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301 - PROBLEMA 1 1 - Caracterizar os tipos de dor. Dor: experiência sensorial e emocional desagradável que está associada a lesões reais ou potenciais. Nocicepção: relacionado ao reconhecimento de sinais dolorosos pelo sistema nervoso, que formulam informações relacionadas à lesão. Origem nociceptiva (origem somática ou visceral), neuropática (central ou periférica) e pscicogênica. Quanto à duração pode ser classificada em crônica ou aguda e subaguda durável. A dor pode ser dependente ou independente do sistema nervoso simpático. Dor aguda: maior parte das vezes acompanhada por mudanças do SNA. Associado a espasmos, sudorese, hipertensão arterial e taquicardia. Dor crônica: duração superior a 3 meses. Dourado (2007), afirma que uma grande parte da dor crônica está relacionada com doença oncológica ou a patologias não oncológicas mas que são igualmente graves, como dor lombar, artrítica e osteoartrítica. Torna-se uma dor bastante desgastante, mal localizada e por vezes também mal definida pois a sua longa duração pode induzir alterações nos mecanismos homeostáticos, de forma, a que este tipo de dor seja entendida em diagnóstico como sendo uma doença e não um sintoma. Este tipo de dor não se afirma como um prolongamento da dor aguda, pois as estimulações nociceptivas que se repetem conduzem a uma variedade de mudanças no SNC. A dor aguda induz uma resposta simpática, podendo ocorrer taquicardia, hipertensão e alterações das pupilas, a dor crônica permite modelar a ocorrência destes fenômenos. Dor nociceptiva: ativação fisiológica dos receptores ou da via dolorosa, associada a lesões de tecidos musculares, ósseos e ligamentos. ● Somática: músculos, ossos, pele e articulações. Dor de fácil localização. ● Visceral: dor atinge órgãos internos, de caráter vago, de difícil localização. No entanto, devido à fraca densidade de inervação sensorial da víscera e à extensa divergência de estímulo visceral dentro do SNC, a verdadeira dor visceral é vaga, difusa e de fraca definição sensorial. A convergência das fibras Fisiopatologia da dor 25 dos aferentes viscerais e somáticos para os mesmos neurónios sensoriais podem levar a uma má interpretação na zona cerebral. Dor neuropática: efeito de uma lesão ou de uma disfução do SNC ou SNP. Pode ser acompanhada de paresia, paralisia, hipoestesia, vasodilatação, anosmia, hipoalgesia, cegueira, mioquimias, fasciculações, distonias, alodinia, vasoconstrição, ereção pilosa. ● Central: esclerose múltipla, tumores de origem encefálica, doença de Parkinson ou epilepsia. ● Periférica: lesões traumáticas, dor pós-amputação, mono ou polineuropatias periféricas dolorosas, neuralgia trigeminal ou aracnoidite. Dor psicogênica: surge na ausência de qualquer processo lesional, ou que permanece após a resolução do processo lesivo. Dor projetada Dor fantasma Dor referida: é a projeção na superfície de uma dor visceral. Alodinia: dor que surge como resultado de estimulação não-nociva sobre a pele normal. Neuralgia ou nevralgia: dor localizada em uma região inervada por nervo específico ou grupo de nervos. 2 - Discutir as bases anátomo-fisiológicas da dor. Nocicepção consiste nos processos de transdução, transmissão, modulação e condução de sinais neurais gerados em resposta a um estímulo nocivo. TRANSDUÇÃO A substância P (SP) é um mediador inflamatório com uma ação muito relevante sobre a dor. A SP está envolvida na transmissão da dor a partir de neurônios sensoriais do sistema nervoso central e na conversão da mensagem recebida numa sensação dolorosa. Quanto aos eicosanóides, estes derivam do ácido araquidônico (ácido gordo polinsaturado), que se encontra na membrana celular. Este é libertado da membrana da celular através da ação de uma fosfolipase, sendo convertido por enzimas da cascata do araquidonato em compostos como as prostaglandinas, os tromboxanos e os leucotrienos. O ácido araquidônico é metabolizado em prostanóides pela via da ciclooxigenase e em leucotrienos pela via da lipooxigenase, também pode ser convertido em isoprostanos por peroxidação, estes compostos são mediadores inflamatórios que aumentam a nocicepção. ● Estímulo Mecânico ○ canais iônicos sensíveis à distensão. ○ Ptn de membrana -> 2º mensageiro -> canais iônicos ○ Estímulo mecânico em células não neurais -> substâncias pró-inflamatórias atuam nos cociceptores ● Estímulo Térmico ○ Abertura de canais iônicos permeáveis a cátions ● Estímulo Químico ○ Sopa de sensibilização ○ Tecido lesado: potássio, ATP, H+, prostaglandinas, leucotrienos ○ Células do sistema imune: histamina, NO e H+ ○ Elementos do sangue do sangue e endotélio: bradicinina, serotonina, NO ○ Nociceptores: substância P, CGRP, NGF, NO ○ Fibras simpáticas: prostaglandinas, ATP, noradrenalina ■ Ativam a fibra aferente: potássio, serotonina, bradicinina, histamina ■ Sensibilizam a fibra aferente: prostaglandinas, leucotrienos, substância P, CGRP -> Atuam em receptores ionotrópicos e metabotrópicos -> Deflagração do potencial de ação que é transmitido pelas fibras A-delta e C. - NO – atravessa a membrana celular e exerce seu efeito diretamente no metabolismo do terminal periférico. - Substâncias liberadas pelos nociceptores ativados que contribuem para a ativação dos nociceptores vizinhos (diminuem o limiar de excitabilidade): substância P, glutamato, aspartato, CGRP (peptídeos relacionado com o gene da calcitonina). TRANSMISSÃO Cadeia de 3 neurônios. O 1º origina-se na periferia e projeta-se para a medula espinhal. O 2º neurônio ascende pela medula. O 3º neurônio projeta-se para o córtex cerebral. Os nociceptores são terminações nervosas livres dos neurônios de primeira ordem, cuja função é preservar a homeostasia tecidual, assinalando uma injúria potencial ou real. Os neurônios de primeira ordem são classificados segundo seu diâmetro, seu grau de mielinização e sua velocidade de condução. ● Fibras A𝛃: diâmetro grande, mielinizadas e de condução rápida, responsáveis por sensações inócuas. Referente a tato, vibração e pressão. ● Fibras A𝛅: diâmetro intermediário, mielinizadas, velocidade intermediária, modulando a primeira fase da dor, mais aguda ou semelhante a pontada. ● Fibras C: fibras de diâmetro pequeno, não mielinizadas e de velocidade lenta, responsável pela segunda dor ou dor difusa, queimação. As fibras C produzem uma segunda fase de dor mais difusa e persistente e formam, na periferia, receptores de alto limiar para estímulos térmicos e/ou mecânicos. ● Quanto aos nociceptores presentes nos músculos, articulações e vísceras, estes possuem receptores polimodais do tipo Aδ e C podendo assim responder especificamente a estímulos nociceptivos mecânicos, térmicos e químicos, mas o seu caráter nociceptivo ainda não foi totalmente demonstrado. Em termos neuroquímicos, os nociceptores são classificados em três categorias: tipo C peptidérgicos, tipo C não peptidérgicos e Aδ. A maior parte dos nociceptores contêm glutamato (neurotransmissor mais abundante do sistema nervoso), no entanto os nociceptores C peptidérgicos (dependentes do fator de crescimento neuronal) contêm neuropeptídeos, tais como a SP, peptídeo relacionado com o gene da calcitonina (CGRP). Os nociceptores tipo C não peptidérgicos contêm peptídeos dependentes do fator neurotróficoderivado do encéfalo (BDNF), podendo-se identificar pela presença de isolectinas específicas, recetores purinérgicos e enzimas. Os nociceptores Aδ dependem da neurotrofina-3 e do BDNF. Rexed subdividiu a substância cinzenta da medula espinal em dez lâminas. Da lâmina I-VI, encontram-se as lâminas que fazem parte do corno dorsal da medula espinal. As fibras C e Aδ terminam na zona marginal da lâmina I e na zona superficial da substância gelatinosa da lâmina II, contudo algumas fibras Aδ terminam na lâmina V. Os interneurônios excitatórios ou inibitórios que regulam o fluxo de informação nociceptiva estão localizados nas lâminas V e VI. As células que respondem a estímulos inócuos, mas que não são nocivos estão localizadas nas lâminas III e IV, sendo reconhecidas como os neurónios de baixo limiar. O corno dorsal da medula espinal é dividido em três grandes regiões: a zona marginal, a zona da substância gelatinosa e o núcleo proprius. ● Lâmina I: elevada densidade de projeção de neurônios, que processam a informação nociceptiva. ● Lâmina II: substância gelatinosa, o terminal aferente primário pode estabelecer sinapse com vários dendritos periféricos/axônio/corpo celular, estão na base da modulação pré-sináptica e pós-sináptica da informação. ● Lâmina III: semelhante à lâmina II, embora um pouco maiores e mielinizadas. ● Lâminas IV e V: neurônios de diferentes tamanhos. ● A lâmina X tem grande relação com estímulos nocivos mecânicos e térmicos, embora as lâminas I e II assumam um papel importante nesse contexto. Das vias ascendentes o trato espinotalâmico (STT) é considerado a maior via envolvida na dor, proveniente de neurônios da lâmina I e lâminas V-VII. Através das vias talamicocorticais a informação avaliada e processada atinge a consciência e a percepção. O sintoma de dor pode ser desencadeado em qualquer ponto deste trajeto. Vias ascendentes: 1. Via neoespinotalâmica: constituída pelo trato espinotalâmico lateral. Neurônio I (gânglio espinal), neurônio II (lâminas I de Rexed) e neurônio III (tálamo, NVPL). Responsável pela sensação de dor aguda e bem localizada na superfície do corpo (dor em pontada). 2. Via paleoespinotalâmica: constituída pelo trato espino-reticular. Neurônio I (gânglio espinhal), neurônio II (lâmina V de Rexed, sinapse em vários níveis da formação reticular), neurônio III (formação reticular, origem às fibras retículo-talâmicas), neurônio IV (tálamo - núcleos intralaminares, projetam-se para territórios amplos do córtex cerebral). Responsável pela sensação de dor crônica e difusa (dor em queimação). A partir do tálamo, digire-se ao córtex cerebral, ao hipotálamo e ao sistema límbico. O trato espinorreticular é constituído pelos axônios dos neurônios presentes nas lâminas VII e VIII, terminando na formação reticular. Responsável pelo componente afetivo que a dor encerra e permite desenvolver comportamentos de defesa. O trato espinomesencefálico é composto pela projeção das lâminas I, V, VIII e X, passando contralateralmente até ao retículo mesencefálico e a substância cinzenta periaquedutal (PAG) (contém neurônios que fazem parte da modelação descendente da transmissão da dor) aos núcleos parabraquiais de formação reticular. O trato espinomesencefálico termina na substância cinzenta periaquedutal (PAG), ativando as vias descendentes da dor, envolvidas nos aspectos autônomos e somatomotores presentes nas reações de proteção. O trato espinoparabraquial é formado por neurônios parabraquiais que se estendem até a amígdala (sistema límbico). O sistema amígdala espinoparabraquial, provindo dos neurônios da lâmina I expressa vários receptores, destacando-se os NK1, este sistema está envolvido nos componentes emocionais ou afetivos da dor. O trato espinohipotalâmico é constituído por axônios dos neurônios provenientes das lâminas I, V e VIII que se estendem diretamente até o hipotálamo (SNA). MODULAÇÃO Modulação descendente A modulação da experiência da dor efetua-se a três níveis: periferia, medula espinal e no cérebro, sendo estes os principais “ portões de controle”. O controlo é executado no sentido ascendente de forma a inibir ou facilitar a condução do estímulo da periferia para o cérebro e descendente, do cérebro até aos cornos posteriores da medula. Neurotransmissores, produzidos após a lesão, atuam abrindo o portão se a sua acção não for bloqueada por neurotransmissores de inibição como é o caso da serotonina e as encefalinas. O sistema opioide endógeno é constituído por mediadores químicos, tais como as encefalinas, endorfinas e dinorfina que se conseguem ligar aos receptores opioides endógenos presentes, sobretudo nas células nervosas da PAG e no bulbo raquidiano ventral, assim como em vários pontos da medula espinhal. Os peptídeos opióideos e drogas opiáceas são poderosos agentes analgésicos. Têm ação direta sobre os receptores específicos na membrana celular dos neurônios. Na modulação descendente, múltiplas áreas do cérebro e várias vias que se estendem desde o córtex cerebral até a região caudal da medula estão envolvidas. A via melhor caracterizada é a que liga a PAG no mesencéfalo à região rostral centromedial da medula (RVM) e medula espinhal. Transmissores envolvidos: peptídeos opióides e as monoaminas. Essas vias descendentes tbm são chamadas de vias de feedback refletido ou caminhos de modulação da dor para os níveis mais baixos das vias ascendentes. Essas ligações podem aumentar ou suprimir os sinais. Centros de modulação são organizados de duas formas: a saída do córtex frontal e do hipotálamo ativa os centros das áreas PAG e restante área adjacente do mesencéfalo, os quais têm ligação com os núcleos do tegumento da medula rostromedial, a outra área envolvida com a modulação da dor está localizada no tegumento da ponte dorsal e dorsolateral. Muitos dos neurónios presentes nesta área são adrenérgicos e os da medula são serotonérgicos. A via descendente de modulação da dor atua usando duas vias descendentes paralelas, numa delas usando mediadores como a β-endorfina, serotonina e a encefalina, a outra via parece exercer o seu efeito analgésico recorrendo a um mecanismo alfa-adrenérgico. Opioides: inibem de maneira direta a transmissão ascendente das informações nociceptivas provenientes do corno dorsal da medula espinhal e ativam os circuitos de controle da dor que descem do mesencéfalo pelo bulbo ventromedial rostral e chegam ao corno dorsal da medula espinhal. Os tipos de receptores opióides são µ (mi), κ (kappa) e δ (delta). Os principais ligantes opióides são: encefalina, seletiva para receptores tipo delta; dinorfina, seletiva para receptores tipo kappa; e endorfina a qual possui alta afinidade para receptores tipo delta e mi e baixa afinidade para receptores tipo kappa. Todos eles são acoplados a proteína G e inibem a adenilato ciclase, reduzindo assim o conteúdo intracelular de AMPc. ● Receptor µ: endorfina ● Receptor κ: dinorfina ● Receptor δ: encefalina, endorfina As encefalinas, por exemplo, que estão presentes nos interneurônios da substância gelatinosa da medula espinhal posterior, apresentam efeitos antinociceptivos que parecemser ativados pelas ações pré e pós-sinápticas para inibir a liberação de substância P e diminuir a atividade das células que se projetam da medula espinhal para os centros mais altos do SNC. Serotonina: receptores metabotrópicos do tipo 5-HT. Serotonina liberada no núcleo magno da rafe. Receptores vaniloides: canais de cátions não seletivos que são ativados pelo calor (>43ºC), baixo pH, lipídios endógenos. Seu efeito analgésico está associado ao aumento da liberação de glutamato e ativação de células da medula ventromedial rostral. Encontrados em neurônios aferentes primários, gânglios da raiz dorsal e em todo o cérebro. A 5-HT bloqueia a percepção de dor no cérebro, por neutralização dos efeitos da substância P. Para além da sua ação central desempenha um papel crucial na modelação descendente da dor, o que se reflete na grande projeção dos neurónios serotoninérgicos até à lâmina I e II da medula espinal. 3 - Descrever os mecanismos de sensibilização central e “Wind up”. Sensibilização Central: esse termo é usado para descrever o fenômeno de potenciação wind up , a longo prazo e a hiperalgesia secundária. O wind up ocorre em resposta a estímulos nocivos repetido dos nociceptores periféricos, produzido no decorrer da ativação repetida de baixa frequência de fibras C que causam um aumento progressivo da resposta eletrofisiológica nos neurônios pré-sinápticos do corno dorsal. O wind up é o resultado da somação de potenciais sinápticos lentos após estimulação aferente repetida de baixa freqüência, inferior a 5 Hz, e por tempo prolongado. Isto estimula a liberação de neurotransmissores excitatórios, glutamato e aspartato, no corno dorsal da medula espinhal e produz a despolarização relacionada com a remoção do bloqueio voltagem-dependente exercido pelo magnésio nos receptores NMDA. Ocorre, então, aumento da condutividade ao cálcio e a resposta à dor, a cada estímulo repetido e da mesma intensidade. Quando chega o sinal aumentado a partir da periferia, ocorre um aumento da libertação de glutamato, que se liga a receptores específicos, designados de receptores N-metil-D-aspartato (NMDA), e mais tardiamente liga-se ao receptor metabotrópico de glutamato. Estes receptores não são expressos em situações de dor aguda, mas quando ativados contribuem não só para despolarizar o neurônio pós-sináptico, como também para gerar uma série de alterações intracelulares como expressão de oncogenes, síntese de proteínas, ativação enzimática (proteína-cinases, COX - ciclooxigenase, etc.) e ativação de numerosas vias de sinalização celular, que aumentam o sinal nociceptivo. Em resposta à sensibilização periférica, as vias aferentes primárias também libertam a substância P e CGRP que se ligam a receptores específicos, que são os receptores da neuroquinina, conhecidos por receptores NK1 e CGRP1, respetivamente. Depois da ativação de receptores NMDA pelo glutamato há remoção do íon magnésio do interior do receptor e o influxo de cálcio para a célula, do que resulta a amplificação e o prolongamento da resposta ao impulso doloroso. O aumento do cálcio tem como conseqüência a ativação da enzima óxido nítrico-sintetase e a estimulação da transcrição de protoncogenes. Estes são genes localizados no sistema nervoso central e estão envolvidos na formação de dinorfinas e encefalinas. As encefalinas têm ação antinociceptiva e estão envolvidas no processo de redução da neuroplasticidade e hiperalgesia. Entretanto, as dinorfinas têm um efeito complexo, já que possuem ação algogênica e antinociceptiva. Como consequência da amplificação do sinal ocorrem vários fenômenos, aumento da síntese de ciclooxigenase (COX), bradicinina e do óxido nítrico (NO). Estas substâncias são capazes de se difundir para o neurónio pré-sináptico, provocando um aumento da excitabilidade dos neurônios espinais. Em situações de dor crônica para além, da reorganização da estrutura neuronal surgem ramificações de axônios colaterais que aumentam a quantidade de sinal nociceptivo aferente que por sua vez aumenta a libertação de glutamato no espaço intersináptico. Por outro lado, ocorre uma perda da eficácia da inibição produzida pelas vias descendentes com diminuição da libertação de opióides endógenos, incluindo também a degeneração celular destes neurônios, o que indiretamente aumenta o sinal nociceptivo que é enviado para os centros superiores. Todas estas mudanças amplificam e mantêm de forma muito importante o sinal nociceptivo que ocorre no corno dorsal da medula espinal, originando a hiperalgesia e alodínia. Sensibilização periférica: forma como o estímulo vai evocar a função de plasticidade do nociceptor. Conjunto de mediadores liberados a partir de células lesadas e inflamatórias que sensibilizam o nociceptor, reduzindo o limiar. Ruptura das células, degranulação dos mastócitos, secreção de mediadores pelas células inflamátorias e na indução da produção de enzimas como a COX-2. Depois, os neurônios sensibilizados liberam substância P e CGRP (peptídeo relacionado com o gene da calcitonina) a partir de vesículas. Essas substâncias se ligam a receptores relacionados a inflamação, tais como neutrófilos, basófilos e mastócitos. Há liberação de citocinas pró-inflamatórias, bradicinina e histamina, promovendo síntese de mediadores como a COX, que, por sua vez, promove síntese de prostaglandinas e eicosanoides. Liberação de fatores tróficos como o fator de crescimento neuronal (NGF). 4 - Explicar a ação dos anestésicos locais e suas indicações. Anestésico local pode ser definido como uma droga que pode bloquear de forma reversível a transmissão do estímulo nervoso no local onde for aplicado, sem ocasionar alterações no nível de consciência. Os anestésicos locais bloqueiam a ação de canais iônicos na membrana celular neuronal, impedindo a neurotransmissão do potencial de ação. A forma ionizada do anestésico local liga-se de modo específico aos canais de sódio, inativando-os e impedindo a propagação da despolarização celular. Porém, a ligação específica ocorre no meio intracelular, por isso é necessário que o anestésico local em sua forma molecular ultrapasse a membrana plasmática para então bloquear os canais de sódio. É provável que exista um segundo mecanismo de ação dos AL, que envolve a inativação dos canais de sódio pela incorporação de moléculas de AL na membrana plasmática (teoria da expansão da membrana plasmática). Esse segundo mecanismo de ação seria gerado pela forma não ionizada dos anestésicos locais, atuando de fora para dentro. As fibras nervosas possuem sensibilidades diferentes aos anestésicos locais, sendo as fibras pequenas mais sensíveis que as grandes, e as fibras mielizadas são bloqueadas mais rapidamente que as não mielizadas de mesmo diâmetro. O bloqueio das fibras nervosas ocorre gradualmente, iniciado com a perda de sensibilidade à dor, à temperatura, ao toque, à propriocepção e finalmente perda do tônus músculo esquelético. Por essa razão os indivíduos podem ainda sentir o toque no momento em que a dor já está ausente após aplicação do anestésico local. Todos os anestésicos locais são bases fracas. Tem menos eficácia em meiosinfectados, pelo menor pH local. Além disso, em tecido infectado há maior fluxo sanguíneo, o que pode difundir o anestésico mais rapidamente, desfavorecendo a sua ação. 5 - Explicar a ação e a indicação do antagonista não competitivo do NMDA. ● Por que não usar um analgésico comum (no caso do antagonista não competitivo dos receptores de NMDA)? ● Tipos de modulador NMDA (glutamato), quais atuam na pré-sináptica, fenda e pós-sináptica. Uma revisão de trabalhos sobre analgesia pós-operatória mostrou que a abordagem preventiva, ou seja, aquela aplicada em qualquer momento do procedimento cirúrgico, é mais adequada que a preemptiva por reduzir a dor e o consumo de analgésico suplementar no pós-operatório. Para isso, os antagonistas dos receptores NMDA foram considerados os medicamentos mais efetivos. Após a administração venosa de cetamina, o efeito máximo ocorre em 30 a 60 segundos e a meia-vida de distribuição é relativamente curta (11 a 16 minutos). A cetamina é rapidamente absorvida após injeção por via muscular, com meia-vida de absorção de 2 a 17 minutos. A cetamina age sobre uma variedade de receptores, incluindo nicotínicos, muscarínicos, opióides µ, e kappa e altera os canais de sódio do sistema nervoso central e periférico, os canais monoaminérgicos e os de cálcio voltagem-dependentes. A cetamina também bloqueia de maneira não-competitiva os receptores NMDA, sendo que quanto menor sua dose, maior sua afinidade por esses receptores. A S(+) cetamina tem maior afinidade pelos receptores NMDA que a forma racêmica, além de ser 2 vezes mais potente que esta em prevenir a sensibilização central da medula espinhal. A cetamina tem papel importante na prática anestesiológica por suas propriedades broncodilatadora e simpaticomimética. Atualmente, os efeitos psíquicos provocados por ela ainda se constituem em grande empecilho ao seu uso clínico abrangente. Cetaminas são capazes de bloquear a sensibilização central. Quando usada em pequena dose, a cetamina inibe de forma competitiva e não-competitiva os canais iônicos dos receptores NMDA (N-metil-D-aspartato) da membrana pós-sináptica dos neurônios do corno dorsal da medula espinhal. Neste local, há dois pontos de ligação para a cetamina: um dentro do canal do receptor (que irá diminuir o tempo de abertura do canal) e outro na porção hidrofóbica do receptor (que irá diminuir a freqüência de abertura do canal). 6 - Explicar como a dor altera os sinais vitais. A dor é, depois, transmitida para as estruturas supramedulares envolvidas no processamento da dor e chega até ao cérebro, onde é percecionada como dor. Os reflexos supramedulares também ativam a frequência cardíaca e respiratória e induzem a libertação das hormonas de stress 7 - Descrever os métodos de avaliação da dor. Localização, descrição, intensidade, duração, fatores de alívio ou de agravamento. Há escalas unidimensionais que têm o objetivo de medir a intensidade da dor mediante apenas um valor qualitativo ou numérico, a escala visual analógica, escala numérica de avaliação, escala de descrição verbal e a escala de faces (de Wong-Baker) são exemplos. As provas de avaliação multidimensional são muito utilizadas, tais como o questionário da dor de McGill, questionário da dor de Dartmouth, Inventário Multidimensional da Dor de West Haven-Yale, entre outros. Manifestações tais como o choro, resmungos, gritos e proteção de partes específicas do corpo também devem ser tidas em conta durante o processo avaliativo. Independentemente do método de avaliação, torna-se também útil recorrer-se a uma avaliação física da dor, mais propriamente a realização de um exame neurológico, sendo que o grande objetivo da realização deste exame se centra na identificação da existência ou não de uma anomalia do sistema nervoso e assim conseguir-se separar as lesões centrais de lesões periféricas. Realizam-se também frequentemente exames neurológicos quando se suspeitam de lesões da espinal medula. 8 - Explicar os mecanismos de hiperalgesia no local da cicatriz e nas imediações. Durante as lesões cutâneas diversos mediadores químicos são libertados, tais como, a bradicinina, prostaglandinas, substância P (SP), K+ , H+ , que desencadeiam a resposta inflamatória. Os vasos sanguíneos tornam-se mais permeáveis, ocorrendo edema e eritema cutâneo. Os mastócitos próximos do local lesado libertam histamina, ativando diretamente os nociceptores, muitas vezes os próprios axónios dos nociceptores libertam substâncias que sensibilizam esses receptores a estímulos que anteriormente, não eram nocivos ou dolorosos, este processo de sensibilização é designado de hiperalgesia, sendo esta a base de muitos processos incluindo a redução do limiar da dor. A membrana do neurônio nociceptivo fica com limiar mais baixo por causa das substâncias inflamatórias (prostaglandinas, bradicininas, etc). 1. Sangramento -> anóxia 2. Extravasamento de conteúdo celular (K, bradicinina, etc) 3. Migração de mastócitos (histamina e serotonina) 4. Reação do ácido aracdônico -> prostaglandinas e prostaciclinas 5. Os nociceptores ficam mais excitáveis, inclusive a estímulos inócuos 6. Os nociceptores apresentam reação inflamatória neurogênica: liberam prostaglandinas e sub P acentuando o processo inflamatório. PGE2 e PGI2 reduzem o limiar para estimulação de nociceptores, provocando sensibilização periférica. A reversão da sensibilização periférica representa a base mecânica para o componente periférico da atividade analgésica dos AINEs. A PGE2 centralmente ativa contribui para a sensibilização central, um aumento na excitabilidade dos neurônios do corno dorsal espinal que provoca hiperalgesia e alodinia, em parte por desinibição das vias glicinérgicas. REFERÊNCIAS Monografia de mestrado em Ciências Farmacêuticas - Fisiopatologia da Dor - Cláudia Maria Varandas, Universidade Fernando Pessoa, 2013 Artigo de Revisão da Revista Brasileira de Anestesiologia - Dor: Aspectos Atuais da Sensibilização Periférica e Central - Anita Rocha et al, 2007 Documento traduzido de John Radcliffe Hospital, Oxford-UK, para a Sociedade Brasileira de Anestesiologia. Hilary Edgcombe, Farmacologia dos Anestésicos Locais, 2013 Artigo de Revisão - Psicofisiologia da dor: uma revisão bibliográfica. Aline Oliveira e Edson Lopes, 2008 301 - PROBLEMA 2 1 - Explicar o mecanismo da dor referida e irradiada. A dor visceral é emergente dos órgãos internos do corpo e cápsula de vísceras sólidas, é de localização difusa, tem associação incoerente com a patologia e sensações reflexas. Fortes respostas autonômicas e emocionais podem ser desencadeadas com sensações mínimas. Estímulo das fibras nociceptivas: estiramento/tensão (pode até ser anormalidades motoras intestinais), processos inflamatórios de origem infecciosa ou química, isquemia ou neoplasias. Vísceras como fígado, rins e parênquima pulmonar não são sensíveis a dor. Pode ser desencadeada por baixo limiar, até mesmo por pressão gasosa. É difusamente localizada pela organização das vias, que ascendem junto às de origem somática. A dor referida provavelmente está relacionada à convergência das fibras nervosas viscerais e somáticasao conectarem no CDME. Os reflexos autonômcios e motores servem como sistema mantenedore facilitador de transmissão dolorosa. TRANSMISSÃO O impulso sensorial dos ⅔ superiores do esôfago é transmitido por fibras A-delta e C no vago e do 1/3 inferior por fibras simpáticas, que vão de T-5 a T-8. O estômago e os intestinos delgado e grosso até o ângulo esplênico são supridos por fibras simpáticas de T-6 a L-2. As fibras que inervam o cólon descendente e reto passam através do nervo pélvico e penetram na medula espinhal, por via ventral e dorsal, associadas às raízes de S2-S4. Vias de transmissão: (1) nervo vago e seus ramos, (2) no interior e ao longo das vias eferentes das fibras simpáticas (cadeia simpática e ramos esplâncnicos, incluindo maior, menor, mínimo, torácicos e lombares), e (3) no nervo pélvico (com eferentes parassimpáticos) e as suas ramificações. Os tratos GI e os gânglios periféricos formam extensos plexos neuronais que controlam as funções anatômicas. Os corpos celulares dos aferentes primários que viajam para o SNC residem principalmente no gânglio nodoso (vagal) e no T2-L2 e nos gânglios da raiz dorsal S1-5 (simpático-associado e nervo pélvico-associado). Os aferentes vagais podem desempenhar um papel na semsibilidade nociceptiva. Aferetnes viscerais primários entram na medula espinhal e arborizam extensivamente, incluindo o trato de Lissauer, para penetrar vários segmentos espinhais, acima e abaixo do segmento de entrada. Esses aferentes estabelecem sinapse com neurônios profundos e superficiais no corno dorsal ipsilateral e contralateral. O rsultado é a ativação ampla e difusa do sistema nervosos central. A infoemação nociceptiva visceral viaja perlas vias espinotalâmicas tradicionais e vias ipsilaterais e dorsais espinais. O processamento cortical da informação visceral tem sido observado no córtex insular, córtex cingulado anterior e córtex somatossensorial. Dor Irradiada -> Provocada por irritação direta de um nervo sensitivo ou misto. É sintida exatamente no território correspondente à raiz nervosa estimulada - superficial ou profunda. Ex: Dor ciática, percepção da dor em território que é inervado pela raiz nervosa estimulada. 2 - Discutir neuropatia diabética e relação com a dor. A patogênese da neuropatia autonômica diabética (NAC) é tão complexa e mal conhecida como a patogênese das demais neuropatias diabéticas. Dentre os possíveis mecanismos propostos, estão incluídos distúrbios metabólicos, insuficiência neurovascular, lesão auto-imune e deficiência do fator de crescimento neuro-hormonal. Trata-se, provavelmente, de um processo multifatorial que se inicia com a hiperglicemia persistente. Perda progressiva das fibras nervosas do SN periférico somático e autonômico que acarretam sequelas devastadoras entre pacientes com diabetes mellitus. A definição de neuropatia diabética (ND) de um consenso internacional é "a presença de sintomas e/ou sinais de disfunção dos nervos periféricos em pessoas com DM, após a exclusão de outras causas. Atualmente, há evidências de que as sequelas neuropáticas são indicadores não apenas de risco de úlceras e amputação, também de risco cardiovascular. As mais comuns são as polineuropatias generalizadas simétricas, destacando a polineuropatia simétrica distal ou sensitivo-motora. O excesso intraclular de glicose pode resultar do fluxo aumentado da via poliol com aumento do sorbitol e frutose decorrente da maior atividade das enzimas aldose redutase e sorbitol desidrogenase e aumento do estresse oxidativo. Outro fator envolve a sinalização da insulina. A redução, diante da deficiência ou da resistência à insulina contribui para a patogênese da polineuropatia. Nos neurônios, a resistência a insulina resulta da inibição de uma via, semelhante à resistência à insulina observada no músculo e tecido adiposo. O rompimento dessa via pode conduzir à disfunção mitocondrial e estresse oxidativo, resultante em mais lesão nas fibras nervosas e agravamento da PND. Há portanto ampla conexão de mecanismos funcionando em rede onde a hiperglicemia, RI, dislipidemia, inflamação sistêmica e ativação do SRA alimentariam um ciclo de estresse oxidativo, sinais inflamatórios e dano celular. 3 - Caracterizar dor psicogênica, seu mecanismo e diagnóstico. A dor psicogénica, segundo Phipps et al, (2003:308), (...) parece não ter uma base fisiológica, pelo contrário, parece ser originada no espírito, ou pelo estado psicológico do doente (…). É difícil compreender e explicar este tipo de dor, no entanto, deve ser valorizada porque o utente sente-a, não é imaginária, sendo para Melzack e Wall (1982) o rótulo de psicológica, o bode expiatório da ignorância dos mecanismos da dor. Reconhecido o importante papel dos fatores psicológicos na dor, várias síndromes foram denominadas “psicogênicas”, com a implicação de que a causa primária seria psicológica. O que significa supor que o indivíduo tem dor porque tem necessidade ou porque deseja. Os dados psicológicos suportam enfaticamente uma vertente da concepção da dor, como uma experiência perceptiva cuja qualidade e intensidade são influenciadas pela singularidade do passado individual, pelo significado que o indivíduo atribui à situação produtora de dor e pelo seu “estado de espírito” no momento. Acredita-se que estes fatores intervêm sobre os impulsos nervosos que ascendem da periferia para o cérebro e nele circulam. Nesta perspectiva, a dor torna-se uma função do indivíduo considerado globalmente, incluindo os seus pensamentos e receios atuais, bem como sua esperança no futuro. 4 - Explicar como IAM influencia o SNA. Durante a isquemia miocárdica, autcoides como a bradicinina são produzidos estiulando neurônios aferetnes e, consequentemente, a resposta simpática eferente que eleva a PA e a FC. Estudos mostram que a estimulação epicárdica de bradicinina estimula a via simpática e a atividade barosensitiva. REFERÊNCIAS Artigo de revisão - Hiperalgesia Visceral e Dor Abdominal Crônica: Abordagem Diagóstica e Terapêutica - 2003, Duraval Campos e Ana Guimarães Mestrado - Faculdade de Medicina - Universidade de Coimbra - Linda Fernandes, 2009 - Dor no Corpo e na Alma Monografia - Dor e o controle do sofrimento - Ana Gusman et al UFMG Capítulo 2 - Neuropatia diabética periférica: Diabetes na Prática Clínica. Dra. Hermelinda C. Pedrosa Jacobsen e Guyton 301 - PROBLEMA 3 1 - Diferenciar a dor referida da dor irradiada. Dor referida : dor sentida em um local que se encontra a distância dos tecidos responsáveis pela dor, porém mantendo relação com o ponto do estímulo primário. Explicada pela convergências de fibras aferentes somáticas e viscerais para os mesmos 2º neurônios na medula espinhal. Relação criada pela metameria embriológica. Dor irradiada : dor radicular, é produzida pelo estiramento, torção, compressão ou irritação de uma raíz espinhal, central ao forame intervetebral. Apesar de possuir muitas das características da dor referida, ela difere quanto à intensidade, aos fatores agravantes e atenuantes e ao tipo de disseminação. Caracterizada por dor aguda e muito intensa, quase sempre se inicia em região central próxima a coluna, e se dirige para uma parte da extremidade inferior. Melhor exemplo é a compressão de L4, L5 e S1 por hérnia de disco, produzindo a dor ciática. Ela se estendecaudalmente através da parte posterior da coxa, ântero-lateral e posterior da perna até o pé. Associada a parestesia ou perda da sensibilidade da pele. A confusão ocorre porque os sinônimos de irradiar são: espalhar, propagar, difundir, transmitir, entre outros. Na maioria das vezes, esta palavra é usada com este sentido. Ao dizermos que a dor da cólica nefrética se inicia na região lombar e se irradia para a virilha e/ou testículos, estamos nos referindo apenas a sua propagação e não a sua classificação. Esta é definida somente como dor referida. 2 - Caracterizar dor visceral oca. A dor abdominal proveniente de uma víscera oca requer estímulo maciço e a sua presença traduz distensão local, gasosa ou por líquidos, ou contração vigorosa. Quanto mais rápida ou aguda for a distensão, maior será a dor. Quando grave e intensa, apresenta-se sob forma de cólicas, podendo se originar no trato gastrintestinal, vias biliares, vias urinárias, nas tubas uterinas etc. Ela tem, como principal característica, o fato de ser mal localizada pelo paciente que, quando solicitado a descrevê-la e localizá-la, realiza uma série de palpações, geralmente profundas, sem que disso resulte a localização precisa. 13 Ocorre em paroxismos e pode atingir grande intensidade. Nas cólicas severas, os pacientes apresentam-se agitados, contorcem-se e dobram-se sobre si mesmos, sem encontrar posição adequada. A dor da obstrução intestinal, a da distensão ureteral por cálculos e a da fase inicial da apendicite constituem exemplos de dor visceral verdadeira originária de uma víscera oca. A inervação aferente da pelve e parte superior do ureter é feita através dos plexos renais (T10 - L1). A principal causa de cólica renal é a obstrução parcial ou total da junção ureteropélvica ou do ureter. É referida na região lombar, logo abaixo da reborda costal, podendo irradiar ao longo do ureter até a bexiga e para o testículo ou grande lábio homolateral. 3 - Discutir o mecanismo de ação, indicações, contraindicações e efeitos colaterais dos AINES, Antieméticos e Antiespasmódicos. O sistema sensorial visceral craniano conduz principalmente as informações mecanorreceptoras e quimiossensitivas, ao passo que os aferentes do sistema visceral espinal carregam principalmente as sensações relacionadas à temperatura e às lesões teciduais de origem mecânica, química ou térmica. As informações sensoriais viscerais craniais entram no SNC pelo trigêmeo (V), facial (VII), glossofaríngeo (IX) e vago (X). As vísceras pélvicas são inervadas por ramos que se originam desde o 2º até o 4º segmentos espinais sacrais. A eferência do SNA pode ser toracolombar (simpático) e craniossacral (simpático). O neurotransmissor de todas as fibras autônomas pré-ganglionares e da maioria das fibras parassimpáticas pós-ganglionares é a acetilcolina. Alguns nervos parassimpáticos pós-ganglionares usam NO como neurotransmissor (neurônios nitrinérgicos). As fibras adrenérgicas compreendem a maioria das fibras simpáticas pós-ganglionares, usando norepinefrina. SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO As células que dão origem às fibras pré-ganglionares dessa divisão se localizam principalmente nas colunas intermediolaterais da medula espinal e se estendem desde o segmento T1 até o L2/L3. Os axônios são conduzidos pelas raízes nervosas ventrais e fazem sinapse com neurônios que se situam em gânglios simpáticos fora do eixo cerebroespinal, em 3 localizações: paravertebral, pré-vertebral e terminal. 22 pares de gânglios simpáticos paravertebrais lateralmente à coluna vertebral. Estão ligados entre si por troncos nervosos e aos nervos espinais pelos ramos comunicantes. Os ramos brancos -> segmentos toracolombares do efluxo simpático (fibras mielinizadas pré-ganglionares que deixam a medula através das raízes anteriores). Ramos cinzentos -> originam-se nos gânglios e levam de volta aos nervos espinais as fibras pós-ganglionares, para distribuição aos órgãos. Os gânglios pré-vertebrais estão no abdome e na pelve, próximos à superfície ventral da coluna vertebral, e consiste principalmente em celíaco, mesentérico superior, aortorrenal e mesentérico inferior. Os gânglios terminais existem em pequeno número, localizam-se próximos aos órgãos que inervam e incluem aqueles conectados à bexiga e ao reto e, na região do pescoço, o gânglio cervical. As fibras pré-ganglionares que saem da medula espinal podem fazer sinapse com neurônios de mais de um gânglio simpático. Muitas dessas fibras desde T5 até T12 ultrapassam os gânglios paravertebrais para formar os nervos esplâncnicos. As fibras pós-ganglionares que se originam nos gânglios simpáticos inervam as estruturas viscerais do tórax, abdome, cabeça e pescoço. Os gânglios pré-vertebrais contêm os corpos celulares cujos axônios inervam as glândulas e os músculos lisos das vísceras abdominais e pélvicas. Muitas fibras simpáticas torácicas superiores oriundas dos gânglios vertebrais formam plexos terminais, como cardíaco, esofágico e pulmonar. A distribuição simpática para cabeça e pescoço é feita por meio da cadeia simpática cervical e seus três gânglios. Catecolaminas: A norepinefrina (NE, principal transmissor da maioria das fibras simpáticas pós-ganglionares e de certas vias do SNC), dopamina (DA, transmissor predominante do sistema extrapiramidal e de várias vias neuronais mesocorticolímbicas) e a adrenalina (EPI, principal hormônio da medula suprarrenal). Os receptores ɑ e β são metabotrópicos. ɑ2 e β2 de localização pré-sináptica regulam a liberação do neurotrasnmissor a paritr das terminações nervosas simpáticas. Quando localizados pós-sinápticos, esses 2 têm efeitos contráteis. Os ɑ1 e β1 encontram-se principalmente na vizinhança imediata das terminações nervosas adrenérgicas simpáticas existentes nos órgãos periféricos. ➢ Receptores ɑ ○ ɑ1: pós-sinápticos, excitatórios. Vasoconstrição, contração na aorta e nas coronárias, abundante no coração, promove crescimento e estruturação no coração. Promove abertura de canais de Ca2+. ○ ɑ2: pré-sinápticos, inibitórios. Principal inibitório nos neurônios simpáticos, vasoconstrição dos pequenos vasos pré-capilares no músculo esquelético, principal receptor a mediar a vasoconstrição, inibição de liberação de hormônios da medula suprarrenal. Inibem pela diminuição da produção de AMPc. ➢ Receptores β ○ β1 : principal receptor na produção de efeitos inotrópicos e cronotrópicos positivos no coração. ○ β2: principal receptor no relaxamento no músculo liso, hipertrofia do músculo esquelético. ○ β3: importante receptor adrenérgico a produzir efeitos metabólicos (termogênico). SISTEMA NERVOSO PARASSIMPÁTICO Consiste nas fibras pré-ganglionares que se originam no SNC e de suas conexões pós-ganglionares. Componentes parassimpáticos dos VII, VIII, IX e X nervos cranianos. O nervo vago contém fibras pré-ganglionares que fazem sinapse em gânglios que se situam diretamente sobre ou no interior das vísceras do tórax e do abdome. Na parede intestinal, as fibras vagais terminal nas células ganglionares dos plexos mioentérico e submucoso. Assim, no sistema parassimpático as fibras pré-ganglionares são muito longas, ao passo que as pós-ganglionaressão muito curtas. O nervo vago conduz tbm um maior número de fibras aferentes (mas nenhuma dor) até o bulbo. A nível sacral, os axônios têm origem em S2-S4 da medula e caminham como fibras pré-ganglionares para formar os nervos pélvicos (eretores). Constituem sinapse em gânglios terminais próximos ou no interior da bexiga, reto e órgãos sexuais. Os efluxos vagais e sacrais fornecem fibras motoras e secretórias para os órgãos torácicos, abdominais e pélvicos. Nos gânglios autônomos a via de transmissão colinérgica é similar à da junção neuromuscular. Há despolarização por ativação de receptores nicotínicos de ACh, que são canais de cátion regulados por ligantes. ➢ Receptores Nicotínicos (RAChn) Encontrados na superfície externa da membrana pós-juncional em músculos esqueléticos. São canais iônicos regulados por ligante cuja ativação sempre causa um rápido aumento da permeabilidade celular ao NA+ e ao Ca2+. Existem na junção neuromuscular esquelética, nos gânglios autônomos, na medula suprarrenal e no SNC. ➢ Receptores Muscarínicos (RAChm) São receptores acoplados a pnt G. Inibição ou estimulação das células efetoras autônomas ocorre mediante ativação de receptores de acetilcolina muscarínicos. Em contraste com o músculo esquelético e com os neurônios, o músculo liso e o sistema de condução cardíaco normalmente exibem atividade intrínseca, que é apenas modulada por impulsos nervosos. No músculo liso a ACh promove a despolarização, aumentando o influxo de Na+ e Ca2+. Entretanto, no sistema de condução cardíaco, a estimulação da inervação colinérgica causa inibição associada à hiperpolarização, pelo aumento seletivo da permeabilidade ao K+. As respostas aos agonistas muscarínicos são mais lentas e podem ser ora excitatórios ora inibitórios e não necessariamente ligadas a alterações da permeabilidade aos íons. O receptor M2 é predominante no coração e em neurônios do SNC, e tem localização predominante pré-sináptica, e o M3 é o subtipo predominante no músculo detrusor da bexiga. M1 (neural, gânglios autônomos e entéricos, estômago, córtex, hipocampo), M2 (cardíacos, nos átrios, redução da FC e força de contração, tbm agem na inibição pré-sináptica) e M3 (glandular, causam secreção, contração da musculatura vascular, músculo detrusor da bexiga). INFLAMAÇÃO A resposta inflamatória é caracterizada mecanicamente por uma vasodilatação local transitória e aumento da permeabilidade capilar, infiltração de leucócitos e células fagocíticas e degeneração tecidual e fibrose. A histamina é um dos mediadores do processo inflamatório e há antagonistas dos receptores H1. Entretanto, eles somente são úteis para o tratamento de eventos vasculares na fase transitória inicial da inflamação. Histamina (mastócitos) e serotonina (plaquetas) são mediadores vasoativos. Quando as células são ativadas por diversos estímulos, tais como produtos microbianos e vários mediadores da inflamação, o ácido araquidônico (AA) da membrana é rapidamente convertido pelas ações de enzimas para produzir as prostaglandinas e os leucotrienos. Estímulos químicos, mecânicos e físicos ou outros mediadores (C5a) liberam AA da membrana fosfolipídica através da ação de fosfolipases celulares. Os sinais bioquímicos que ativam a fosfolipase incluem o aumento no Ca2+ citoplasmático e ativação de várias cinases em resposta a estímulos externos. Os mediadores derivados do AA, tbm chamados de eicosanoides, são sintetizados por duas classes principais de enzimas: ciclo-oxigenases (que geram as protaglandinas) e lipoxigenases (que produzem os leucotrienos e lipoxinas). Os eicosanoides se ligam aos receptores acoplados a ptn G em várias células e podem mediar cada passo da inflamação. As PGs são produzidas por mastócitos, macrófagos, células endoteliais e muitos outros tipos celulares. Elas são produzidas pelas COX. COX-2 é a principal fonte de prostanoides pró-inflamatórios, mas a COX-1 também contribui. A ativação de células endoteliais leva a um direcionamento das células circulantes para locais inflamatórios. Adesão celular (reconhecimento de glicoproteínas e carboidratos em células), ativação edotelial resulta em adesão de leucócitos (reconhecimento de selectina L e P expressas no momento). Ação de citocinas como IL-1, IL-2, IL-6, IL-8 e TNF, secretadas por monócitos, macrófagos, adipócitos e outras células. Essas citocinas associadas a fatores de crescimento induzem a expressão gênica e a síntese proteica, incluindo a expressão de COX-2. ANTIINFLAMATÓRIOS NÃO-ESTEROIDAIS (AINEs) Antiinflamatórios não esteroidais -> usados no tratamento da inflamação, da dor e da febre. Os tradicionais inibem as ciclo-oxigenases (COX). ➢ Inibição da COX-2 -> ações antipiréticas, analgésicas e antiinflamatórias. Existem inibidores seletivos de COX-2. ➢ Inibição simultânea da COX-1 -> responde em grande parte pelos efeitos adversos indesejáveis sobre o trato GI. Presente em células epiteliais gástricas e produz PG citoprotetoras. As prostaglandinas E2 (PGE2) e as prostaciclinas (PGI2) são os principais prostanoides que medeiam a inflamação. Elas aumentam o fluxo sanguíneo local, a permeabilidade vascular e a infiltração de leucócitos através da ativação de seus receptores, EP2 e IP. A PGD2, um dos principais produtos dos mastócitos, contribui para a inflamação nas respostas álgicas, especialmente no pulmão. A PGD2 tbm pode ativar células Th2 e eosinófilos. PGE2 e PGI2 reduzem o limiar para estimulação de nociceptores, provocando sensibilização periférica. A reversão da sensibilização periférica representa a base mecânica para o componente periférico da atividade analgésica dos AINEs. AINEs também têm ações centrais importantes na medula espinal e no cérebro. COX-1 e COX-2 são expressas na medula espinal sob condições basais e liberação de PG em resposta aos estímulos dolorosos periféricos. A PGE2 centralmente ativa contribui para a sensibilização central, um aumento na excitabilidade dos neurônios do corno dorsal espinal que provoca hiperalgesia e alodinia, em parte por desinibição das vias glicinérgicas. COX-1 é responsável pela produção de prostaglandinas que estão envolvidas em ambas as funções, inflamatória e homeostática (ex: balanço de fluido e eletrólitos nos rins, citoproteção no trato GI), enquanto a COX-2 gera prostaglandinas que estão envolvidas somente nas reações inflamatórias. Os AINEs são divididos entre os que inibem tanto COX-1 quanto COX-2, e AINEs seletivos para COX-2. Outra classificação leva em conta a meia-vida, tais como aqueles com meia-vida curta (<6h) ou mais longas (>10h). O paracetamol, que é antipirético e analgésico, mas desprovido de atividade anti-inflamatória, é convencionalmente segregado do grupo, apesar de compartilhar muitas propriedades com AINEs relevantes para a sua ação clínica. O AAS tbm não é antiinflamatório. Exemplos: ibuprofeno, diclofenaco, nimesulida, fenilbutazona. AINEts: diclofenaco, meloxican (tbm considerado seletivo de COX-2 em alguns países) e nimesulida. Com o exemplo do meloxican, pode-se entender que a seletividade não é uma categoria absoluta. Podem ser classificados como enzimáticos (parenzyme) e não enzimáticos (aspirina), como predominantemente analgésicos com pouca ou nenhuma açãoantiinflamatória (dipirona, paracetamol) ou como moderados antiinflamatórios (ácido mefenâmico, diclofenaco, celecoxib, rofecoxib, parecoxib), como potentes analgésicos e antiinflamatórios (indometacina, butazona) ou como ácidos (salicilatos, derivados do ácido antranílico, do ácido enólico, do ácido acético, do ácido propiônico e do ácido indolacético) e como não ácidos (paracetamol, fenazona, dipirona) ou como inibidores seletivos de COX-2 (nimesulida, meloxicam) ou específicos da COX-2 (celecoxib, rofecoxib, parecoxib, valdecoxib) ou não seletivos (derivados do ácido antranílico, de ácido enólico, de ácido acético, de ácido propiônico e do ácido indolacético). Mecanismo de ação Inibe a produção de PG. O AAS e os AINEs inibem as enzimas COX e a produção de PG. Os AINEs inibem de modo competitivo os locais ativos das enzimas COX, de forma reversível. O ácido acetilsalicílico, entretanto, acetila as enzimas de forma irreversível. O AAS em plaquetas tem ação mais duradoura, pois são anucleadas e tem capacidade limitada de síntese proteica. Assim, uma inibição irreversível (em COX-1) impede a formação de tromboxano e, consequentemente, formação de trombo. O AAS modifica de maneira covalente a COX-1 e a COX-2, inibindo de modo irreversível sua atividade. Os AINEts (tradicionais) atingem o sistema GI. Assim, foram criados 6 inibidores seletivos de COX-2, os coxibes (hoje fora do mercado). Indicações Paracetamol, que é um AINE muito fraco, está associado a efeitos adversos gastrointestinais reduzidos, se comparados aos AINEts (tradicionais). Inibe ambas as COX em 50%. ● Inflamação -> Os AINEs têm sua principal aplicação clínica como agentes antiinflamatórios no tratamento de distúrbios músculos esqueléticos, como artrite reumatoide e osteoartrose. Alívio sintomático de dor e inflamação. Doenças mais incapacitantes não respondem de maneira adequada a AINEs. ● Dor -> eficazes apenas contra dores de baixa a moderada intensidade, como a dor de dentes e cólica renal. Embora a eficácia seja muito menor que a dos opioides, não há efeitos adversos dos opiáceos sobre o SNC, incluindo depressão respiratória e potencial desenvolvimento de dependência física. Dor pós-operatória crônica é bem controlada pelos AINEs, ao passo que a que surge de uma víscera oca em geral não é aliviada (?). Uma exceção é a dor menstrual. São comumente utilizados para tratar enxaquecas. AINEs não possuem eficácia na dor neuropática. ● Febre -> para os paciente que a febre em si é prejudicial e para aqueles que apresentam alívio considerável quando a febre é reduzida. Reduzem a febre na maioria das situações. Contraindicações Recentemente, resultados de grandes estudos clínicos suscitaram a preocupação que os inibidores seletivos de COX-2 podem aumentar o risco de eventos cardiovasculares e cerebrovasculares. Os inibidores de COX-2 prejudicam a produção pela célula endotelial de prostaciclina, um vasodilatador e inibidor da agregação plaquetária, embora deixe intacta a produção de tromboxano pela COX-1 das plaquetas, levando a trombos. A explicação para isso é que a supressão genética ou inibição de COX-2 acelera a resposta aos estímulos trombóticos e eleva a PA, já que as PGs formadas por COX-2 contribuem para a homeostase da PA. ANTIEMÉTICOS Vômito e náusea são reflexos protetores que ajudam a livrar o estômago e o intestino das substância tóxicas e impedir sua ingestão subsequente. O processo parece ser coordenado por um centro do vômito localizado na formação reticular lateral do mesencéfalo-tronco cerebral, próximo da zona de gatilho dos quimiorreceptores (ZQD) na região postrema (RP), abaixo do quarto ventrículo e do núcleo do trato solitário (NTS). A inexistência de barreira hematoencefálica permite que a ZDQ monitore constantemente o sangue e o líquido cerebroespinal para detectar substâncias tóxicas e retransmitir informações ao centro do vômito, que provoca náuseas e vômitos. O centro do vômito também recebe informações geradas no intestino, principalmente pelo nervo vago (via NTS), mas tbm pelos nervos aferentes esplâncnicos via medula espinal. O centro tbm recebe estímulo do córtex cerebral e do aparelho vestibular. O centro então envia eferentes aos núcleos responsáveis pelas atividades respiratórias, salivares e vasomotoras, bem como aos músculos lisos e estriados envolvidos na ação do vômito. A ZDQ apresenta grandes quantidades de receptores para serotonina (5-HT3), dopamina (D2) e opioides, enquanto o NTS é rico em receptores para encefalina, histamina e ACh e também contém receptores 5-HT3. Em geral, os antieméticos são classificados de acordo com os receptores predominantes nos quais provavelmente atuam. Podem atuar sobre receptores de dopamina (D2, ação central), de acetilcolina (muscarínicos), de histamina (H1), de neurocinina, de canabinoides e de serotonina (5-HT3). ➔ Antagonistas do receptor 5-HT3 Ondansetrona. Os antagonistas passaram a ser os fármacos utilizados mais amplamente contra vômitos causados por quimioterapia. Outros fármacos desse grupo são a grassinetrona, a dolassetrona, a palonossetrona e a tropissetrona. Os receptores 5-HT3 estão presentes em várias estruturas críticas envolvidas nos vômitos, incluindo os aferentes vagais, NTS e a própria área póstrema. Esses são mais eficazes para o tratamento de náuseas induzidas pela quimioterapia e das náuseas secundárias à irradiação do abdome superior, indicações nas quais os três são igualmente eficazes. Tbm são eficazes no tratamento de hiperêmese gestacional e, em menor grau, no controle das náuseas pós-operatórias, mas são ineficazes na cinetose. Efeitos Adversos -> são muito bem tolerados e os efeitos mais comuns são constipação e diarreia, cefaleia e tontura. ➔ Antagonistas dos receptores da dopamina As fenotiazinas estão entre os agentes antinauseantes e antieméticos de “indicação geral”, mais comuns. Mecanismo de ação principal é o antagonismo aos receptores dopaminérgicos D2 na ZDQ. Em comparação aos antagonistas da serotonina, as fenotiazinas não parecem ser consistentemente eficazes nos vômitos induzidos por quimioterapia, mas tbm exercem atividades anti-histamínicas e anticolinérgicas, úteis em náuseas como a da cinetose. ➔ Anti-histamínicos Antagonistas dos receptores H1, para cinetose e vômitos pós-operatórios, atuando nos nervos aferentes vestibulares e no tronco. Ciclizina, hidroxizina, prometazina e difenidramina sao alguns exemplos. ➔ Anticolinérgicos Antagonista dos receptores muscarínicos, mais comum é a escopolamina (hioscina). Indicações principais são a profilaxia e o tratamento da cinetose, e alguma atividade nas náuseas e nos vômitos pós-operatórios. Não são indicados para sintomas causados por quimioterapia. ➔ Canabinoides Mecanismo antiemético do dronabinol é desconhecido, mas provavelmente está relacionado a estimulação dos receptores canabinoides nos neurônios e ao redor do centro do vômito do tronco cerebral. Útil como profilaxia para paciente que estão fazendo quimioterapia, quando os outros antieméticos são ineficazes. Efeitos Adversos -> O dronabiol exerce efeitos complexos no SNC, incluindo hiperatividade simpaticomimética central, que pode causarpalpitações, taquicardia, vasodilatação, hipotensão e congestão conjuntival. Pode produzir efeitos semelhantes aos produzidos pela maconha, como euforia, sonolência, desinteresse, tontura, ansiedade, nervosismo, pânico, reações paranoides e distúrbios do raciocínio. Pode haver síndrome de abstinência evidenciada por irritabilidade, insônia e agitação. ANTIESPASMÓDICOS Espasmolíticos ou anticolinérgicos. Os fármacos mais comuns são os antagonistas inespecíficos dos receptores muscarínicos, que incluem a atropina, a diciclomina, a hiosciamina, o glicopirrolato e a metescopolamina. A vantagem dos dois últimos é que eles pouco atravessam a barreira hematoencefálica e portanto causam riscos menores de efeitos adversos neurológicos como tontura, sonolência e nervosismo. Em geral, esses fármacos são utilizados quando há necessidade. Atropina Bloqueador potente central e periférico, agindo em todos os receptores M. Indicado como antiespasmódico (no trato GI), broncodilatador, midriático, anti-secretório do trato respiratório e antiarrítmico. Contraindicação: glaucoma, uropatia obstrutiva, doença obstrutiva do trato GI, íleo paralítico, estado cardiovascular instável em hemorragia aguda, hiperplasia de próstata. Efeitos Adversos: secura da boca, cicloplegia, sede exagerada, dificuldade em urinar, rubor facial, confusão, inquietação, alucinações e delírio. Propantelina Antagonista muscarínico utilizado como antiespasmódico na rinite, na incontinência urinária e no tratamento da úlcera gástrica e duodenal. Dicicloverina ou Diciclomina Antiespasmódico que reduz a contratura da musculatura lisa do tubo digestivo e do trato urinário. Indicado para cólicas intestinais, cólon irritável ou espasmódico, colopatias funcionais agudas ou crônicas e incontinência urinária. Glicopirrolato Antagonista muscarínico usado em alguns distúrbios do trato GI e para reduzir a salivação decorrente da utilização de alguns anestésicos. 4 - Discutir a indicação da hidratação no caso do paciente. A maioria dos pacientes podem ser manejados conservadoramente com analgesia durante o episódio agudo. Tratamento inicial da cólica renal é realizado com analgésico potente opiáceo ou AINE. Hidratação forçada na cólica renal aguda não é indicada. REFERÊNCIAS Patologia, Bases Patológicas das Doenças - Robbins, 8ª Ed As Bases Farmacológicas da Terapêutica - Goodman e Gilman, 12ª Ed Abdômen Agudo - Paulo Roberto Savassi Rocha, 2ª Ed Protocolo - Litíase Renal, UFRGS 2016 301 - PROBLEMA 4 1 - Discutir as causas e fatores de risco para lombalgia. Pode ter várias causas e modificada por transtornos psicossociais. Cerca de 50% a 90% dos indivíduos adultos apresentam lombalgia em algum momento de suas vidas. Em países industrializados, a lombalgia é a principal causa de incapacidade em indivíduos com menos de 45 anos. A incidência parece ser igual nos homens e nas mulheres, sendo que as mulheres queixam mais de dor lombar após 60 anos de idade (pode ter relação com oteoporose). Lombalgia aguda é uma condição auto-limitada; 90% dos doentes recuperam-se espontaneamente em 4 a 7 semanas. Há tendência de recorrência dos sintomas dolorosos. Mais de 50% dos doentes com episódio agudo pode apresentar novo episódio no período de um ano. 40% a 44% dos doentes apresenta cronificação da dor. 1 a 3% dos doentes requer tratamento cirúrgico. Cerca de 50% dos doentes com ciática devido a hérnia discal apresenta recuperação espontânea em 6 semanas. Persistência da dor pode ser decorrente de anormalidades vasculares e da neuromodulação central da dor e de fatores psicossociais. As estruturas que podem provocar a lombalgia incluem: os ligamentos da coluna, as raízes nervosas e suas meninges, as facetas articulares, o anel fibroso, as articulações facetárias e os músculos profundos. Podem estar presentes alterações estruturais como: vértebra de transição, espinha bífida, escoliose, hiperlordose lombar, retificação da curvatura lombar, espondilólise, espondilolistese, gravidez, postura inadequada, hérnia discal, etc. Normalmente a dor lombar é causada por tensão muscular. Os músculos responsáveis pelos movimentos da coluna lombar podem ser estirados excessivamente ou até mesmo lesados. A maioria das lombalgias é causada por um estiramento excessivo e prolongado dos ligamentos e outros tecidos moles que envolvem as articulações, devido a maus hábitos posturais. O estiramento ligamentar pode afetar os discos intervertebrais que perdem sua capacidade de absorção de choque, enfraquecendo sua parede externa, o que pode propiciar ao surgimento de uma protusão discal. Fatores de risco: Fatores constitucionais, individuais, posturais e ocupacionais, exercem influência na ocorrência das lombalgias. Dentre os ocupacionais, destacam-se as sobrecargas na coluna lombar gerada pelo levantamento de peso, deslocar objetos pesados, permanecer sentado prolongadamente, expor-se a estímulos vibratórios prolongadamente, isoladamente ou combinadamente. Fatores individuais como ganho de peso, a obesidade, a altura, a má postura, a fraqueza dos músculos abdominais e espinais e a falta de condicionamento físico são fatores de risco para a doença. ➔ Lombalgia de etiologia mecânica ➔ Estenose do canal raquidiano: A estenose do canal vertebral lombar pode manifestar-se como uma simples lombalgia ou como ciatalgia semelhante à causada pelas hérnias discais, distingue-se desta pela história de claudicação neurogênica intermitente, condição em que a dor é desencadeada ou intensificada progressivamente com a marcha o que obriga o doente a parar e sentar-se intermitentemente durante 10 a 20 minutos. A extensão da coluna lombar aumenta os sintomas. Difere da claudicação de origem vascular periférica por apresentar mais dor na raiz da coxa e por ser acompanhada de parestesias na perna e pé, associadas à sensação de fraqueza e não ceder simplesmente com a posição ortostática, o doente necessita permanecer agachado ou sentado. ➔ Anomalias da transição lombossacral: vértebra pode apresentar formato anormal. A maioria dos doentes com diagnóstico de anomalia da transição lombossacral apresenta ao exame físico, pontos-gatilho nos músculos quadrado lombar, glúteo médio, glúteo mínimo e piriforme segundo vivência dos autores. ➔ Espina Bífida: falta de união dos dois hemiarcos posteriores, ocorre em 5% a 10% da população. ➔ Espondilolistese: deslizamento anterior do corpo vertebral em relação à vértebra imediatamente inferior. Pode ser congênita, traumática, degenerativa etc. Sintomas dolorosos são localizados na região lombar e às vezes nas nádegas e na face posterior da coxa, zonas habituais de dor referida de origem lombar. A dor é do tipo mecânica que se inicia ou se exacerba com a atividade e melhora com o repouso. ➔ Protrusão e hérnia discal: pode haver compressão de raiz nervosa. O quadro clínico consiste de dor lombar e lombociatalgia. Há grau variado da intensidade da dor, escoliose antálgica, déficit motor, alteração da sensibilidade, dificuldade para flexão do tronco, positividade do teste de elevação da perna estendida (Lasègue) e hiperreflexia ou arreflexia miotática. ➔ Lombalgia degenerativa: quase sempre é acompanhadade comprometimento discal e interapofiário, dor na região lombar de instalação súbita ou insidiosa que bloqueia os movimentos, determinando atitude de rigidez da coluna lombar. ➔ Síndrome dolorosa miofascial: acredita-se que a síndrome dolorosa miofascial seja manifestação de sensibilização espinal que acomete o miótomo do segmento envolvido e não uma entidade nosológica isolada.O diagnóstico é realizado pela história e pela presença de pontos-gatilho nos músculos comprometidos. ➔ Lombalgia em gestantes: o aumento de peso corpóreo materno ou fetal não parece ser fator de risco. O comprometimento da articulação sacroilíaca durante a gestação parece ser decorrente da produção de hormônios que ocasionam frouxidão articular, inflamação, dor e desconforto. A dor noturna, que, geralmente, manifesta-se cerca de 2 a 3 horas após o deitar pode estar relacionada à estase sangüínea no plexo venoso vertebral ou à compressão da veia cava pelo feto. Mudança no centro de gravidade e alteração na força aplicada em cada grupo muscular. ➔ Lombalgia em atletas: sobrecarga da lombar. ➔ Outras causas: afeccções infecciosas, tumorais, viscerais e traumáticas podem causar lombalgia. Dor lombar é dividida em: lombalgia inflamatória, mecânica ou lombociatalgia. 2 - Classificar a dor aguda e a dor crônica da paciente. ➔ Lombalgia aguda: início súbito e duração inferior a 6 semanas. ➔ Lombalgia subaguda: duração de 6 a 12 semanas ➔ Lombalgia crônica: duração superior a 12 semanas. ➔ Lombalgia recorrente: reaparece após períodos de acalmia. ➔ Lombalgias inespecíficas: causa anatômica ou neurofisiológica não é identificável. ➔ Lombalgias específicas: resultantes de hérnia discal, espondilolistese, estenose do canal raquidiano, instabilidade definida (mais de 4 a 5 mm do estudo radiológico dinâmico de flexão e extensão), fraturas vertebrais, tumores, infecções e doenças inflamatórias da coluna lombar. Em menos de 15% dos indivíduos a lombalgia é tipo específica. Outra classificação: ➔ Mecânico-degenerativas; ➔ Não mecânicas localizadas: inflamatórias, infecciosas (espondilodiscites infecciosas) e metabólicas (osteoporose, osteomalácia); ➔ Psicossomáticas; ➔ Como repercussão de doenças sistêmicas. A história dos sintomas, tipo e a localização da dor, a sua irradiação, os fatores predisponentes e desencadeantes e os fatores de piora ou de melhora devem ser investigados. Lombalgia tbm pode ser causada por doenças de outros órgãos e sistemas. Hábitos como tabagismo, posição de dormir, o tipo do colchão e de travesseiro, as principais posições assumidas durante o trabalho, estudo, lazer e atividades esportivas, e satisfação pessoal e no trabalho são elementos importantes para elucidação diagnóstica e para prevenir a perpetuação do quadro doloroso após o tratamento. Tanto na lombalgia como na lombociatalgia a dor tem localização lombar ou sacrolombar, quase sempre bilateral, porém predominando em um dos lados. A intensidade da dor é variável, desde a sensação de desconforto até a dor lancinante. A dor pode ser aguda, desencadeada por um esforço físico (p. ex., levantar um peso) ou surgir gradativamente. É comum a presença de rigidez matinal, que melhora com a movimentação. Mudanças de posição, o ato de sentar, deambulação, tosse, espirros e pequenos esforços provocam dor. Durante o exame físico observam-se limitação da mobilidade da coluna, dor à palpação da região lombar, podendo haver uma área extremamente sensível. A compressão da região lombar pode despertar dor pelo trajeto do nervo ciático. Isso denomina-se sinal da campainha (Putti). As lombalgias são ocasionadas por processos inflamatórios ou degradativos, por alterações da mecânica da coluna vertebral (posturas defeituosas, escoliose), por malformações e por sobrecarga da musculatura lombar. Dor intensa e início súbito lancinante, descrita como queimação, choque ou latejamento, que se inicia na coluna lombar e irradia-se para o membro inferior, atingindo a extremidade distal e que piora com a tosse e o espirro, geralmente é de origem neurológica . A dor de origem mecânica localiza-se na coluna lombar e pode irradiar-se para os membros inferiores acompanhando ou não a distribuição nervosa; geralmente é agravada pelos movimentos da coluna lombar. A dor de origem vascular apresenta características próprias. Apresenta-se como claudicação intermitente sendo geralmente acompanhada por anormalidades na temperatura e na coloração do tegumento e alterações tróficas. Queixas de parestesias, alterações de sensibilidade, motricidade, neurovegetativas cutâneas e esfincterianas também podem auxiliar na identificação do diagnóstico etiológico. 3 - Descrever os mecanismos de cronificação da dor. A lesão tecidual ou a inflamação podem gerar estímulos nociceptivos contínuos que alcançam a medula espinal, onde ativa os neurônios do corno posterior da medula espinal gerando períodos prolongados de atividade espontânea que persistem mesmo quando os estímulos nociceptivos cessam. Devido à sensibilização neuronal central ou espinal segmentar. Esta caracteriza-se pela redução do seu limiar de geração de atividade gerando alodínea e hiperalgesia, e expansão dos campos receptivos, podem ser evidenciadas no exame clínico. Isto significa que os doentes podem manter a sensação dolorosa prolongadamente, mesmo após a resolução da causa primária da dor. A experiência dolorosa pode ser desproporcional à lesão tecidual. Ativação continuada dos aferentes nociceptivos leva ao aparecimento de hiperexcitabilidade espinhal (hipersensibilidade), com facilitação da ativação do sistema espinotalâmico. Esse fenômeno se contrapõe à modulação inibitória, e parece contribuir de forma decisiva, não só para aumentar e prolongar a dor, como também para a sua consolidação, centralização e cronificação. A transmissão de glutamato se dá pelos receptores AMPA (Na+), NMDA (Ca2+) e o metabotrópico. Em condições normais o glutamato se liga ao AMPA e devido a sua meia vida curta, produz apenas rápidos potenciais Na-dependentes, responsáveis pela ativação do neurônio nociceptivo espinhal. O cálcio pouco participa desse processo pois o canal de cálcio-NMDA dependente está nromalmente bloqueado por magnésio. Em ativação repetitiva ou prolongada dos nociceptores a liberação repetitiva de SP e glutamato pelas terminações aferentes espinhais acarreta despolarização prolongada da membrana dos neurônios espinhais. Essa prévia despolarização da membrana desloca os Mg2+ do canal de cálcio para o interior do neurônio. Isso leva a um aumento da concentração intracelular do cálcio, com grande alteração na função do neurônio pós-sináptico. O aumento do Ca2+ intracelular, por exemplo, ativa proteino-cinases rsponsáveis pela fosforilação e ativação dos canais iônicos AMPA e NMDA prolongando sua ativaão e aumentnado as correntes iônicas. Ativa tbm a NO-sintase e a produção de NO que estimula a liberação de gutamato, aumentando em intensidade e duração a ativação da sinapse, gerando longas e sustentadas despolarizaçoes (LDP) que acarretam disparo repetitivo dos neurônios nociceptivos espinhais (Wind up). O Ca2+ intracelular estimula a transcrição de proto-oncogenes
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