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HISTÓRIA DA ANTIGUIDADE CLÁSSICA: GRÉCIA E ROMA
CAPÍTULO 4 - COMO ERA A VIDA NO IMPÉRIO ROMANO?
Bruna Campos Gonçalves
INICIAR
Introdução
Uma nova era se inicia na história de Roma, em meio a um tumultuado conflito político e social, em que a República Romana sofre um baque e perde espaço para uma nova política que estava se consolidando: o Principado, ou, como se convencionou chamar, o Império. A expansão romana iniciou durante o período republicano, mas foi no Império que as fronteiras foram delimitadas e estendidas aos limites conhecidos do mundo romano antigo. Não podemos dizer que a cultura romana seja estática, pois ela foi se modificando ao longo do tempo e ganhando novos elementos, novas características, bem como o contato com diferentes religiões e com outras culturas, influenciado, assim, toda a sociedade romana, em seus diferentes âmbitos: político, cultural, militar e econômico. Contudo, como era a vida nesse período? Como eram as características dessa nova política? Como o cristianismo se estabeleceu? Como foi a relação de Roma com os outros povos? O que aconteceu com esse grande Império? Essas são só algumas perguntas que ficam em nossa mente quando estudamos Roma e seu vasto território. Da dinastia júlio-claudiana à fixação dos reinos bárbaros, Roma vivenciou grandes momentos, como o nascimento do cristianismo, que veio a influenciar e modificar todo o pensamento ocidental e oriental. Vejamos um pouco mais dos séculos de ouro de Roma, seu grande território e sua cultura a partir de agora.
4.1 O Império e a dinastia júlio-claudiana: o século de ouro e o cristianismo
Júlio Cesar, maior personagem político e militar da República Romana, teve grande destaque na sociedade, sendo o único, com exceção do Senado, frente ao governo de Roma. Sua política, inclusive, formou as bases do sistema que, a partir de seu herdeiro, Otávio, viria a ser chamado de Principado Romano (JOSÉ, 2016).
O período imperial abarca todo o Principado Romano e o Dominato, perdurando da ascensão de Otávio Augusto (ou só Augusto, como ficou conhecido) no século I a.C., até meados do século V d.C., quando os reinos bárbaros começam a se instalar na parte ocidental do território (GARRAFONI, 2006). 
Durante esse período, Roma chegou a sua maior extensão, da Britannia a Mesopotâmia.
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Figura 1 - O mapa da expansão de Roma mostra toda a extensão alcançada pelo Império Romano no tempo de Trajano, 117 d.C.Fonte: Peter Hermes Furian, Shutterstock, 2018.
Na sequência, veremos com maiores detalhes um pouco da sociedade que administrou esse Império, sua política, sua economia e sua cultura, deixando um legado para o mundo ocidental. 
4.1.1 A estrutura política do Principado Romano
Com a república deteriorada pelos inúmeros conflitos internos, pelas discrepâncias sociais e pelas revoltas populares, só voltou a ser apaziguada no período do Principado Romano. 
Otávio, filho adotivo de Júlio César, chegou a formar um segundo triunvirato depois da morte de seu pai, com Lépido e Marco Antônio. No entanto, isso não durou por muito tempo, pois Otávio conseguiu afastar Lépido e influenciar o Senado contra Marco Antônio, que acabou morrendo. Assim, Otávio seguiu na liderança do governo ainda mais fortalecido.
A obra de Suetônio, “A Vida dos Doze Césares”, narra a biografia de Júlio Cesar e dos onze primeiros Imperadores de Roma: Augusto, Tibério, Calígula, Cláudio, Nero, Galba, Otão, Vitélio, Vespasiano, Tito e Domiciano. O livro foi escrito no século II d.C., sendo importante para o estudo do período, tanto o narrado pelo autor como o do seu próprio tempo. Vale a pena ler!
Dessa forma, o Senado confere ao filho de Júlio César uma série de títulos por sua atuação na contensão das revoltas populares e contendas civis. Entre eles, podemos destacar o de princeps, ou o primeiro entre os pares, que lhe permitia presidir o Senado. Assim, o Senado passa a ser regido por uma pessoa, iniciando uma centralização do poder que deu ensejo ao Principado (EYLER, 2014).
Aliás, os outros títulos só confirmaram essa tendência: imperator, ou comandante chefe do exército; tribuno da Plebe, com direito de falar pelo povo; Pontífice Máximo, ou chefe da religião oficial; e Procônsul, que lhe dava autoridade sobre as províncias (EYLER, 2014).
Em 27 a.C., contudo, Otávio recebe o título mais importante: o de Augusto, aproximando-o dos deuses, já que os divinos se denominavam assim. Com isso, ele se tornou a figura mais importante de Roma, centralizando o poder em sua pessoa, e não mais no Senado, que, por sua vez, perde o poder, mas não deixa de existir. 
Pensou por duas vezes em renunciar ao comando da República [...]. Mas, julgando que seria arriscado voltar a se um simples particular e que a República seria temerariamente submetida ao arbítrio de muitos, perseverou em conservar o poder. [...]. Manifestando tal propósito, por várias vezes, também o atestou pelas palavras encontradas em um certo edito seu: ‘de tal modo seja-me permitido manter a República sã e salva em suas bases e colher-lhe o fruto procurado, que me digam ser fundador do melhor regime, e morrendo leve comigo a esperança de que hão de permanecer em seus próprios eixos os fundamentos da República que terei estabelecido. (SUETÔNIO, 2004, 1-3).
Em sua obra, “A Vida dos Doze Césares”, Suetônio coloca Augusto como defensor e restaurador da res publica, mas não nos moldes da antiga república, e, sim, com um novo sistema iniciado por Augusto. Dessa forma, todos os governantes que o sucederam mantiveram o título em virtude do seu status e poder. Com isso, inicia-se o que ficou conhecido como Principado Romano.
Tibério, Calígula, Claudio e Nero sucederam a Augusto, formando o que ficou conhecida como a dinastia júlio-claudiana, governando até meados do século I d.C. (de 27 a.C. a 68 d.C.) (EYLER, 2014). De modo geral, eles mantiveram a organização política e administrativa proposta por Augusto.
Segundo Alston (1998), duas características marcantes desse período foram o fortalecimento do culto imperial e o surgimento do cristianismo primitivo.
O Principado ainda veria outros governantes no poder, como Vespasiano, Tito Flávio, Domiciano, Nerva, Trajano, Adriano, Antonino Pio, Marco Aurélio, Cômodo, Severo e Caracala, os quais são os mais conhecidos. Entre esses, temos dois grupos: os que promoveram guerras, novas conquistas e disputas com o Senado; e os que promoveram políticas mais pacificas e reestabeleceram o contato com o Senado.
A dinastia severiana ficou conhecida pelo fortalecimento do exército, pelo enfraquecimento do senado e pelos estudos jurídicos, em que, com o Edito de 212, Caracala conferiu a cidadania romana a todos os habitantes do Império (EYLER, 2014).
Vejamos um pouco mais sobre a sociedade e a cultura que permeou esse novo período da história de Roma a seguir. 
4.1.2 A sociedade e a cultura romana no Principado
A expressão usada por Virgílio (6, 851-3) em sua obra “Eneida”, quanto a “[...] poupar os que se submetem e debelar os que resistem”, mostra-nos a importância do exército romano para a ideologia imperialista do Império. Assim, podemos entender a necessidade de os soldados e os generais alcançarem, nesse momento, contando um exército profissional, permitindo que os grupos populares tivessem acesso ao processo expansionista (GUARINELLO, 1987).
Além de um momento de forte militarização, o Principado também vivenciou um crescimento econômico, juntamente ao do comércio, que passou a receber bens de diversas partes do Império Romano. Silva (2017) destaca que a formação baseada em províncias fez com que os territórios conquistados fossem supridores do Império, não só por saques e escravos de guerra, mas como pagadores de tributos ou exploração de recursos.
É possível pensar que, por serem os romanos os conquistadores, sua cultura deveria ser assimilada pelos povos dominados, sem questionamentos. No entanto, a historiografia vem questionando o conceito de romanização, em que viam os povos conquistados como incultos e bárbaros, aceitando de bom gradoa inserção da cultura romana (HINGLEY, 2005).
Esse estudo tem uma influência mútua entre romanos e não romanos, uma vez que a absorção da cultura romana não se dava suprimindo a cultura local, mas, sim, por meio de uma adaptação dos dois grupos, resultando em uma nova percepção cultural. Logo, tanto os romanos influenciaram com sua cultura como também foram influenciados. Como bem destacou Burke (2003), não existia uma fronteira cultural nítida ou firme entre esses grupos, pelo contrário, havia um contínuo cultural.
Dessa forma, percebemos que a cultura romana estava sempre ganhando novos elementos e se adaptando a novas situações, no entanto, haviam características que permaneciam. De acordo com Funari (2011, p. 94), duas grandes divisões sociais se mantiveram essenciais para os romanos: “[...] sempre houve cidadãos e não cidadãos, e livres e não livres”. Os livres eram constituídos por aqueles de nascimento ou libertos da condição de escravo, sendo que os primeiros poderiam ser ou não cidadãos, e, se não o fosse, poderia receber a cidadania, diferentemente do segundo, que somente o filho poderia recebê-la. 
A história da série “Roma” — do canal HBO, criadas por John Milius, William J. MacDonald e Bruno Heller, podendo ser encontrada também em DVD — se passa na Roma Antiga, durante a transição da república para o Império. Embora seja uma ficção, a série conta com personagens reais de registros históricos. Vale a pena se aprofundar e assistir aos episódios!
Ainda segundo Funari (2011), a sociedade era, ao mesmo tempo, caracterizada por divisões e pela possibilidade de mobilidade. Logo, um escravo podia se tornar livre, assim como um não cidadão poderia se tornar um cidadão. Não existiam barreiras intransponíveis na mobilidade social, aliás, podemos ver isso na condição dos libertos, que passam a atuar como funcionários públicos, até em altos postos, enquanto que outros enriquecem com o comércio, participando da aristocracia, mesmo com certos limites.
Foi durante o período do Principado que o latim se popularizou no mundo ocidental, influenciando todas as línguas do Ocidente. Além disso, outro elemento que começou a ganhar corpo nesse período e que depois teve forte influência na cultura ocidental foi o cristianismo.
4.1.3 O princípio do cristianismo
O cristianismo tem sua história entrelaçada com a do Império Romano, quanto ao seu princípio e a sua difusão pelo mundo.
Sobre a vida de Jesus Cristo, o pouco que sabemos está nos evangelhos — os quais foram escritos por volta de 70 d.C. — e pelos seus seguidores. Sabe-se que ele teria nascido na região da Palestina, onde se encontravam diversos povos, como judeus, samaritanos, gregos e romanos que haviam estado no local (FUNARI, 2011).
Segundo Chevitarese (2012), do ponto de vista metodológico, parece bastante claro que Jesus realmente tenha existido, ou seja, não há espaços para duvidar da sua vida. O argumento do autor é baseado nos escritos de diferentes autores, evangélicos ou não, como é o caso do historiador judeu Flávio Josefo.
Jesus foi acusado de se declarar Rei dos judeus e, em 30 d.C., foi condenado à morte por crucificação. No entanto, seus seguidores se reuniram e formaram uma comunidade de gente humilde, em memória de Jesus. Segundo Funari (2011) os apóstolos iniciaram a propagação da boa nova, o que foi ganhando adeptos de toda ordem. O mais notório dos casos teria sido a conversão de Saul, um fariseu da cidade de Tarso, que passou de perseguidor a grande propagador dos ensinamentos de Cristo, com o nome romano de Paulo (FUNARI, 2011).
O cristianismo se expandiu muito rápido para várias localidades do mundo romano, que margeava o Mediterrâneo. Contudo, não logrou muito êxito na própria região da Palestina.
Sob o governo de Nero, em 64 d.C., os cristãos sofreram as primeiras perseguições. Ainda conforme Funari (2011, p. 130), os motivos das perseguições aos cristãos não eram somente religiosos, mas políticos também:
Os cristãos realizavam sus cultos secretos, viviam em pequenos grupos e foram, nos primeiros tempos, tomados por bruxos e feiticeiros, na medida em que recusavam mostrar respeito pelos deuses romanos. Além disso, os cristãos, monoteístas, não reconheciam a divindade do imperador e não aceitavam o culto a ele e ao Estado, sendo considerados uma ameaça à segurança do Estado romano. 
Assim, a tolerância que mostrou por outras religiões dos povos dominados não existiu com o cristianismo, que sofreu perseguições por mais de dois séculos. Aliás, os Imperadores viam na negação ao culto uma ameaça à ordem, de forma que condenaram muitos às feras e à crucificação.
Mesmo com tanta perseguição, o cristianismo permaneceu vivo, atraindo muita gente, difundindo-se por todo o território romano e para além de suas fronteiras. Funari (2011), inclusive, credita a pregação da salvação e da ressurreição da alma ao existo do cristianismo.
Como podemos notar, a sociedade romana e sua cultura eram riquíssimas e ganhavam cada vez mais novos elementos, contudo, a questão de como era o cotidiano dessas pessoas ainda permanece. Na sequência, vejamos mais sobre o dia a dia de um romano e como eles viam a sexualidade.
4.2 A vida privada na sociedade romana: imaginário, cotidiano e sexualidade
Agora que já estudamos sobre os grandes acontecimentos políticos e militares, bem como os grandes feitos de algumas personalidades, podemos questionar: como era a vida dos romanos no dia a dia?
Pouco sabemos sobre as populações menos abastadas ou que não estiveram no cenário político ou militar, uma vez que os autores antigos e tradicionais não abordam esse tema. Contudo, para alcançar as camadas mais populares, ou dos excluídos, os estudiosos recorrem a obras literárias, como os textos satíricos e as comédias, além de documentações arqueológicas (SILVA, 2017).
A partir de agora, estudaremos o que a historiografia nos traz sobre o cotidiano romano, desde a religião presente no imaginário popular, perpassando como as mulheres e a sexualidade eram tratadas, até chegar nos elementos e nas características próprias do mundo romano.
4.2.1 Religião e imaginário 
A religião romana tinha suas características próprias, e, ao mesmo tempo que se caracterizava por um tradicionalismo, também era possível encontrar uma maleabilidade ao assimilar as novidades de outras religiosas (EYLER, 2017).
Com claras influências das crenças etruscas e gregas, a religião romana era politeísta e antropomórfica, ou seja, acreditava em várias divindades e poderia atribuir a elas aspectos humanos e animais. Além disso, uma característica dos romanos eram respeitar a cultura local de onde dominavam, assim como também acontecia com as religiões, em que cultos a outros deuses eram incorporados pelos romanos. O caso mais notório é, sem dúvida, a incorporação de alguns dos deuses gregos no panteão romano, que, com nomes latinos, possuíam os mesmos atributos das divindades gregas.
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Figura 2 - O antigo templo romano Pantheon era dedicado a todos os deuses romanos. Hoje, fica localizado na cidade de Roma, sendo uma igreja católica.Fonte: Taras Vyshnya, Shutterstock, 2018.
De acordo com Funari (2011, p. 114-115), “[...] a flexibilidade religiosa dos romanos, o respeito a outras religiões e a facilidade de incorporá-las foi um fator importante em sua capacidade de dominar povos tão variados e uma área geográfica tão grande”. O fato de Roma não impor sua cultura ou sua religião sobre os povos dominados, mas, sim, respeitar os cultos locais, foi importante para que conseguisse manter um vasto território.
Embora houvesse a política de respeitar a cultura local, não significava que os povos dominados não tinham nenhum compromisso com Roma, uma vez que haviam alguns pontos que deveriam ser seguidos. Durante o Império, por exemplo, a religião oficial ganhou um novo elemento cívico: o culto ao imperador, que deveria ser respeitado. Durante os três primeiros séculos, interligou-se as elites nas diversas áreas do Império.
Além disso, haviam diferentes formas dos romanos expressaremsua religiosidade, tanto em ambiente privado quanto em cenário público. A devoção dos romanos podia vir como oferenda nos templos e aos deuses lares; no âmbito particular, em santuários domésticos; e, também, em procissões, rezas e sacrifícios públicos (FUNARI, 2011).
Já o contato com outras religiosidades propiciou a difusão no Império Romano de diversos cultos orientais, voltados para a mulher, para os libertos e aos livres humildes em geral.
Assim, podemos observar que a religião fazia parte da vida dos romanos, assim como da vida política, com o governante do Império como Pontífice Máximo, além de cultos cívicos aos Augustos. Vale ressaltar, inclusive, que a mulher tinha seu espaço dentro da religião romana, assim como na sociedade, embora não desfrutasse de nenhum direito político.
4.2.2 A mulher na sociedade romana
Atualmente, o interesse pela participação da mulher cresceu. Com isso, buscou-se novos elementos que nos permitem compreender o universo feminino em Roma, uma vez que novos documentos foram agregados ao estudo, além da legislação, das obras literárias e dos vestígios arqueológicos analisados (FEITOSA, 2008).
O estudo dessas documentações nos permitem perceber que a mulher romana tinha uma situação mais favorável do que as gregas, mas, de maneira geral, também não tinham direitos políticos e, consequentemente, dependiam de seus familiares (SILVA, 2017).
Muitos poderiam ser os papéis femininos na sociedade romana, desde a matrona, representação da mulher da elite; até as livre de nascimento, libertas ou escravas, ou seja, as mulheres das classes mais populares (D’AMBRA, 2007).
Atuando em seus lares — ou em atividades como taberneiras, tecelãs, vendedoras, cozinheiras, perfumistas, enfermeiras, entre outras —, era bastante comum que as mulheres dos grupos populares participassem da vida social romana.
Enquanto os escravos romanos poderiam alcançar posições de destaque caso tivessem alguma habilidade ou educação, as escravas não contavam com essa sorte, uma vez que tinham seu destino posto pelo seu senhor. Em geral, elas eram destinadas aos serviços domésticos, mas poderiam ser encaminhadas as funções de parteira, atriz, prostituta ou, ainda, agricultora (POMEROY, 1989).
Segundo Pomeroy (1989), os casamentos em grupos mais populares eram menos controlados pelos pais, de forma que era mais provável acontecer um casamento pelo desejo dos noivos. Já nas classes mais altas, onde os casamentos eram arranjados, isso não era frequente. Além disso, era esperado das mulheres, filhos que perpetuariam a família e o nome do pai. 
A mulher em Roma conseguiu se impor de algumas formas. Ela conseguiu, em muitos momentos, colocar-se na questão reprodutora, em que inseriu métodos contraceptivos, contrariando a sociedade que exigia que ela reproduzisse livremente. Para saber mais sobre o assunto, vale a pena procurar o texto de Aline Rousselle, denominado “A Política dos Corpos: entre procriação e continência em Roma”, contido no livro “História das Mulheres – A Antiguidade”.
Por outro lado, temos as mulheres da elite, que possuíam uma vida voltada ao lar, mas o que não significa que elas estavam restritas a ele ou não participassem da vida social da cidade, como aconteciam com a mulheres gregas. De acordo com Feitosa (2008), embora a mulher não tivesse direito ao voto, ela poderia participar das discussões políticas. Nas palavras do autor, a casa integrava o espaço tanto privado quanto público, sendo que havia uma área reservada para a família, outra para receber a sociedade. Dessa forma, podemos supor que as mulheres estavam mais próximas das discussões políticas do que o imaginado.
Além das questões femininas, os romanos também lidavam com as relações sexuais na antiguidade de forma diferente, visto que encontramos hoje muitas representações. 
4.2.3 A sexualidade na Roma Antiga
Segundo Feitosa (2008, p. 128), a expressão “sexualidade” só começou a ser empregada no século XIX, no entanto, sua utilização é “[...] apropriada por considerar como os valores culturais interferem na maneira como as pessoas se relacionam com o próprio corpo, com seus desejos e sentimentos”. Assim, ao estudarmos a sexualidade na Roma Antiga, estamos falando dos valores que aquela cultura dava para o corpo humano, bem como para os seus desejos sexuais e seus sentimentos afetivos.
Muitas representações eróticas podem ser encontradas no mundo romano, desde inscrições e imagens em paredes até esculturas. Em muitas casas e prédios, inclusive, é possível encontrar representações de falos, como as da figura a seguir.
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Figura 3 - A imagem do falo estava ligada em afastar mau olhado ou trazer boa sorte, nada tendo a ver com a reprodução pornográfica. Fonte: Isabel Eve, Shutterstock, 2018.
Considerando nossa mentalidade judaico-cristã, por muito tempo essas imagens foram consideradas sinal de devassidão ou, até mesmo, de um gosto exacerbado pela pornografia. Contudo, estudos recentes defendem que essas referências vão além da alusão ao erotismo, assumindo, também, conotações religiosas, satíricas, humorísticas, apotropaicas (que tem o poder de afastar a má sorte ou qualquer tipo de maleficio) “[...] ou simplesmente mostravam-se como um componente agradável e natural da vida” (FEITOSA, 2008, p. 130).
Assim, podemos ver os romanos lidavam com naturalidade as representações fálicas e até denotavam a elas a boa fortuna e a fertilidade. Aliás, podia-se encontrar esses símbolos em parede de casas, pingentes, cruzamentos, anéis etc. De acordo com Funari (2011), justamente por conta dessa naturalidade, as relações sexuais eram vistas como abençoadas e propiciatórias, inclusive quando referida oralmente.
A desafetação com que lidavam com as relações sexuais permitia que os romanos vissem com a mesma naturalidade as relações entre dois homens, sem criar categorias sexuais especificas para tanto, pois essa relação era natural e compatível, assim como não era excludente a relação entre duas mulheres. O que era condenável para os romanos era se fazer passar por alguém do outro sexo, e não o de manter relações com pessoas do mesmo sexo, seja ativamente ou passivamente (FUNARI, 2011).
Passamos, agora, para o estudo do cristianismo na sociedade romana, desde seu início até sua consolidação e propagação por todo o território romano e mesmo fora de seus limites. 
4.3 O cristianismo: os primeiros cristãos
A história do cristianismo está ligada de muitas maneiras ao Império Romano, afinal, do seu nascimento, estruturação e propagação muitos foram os percalços da nova religião.
A princípio, ele não contou com a aprovação imperial, sendo longamente perseguido pelos governantes de Roma, mas a situação não impediu que o cristianismo se desenvolvesse e ganhasse adeptos — inicialmente, os mais humildes, mas, conforme foi se estabelecendo, os mais abastados também se converteram (FUNARI, 2011).
Constantino, ao se converter ao cristianismo em 312 d.C., sessou com as perseguições, permitido que Cristo fosse reverenciado, sem mais represálias. De acordo com Veyne (2011), foi um dos atos mais audaciosos já cometidos por um Imperador, uma vez que somente 10% da população romana era cristã, e o restante ainda cultuavam os deuses. No entanto, sua atitude também mudou os rumos da história do cristianismo.
4.3.1 Os deuses e o cristianismo na antiga Roma
A religiosidade romana era maleável e inclusiva, logo, não tinha problemas com outros deuses sendo cultuados em seu território, desde que o culto ao Imperador — estivesse ele vivo ou morto — fosse respeitado. Dessa forma, era possível encontrar uma grande diversidade religiosa no Império Romano, sendo que novos cultos foram aceitos ou tolerados, o que não veremos com o cristianismo.
Muitos cultos orientais adentraram no Império Romano com muito sucesso, tidos como cultos de mistérios, os quais ofereciam segurança, salvação, imortalidade e meios para alcançar tudo isso. Nas fileiras do exército romano, vemos crescer o culto a Mitra, de origem persa e conhecido como mitraísmo, em quea felicidade de cada um dependia do comportamento que tivesse nesse mundo. O Imperador Juliano, inclusive, buscou reavivar esse culto no século IV d.C., quando o cristianismo já estava popularizado e enraizado na política imperial (BARNES, 1998).
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Figura 4 - Os templos de culto a Mitra eram subterrâneos, e o sacrifício de bois era comum durante o ritual.Fonte: marcovarro, Shutterstock, 2018.
Por três séculos os cristãos foram perseguidos, jogados aos leões e condenados a morte, mas foi nesse período que o cristianismo conseguiu se popularizar entre as camadas mais populares, ganhando muitos mártires, exemplos da conduta cristã que serviram como referências. No terceiro século da Era Cristã, é perceptível uma mudança nesse cenário, em que o cristianismo chegará aos altos escalões, com destaque para o próprio imperador.
De acordo com Veyne (2011), o cristianismo suscitava um vivo interesse ou uma violenta reação, e muito se devia por sua originalidade, por seu dinamismo e por seu senso de organização. No entanto, é com a conversão de Constantino que o triunfo se faz palpável.
Constantino, com o edito de Milão, acabou com a perseguição aos adeptos de Cristo, aceitando a nova religião, o que nenhum outro governante tinha feito até então. Além disso, também utilizava seus símbolos, como é o caso da batalha da ponte Mílvio, em que desenhou cruzes nos escudos dos soldados antes de irem para o encontro com o inimigo (VEYNE, 2011).
Mesmo com a conversão de Constantino, a maioria no Império ainda cultuava os deuses, assim que as duas religiões conviveram por mais alguns anos, pelo menos até a religião cristã se tornar oficial no governo do Imperador Teodósio (VEYNE, 2011).
Contudo, como será que era o cristianismo na época da conversão de Constantino? Era como conhecemos hoje? As respostas para essas perguntas serão encontradas na sequência!
4.3.2 O cristianismo ou cristianismos existentes nos primeiros séculos de sua História
Como sabemos, a interação entre os não cristãos e os cristãos se deu de forma intensa nos primeiros séculos do cristianismo. Ao longo desse período, mais intensamente no final do século III d.C. e IV d.C., notamos uma pluralidade, havendo várias interpretações para os textos evangélicos (PAPA, 2013).
De acordo com a historiadora Papa (2013), durante esses séculos, desenvolveram-se várias discussões teológicas que fomentaram o panorama político-religioso da época. As reuniões eclesiásticas podiam se dar em âmbito regional com os sínodos, onde reuniam sacerdotes, bispos e diáconos próximo a cidade sede; ou em maiores proporções, com os concílios, tendo religiosos de todo território romano no encontro, bem como temas de grande magnitude, que podiam contar com a presença do Imperador, inferindo nas questões dogmáticas do credo cristão.
Assim, não podemos nos referir a uma unidade cristã no século IV d.C., pois muitas contendas estavam postas, estabelecendo uma disputa para saber aquela que seria a oficial, ou melhor, a que se estabeleceria como ortodoxa.
Entretanto, em 325 d.C., em Nicéia, um importante concílio aconteceu com a presença do Imperador Constantino. Com isso, o Imperador definiu a ortodoxia, e, embora as contendas cristãs não tenham cessado depois da escolha do governante, o dogma definido naquele momento foi o que marcou o catolicismo que conhecemos (PAPA, 2013).
As outras doutrinas foram consideradas heréticas e posteriormente heterodoxas, uma vez que surgiram não de uma vontade de se fazer uma nova religião, mas, sim, a partir de uma dissidência teológica dentro do próprio cristianismo, ou seja, foram pensadas e formuladas por um sacerdote cristão. Além disso, os sínodos e o concílio, muitas vezes, buscaram um consenso em sua doutrina sobre Deus e Cristo.
Entre as controvérsias mais conhecidas, podemos citar o arianismo, o nestorianismo, entre outras tantas que tiveram lugar nesse momento, além dos debates que giravam em torno dos dogmas. Enquanto o arianismo discutia a divindade de Cristo, o nestorianismo debatia a virgindade de Maria, e, assim, as outras controvérsias tinham uma contenta dogmática, sendo que cada uma buscou o apoio do Imperador.
Isso nos mostra como a política e a religião estavam interligadas, mesmo após a aceitação do cristianismo pelos governantes.
O dogma niceno foi o que teve o apoio de Constantino no concílio de Nicéia, o qual, diferentemente do arianismo, acreditava que o Pai, o filho e o Espírito Santo eram feitos da mesma substancia, formando o dogma trinitário (PAPA, 2013).
As contendas não cessaram com isso, mas a escolha do conselho de Nicéia prevalece e é reforçada no concílio de Constantinopla, em 381 d.C., quando Teodósio torna o cristianismo a religião oficial do Império.
Ao estudar o cristianismo antigo em sala de aula, uma professora resolveu aprofundar a temática e mostrar que a religião não foi uno em nenhum momento de sua história. Para isso, ela pediu para que cada estudante citasse pelo menos uma religião cristã que conhecesse da atualidade, das quais muitas apareceram, como a católica, a protestante, a universal, o espiritismo etc.
Após esse levantamento, a professora continuou seu questionamento perguntando o que elas tinham em comum. Embora tivesse aparecido várias respostas, a classe concordou que era a crença em Cristo, em sua vida e em seus ensinamentos. Assim, o evangelho era a base de todas essas religiões. Contudo, o que as diferenciavam?
Conforme os educandos foram falando as diferenças, foi possível entender as diferentes formas de interpretação do texto evangélico, levando-os a refletirem quanto a esse processo.
Dessa forma, podemos entender melhor quanto ao cristianismo, contudo, é necessário, também, estudarmos quanto a sua institucionalização e a formação da igreja, o que prevalecerá por muitos anos. 
4.3.3 A institucionalização da religião cristã
Constantino foi o primeiro governante de Roma a abraçar o cristianismo, e todos os Imperadores que o seguiram, com exceção de Juliano (363-364 d.C.), foram cristãos.
Em 381 d.C., no concílio de Constantinopla, o Imperador Teodósio I oficializa o cristianismo com o edito de Tessalônica, passando a conceder inúmeros privilégios aos cristãos: “[...] escolhia entre os principais dignitários do Império; confiava aos bispos uma parte da administração das cidades e perseguia implacavelmente os pagãos.” (FUNARI, 2011, p. 132), palavra pejorativa para definir os que acreditavam na antiga religião.
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Figura 5 - A extensão que o cristianismo alcançou dentro da hierarquia política do Império Romano foi imensa.Fonte: mountainpix, Shutterstock, 2018.
Com a política de Teodósio, o culto aos antigos deuses foi proibido e combatido, mesmo que persistisse por muitos séculos em algumas áreas, como a rural. Segundo Funari (2011), o cristianismo espontâneo dos primeiros tempos deu lugar a um cristianismo administrado pelos poderosos, em que é possível ver a formação das estruturas hierárquicas da Igreja, centrada nos bispos e, nesse momento da história, no centro do poder político.
Nas palavras de Veyne (2011, p. 66), podemos ver a extensão do cristianismo dentro do poder imperial romano:           
O tempo tinha feito sua obra, o cristianismo se tornara a religião tradicional do trono. Por tradição dinástica e por convicção religiosa, sem qualquer dúvida, mas também porque as duas religiões eram dissimétricas: o paganismo era autossuficiente, o cristianismo era prosélito, exclusivo, exigente desde que passou a deter uma parcela de poder. Para viver em paz, melhor era viver do lado dos bispos do que do lado dos pagãos.
Podemos averiguar, dessa maneira, que o cristianismo foi um dos elementos fundamentais para as mudanças político-sociais ocorridas nos séculos III d.C. a VII d.C., e que viriam a transformar todo o mundo antigo, abrindo caminho para novos rumos.
Mais tarde, em conjunto com outros elementos possíveis de identificar na sociedade romana, o Império Romano se desintegrou politicamente, mas influenciou todos os povosque o seguiram. Vamos estudar a seguir esse assunto!
4.4 O colapso do Império Romano: as invasões germânicas e a crise do sistema escravista
A extensão do Império Romano, a constante necessidade de soldados para a proteção das fronteiras, as poucas campanhas de conquista e, consequentemente, os poucos escravos e os novos elementos culturais, tanto da religião quanto dos estrangeiros que passam a compor o exército e a sociedade romana, muito está acontecendo no Império. Com isso, vemos que a sociedade romana se transforma, em todos os aspectos, política, econômica, social e culturalmente.
Assim, novos elementos foram aderidos e outros permaneceram, territórios romanos foram conquistados por outros povos, que, embora admirassem a cultura romana, implantaram seu próprio governo. Dessa forma, novos reinos foram instalados no lado ocidental do Império. O lado oriental, por sua vez, manteve-se com um governo romano, passando a se chamar Império Bizantino. 
Que a atual cidade de Istambul, na Turquia, é a antiga Constantinopla? A cidade foi fundada pelo Imperador Romano Constantino, sendo que, anos mais tarde, viria a ser a capital do Império Romano Oriental ou do Império Bizantino (FRANCO JÚNIOR; ANDRADE FILHO, 1987).
A partir de agora, analisaremos os elementos, tanto internos quanto externos, que modificaram o território romano ocidental e a forma como ele se estruturou depois, com os povos bárbaros. 
4.4.1 A crise do sistema escravista
O Império Romano era enorme, englobando todo o litoral mediterrânico e além, sendo necessário para que ele se mantivesse, tanto em termos administrativos como econômicos e sociais, um grande manancial de mão-de-obra humana, não só escrava, mas bélica também.
Durante todo o período da história romana, os escravos estiveram presente, talvez não em todos os lugares e com a mesma intensidade, mas era a força de trabalho mais usada na Roma Antiga. Logo, o sistema escravista fazia parte da economia do Império Romano, que, por sua vez, sofreu um grande baque no século V d.C., principalmente com a diminuição das guerras de conquistas.
Lenski (2016) aponta uma diversidade no suprimento de escravos na Roma Antiga, como os filhos das escravas (que era fonte mais significante), as crianças abandonadas, a auto venda ou a venda do filho e, ainda, a condenação judicial. Em todos os períodos, a captura violenta representou a maior fonte de escravos para Roma.
Outro ponto destacado por Lenski (2016) é a violência que está implícita na condição do escravo, seja ele de que período for. Assim, na Roma, a violência estava presente na vida dos escravos, desde a sua captura ao seu trabalho e dia a dia, podendo, inclusive, sofrer violência sexual. Além disso, eles eram, de muitas formas, tratados como propriedades privadas, sendo que o castigo corporal era usual, a fim de manter a obediência, o trabalho e evitar revoltas. Pode-se mudar os métodos, mas a violência que ronda a escravidão é intensa em qualquer período da história.
De acordo com a historiografia, somente no século V d.C. houve uma estagnação do sistema escravista, que se viu sem muitos recursos por conta da desestruturação política do período e pelo fim das guerras de conquista (LENSKI, 2017). Isso acabou desestruturando a economia romana, tanto na agricultura quanto no comércio e, consequentemente, no balanço do Império Romano.
Outra questão bastante presente na sociedade romana do final do século III d.C. ao VI d.C. foi o grande número de estrangeiros. A seguir, analisaremos como era a relação entre os romanos e os que eles chamavam de “bárbaros”.
4.4.2 A relação entre romanos e outros povos
O século IV d.C., e os que o seguiram, foram marcados por inúmeras guerras e conflitos com povos vizinhos, principalmente para defender as fronteiras do Império Romano. Assim, ele se via cada vez mais precisando de recursos humanos para as fileiras do exército, as quais podiam ser preenchidas com soldados de outros povos, que poderiam adentrar na força bélica romana como um soldado ou ser recrutadas tropas inteiras de outros povos, conhecidos como foederati (GONÇALVES, 2016).
Com isso, podemos dizer que havia uma grande interação dos romanos com os outros povos — sejam lutando lado a lado ou em lados opostos —, estabelecendo contatos que possibilitaram um intercâmbio cultural. Além disso, essa ocorrência era feita em mão dupla, pois tanto os romanos foram influenciados pelas culturas alheias como os outros povos também tiveram influência romana (GONÇALVES, 2016). 
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Figura 6 - Os Legionários Romanos mostram sua glória sobre os outros povos. A escultura está no Arco de Constantino, construído em 315 d.C. Fonte: Bill Perry, Shutterstock, 2018.
A relação dos romanos com outros povos não foi pacifica ou tranquila, mas podemos dizer que eles tiveram grande participação na vida política, econômica e cultural do Império Romano. Ascenderam a cargos dentro da política e do exército, chegando até a magister militum, ou seja, generais do exército. Com isso, no século IV d.C., puderam escolher os futuros imperadores, como foi o caso de Joviano e Valentiniano I (GONÇALVES, 2016).
A diplomacia com os povos vizinhos também era utilizada, uma vez que os romanos podiam chegar a acordos em que ambos os lados saiam beneficiados. Muitos desses tratados envolviam enviar uma tropa para auxiliar o exército romano na defesa de seu território.
Além disso, há historiadores que acreditam que entrada dos bárbaros no Império Romano desestruturou-o irremediavelmente, no entanto, há os que defendam que a entrada dos estrangeiros permitiu um enriquecimento cultural do período, sendo que não foram a causa principal do Império perder sua primazia político geográfico da parte ocidental (GONÇALVES, 2013).
De acordo com “De rebus Bellici”, obra anônima do século IV d.C., os ditos bárbaros tinham maior criatividade para os engenhos de guerra, sendo que os romanos podiam aprender com eles.
Edward Gibbon foi um historiador inglês do século XVIII d.C. Sua obra mais expressiva foi “A História do Declínio e Queda do Império Romano”, que acabou se tornando um clássico. Escrita em seis volumes, o autor buscou mostrar a sociedade romana e o que a levou ao declínio. Ainda hoje, o livro gera muitas discussões, havendo quem o critique e aponte outros caminhos; mas havendo, também, aqueles que concordam com as ideias do autor.  
A desestruturação do Império Romano do Ocidente muito provavelmente se deu por uma combinação de fatores, e não por uma causa única, já que houveram muitas transformações na política, na administração, na economia, na cultura e na sociedade em geral. A parte ocidental, mesmo com uma nova configuração geográfica e política, não deixou de ter uma grande influência da cultura e sociedade romana. Contudo, também podemos encontrar vestígios da cultura romana. 
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Figura 7 - O mapa antigo dos reinos bárbaros nos dá uma visão de como o território romano se dividiu entre os povos.Fonte: Marzolino, Shutterstock, 2018.
Godos, Visigodos, Francos, Saxões, Bretões e Alamanos foram alguns dos povos que dominaram a região ocidental, a qual hoje chamamos de Europa, mas que um dia havia sido de domínio romano.
Cada povo desenvolveu sua própria política, economia e cultura, sendo que já estavam familiarizados com o cristianismo e convertidos em muitos casos. Aliás, a cultura romana foi reverenciada e admirada em muitos dos povos. Um exemplo é a reprodução dos textos dos antigos romanos, que serviram de diretriz filosófica, política, administrativa e militar, como é o caso da obra de Vegécio, “Compêndio da Arte Militar”, livro de cabeceira dos reis na época medieval (GONÇALVES, 2016).
A obra de Flávio Vegécio Renato, “Compêndio da Arte Militar”, já conta com uma versão portuguesa. O autor busca, na antiga glória de Roma, elementos para aprimorar o exército romano da Antiguidade Tardia. Assim, sua obra traz elementos do exército e como este deveria se posicionar, treinar e atuar, incluindo a forma como lidar com osestrangeiros. Vale a pena a leitura!
Observamos, assim, o início da formação dos reinos que prevaleceram no período medieval e que dariam a base para as futuras nações europeias, que, após anos de história, chegou ao que conhecemos atualmente.
Síntese
Você concluiu os estudos sobre a vida no Império Romano, de questões políticas, econômicas, sociais até culturais. Com essa análise, esperamos que você se sinta apto para refletir quanto as características que marcaram os romanos do antigo Império. Dessa forma, também finalizamos a disciplina de História da Antiguidade Clássica: Grécia e Roma.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
· analisar as estruturas políticas, sociais, econômicas e culturais que marcaram o Império Romano;
· compreender o cotidiano dos romanos e como abordavam a sexualidade e a religião, além da maneira como a mulher era tratada e os deuses admirados;
· conhecer a história do cristianismo e como ele se liga a história de Roma e seu Império;
· entender os elementos que estavam presentes na sociedade romana e que permitiram sua desestruturação político-geográfica, bem como a formação dos reinos bárbaros.
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