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TUTORIA: SP1.1 – TÁ QUENTE... 1- CONCEITUAR DOR E SEUS TIPOS. DOR: A dor é um mecanismo protetor. A dor ocorre sempre que qualquer tecido é lesionado, fazendo com que o indivíduo reaja para remover o estímulo doloroso. Nesse sentido, dor é a sensação ou a percepções de sensações tão diversas como irritação, inflamação, fisgada, ardência, latejo ou sensações insuportáveis que surge de uma parte do corpo. Ela pode ser classificada em dois tipos principais: DOR RÁPIDA (aguda): é sentida dentro de 0,1 segundo após a aplicação de um estímulo doloroso como um choque elétrico, uma agulhada, queimada, corte. Essa dor não é sentida nos tecidos mais profundos do corpo. DOR LENTA (crônica): Começa após 1 segundo ou mais após o estímulo doloroso, aumentando lentamente durante vários segundos, e algumas vezes durante segundos. Está geralmente associada a destruição tecidual, podendo levar a um sofrimento prolongado e insuportável, e pode ocorrer na pele e em quase todos os órgãos ou tecidos profundos. DOR NOCICEPTIVA: É causada pela ação dos nociceptores, que são terminações nervosas livres, ramificadas, não-mielinizadas que sinalizam quando o tecido corporal está sendo lesado ou em risco de sofrer uma lesão, responsável por gerar a sensação de dor. Ou seja, as membranas dos nociceptores possuem canais iônicos que são ativados por esses tipos de estímulos. DOR SOMÁTICA: Constante, muito bem localizada, que se exacerba com movimentos e alivia com o repouso. DOR VISCERAL: É Provocada por distensão de víscera oca, mal localizada, profunda, opressiva, constritiva. Frequentemente associa-se a sensações de náuseas, vômitos e sudorese. Muitas vezes há dores locais referidas, como por exemplo, em ombro ou mandíbula relacionadas ao coração, em escápula referente a vesícula biliar, e em dorso, referente ao pâncreas. Ex.: câncer de pâncreas, obstrução intestinal, metástase intraperitoneal etc. DOR NÃO NOCICEPTIVA - NEUROPÁTICA: É fruto da lesão ou disfunção do Sistema Nervoso Central (SNC) ou Sistema Nervoso Periférico (SNP). Em geral, persistem por longo tempo após o evento precipitante. A dor neuropática pode ser episódica, temporária ou crônica, persistente, podendo inclusive não estar associada a qualquer lesão detectável. Esta dor também pode ser consequência de algumas doenças degenerativas que levam a compressão ou a lesões das raízes nervosas, ao nível da coluna. Os pacientes descrevem a dor neuropática como "ardente ou penetrante", podendo haver a presença de alodínia (estímulos inofensivos em situações normais, mas que nesta situação são percebidos pelo organismo como extremamente dolorosos, muitas vezes o simples "roçar" de um tecido sobre a pele desencadeia dor intensa imediata). Os pacientes queixam-se de dores recorrentes. A dor neuropática manifesta-se de várias formas, como sensação de queimação, peso, agulhadas, ferroadas ou choques, podendo ou não ser acompanhada de "formigamento" ou "adormecimento" (sensações chamadas de "parestesias") de uma determinada parte do corpo. São exemplos a neuralgia do nervo trigêmeo, a neuralgia pós-herpética e a neuropatia periférica, dentre outras. DOR NÃO NOCICEPTIVA – NEUROPÁTICA - CENTRAL: É fruto da lesão ou disfunção do Sistema Nervoso Central (SNC). Trata-se de uma subdivisão da dor neuropática, que pode decorrer de algum tipo de dano ao sistema somatossensorial em qualquer ponto ao longo de seu percurso. São exemplos as dores precipitadas por lesões centrais (dor talâmica, AVC, secundárias a metástases ou a tumores cerebrais etc.). DOR NÃO NOCICEPTIVA – NEUROPÁTICA – PERIFÉRICA: É fruto da lesão ou disfunção do Sistema Nervoso Periférico (SNP). Trata-se de uma subdivisão da dor neuropática, que pode decorrer de algum tipo de dano ao sistema somatossensorial em qualquer ponto ao longo de seu percurso. São exemplos as dores precipitadas por lesões periféricas: dor fantasma, neuropatia diabética, neuropatia pós- quimioterapia e radioterapia. DOR NÃO NOCICEPTIVA – PSICOGÊNICA: É quando nenhum mecanismo nociceptivo ou neuropático pode ser identificado e há sintomas psicológicos suficientes para o estabelecimento de critérios psiquiátricos estabelecidos na classificação DSM-IV. Na prática, a dor psicogênica é diagnóstico de exclusão e de ocorrência muito rara. Muitos autores consideram-na virtual, uma vez que mesmo patologias puramente psiquiátricas são manifestações de alterações orgânicas e identificáveis, mesmo que somente bioquimicamente. 2- ENTENDER OS MECANISMOS NEUROFISIOLÓGICOS DA DOR (RECEPTORES, VIAS SENSITIVAS, NEUROTRANSMISSORES, LIMIAR E MODULAÇÃO). Os nociceptores são ativados por estímulos que tem o potencial para causar lesão nos tecidos. Danos aos tecidos podem resultar de estimulação mecânica, temperaturas extremas, privação de oxigênio e exposição a certos agentes químicos, entre outras causas. As membranas dos nociceptores contém canais iônicos que são ativados por esses tipos de estímulos. O simples estiramento ou dobramento da membrana do nociceptor ativa os canais iônicos mecanossensíveis, que levam à: - Despolarização da célula - Disparo de potenciais de ação. Além disso, as células danificadas no local podem liberar uma série de substâncias que provocam a abertura dos canais iônicos nas membranas dos nociceptores. - Proteases: podem clivar um peptídeo extracelular, chamado cininogênio, formando o peptídeo bradicinina. - Bradicinina: liga-se a uma molécula receptora específica, que aumenta a condutância iônica de alguns nociceptores. - ATP: causa a despolarização dos nociceptores por meio da ligação direta a canais iônicos que dependem do ATP para a sua ativação. - Potássio K+: o seu aumento extracelular causa a despolarização direta nas membranas neuronais. - Hidrogênio H+: o seu excesso no fluido extracelular ativa canais dependentes de H+ nos nociceptores, sendo responsável pela dor (exercícios intensos que geram a produção de ácido lático como produto da respiração anaeróbica). - Histamina: pode se ligar a receptores de superfície específicos no nociceptor, causando a despolarização da membrana. Também aumenta a permeabilidades dos capilares sanguíneos favorecendo os sinais da inflamação. - Prostaglandinas: são substâncias produzidas pela clivagem enzimática dos lipídeos da membrana celular. Elas aumentam muito a sensibilidade dos nociceptores a outros estímulos. - Substância P: é um peptídeo sintetizado pelos próprios nociceptores. A ativação de uma ramificação do neurito periférico do nociceptor pode levar à secreção de substância P por outras ramificações do neurito do mesmo nociceptor nas áreas vizinhas da pele. Causa vasodilatação e a liberação de histamina dos mastócitos. Experimentos recentes demonstraram que a transmissão sináptica mediada pela substância P é necessária para a sensação de dor moderada e intensa. HIPERALGESIA: pode ser um limiar reduzido à dor, uma intensidade aumentada dos estímulos dolorosos ou dor espontânea. HIPERALGESIA PRIMÁRIA: ocorre na área do tecido lesado, causado pela ativação das fibras A. HIPERALGESIA SECUNDÁRIA: envolve a região da lesão. A sensibilização de outros nociceptores pela substância P em torno do local da lesão é uma das causas da hiperalgesia secundária. É gerado pela ativação das fibras C. A transdução dos estímulos dolorosos ocorre nas terminações nervosas livres das fibras: - Não-mielinizadas C - Pobremente mielinizadas A Nociceptores que respondem a estímulos mecânicos, térmicos e químicos são polimodais. Nociceptores que respondem a apenas um único estímulo, são nociceptores seletivos. Os nociceptores estão presentes na maioria dos tecidos do corpo, e notadamenteausentes no sistema nervos (exceto meninges). Assim como as fibras mecanossensoriais Aβ, as fibras de pequeno calibre possuem seus corpos celulares nos gânglios da raiz dorsal segmentar e entram no corno dorsal da medula espinhal. Ao penetrarem na medula, as fibras logo ramificam-se e percorrem uma curta distância nos sentidos rostral e caudal na medula, em uma região chamada de tracto de Lissauer, fazendo, depois, sinapse com neurônios da parte mais periférica do corno dorsal, em uma região conhecida como substância gelatinosa. O neurotransmissor dos aferentes nociceptivos é o glutamato; contudo, esses neurônios também contém o peptídeo substância P. A substância P fica estocada em grânulos de secreção nas terminações axonais e pode ser liberada por salvas de potenciais de ação de alta frequência. Interessante observar que os axônios de nociceptores viscerais entram na medula espinhal pelo mesmo trajeto que os de nociceptores cutâneos. Na medula espinhal, ocorre uma mistura substancial de informação dessas duas fontes de aferências. Essa linha cruzada origina o fenômeno da dor referida, pelo qual a ativação do nociceptor visceral é percebida como uma sensação cutânea. VIAS ASCENDENTES DA DOR VIA DO TATO: possui estruturas especializadas nas terminações nervosas na pele. É uma via rápida por constituir-se de fibras A mielinizadas. VIA DA DOR: são terminações nervosas livres. É uma via lenta e utiliza fibras de pequeno calibre A pobremente mielinizadas, e fibras C não-mielinizadas. Os ramos dos axônios A terminam no corno dorsal profundo; as fibras A e C ramificam-se, seguem pelo tracto de Lissauer e terminam na substância gelatinosa. VIA DA DOR NEOESPINOTALÂMICA PARA DOR RÁPIDA (Fisiologia do Guyton) As fibras dolorosas A do tipo rápido transmitem a dores mecânicas e térmicas agudas. Elas terminam principalmente na lâmina 1 (lâmina marginal) dos cornos dorsais e excitam os neurônios de segunda ordem do trato neoespinotalâmico. Estes neurônios dão origem a fibras longas que cruzam imediatamente para o lado oposto da medula espinhal através da comissura anterior e depois ascendem para o encéfalo nas colunas anterolaterais. Algumas fibras do trato neoespinotalâmico terminam nas áreas reticulares do tronco cerebral, mas a maioria segue até o tálamo sem interrupção, terminando no complexo ventrobasal juntamente com o trato da coluna dorsal lemnisco-medial para sensações táteis. Algumas fibras também terminam no grupo nuclear posterior do tálamo. Destas áreas talâmicas, os sinais são transmitidos para outras áreas basais do encéfalo, bem como para o córtex somatossensorial. (NEUROCIÊNCIAS, Bear) A informação sobre a dor corporal é conduzida da medula espinhal ao encéfalo pela via espinotalâmica. Diferentemente da via coluna dorsal-lemnisco medial, os axônios dos neurônios secundários decussam no mesmo nível da medula espinhal em que ocorreu a sinapse e ascendem pelo tracto espinotalâmico ao longo da superfície ventral da medula. De acordo com os nomes, as fibras espinotalâmicas projetam-se da medula espinhal, passando pelo bulbo, pela ponte e pelo mesencéfalo, sem fazer sinapse, até́ alcançar o tálamo. À medida que os axônios espinotalâmicos percorrem o tronco encefálico, eles posicionam-se ao longo do lemnisco medial, mas permanecem como um grupo axonal distinto da via mecanossensorial. Observe que a informação sobre o tato ascende ipsilateralmente, ao passo que as informações nociceptivas (e térmicas) ascendem contralateralmente. Essa organização pode levar a um curioso, ainda que previsível, tipo de déficit em situações de danos ao sistema nervoso. Por exemplo, se um lado da medula espinhal sofrer lesão, certos déficits de mecanossensibilidade ocorrem no mesmo lado da lesão espinhal. Por outro lado, déficits de sensibilidade à dor e à temperatura ocorrerão no lado do corpo oposto ao da lesão medular. Acredita-se que o glutamato seja a substância neurotransmissora secretada nas terminações nervosas para a dor do tipo A na medula espinhal. Esse é um dos transmissores excitatórios mais amplamente utilizados pelo sistema nervoso central, em geral com uma duração de ação de somente alguns milissegundos. VIA PALEOESPINOTALÂMICA PARA A TRANSMISSÃO DA DOR CRÔNICA LENTA Esta via é um sistema muito mais antigo e transmite a dor principalmente oriundas das fibras periféricas crônicas lentas do tipo C, apesar de transmitir alguns sinais das fibras do tipo A também. Nesta via, as fibras periféricas terminam na medula espinhal quase inteiramente nas lâminas I e II dos cornos dorsais, que em conjunto são denominados substância gelatinosa. Em seguida, a maior parte dos sinais passa através de um ou mias neurônios de fibra curta dentro dos cornos dorsais propriamente ditos antes de entrar principalmente na lâmina V., também no corno dorsal. Aqui, os últimos neurônios da série dão origem a axônios longos que se unem principalmente às fibras da via de dor rápida, passando primeiro através da comissura anterior para o lado oposto da medula, depois para cima, na direção do encéfalo, pela via anterolateral. Esta via termina amplamente no tronco cerebral. Somente entre um décimo e um quarto das fibras passa até o tálamo. A maioria das fibras termina em uma dentre 3 áreas: (1) Nos núcleos reticulares da medula oblonga, ponte e mesencéfalo; (2) Na área tectal do mesencéfalo, profundamente, até os colículos superior e inferior; (3) Na região cinzenta periaquedutal, que circunda o aqueduto de Sylvius. Experiências sugerem que os terminais de fibras para a dor do tipo C que entram na medula espinham secretam tanto o neurotransmissor glutamato como a substância P. O glutamato atua instantaneamente e persiste por apenas alguns milissegundos. A substância P é liberada muito mais lentamente, tendo sua concentração aumentada em um período de segundos ou mesmo minutos. A VIA DA DOR TRIGEMINAL A informação da dor (e da temperatura) da face e do terço anterior da cabeça segue por uma via ao tálamo, análoga à via espinhal. As fibras de pequeno diâmetro do nervo trigêmeo fazem a primeira sinapse com os neurônios sensoriais secundários no núcleo espinhal do trigêmeo no tronco encefálico. Os axônios desses neurônios decussam e ascendem ao tálamo pelo lemnisco trigeminal. Além das vias espinotalâmica e trigeminotalâmica, outras vias relacionadas à dor (e à temperatura) enviam axônios para uma variedade de estruturas, em todos os níveis do tronco encefálico, antes de alcançarem o tálamo. Algumas dessas vias são especialmente importantes para fornecer sensações de dor lenta, de queimação e agonizante, ao passo que outras desencadeiam um estado geral de comportamento de alerta. O TÁLAMO E O CÓRTEX O tracto espinotalâmico e os axônios do lemnisco trigeminal fazem sinapse em uma região mais extensa do tálamo do que os axônios do lemnisco medial. Alguns dos axônios terminam no núcleo VP (ventral posterior), tal qual fazem os axônios do lemnisco medial, porém as vias do tato e da dor ainda permanecem segregadas, ocupando regiões separadas do núcleo. Outros axônios espinotalâmicos terminam nos pequenos núcleos intralaminares do tálamo. A partir do tálamo, as informações sobre dor e temperatura projetam-se para várias áreas do córtex cerebral. Assim como fazem no tálamo, essas vias cobrem um território muito mais extenso do que as conexões corticais da via coluna dorsal-lemnisco medial. MODULAÇÃO DA DOR MECANISMOS: A percepção da dor decorre da interação entre mecanismos pró- nociceptivos e antinociceptivos. Esses mecanismos parecem estar presentes em todas as estações de processamento da informação dolorosa, da periferia ao córtex. Estímulos nocivos, fenômenos inflamatórios ou compressões neurais atuam como mecanismos pró-nociceptivos. Na medula, os neurôniosnociceptivos de segunda ordem, além de receberem projeções dos neurônios nociceptivos provenientes da periferia, também recebem projeções de interneurônios inibitórios, que, por sua vez, são ativados por fibras aferentes Aí3 que conduzem estímulos táteis. Assim, uma estimulação sensorial pode inibir, ao menos parcialmente, a informação nociceptiva. Esse mecanismo foi descrito na década de 1960, por Melzack e Wall, e ficou conhecido como a ''Teoria do portal de controle da dor'' (ou Teoria da comporta). Acredita-se que este seja um dos mecanismos de atuação dos aparelhos de estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS). Projeções descendentes supramedulares também são capazes de modular a informação nociceptiva que alcança os neurônios de segunda ordem na medula. Vale destacar que ''modular'' pode significar inibir ou facilitar. São clássicos os exemplos de soldados ou atletas que, sob o estresse momentâneo, não percebem que estão gravemente feridos. De maneira inversa, medo, ansiedade e depressão podem exacerbar a dor, evidenciando o papel da atividade cortical na sua modulação. Uma das projeções descendentes tem origem nos neurônios do locus ceruleus, cujos axônios alcançam o corno posterior da medula e ali liberam norepinefrina. A norepinefrina inibe a liberação de substância P pelos neurônios aferentes primários antes de eles fazerem sinapse com os neurônios de segunda ordem (inibição pré-sináptica). Outra projeção descendente tem origem na substância cinzenta periaquedutal (PAG). A estimulação elétrica dessa região produz inibição seletiva da dor, sem prejuízo das demais modalidades sensoriais. Entretanto, poucos neurônios da PAG projetam-se diretamente à medula. De fato, a PAG faz conexões excitatórias com o núcleo magno da rafe, do qual partem projeções serotoninérgicas que inibem, diretamente ou por meio de interneurônios, secretores de opioides, os neurônios de segunda ordem das lâminas I, II e V. Opioides, como morfina e codeína, são analgésicos eficientes e de relevância clínica. A microinjeção de derivados do ópio na PAG produz analgesia intensa. Esse efeito analgésico desaparece quando é realizada a transecção bilateral do funículo lateral dorsal, local por onde passam as projeções antinociceptivas previamente citadas. Assim, parece que parte do efeito analgésico dos opioides se dá a partir da ativação das vias descendentes inibitórias do tronco encefálico. Receptores específicos para opioides estão localizados em muitas regiões do SNC e sistema nervoso periférico, não apenas ligadas diretamente ao controle da dor, mas também em outras funções fisiológicas e comportamentais. Alta concentração desses receptores é encontrada na PAG, no núcleo magno da rafe e no corno dorsal da medula. As três principais classes de opioides endógenos são: encefalinas (leucina e metionina-encefalina), dinorfinas e betaendorfinas. Esses opioides são sintetizados a partir de três genes diferentes: o da pró-encefalina, o da pró-dinorfina e o da pró-opiomelanocortina. Encefalinas e dinorfinas são encontradas principalmente na PAG, na rafe e nas lâminas I e II do corno posterior da medula. O pró-opiomelanocortina (POMC) é um polipeptídeo precursor expresso especialmente na hipófise, o qual dá origem à betaendorfina e ao ACTH, ambos liberados na corrente sanguínea em situações de estresse. O corno dorsal da medula possui alta concentração de neurônios secretores de opioides endógenos, e a administração de morfina, por exemplo, mimetiza esse efeito. Receptores opioides podem ser encontrados nos terminais axonais dos neurônios de primeira ordem, onde, via proteína G, inativam canais de cálcio, diminuindo a liberação dos neurotransmissores (glutamato/substância P - inibição pré-sináptica). Nos dendritos dos neurônios de segunda ordem, receptores opioides, via proteína G, abrem canais de potássio, com consequente hiperpolarização (inibição pós- sináptica). Dessa forma, fica inibida a transmissão da informação nociceptiva entre os neurônios de primeira e segunda ordens. 3- DISCUTIR OS PERIGOS DA AUTOMEDICAÇÃO E AS CONSEQUÊNCIAS DO USO EXARCEBADO DE ANALGÉSICOS. DEFINIÇÃO: É o ato de tomar remédios por conta própria, sem orientação médica. A automedicação, muitas vezes vista como uma solução para o alívio imediato de alguns sintomas pode trazer consequências mais graves do que se imagina. O uso de medicamentos de forma incorreta pode acarretar o agravamento de uma doença, uma vez que sua utilização inadequada pode esconder determinados sintomas. Se o remédio for antibiótico, a atenção deve ser sempre redobrada, pois o uso abusivo destes produtos pode facilitar o aumento da resistência de microorganismos, o que compromete a eficácia dos tratamentos. Outra preocupação em relação ao uso do remédio refere-se à combinação inadequada. Neste caso, o uso de um medicamento pode anular ou potencializar o efeito do outro. O uso de remédios de maneira incorreta ou irracional pode trazer, ainda, consequências como: reações alérgicas, dependência e até a morte. Entre os riscos mais frequentes para a saúde daqueles que estão habituados a se automedicar estão o perigo de intoxicação e resistência aos remédios. Todo medicamento possui riscos que são os efeitos colaterais. CAUSAS: A variedade de produtos fabricados pela indústria farmacêutica, a facilidade de comercialização de remédios e a própria cultura e comodidade assimilada pela sociedade que vê na farmácia um local onde se vende de tudo; a grande variedade de informações médicas disponíveis, sobretudo em sites, blogs e redes sociais, também está entre os fatores que contribuem para a automedicação. RISCO DO USO CRÔNICO DOS ANALGÉSICOS (AINES): Os analgésicos são medicamentos que podem causar dependência física e possivelmente levam à morte, se administrados em excesso. O uso abusivo também pode provocar efeitos colaterais: Gastrintestinais: OS efeitos colaterais podem variar desde leve dispepsia até hemorragia maciça causada por úlcera gástrica perfurada, como resultado de inibição da produção de prostaciclina. Vale notar que os efeitos colaterais gastrintestinais não se resumem apenas ao estômago. As prostaciclinas têm vários efeitos gástricos protetores; elas reduzem a quantidade de ácido estomacal produzido e mantêm uma camada de mucosa protetora, aumentando a produção de mucosa e melhorando o fluxo sanguíneo local. A irritação gástrica também pode ser causada por irritação direta dos próprios medicamentos.¹ Embora os inibidores de COX-2 sejam mais específicos para a enzima COX-2, alguns ainda retêm certa inibição de COX-1, causando risco de sangramento gastrintestinal, embora menos que AINEs não-específicos. Renais: Sob condições fisiológicas normais, a prostaciclina e o óxido nítrico levam ao relaxamento do músculo liso no endotélio vascular e, portanto, à vasodilatação. As prostaciclinas desempenham papel essencial na regulação do tônus arterial aferente e eferente no glomérulo, conhecido por desempenhar um papel vital na preservação da função renal em estados hipovolêmicos. A inibição de produção de prostaciclinas pode levar a uma taxa menor de filtração glomerular, retenção de sal e água, e lesão renal aguda. Esses mecanismos são particularmente importantes em pacientes com hipovolemia e insuficiência cardíaca crônica que sejam sensíveis a mudanças na pressão de perfusão renal. Respiratórios: Até 10% dos pacientes com asma têm doença exacerbada pelos AINEs. Um mecanismo de ação proposto é que a inibição do metabolismo do ácido araquidônico pela COX leve ao aumento na produção de leucotrienos. Os leucotrienos têm ações broncoconstritoras diretas. Cardiovasculares: Inibidores específicos de COX-2 ou ‘coxibes’ foram introduzidos no mercado para evitar os efeitos colaterais comuns e graves sobre o trato gastrintestinal alto pela inibição da COX-1 por AINEs não-específicos.Contudo, as preocupações acerca de sua segurança cardiovascular limitaram seu uso disseminado. Há um aumento dependente da dose no risco de eventos trombóticos, tanto cardíacos quanto cerebrais. O rofecoxibe e o valdecoxibe foram retirados do mercado devido ao aumento do número de eventos cardiovasculares associados especificamente a essas 2 drogas. O risco é mais alto em pacientes com doença cardiovascular pré-existente, e, portanto, o uso de inibidores de COX-2 é contraindicado para pacientes com insuficiência cardíaca, doença cardíaca isquêmica, e doença vascular periférica e cerebrovascular. Hematológicos: Em plaquetas, a COX metaboliza o ácido araquidônico em tromboxano A2, o que leva à maior adesividade de plaquetas e vasoconstrição. Em contraste, no músculo liso vascular, forma-se a prostaciclina, que causa vasodilatação e reduz agregação de plaquetas. A hemostasia resulta do equilíbrio delicado entre esses sistemas. Assim, os AINEs levam à redução da função e adesividade das plaquetas, e a um maior tempo de sangramento. A aspirina merece menção especial, pois inibe irreversivelmente a COX de plaquetas. Como resultado, as plaquetas se tornam ineficientes durante todo o seu ciclo de vida de 10 dias. Cicatrização Óssea: Há um risco teórico de que os AINEs, em particular os inibidores de COX-2, causem redução da taxa de cicatrização óssea e aumento da incidência de não-consolidação de fraturas. Após uma fratura, há maior produção de prostaglandinas como parte da resposta inflamatória, o que aumenta o fluxo sanguíneo local. Acredita-se que o bloqueio desse mecanismo seja prejudicial à cicatrização dos ossos; contudo, atualmente, não há provas científicas de alta qualidade para confirmar isso. ALGUNS EXEMLOS DE AINES E SESUS EFEITOS TÓXICOS: Ibuprofeno: por ter uma ação rápida e potente contra os casos de dor, os medicamentos com esse princípio ativo (vendidos no Brasil com nomes comerciais como Advil®, Actiprofen®, Artril®, Benotrim®, Danilon®, Doretrim®, Ibufran®, Ibuprofeno®, Motrim®, Paratrim®, Stopen®) costumam ser largamente utilizados por pessoas que sofrem de enxaqueca e que se automedicam. Entre as reações adversas causadas pelo uso excessivo do medicamento estão os seguintes quadros: - Hepatite induzida; - Falência renal aguda; - Nefrite intersticial (lesão nos rins); - Sangramento gastrointestinal; - Elevação da pressão arterial; - Aborto espontâneo Ácido acetilsalicílico: presente em medicamentos muito populares (como Aspirina® e AAS®), também oferece riscos à saúde, se usado com grande intensidade. Entre eles: - Comprometimento das funções renais; -Dificuldade de coagulação sanguínea; - Hemorragias internas; - Formação de trombos. Paracetamol: no Brasil, o remédio mais conhecido dessa linha é o Tylenol®. Esse também é um analgésico e antipirético. O risco do uso abusivo inclui principalmente o surgimento de lesão hepática, que pode levar ao completo comprometimento do fígado. Dipirona: no Brasil, esse talvez seja o analgésico e antitérmico mais utilizado, mas recentemente entrou para a lista de medicamentos perigosos. Nos Estados Unidos, Japão e Austrália, além de vários países da União Europeia, o medicamento está proibido. Estudos comprovaram que a substância está envolvida no desenvolvimento de um quadro chamado agranulocitose, uma doença potencialmente fatal, caracterizada pela ausência de leucócitos granulosos, que são as principais barreiras de defesa do organismo contra infecções. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1. Nociceptores - as células que sentem dor - Alan Fein 2. Tratado de Fisiologia Médica - Guyton - 12ª Edição – 2011 3. Neurociencias : desvendando o sistema nervoso - Bear, Mark F. 4. Patofisiologia da dor - Archives of Veterinary Science, v. 13, n.1, p.1-12, 2008 5. Medcurso – Volume 8: Trauma e queimaduras – 2021 6. Histologia Básica, de Junqueira & Carneiro. 7. Manual de especialização: Dor - Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein (SBIBAE).
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