pós- -operatórias. Na Europa, o diclofenaco também está disponível na forma de colutório e para administração intramuscular. Diflunisal Embora o diflunisal seja derivado do ácido salicílico, ele não é metabolizado a ácido salicílico ou salicilato. Esse fármaco sofre um ciclo êntero-hepático, com reabsorção de seu metabólito glicuronídeo, seguida de clivagem do glicuronídeo, liberan- do novamente o componente ativo. O diflunisal está sujeito a metabolismo limitado pela capacidade, com meias-vidas séri- cas que se aproximam daquelas dos salicilatos em várias doses (Tabela 36-1). Na AR, a dose recomendada é de 500 a 1.000 mg ao dia, em duas doses fracionadas. O diflunisal é considerado particularmente efetivo para o alívio da dor do câncer com me- tástases ósseas e para o controle da dor na cirurgia dentária (ter- ceiro molar). Uma pomada de diflunisal oral a 2% atua como analgésico clinicamente útil para lesões orais dolorosas. Como sua depuração depende da função renal, bem como do metabolismo hepático, a dose desse fármaco deve ser limi- tada em pacientes com comprometimento renal significativo. etodolaco O etodolaco é um derivado racêmico do ácido acético, com meia-vida intermediária (Tabela 36-1). A dose analgésica de etodolaco é de 200 a 400 mg, 3 a 4 vezes ao dia. A dose reco- mendada na OA ena AR é de 300 mg, 2 ou 3 vezes ao dia, até 500 mg, duas vezes ao dia inicialmente, seguida de uma dose de manutenção de 600 mg/dia. Flurbiprofeno O flurbiprofeno é um derivado do ácido propiônico cujo me- canismo de ação provavelmente é mais complexo que o de outros AINEs. Seu enantiômero (S)(−) inibe a COX de modo não seletivo; entretanto, foi constatado, no tecido de rato, que o fármaco também afeta a síntese do TNF-α e do óxido nítrico. O metabolismo hepático é extenso; seus enantiômeros (R)(+) e (S)(−) são metabolizados de modo diferente, e o flurbiprofeno não sofre conversão quiral. O fármaco não apresenta circulação êntero-hepática. O flurbiprofeno também está disponível em uma formula- ção oftálmica tópica para a inibição da miose intraoperatória. O uso por via intravenosa mostra-se efetivo para analgesia pe- rioperatória em cirurgias de orelha, pescoço e nariz de menor porte e, na forma de pastilhas (lozenges),* para a faringite. Embora seu perfil de efeitos colaterais seja semelhante ao de outros AINEs na maioria dos aspectos, o flurbiprofeno também raramente está associado a rigidez em roda dentada, ataxia, tre- mor e mioclonia. *N. de R.T. Lozenges são pequenos tabletes flavorizados feitos de açúcar ou xarope e, frequentemente, com medicamentos. Optou-se pelo termo pastilhas que é o que mais se aproxima de lozenges. http://booksmedicos.org 624 seÇÃo Vi Fármacos usados no tratamento de doenças do sangue, inflamação e gota ibuprofeno O ibuprofeno é um derivado simples do ácido fenilpropiônico (Figura 36-1). Em doses de cerca de 2.400 mg ao dia, equivale a 4 g de ácido acetilsalicílico em seu efeito anti-inflamatório. As características farmacocinéticas do ibuprofeno são apresenta- das na Tabela 36-1. O ibuprofeno oral é frequentemente prescrito em doses me- nores (< 2.400 mg/dia), com as quais apresenta eficácia analgé- sica, mas não anti-inflamatória. Está disponível como fármaco de venda livre em baixas doses com vários nomes comerciais. O ibuprofeno por via oral e IV é efetivo no fechamento do canal arterial em prematuros, com grande parte da mesma eficácia e segurança da indometacina. Uma preparação tópica em creme parece ser absorvida na fáscia e no músculo; o creme de ibuprofeno foi mais efetivo do que o creme de placebo no tratamento da OA primária do joelho. Uma preparação em gel líquido de ibuprofeno, de 400 mg, proporciona alívio imediato e tem boa eficácia global na dor dentária pós-operatória. Em comparação com a indometacina, o ibuprofeno dimi- nui menos o débito urinário e também provoca menos reten- ção hídrica. O fármaco está relativamente contraindicado para indivíduos com pólipos nasais, angioedema e reatividade bron- cospástica ao ácido acetilsalicílico. Foi relatada a ocorrência de meningite asséptica (particularmente em pacientes com LES) e retenção hídrica. A administração concomitante de ibuprofeno e ácido acetilsalicílico antagoniza a inibição plaquetária irrever- sível induzida pelo ácido acetilsalicílico. Por conseguinte, o tra- tamento com ibuprofeno em pacientes com risco cardiovascu- lar aumentado pode limitar os efeitos cardioprotetores do ácido acetilsalicílico. Além disso, o uso concomitante de ibuprofeno e ácido salicílico pode diminuir o efeito anti-inflamatório to- tal. Os efeitos colaterais comuns estão relacionados nas páginas 620-621; os efeitos hematológicos raros consistem em agranu- locitose e anemia aplásica. indometacina A indometacina, introduzida em 1963, é um derivado indólico (Figura 36-1). Trata-se de um potente inibidor não seletivo da COX, que também pode inibir as fosfolipases A e C, reduzir a mi- gração dos neutrófilos e diminuir a proliferação das células T e B. A indometacina difere ligeiramente de outros AINEs nas suas indicações e efeitos tóxicos. A indometacina tem sido usa- da para acelerar o fechamento do canal arterial. Foi também usada em vários estudos clínicos não controlados e de pequeno porte para muitas outras doenças, incluindo síndrome de Swe- et, AR juvenil, pleurite, síndrome nefrótica, diabetes insípido, vasculite urticariforme, dor pós-episiotomia e profilaxia da os- sificação heterotópica na artroplastia. Uma preparação oftálmica mostra-se eficaz para o trata- mento da inflamação conjuntival e para a redução da dor após abrasão traumática da córnea. A inflamação gengival é reduzida após a administração de colutório de indometacina. As injeções epidurais produzem certo grau de alívio da dor, semelhante ao obtido com a metilprednisolona na síndrome pós-laminectomia. Com o uso de doses habituais, a indometacina apresenta os efeitos colaterais comuns já citados. Os efeitos gastrintestinais podem incluir pancreatite. A cefaleia, que acomete 15 a 25% dos pacientes, pode estar associada a tontura, confusão e de- pressão. Também foi observada a presença de necrose papilar renal. Foram relatadas diversas interações com outros fármacos (ver Capítulo 66). Cetoprofeno O cetoprofeno é um derivado do ácido propiônico, que ini- be tanto a COX (de modo não seletivo) como a lipoxigenase. As características farmacocinéticas são apresentadas na Tabela 36-1. A administração concomitante de probenecida eleva os níveis de cetoprofeno e prolonga sua meia-vida plasmática. A eficiência do cetoprofeno, em doses de 100 a 300 mg/dia, equivale a de outros AINEs. Os principais efeitos colaterais des- se fármaco afetam o trato GI e o sistema nervoso central (SNC) (ver efeitos colaterais comuns, anteriormente). Nabumetona A nabumetona é o único AINE não ácido de uso corrente; é administrada na forma de profármaco cetona (Figura 36-1) e assemelha-se ao naproxeno na sua estrutura. Sua meia-vida de mais de 24 horas (Tabela 36-1) possibilita a administração do fármaco em uma única dose ao dia. A nabumetona não parece sofrer circulação êntero-hepática. A presença de comprometi- mento renal resulta em um aumento de duas vezes sua meia- -vida, com aumento de 30% na área sob a curva. Suas propriedades assemelham-se muito às de outros AINEs, embora possa causar menos lesão gástrica. Infelizmente, doses mais altas (p. ex., 1.500 a 2.000 mg/dia) muitas vezes são neces- sárias e trata-se de um AINE de custo muito alto. À semelhança do naproxeno, a nabumetona tem sido associada à ocorrência de pseudoporfiria e fotossensibilidade em alguns pacientes. Naproxeno O naproxeno é um derivado do ácido naftilpropiônico. Trata- -se do único AINE atualmente comercializado como enantiô- mero isolado. A fração livre do naproxeno é significativamente maior nas mulheres do que nos homens, porém sua meia-vida é semelhante em ambos os sexos (Tabela 36-1). Esse fármaco mostra-se efetivo para as indicações reumatológicas habituais e está disponível em uma formulação de liberação lenta, como suspensão oral e de venda livre. Dispõe-se também de uma pre- paração tópica e de uma solução oftálmica. A incidência de sangramento GI superior com preparações de venda livre é baixa, porém ainda é duas vezes maior que a do ibuprofeno de venda livre (talvez devido a um efeito da dose). Foram observados casos raros de pneumonite alérgica, vasculi- te leucocitoclástica e pseudoporfiria, bem como os efeitos cola- terais comuns associados aos AINEs. oxaprozina A oxaprozina é outro AINE derivado do ácido propiônico. Conforme indicado na Tabela 36-1, a principal diferença em relação aos outros membros desse subgrupo reside em sua meia-vida muito longa (50 a 60 horas), embora o fármaco não sofra circulação êntero-hepática. A oxaprozina é levemente uri- cosúrica. Nos demais aspectos, o fármaco apresenta os mesmos benefícios e riscos associados a outros AINEs. Piroxicam O piroxicam, um oxicam (Figura 36-1), é um inibidor não se- letivo da COX que, em altas concentrações, também inibe a migração dos leucócitos polimorfonucleares, diminui a produ- ção de radicais de oxigênio e inibe a função dos linfócitos. Sua meia-vida (Tabela 36-1) permite a administração de uma única dose ao dia. O piroxicampode ser usado para as indicações reumáticas habituais. Quando administrado em doses acima de 20 mg/dia, http://booksmedicos.org CAPÍTuLo 36 Fármacos anti-inflamatórios não esteroides, fármacos antirreumáticos modificadores da doença... 625 verifica-se uma incidência aumentada de úlcera péptica e san- gramento – até 9,5 vezes maior do que com outros AINEs (ver efeitos colaterais comuns, anteriormente). sulindaco O sulindaco é um profármaco sulfóxido. É metabolizado de modo reversível ao metabólito sulfeto ativo, que é excretado na bile e, em seguida, reabsorvido pelo intestino. O ciclo êntero- -hepático prolonga a duração de ação para 12 a 16 horas. Além de suas indicações para doenças reumáticas, o sulin- daco suprime a polipose intestinal familiar e pode inibir o de- senvolvimento de câncer de cólon, mama e próstata nos seres humanos. Entre as reações adversas mais graves, foram obser- vadas síndrome de necrólise epidérmica de Stevens-Johnson, trombocitopenia, agranulocitose e síndrome nefrótica. O seu uso está algumas vezes associado à lesão hepática colestática. Tolmetina A tolmetina é um inibidor não seletivo da COX, com meia-vida curta (1 a 2 horas), que não costuma ser utilizado. É ineficaz (por razões desconhecidas) no tratamento da gota. outros anti-inflamatórios não esteroides A azapropazona, o carprofeno, o meclofenamato e o tenoxi- can são raramente usados e não serão considerados aqui. escolhA do Anti-inflAmAtório nÃo esteroide Todos os AINEs, incluindo o ácido acetilsalicílico, têm eficá- cia aproximadamente igual, com poucas exceções – a tolmetina não parece ser efetiva no tratamento da gota, já o ácido acetil- salicílico é menos efetivo do que outros AINEs (p. ex., indome- tacina) na EA. Por conseguinte, os AINEs tendem a ser diferenciados com base em sua toxicidade e custo-benefício. Por exemplo, o uso do cetorolaco é limitado por seus efeitos colaterais gastrintestinais e renais. Alguns levantamentos sugerem que a indometacina e a tolmetina são os AINEs associados à maior toxicidade, ao passo que o salsalato, o ácido acetilsalicílico e o ibuprofeno são os menos tóxicos. Os inibidores seletivos da COX-2 não foram incluídos nessas análises. Para pacientes com insuficiência renal, pode ser mais apro- priado o uso de salicilatos não acetilados. O diclofenaco e o sulindaco estão associados a mais anormalidades das provas de função hepática do que outros AINEs. É provável que o cele- coxibe, um inibidor seletivo da COX-2 de custo relativamente alto, seja mais seguro para pacientes com alto risco de sangra- mento GI, contudo esse fármaco pode estar associado ao maior risco de toxicidade cardiovascular. O celecoxibe ou um AINE não seletivo em associação ao omeprazol ou misoprostol po- dem ser apropriados para pacientes com risco extremamente alto de sangramento GI; nessa subpopulação de pacientes, es- ses fármacos mostram-se efetivos, apesar de seu custo elevado. Por conseguinte, a escolha de um AINE exige a conside- ração de sua eficácia, custo-benefício, segurança e de vários fatores pessoais (p. ex., outros fármacos que também estejam sendo administrados, doença concomitante, adesão ao tra- tamento, cobertura pelo plano de saúde), de modo que não existe um AINE que seja o melhor para todos os pacientes. Entretanto, pode haver um ou dois AINEs mais apropriados para determinado indivíduo. � fármAcos Antirreumáticos modificAdores dA doençA A AR é uma doença imunológica progressiva, que provoca efei- tos sistêmicos significativos, reduz o tempo de sobrevida e di- minui a mobilidade e a qualidade de vida. O interesse vem sendo focado na descoberta de tratamentos passíveis de deter – ou, pelo menos, retardar – essa progressão ao modificar a própria doença. Os efeitos das terapias modi- ficadoras da doença podem levar 2 semanas a 6 meses para se tornarem clinicamente evidentes. Essas terapias incluem fármacos antirreumáticos modifica- dores da doença (geralmente designados por FARMDs) não biológicos e biológicos. Os agentes não biológicos incluem pe- quenas moléculas, como metotrexato, azatioprina, cloroquina e hidroxicloroquina, ciclofosfamida, ciclosporina, leflunomi- da, micofenolato de mofetila e sulfassalazina. O tofacitinibe, apesar de ser comercializado como agente biológico, é, na re- alidade, um FARMD não biológico bem tolerado. Os sais de ouro, anteriormente muito usados, não são mais recomenda- dos, em virtude de seus efeitos tóxicos significativos e eficácia questionável. Os agentes biológicos são grandes moléculas de agentes terapêuticos, geralmente proteínas, que são produzi- dos, com frequência, pela tecnologia do DNA recombinante. Os FARMDs biológicos aprovados para a AR incluem: um agente biológico modulador das células T (abatacepte), um agente citotóxico das células B (rituximabe), um anticorpo an- tirreceptor de IL-6 (tocilizumabe), agentes inibidores da IL-1 (anacinza, rinolacepte, canacinumabe) e agentes bloqueadores do TNF-α (cinco fármacos). AbAtAcePte 1. Mecanismo de ação: O abatacepte é um agente biológico modulador de coestimulação, que inibe a ativação das cé- lulas T (ver também Capítulo 55). Depois que uma célula entra em contato com uma célula apresentadora de antíge- no (APC, antigen-presenting cell), um segundo sinal é pro- duzido pelo CD28 na célula T, que interage com CD80 ou CD86 na APC, levando à ativação da célula T. O abatacepte (que contém o ligante endógeno CTLA-4) liga-se ao CD80 e CD86, inibindo, assim, a ligação ao CD28 e impedindo a ativação das células T. 2. Farmacocinética: A dose recomendada de abatacepte para o tratamento de pacientes adultos com AR é de três doses “de indução” na forma de infusão intravenosa (dia 0, se- mana 2 e semana 4), seguidas de infusões semanalmente. A dose baseia-se no peso corporal; os pacientes com menos de 60 kg recebem 500 mg, os pacientes com 60 a 100 kg recebem 750 mg, e aqueles com mais de 100 kg recebem 1.000 mg. O abatacepte também está disponível na forma de formula- ção subcutânea, administrada em uma dose de 125 mg por via subcutânea, uma vez por semana. A AIJ também pode ser tratada com abatacepte, com esquema de indução no dia 0, na semana 2 e semana 4, seguido de infusão intravenosa a cada 4 semanas. A dose recomendada para pacientes de 6 a 17 anos e com peso abaixo de 75 kg é de 10 mg/kg, já aqueles que pesam 75 kg ou mais usam doses intravenosas para adultos, até uma dose máxima que não ultrapasse 1.000 mg. A meia-vida sérica terminal é de 13 a 16 dias. A coadministração com http://booksmedicos.org 626 seÇÃo Vi Fármacos usados no tratamento de doenças do sangue, inflamação e gota metotrexato, AINE e corticosteroides não influencia a de- puração do abatacepte. A maioria dos pacientes responde ao abatacepte dentro de 12 a 16 semanas após o início do tratamento; todavia, al- guns pacientes podem apresentar uma resposta em apenas 2 a 4 semanas. Um estudo realizado mostrou uma equiva- lência entre o adalimumabe e o abatacepte. 3. Indicações: O abatacepte pode ser usado como monotera- pia ou em associação com metotrexato ou outros FARMDs em pacientes com AR moderada a grave ou com AIJP grave. O abatacepte também está sendo testado no tratamento da AR em fase inicial e em pacientes virgens de metotrexato. 4. Efeitos colaterais: Observa-se um risco um pouco aumen- tado de infecção (à semelhança de outros FARMDs bioló- gicos), predominantemente do trato respiratório superior. Não se recomenda o uso concomitante com antagonistas do TNF-α ou outros agentes biológicos, devido à incidên- cia aumentada de infecção grave. Todos os pacientes de- vem ser submetidos à triagem para tuberculose latente e hepatite viral antes de iniciar essa medicação. Deve-se evi- tar a administração de vacinas vivas em pacientes enquan- to estão sendo tratados com abatacepte e por um período de até três meses após a sua interrupção. Foram relatadas reações relacionadas com a infusão e reações de hipersen- sibilidade,incluindo anafilaxia, embora sua ocorrência seja rara. A formação de anticorpos contra o abatacepte é rara (< 5%) e não tem nenhum efeito nos resultados clí- nicos. Existe a possibilidade de aumento na incidência de linfomas, mas não de outras neoplasias malignas, com o uso do abatacepte. AzAtioPrinA 1. Mecanismo de ação: A azatioprina é um FARMD não biológico sintético, que atua por meio de seu metabólito principal, a 6-tioguanina. A 6-tioguanina suprime a síntese de ácido inosínico, a função das células B e das células T, a produção de imunoglobulinas e a secreção de IL-2 (ver Capítulo 55). 2. Farmacocinética: A azatioprina pode ser administrada por via oral ou parenteral. Seu metabolismo é bimodal nos seres humanos, e os metabolizadores rápidos depuram o fármaco quatro vezes mais rapidamente do que os metabolizadores lentos. A produção de 6-tioguanina depende da tiopurina- -metiltransferase (TPMT), e os pacientes com atividade baixa ou ausente da TPMT (0,3% da população) apresen- tam um risco particularmente alto de mielossupressão em consequência das concentrações excessivas do fármaco ori- ginal, se a dose não for ajustada. 3. Indicações: A azatioprina está aprovada para uso na AR em uma dose de 2 mg/kg/dia. É também usada na prevenção da rejeição do transplante renal em associação com outros imunossupressores. Ensaios clínicos controlados mostra- ram a eficácia do fármaco na AP, na artrite reativa, na po- limiosite, no LES, na manutenção da remissão na vasculite e na doença de Behçet. A azatioprina também é usada na esclerodermia; todavia, em um estudo, foi constatado que ela é menos efetiva do que a ciclofosfamida no controle da progressão da doença pulmonar na esclerodermia. 4. Efeitos colaterais: A toxicidade da azatioprina inclui su- pressão da medula óssea, distúrbios gastrintestinais e certo aumento no risco de infecção. Conforme apresentado no Capítulo 55, pode haver aumento dos linfomas com o uso da azatioprina. Raramente, a ocorrência de febre, exantema e hepatotoxicidade indica reações alérgicas agudas. cloroquinA e hidroxicloroquinA 1. Mecanismo de ação: A cloroquina e a hidroxicloroquina são fármacos não biológicos usados principalmente no tra- tamento da malária (ver Capítulo 52) e das doenças reumá- ticas. Foram sugeridos os seguintes mecanismos: supressão das respostas dos linfócitos T a mitógenos, inibição da qui- miotaxia dos leucócitos, estabilização das enzimas lisossô- micas, processamento por meio do receptor Fc, inibição da síntese de DNA e de RNA; e captação de radicais livres. 2. Farmacocinética: Os antimaláricos sofrem rápida absor- ção, e 50% ligam-se às proteínas no plasma. Eles se ligam extensamente aos tecidos, sobretudo àqueles que contêm melanina, como os olhos. Esses fármacos são desaminados no fígado e apresentam meias-vidas de eliminação no san- gue de até 45 dias. 3. Indicações: Os antimaláricos foram aprovados para a AR, porém não são considerados FARMDs muito efetivos. A dose de ataque pode aumentar a taxa de resposta. Não há evidên- cias de que esses compostos alteram a lesão óssea na AR nas doses habituais (até 6,4 mg/kg/dia de hidroxicloroquina ou 200 mg/dia de cloroquina). Em geral, são necessários 3 a 6 meses para obter uma resposta. Os antimaláricos são usados com muita frequência no LES, visto que eles diminuem a mortalidade e as manifestações cutâneas, a serosite e a dor articularnessa doença. São também utilizados na síndrome de Sjögren. 4. Efeitos colaterais: Embora possa ocorrer toxicidade ocular (ver Capítulo 52) com doses de cloroquina acima de 250 mg/ dia e com doses de hidroxicloroquina superiores a 6,4 mg/ kg/dia, raramente é observada com doses mais baixas. Entre- tanto, aconselha-se uma monitoração oftalmológica a cada 12 meses. Outros efeitos tóxicos incluem dispepsia, náuseas, vômitos, dor abdominal, exantema e pesadelos. Esses fárma- cos parecem ser relativamente seguros durante a gravidez. ciclofosfAmidA 1. Mecanismo de ação: A ciclofosfamida é um FARMD não biológico sintético. O principal metabólito ativo é a mos- tarda de fosforamida, que forma ligações cruzadas com o DNA, impedindo a replicação da célula. A ciclofosfamida suprime a função das células T e das células B em 30 a 40%; a supressão das células T correlaciona-se com a resposta clí- nica nas doenças reumáticas. A farmacocinética e as toxici- dades são discutidas no Capítulo 54. 2. Indicações: A ciclofosfamida é usada regularmente, em uma dose de 2 mg/kg/dia, no tratamento do LES, da vasculite, gra- nulomatose de Wegener e outras doenças reumáticas graves. ciclosPorinA 1. Mecanismo de ação: A ciclosporina é um antibiótico peptí- dico, porém é considerada um FARMD não biológico. Por meio da regulação da transcrição gênica, a ciclosporina inibe a produção dos receptores de IL-1 e IL-2 e, secundariamente, inibe a interação entre macrófagos e células T, bem como a responsividade das células T (ver Capítulo 55). A função das células B dependente das células T também é afetada. http://booksmedicos.org CAPÍTuLo 36 Fármacos anti-inflamatórios não esteroides, fármacos antirreumáticos modificadores da doença... 627 2. Farmacocinética: A absorção da ciclosporina é incompleta e um tanto errática, embora uma formulação em microe- mulsão melhore sua consistência, proporcionando uma biodisponibilidade de 20 a 30%. O suco de pomelo (toranja, grapefruit) aumenta a biodisponibilidade do fármaco em até 62%. A ciclosporina é metabolizada pela CYP3A e, con- sequentemente, está sujeita a numerosas interações medica- mentosas (ver Capítulos 55 e 66). 3. Indicações: A ciclosporina está aprovada para uso na AR e retarda o aparecimento de novas erosões ósseas. A dose habitual é de 3 a 5 mg/kg/dia, em duas doses fracionadas. Relatos empíricos sugerem que o fármaco pode ser útil no LES, na polimiosite e dermatomiosite, na granulomatose de Wegener e na artrite crônica juvenil. A dose habitual é de 3 a 5 mg/kg/dia, em duas doses fracionadas. Relatos empíri- cos sugerem que a ciclosporina pode ser útil no LES, na po- liomiosite e dermatomiosite, na granulomatose de Wegener e na artrite crônica juvenil. 4. Efeitos colaterais: A leucopenia, a trombocitopenia e, em menor grau, a anemia são previsíveis. A ciclosporina em altas doses pode ser cardiotóxica, podendo ocorrer esterili- dade após administração crônica de doses antirreumáticas, particularmente em mulheres. O câncer de bexiga é muito raro, mas sua ocorrência precisa ser investigada, até mesmo cinco anos após a interrupção da ciclosporina. leflunomidA 1. Mecanismo de ação: A leflunomida, outro FARMD não biológico, sofre rápida conversão, tanto no intestino como no plasma, a seu metabólito ativo, o A77-1726. Esse meta- bólito inibe a di-hidrorotato-desidrogenase, resultando em diminuição na síntese de ribonucleotídeos e na interrupção das células estimuladas na fase G1 do crescimento celular. Em consequência, a leflunomida inibe a proliferação das células T e diminui a produção de autoanticorpos pelas cé- lulas B. Os efeitos secundários incluem aumento do mRNA do receptor de IL-10, diminuição do mRNA do receptor de IL-8 tipo A e redução da ativação do fator nuclear capa B (NF-kB) dependente do TNF-α. 2. Farmacocinética: A leflunomida é totalmente absorvida pelo intestino e apresenta meia-vida plasmática média de 19 dias. Seu metabólito ativo, A77-1726, tem aproximadamen- te a mesma meia-vida e está sujeito à recirculação êntero- -hepática. A colestiramina pode intensificar a excreção da leflunomida e aumenta a depuração total em cerca de 50%. 3. Indicações: A leflunomida é tão efetiva quanto o meto- trexato na AR, incluindo inibição da lesão óssea. Em um estudo, o tratamento combinado com metotrexato e leflu- nomida resultou em uma resposta do ACR20 de 46,2%, em comparação com 19,5% em pacientes tratados apenas com metotrexato. 4. Efeitos colaterais: Em cerca de 25% dos pacientes tratados com leflunomida, ocorre diarreia,embora apenas cerca de 3 a 5% interrompam o uso do fármaco devido a esse efei- to colateral. Pode ocorrer elevação das enzimas hepáticas. Ambos os efeitos podem ser reduzidos com a diminuição da dose de leflunomida. Outros efeitos colaterais associados a esse fármaco incluem alopecia leve, ganho de peso e ele- vação da pressão arterial. Raramente, ocorrem leucopenia e trombocitopenia. O fármaco está contraindicado durante a gravidez. metotrexAto O metotrexato, um antimetabólito não biológico sintético, constitui o FARMD de primeira linha para o tratamento da AR, sendo usado em 50 a 70% dos pacientes. Mostra-se ativo nessa doença, em doses muito mais baixas do que aquelas necessárias para a quimioterapia do câncer (ver Capítulo 54). 1. Mecanismo de ação: O principal mecanismo de ação do metotrexato nas pequenas doses usadas para o tratamen- to das doenças reumáticas provavelmente está relacionado com a inibição da aminoimidazolcarboxamida ribonucleo- tídeo (AICAR) transformilase e da timidilato-sintetase. O AICAR, que se acumula no interior das células, inibe competitivamente a AMP-desaminase, com consequen- te acúmulo de AMP. O AMP é liberado e sofre conversão extracelular em adenosina, que é um potente inibidor da inflamação. Como consequência, as funções inflamatórias de neutrófilos, macrófagos, células dendríticas e linfócitos são suprimidas. O metotrexato tem efeitos secundários na quimiotaxia dos polimorfonucleares. Observa-se algum efeito na di-hidrofolato-redutase, o que afeta a função dos linfócitos e dos macrófagos, embora isso não constitua seu principal mecanismo de ação. O metotrexato exerce efeitos inibitórios diretos na proliferação e estimula a apoptose nas células imunes inflamatórias. Além disso, inibe as citocinas pró-inflamatórias ligadas à sinovite reumatoide. 2. Farmacocinética: Cerca de 70% do fármaco é absorvido após sua administração oral (ver Capítulo 54). O metotre- xato é metabolizado a um produto hidroxilado menos ativo. Tanto o composto original como o metabólito são poliglu- tamatados no interior das células, onde permanecem por períodos prolongados. A meia-vida sérica do metotrexato é normalmente de apenas 6 a 9 horas. A hidroxicloroquina pode reduzir a depuração ou aumentar a reabsorção tubular do metotrexato. O metotrexato é excretado principalmente na urina, porém até 30% pode ser excretado na bile. 3. Indicações: Embora o esquema posológico mais comum do metotrexato para o tratamento da AR seja de 15 a 25 mg por semana, observa-se um efeito aumentado com 30 a 35 mg por semana. O fármaco diminui a taxa de aparecimento de novas erosões. As evidências sustentam o seu uso na artrite crônica juvenil, e o metotrexato tem sido usado na psoría- se, AP, EA, polimiosite, dermatomiosite, granulomatose de Wegener, arterite de células gigantes, LES e vasculite. 4. Efeitos colaterais: Os efeitos tóxicos mais comuns consis- tem em náuseas e úlceras da mucosa. Além disso, muitos outros efeitos colaterais, como leucopenia, anemia, estoma- tite, ulcerações gastrintestinais e alopecia, provavelmente resultem da inibição da proliferação celular. Com frequên- cia, ocorre hepatotoxicidade relacionada com a dose pro- gressiva, na forma de elevação das enzimas, porém a cirrose é rara (<1%). A hepatotoxicidade não está relacionada com a concentração sérica de metotrexato. Foi documentada uma rara reação pulmonar semelhante à hipersensibilidade, com dispneia aguda, bem como reações pseudolinfomato- sas. A incidência de anormalidades das provas de função GI e hepática pode ser reduzida com o uso de leucovorina 24 horas após cada dose semanal ou com a administração diária de ácido fólico, embora isso possa diminuir a eficácia do metotrexato em cerca de 10%. O fármaco está contrain- dicado durante a gravidez. http://booksmedicos.org 628 seÇÃo Vi Fármacos usados no tratamento de doenças do sangue, inflamação e gota micofenolAto de mofetilA 1. Mecanismo de ação: O micofenolato de mofetila (MMF), um FARMD semissintético, é convertido em ácido mico- fenólico, a forma ativa do fármaco. O produto ativo inibe a inosina monofosfato desidrogenase, levando à supressão da proliferação dos linfócitos T e B. Distalmente, o fármaco interfere na adesão dos leucócitos às células endoteliais por meio da inibição da E-selectina, P-selectina e molécula de adesão intercelular 1. A farmacocinética e as toxicidades do MMF são discutidas no Capítulo 55. 2. Indicações: O MMF mostra-se efetivo no tratamento da doença renal causada por LES e pode ser útil na vasculite e na granulomatose de Wegener. Embora o MMF seja ocasio- nalmente usado em uma dose de 2 g/dia para o tratamento da AR, não existem dados bem controlados sobre a sua efi- cácia nessa doença. 3. Efeitos colaterais: O MMF está associado a náuseas, dispep- sia e dor abdominal. À semelhança da azatioprina, o MMF pode causar hepatotoxicidade. Esse fármaco também pode provocar leucopenia, trombocitopenia e anemia. O fármaco está associado a uma incidência aumentada de infecções. Só raramente tem sido associado à neoplasia maligna. rituximAbe 1. Mecanismo de ação: O rituximabe é um agente biológico, um anticorpo monoclonal quimérico, cujo alvo é o linfó- cito B CD20 (ver Capítulo 55). A depleção dessas células ocorre por meio de citotoxicidade mediada por células e de- pendente de complemento e pela estimulação da apoptose celular. A depleção dos linfócitos B reduz a inflamação ao diminuir a apresentação de antígenos aos linfócitos T e ao inibir a secreção de citocinas pró-inflamatórias. O rituxi- mabe rapidamente causa depleção das células B periféricas, embora essa depleção não esteja correlacionada com sua eficácia nem com sua toxicidade. 2. Farmacocinética: O rituximabe é administrado em duas infusões intravenosas de 1.000 mg, com intervalo de duas semanas. A administração pode ser repetida a cada 6 a 9 meses, quando necessário. Os ciclos repetidos permanecem efetivos. O pré-tratamento com paracetamol, um anti-his- tamínico e glicocorticoides intravenosos (geralmente 100 mg de metilprednisolona) administrados 30 minutos antes da infusão, diminui a incidência e a gravidade das reações à infusão. 3. Indicações: O rituximabe está indicado para o tratamento da AR moderada a gravemente ativa, em associação a me- totrexato para pacientes que tiveram uma resposta inade- quada a um ou mais antagonistas do TNF-α. O rituximabe em associação com glicocorticoides também está aprovado para o tratamento de pacientes adultos com granulomatose de Wegener (também conhecida como granulomatose com poliangeíte) e poliangeíte microscópica e também é usado em outras formas de vasculite (ver Capítulo 54 para o seu uso nos linfomas e nas leucemias). 4. Efeitos colaterais: Cerca de 30% dos pacientes desenvol- vem exantema com o primeiro tratamento de 1.000 mg; essa incidência diminui para cerca de 10% com a segun- da infusão e diminui progressivamente a cada ciclo pos- terior de terapia. Esses exantemas em geral não exigem a interrupção da terapia, embora a ocorrência de uma reação urticariforme ou anafilactoide impeça o uso de terapia adicional. As imunoglobulinas (particularmente a IgG e a IgM) podem diminuir com ciclos repetidos de terapia, e podem ocorrer infecções, embora não pareçam estar dire- tamente associadas à diminuição das imunoglobulinas. Fo- ram relatadas infecções bacterianas, fúngicas e virais graves e, algumas vezes, fatais por um período de até 1 ano após a última dose de rituximabe, e os pacientes com infecções graves e ativas não devem ser tratados com rituximabe. O rituximabe está associado à reativação do vírus da hepa- tite B (HBV), o que exige monitoração antes e vários me- ses depois do início do tratamento. O rituximabe não foi associado à ativação da tuberculose nem à ocorrência de linfomas ou outros tumores (ver Capítulo 55). Foram rela- tadas reações mucocutâneas fatais em pacientes em uso de rituximabe. Podem ocorrer diferentescitopenias, as quais exigem monitoração com hemograma completo a cada 2 a 4 meses em pacientes com AR. Outros efeitos colaterais, como eventos cardiovasculares, são raros. sulfAssAlAzinA 1. Mecanismo de ação: A sulfassalazina, um FARMD não biológico sintético, é metabolizada a sulfapiridina e ácido 5-aminossalicílico. A sulfapiridina provavelmente é o com- ponente ativo no tratamento da AR (diferentemente da do- ença inflamatória intestinal, ver Capítulo 62). Algumas auto- ridades acreditam que o composto original, a sulfassalazina, também tenha um efeito. Foi documentada uma supressão da resposta das células T à concanavalina, bem como ini- bição da proliferação as células B in vitro. A sulfassalazina ou seus metabólitos in vitro inibem a liberação de citocinas inflamatórias produzidas por monócitos ou macrófagos, como, por exemplo, IL-1, -6 e -12 e TNF-α. 2. Farmacocinética: Apenas 10 a 20% da sulfassalazina admi- nistrada por via oral é absorvida, embora uma fração sofra recirculação êntero-hepática no intestino, onde o fármaco é reduzido pelas bactérias intestinais, liberando sulfapiridina e ácido 5-aminossalicílico (ver Figura 62-8). A sulfapiridina é bem absorvida, ao passo que o ácido 5-aminossalicílico per- manece não absorvido. Parte da sulfassalazina é excretada em sua forma inalterada na urina, ao passo que a sulfapiridina é excretada após acetilação e hidroxilação hepáticas. A meia- -vida da sulfassalazina é de 6 a 17 horas. 3. Indicações: A sulfassalazina é efetiva na AR e diminui a progressão radiológica da doença. O fármaco também tem sido usado na artrite crônica juvenil, AP, doença inflamató- ria intestinal, EA e uveíte associada à espondiloartropatia. O esquema habitual é de 2 a 3 g/dia. 4. Efeitos colaterais: Cerca de 30% dos pacientes em uso de sulfassalazina interrompem a medicação devido à ocor- rência de toxicidade. Os efeitos colaterais comuns consis- tem em náuseas, vômitos, cefaleia e exantema. Além disso, observa-se a presença de anemia hemolítica e metemo- globinemia, embora sua ocorrência seja rara. Em 1 a 5% dos pacientes, ocorre neutropenia, ao passo que a trom- bocitopenia é muito rara. Em certas ocasiões, observa-se a ocorrência de toxicidade pulmonar e DNA de fita dupla (dsDNA, de double-stranded DNA) positivo, porém o lúpus induzido por fármaco é raro. Ocorre infertilidade reversível nos homens, mas a sulfassalazina não afeta a fertilidade das mulheres. O fármaco não parece ser teratogênico. http://booksmedicos.org CAPÍTuLo 36 Fármacos anti-inflamatórios não esteroides, fármacos antirreumáticos modificadores da doença... 629 tocilizumAbe 1. Mecanismo de ação: O tocilizumabe, um anticorpo huma- nizado mais recente, liga-se aos receptores de IL-6 solúveis e ligados à membrana e inibe a sinalização mediada pela IL-6 por meio desses receptores. A IL-6 é uma citocina pró-infla- matória produzida por diferentes tipos de células, incluindo células T, células B, monócitos, fibroblastos e células sino- viais e endoteliais. A IL-6 está envolvida em uma variedade de processos fisiológicos, como ativação das células T, sín- tese hepática de proteínas de fase aguda e estimulação dos processos inflamatórios envolvidos em doenças como a AR. 2. Farmacocinética: A meia-vida do tocilizumabe depende da dose, sendo de aproximadamente 11 dias para uma dose de 4 mg/kg e de 13 dias para uma dose de 8 mg/kg. A IL-6 pode suprimir várias isoenzimas CYP450; por conseguinte, a inibi- ção da IL-6 pode restaurar a atividade CYP450 em níveis mais altos. Esse efeito pode ser clinicamente relevante para fárma- cos que são substratos da CYP450 e apresentam uma janela te- rapêutica estreita (p. ex., ciclosporina ou varfarina), podendo haver necessidade de um ajuste na dose desses medicamentos. O tocilizumabe pode ser usado em associação a FARMDs não biológicos ou como monoterapia. Nos Estados Unidos, a dose inicial recomendada para a AR é de 4 mg/kg por via intravenosa, a cada 4 semanas, seguida de um aumento para 8 mg/kg (sem ultrapassar 800 mg/infusão), dependendo da resposta clínica. Na Europa, a dose inicial de tocilizumabe é de 8 mg/kg até 800 mg. A dose do fármaco na AIJS ou na AIJP segue um algoritmo que leva em consideração o peso corpo- ral. Além disso, são recomendadas modificações da dose com base em determinadas alterações laboratoriais, como eleva- ção das enzimas hepáticas, neutropenia e trombocitopenia. 3. Indicações: O tocilizumabe está indicado para pacientes adultos com AR ativa moderada a grave, que tiveram uma resposta inadequada a um ou mais FARMDs. Esse fármaco também está indicado para pacientes com mais de dois anos que apresentam AIJS ou AIJP ativas. Um estudo recente mostrou que o tocilizumabe é ligeiramente mais efetivo do que o adalimumabe. 4. Efeitos colaterais: Foi constatada a ocorrência de infec- ções graves, incluindo tuberculose, infecções fúngicas, vi- rais e por outros patógenos oportunistas. Deve-se proceder a uma triagem para tuberculose antes de iniciar o uso do tocilizumabe. As reações adversas mais comuns observadas consistiram em infecções das vias respiratórias superiores, cefaleia, hipertensão e elevação das enzimas hepáticas. Em certas ocasiões, ocorrem neutropenia e diminuição das contagens de plaquetas, e deve-se efetuar uma monito- ração dos lipídeos (p. ex., colesterol, triglicerídeos, LDL e HDL). Foi relatada a ocorrência de perfuração GI com o uso do tocilizumabe em pacientes com diverticulite ou naque- les em uso de corticosteroides, embora não esteja claro que esse efeito colateral seja mais comum do que com os agentes bloqueadores do TNF-α. O uso do tocilizumabe raramente está associado a distúrbios desmielinizantes, incluindo es- clerose múltipla. Em menos de 1% dos pacientes tratados com tocilizumabe, observa-se o desenvolvimento de reação anafilática. Ocorre produção de anticorpos antitocilizuma- be em 2% dos pacientes, e esses anticorpos estão associados a reações de hipersensibilidade que exigem a interrupção do fármaco. fármAcos bloqueAdores do tnf-α As citocinas desempenham uma função central na resposta imune (ver Capítulo 55) e na AR. Apesar da expressão de uma ampla variedade de citocinas nas articulações de pacientes com AR, o TNF-α parece ser particularmente importante no proces- so inflamatório. O TNF-α afeta a função celular pela ativação de receptores específicos de TNF ligados à membrana (TNFR1, TNFR2). Fo- ram aprovados cinco FARMDs biológicos que interferem no TNF-α para o tratamento da AR e de outras doenças reumáticas (Figura 36-4). Esses fármacos apresentam muitos efeitos colate- rais em comum, esses efeitos são discutidos no final desta seção. Adalimumabe 1. Mecanismo de ação: O adalimumabe é um anticorpo mo- noclonal IgG1 anti-TNF totalmente humano. Esse compos- to forma complexos com o TNF-α solúvel e impede sua interação com os receptores de superfície celular p55 e p75. Isso resulta em infrarregulação da função dos macrófagos e das células T. 2. Farmacocinética: O adalimumabe é administrado por via subcutânea e apresenta meia-vida de 10 a 20 dias. Sua depu- ração diminui em mais de 40% na presença de metotrexato, e a formação de anticorpo antimonoclonal humano diminui quando o metotrexato é administrado concomitantemente. A dose habitual na AR é de 40 mg em semanas alternadas; com frequência, aumenta-se a dose para 40 mg por semana. Na psoríase, são administrados 80 mg na semana 0, 40 mg na semana 1 e, em seguida, 40 mg em semanas alternadas. A dose inicial na doença inflamatória intestinal é mais alta; os pacientes recebem 160 mg na semana 0, 80 mg 2 semanas depois e, em seguida, uma dose de manutenção de 40 mg em semanas alternadas. Os pacientes com colite ulcerativa devem continuar o tratamento de manutenção depois de 8 semanas se houver evidências de remissão nessa época. A dose do adalimumabe depende do peso corporal em pa- cientes com AIJ; 20 mg em semanas alternadas para pacien- tes com15 a 30 kg e 40 mg em semanas alternadas para pacientes com 30 kg ou mais. 3. Indicações: O adalimumabe está aprovado para o tratamen- to da AR, EA, AP, AIJ, psoríase em placas, doença de Crohn e colite ulcerativa. O fármaco diminui a taxa de formação de novas erosões. Mostra-se efetivo como monoterapia e em associação com metotrexato e outros FARMDs não biológi- cos. Com base apenas em relatos de casos e séries de casos, foi também constatada a eficácia do adalimumabe no tra- tamento da doença de Behçet, sarcoidose e, notavelmente, uveíte não infecciosa. Certolizumabe 1. Mecanismo de ação: O certolizumabe é um fragmento Fab de anticorpo humanizado recombinante, conjugado a um polietilenoglicol (PEG), com especificidade para o TNF-α humano. O fármaco neutraliza o TNF-α ligado à membra- na solúvel de modo dependente da dose. Além disso, o cer- tolizumabe não contém uma região Fc encontrada em um anticorpo completo e não fixa o complemento nem provoca citotoxicidade mediada por células dependente de anticor- po in vitro. http://booksmedicos.org 630 seÇÃo Vi Fármacos usados no tratamento de doenças do sangue, inflamação e gota 2. Farmacocinética: O certolizumabe é administrado por via subcutânea e apresenta meia-vida de 14 dias. O metotrexa- to diminui o aparecimento de anticorpos dirigidos contra o certolizumabe. A dose habitual para a AR é de 400 mg inicialmente e nas semanas 2 e 4, seguida de 200 mg em semanas alternadas ou 400 mg a cada 4 semanas. 3. Indicações: O certolizumabe está indicado para o trata- mento de adultos com AR moderada a gravemente ativa. Pode ser usado como monoterapia ou em associação a FARMD não biológicos. Além disso, o certolizumabe é aprovado para pacientes adultos com doença de Crohn, AP ativa e EA ativa. etanercepte 1. Mecanismo de ação: O etanercepte é uma proteína de fu- são recombinante que consiste em dois componentes de receptores p75 solúveis do TNF ligados à porção Fc da IgG1 humana (Figura 36-4); o fármaco liga-se a moléculas de TNF-α e também inibe a linfotoxina α. 2. Farmacocinética: O etanercepte é administrado por via subcutânea, em uma dose de 25 mg duas vezes por semana ou 50 mg semanalmente. Na psoríase, são administrados 50 mg duas vezes por semana durante 12 semanas, seguidos de 50 mg semanalmente. O fármaco é absorvido lentamente e alcança uma concentração máxima dentro de 72 horas após sua administração. O etanercepte apresenta uma meia-vida de eliminação sérica média de 4,5 dias. Um estudo recente demonstrou uma redução cardiográfica com o uso de 50 mg de etanercepte por semana. 3. Indicações: O etanercepte foi aprovado para o tratamento da AR, artrite crônica juvenil, psoríase, AP e EA. Pode ser usado como monoterapia, embora mais de 70% dos pacien- tes tratados com esse fármaco também utilizam o metotre- xato. O etanercepte diminui a taxa de formação de novas erosões em comparação com o metotrexato isoladamente. É também usado em outras síndromes reumáticas, como esclerodermia, granulomatose com poliangeíte (granulo- matose de Wegener), arterite de células gigantes, doença de Behçet, uveíte e sarcoidose. VH Região Fc da IgG1 humana Golimumabe Certolizumabe VL CL CH1 CH2 CH3 VH Região Fc da IgG1 humana Adalimumabe VL CL CH1 CH2 CH3 Região Fc da IgG1 humana Fragmento Fab humanizado Polietileno- glicol (PEG) Domínio extracelular do receptor p75 humano Etanercepte CH2 CH3 Infliximabe VH VL CL CH1 CH2 CH3 FiGurA 36-4 Estruturas dos antagonistas do TNF-α usados na artrite reumatoide. CH, cadeia pesada constante; CL, cadeia leve constante; Fc, região complexa da imunoglobulina; VH, cadeia pesada variável; V L, cadeia leve variável. Regiões em vermelho, de origem humana; regiões em azul, de origem murina; regiões em verde, polietilenoglicol (PEG). http://booksmedicos.org CAPÍTuLo 36 Fármacos anti-inflamatórios não esteroides, fármacos antirreumáticos modificadores da doença... 631 Golimumabe 1. Mecanismo de ação: O golimumabe é um anticorpo mo- noclonal humano com alta afinidade pelo TNF-α solúvel e ligado à membrana. O fármaco neutraliza efetivamente os efeitos inflamatórios produzidos pelo TNF-α observados em doenças como a AR. 2. Farmacocinética: O golimumabe é administrado por via subcutânea e apresenta meia-vida de aproximadamente 14 dias. O uso concomitante com metotrexato aumenta os níveis séricos de golimumabe e diminui a produção de anticorpos antigolimumabe. A dose recomendada para o tratamento da AR, AP e EA é de 50 mg, a cada 4 semanas. Uma dose maior de golimumabe é usada para o tratamento da colite ulcerativa da seguinte maneira: 200 mg inicialmen- te na semana 0, seguidos de 100 mg na semana 2 e, depois disso, a cada 4 semanas. 3. Indicações: O golimumabe, administrado com metotre- xato, está indicado para o tratamento da AR moderada a gravemente ativa em pacientes adultos. O fármaco também está indicado para o tratamento da AP e da EA, bem como para a colite ulcerativa moderada a grave. infliximabe 1. Mecanismo de ação: O infliximabe (Figura 36-4) é um anti- corpo monoclonal IgG1 quimérico (25% de origem murina, 75% de origem humana) que se liga com alta afinidade ao TNF-α solúvel e, possivelmente, ligado à membrana. O meca- nismo de ação provavelmente é idêntico ao do adalimumabe. 2. Farmacocinética: O infliximabe é administrado em forma de infusão intravenosa com “indução” nas semanas 0, 2 e 6 e manutenção a cada 8 semanas, posteriormente. A dose é de 3 a 10 mg/kg, embora a dose habitual seja de 3 a 5 mg/kg a cada 8 semanas. Existe uma relação entre a concentração sérica e o efeito, embora a depuração, em cada caso, exiba uma acentuada variação. A meia-vida terminal é de 9 a 12 dias, sem acúmulo após doses repetidas no intervalo reco- mendado de oito semanas. Após terapia intermitente, o in- fliximabe induz a produção de anticorpos antiquiméricos humanos em até 62% dos pacientes. A terapia concomitante com metotrexato diminui acentuadamente a prevalência de anticorpos antiquiméricos humanos. 3. Indicações: O infliximabe está aprovado para uso no tra- tamento da AR, EA, AP, doença de Crohn, colite ulcerati- va, doença inflamatória intestinal pediátrica e psoríase. O fármaco está sendo usado sem indicação na bula em outras doenças, incluindo granulomatose com poliangeíte (granu- lomatose de Wegener), arterite de células gigantes, doença de Behçet, uveíte e sarcoidose. Na AR, o infliximabe com metotrexato diminui a taxa de formação de novas erosões. Embora seja recomendado o uso concomitante do metotre- xato com o infliximabe, vários outros FARMDs, incluindo antimaláricos, azatioprina, leflunomida e ciclosporina, po- dem ser utilizados como terapia de apoio para esse fármaco. O infliximabe também é usado como monoterapia. efeitos colaterais dos agentes bloqueadores do TNF-α Os agentes bloqueadores do TNF-α apresentam múltiplos efei- tos colaterais em comum. O risco de infecções bacterianas e de infecção dependente de macrófagos (incluindo tuberculose, in- fecções fúngicas e outras infecções oportunistas) está aumenta- do, embora permaneça muito baixo. A ativação da tuberculose latente é menor com o etanercepte do que com outros agentes bloqueadores do TNF-α. Todavia, todos os pacientes devem ser submetidos à triagem para tuberculose latente ou ativa antes de iniciar um agente bloqueador do TNF-α. O uso desses fárma- cos também está associado a um risco aumentado de reativação do HBV, e é importante efetuar uma triagem para HBV antes de iniciar o tratamento. Os agentes bloqueadores do TNF-α aumentam o risco de câncer de pele – incluindo melanoma –, exigindo um exame pe- riódico da pele, particularmente em pacientes de alto risco. Por outro lado, não há evidências bem definidas de um risco aumen- tado de neoplasias malignas sólidas ou linfomas com o uso de agentes bloqueadores do TNF-α, e a sua incidência pode não ser diferente em comparação com outros FARMDs ou com a pró- pria AR ativa.Foi documentada uma baixa incidência de anticor- pos dsDNA recém-formados e fatores antinucleares (FAN) com o uso de agentes bloqueadores do TNF-α, porém o lúpus clínico é extremamente raro, e a presença de anticorpos FAN e dsDNA em si não contraindica o uso de agentes bloqueadores do TNF-α. Em pacientes com insuficiência cardíaca (IC) limítrofe ou franca, os agentes bloqueadores do TNF-α podem exacerbar a IC. Os agentes bloqueadores do TNF-α podem induzir o sistema imune a desenvolver anticorpos contra o fármaco em cerca de 17% dos casos. Esses anticorpos podem interferir na eficácia do fármaco e correlacionam-se com reações no local de infusão. Em 20 a 40% dos pacientes, ocorrem reações no local de injeção, embora ra- ramente levem à interrupção do tratamento. Foram relatados casos de alopecia areata, hipertricose e líquen plano erosivo. A ocorrência de pseudolinfomas cutâneos foi descrita raramente com o uso de agentes bloqueadores do TNF-α, particularmen- te infliximabe. Os agentes bloqueadores do TNF-α podem au- mentar o risco de úlceras gastrintestinais e perfuração do intes- tino grosso, incluindo a perfuração diverticular e do apêndice. A pneumonia intersticial inespecífica, a psoríase e uma sín- drome semelhante à sarcoidose estão entre os efeitos tóxicos raros relatados em associação ao uso de bloqueadores do TNF- -α. Foram relatados raros casos de leucopenia, neutropenia, trombocitopenia e pancitopenia. O fármaco precipitante deve ser interrompido nesses casos. tofAcitinibe 1. Mecanismo de ação: O tofacitinibe é uma pequena molé- cula sintética, que inibe de forma seletiva todos os membros da família da Janus cinase (JAK, ver Capítulo 2) em graus variáveis. Em doses terapêuticas, o tofacitinibe exerce seu efeito principalmente pela inibição da JAK3 e, em menor grau, da JAK1, interrompendo, assim, a via de sinalização JAK-STAT. Essa via desempenha uma importante função na patogênese das doenças autoimunes, incluindo AR. O complexo JAK3/JAK1 é responsável pela transdução de sinais a partir do receptor de cadeia γ (IL-2RG) comum para IL-2, -4, -7, -9, -15 e -21, o que influencia subsequentemente a transcrição de vários genes de importância fundamental para a diferenciação, a proliferação e a função das células NK e dos linfócitos T e B. Além disso, a JAK1 (em combina- ção com outras JAK) controla a transdução de sinais a partir dos receptores de IL-6 e interferona. Os pacientes com AR http://booksmedicos.org 632 seÇÃo Vi Fármacos usados no tratamento de doenças do sangue, inflamação e gota que recebem tratamento com tofacitinibe apresentam uma rápida redução da proteína C-reativa. 2. Farmacocinética: O tofacitinibe é um FARMD oral de alvo es- pecífico. A dose recomendada no tratamento da AR é de 5 mg, duas vezes ao dia; observa-se uma tendência bem definida a um aumento da resposta (e da toxicidade) com o dobro dessa dose. O tofacitinibe apresenta uma biodisponibilidade oral absoluta de 74%, as refeições ricas em gordura não afetam a área sob a curva (AUC, area under the curve), e a meia-vida de eliminação é de cerca de 3 horas. O metabolismo (de 70%) ocorre no fígado, principalmente pela CYP3A4 e, em menor grau, pela CYP2C19. Os 30% remanescentes são excretados de modo inalterado pelos rins. Os pacientes em uso de ini- bidores das enzimas CYP e aqueles com comprometimento hepático ou renal moderado necessitam de uma redução da dose para 5 mg uma vez ao dia. Esse fármaco não deve ser administrado a pacientes com doença hepática grave. 3. Indicações: O tofacitinibe foi originalmente desenvolvido para prevenir a rejeição de aloenxerto de órgãos sólidos. Foi também testado para o tratamento da doença inflamatória intestinal, espondiloartrite, psoríase e ressecamento dos olhos. Até o momento, o tofacitinibe está aprovado nos Es- tados Unidos apra o tratamento de pacientes adultos com AR moderada a gravemente ativa, que não responderam ou que apresentam intolerância ao metotrexato. Não está apro- vado na Europa para essa indicação. Pode ser usado como monoterapia ou em associação com outros FARMDs não biológicos, incluindo o metotrexato. 4. Efeitos colaterais: À semelhança dos FARMDs biológicos, o tofacitinibe aumenta ligeiramente o risco de infecção e não deve ser usado com imunossupressores potentes ou FARMDs biológicos, devido a efeitos imunossupressores aditivos. As infecções mais comuns consistem em infecção das vias respiratórias superiores e infecção do trato uriná rio. Foram também relatadas infecções mais graves, incluin do pneumonia, celulite, candidíase esofágica e outras infecções oportunistas. Todos os pacientes devem ser submetidos à triagem para tuberculose latente ou ativa antes de iniciar o tratamento. Foi relatada a ocorrência de linfomas ou de outras neoplasias malignas, como câncer de pulmão e de mama, em pacientes com uso de tofacitinibe, porém alguns estudos discutem o uso potencial de inibidores da JAK no tratamento de certos linfomas. São observadas elevações dependentes da dose nos níveis de lipoproteína de baixa densidade (LDL), lipoproteína de alta densidade (HDL) e colesterol total em pacientes tratados com tofacitinibe, sur- gindo frequentemente dentro de cerca de 6 semanas após o início do tratamento; por esse motivo, é necessário monito- rar os níveis de lipídeos. Embora o tofacitinibe produza um aumento dependente da dose nas células B CD19 e nas cé- lulas T CD4, juntamente com uma redução das células NK CD16/CD56, a importância clínica dessas alterações ainda não foi esclarecida. Ocorrem neutropenia e anemia relacio- nadas com o fármaco, exigindo a sua interrupção. Outros efeitos relatados do tofacitinibe, incluem cefaleia, diarreia, elevação das enzimas hepáticas e perfuração gastrintestinal. inibidores dA interleucinA-1 A IL-1α desempenha uma importante função na patogênese de várias doenças inflamatórias e autoimunes, incluindo AR. A IL-1β e o antagonista do receptor de IL-1 (IL-1RA) são ou- tros membros da família da IL-1. Todos os três ligam-se a re- ceptores de IL-1 da mesma maneira. Entretanto, o IL-1RA não desencadeia a via de sinalização intracelular e, portanto, atua como inibidor competitivo da IL-1α e IL-β pró-inflamatórias. Anacinra 1. Mecanismo de ação: A anacinra é o fármaco mais antigo dessa família; todavia, hoje em dia, é raramente usada no tratamento da AR. A anacinra é um IL-1RA recombinante; bloqueia o efeito da IL-1α e da IL-1β sobre os receptores de IL-1, diminuindo, assim, a resposta imune nas doenças inflamatórias. 2. Farmacocinética: A anacinra é administrada por via subcu- tânea e alcança uma concentração plasmática máxima de- pois de 3 a 7 horas. A biodisponibilidade absoluta é de 95%, e o fármaco apresenta uma meia-vida terminal de 4 a 6 ho- ras. A dose recomendada no tratamento da AR é de 100 mg ao dia. A dose de anacinra depende do peso corporal no tratamento da síndrome periódica associada à criopirina (SPAC), iniciando com 1 a 2 mg/kg/dia até uma dose má- xima de 8 mg/kg/dia. Recomenda-se uma redução na fre- quência de administração da anacinra para dias alternados em pacientes com insuficiência renal. 3. Indicações: A anacinra está aprovada para o tratamento da AR moderada a gravemente ativa em pacientes adultos, po- rém não é muito efetiva e raramente é usada para essa indica- ção. Entretanto, constitui o fármaco de escolha para a SPAC, particularmente o subtipo de doença inflamatória multissis- têmica de início no período neonatal (DIMIN). A anacinra é efetiva na gota (ver adiante) e é utilizada no tratamento de outras doenças, incluindo doença de Behçet e AIJ de início no adulto. Seu uso na arterite de células gigantes é controverso. Canacinumabe 1. Mecanismo de ação: O canacinumabe é um anticorpo mo- noclonal IgG1/k humano dirigido contra a IL-1β. Forma um complexo com a IL-1β, impedindo a sua ligação aos receptores de IL-1. 2. Farmacocinética: O canacinumabe é administrado em inje- ção subcutânea.
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