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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA JANAINA DUARTE BAUMER SIANNAH MARIA MAS DIEGO ESTÁGIO EM DOCÊNCIA PROF. AGENOR FURIGO JR. Florianópolis 2008 SUMARIO 1.Introdução .............................................................................................................................3 2. Histórico ..............................................................................................................................3 3. Propriedades Gerais ..........................................................................................................4 3.1 A maioria das enzimas são proteínas ...........................................................................5 3.2 Diferenças entre enzimas e catalisadores químicos .................................................5 3.3 Nomenclatura das enzimas ............................................................................................6 3.4 Especificidade ..................................................................................................................8 3.5 Mecanismo de ação de uma enzima ............................................................................9 4. Reações Catalisadas por Enzimas............................................................................... 10 5. Fatores que Influenciam a Ação Enzimática ................................................................ 12 5.1 pH..................................................................................................................................... 12 5.2 Temperatura ................................................................................................................... 12 5. 3 Concentração da Enzima ........................................................................................... 13 5.4 Concentração do Substrato ......................................................................................... 13 6. Inibição enzimática .......................................................................................................... 14 6.1Inibição Reversível ......................................................................................................... 15 6.2 Inibição Reversível Competitiva .................................................................................. 16 6.3 Inibição Reversíve l Não Competitiva ......................................................................... 15 6.4 Inibição Irreversível ....................................................................................................... 16 7. Co-fatores e Coenzimas................................................................................................. 17 7.1 As coenzimas devem ser regenaradas ..................................................................... 17 8. Regulação da Atividade Enzimática ............................................................................. 17 9. Medida de atividade enzimática.................................................................................... 18 10. Produção industrial de enzimas .................................................................................. 19 11. Referencias Bibliográficas ........................................................................................... 23 1. Introdução Os sistemas vivos são formados por uma enorme variedade de reações bioquímicas, e quase todas elas são mediadas por uma série de extraordinários catalisadores biológicos conhecidos como enzimas. A função da enzima é viabilizar a atividade das células, quebrando moléculas ou juntando-as para formar novos compostos. As enzimas são proteínas (com exceção de um pequeno grupo de moléculas de RNA) especializadas em catalisar reações biológicas, ou seja, aumentam a velocidade de uma reação química sem interferir no processo. Elas estão associadas a biomoléculas, devido as sua extraordinária especificidade e poder catalítico. 2. Histórico A atividade catalítica de enzimas tem sido utilizada pelo homem há milhares de anos, em processos tais como fermentação do suco de uva para obtenção do vinho, fabricação de queijo e pão. No entanto, estas eram apenas aplicações práticas, uma vez que o conhecimento do modo de ação dos catalisadores biológicos só recentemente foi elucidado. - 1833 - A primeira hidrólise enzimática do amido Os cientistas franceses Payen e Persoz isolaram um complexo enzimático do malte que catalisava a transformação do amido em glicose, denominando-o "diastase" do grego "separar") porque separava os blocos de amido em unidades individuais de glicose. É a primeira vez que foi isolado uma enzima, um composto orgânico que apresentava as propriedades de um catalisador. O sufixo ase de diastase passou a ser usado para designar as enzimas. - 1835 - o químico sueco Berzelius descreveu a primeira hidrólise enzimática do amido. O sueco Jons Jacob Berzelius demonstrou que o amido pode ser mais eficientemente decomposto usando-se extrato de malte preferencialmente ao ácido sulfúrico e cunhou o termo catálise, foi o primeiro a notar que certas substâncias aceleram uma reação. - 1836 - Theodor Schwann descobre a enzima digestiva Pepsina - 1860 - Debate: Qual é o papel da levedura no processo de fermentação? Pasteur, em 1860, demonstrou através de uma série de experimentos que a fermentação alcoólica só ocorria em presença de células vivas de levedura. Na mesma época, Liebig defendia que os processos fermentativos eram reações químicas. 1897 - A polêmica foi resolvida. Os irmãos Buchner demonstraram que um extrato de levedura livre de era capaz de fermentar o açúcar do mesmo modo que a célula de levedura. Isto significava que o extrato continha catalisadores da fermentação alcoólica, o que tornava possível estudar “in vitro” reações químicas da fermentação. - 1878 - William Kuhne propôs que o nome enzima fosse utilizado, a palavra em si significa 'na levedura'. - 1894 - Primeira produção comercial de alimentos com enzimas. Nos EUA, o bioquímico e líder industrial japonês Dr. Jokichi Takamine começou a produção comercial de koji a partir do fungo Aspergillus. - 1894 - Cientistas definem a teoria Fechadura e Chave - 1913 - Michaelis e Lyn descreveu cinética enzimática matematicamente. - 1914 - É lançado o primeiro detergente compacto - 1926 - Cientistas descobrem que as enzimas são proteínas - 1926 – James Summer’s isolou e cristalizou a primeira enzima, a urease. - A partir 1960 - A evolução no estudo das enzimas, acompanhado por avanços tecnológicos, possibilitou o isolamento e a identificação de propriedades das enzimas. Desde então, vem sendo feita a caracterização e o estudo cinético de milhares de enzimas de diferentes fontes: animais, vegetais e de microrganismos. - 1986 - A primeira enzima a partir de organismo geneticamente modificado (OGM). 3. Propriedades Gerais 3.1 A maioria das enzimas são proteínas Com exceção de um pequeno grupo de moléculas de RNA que apresentam atividade catalítica, todas as enzimas são proteínas. Proteínas são moléculas compostas por aminoácidos, unidos por ligações peptídicas. Os aminoácidos apresentam em sua fórmula química um grupo carboxílico (-COOH), um grupo amino (-NH2) e um radical R. Os aminoácidos são diferenciados de acordo com o grupo R ligado ao carbono assimétrico. Na natureza, são encontrados 20 aminoácidos. A atividade catalítica das proteínas depende da integridade da sua conformação protéica nativa. Se uma enzima é desnaturada ou dissociada em subunidades, a atividade catalítica geralmente é destruída. Se uma enzima é quebrada em seus aminoácidos constituintes, a sua atividade catalítica é sempre destruída. Assim, a estrutura protéica primária,secundária, terciária e quaternária das enzimas são essenciais para sua atividade catalítica. As enzimas como outras proteínas tem pesos moleculares que variam de cerca de 12.000 até mais de 1 mi lhão. 3.2 Diferenças entre enzimas e catalisadores químicos As enzimas diferem-se dos catalisadores químicos comuns em vários aspectos: - Velocidade de reação mais rápida: as velocidades de reações catalisadas por enzimas são tipicamente 106 a 1012 vezes maiores do que as reações correspondentes não catalisadas, e são no mínimo, varias ordens de magnitude maiores do que as mesmas reações catalisadas quimicamente. - Condições reacionais mais brandas: as reações catalizadas enzimaticamente ocorrem em condições brandas: temperaturas inferiores a 100º C, pressão atmosférica e pH quase neutro. Em contraste, geralmente uma catálise química eficiente requer temperaturas e pressão elevadas, assim como pH extremos. - Maior especificidade da reação: as enzimas apresentam um grau de especificidade imensamente maior do que os catalisadores químicos em relação a identidade dos seus substratos e dos seus produtos; isto é, as reações enzimáticas raramente produzem subprodutos. Diante de várias rotas potencialmente possíveis, a enzima escolhe a com menor energia livre de ativação. - Capacidade de regulação: as atividades catalíticas de muitas enzimas variam em resposta às concentrações de outras substancias que não os seus substratos. Os mecanismos desses processos regula tórios incluem o controle alostérico, a modificação covalente de enzimas e a variação nas quantidades de enzimas sintetizadas. Permite o ajuste fino do metabolismo em diferentes condições fisiológicas. 3.3 Nomenclatura das enzimas As enzimas são comumente denominadas adicionando-se o sufixo –ase ao nome do substrato da enzima ou a uma expressão que descreva a sua ação catalítica. Desse modo a uréase catalisa a hidrolise da uréia, e a álcool- desidrogenase catalisa a oxidação de alcoóis em seus aldeídos correspondentes. Entretanto, o fato de no inicio não haver regras para a nomenclatura das enzimas acabou gerando confusões, resultando na utilização de dois nomes diferentes para uma mesma enzima, ou ainda, a utilização do mesmo nome para duas enzimas diferentes. Além disso, muitas enzimas, como a catalase (que intermedeia a dismutacao de H2O2 em H2O e O2) tinham nomes que não ofereciam qualquer indicação da sua função. Em esforço para eliminar tal confusão e providenciar regras para a denominação racional do crescente numero de enzimas descobertas, um esquema de classificação funcional sistemática e de nomenclatura de enzimas foi adotado pela International Union of Biochemistry and Molecular Biology. As enzimas são classificadas de acordo com a natureza da reação química que catalisam. Há seis classes principais de reações enzimáticas, assim como subclasses e sub-subclasses. Para cada enzima são atribuídos dois nomes e um numero de classifição de quatro subdivisões. O nome alternativo é conveniente para o uso rotineiro e é, em geral, um nome trivial utilizado anteriormente. O nome sistemático é utilizado para minimizar ambiquidades; é o nome do(s) seu(s) substrato(s) seguido por uma palavra terminada em –ase que especifica o tipo de reação que, de acordo com seu grupo de classificação principal, a enzima cataliza. Por exemplo a enzima cujo nome recomendado é carboxipeptidase A possui nome sistemático peptidil-L- aminoácido-hidrolase e número de classificação EC 3.4.17.1 (EC é a abreviatura de Enzyme Comission). Classificação das Enzimas Segundo a Comissão de Enzimas 1. Oxido-redutases (reações de oxidação-redução ou transferência de elétrons – Desidrogenases e Oxidases) 1.1.atuando em CH-OH 1.2.atuando em C=O 1.3.atuando em C=O- 1.4.atuando em CH-NH2 1.5.atuando em CH-NH- 1.6.atuando em NADH, NADPH 2.Transferases (transferem grupos funcionais como amina, fosfato, acil, carboxil – Quinases e Transaminases) 2.1.grupos com um carbono 2.2.grupos aldeído ou cetona 2.3.grupos acil 2.4.grupos glicosil 2.7.grupos fosfatos 2.8.grupos contendo enxôfre 3.Hidrolases (reações de hidrólise de ligação covalente - Peptidases) 3.1.ésteres 3.2.ligações glicosídicas 3.4.ligações peptídicas 3.5.outras ligações C-N 3.6.anidridos ácidos 4.Liases (catalisam a quebra de ligações covalentes e a remoção de moléculas de água, amônia e gás carbônico – Dehidratases e Descarboxilases) 4.1. =C=C= 4.2. =C=O 4.3. =C=N- 5.Isomerases (reações de interconversão entre isômeros óticos ou geométricos - Epimerases) 5.1.racemases 6.Ligases (catalisam reações de formação de novas moléculas a partir da ligação entre duas pré-existentes, sempre às custas de energia - Sintetases) 6.1. C-O 6.2. C-S 6.3. C-N 6.4. C-C 3.4 Especificidade Existe uma correlação entre a estrutura das proteínas ou peptídeos que fazem parte da molécula enzimática e suas propriedades biológicas, e esta propriedade leva a uma especificidade extraordinariamente alta e reproduzível. Provavelmente apenas uma fração da molécula, denominada sítio ativo, é a responsável pela ligação da enzima ao substrato ou substratos, e essa fração determinaria a especificidade enzimática. A especificidade das enzimas varia muito de uma enzima para outra, sendo muito baixa para algumas enzimas e muito alta para outras. É chamada especificidade baixa, quando esta relação existe apenas em relação a tipos de ligação, como certas peptidases (ligações peptídicas), fosfatases (ligações fosfato-éster) e estearases (ligações carboxi-éster, podendo-se citar a lipase que hidrolisa as ligações ácido-álcool de quase todos os ésteres orgânicos). A especificidade baixa é mais comumente encontrada em enzimas degradativas, mas é raramente encontrada em enzimas biosintéticas. Um conjunto intermediário de enzimas apresenta especificidade de grupo, como as hexoquinases, que catalisam a fosforilação de uma variedade de açúcares contanto que sejam aldohexoses. A especificidade absoluta, é o tipo de especificidade exclusiva, isto é, quando uma enzima atua somente sobre um determinado composto, como a urease que hidrolisa a uréia, mas nenhum de seus derivados, ou a tripsina, que hidrolisa apenas ligações peptídicas formadas por grupos carboxílicos dos aminoácidos básicos. Esta enzima é de importância extraordinária na determinação da seqüência de aminoácidos em proteínas. Outro aspecto importante da especificidade das enzimas é a sua estereo- especificidade com relação ao substrato. Uma enzima pode ter uma especificidade ótica em relação aos isômeros D e L dos aminoácidos. A maioria das enzimas hidrolisa apenas ligações peptídicas de L-aminoácidos, o que deveria ser esperado, já que as proteínas enzimáticas são constituídas por L-aminoácidos e tem conformações determinadas. As forças não covalentes por meio das quais substratos e outras moléculas se ligam as enzimas são similares em caráter às forcas que regem a conformação das próprias proteínas. Ambas envolvem forças de Van der Waals, interações eletrostáticas, pontes de hidrogênio e interações hidrofóbicas Em geral, o sitio de ligação do substrato consiste de um entalhe ou sulco na superfície de uma enzima, complementar ao formato dos substratos (complementaridade geométrica). Além disso, os resíduos de aminoácidos que formam o sitio de ligação estão organizados de modo a formar interações de atração especificamente com os substratos (complementaridade eletrônica). As moléculas que se diferem do substrato no formato ou na distribuição de grupos funcionais não podem ligar-se produtivamente à enzima. 3.5 Mecanismo de ação de uma enzima A reação enzimática ocorre em duas etapas: (1) S + E ES* (etapa reversível) (2) ES E + P (etapa irreversível) * complexo enzima-substratoAlguns modelos foram propostos para explicar o tipo de ligação estabelecida entre enzima e substrato. Emil Fischer desenvolveu no século passado o conceito de especificidade enzimática, estabelecendo que existe uma relação estérica entre enzima e substrato. Em 1894 enunciou a sua teoria na qual a especificidade enzimática é comparada a um conjunto de chave e fechadura onde a chave, neste caso o substrato, deve se ajustar à fechadura, neste caso a enzima (figura 1). Assim, cada enzima agiria sobre um número muito limitado de compostos. Figura 1: Representação esquemática do modelo proposto por Fischer Figura 2: Representação esquemática do modelo do encaixe induzido de Koshland. A hipótese de Koshland, mais moderna, da “enzima flexível” ou do “encaixe induzido” considera que o sítio ativo não precisa preexistir sob uma forma geométrica rígida, devendo contudo existir um arranjo espacial preciso e específico dos grupamentos R (cadeia lateral) dos aminoácidos, arranjo esse que é induzido pelo contato com o substrato (figura 2). Estudos por raio X indicam que os sítios de ligação aos substratos da maioria das enzimas são, em grande parte, pré-formados, mas sofrem mudanças conformacionais no momento da ligação do substrato (um fenômeno denominado ajuste induzido). 4. Reações Catalisadas por Enzimas Para reagir, as moléculas presentes em uma solução devem colidir com orientação apropriada e com a quantidade de energia que lhes permitam formar o complexo ativado, denominado estado de transição que representa os reagentes em seu estado ati vado. Para atingir o estado de transição, necessita-se de uma quantidade de energia definida como energia de ativação (E a) ou mais comum em bioquímica energia livre de ativação, ?G+ (o símbolo (+ ) indica o processo de ativação). Sob condições fisiológicas, a velocidade das reações pode ser aumentada pela redução da energia livre de ativação conseguida pela ação de enzimas. A comparação do perfil energético das reações catalisadas e não- catalisadas é mostrada na Figura 3 para a reação: A + B ? C + D No gráfico, o estado de transição corresponde ao ponto de mais alta energia da reação não-catalisada e é a medida da energia livre de ativação, ?G+ . Ou ainda, ?G+ é a energia livre do estado de transição subtraída da energia livre dos reagentes. No complexo ativado (estado de transição do sistema), os reagentes estão em forma intermediária de alta energia e não podem ser identificados nem como reagentes nem como produtos. O complexo do estado de transição pode ser decomposto em produtos ou voltar aos reagentes. Figura 3: diagrama energético de reação catalisada e de reação não catalisada ?G+ = energia livre de ativação. ?G0 = variação de energia livre. A diferença entre os valores da energia de ativação de uma reação catalisada e de uma reação não-catalisada, indica a eficiência do catalisador. A velocidade de uma reação é inversamente proporcional ao valor de sua energia livre de ativação. Quanto maior o valor de ?G+ , menor será a velocidade da reação. Os catalisadores aumentam a velocidade da reação reduzindo a energia livre de ativação. A velocidade de uma reação pode aumentar na ordem de 106 a 1012 vezes mais do que a reação correspondente não-catalisada. Embora a enzima participe da seqüência da reação, ela não sofre nenhuma transformação. Sendo assim, apenas poucas moléculas de E são capazes de catalisar a conversão de milhares de moléculas de S a P. Um catalisador é uma substância que acelera uma reação química, até torná-la instantânea ou quase instantânea, ao diminuir a energia de ativação. Como catalisadores, as enzimas atuam em pequena quantidade e se recuperam indefinidamente sem serem consumidas. Não levam a cabo reações que sejam energeticamente desfavoráveis, não afetam o ?G (energia livre de Gibbs) e não modificam o sentido dos equilíbrios químicos. 5. Fatores que Influenciam a Ação Enzimática 5.1 pH Ao comprovar experimentalmente a influência do pH na velocidade das reações enzimáticas se obtém curvas que indicam que as enzimas apresentam um pH ótimo de atividade. O pH pode afetar de várias maneiras: - O sítio ativo pode conter aminoácidos com grupos ionizados que podem variar com o pH. - A ionização de aminoácidos que não estão no sítio ativo pode provocar modificações na conformação da enzima. - O substrato pode ver-se afetado pelas variações do pH. As enzimas possuem grupos químicos ionizáveis (carboxilas –COOH; amino – NH2; tiol –SH; imidazol, etc) nas cadeias laterais de seus aminoácidos. Segundo o pH do meio, estes grupos podem ter carga elétrica positiva, negativa ou neutra. Como a conformação das proteínas depende, em parte, de suas cargas elétricas, haverá um pH no qual a conformação será a mais adequada para a atividade catalítica. Este é o chamado pH ótimo. Ligeiras mudanças de pH podem provocar a desnaturação da proteína. Algumas enzimas apresentam variações peculiares. A pepsina do estômago apresenta um ótimo de atividade a pH = 2, e a fosfatase alcalina do intestino a pH = 12. 5.2 Temperatura A temperatura influi na atividade e o ponto ótimo representa o máximo de atividade. A temperaturas baixas, as enzimas encontram-se muito rígidas e quando se supera um valor considerável (maior que 50°C) a atividade cai bruscamente porque, como proteína, a enzima se desnatura. Em geral, os aumentos de temperatura aceleram as reações químicas: a cada 10°C de aumento, a velocidade de reação se duplica. As reações catalisadas por enzimas seguem esta lei geral. Entretanto, sendo proteínas, a partir de certa temperatura, começam a desnaturar-se pelo calor. A temperatura na qual a atividade catalítica é máxima chama-se temperatura ótima. Acima desta temperatura, o aumento de velocidade da reação devido a temperatura é compensado pela perda de atividade catalítica devido a desnaturação térmica, e a atividade enzimática decresce rapidamente até anular-se. 5.3 Concentração da Enzima A velocidade máxima da reação é uma função da quantidade de enzima disponível. Assim, a velocidade inicial da reação enzimática é diretamente proporcional à concentração de enzima (existindo substrato em excesso) (Figura 4). Figura 4: Efeito da concentração da enzima sobre a ve locidade inicial (V0). A concentracao do substrato esta acima da necessária para atingir a velocidade máxima. 5.4 Concentração do Substrato Para atender as necessidades do organismo, as reações bioquímicas devem ocorrer em velocidade compatível. A velocidade de uma reação bioquímica é expressa em termos de formação de produto ou pelo consumo do reagente por unidade de tempo. Inicialmente a velocidade da reação é diretamente proporcional a concentração do reagente A. O processo exibe cinética de primeira ordem (Figura 5). Quando a adição de mais reagente não aumenta a velocidade, a reação exibe cinética de ordem zero (Figura 5). A velocidade passa a ser constante porque não depende mais da concentração dos reagentes, mas de outros fatores. A quantidade de reagente é o suficiente grande para saturar todos os sítios catalíticos das moléculas enzimáticas. Assim, o reagente só existe na forma de complexos enzima-substrato (ES). Como a curva velocidade-substrato é hiperbólica, a fase de ordem zero atinge uma velocidade máxima. Figura 5: efeito da concentração de substrato sobre a velocidade inicial V0 em reações catalisadas por enzimas. 6. Inibição enzimática Muitas substâncias alteram a atividade de uma enzima associando reversivelmente a ela, de forma a influenciar a ligação do substrato e/ou seu numero de reciclagem. As substâncias que reduzem a atividade de uma enzima são conhecidas como inibidores. Grande parte do arsenal farmacêutico moderno é constituído por inibidoresenzimáticos (Por ex. tratamento da AIDS é feito quase exclusivamente com drogas que inibem a atividade de certas enzimas virais. Os inibidores podem ser classificados em reversíveis competitivos e não competitivos ou irreversíveis. 6.1 Inibição Reversível Neste tipo de inibição, a atividade enzimática é recuperada com a remoção do inibidor. 6.2 Inibição Reversível Competitiva Uma substância que compete diretamente com o substrato normal pelo sitio de ligação de uma enzima. Esse inibidor normalmente é semelhante ao substrato, de modo que se liga especificamente ao sitio ativo, mas difere do substrato por não poder reagir com ele. O inibidor liga-se à enzima formando o complexo EI cataliticamente inativo. 6.3 Inibição Reversível Não Competitiva Na inibição não-competitiva, o inibidor liga-se diretamente a enzimas ou ao complexo enzima-substrato. Esta ligação pode distorcer a enzima tornando o processo catalítico ineficiente. O inibidor não competitivo pode ser uma molécula que não se assemelha com o substrato, mas apresenta uma grande afinidade com a enzima. 6.4 Inibição Irreversível A inibição irreversível ocorre quando o inibidor liga-se tão fortemente à enzima que a dissociação é muito lenta. Podem destruir grupos funcionais que são essenciais para a atividade enzimática. A enzima não retoma a sua atividade normal. Ex.: Inibição dos gases neurovenenosos e inseticidas organofosforados na acetilcolinesterase (enzima importante na transmissão dos impulsos nervosos). 7. Co-fatores e Coenzimas Algumas enzimas como a quimotripsina (enzima que hidrolisa proteína) ou triosefosfato isomerase são ativas sem necessitar a presença de outro fator. No entanto, quase um terço das enzimas conhecidas requerem um componente não protéico para sua atividade, denominado cofator. Os co-fatores podem ser íons metálicos, como o Cu2+, o Fe3+ ou o Zn2+. A natureza essencial de tais co-fatores explica por que razão os organismos necessitam de quantidades diminutas de certos elementos nas suas dietas. Isso também explica, em parte, os efeitos tóxicos de certos metais pesados. Por exemplo, o Cd2+ e o Hg2+ podem substituir o Zn2+ (todos se encontram no mesmo grupo na tabela periódica) nos sítios ativos de certas enzimas, incluindo a RNA-polimerase, tornando, desse modo, essas enzimas inativas. Os co-fatores também podem ser moléculas orgânicas, conhecidas como co-enzimas, tal como o NAD+ na YADH. Alguns co-fatores (p.ex., o NAD+) são apenas temporariamente asssociados com uma dada molécula enzimática, de maneira que elas funcionam como co-substratos. Outros co- fatores, conhecidos como grupos protéticos, estão permanentemente associados com suas proteínas, em geral por meio de ligações covalentes. Por exemplo, o grupo prostético heme do citocromo c é fortemente ligado a essa proteína por uma extensa rede de interações hidrofóbicas e pontes de hidrogênio junto com ligações covalentes entre o heme e as cadeias laterais especificas da proteína. Um complexo enzima-co-fator cataliticamente ativo é chamado de holoenzima. A proteína enzimaticamente inativa resultante da remoção do co- fator da holoenzima é chamada de apoenzima; ista é, Apoenzima (inativa) + cofator ? holoenzima (ativa) 7.1 As coenzimas devem ser regenaradas As coenzimas são quimicamente modificadas pelas reações enzimáticas em que participam. Na reação da YADH, por exemplo, o NAD+ é reduzido a NADH. A fim de complementar o ciclo catalítico, a coenzima deve retornar ao seu estado original (no exemplo da YADH, o NADH deve ser reoxidado a NAD+). 8. Regulação da Atividade Enzimática Um organismo deve poder regular as atividades catalíticas de suas enzimas para que ele possa coordernar seus processos metabólicos, responder às mudanças no meio, crescer e diferenciar-se, tudo de maneira ordenada. Há duas maneiras pelas quais isso pode ocorrer: 1. Controle da disponibilidade da enzima. A quantidade de uma dada enzima em uma célula depende da sua velocidade de síntese e da sua velocidade de degradação. Cada uma dessas velocidades é diretamente controlada pela célula e esta sujeita a mudanças drásticas em períodos que vão de minutos (em bactérias) até horas (em organismos superiores). 2. Controle da atividade da enzima. A atividade catalítica de uma enzima pode ser diretamente regulada por meio de alterações estruturais que influenciem a afinidade da ligação do substrato à enzima. A afinidade de ligação do substrato a uma enzima pode, de modo semelhante, variar com a ligação de pequenas moléculas, chamadas efetores alostéricos. Os mecanismos alostéricos podem ocasionar grandes alterações da atividade enzimática, tanto aumentando, como diminuindo a atividade. Um modelo muito comum de regulação alostérica é a inibição por "feed- back", onde o próprio produto da reação atua como modulador da enzima que a catalisa. 9. Medida de atividade enzimática As medidas de concentração, expressas em unidades de massa por unidades de volume não tem aplicação para soluções enzimáticas, já que o que importa não é a massa, mas a atividade. Uma solução de enzimas desnaturadas conserva a massa protéica mas a propriedade catalítica está perdida. Desnaturações parciais podem levar duas soluções de mesma concentração enzimática a ter atividades muito diferentes. Em virtude disto, a dosagem de enzimas é sempre feita através da medida de sua atividade, que é avaliada pela velocidade da reação que a enzima cataliza. Dada a especificidade das enzimas, essa medida é possível, mesmo na presença de outras proteínas. Para efetuar essas dosagens, uma amostra da solução contendo a enzima é incubada com concentrações altas de substratos (para garantir a velocidade máxima e impedir que pequenas variações na concentração do substrato possam afetar as medidas). A velocidade da reação é medida e expressa em Unidades Internacionais. Uma Unidade Internacional (U) é a quantidade de enzima capaz de formar 1µmol de produto por minuto em condições ótimas de medida (pH, temperatura, etc.), especificadas para o caso. A medida da atividade enzimática é imprescindível para monitorar a purificação de uma enzima. A atividade específica é o número de Unidades de enzima por miligramas de proteína. Portanto se a etapa de purificação for bem sucedida a atividade específica encontrada deve aumentar. Esse aumento significa que o procedimento adotado eliminou proteínas indesejáveis. A concentração de produtos aumenta linearmente com o tempo num dado intervalo (velocidade constante). No entanto , a partir de certo tempo, a velocidade (valor da tangente à curva num dado instante) decresce. Vários fatores podem contribuir para este decréscimo: diminuição da concentração de substrato, inativação parcial da enzima no decorrer da reação, inibição por produto e deslocamento do equilíbrio se a reação for reversível. Para evitar a influencia destes fatores costuma-se associar a atividade á medida da velocidade de reação em condição inicial, ou seja, aquela que assegura velocidade constante. A escolha de um método para a determinação da atividade de uma enzima produzida por fermentação requer conhecimento prévio da faixa de concentração enzimática que permite obter uma variação linear da concentração de produto (ou substrato) com o tempo. Podem ser usados métodos variados para avaliar a acriacao das concentrações das espécies. Alguns deles são muito diretos (espectrofotometria, fluorimetria, titulometria) e outros menos (medida da viscosidade). 10. Produção industrial de enzimas A produção de enzimas em escala industrial se faz majoritariamente por fermentação submersa, embora nos países orientais haja uma tradição estabelecida de utilização da fermentação semi-sólida. Um dos processos mais importantesprévios à fermentação é o preparo do inoculo. Pode-se partir de um cultivo em frasco agitado, inoculado com a cultura estoque liofilizada. Decorrido o tempo suficiente, essa cultura é inoculada no fermentador principal. A quantidade de inoculo pode variar de 1 a 10% (p/v) e a produção da enzima pode ser afetada por esse parâmetro. Fonte As enzimas podem ser obtidas de animais (amilase pancreática, lípase pancreática, pancreatina, pepsina, quimosina), vegetais (a-amilase, ß-amilase, bromelina, ficina, papaína) e microrganismos [a) enzimas amilolíticas: Bacillus subtilis, Aspergillus oryzae, A.niger, A.flavus, A.awamori; b) glicoseoxidase: A.niger, Penicillium amagasakiense, P.notatum; c) lactase: Saccharomyces fragilis, Zygosaccharomyces lactis; d) lípase: A.niger, Rhysopus sp; e) proteases: B.subtilis, A.oryzae, A.flavus, A.niger, Endothia parasítica, Mucor pusillus. O processo fermentativo A linhagem microbiana utilizada industrialmente é, em geral, fruto de um longo trabalho de melhoramento e, portanto, sigilosamente protegida. Sendo que os cuidados de estocagem e manutenção são muito importantes para a reprodução dos resultados. Os meios de cultivo são formulados através da utilização de compostos quimicamente conhecidos (meios sintéticos) ou de matérias-primas naturais. Os meios devem conter fontes de carbono e energia, fontes de nitrogênio, substâncias minerais e fatores de crescimento. Os meios de cultivo são, em geral, resultado de um processo de otimização. A influência de certos componentes do meio na produção da enzima-alvo pode ser muito significativa. A composição dos meios de cultivo usados industrialmente também é sigilosamente guardada. A fermentação industrial é conduzida em fermentadores mecanicamente agitados. A produção de enzimas geralmente ocorre em fermentadores com capacidade de 10.000 a 100.000 litros, operados de modo descontinuo (batelada). Tais fermentadores são munidos de camisas ou serpentinas internas para as necessidades de aquecimento e refrigeração e de sistemas de medidas (sensores de pH, temperatura, oxigênio dissolvido e espuma). As fermentações em batelada para produção de enzimas tem duração da ordem de 30 a a150 horas. Processo a jusante (downstream) da fermentação As operações que se seguem ao processo fermentativo dependem da localização da enzima de interesse (intra ou extracelular). Etapas iniciais de separação e concentração No caso de enzimas extracelulares, ao término do processo fermentativo, o caldo é resfriado a cerca de 5°C, para assegurar condições de estabilidade do produto e evitar o crescimento de microrganismos contaminantes. O pH é geralmente ajustado para o valor ótimo de atuação da enzima produzida. A separação das células pode ser feita por centrifugação ou filtração. A solução clarificada contendo a enzima de interesse deve ser concentrada. A concentração pode ser feita por ultrafiltração (utilizando a tecnologia de processos com membranas) ou por evaporação a vácuo (conduzida a temperaturas inferiores a 35°C. Esta solução concentrada diluída a níveis convenientes e acondiciona com estabilizantes da atividade enzimática pode ser embalada para comercialização. No caso das enzimas intracelulares, a separação da biomassa celular já fornece um alto fator de concentração da enzima. A biomassa, em geral, obtida por centrifugação, é lavada e as células são rompidas. Diversas técnicas podem ser usadas nessa operação: moagem com esferas de vidro, homogeneização em alta pressão (ruptura é proporcionada pelo bombeamento em alta pressão da suspensão contra uma válvula de descarga que dispõe de um pequeno orifício para passagem do fluido), sonificação, congelamento, tratamentos químicos (como soluções de soda caustica tem aplicação muito limitada pois a enzima deve ser tolerante a valores elevados de pH) e enzimáticos. A ruptura das células libera inúmeras substâncias para o meio aquoso. A precipitação dos ácidos nucléicos é um procedimento necessário. Essa precipitação pode ser feito com sais de Mn (II). Deve-se escolher uma agente que não precipite a enzima de interesse ou provoque sua desativação. o sobrenadante pode ser clarificado por filtração e concentrado por ultrafiltração ou evaporação a vácuo. Purificação e acabamento A partir da obtenção do concentrado enzimático as operações de processamento não se diferenciam quanto à natureza da enzima, mas quanto a forma de apresentação (solida ou liquida) e o grau de pureza desejado. A solução concentrada e diluída a níveis convenientes pode ser um produto comercializável. Ou pode ser preferível a obtenção de um produto na forma sólida. Nesse caso o produto deve ser seco a vácuo ou por atomização (spray drying). O produto final não pode apresentar baixa granulometria, pois há riscos de geração de poeiras, que podem provocar problemas de saúde para os trabalhadores que o manuseiam. Deve proceder-se à peletizacao ou aglomeração desse material sólido, para obter partículas maiores, na faixa de 200 a 500 µm. para padronização da atividade enzimática misturam-se quantidade apropriadas de material sólido inerte. Quando pretende-se obter uma preparação enzimática com maior grau de pureza deve submeter-se a uma série de técnicas de fracionamento e purificação. A adição de sais como o sulfato de amônia (NH4)2SO4 provoca a precipitação de moléculas protéicas, então a é realizada centrifugação para obter as moléculas protéicas. A precipitação pode ser feita também com solventes (etanol, metanol) embora deve-se tomar cuidado para não provocar a desnaturação das proteínas. Outras técnicas para separação de proteínas consistem na utilização de membranas como ultrafiltracao, microfiltracao e osmose inversa. Quando busca-se um alto grau de pureza do produto, técnicas cromatográficas são empregadas, como a cromatografia de troca iônica que se baseia na carga das moléculas, a cromatografia de partição ou de filtração em gel, baseada no tamanho da moléculas, a cromatografia de afinidade baseada na ligação bio-específica da enzima com os ligantes, que podem ser substratos ou inibidores. A concentração pode ser obtida das seguintes formas: - adição de um polímero tipo Sephadex G-25, cujos poros são muito pequenos para permitir a entrada de moléculas grandes. Remove cerca de 70% da água. - ultrafiltrção: remoção do solvente por uma mebrana semi-permeável não que permite a passagem da enzima. - Remoção de água sob vácuo – liofilização. Controle de Pureza O controle da pureza pode ser realizado por eletroforese. A eletroforese é uma técnica de separação de moléculas que envolve a migração de partículas com a aplicação de uma diferença de potencial. As moléculas são separadas de acordo com o seu tamanho, forma ou carga. Das muitas técnicas existentes para a análise de proteínas (enzimáticas ou não), a eletroforese em gel é sem dúvida a mais versátil e facilmente aplicável. A eletroforese é tão sensível que se podem detectar prote ínas que só diferem em um aminoácido de um total de várias centenas que as constituem. O grau de purificação almejado esta relacionado à aplicação do produto. No mercado estão disponíveis tanto preparações pouco purificadas, para uso técnico ou industrial, como preparados de alto grau de pureza para uso analítico ou farmacêutico. 11. Referencias Bibliográficas AQUARONE, Eugênio; BORZANI, Walter; ALMEIDA LIMA, Urgel de; SCMIDELL, Willibaldo. Biotecnologia industrial. Volumes 1, 2, 3 e 4. CHAMPE, Pamela C. & HARVEY, Richard A. - Bioquímica Ilustrada. Artes Médicas. Porto Alegre, 1997. pp 126-131. LEHNINGER, Albert L; NELSON, David L.; COX, Michael M. Principios de bioquimica. 4. ed. São Paulo: Sarvier, 2006. STRYER, Lubert. Bioquímica. Rio de Janeiro:Guanabara Koogan,1996. VOET, Donald; VOET,Judith G. Bioquímica. 3. ed. Porto Alegre: ARTMED, 2006. 1596p.
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