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FILOSOFIA GERAL E JURÍDICA II 2020-1

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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU 
FILOSOFIA GERAL E JURÍDICA II APOSTILA COMPLEMENTAR - 2020 
Prof. Irineu Bagnariolli Junior 
 
1 
 
ANTÍGONA E AS ORIGENS DO JUSNATURALISMO 
 O olhar literário, desprovido do formalismo do texto jurídico, permite uma melhor representação da 
sociedade da época e de seus anseios, de modo a identificar o sentimento comum do povo, seus valores 
mais caros. Em Antígona, já observamos a busca pela aplicação de valores que antecedem a própria 
elaboração da lei positiva, desejo cada vez mais atual, em especial quando se considera os horrores 
praticados contra a humanidade sob a égide do positivismo jurídico. Pretende-se demonstrar, ao longo 
desse trabalho, que, apesar de o homem se debruçar, desde a antiguidade clássica, sobre a questão da 
validade e legitimidade das normas jurídicas, ainda não se chegou a um ponto de consenso. Na verdade, 
o que se tem observado no curso da história jurídica é que as diversas correntes que prevaleceram ao 
longo do tempo acabaram por convergir para a busca de um direito mais justo e humano, sem, entretanto, 
abrir mão da segurança jurídica, de modo que não se pode identificar, hoje, a prevalência deste ou 
daquele sistema, mas sim a aplicação conjunta dos pontos positivos que cada uma daquelas escolas nos 
deixou, em uma verdadeira visão conjuntural do direito. 
Os clássicos literários indicam que a aplicação do direito deve considerar valores que antecedem a própria 
elaboração da lei positiva e também considerar, no exame de cada caso, a sua peculiaridade própria. 
Neste contexto, Sófocles apresenta, de forma pioneira, a existência de leis não escritas, das quais não se 
sabe a origem, mas que devem legitimar a aplicação da lei positiva. A clássica peça teatral Antígona (496-
406 a.C.) serve como modelo para que se investigue os fundamentos da ordem jurídica contemporânea, 
centrada na teoria da justiça. 
Essa temática – a questão da legitimidade das leis, como condição para o estabelecimento de uma ordem 
jurídica justa – tem se colocado no centro das discussões jurídicas desde a Grécia Antiga, apenas variando 
o seu contexto de acordo com o tempo e os acontecimentos históricos. 
 
Antígona é uma tragédia grega de Sófocles (496-406 a.C), como última parte da sequência de Édipo Rei e 
Édipo em Colono, já que Antígona é filha deste. Édipo era filho do Rei Laio e foi criado sem saber que 
pertencia à casa real de Tebas, após uma profecia ter anunciado que ele mataria o pai e se casaria com a 
mãe. Ao saber do presságio, o pai de Édipo determinou que ele fosse morto, mas sua mãe, Jocasta, o 
salvou e o deu para adoção. 
Desconhecendo sua origem, Édipo acabou por cumprir a profecia, matando o pai e casando-se com a mãe, 
que também ignorava o incesto. Dessa união nasceram Etéocles, Polínice, que morreram em um duelo 
pela disputa do trono de Tebas, além de Antígona e Ismênia. 
Com a morte dos herdeiros, assumiu o trono o irmão de Jocasta, Creonte. Por ordem do novo rei, Etéocles 
foi sepultado com todas as honras, mas Polínice deveria permanecer insepulto, por ter se insurgido contra 
o poder. Antígona, que era noiva de Hêmon, filho de Creonte, insurgiu-se contra a ordem do rei e decidiu 
sepultar o irmão. Convidou, ainda, sua irmã Ismênia para participar dos rituais, mas esta não concordou. 
Foi então presa, ao concluir os ritos sagrados do sepultamento do irmão e levada à presença de Creonte, 
que a condenou à morte. 
É nesta passagem da obra que se apresenta o discurso de Antígona, tido por muitos como primeiro marco 
textual do direito natural e, consequentemente, do jus-humanismo normativo. Pela beleza da obra e sua 
importância para o estudo do direito, transcreve-se trecho do livro Antígona de Sófocles, tradução de 
Millôr Fernandes, p. 25-26: 
 
Tu o compreendeste. A tua lei não é a lei dos deuses; apenas o capricho ocasional de 
um homem. Não acredito que tua proclamação tenha tal força que possa substituir as 
leis não escritas dos costumes e os estatutos infalíveis dos deuses. Porque essas não 
são leis de hoje, nem de ontem, mas de todos os tempos: ninguém sabe quando 
apareceram. Não, eu não iria arriscar o castigo dos deuses para satisfazer o orgulho 
de um pobre rei. Eu sei que vou morrer, não vou? Mesmo sem teu decreto. E se morrer 
antes do tempo, aceito isso como uma vantagem. Quando se vive como eu, em meio a 
tantas adversidades, a morte prematura é um grande prêmio. Morrer mais cedo não é 
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2 
 
uma amargura, amargura seria deixar abandonado o corpo de um irmão. E se disseres 
que ajo como uma louca eu te respondo que só sou louca na razão de um louco. 
 
Discorrendo acerca da importância da poética para o estudo do Direito, Willis Santiago Guerra Filho, ao 
analisar, entre outras, a obra de Sófocles, aponta que esta pode ser encarada como uma chave para a 
reavaliação do pensamento teórico como um todo e, claro, para o campo do direito. E isso, afirma o autor, 
se dá pela necessidade de recuperar a faculdade da imaginação, desprezada tradicionalmente pelos 
diversos campos do conhecimento. 
O Direito sempre apresentou um vínculo transcendental, sendo inicialmente a política, com a crença na 
“superioridade da polis” como ocorria na Grécia Antiga e em Roma ou ainda, na vertente judaico-cristã, 
a divindade. Entretanto, curiosamente, a modernidade promoveu a ruptura desses vínculos do Direito 
com qualquer forma de transcendência, de modo que o fundamento das normas passou a ser, 
supostamente, as normas que lhe antecederam. 
Neste sentido, percebe-se da leitura de Antígona que não se trata de uma simples questão moral de 
enterrar o seu irmão, mas uma verdadeira insurgência de uma jovem mulher – e por esta condição 
duplamente inferiorizada na sociedade em que vivia – em face do mais velho e poderoso dos homens que 
a cercavam, ante o não reconhecimento de uma lei injustamente imposta. 
O traço comum do jusnaturalismo é a defesa da tese de que existem princípios morais e de justiça que 
são universalmente válidos – como aqueles apresentados por Antígona. Em Jusnaturalismo Clássico e 
Jusnaturalismo Racionalista: Aspectos destacados para acadêmicos do Curso de Direito, consequência, 
um sistema normativo ou uma norma só podem ser considerados “jurídicos” se forem compatíveis com 
tais princípios. Para os jusnaturalistas, a expressão “direito justo” é pleonástica, já que só é direito o que 
é justo. Por sua vez, a expressão “direito injusto” seria contraditória. 
Mas esse fundamento variava de acordo com a concepção de direito natural. A primeira linha atribui a 
Deus a criação do direito natural, já a segunda, o jusnaturalismo racionalista desconsidera a intervenção 
de Deus como necessária à obtenção da lei natural, pois esta seria resultado simplesmente da razão 
humana. 
Partes do texto foram extraídas de “o jus-humanismo normativo e as raízes fincadas na filosofia, grega: 
Antígona de Sófocles e a prevalência do direito natural sobre o direito positivo” de Madja de Sousa Moura 
Florencio. 
CONCEPÇÃO DE DIREITO E JUSTIÇA EM ARISTÓTELES 
Analisando a concepção de Aristóteles acerca do direito, ele concebe, já, a relação entre os planos natural 
e legal como dualismo assimétrico entre direito natural e direito positivo. Segundo Aristóteles, natural é 
a parte que tem a mesma força onde quer que seja e não existe razão dos homens pensarem deste ou 
daquele modo (é universal e estabelece o que é justo e injusto em si mesmo, independente do que a pólis 
estabelece), e legal é a parte que de início é indiferente mas deixa de sê-lo depois que foi estabelecida (é 
caracterizado pela sua validade particular e ao fato de referir-se a condutas que se não fossem 
regulamentadas seriam indiferentes – os comportamentos ganham qualidade de bons ou maus à medida 
em que são estatuídos). 
Assim, surge um problema apenas quando a dimensão legal extrapola o âmbito próprio de 
regulamentaçãoe se volta para um comportamento que foi estabelecido como bom ou mau em si mesmo 
pela dimensão natural. Se isso acontecer ou a dimensão legal corresponde àquilo que está prescrito pela 
dimensão natural e assim o direito legal é válido, ou ocorre uma divergência no modo pela qual a 
dimensão legal e a natural regulam o comportamento e em assim sendo o direito positivo é inválido. 
Para Aristóteles, há uma inscrição da justiça na virtude, seria uma virtude completa, da comunidade, a 
justiça se aproxima da virtude, mas não se confunde com ela. A justiça seria então a virtude que envolve 
a relação com o outro, não envolve somente o indivíduo que age. Assim, a justiça só existiria em seu 
sentido virtuoso dentro da pólis e estaria relacionada ao âmbito da práxis, no qual a ação é um fim em si 
mesmo. 
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Portanto, a justiça política é encontrada entre os homens que vivem em comum tendo em vista a 
autossuficiência, ou seja, homens que são livres e iguais; fora da pólis o homem se encontra em 
necessidade. Além disso, Aristóteles também distingue a política em sentido lado e sentido estrito. O 
sentido lato (genérico) seria a adequação do comportamento ao que é prescrito em termos de virtude e 
o sentido estrito (específico) relaciona a justiça com igualdade, distinguindo-a em: justiça distributiva, 
situação na qual as figuras envolvidas contam, há de se considerar mérito ou demérito para a distribuição 
e a desigualdade é determinante; e justiça comutativa, em que as figuras não contam, desconsidera-se as 
especificações dos indivíduos para que haja justiça e a desigualdade não é determinante. 
Para Norberto Bobbio, as características essenciais da concepção antiga/aristotélica são: 
1. Entre a sociedade originária (a família) e o estado civil ou político não há uma relação de contraposição, 
mas sim de continuidade ou de desenvolvimento, essa passagem da sociedade originária ao estado civil 
não decorre, então, de uma convenção, mas de causas naturais, como o adensamento populacional, 
necessidade de defesa, exigência de se assegurar os meios necessários de subsistência etc. 
2. As relações existentes no estado de natureza são relações hierárquicas, tais como as entre pai e filho e 
as entre senhor e escravo. 
3. O princípio de legitimação da sociedade civil ou política é a necessidade e não a convenção. 
E as características essenciais da concepção moderna são: 
1. A relação entre o estado de natureza e o estado civil ou político é uma relação de contraposição, ou 
seja, o estado civil ou político surge como a antítese do estado de natureza, já que este é caracterizado 
como sendo uma situação apolítica e em alguns casos antipolítica. 
2. Os elementos constitutivos do estado de natureza são supostos como indivíduos singulares e não 
associados e são concebidos como livres e iguais. 
3. O princípio de legitimação da sociedade civil ou política é o consenso, decorrente de convenções e não 
necessidades. 
RESUMO OBJETIVO DA AULA: 
Em Aristóteles observamos uma clara distinção (princípio da dualidade) entre duas abordagens do direito 
como justiça: JUSTO LEGAL (díkaion nomikon) X JUSTO NATURAL (díkaion puysicon). 
Assim, o direito natural estaria vinculado a valores éticos e morais decorrentes da natureza humana. Esses 
valores podem se apreendidos através dos costumes e tradições, princípios morais que estimulam os 
cidadãos a viver em paz e harmonia, na busca coletiva do bem comum, como por exemplo, nas cidades 
gregas (Pólis). 
Nesse sentido, para Aristóteles, o direito natural deve ser a base para elaboração das leis formais, uma 
vez que como vimos anteriormente, as leis naturais, são anteriores e superiores as leis humanas positivas. 
As leis formais devem, portanto, ser decorrentes dos princípios de direito contidos no direito natural. Só 
assim serão JUSTAS. 
Aristóteles associa o conceito de justiça a dois elementos fundamentais: a igualdade e a prudência: 
a) Por igualdade, Aristóteles compreende a ideia de dar a cada um o que é seu, o que lhe é devido. 
Essa igualdade obedece, porém, a uma simetria encontrada nas leis da matemática, isto é, nas 
PROPORÇÕES. Em outras palavras, dar a cada um o que lhe é de direito, não significa dar a todos 
a mesma “quantidade”, ou “qualidade” de direitos. “Dar aos iguais na medida de sua igualdade, 
e aos desiguais na medida de sua desigualdade”, significa estabelecer uma distribuição 
“geométrica” (calculada de acordo com cada um) de direitos adequada as necessidades básicas 
de cada ser humano, na medida em que as necessidades e expectativas destes são diferentes. A 
desigualdade decorre quase sempre de uma distribuição não proporcional de direitos. 
b) Por prudência ou equilíbrio, Aristóteles entende a ação humana baseada no termo médio, entre 
os extremos. Esta seria a verdadeira VIRTUDE. Assim, como no exemplo que citamos, a coragem 
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é uma virtude, porém o excesso de coragem transforma-se em imprudência, colocando em risco 
a vida do cidadão, e daqueles com quem convive. Da mesma forma, da falta ou ausência de 
coragem decorre a covardia, que é tão prejudicial quanto a imprudência. 
A justiça, portanto, busca a virtude e a igualdade, elementos que permitem, segundo Aristóteles, que 
a vida na Polis possa realizar-se em paz e colaboração mútuas. Para isso é necessária a existência das 
leis formais (direito positivo), que estabeleçam o “justo legal”. A lei formal possui força não natural, 
mas fundada na convenção, e por isso deve exprimir os princípios de direito, baseados no 
jusnaturalismo, e na concepção aristotélica de justiça. Para Aristóteles, as leis formais são ainda mais 
importantes porque, desde que justas, regulam a vida na Polis. O respeito à lei corresponde ao 
respeito a todos. 
Quanto à justiça, baseada nos princípios do direito natural, podemos dividi-la em três formas diferentes, 
a saber: 
 Justo distributivo - distribuição da justiça através da ação e das políticas públicas do Estado. 
Igualdade de caráter proporcional. A conjunção dos interesses da comunidade deve-se fazer da 
maneira mais equitativa possível. Tipo geométrico, proporcionalidade. Dar aos iguais, e aos 
desiguais, o que lhes é de direito. 
 Justo particular corretivo – juízo corretivo nas relações entre indivíduos. Trata-se de uma justiça 
apta a fazer reparação nas relações. Presidir a igualdade nas trocas e demais relações bilaterais. 
Sem mérito. Não é geométrico. Não se deve responder com injustiça a uma injustiça. 
 
 Justiça particular reparativa - aplica-se a reparação da situação anterior das partes que se 
encontravam em relação, a saber, a justiça particular corretiva reparativa que cumpre função 
primordial no âmbito das interações involuntárias. É a necessária medida de restituição a 
situação em que se encontravam aas partes, antes que se fizesse entre elas uma desigualdade 
involuntária. 
 
TEORIA JUSNATURALISTA 
INTRODUÇÃO 
Direito Natural começa a ser divulgado, colocando-se como instrumento teórico de luta contra a ordem 
medieval. Depois da derrocada de tal ordem, o paradigma do Direito Natural foi, pouco a pouco, sendo 
abandonado nas discussões dos filósofos do Direito, na medida em que o Estado Burguês se implantava 
após a Revolução Francesa. Era o momento de ascensão do capitalismo. Antes, de acordo com o ideário 
iluminista, exaltava-se a “razão” ao ponto de as bibliotecas jurídicas estarem abarrotadas de livros de 
Direito Natural, reservando pouco espaço ao direito vigente e ao direito comparado. 
Tércio Sampaio Ferraz Jr. observa que “em todos os tempos, o direito sempre fora percebido como algo 
estável face às mudanças do mundo, fosse o fundamento desta estabilidade a tradição, como para os 
romanos, a revelação divina na Idade Média, oua razão na Era Moderna”. Para a consciência social do 
século XIX, a mutabilidade do direito passa a ser o usual: a ideia de que, em princípio, todo direito mude 
torna-se a regra, e que algum direito não mude a exceção. Esta verdadeira institucionalização da 
mutabilidade do direito corresponderá ao chamado fenômeno da positivação do direito. 
Na França, o Código de Napoleão foi a consagração das conquistas da Revolução Francesa e serviu de 
pedra angular a toda postura positivista. Através da Escola da Exegese, houve a redução do direito à lei. 
Mas a lei não dava conta da realidade, como foi percebido através dos problemas de lacuna do direito, 
obscuridade ou mesmo inadequação e desuso. 
 
a) Jusnaturalismo na antiguidade 
O Direito tem como uma de suas naturezas as leis naturais, advindo com a criação da sociedade, como 
normas, consideradas divinas, pela qual os homens estariam subordinados. Será no pensamento grego, 
que encontraremos a ideia da existência de um Direito, baseado no mais íntimo da natureza humana, 
como ser individual ou coletivo. Acreditavam alguns pensadores, que existe um "direito natural 
permanente e eternamente válido, independente de legislação, de convenção ou qualquer outro 
expediente imaginado pelo homem". 
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Diversas ideias começam a ser desenvolvidas a partir deste momento, e como são as idéias, que 
direcionam as mudanças, produto do conflito de interesses opostos, passemos a analisá-las, começando 
por Heráclito, será o melhor expositor da doutrina panteísta da razão universal, considerando todas as 
leis humanas subordinadas à lei divina do Cosmos. Ele transmitiu para Aristóteles as primeiras 
especulações em torno de uma tensão de justiça, revolucionária porque sempre renovada, mas sem opor, 
antes submetendo e integrando a lei positiva ao Direito Natural. 
Uma escola de filosofia fundada pelo pensador de origem semita Zenon (350-250 a.C), denominada 
estoicismo, colocava o conceito de natureza no centro do sistema filosófico. Para eles o Direito Natural 
era idêntico à lei da razão, e os homens, enquanto parte da natureza cósmica, eram uma criação 
essencialmente racional. Portanto, enquanto este homem segue sua razão, libertando-se das emoções e 
das paixões, conduziria sua vida de acordo com as leis de sua própria natureza. A razão como força 
universal que penetra todo o "Cosmos" era considerada pelos estóicos como a base do Direito e da Justiça. 
A razão divina, acreditavam, morar em todos os homens, de qualquer parte do mundo, sem distinção de 
raça e nacionalidade. Existe um Direito Natural comum, baseado na razão, que é universalmente válido 
em todo o Cosmos. Seus postulados são obrigatórios para todos os homens em todas as partes do mundo. 
Esta doutrina foi confirmada por Panécio (cerca de 140 a.C), sendo a seguir levada para Roma, para ser 
finalmente reestruturada por Cícero, de modo que tornou o direito estoico utilizável, no contexto do 
Direito Romano, e propício à sua evolução. 
Há certa discriminação entre os estoicos, que confundem lei geral do universo com o direito natural que 
se aplicará a todas as criaturas. Entretanto, entre eles e mais tarde entre os romanos, mas, sobretudo 
entre os filósofos cristãos, se realçará o aspecto humano do Direito Natural. Muitas das formulações 
encontradas entre os estoicos são semelhantes às estabelecidas por Platão e Aristóteles. Contudo, a 
obscura doutrina dos estoicos fez com que a estrutura da polis não se fundamentasse, o que para os dois 
filósofos gregos era algo indiscutível. Os estoicos proclamaram a humanidade como uma comunidade 
universal. 
Como já foi determinado, o estoicismo influiu sobre a justiça romana, e Cícero será o maior representante 
na antiguidade clássica da noção de Direito Natural. O que interessa a Cícero é o direito e não a Lei. Para 
ele os homens nasceram para a Justiça e será na própria natureza, não no arbítrio, que se funda o Direito. 
Apesar da riqueza do pensamento encontrada na antiguidade, sobre o direito natural e o conceito de 
justiça, a realidade social não correspondia, à preocupação demonstrada pelos pensadores. As civilizações 
ocidentais antigas baseavam-se, muitas delas, em conceitos primitivos de Justiça, sendo que o trabalho 
escravo se colocava na base da sociedade, como sustentáculo da vida na cidade grega ou nas cidades do 
Império Romano. 
O pensamento cristão primitivo, no tocante ao Direito Natural, é herdeiro imediato do Estoicismo e da 
Jurídica Romana. A Igreja irá pegar dos estoicos a distinção entre Direito Natural absoluto e relativo. Para 
eles o Direito Natural absoluto era o direito ideal que imperava antes que a natureza humana tivesse se 
viciado com o pecado original. Com este Direito Natural absoluto todos os homens eram iguais e possuíam 
todas as coisas em comum, não havia governo dos homens sobre homens nem domínio sobre escravos. 
 As primeiras manifestações concretas do jusnaturalismo apareceram na Grécia, sendo que o primeiro 
registro dessa ideia de direito natural aparece na obra Antígona, de Sófocles com a afirmação do "justo 
por natureza" que seria o que é justo conforme a razão. Atém disso, vários filósofos também vão citar 
essa ideia do "justo por natureza", mas foram os Estóicos que construíram o conceito de direito natural 
e foi Cícero que levou esse conceito de direito natural para a cultura romana. A seguinte frase de 
Aristóteles representa o ponto principal do Jusnaturalismo: “ Assim como fogo que queima em todas as 
partes, o homem é natural como a natureza e por isso todos tem direito à defesa.” 
Esta concepção dualista de direito pode ser encontrada desde Aristóteles, o qual realizava a distinção 
entre direito natural e direito positivo, estabelecendo as diferenças específicas de cada classe. No 
entanto, cabe salientar que em sua concepção a dualidade não implicava em uma hierarquia ou 
superioridade de uma forma sobre a outra, isto é, existia uma relação de independência. Ademais, ele 
considerava o direito natural como universal e imutável cujas ações teriam valor geral independente do 
sujeito, e as ações determinadas seriam boas em si mesmas, enquanto que, o direito positivo era o 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3teles
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jusnaturalismo
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conjunto de normas cuja eficácia dependia da comunidade em que o mesmo estaria inserido e, portanto, 
tendo validade particular e mutável. 
Em Antígona, obra de Sófocles, é claro o clamor ao Direito dos deuses feito por Antígona, ao enterrar seu 
irmão, que foi condenado a tornar-se insepulto por um decreto de Creonte. Quando Creonte descobre 
que Antígona desobedeceu a o decreto e enterrou seu irmão (a pena para quem transgredisse sua lei era 
o apedrejamento dentro da cidade), Creonte fala a ela: “Mesmo assim ousaste transgredir minhas leis?” 
e Antígona responde: 
“Não foi, com certeza, Zeus que as proclamou nem a Justiça com trono entre os deuses dos mortos as 
estabeleceu entre os homens. Nem eu supunha que tuas ordens tivessem o poder de superar as leis não-
escritas, perenes, dos deuses, visto que és mortal. Pois elas não são nem de ontem, nem de hoje, mas são 
sempre vivas, nem se sabe quando surgiram”. 
 b) Jusnaturalismo medieval 
O Direito Natural relativo era, ao contrário, um sistema de princípios jurídicos adaptados à natureza 
humana após o pecado original. Há quem se esforçasse para tentar aproximar o Direito Natural relativo 
ao ideal de Direito Natural absoluto. Esperava-se que a hierarquia da Igreja vivesse daquela forma, 
entretanto os fiéis poderiam se limitar a cumprir o Direito. 
A doutrina de Santo Agostinho (354-430 d.C.) tem um importante papel nos postulados do Direito Natural 
absoluto, o qual será enunciado posteriormente.Mais tarde, a doutrina de São Tomás de Aquino (1226-
1274) mostra em maior grau a necessidade da realidade através do conceito de Direito Natural relativo 
expressar os ideais cristãos. O papel da Igreja, em sua relação com o governo, levá-lo-á, assim como 
grande parte dos pensadores medievais, a colocar o Direito Natural como de importância decisiva, pois 
só com uma norma de caráter mais geral, colocada acima do Direito Positivo, poderia haver alguma 
esperança de realização da Justiça Cristã. 
A doutrina do representante máximo da filosofia cristã é um primeiro passo para a autonomização do 
Direito Natural como Ciência, pois se a lei natural exprime o conteúdo de Direito Natural como algo devido 
ao homem e à sociedade dos homens, esta adquire, no tocante à criatura racional, características 
específicas. 
Pode-se perceber neste período da História, que mais uma vez, todo o pensamento desenvolvido sobre 
os Direitos Naturais, e as aspirações de Justiça, permanecem distantes da realidade. Aliás, como a própria 
Igreja havia pregado, enquanto o Direito Natural absoluto era privilégio de seus Padres, para o imenso 
rebanho bastava o Direito Natural relativo. 
Thomas de Aquino entendeu que a "lei natural" - porção do plano racional de Deus para o Universo 
na razão humana - é uma parte da ordem imposta pela mente de Deus que se encontra na razão do 
homem, resolvendo, portanto a confusão de ideias entre o conceito antigo e medieva! do direito natural. 
Tomás de Aquino admitia a mesma concepção dualista de direito, a saber, direito natural e direito 
positivo, mas sustentava que a segunda classe de direito derivava da primeira por obra do legislador, e 
no momento em que o direito positivo é posto pelo legislador o conteúdo passa a valer. É importante 
destacar que esse filósofo admitia a superioridade do direito natural sobre o direito positivo. Esta tese 
defendida por Santo Tomás foi também concebida pelos jusnaturalistas dos séculos XVII e XVIII, conhecida 
como a teoria da superioridade do direito natural sobre o positivo. Já a concepção positivista define o 
direito como o conjunto de normas positivas, também conhecida como a teoria da exclusão do direito 
natural. 
c) Jusnaturalismo moderno 
Na Idade Média o Direito Natural era visto como vinculado à vontade de Deus. A partir da Escola de 
Direito Natural de Grotius (1625) não é mais entendido desta forma, vinculando-o à razão. 
Com a intenção da emancipação da teologia medieval e do feudalismo, surge, a escola do direito 
natural clássico, tendo marcada sua evolução, em três períodos. O primeiro, com o advento do 
Protestantismo na religião, o absolutismo na política e o mercantilismo na economia, advindo que o 
direito natural será observado pela sabedoria e não do domínio de um líder, tendo como teorias de 
Grotius, Hobbes e Pufendorf. A Segunda etapa, compreendida inicialmente em 1649, fez-se presente 
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a modificação no estado político, aderindo ao liberalismo e ao capitalismo liberal, na economia, 
situando os pensamentos na proteção aos direitos naturais do indivíduo, contra a exploração 
governamental, prevalecendo as teorias de Locke e Montesquieu. E, num terceiro estágio, houve a 
caracterização na democracia, onde a decisão seria a majoritária do povo, sendo Jean Jaques 
Rousseau, o pensador político do período, confiando o direito natural à vontade geral. 
Será na época do jusnaturalismo abstrato, a explicação de tudo é encontrada no próprio homem, na 
própria razão humana, nada de objetivo é levado em consideração, a realidade social, a História, a 
razão humana se torna uma divindade absoluta. Outro importante representante do racionalismo 
ou, do também denominado jusnaturalismo abstrato será John Locke. 
Para Locke a lei natural é uma regra eterna para todos, sendo evidente e inteligível para todas as 
criaturas racionais. A lei natural, portanto, é igual à lei da razão. Para ele o homem deveria ser capaz 
de elaborar a partir dos princípios da razão um corpo de doutrina moral que seria seguramente a lei 
natural e ensinaria todos os deveres da vida, ou ainda formular o enunciado integral da lei da 
natureza. Para Rousseau, a aventura moderna era um erro radical e procura um remédio para isso 
no retorno ao pensamento antigo, ao seu estado natural. 
No século XVIII e XIX a guia para discernir a forma ideal e mais perfeita do direito natural foi a razão, 
surgindo o racionalismo, com o objetivo de construir uma nova ordem jurídica baseado em princípios 
de igualdade e liberdade, proclamados como os postulados da razão e da justiça. Apesar dos 
difusores das ideias situarem em período diverso, é predominante em suas teorias, e, segundo seus 
ensinamentos a caracterização dos princípios fundamentais do direito como imutável, unívoco 
sempre e em toda parte. 
A esfera política da era moderna foi marcada pelo surgimento do Estado Moderno, tendo como 
principal característica a centralização do poder. Nesse período a ideia de direito natural foi absorvida e 
adaptada, prevaiescendo a ideia de que o direito natural tinha origem na razão. Nessa época foi muito 
importante a doutrina de Grócio que excluiu a figura de Deus da ideia do direito natural, difundindo 
essa ideia de direito natural e da necessidade de que o direito positivo e as Constituições dos Estados 
deveriam se adequar a esse direito. A principal diferença é que enquanto no jusnaturaiismo antigo e 
medieval o direito natural consistia numa norma objetiva, no moderno trata-se de uma doutrina 
exclusivamente de direito subjetivos. Com o surgimento das teorias contratualistas surgem novas ideias 
que dão uma "nova cara" ao conceito de direito natural, revitalizando o jusnaturalismo, ressaltando o 
aspecto seu aspecto subjetivo. Esse jusnaturatismo moderno tem grande influência nas doutrinas 
políticas de tendência liberal, ressaltando a importância de que a as autoridades políticas respeitem os 
"direitos inatos do indivíduo". 
Ao definir o direito natural como subjetivo diminui-se um pouco a sua força, pois o xercício dos direitos 
fica, em muitos casos, sujeito ao exercício voluntário do indivíduo. Isto ocorre em virtude do 
surgimento de um Estado que define a lei objetiva. O Estado passa a ser considerado, portanto, uma 
obra voluntária dos indivíduos que tem a obrigação de proteger os direitos naturais. 
No Séc. XIX, com a crescente tendência de sistematização do conhecimento e uma gama imensa de 
fontes de direito, buscava-se positivar o direito natural, juntando todo o conhecimento disponível 
em um só compendio, para facilitar a identificação de qual norma se aplicava a qual situação. Ainda no 
final do Século XIX, as bibliotecas jurídicas estava abarrotadas sobre teses do direito natural, e 
doutrina correpondente e muio pouco material sobre o direito positivo existente. Acreditava-se que a 
sistematização era o auge do direito natural. No entanto, ao definir que o juiz deveria, obrigatoriamente, 
aplicar as determinações do código criou-se a prática do positivismo. Essa prática deu origem ao 
modelo positivista, que entendia que a garantia de uma fonte única de direito gerava segurança. 
Após a II Guerra Mundial, a ideia do jusnaturalismo, por se fundamentar em valores morais, parecia 
uma boa solução para a situação que havia se formado, pois existia uma necessidade de controle do 
Estado, que culminou na criação da ONU. Ainda assim, havia uma consciência de que não existiam valores 
morais universais, de modo que a nova geração jusnaturalista considerava o direito natural como 
histórico, e não como universal e imutável, ou seja, foram abertas concessões quanto ao conceito de 
direito natural. 
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Surgiram diversas criticas a esse "renascimento" do jusnaturalismo, mas aprincipal levanta a questão 
de que escapar do modelo positivista implica aumentar muito o poder do juiz, o que leva a dois 
problemas sérios: A insegurança jurídica e a quebra da tripartição dos poderes, pois o judiciário acaba 
tendo o poder de legislar. 
d) primeiros direitos declarados 
A luta por direitos oponíveis ao soberano começou com o próprio surgimento da soberania. Vanguardeiros dessa luta, já 
desde o final da Idade Média os súditos ingleses opuseram ao rei – reiteradas vezes – direitos imemoriais, que tinham 
como seus, não por outorga do soberano, mas porque derivados das mais antigas tradições do reino. Esses direitos eram 
oponíveis ao rei que, não os tendo outorgado, não podia revogá-los. Apenas deveria reconhecê-los e assegurá-los. Entre 
os ingleses, o mais expressivo documento em que se fez uma tal oposição foi a Magna Charta Libertatum, a Grande Carta 
das Liberdades, assinada em 1215 pelo rei João Sem Terra, depois confirmada várias vezes por sucessivos soberanos. 
Houve outros documentos de defesa dos direitos, como a Petition of Right, de 1627, o "Habeas corpus" Act, de 1679, 
culminando com o Bill of Rights de fevereiro de 1689. Mas, ainda que no seu conteúdo declarassem direitos, em meio a 
outras disposições, tais documentos não eram formalmente declarações de direitos. De ingleses com ingleses, mais eram 
pactos com o rei do que declarações ante o rei. 
Na França, ausente o tradicionalismo, mas presente o racionalismo, os direitos básicos dos súditos contra o rei foram 
deduzidos racionalmente, a partir da contraposição do estado de natureza ao estado de sociedade, posta como fórmula 
de raciocínio político. Em vez de direitos imemoriais, os franceses opõem ao rei direitos naturais, derivados da própria 
natureza humana, não outorgados pelo soberano. Do mesmo modo, tanto os direitos imemoriais (Inglaterra), quanto os 
direitos naturais (França), não sendo meras concessões do rei, não podem ser por ele revogados, devendo ser apenas 
declarados para serem conhecidos e garantidos. Para esse duplo fim – dar a conhecer e garantir os direitos naturais do 
indivíduo humano – surgiu formalmente na França a declaração de direitos que, junto com a separação de poderes, se 
tornou parte indispensável das constituições escritas, para garantir os direitos fundamentais dos súditos. Tanto, que não 
teria constituição a sociedade em que não estivesse assegurada a garantia dos direitos, nem estabelecida a separação 
dos poderes, como proclamou o art. 16 da Declaração de 1789. 
A Declaração de 1789 tornou-se, merecidamente, a mais famosa das declarações de direitos. Editada em 26 de agosto de 
1789, na França, mesmo que não tenha sido a primeira, acabou servindo de modelo para outras que se seguiram. Foi 
denominada Declaração dos direitos do homem e do cidadão. Hoje, a frisar a igualdade dos sexos perante o direito, fala-
se direitos humanos em vez de direitos do homem e do cidadão. O uso da expressão declaração evidencia que os direitos 
enunciados não são criados ou instituídos. São meramente declarados, por se tratar de direitos preexistentes que derivam 
ou da própria natureza humana, ou das tradições culturais da sociedade política. 
AS GERAÇÕES DOS DIREITOS NATURAIS SEGUNDO BOBBIO 
A perspectiva do jusnaturalismo é uma concepção filosófica que considera que o direito é formado por duas dimensões 
normativas: direito natural e direito positivo. Segundo Lloyd, a perspectiva do jusnaturalismo enfatiza a dimensão ética 
do direito, portanto é enfocado como um sistema de normas que tem por trás de si um certo horizonte axiológico 
normativo que lhe transcende e engloba (e esse seria o direito natural). 
Na concepção jusnaturalista, uma lei, uma regra estabelecida por uma autoridade política qualquer que esteja em 
contradição com o direito natural, que seria estabelecido pela natureza, é uma regra inválida, ilegítima. Ou seja, o direito 
natural é o fundamento de validade do direito estabelecido pelo homem, o direito positivo. 
As características fundamentais do plano normativo, para Bobbio, do “direito natural” são: imutabilidade (as coisas são 
como são), universalidade, racionalidade (o homem é racional, portanto as regras naturalmente criadas também o são), 
ter como fonte do direito a natureza, os comportamentos regulados serem bons ou maus em si mesmos e 
incondicionalidade (os comportamentos devem ser o que são). Já as características do “direito positivo”, por ser o oposto 
do direito natural, são: mutabilidade (o que é estabelecido pelo homem o é mediante o arbítrio, portanto é passível de 
alteração por decisão), particularidade, a fonte do direito é o poder do povo (inscrito em um governante), os 
comportamentos apenas são bons ou maus conforme sejam regulados quanto tal e condicionalidade (os 
comportamentos são regulados segundo a utilidade para aquela sociedade). Assim, a superioridade do direito natural 
decorre dos atributos que a ele são dados. 
A concepção do jusnaturalismo se baseia, então, no dualismo assimétrico entre os planos do direito natural e do direito 
positivo. 
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a) primeira geração 
 Segundo Norberto Bobbio, “num primeiro momento, afirmaram-se os direitos de liberdade”, os chamados direitos de 
primeira geração. Estes são os direitos individuais, de natureza civil e política, e “foram reconhecidos para a tutela das 
liberdades públicas, em razão de haver naquela época uma única preocupação, qual seja, proteger as pessoas do poder 
opressivo do estado”. 
Eles surgiram juntamente com a Revolução Francesa, entre os séculos 18 e 19, como formar de afastar o poder 
monárquico e assegurar a classe burguesa, então surgente, os direitos mínimos para o exercício da sua atividade. Desta 
forma, eles tinham como fundamento a “limitação do poder do Estado e a reserva para o indivíduo, ou para os grupos 
particulares, uma esfera de liberdade em relação ao Estado”. Ou seja, eles contemplam os direitos “que se fundamentam 
no contratualismo de inspiração individualista, demonstrando claramente a demarcação entre Estado e não-Estado, o 
qual é composto pela sociedade religiosa e pela sociedade civil”. 
Em virtude disso, eles também são chamados de liberdades negativas, vez que “constituíam verdadeiro obstáculo à 
interferência estatal”. Eles limitam a atuação do Poder Público, “buscando controlar e limitar os desmandos do 
governante, de modo que este respeite as liberdades individuais da pessoa humana”. 
Esses direitos de primeira geração/dimensão “estendem-se a todos os seres humanos, mas compreendidos como 
indivíduos, os quais, por sua simples e singular condição humana, merecem a proteção do direito, sem levar em 
consideração outras condições pessoais, ou sociais, ou quaisquer. Ou seja, protege o indivíduo por sua conotação 
individual. 
Estes direitos também são referidos por Bobbio, como DIREITOS NEGATIVOS, uma vez que limitam o poder do Estado, ou 
seja, definem o que o Estado NÃO pode fazer, caracterizando assim direitos e liberdades individuais. Em resumo nessa 
geração estabelecem-se limites claros ao poder do Estado, até onde o Estado pode tutelar o cidadão. Pode-se considerar, 
que esses direitos constituem OBRIGAÇÕES DE NÃO FAZER, por parte do Estado. 
 b) segunda geração 
Esses são os direitos sociais, culturais e econômicos e surge com a queda do Estado Liberal e o nascimento do Estado do 
Bem-Estar Social. O excesso de liberdade assegurado pelos direitos de primeira geração causou um desequilíbrio social 
que agora deve ser reparado. Em virtude desse fato, afirmou Norberto Bobbio que esses são os chamados “direitos 
políticos, os quais – concebendo a liberdade não apenas negativamente, como não impedimento, mas positivamente, 
como autonomia”. 
Esses direitos, então se caracterizam por se estenderem a “todos os seres humanos, mas compreendidos não mais como 
indivíduos, mas como integrantes de umaparte da sociedade, uma categoria social, que, por ser considerada mais fraca 
nas suas relações sociais específicas ou gerais”. Assim, surgem os direitos dos trabalhadores, dos inquilinos, dos 
consumidores, dos idosos, ou seja, todos os direitos referentes a uma classe específica. 
Nessa nova geração, o Estado ganha novo papel, o de agir, de assegurar e garantir a igualdade entre as pessoas, e por isso 
esses direitos também são denominados de direitos de igualdade. Eles são “animados pelo propósito de reduzir material 
e concretamente as desigualdades sociais e econômicas até então existentes, que debilitavam a dignidade humana”. 
Já os direitos econômicos, sociais e culturais, positivados nos textos constitucionais a partir da Constituição de Weimar, 
de 1919, e tidos como de segunda geração, cobram atitudes positivas do Estado, verdadeiras obrigações de fazer, 
prestações e intervenções sociais dos órgãos estatais, com a finalidade de promover a igualdade. Não, a mera igualdade 
formal de todos perante a lei. Mas a igualdade material de oportunidades, ações e resultados – entre partes ou categorias 
sociais desiguais – protegendo e favorecendo juridicamente os hipossuficientes em relações sociais específicas, como as 
relações de trabalho assalariado, de inquilinato, a de concubinato, de consumo, etc. 
Assim os direitos também podem ser chamados de DIREITOS POSITIVOS, pois OBRIGAM o Estado a cumprir com 
responsabilidades coletivas, como saúde, educação, etc. Sintetizando constituem-se em OBRIGAÇÕES DE FAZER por parte 
do Estado. 
c) Terceira geração 
Ainda que se possa falar em gerações de direitos, tal como na sucessão das gerações humanas, não se tem na crescente 
socialização do direito contemporâneo uma sucessão em conflito por incompatibilidade de sujeitos e objetos, mas uma 
continuidade por ampliação subjetiva e objetiva. Esse processo resultou na evolução do estado liberal para o estado social 
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de direito, cuja plenitude jurídica é o estado democrático de direito, a ser alcançado com a terceira geração de direitos, 
no rumo de um estado de direito pleno. 
A conversão de todos os direitos fundamentais, incluídos os políticos, em direitos humanos difusos e integrais, cuja 
titularidade sujeite todos os indivíduos da espécie humana e cujo objeto apreenda todos os valores da dignidade humana, 
produz, os valores fundantes da espécie humana. São os valores que fundaram a humanidade ao longo do processo 
histórico, pela valoração das diferenças específicas que conformaram a sua essência, exprimindo as condições 
fundamentais da sua existência. Esses valores fundantes da humanidade constituem o fundamento axiológico dos direitos 
humanos, nos quais eles se traduzem, analiticamente nas duas primeiras gerações e sinteticamente na terceira e última. 
Esta derradeira geração constitui o fim do processo de evolução dos direitos humanos. Os direitos que nela se integram 
englobam os das gerações anteriores. São direitos globais, quanto ao seu conteúdo axiológico, e globalizante, quanto ao 
seu fim teleológico. A terceira geração sintetiza as duas anteriores. 
São os direitos sociais, decorrentes da solidariedade ou de titularidade coletiva, ditos difusos, e nascem em decorrência 
da generalidade da humanidade e do “amadurecimento de novas exigências – podemos mesmo dizer, de novos valores”, 
e, justamente, “[…] caracterizam-se por destinarem-se à proteção, não do homem em sua individualidade, mas do 
homem em coletividade social, sendo, portanto, de titularidade coletiva ou difusa”. 
Afirma Sérgio Resende de Barros que os direitos de terceira geração se dividem originalmente em cinco direitos: “o direito 
à paz, o direito ao desenvolvimento, o direito ao patrimônio comum da humanidade, o direito à comunicação, o direito à 
autodeterminação dos povos e o direito ao meio ambiente sadio ou ecologicamente equilibrado”. 
No século XX, após grandes conflitos mundiais, novas reivindicações sociais passaram a fazer parte do cenário 
internacional e das sociedades contemporâneas. As condições para a ampliação do conteúdo dos direitos do homem se 
apresentavam através de novas contradições e confrontos que exigiam respostas visando a garantia e proteção da vida e 
das liberdades. 
Assim, a paz, estaria englobada como um direito difuso e coletivo, essencial para assegurar a vida em coletividade. 
Contudo, conforme demonstrado a seguir, esse entendimento não é unânime, sendo que Paulo Bonavides sugere que o 
direito à paz é um direito fundamental de quinta geração, em virtude da se este possuir características que o destacam 
dos demais direitos aqui apontados, como a seguir será estudado. 
Para essa corrente doutrinária, o direito à paz é mais do que um direito coletivo, mas sim um direito plural, concebido 
para ser reivindicado por todos os povos, e não somente por um. “O sujeito do direito (a totalidade dos seres humanos 
vivos), assim, contrapõe o seu direito ao conjunto dos Estados e a cada um deles, em particular”. 
O conteúdo nuclear original das declarações são os direitos individuais, que configuram a primeira geração, tendo por 
escopo a preservação da liberdade individual. Com esse escopo, caracterizam uma imposição de limites à ação do Estado, 
para o qual geram obrigações de não-fazer. Após o reconhecimento dos direitos sociais e econômicos, contidos na 
segunda geração, a intensificação do convívio humano e os riscos de extermínio maciço da humanidade pela própria 
humanidade vieram a desencadear, após a Segunda Guerra Mundial, sobretudo na esfera internacional, o surgimento de 
uma nova geração de direitos fundada na solidariedade ou fraternidade. Fundamento esse, que se reflete no nome dessa 
terceira geração – direitos de solidariedade ou de fraternidade – que impõem obrigações de FAZER ou de NÃO FAZER não 
só ao Estado, mas a todos os integrantes da sociedade política. São direitos de todos, aos quais correspondem obrigações 
de todos: solidariedade. 
RESUMO JUSNATURALISMO 
Direito Natural é a idéia abstrata do Direito, o ordenamento ideal, correspondente a uma justiça superior 
e anterior – trata-se de um sistema de normas que independe do direito positivo, ou seja, independe das 
variações do ordenamento da vida social que se originam no Estado. O direito natural deriva da natureza 
de algo, de sua essência. Sua fonte pode ser a natureza, a vontade de Deus ou a racionalidade dos seres 
humanos. Até o séc. XIX as pessoas acreditavam que existia um conjunto de valores morais universais e 
imutáveis, mas a partir dessa época os pesquisadores começaram a estudar culturas de lugares distintos e 
conforme a visão eurocentrica do mundo foi sendo superada, as diferenças deixaram de ser vistas 
apenas como sinal de inferioridade. Com isso foi se tornando mais clara a ideia de que não existem 
valores globais, no máximo os valores são aplicáveis a determinados grupos, mas mesmo nesse caso 
a aceitação desses valores se dá por uma espécie de adesão. 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Direito
http://pt.wikipedia.org/wiki/Direito_positivo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Estado
http://pt.wikipedia.org/wiki/Deus
http://pt.wikipedia.org/wiki/Humano
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O direito natural seria o conjunto de valores morais universais e imutáveis, nesse sentido, para o 
jusnaturalismo os direitos se encontram dentro do campo da moral, de modo que a norma positivada 
(transformada em lei) que seja considerada imoral pode ser descartada, porque um requisito de validade 
das normas é estar dentro do campo da moral. O jusnaturalismo é a doutrina que reconhece a 
existência de um direito natural, que tem validade em si e é anterior e superior ao direito positivo, 
devendo tprevalescer caso haja um conflito entre as normas do direito positivo e as do direito natural. 
Todo jusnaturalista, portanto, defende duas teses: A Dualidade (existem duas manifestações do direito, 
o positivo e o natural) e a Superioridade (O direito natural é superior ao positivo). 
TEORIA JSUPOSITIVISTA 
Aspectos históricos do positivismo 
O juspositivismo surge também como outra forma de fundamentar a natureza do direito, o direito 
positivo. Protágoras (481 a.C - 411 a.C.) pode ser considerado o pensador que antecipou as opiniões dos 
positivistas modernos. Sustentava que as leis feitas pelos homens eram obrigatórias e válidas, sem 
considerar o seu conteúdo moral. 
O positivismo jurídico é uma concepção do direito que nasce quando direito positivo e direito natural não 
mais são considerados direito no mesmo sentido, mas o direito positivo passa a ser considerado como 
direito em sentido próprio. Por obra do positivismo jurídico ocorre a redução de todo o direito a direito 
positivo, e o direito natural é excluído da categoria do direito. Sendo considerado positivismo aquela 
doutrina segundo a qual não existe outro direito, senão o positivo. O direito positivo quando de seu 
surgimento, considerada uma doutrina primária. Ele faz-se presente na Grécia já se identificavam seus 
sinais. 
O conceito e a expressão de positivismo podem ser tomados em duas acepções, uma restrita e lata a 
outra. Na primeira acepção, dá-se este nome ao sistema de ideias filosóficas fundado pelo francês 
Augusto Comte (1789-1857) e propagado posteriormente pelo seu mais fiel discípulo, Emile Lettré (l80l-
l88l). Na segunda, serve ele para designar um movimento bastante mais vasto, dentro do qual cabem 
numerosas escolas e tendências do século XIX, dentro e fora da França, em matéria de filosofia, de 
métodos científicos, de psicologia, de sociologia, de história, de direito e de política. Nenhum setor dos 
conhecimentos humanos ficou isento da sua influência. O positivismo foi definido por Littré como "uma 
atitude mental que visa a dar à filosofia o método positivo das ciências e às ciências a ideia de conjunto 
da filosofia". 
Essa posição foi a defendida por Comte, que pode resumir-se da seguinte maneira negativa: repúdio 
formal de tudo o que, de perto ou de longe, pudesse lembrar a metafísica ou ter cara de metafísica, 
entendendo-se por metafísica toda a proposição que excedesse o domínio da experiência e da observação 
humana dos fatos sensíveis. Renúncia, portanto, a toda a forma de compreender e explicar que não se 
fundem exclusivamente na observação dos fatos e das suas relações de antecedência e consequência. 
Comte determinava nada que conhecemos para lá dos fenômenos, e o próprio conhecimento que destes 
temos é relativo e não absoluto. Não conhecemos nem a essência nem o modo de produção de nenhum 
fato; conhecemos somente as relações de sucessão e semelhança de uns fatos com outros. Estas relações 
são constantes, sempre idênticas nas mesmas circunstâncias. É esse conjunto de conceitos diversos que 
dá origem ao termo POSITIVISMO, porém é importante diferenciar o positivismo filosófico do jurídico. 
Positivismo inglês 
A Inglaterra não adotou o sistema da codificação, porém teve o seu maior teórico, Jeremy Bentham, o 
qual teve grande influência na Europa, na América e na Índia, sem que obtivesse sucesso no seu país de 
origem. 
O apogeu da obra de Bentham só veio a ocorrer por volta de l.8ll, depois de ter passado por três fases de 
sistematização. Na primeira ele propõe a uma reforma e reorganização sistemática do direito inglês nos 
seus vários ramos. Numa segunda fase, Bentham projeta uma espécie de digesto do direito inglês, onde 
deveriam conter as regras de direito que constituíam os princípios fundamentais do ordenamento jurídico 
inglês. Na terceira etapa, projeta uma reforma radical do direito, mediante uma codificação completa 
onde deveria sistematizar toda matéria jurídica em três partes: direito civil, direito penal e direito 
constitucional. 
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Bentham, desenvolve uma crítica acerba sobre o sistema da common law, baseando-se em cinco pontos: 
primeiro, a incerteza da common law, em razão do direito não satisfazer as exigências fundamentais de 
toda sociedade, fazendo com que o cidadão possa prever as consequências das próprias ações. Em 
segundo aspecto, a retroatividade do direito comum, pois quando o juiz cria um novo precedente resolve 
a controvérsia sem se basear em norma vigente, porém através de uma norma que ele mesmo criou, 
tendo assim uma eficácia retroativa, uma vez que, vai incidir sobre um fato ou acontecimento que ocorreu 
anteriormente a sua vigência. No terceiro aspecto ele considera que o common law não se funda no 
princípio da utilidade pois não está embasado em princípios basilares como acontece no direito legislado, 
valendo-se apenas da analogia e os precedentes. No quarto aspecto, determina que esse defeito reside 
no fato do juiz ter de resolver qualquer controvérsia que lhe seja submetida, embora lhe falte uma 
competência específica em todos os campos regulados pelo direito, o que não ocorreria quando o direito 
fosse legislado. E, por último sustenta que através de uma crítica de caráter político que o povo não pode 
controlar a produção do direito por parte dos juízes. 
Outro filósofo que desenvolveu um trabalho teórico de grande valia na Inglaterra foi Austin, que chegou 
a dividir as leis em leis divinas e leis humanas, sendo estas últimas leis positivas e moralidade positiva, 
correspondendo, respectivamente, as que emanam de um soberano e que provêm de um sujeito humano 
que não possui a qualidade de soberano. 
Revolução francesa, declaração de direitos, Napoleão e a codificação 
Antes da Revolução a França apresentava sérios problemas de ordem social, econômica, política e 
financeira. A sociedade francesa mantinha ainda uma fachada aristocrática, porém a burguesia ocupava 
espaços cada vez mais importantes no país. Havia uma multidão de camponeses que viviam no interior 
trabalhando nas terras da nobreza e submetidos ainda aos laços de servidão, o que dificultava a expansão 
dos negócios burgueses. A hierarquia social do país apresentava-se nos moldes da sociedade estamental 
da época medieval, o que ocasionava certo descompasso entre a estrutura social e a realidade econômica 
do país. Havia três camadas sociais: O primeiro Estado formado pelo Clero; o segundo Estado, formado 
pela Nobreza e o terceiro Estado que abrangia maior parte da população francesa. Havia a burguesia, que 
se dividia em alta, média e pequena; existiam também as camadas populares representadas pela 
população pobre das cidades e a grande massa camponesa. Os laços de servidão no campo e as 
corporações de ofício nas cidades constituíam-se em sérios obstáculos para o pleno desenvolvimento do 
capitalismo no país, como desejavam os setores burgueses. Havia motivos de sobra para que surgissem 
manifestações reivindicando mudanças profundas nas estruturas sociais, econômicas e políticas do país, 
principalmente após a difusão do ideário iluminista. Um dos motivos era o caos financeiro, arrecadava-se 
mal e insuficiente e gastava-se acima da receita acumulada. Os gastos do Estado francês compreendiam 
o exército, que não vinha correspondendo nas últimas guerras; a corte, que nenhum retorno apresentava; 
e o pagamento das dívidas contraídas anteriormente. 
A primeira fase da Revolução Francesa foi eminentemente burguesa, pois a alta burguesia controlava a 
Assembleia e, ao mesmo tempo em que buscava acabar com o poder absolutista e os privilégios da 
nobreza, tentava barrar as reivindicações sociais das camadas populares. O rei, tentando evitara 
Revolução, fechou o salão de reuniões da Assembleia. Os deputados reuniram-se então, numa sala de 
jogos da nobreza, onde prestaram um solene juramento de não se dispersarem enquanto a França não 
tivesse uma Constituição. A assembleia transformar-se-á em AssembleiaConstituinte, e Luís XVI tramava 
com representantes do Exército uma ofensiva militar sobre Paris para pôr fim ao movimento. Líderes 
populares conseguiram reunir uma grande multidão que atacou a Bastilha em 14 de julho. Com a tomada 
da Bastilha, o povo armou-se e Luís foi obrigado a recuar. A Assembleia organizou a Guarda Nacional, uma 
espécie de exército revolucionário submetido à autoridade da Assembleia. Os acontecimentos em Paris 
repercutiram rapidamente no interior do país, onde a burguesia e os camponeses procuraram atacar os 
castelos dos nobres em várias regiões. Estabelecia-se o Grande Medo, que provocou a fuga de muitos 
nobres para os países vizinhos por temor dos acontecimentos e também para tentarem organizar uma 
contrarrevolução. No dia 26 de agosto a Assembleia aprovava um novo documento: A Declaração dos 
Direitos do Homem e do Cidadão, pela qual se consagravam os ideais liberais e burgueses difundidos no 
Iluminismo, como igualdade perante a lei, o direito à vida, à propriedade e a liberdade de religião e de 
expressão. Assim, os direitos surgiram sempre das necessidades sociais de cada época empreendidas por 
lutas para conseguir efetivá-los em leis e assegurar o seu cumprimento. 
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O Código Civil francês de 1804 
O Código Civil Francês de 1804 (Código de Napoleão) foi o primeiro grande triunfo do movimento de 
codificação. Antes do Código Civil, a França vivenciava um pluralismo político e um fracionamento do seu 
direito. Para casos idênticos, o direito francês podia apresentar diferentes formas de solução e disciplina, 
conforme a regra aplicada que variava segundo o ordenamento jurídico predominante nas diversas 
regiões francesas. Essa situação de pluralismo jurídico tinha por consequência um estado de incerteza e 
insegurança jurídica, que se manifestava tanto no aspecto da impossibilidade de conhecimento da norma 
jurídica como na indeterminação de qual regra aplicar ao caso concreto e do agente que deveria aplicá-
la. Com o tempo, surgiu a necessidade de um sistema fechado, de uma unificação do direito francês como 
meio de garantir a segurança jurídica. 
Até o início da Revolução Francesa em 1789, não havia na França um direito unificado. A Assembleia 
Nacional Constituinte acordou, em 1790, a confecção de um Código Civil único para todo o reino, de 
caráter simples e claro, de forma a ser compreendido por todos. 
Napoleão que, modificando os membros do Tribunato, eliminando todos que lhe eram hostis, fez com 
que em um só ano, de Março de 1803 à Março de 1084 fossem discutidos e aprovadas 36 leis, que foram 
promulgadas em um único corpo, em 21 de Março de 1804, recebendo o título de "Código Civil dos 
Franceses" e, em 1807, o de "Código de Napoleão", sendo constituído de 2281 artigos. 
Compreende um título preliminar e três livros: o primeiro sobre as "pessoas", o segundo sobre os "bens 
e as diferentes modificações da propriedade", e o terceiro sobre os "diversos modos pelos quais se 
adquire a propriedade". Nesse último, que cobre mais de dois terços de sua superfície ( do artigo 1522 
até o 1778), estão regulados os mais diversos institutos: os regimes matrimoniais, as obrigações, as 
doações e testamentos, as garantias reais e outros. 
O Código Francês procurou harmonizar o Direito Romano com o direito público costumeiro, em essência 
rendia homenagem à doutrina dos direitos do homem, colocava o indivíduo frente ao Estado em posição 
superior e sancionava a autonomia do direito privado em relação com o direito público. Seu espírito 
reflete a mentalidade individualista da época. Foi considerado o Código da Burguesia, por ter atendido 
aos interesses e aspirações desta classe, não se redigiu no propósito de ser lei de privilégios, ao contrário, 
a intenção foi elaborar um código impessoal, expressão eterna das coisas, para ser aplicado sem distinção 
de classe, e sem limite de tempo. 
Funda-se nos princípios individualistas da liberdade contratual, na propriedade como direito absoluto, e 
na responsabilidade civil fundada na culpa provada pelo lesado. Inspirou o antigo Código Civil Italiano, 
bem como o Espanhol, o Português, o Belga, o Holandês, o Romeno, o antigo Código Civil Egípcio e os de 
Quebec e de Louisiana. 
Escola Historicista 
O historicismo Alemão, com base em Savigny. O primeiro passo para se estabelecer o positivismo foi uma 
crítica profunda ao direito natural, como forma de se alcançar a sua dessacralização, a fim de que as 
concepções e os mitos jusnaturalistas desaparecessem das consciências. Esse trabalho passou pela 
polêmica antiracionalista levada a efeito na primeira metade do século XIX pelo historicismo. 
As características do historicismo de Maistre, Burke e Moser, se evidenciam: pelo sentido da variedade 
da história devida à diversidade do próprio homem: não existe o homem com certos caracteres 
fundamentais sempre iguais e imutáveis, como pensavam os jusnaturalistas; existem homens, diversos 
entre si conforme a raça, o clima, o período histórico. O sentido irracional na história, contraposto à 
interpretação racionalista da história própria dos iluministas: a mola fundamental da história não é a 
razão, o cálculo, a avaliação racional, mas sim a não razão, o elemento passional e emotivo do homem, o 
impulso, a paixão, o sentimento. Os historicistas escarnecem assim das concepções jusnaturalistas, tais 
como a ideia de que o Estado tenha surgido após uma decisão racionalmente ponderada de dar origem a 
uma organização política que corrigisse os inconvenientes do estado de natureza. 
Ligada à ideia da irracionalidade da história está a ideia da sua tragicidade, o pessimismo: enquanto o 
iluminista é fundamentalmente otimista porque acredita que o homem com sua razão possa melhorar a 
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sociedade e transformar o mundo, o historicista é pessimista porque não compartilha dessa crença, não 
crê nos magníficos destinos e progressos da humanidade. 
Outra característica do historicismo é o elogio e o amor pelo passado: não havendo crença no 
melhoramento futuro da humanidade, os historicistas têm, em compensação, grande admiração pelo 
passado que não pode mais voltar e que aos seus olhos parece idealizado. Por isto eles se interessam 
pelas origens da civilização e pelas sociedades primitivas. Também este ponto de vista está em nítido 
contraste com os iluministas, os quais, ao contrário, desprezam o passado e zombam da ingenuidade e da 
ignorância dos antigos, exaltando, em contrapartida, as luzes da Idade racionalista. Tal contraste entre 
racionalistas e historicistas se ascende principalmente em referência ao medieval, considerado pelos 
primeiros uma idade obscura e bárbara, avaliada pelos segundos como a época na qual se realizou uma 
civilização profundamente humana que exprime o espírito do povo e a força dos sentimentos mais 
elevados. 
Ainda como característica, tem-se o amor pela tradição, isto é, pelas instituições e os costumes existentes 
na sociedade e formados através de um desenvolvimento lento, secular. 
Aplicando-se os traços básicos do historicismo ao estudo dos problemas jurídicos, onde Savigny, foi o seu 
maior expoente, como se pode constatar nos pode fazer uma ideia exata da doutrina da escola histórica 
do direito. Primeiro, a individualidade e variedade do homem. Aplicando este princípio ao direito, o 
resultado é a afirmação segundo a qual não existe um direito único, igual para todos os tempos e para 
todos os lugares. O direito não é uma ideia da razão, mas sim um produto da história. Nasce e se 
desenvolve na história, como todos os fenômenos sociais, e, portanto, varia no tempo e no espaço. 
O direito, quanto a irracionalidade das forças históricas não é fruto de uma avaliação e de um cálculo 
racional, nascendo imediatamentedo sentimento da justiça. Há um sentimento do justo e do injusto, 
gravado no coração do homem e que se exprime diretamente através das formas jurídicas primitivas, 
populares, as quais se encontram nas origens da sociedade, por baixo das incrustações artificiais sobre o 
direito criadas pelo Estado moderno. 
A descrença na possibilidade do progresso humano e na eficácia das reformas induz a afirmar que, 
também no campo do direito, é preciso conservar os ordenamentos existentes e desconfiar das novas 
instituições e das inovações jurídicas que se queiram impor à sociedade, porque por trás delas se 
escondem somente improvisações nocivas. A escola histórica se opunha ao projeto de codificação do 
direito germânico. 
Para a escola histórica, o sentido da tradição, significa reavaliação de uma forma particular de produção 
jurídica, isto é, do costume, visto que as normas consuetudinárias são precisamente expressão de uma 
tradição, se formam e se desenvolvem por lenta evolução na sociedade. O costume é, portanto, um direito 
que nasce diretamente do povo e que exprime o sentimento e o espírito do povo. Acaba, de tal modo, 
subvertida a clássica relação entre as duas fontes de direito, a lei e o costume, visto que geralmente se 
considera a primeira prevalente sobre a segunda. 
Enquanto a escola histórica pregava o direito consuetudinário e se apresentava contrária ao movimento 
de codificação do direito Alemão, Thibaut, encabeçou uma reação contrária, pregando essa codificação. 
Este movimento se identifica em sua totalidade com o Positivismo Jurídico. É bom lembrar que a 
identificação do historicismo com o Positivismo se prende apenas ao aspecto de que o primeiro 
empreende uma crítica radical ao direito natural e apregoa o direito costumeiro como a forma genuína 
do direito. 
A escola da exegese: origem, características e contribuições 
Duas codificações tiveram grande influência no desenvolvimento da cultura jurídica: a Justiniana e a 
napoleônica. A primeira na Idade Média e a segunda na Moderna. A ideia de codificação surgiu por obra 
do pensamento iluminista na segunda metade do século XVIII, perfazendo assim, apenas dois séculos que 
o direito se tornou codificado. 
Em 1804, foi editado o Código Civil francês, como obra fundamental do período napoleônico, a qual 
passou a ter grandes influências no desenvolvimento e pensamento jurídico moderno e contemporâneo. 
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Por isso é que se passou a pensar no direito em termos codificado, porém é bom frisar que, nem todos os 
países civilizados possuem uma ordem jurídica codificada, como é o caso do direito anglo-saxão. 
A ideia de codificação do direito francês teve maior aceitação em razão de ser esse país o berço do 
iluminismo que encarnou forças políticas da história que deu lugar a Revolução Francesa. 
Os primeiros projetos de Código Civil tiveram inspirações jusnaturalistas, especialmente o de Cambecéres, 
onde ele numa primeira tentativa dizia que sua obra estava inspirada em três princípios fundamentais: 
reaproximação da natureza, unidade e simplicidade. Um segundo projeto foi apresentado onde a raiz 
principiológica assentava nas exigências que o homem tem da sociedade: ser senhor da própria pessoa; 
possuir bens para poder satisfazer as próprias necessidades e poder dispor desses bens no interesse 
próprio e da própria família. As ideias dessas primeiras tentativas de codificação na França eram bem 
avançadas em alguns pontos como a não distinção entre filhos legítimos e naturais. 
O projeto final de autoria de Portalis em trabalho desenvolvido com uma Comissão formada por 
Napoleão, é o que resultou aprovado e deve ser entendido dentro de um contexto histórico da Revolução 
que teve sua fase culminante nos anos da Convenção que vai de l.793 a 1.794 até à fase do Consulado de 
1.800 a 1.804. 
O Código em seu artigo explica três conceitos básicos que poderiam colocar o Juiz em dificuldade: 
primeiro, a obscuridade da lei: neste caso o juiz deve tornar clara, através da interpretação, a disposição 
legislativa que parece obscura; em segundo, insuficiência da lei, no momento em que esta não resolve 
completamente um caso, descurando a consideração de qualquer elemento: em tal caso o juiz deve 
completar o disposto legislativo, a integração da lei; terceiro, o silêncio da lei, quando esta se cala sobre 
uma determinada questão, tipificando as lacunas, as quais, por outro lado, se verificam também no caso 
de insuficiência da lei, neste caso o juiz deve suprir a lei, deduzindo de qualquer modo a regra para 
resolver a controvérsia em exame. 
O advento do Código de Napoleão fez surgir a chamada escola exegética, cujos pontos fundamentais que 
serviram de embasamento para o seu surgimento, estão assim agrupados: primeiro, o próprio fato da 
codificação, pois os operadores do direito sempre procuravam a via mais simples e mais curta para 
resolver uma determinada questão. Segundo, a mentalidade dos juristas, dominada pelo princípio da 
autoridade baseado na vontade do legislador que pôs a norma jurídica em evidência. Terceira causa, a 
doutrina da separação dos poderes, que constitui o fundamento ideológico da estrutura do Estado 
moderno. 
Com base nessa teoria o juiz não pode criar o direito, sob pena de estar invadida a competência legislativa. 
Quarto fator, seria o princípio da certeza do direito, garantido pela existência de um corpo estável de leis, 
devendo os conflitos ser resolvidos com fundamento nele contido e não em outros critérios. Quinto 
motivo, de natureza eminentemente política, é o das pressões exercidas pelo regime napoleônico sobre 
os estabelecimentos reorganizados de ensino superior do direito, substituindo-se as velhas Faculdades de 
Direito em Escolas de Direito e colocadas sob o controle direto das autoridades políticas para que pudesse 
ser ensinado apenas o direito positivo. 
A Escola Exegética teve grandes expoentes como Bonnecase, Duranton, Demolonbe, Troplong, além de 
outros. Configurando as características principais como, a inversão das relações tradicionais entre direito 
natural e direito positivo, não negando o primeiro, mas desvalorizam sua importância e significado 
prático; a existência de uma concepção rigidamente estatal do direito, que tem nas normas estatais as 
únicas verdadeiramente jurídicas, levando a se ter uma ideia de onipotência do legislador; a interpretação 
da lei fundada na intenção do legislador, como consequência da característica anterior; o culto do texto 
da lei, devendo o intérprete cingir-se exclusivamente aos artigos do Código; e, por fim, o respeito pelo 
princípio da autoridade, onde se deve entender que o legislador não pode ser posto em dúvida, diante de 
interpretação dúbia ou que pudesse levar a um confronto com a norma. 
TEXTO: A Escola da Exegese: origem, características e contribuições 
 Daniel Rodrigues Chaves 
Os defensores da Escola da Exegese não aceitavam a existência de lacunas na lei, pois, por ser fruto da 
razão, ela alcançaria todo o ordenamento jurídico. 
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As Origens da Hermenêutica 
Com o intuito de dar ao leitor um conhecimento mais amplo acerca do conteúdo principal deste artigo, 
reservaremos esta parte do texto para tecer comentários sobre as origens da hermenêutica. 
A ciência da interpretação teve origem na teologia pagã de algumas civilizações da Idade Antiga. Dentre 
elas, podemos destacar a civilização grega. Nos templos helênicos, era comum a existência de feiticeiros 
e adivinhos que abriam o ventre de animais mortos na tentativa de realizar previsões acerca do destino 
das pessoas. Segundo o professor Glauco Barreira, “esse procedimento estava em sintonia com a 
concepção cosmológica e determinista que se tinha do mundo. Desse modo, a crença no destino“‘tornava’ os acontecimentos futuros inevitáveis [...]”. Neste contexto, a hermenêutica era utilizada em 
duas situações distintas. Na primeira, ela era usada pelos feiticeiros e adivinhos para interpretarem as 
mensagens referentes ao destino das pessoas. Na segunda, pelos próprios assistentes destes feiticeiros, 
que precisavam interpretar os pronunciamentos destes adivinhos, visto que eles faziam previsões com 
uma linguagem demasiadamente abstrata. 
Com a ascensão do cristianismo, a hermenêutica passou a ser utilizada para a interpretação da Bíblia. 
Surgiram, nessa época, os primeiros intérpretes do livro sagrado cristão. Após a confecção do Novo 
Testamento, foram criadas várias ramificações do cristianismo original e, com elas, várias formas de se 
interpretar a Bíblia. Tal fato proporcionou o desenvolvimento da hermenêutica bíblica. Na gênesis dessa 
hermenêutica, destacaram-se duas correntes: A Escola de Alexandria e a Escola de Antioquia. A respeito 
dessas correntes hermenêuticas, Glauco Barreira afirma: 
Entre os cristãos, inicialmente, existiam duas grandes escolas de hermenêutica bíblica: a Escola de 
Alexandria e a Escola de Antioquia. A primeira, tinha Clemente e Orígenes como seus grandes corifeus. 
Estes procuravam conciliar a mensagem cristã com a filosofia grega e, para a consumação de tal objetivo, 
alegorizavam os relatos históricos contidos na Escritura. Enquanto isso, os seguidores da Escola da 
Antioquia, prestigiando a compreensão mais óbvia dos textos, favoreciam uma interpretação mais literal. 
Acreditavam que, na Bíblia, existiam alegorias, no entanto, distinguiam a interpretação das Escrituras 
alegóricas da interpretação alegórica da Escritura. 
Podemos perceber, portanto, que a Escola de Antioquia possuía traços semelhantes com o que viria a ser 
a Escola da Exegese, pois ambas defendiam uma interpretação mais literal dos textos que essas correntes 
estudavam. Entretanto, é válido ressaltar que essas escolas possuíam motivos distintos para defenderem 
essa interpretação literal. 
Durante a Idade Média, surgiram alguns célebres intérpretes do livro sagrado cristão, como Santo 
Agostinho e São Tomás de Aquino, que deram grandes contribuições para a hermenêutica teológica cristã. 
Após isso, com o advento da Reforma Protestante, cresceu o número de igrejas independentes da Igreja 
Católica e, com isso, aumentou o número de interpretações diferentes da Bíblia. Tal fato propiciou um 
desenvolvimento, nunca antes visto, da hermenêutica bíblica e o surgimento de vários filósofos que eram 
estudiosos do livro sagrado cristão. Podemos perceber, pois, que a introdução da hermenêutica no campo 
da filosofia era somente questão de tempo. 
A ciência da interpretação foi introduzida na filosofia por Friedrich Schleiermacher. Tal fato ocorreu 
devido à forma de interpretação da Bíblia que este filósofo sustentava. Na sua visão, o livro sagrado dos 
cristãos deveria ser interpretado “como um simples texto de natureza histórico-literária[...]”. Segundo 
Schleiermacher, esse tipo de acepção de sentido do texto poderia e deveria ser utilizada na interpretação 
de qualquer obra. Ao fazer tal afirmação, esse autor abriu caminho para a introdução da hermenêutica 
na filosofia e, posteriormente, no direito. 
Durante o período de inserção da hermenêutica no direito, ganhou força um movimento que propunha a 
codificação do direito. Tal movimento era formado por jurisconsultos que eram muito influenciados por 
vários ideais iluministas. Dentre eles, podemos destacar: o princípio da certeza do direito, o da autoridade 
e o da separação de poderes. Todas essas ideias proporcionaram as bases teóricas para a criação do 
Código Napoleônico, que, ressalta-se, ainda está em vigor na França, e para o surgimento do movimento 
hermenêutico conhecido como a Escola da Exegese. Podemos citar com um dos motivos para a grande 
difusão, no meio acadêmico, das ideias desta corrente científica a obrigatoriedade do ensino deste código 
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nas universidades francesas. A respeito da obrigatoriedade do ensino dos ideais exegistas na França do 
início do século XIX, Bonnecase afirma: 
Deduz-se do discurso de Blondeau que o governo imperial quase que ordenou a exegese [grifo nosso], 
tendo as Faculdades de Direito por primeiro objetivo lutar contra as tendências filosóficas que se 
manifestavam, precariamente, aliás, na maior parte do tempo, no curso de legislação das escolas centrais. 
Percebemos pela parte grifada o quanto era importante, para Napoleão Bonaparte, o ensino dos preceitos 
exegistas nas universidades. Tal fato justifica-se pelos ideais da Escola da Exegese proporcionarem um 
controle maior da população pelo Estado, contribuindo para a noção de que “o Direito e o Código Civil 
eram uma das formas de dominação de que Napoleão dispunha. ” Além disso, é válido ressaltar que alguns 
dos principais expoentes da Escola da Exegese, como Alexandre Duranton, Charles Aubry e Frédéric 
Charles Rau, eram professores universitários na França pós-revolucionária. 
Na próxima parte deste artigo, daremos mais explicações a respeito das características da corrente 
supracitada, contribuindo, assim, para um maior entendimento do leitor acerca da importância histórica 
da Escola da Exegese. 
A Escola da Exegese 
A Escola da Exegese surgiu no início do século XIX em meio ao caos político e social da França 
revolucionária. Nessa época, as diversas trocas de governo no Estado Francês, principalmente durante o 
período do Terror, provocaram uma grande desordem no ordenamento jurídico deste país, o que causava 
grandes prejuízos aos negócios da classe social mais favorecida pela Revolução: a burguesia. 
Contudo, com a ascensão de Napoleão Bonaparte ao poder, a burguesia patrocinou a criação de um 
código civil que consolidou as conquistas burguesas da Revolução e que trouxe ordem e segurança ao 
ordenamento jurídico francês. Nascia, assim, o Código Napoleônico. Sobre ele, Norberto Bobbio (1961) 
afirma: 
Este projeto nasce da convicção de que possa existir um legislador universal [grifo do autor] (isto é, um 
legislador que dita leis válidas para todos os tempos e para todos os lugares) e da exigência de realizar um 
direito simples e unitário [grifo do autor]. A simplicidade e a unidade do direito é o Leitmotiv [grifo do 
autor], a ideia de fundo, que guia os juristas, que nesse período se batem pela codificação. 
O Código Napoleônico foi o códex de leis mais sistematizado já produzido e influenciou a criação de outros 
códigos similares em outros países. Ele e as correntes hermenêuticas surgidas a partir dele foram tão 
importantes que influenciaram profundamente o direito da primeira metade do século XIX, somente 
vindo decair em popularidade entre os jusconsultos a partir do final daquele século. A principal escola 
criada a partir desse código foi a Escola da Exegese. 
Faz-se, aqui, um parêntese para afirmar que a Escola da Exegese não nasceu solitária na Europa pós-
iluminista, pois surgiram outras correntes que possuíam grandes similaridades com a escola supracitada, 
apesar de existirem algumas particularidades de cada corrente hermenêutica. Dentre elas, podemos 
destacar a Escola Pandectista, na Alemanha, e a Escola Analítica, na Inglaterra. A primeira teve como 
grande corifeu Bernhard Windscheid, mas, ao contrário da Escola da Exegese, não focou seus estudos no 
Código Napoleônico, mas no Corpus Juris Civilis, que foi instituída no Império Binzantino pelo imperador 
Justiniano I. A segunda teve como seu grande defensor John Austin e foi baseada no sistema jurídico de 
Common Law, o que torna essa escola bem menos radical que a Escola da Exegese. 
Vários jusconsultos renomados, como Chaïm Perelman e Bonnecase, dividem a Escola da Exegese em três 
fases. A primeira ocorreu desde a outorga do Código Napoleônico até meados da década de trinta do 
século XIX. Durante esse

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