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GESTÃO EMPREENDEDORA E INOVAÇÃO Marcia Maria da Graça Costa , 2 SUMÁRIO 1 EMPREENDEDORISMO E O EMPREENDEDOR .......................................... 3 2 O PROCESSO EMPREENDEDOR .............................................................. 25 3 INOVAÇÃO E EMPREENDEDORISMO ..................................................... 49 4 INOVAÇÃO E TECNOLOGIA .................................................................... 68 5 EMPREENDEDORISMO SUSTENTÁVEL ................................................... 91 6 EMPREENDEDORISMO CORPORATIVO ................................................ 111 , 3 1 EMPREENDEDORISMO E O EMPREENDEDOR O Brasil é considerado um dos países mais empreendedores do mundo. Em 2017, 36,4% dos brasileiros com idade entre 18 e 64 anos conduziam atividades empreendedoras. Isso significa que 36 em cada 100 brasileiros estavam envolvidos em um negócio próprio. É um contingente de quase 50 milhões de brasileiros empreendendo ou realizando ações para criação de um negócio futuro (GEM, 2018). O que torna o nosso país tão favorável às atividades empreendedoras? E qual é o resultado do esforço desses milhões de empreendedores? Para responder essas questões, precisamos compreender a história do empreendedorismo, como ele teve início no Brasil, e o seu cenário atual. 1.1 Análise histórica do empreendedorismo O empreendedorismo, como um conceito, existe desde que surgiu a necessidade de realização de grandes projetos, tais como a construção das pirâmides do Egito, os jardins suspensos da Babilônia, o Farol de Alexandria, a cidade Maia de Chichen Itzá e outras obras grandiosas que estão distribuídas pelo mundo afora. Até meados da Idade Média, os empreendedores ainda não eram conhecidos por assumir riscos, mas exerciam o papel de gerenciar grandes projetos. O marco inicial teria sido a assinatura de um contrato entre o explorador Marco Polo (1254-1324)1 e um comerciante de tecidos e especiarias para vender seus produtos na chamada Rota do Oriente2. Dessa forma, ele assumiu grandes riscos, pois a carga poderia ser roubada e ele teria que 1 Marco Polo foi um mercador, embaixador e explorador veneziano cujas aventuras estão registradas em As Viagens de Marco Polo, um livro que descreve para os europeus as maravilhas da China, de sua capital Pequim e de outras cidades e países da Ásia. (WIKIPEDIA, s.d.). 2 A Rota do Oriente, também conhecida como rotas das especiarias, foram percursos comerciais gerados pelo comércio de especiarias provenientes da Ásia, interligando diversos povos ao longo do tempo, da Europa à Ásia. (WIKIPEDIA, s.d.). , 4 reembolsar os comerciantes. Mas, as expressões empreendedorismo e empreendedor ainda não eram utilizadas (CHIAVENATO, 2012; FABRETE, 2019). Segundo Chiavenato e Fabrete, derivada da palavra francesa entrepreneuer, que significa o “indivíduo que assume riscos”, a palavra empreendedor começou a ser utilizada no século XVIII pelo economista Richard Cantillon (1680-1734). A palavra foi utilizada para diferenciar o capitalista do empreendedor. Segundo Cantillon, o capitalista apenas investia recursos financeiros em um negócio, correndo apenas riscos financeiros. Por outro lado, era o empreendedor que assumia papel ativo, correndo riscos físicos e emocionais, viajando pelo mundo para realizar o comércio. O uso da palavra evoluiu com outro economista, dessa vez Jean-Baptiste Say (1767- 1832), que passa a associar o empreendedor ao aumento da produtividade. Seria alguém que transfere recursos econômicos entre atividades com baixa e elevada produtividade, tornando-se um elemento essencial no sistema econômico. Por fim, mais um economista se envolve na definição do empreendedor. Dessa vez, Carl Menger (1840-1921), que definiu o empreendedor como alguém que antecipa ações e realiza previsões sobre as necessidades futuras do negócio. O papel e o perfil do empreendedor continuaram a ser estudados e definidos pelos economistas. Já no século XX, Ludwig von Mises (18881-1973) afirmava que o empreendedor é alguém que toma decisões; enquanto Friedrich von Hayek (1899-1992) ampliou o conceito, extrapolando o fator “assumir riscos” para alguém que identifica oportunidades de mercado (CHIAVENATO, 2012; FABRETE, 2019). Finalmente, nos anos 1950, Joseph Schumpeter (1883-1950) introduz a ideia de “destruição criativa” ao comportamento do empreender. Para o economista, o empreendedor é uma pessoa capaz de converter uma ideia em uma inovação bem- sucedida, com a substituição de produtos. Dessa forma, surge a associação do empreendedor com criação de novas empresas ou revitalização de empresas já maduras, sempre com base no conceito de novos negócios em resposta à identificação de oportunidades. É por isso que, por meio da destruição criativa, o empreendedor se torna responsável pelo dinamismo do mercado, contribuindo para o crescimento econômico. , 5 O tema empreendedor e empreendedorismo continuou a ser estudado por diversos pesquisadores, de várias áreas, que contribuíram muito para a compreensão do assunto. Confira uma síntese desses estudos no quadro a seguir. Quadro 1.1 - Contribuições para o entendimento do empreendedorismo Fonte: Chiavenato (2012, p. 7-8). Esses estudos contribuíram para compreender melhor o papel do empreendedor na economia, e na sociedade como um todo. Chiavenato (2012) sintetiza o comportamento empreendedor como aquele em que alguém coloca em risco a sua segurança pessoal e profissional para assumir riscos, investindo tempo e dinheiro para colocar uma ideia em prática. Em relação às contribuições do empreendedorismo para a sociedade, Maximiano (2012) e Dornelas (2018) destacam que seu fortalecimento representa um papel significativo e importante para o desenvolvimento econômico e social, em especial, pela sua capacidade de gerar empregos e renda para a população. Nesse sentido, a ANO AUTOR CONTRIBUIÇÃO 1961 McClelland Identifica três necessidades do empreendedor: poder, afiliação e sucesso (sentir que se é reconhecido). Afirma que: “o empreendedor manifesta necessidade de sucesso” 1966 Rotter Identifica o locus de controle interno e externo: “o empreendedor manifesta locus de controle interno” 1970 Drucker O comportamento do empreendedor reflete uma espécie de desejo de colocar sua carreira e sua segurança financeira na linha de frente e correr riscos em nome de uma ideia, investindo muito tempo e capital em algo incerto 1973 Kirsner “Empresário é alguém que identifica e explora desequilíbrios existentes na economia e está atento ao aparecimento de oportunidades” 1982 Casson “O empreendedor toma decisões criteriosas e coordena recursos escassos” 1985 Sexton e Bowman “O empreendedor consegue ter uma grande tolerância à ambiguidade” 1986 Bandura “O empreendedor procura a autoeficácia: controle da ação humana através de convicções que cada indivíduo tem para prosseguir autonomamente na procura de influenciar a sua envolvente para produzir os resultados desejados 2002 William Baumol “O empreendedor é a máquina de inovação do livre mercado” , 6 ação empreendedora tem impacto relevante no desenvolvimento de um país, em virtude do seu potencial de geração de riqueza, inovação e aumento da produtividade. Maximiano (2012) sintetiza a importância do empreendedorismo para a sociedade em três variáveis: inovação, padrão e qualidade de vida. A Inovação é um motor econômico relevante, e os estudos comprovam que os pequenos negócios costumam ser mais eficientes que as grandes empresas por apresentarem maior flexibilidade para gerar inovações. Os fatos históricos demonstram que a maioria das inovações importantes e impactantes da atualidade foram criadas no âmbito de pequenas empresas. Quanto ao padrão e à qualidade de vida, a atividade empreendedoraafeta vários aspectos sociais de maneira significativa. Considerando o Padrão de Vida como a quantidade de produtos que podem ser comprados com a renda disponível, os empreendedores afetam esse padrão ao permitir uma inserção social que outras atividades não permitiriam. A Qualidade de Vida é o bem-estar geral da sociedade, proporcionado por fatores que contribuem para o conforto e a satisfação das pessoas. O incremento das atividades empreendedoras de uma sociedade, com o aumento do padrão de vida, reflete de forma direta no seu bem-estar. Não é por acaso que as principais economias mundiais, reconhecidas pela melhor qualidade de vida, são as mesmas que estimulam o espírito empreendedor. 1.2 Conceito e caracterização do empreendedorismo As diversas inovações e invenções surgidas ao longo do século XX têm transformado a vida das pessoas. Novos olhares sobre elementos já existentes, e a criação de elementos verdadeiramente novos, revolucionaram o estilo de vida da sociedade. Sempre que essas inovações são estudadas pelos pesquisadores, percebe-se que a sua base é o comportamento empreendedor. Veja, na figura a seguir, algumas dessas contribuições do empreendedorismo ao longo do século XX (DORNELAS, 2018). , 7 Figura 1.1 – Contribuições do empreendedorismo: ideias e invenções do século XX Fonte: Dornelas (2018, p. 2). É por isso que Jeffry Timmons afirmou que “o empreendedorismo é uma revolução silenciosa, que será para o século 21 mais do que a revolução industrial foi para o século 20” (TIMMONS, 1990 apud DORNELAS, 2018, p.1). Para compreender a forma como o empreendedorismo vem revolucionando o mundo, o empreender se tornou objeto de estudo em diversas áreas, no entanto, nota-se um aumento da preocupação em entender o empreendedorismo e como ele pode ser ensinado e aplicado. Ainda que os estudos já aconteçam há séculos, o avanço tecnológico, e seus impactos nos meios de produção, têm exigido um número maior de empreendedores. Assim, a formalização dos conhecimentos sobre o empreendedorismo, que permita sua aplicação nos diversos níveis de educação escolar, tornou-se fator crítico de sucesso (DORNELAS, 2018). E como é possível conceituar empreendedorismo? A própria origem da palavra já permite alguma conceituação, uma vez que o termo “entrepreneuer” identifica alguém , 8 que corre riscos para iniciar algo novo. A partir desse conceito inicial, Dornelas (2018, p. 30) amplia o conceito para a definição que utilizaremos ao longo da disciplina, quando afirma “que o processo empreendedor envolve todas as funções, atividades e ações associadas à criação de novos negócios, não se limitando à abertura de empresas”. Indo além, e desdobrando o conceito inicial, segundo o autor, Em primeiro lugar, o empreendedorismo envolve o processo de criação de algo novo, de valor. Em segundo, requer a devoção, o comprometimento de tempo e o esforço necessário para fazer a empresa crescer. Em terceiro, que riscos calculados sejam assumidos, e decisões críticas, tomadas; é preciso ousadia e ânimo, apesar de falhas e erros. (DORNELAS, 2018, p. 30). Por essa conceituação, é possível perceber que o empreendedorismo não é uma característica de personalidade, ou seja, não se nasce empreendedor, como era o pensamento vigente há alguns anos. Por se tratar de um processo que envolve metodologias e técnicas, o aprendizado não só é possível, como tem sido praticado em diversas instituições de ensino, inclusive aqui no Brasil. Até mesmo porque o sucesso de um empreendimento não depende apenas da vontade do empreendedor, mas também de diversos fatores internos e externos (que devem ser considerados na análise do negócio) e da maneira como o negócio é administrado. Tudo isso requer o desenvolvimento de competências que envolvem os conhecimentos originados de diversas áreas, tais como contabilidade, administração, finanças, dentre outras (DORNELAS, 2018; FABRETE, 2019). Dornelas (2018) alerta para o fato de que o ensino de empreendedorismo pode sofrer alterações em virtude da instituição no qual é aplicado. Por isso, ele recomenda que qualquer curso deve conter os itens a seguir. , 9 Figura 1.2 – Conteúdos para cursos de empreendedorismo Fonte: Dornelas (2018, p. 31). É claro que o ensino do empreendedorismo não garante que todos se tornarão mitos, tais como Steve Jobs e Bill Gates, ou Luiza Trajano, Olavo Setúbal, Samuel Klein e Abílio Diniz (para citar alguns brasileiros). Mas, certamente, proporcionará uma preparação melhor para os empresários, resultando em empresas mais bem preparadas para gerar empregos, renda e riqueza (DORNELAS, 2018). Esses aspectos são relevantes tendo em vista que a compreensão do empreendedorismo depende do entendimento do seu ambiente. Conforme Salim e Silva (2010), os principais componentes desse ambiente estão descritos a seguir. • Inovação: é a essência do ambiente, composta por invenções e novidades tecnológicas; • Comunicação: as ferramentas de comunicação virtual tornam os processos de comunicação mais simples, ágeis e baratos; , 10 • Informação: o avanço das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) permitem o acesso a um grande volume de informações, sobre diversas áreas, muitas delas em tempo real; • Distribuição: o crescimento do comércio internacional traz novos desafios logísticos com a distribuição de clientes, fornecedores e da produção em vários países; • Tecnologia: o aumento contínuo das novas tecnologias, em uma velocidade muito maior que em um passado recente, representa novas oportunidades, mas também novos desafios; • Globalização: a velocidade com a qual os negócios tem se espalhado pelo mundo, a conexão entre pessoas e empresas de vários países, traz novas maneiras de avaliar os negócios existente nesse cenário; • Novos conceitos: a evolução da sociedade tem refletido na gestão dos negócios, temas como responsabilidade social e ambiental têm sido cobrados das empresas por consumidores; além disso, o comércio virtual tem se expandido para diversos produtos e serviços, exigindo respostas rápidas e adequadas. 1.3 O empreendedorismo no Brasil De um ponto de vista conceitual, ou seja, a partir do conceito do empreendedorismo como uma forma de assumir riscos para colocar em prática novas ideias, essa atividade pode ser identificada no Brasil a partir do século XVII. Nessa época, quando o país ainda era uma colônia, o governo português realizou a doação de grandes extensões de terra para os cidadãos. Esses novos proprietários assumiram, então, o risco de navegar por meses até o novo continente e desenvolver a propriedade recebida (SALIM; SILVA, 2010). , 11 No século XIX, com o Brasil na condição de império, destaca-se a atuação pioneira de Irineu Evangelista de Souza (1813-1889), o Visconde de Mauá. Ele foi empresário, industrial e banqueiro e sua atuação sempre se direcionou ao desenvolvimento do país. São inúmeros os projetos que servem de exemplo a essa ação empreendedora: as companhias de navegação a vapor no Rio Grande do Sul e no Amazonas; a primeira ferrovia brasileira ligando Petrópolis ao Rio de Janeiro; a companhia de gás para a iluminação pública do Rio de Janeiro e primeira rodovia pavimentada do país, interligando as cidades de Petrópolis (RJ) à Juiz de Fora (MG) (DORNELAS, 2018; SALIM; SILVA, 2010). A longo do século XX, diversos empreendedores se tornaram pioneiros nas suas áreas de atuação, deixando um extenso legado social e para a economia do país. Confira alguns deles no quadro a seguir. , 12 Quadro 1.2 – Pioneiros do empreendedorismo no Brasil PIONEIRO LEGADO Francisco Matarazzo • Indústrias Matarazzo (Início da industrialização do país). Nami Jafet • Comércio no interior de São Paulo; • Clube Monte Líbano;• Hospital Sírio e Libanês. Ramos de Azevedo • Reurbanização de São Paulo; • Teatro Municipal; • Prédio da Faculdade de Medicina da USP. Júlio Mesquita • Jornal O Estado de S. Paulo. Leon Feffer • Suzano Papel e Celulose; • Início da produção de papel e celulose; • Clube A Hebraica; • Hospital Albert Einstein. Antônio Ermírio de Moraes • Grupo Votorantim. Jorge Gerdau Johannpeter • Setor siderúrgico; • Indústrias Gerdau. Fonte: adaptado de Salim e Silva (2010, p. 41-47). , 13 Esses pioneiros desenvolveram suas atividades empreendedoras quando o tema empreendedorismo ainda não era discutido no país de forma consistente. A economia fechada e o cenário político não estimulavam a ação de empreendedores, muito menos a abertura de pequenas empresas. A grande maioria dos pequenos negócios funcionava de maneira informal. Nos anos 1990, com a abertura da economia promovida pelo Presidente Fernando Collor (1949-) e a criação do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e da Sociedade Brasileira para Exportação de Software (Softex). O Sebrae é reconhecido como o principal órgão de apoio ao pequeno empresário, fornecendo suporte para a formação de empreendedores, apoio para obter soluções para as dificuldades e problemas dos negócios e consultoria especializada. A Sofitex contribuiu para a expansão do segmento de softwares, capacitando os empresários de informática em gestão e tecnologia, e apoiando a nascente indústria de tecnologia nacional. Além desses exemplos, o programa Brasil Empreendedor, criado pelo Governo Federal em 1999, proporcionou capacitação a mais de seis milhões de empreendedores em todo o país, com investimento de R$ 8 bilhões (DORNELAS, 2018; FABRETE, 2019). A partir do ano 2000, o Global Entrepreneurship Monitor (GEM), instituição destinada à pesquisa sobre o empreendedorismo no mundo, em parceria com o Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP), começou a realizar pesquisas sobre o empreendedorismo no Brasil. A pesquisa é feita com um grande número de empreendedores, que fornecem os dados e informações para consolidar o Relatório GEM de Empreendedorismo no Brasil (GEM, 2018). É desse relatório, da edição de 2017, as informações a seguir. Vamos começar com o volume total de empreendimentos captado pela pesquisa em 2017, que você observa na tabela abaixo. , 14 Tabela 1.1 – Empreendimentos por classificação – Brasil 2017 Fonte: GEM (208, p. 8). A classificação dos empreendimentos é feita com os seguintes parâmetros: • Nascentes: negócio novo que ainda não pagou salários, pró-labores ou outra forma de remuneração aos proprietários por mais de três meses; • Novos: empreendimento que já remunerou de alguma forma os seus proprietários em período superior a três meses e inferior a 3,5 anos; • Estabelecidos: negócios que já remuneraram os proprietários de alguma forma (salário, pró-labore ou outra) em período superior a 3,5 anos. A evolução do número de empreendedores, no período de 2002 a 2017, mostra que houve crescimento de 21% para 36%, com o maior percentual em 2015. A maior participação, durante a maior parte do período, é de negócios iniciais. Em 2017, esses negócios representaram 20%, enquanto os estabelecidos registraram 17%. , 15 Figura 1.3 – Evolução dos tipos de empreendedores – Brasil 2002-2017 Fonte: GEM (2018, p. 8). Para compreender essa expansão contínua da atividade empreendedora, os motivos pelos quais as pessoas optaram pela abertura de um negócio também são objeto da pesquisa. Nesse sentido, o relatório realiza a classificação de duas formas: empreendedorismo por oportunidade e por necessidade. • Oportunidade: iniciaram o negócio pela percepção de uma oportunidade no ambiente; • Necessidade: o negócio foi iniciado pela falta de opções para gerar ocupação e renda. Figura 1.4 – Motivos para empreender – Brasil 2002-2017 Fonte: GEM (2018, p. 10). , 16 De acordo com as análises do instituto, a participação desses tipos de empreendedores tem relação com a situação econômica do país. De maneira geral, quando a economia está estável e oferece boas chances de empregabilidade, o empreendedorismo por necessidade tende a cair, pelas oportunidades de obter emprego e renda. Nesse cenário, a maior participação é a de empreendedorismo por oportunidade. Entre 2008 e 2014, percebe-se o grande crescimento de empreendedorismo por oportunidade, confirmando a análise do instituto, pois nesse período houve grande crescimento econômico no Brasil. A partir de 2015, com a desaceleração da economia, a linhas começam a se encontrar, o que significa aumento do empreendedorismo por necessidade e queda das oportunidades de novos negócios. Se você quiser explorar mais o perfil do empreendedorismo no Brasil, acesse o relatório completo através do link que está disponível nas referências ao final deste texto. 1.4 O comportamento empreendedor Muitas pesquisas foram realizadas, ao longo do tempo, para identificar as características que definem o comportamento empreendedor, uma vez que os resultados obtidos estão relacionados com seu perfil comportamental. Nesse sentido, Maximiano (2012), sintetiza os principais traços do comportamento empreendedor na figura a seguir. , 17 Figura 1.5 – Traços do comportamento empreendedor Fonte: Maximiano (2012, p. 17). Vamos explorar um pouco mais esses traços, a partir de Maximiano (2012). Criatividade: é um dos traços principais do empreendedor, que está sempre envolvido na busca de soluções inovadoras. Disposição para assumir riscos: é o traço básico da personalidade citado pelos pesquisadores, desde a origem dos estudos sobre empreendedorismo. Significa a capacidade de lidar com as incertezas associadas a um novo negócio. Capacidade de implementação: além do seu potencial de gerar inovações, o empreendedor se destaca por levar as ideias até a sua consecução, ou seja, finaliza o que imagina. Senso de independência: ter forte senso de independência significa que os empreendedores não dependem do suporte ou da opinião de outras pessoas. Eles confiam na própria capacidade para realizar o que muitos podem considerar irrealizável, têm autonomia e trabalham para si mesmos. , 18 Perseverança: criar um negócio implica em investir e fazer grandes esforços para superar os obstáculos. Por isso, ter perseverança significa não desistir e investir tempo e energia para obter a realização. Otimismo: o empreendedor consegue formar uma visão de futuro na qual não considera a possibilidade de fracasso. E se fracassar, compreende o fato como uma chance de aprender e ter sucesso na próxima tentativa. Chiavenato (2012) também apresenta uma síntese do conjunto de características que integram o espírito empreendedor, como poder ser observado na figura a seguir. Figura 1.6 – As três características básicas do empreendedor Fonte: Chiavenato (2012, p. 14). Com base no autor, e em Fabrete (2019), iremos explorar essas características a seguir. Necessidade de realização Os indivíduos possuem necessidade de realização em níveis diferentes. Aqueles que a tem em nível mais elevado costumam ser mais competitivos, buscam um alto padrão de excelência e realizam as próprias tarefas. Essa alta necessidade de realização caracteriza os empreendedores. , 19 Disposição para assumir riscos Empreendedores, como já comentado, tem tendência a assumir diversos tipos de riscos. Muitos abandonam posições estáveis no mercado de trabalho para explorar oportunidades identificadas, nas quais realizam investimentos. No entanto, é importante destacar que eles assumem riscos calculados, ou seja, aqueles nos quais podem exercer certo domínio. Autoconfiança O indivíduo empreendedor éseguro em relação aos seus objetivos, bem como de sua capacidade para enfrentar e superar os obstáculos e desafios. Acredita em suas habilidades pessoais, e também no fato de que o sucesso depende do seu esforço. 1.5 Características do empreendedor de sucesso Os estudos realizados sobre a atuação de inúmeros empreendedores de sucesso revelam que eles desenvolvem características que os tornam diferenciados em relação aos demais. Para Dornelas (2018), são as características a seguir que devem ser buscadas por empreendedores para alcançar o sucesso. São visionários Conseguem estabelecer uma visão de como será o futuro de seu negócio e têm a habilidade de implementar seus sonhos. , 20 Sabem tomar decisões Têm capacidade para tomar as decisões corretas na hora certa, especialmente em situações de adversidade, o que é um fator-chave para seu sucesso. Também conseguem colocar em prática suas ações rapidamente. São indivíduos que fazem a diferença Isso acontece porque eles, de acordo com Dornelas (2018, p. 24), “transformam algo de difícil definição, uma ideia abstrata, em algo concreto, que funciona, transformando o que é possível em realidade.” Dessa forma, pode-se afirmar que eles fazem a diferença por transformar sonhos em realidades. Sabem explorar ao máximo as oportunidades Perceber e explorar oportunidades está na essência do empreendedorismo. E o empreendedor de sucesso consegue identificar boas ideias aonde ninguém mais vê, ou não percebem o seu potencial. É por isso que são considerados excelentes nas ações de identificar e explorar oportunidades. São determinados e dinâmicos Seu dinamismo supera as adversidades e obstáculos, especialmente pela determinação e pelo comprometimento aplicados na implementação das suas ações. É por esse dinamismo que costumam não se conformar com a rotina. São dedicados Dedicam-se integralmente ao seu negócio, com muita energia e sem restrição de tempo, o que muitas vezes cria problemas de relacionamento com amigos e família, podendo até mesmo causar-lhes problemas de saúde. Costumam ser incansáveis e loucos pelo trabalho. , 21 São otimistas e apaixonados pelo que fazem São otimistas, pois não consideram o fracasso, só enxergando o sucesso. E fazem isto de maneira apaixonada, pois adoram o que fazem. É dessa forma que obtém a energia que os mantem animados e autodeterminados. São independentes e constroem o próprio destino Não querem ficar presos ao modelo de emprego tradicional, mas, ser seu próprio patrão e assim determinar por si próprio seu caminho. Procuram a independência a partir da criação de algo novo, que também gere empregos. Ficam ricos Empreendedores de sucesso não têm como meta central ficarem ricos. Eles compreendem que o dinheiro é consequência de um bom trabalho e do sucesso dos negócios. São líderes e formadores de equipes O empreendedor de sucesso sabe que não pode fazer tudo sozinho e, portanto, depende de outros para chegar ao sucesso. Por isso, estudam e exercitam a liderança para manter seus colaboradores motivados e valorizados, obtendo, em contrapartida, forte comprometimento e respeito de todos. São bem relacionados (networking) Valorizam sua rede de contatos externos à empresa, não só com clientes e fornecedores, mas com todos que podem influenciar seus resultados, tais como entidades de classe e autoridades. , 22 São organizados Sabem como otimizar a alocação dos recursos, utilizando instalações, máquinas e equipamentos, bem como capital humano e recursos financeiros, de maneira racional e centrada na produção de resultados para o negócio. Planejam, Planejam, Planejam Para ter sucesso, esses empreendedores investem no planejamento detalhado do seu negócio. Todo o processo, que começa com um esboço do plano de negócios, até sua demonstração a investidores, o que inclui o desenvolvimento de estratégias de marketing para o negócio e outros aspectos relevantes. E esse planejamento sempre considera a sua visão de negócio. Possuem conhecimento Eles entendem que o sucesso nos negócios depende do conhecimento obtido em diversas fontes, e que deve ser continuamente atualizado. Assim, se mantêm atualizados para ter domínio sobre a dinâmica do seu negócio e do ramo de atividade. Exploram as diversas fontes de conhecimento, tais como a experiência prática, cursos especializados, publicações especializadas e análise de negócios semelhantes. Assumem riscos calculados Capacidade para assumir riscos é a característica mais conhecida dos empreendedores. No entanto, quando estudamos os empreendedores de sucesso, percebe-se que vão além de assumir riscos calculados, pois sabem gerenciar o risco e analisar o potencial verdadeiro de obter sucesso. Como entendem que riscos e desafios estão relacionados, consideram a jornada empreendedora mais recompensadora quando assumem desafios maiores. , 23 Criam valor para a sociedade A própria dinâmica de negócios e o sucesso alcançado pelos empreendedores de sucesso resultam em valor para a sociedade. Os negócios envolvem a criatividade para solucionar problemas, ampliando o potencial de inovação. Essa combinação gera empregos e renda, com impactos positivos na economia como um todo. Perceba que a descrição das características dos empreendedores de sucesso inclui conhecimentos, habilidades e competências construídos ao longo do tempo. São resultado de um processo contínuo de aprendizado, e de alguns atributos pessoais, que tornam possível conquistar sucesso acima da média. Conclusão Nesta etapa, começamos os estudos sobre o empreendedorismo avaliando sua evolução histórica e o contexto que proporcionou sua origem e evolução. O fato de os estudos iniciais terem sido desenvolvidos por economistas já evidencia a relação direta entre empreendedorismo e atividade econômica. É por isso que o empreendedorismo exerce papel significativo para a inovação, padrão e qualidade de vida da população. Ao aprofundar a análise do empreendedorismo no Brasil, descobrimos que ele teve início, praticamente, desde a descoberta do país, mesmo que as ações desenvolvidas até o século XIX não tivessem esse nome. Vários pioneiros do empreendedorismo superaram imensas dificuldades e deixaram o seu legado nacional. O impulso à atividade empreendedora tem início nos anos 1990, com diversas ações, tais como a criação do Sebrae e da Softex. Atualmente, o Brasil é considerado um dos países mais empreendedores do mundo, cujo perfil de empreendedor apresenta variação ao longo do tempo, como mostraram as pesquisas realizadas pelo GEM. Para entender o fenômeno do empreendedorismo, estudamos a sua figura central, o empreendedor. Vimos suas características essenciais e diferenciadores, também pudemos entender que tudo isso pode ser aprendido, uma vez que existem , 24 metodologias e técnicas que contribuem para o desenvolvimento do comportamento empreendedor. E, por fim, observamos os resultados de estudos que avaliam os empreendedores de sucesso, que mostram as características daqueles que criaram negócios com resultados acima da média. Também nesse aspecto, é possível concluir que ser empreendedor é, acima de tudo, uma escolha que envolve muito estudo e planejamento. REFERÊNCIAS CHIAVENATO, I. Empreendedorismo: dando asas ao espírito empreendedor. 4 ed. Barueri, SP: Manole, 2012. DORNELAS, J. Empreendedorismo, transformando ideias em negócios. 7 ed. São Paulo: Empreende, 2018. FABRETE, T. C. L. Empreendedorismo. 2 ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2019. GEM - Global Entrepreneurship Monitor. Empreendedorismo no Brasil: Relatório GEM 2017. São Paulo: GEM, 2018. Disponível em: <https://bit.ly/2TMqMhN>. Acesso em: 20 jun. 2020. MAXIMIANO, A. C. A. Empreendedorismo. São Paulo: Pearson Prentice Hall,2012. SALIM, C. S; SILVA, N. C. Introdução ao empreendedorismo: construindo uma atitude empreendedora. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. “Marco Polo”. In: Wikipedia. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Marco_Polo>. Acesso em: 24 jun. 2020. “Rota das Especiarias” In: Wikipedia. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Rota_das_especiarias>. Acesso em: 24 jun. 2020. , 25 2 O PROCESSO EMPREENDEDOR Para a criação de um novo empreendimento, seja uma nova empresa ou um projeto em organização já existente, é necessária uma boa ideia, com potencial para se transformar em uma oportunidade de negócio. Mas as boas ideias não surgem assim tão facilmente, ao contrário do senso comum, elas são resultado de observação e direcionamento. A habilidade de utilizar a criatividade para gerar novas ideias tem sido o fator crítico de sucesso para a sobrevivência das organizações, pois é por elas que são geradas as inovações e é possível construir vantagens competitivas. Esses resultados somente poderão ser obtidos se as ideias forem analisadas e resultarem em oportunidades de negócio. Mas não basta só isso, é preciso analisar se esse negócio é viável, quais serão as fontes que financiarão a sua concretização e de que forma será feito o gerenciamento que garante a sua sobrevivência. Novos empreendimentos, portanto, dependem de um processo estruturado para que possam se tornar negócios de sucesso. É sobre esse processo que trataremos nesta etapa. 2.1 Fatores que influenciam o processo empreendedor O processo empreendedor tem início a partir de fatores originados por alguns acontecimentos, e que levam à decisão de avaliar a possibilidade de criação de um novo negócio. Dornelas (2018) demonstra os principais fatores na figura a seguir. , 26 Figura 2.1 - Fatores que influenciam o processo empreendedor Fonte: Dornelas (2018, p. 32). Observe que são diversos tipos de fatores que exercem influência sobre todo o processo de empreender. Desde o início do processo, os fatores pessoais tem participação relevante nas decisões do empreendedor. Características como assumir riscos dividem o espaço com fatos ocorrido na vida pessoal, como uma demissão ou a insatisfação com o emprego atual. Em paralelo, a vida social também influencia a tomada de decisão, fatores como o círculo familiar e a influência dos pais podem gerar a decisão de empreender. No entanto, os aspectos externos também participam do contexto, pois as oportunidades estão presentes no cenário externo, a partir da identificação de problemas ou necessidades de uma parcela da população, que poderiam ser solucionadas ou atendidas com o negócio. A existência de fatores facilitadores e dificultadores, como os recursos e o ambiente de negócios, consolidam o quadro no qual uma ideia pode resultar em uma oportunidade e se concretizar por meio de um negócio com chances de sucesso. , 27 Ao observar mais atentamente a figura 2.1, vemos que a inovação está no início do processo empreendedor, pois ela é a semente do processo. De maneira geral, quando falamos de inovação, nos referimos à inovação tecnológica e seu papel no desenvolvimento econômico mundial. Esse tipo de inovação implica a análise mais aprofundada de quatro fatores críticos, como apresentados por Dornelas (2018) na figura que segue. Figura 2.2 - Fatores críticos para o desenvolvimento econômico Fonte: Dornelas (2018, p. 32). A figura evidencia o talento do empreendedor como ponto de partida para gerar inovações. É a sua percepção, aliada à dedicação e trabalho comprometido que resultam nas inovações que proporcionam a diversidade e o desenvolvimento de novos negócios. No entanto, Dornelas (2018) alerta que o talento precisa ser alimentado por ideias, representadas na figura 2.2 pela tecnologia. A associação de boas ideias com o talento empreendedor dá início ao processo empreendedor. Para colocar o processo em movimento, a fonte de energia que funciona como combustível do negócio é o capital. Por fim, as competências (know-how), como ingredientes finais e que resultam do conhecimento e da habilidade, geram a sinergia necessária para combinar talento, tecnologia e capital que viabilizam o desenvolvimento do negócio. , 28 A partir dessas discussões iniciais, é possível compreender o processo de empreender, como proposto por Dornelas (2018), e as suas etapas, que estão consolidadas na figura a seguir. Figura 2.3 - O processo empreendedor Fonte: Dornelas (2018, p. 34). Cada uma das etapas desse processo será detalhada nas seções a seguir. 2.2 Identificar e avaliar oportunidades Existem muitas fontes de ideias que podem ser convertidas em oportunidades para novos negócios. Para Maximiano (2012), é possível agrupar as fontes de ideias em duas categorias: a criatividade do empreendedor e o mercado potencial. Dessa combinação, resultam algumas possibilidades, tais como as da figura a seguir. , 29 Figura 2.4 – Possibilidades de novos negócios Fonte: elaborado pela autora com base em Maximiano (2012). Com ajuda de Maximiano (2012), vamos explorar um pouco mais cada uma dessas possibilidades. Novo negócio com base em novo conceito É o modelo básico do empreendedorismo, quando se cria um conceito novo e revolucionário o suficiente para criar um novo mercado. Significa criar um negócio baseado em ideias de produtos que ainda não existem. São ideias que utilizam a tecnologia para criar soluções que, muitas vezes, tornam obsoletos os existentes e viabilizam oportunidades que antes não eram possíveis. São exemplos desse tipo de negócio o Whatsapp, que foi viabilizado pela transformação dos telefones celulares em smartphones; e o Netflix, que se tornou viável com o acesso à internet pelos aparelhos de televisão. , 30 Novo negócio com base em conceito existente É um empreendimento que nasce a partir de ideias que já existem, no qual o empreendedor pode exercer sua criatividade para agregar diferenciais em relação ao modelo de negócio que existe no mercado. Dessa forma, um tipo de negócio existente pode ser redirecionado a novos mercados que não estão sendo atingidos. São exemplos desse tipo de possibilidade os mercados nos quais não existem caixas, ao final as compras, os consumidores passam os produtos por equipamentos que totalizam o valor a pagar, bastando inserir o cartão de crédito ou débito para realizar o pagamento. Necessidades dos consumidores A ideia desse tipo de negócio é identificar necessidades não atendidas ou atendidas de maneira inadequada. O empreendedor precisa estar atendo às reclamações e sugestões de consumidores. Atualmente, com a disseminação das redes sociais digitais, muitas ideias e oportunidades podem ser identificadas a partir dos comentários de consumidores sobre as carências existentes em determinados mercados. Serviços como consertos e pequenas reformas, por exemplo, passaram a ser demandados em virtude da falta de tempo devido ao trabalho e do aumento de pessoas que moram sozinhas. Eles deram origem a negócios do tipo “marido de aluguel”, em uma alusão ao que era feito pelos antigos “chefes de família”. Aperfeiçoamento do negócio É partindo de um modelo de negócio existente que essa possibilidade se apresenta. Aqui, o aperfeiçoamento costuma ser realizado com adequação de preços, meios de distribuição, dentre outras possibilidades, de maneira que o desempenho de funções existentes seja feito de maneira nova e aprimorada. O atendimento médico em ambiente virtual, por exemplo, permite que o processo de solicitação de exames e de medicamentos seja feito também de maneira digital. O que viabiliza o , 31 aperfeiçoamento do negócio de farmácias com o recebimento de receitas digitais e a entrega de medicamentosem domicílio. Exploração de hobbies Até mesmo as atividades de lazer que o empreendedor realiza podem criar oportunidades de negócios. Isso acontece quando são identificadas possibilidades comerciais de aplicação em algum grupo social. Alguém que pratica surfe, por exemplo, pode perceber a oportunidade de abrir um negócio para a comercialização de produtos para praticantes do setor. Derivação da ocupação O sucesso obtido pelo empreendedor na sua atuação profissional pode representar uma possibilidade de oferecer suas competências na forma de um negócio. Isso costuma acontecer com profissionais da contabilidade, por exemplo, que abrem seus escritórios após atuar na área corporativa. O mesmo se observa com diversos profissionais que aproveitam a experiência adquirida para abrir empresas de consultoria. Observação de Tendências As rápidas transformações da sociedade trazem mudanças comportamentais que podem resultar em oportunidades de negócios para atender novos mercados que nascem a partir dessas mudanças. A crescente consciência ambiental, por exemplo, demanda produtos e serviços em várias áreas, como produção de energias limpas, reciclagem e aproveitamento de resíduos, redução de consumo pelo compartilhamento de produtos, dentre outros. Também cabe destacar as mudanças alimentares, com o crescimento do consumo de produtos orgânicos e do veganismo. , 32 Diferenciando ideias de oportunidades Um ponto fundamental na identificação de oportunidades é a sua diferença em relação a simples ideias. A geração de várias ideias não significa que todas elas se transformarão em negócios de sucesso. É por isso que o empreendedor precisa estar atento ao cenário para avaliar de maneira ampla como uma ideia pode se tornar uma oportunidade de sucesso. Nesse sentindo, uma ideia isolada não tem valor se não for transformada em algo cuja implementação seja viável, visando atender a um público-alvo que faça parte de um nicho de mercado mal explorado. Isso é detectar uma oportunidade. (DORNELAS, 2018, p. 49) É preciso, portanto, que ideias e oportunidades sejam analisadas em relação às competências do empreendedor e às possibilidades do mercado para o qual se destinam. O processo de planejamento de um negócio deve compatibilizar essas duas perspectivas. De um lado, a compreensão que o empreendedor possui acerca de seus conhecimentos, habilidades e limitações; de outro lado, analisar os interesses e as limitações do mercado (MAXIMIANO, 2012). Dentre esses fatores, o principal fator a ser considerado pelo empreendedor é o potencial de mercado. Afinal, existe mesmo um público-alvo interessado no que o negócio oferece? Para avaliar o potencial de mercado, Maximiano (2012) apresenta alguns critérios para auxiliar o empreendedor. Veja no quadro a seguir. , 33 Quadro 2.1 – Critérios para avaliar o potencial de negócios Fonte: elaborado pela autora com base em Maximiano (2012, p. 32). Além da avaliação do mercado, também é preciso avaliar o potencial dos novos produtos e serviços, Maximiano (2012) recomenda algumas ações, sintetizadas no quadro que segue. Quadro 2.2 - Fatores críticos para o sucesso de novos produtos Fonte: elaborado pela autora com base em Maximiano (2012, p. 31). Viabilidade de mercado Concorrência Viabilidade de produção Controle governamental Investimento inicial e retorno O produto tem compradores potenciais? Quem são os concorrentes? Existem componentes e matérias-primas para fazer o produto ou prestar o serviço? Há controle governamentais sobre o produto ou tipo de negócio? Qual o investimento necessário? Com que frequência o produto seria comprado? Quantos são? Existem máquinas, equipamentos e instalações? Há necessidade de licenciamento ou aprovação prévia? Qual o período de retorno desse investimento? Quem compraria? Onde estão? Existe mão de obra qualificada? Quanto precisa ser investido para atender a legislação? O retorno está equilibrado com os riscos do investimento? Quantos comprariam? Quais são as suas vantagens competitivas? Qual a necessidade de investimento e de experimentação? Onde estão os compradores? Qual é o alcance e a eficiência dos seus canais de distribuição? Qual o investimento necessário para viabilizar a produção? Qual preço aceitariam pagar? Há barreiras para novos ingressantes? Há sazonalidade no fluxo de compras? Quais são os fornecedores concorrentes? Fator-chave Descrição Pesquisa de marketing A pesquisa de marketing é crucial para evitar que o produto fracasse. Sua desvantagem é o alto custo. Um exemplo desse tipo de pesquisa seria o teste de um novo alimento nas entradas de teatro e cinema e nos supermercados. Atendimento de uma necessidade Requisito essencial do novo produto ou serviço é ser realmente necessário para os consumidores. Por isso a necessidade de aplicar testes para aferir o nível de necessidade. Vantagem do produto O produto deve ser superior aos concorrentes em atributos como qualidade, aparência, tecnologia e praticidade. Qualidade e preço adequados Se o produto tiver baixa qualidade ou preço elevado, em relação ao mercado, o consumidor não irá procurá-lo novamente. Escolha dos canais de distribuição Uma decisão crítica com novos produtos envolve os canais de distribuição. A definição dos locais de vendas e da forma de fazer o produto chegar aos clientes é determinante para o sucesso. , 34 O último ponto a ser avaliado é a aderência entre o perfil do empreendedor e a ideia de negócio. De acordo com Dornelas (2018), é comum um empreendedor investir em uma ideia com vasto potencial de mercado, mas em um setor de atividade que ele conhece muito pouco ou em um ramo no qual nunca atuou. Esse fato reduz drasticamente as chances de sucesso, pois é necessário que o negócio tenha relação com o perfil profissional do seu criador. O autor recomenda que os empreendedores invistam seu tempo e seus recursos em negócios em áreas que conheçam e tenham alguma experiência, ou pelo menos, que algum dos sócios já tenha trabalhado. Muitos empreendedores são atraídos por setores nos quais existe elevada possibilidade de obter rendimentos financeiros, mesmo sem qualquer conhecimento do assunto. Dornelas (2018, p. 51) lembra que, “em primeiro lugar, vem a paixão pelo negócio; ganhar dinheiro é consequência”. 2.3 Desenvolver o Plano de Negócios A expressão “Plano de Negócios” é originada da expressão inglesa Business Plan, um documento organizado a partir de análises estratégicas para avaliar uma oportunidade de negócio. É um documento de planejamento dinâmico destinado a descrever um negócio, descrevendo estratégias operacionais, a inserção do empreendimento no mercado e os seus resultados financeiros. Além de ser um importante documento estratégico, o Plano de Negócio também auxilia o empreendedor a compreender melhor o negócio, o seu ambiente e as diversas variáveis envolvidas. (DORNELAS, 2018; FABRETE, 2019). Os autores Dornelas (2018) e Fabrete (2019) afirmam que o Plano de Negócios permite a organização das ideias e o direcionamento do negócio para que ele tenha condições de ser concretizado. Permite a documentação e o gerenciamento das análises internas e externas, viabilizando a identificação das condições nas quais o negócio é viável, auxiliando na prevenção de riscos futuros e aumentando suas chances de , 35 sobrevivência e crescimento sustentável. Dornelas (2018), propõe a estrutura do Plano de Negócios conforme a seguinte figura. Figura 2.5 – Estrutura do plano de negócios Fonte: elaborada pela autora com base em Dornelas (2018) e Razzolini Filho (2012). Sumário executivo: É a primeira seção do Plano de Negócios que será lida, portanto, deve ser elaborada de maneira a mantera atenção do leitor e despertar seu interesse pelo conteúdo de todo o plano. Trata-se de uma síntese do que é o negócio, seus diferenciais e vantagens competitivas, motivo de o empreendedor ter escolhido o setor ou ramo de atividade. Também deve conter um resumo das principais informações que indicam a viabilidade do negócio, tais como investimento necessário, projeção de demanda e de receitas e as expectativas de retorno. É a última parte a ser desenvolvida, pois depende de todas as outras seções para que a síntese represente a totalidade do plano (BIAGIO, 2013; DORNELAS, 2018; RAZZOLINI FILHO, 2012). , 36 Análise estratégica ou Plano Estratégico: Nesta seção, deve ser apresentada a análise do segmento de mercado no qual o negócio será implementado. De acordo com Dornelas (2018) e Razzolini Filho (2012), o empreendedor deve demonstrar que realizou uma pesquisa aprofundada e que, portanto, conhece muito bem o setor. A primeira parte é a análise dos ambientes internos e externos, para identificação de ameaças e oportunidades. Também deve ser demonstrada a avaliação da concorrência atual e futura e a situação dos fornecedores. Para essa análise, recomenda-se a utilização das metodologias Análise SWOT3 e Análise Competitiva de Michael Porter4. Inclui, ainda, a descrição do consumidor ou público-alvo do negócio, tais como segmentação, projeções de crescimento, eventual sazonalidade de demanda. Por fim, deve incluir a missão do negócio, seus valores e uma visão de futuro da empresa, que inclui uma síntese de objetivos e metas para um período mínimo de cinco anos. Descrição ou Caracterização da empresa: Descrever como surgiu a ideia do negócio, ou seja, como foi identificada a oportunidade e, a partir dela, a possibilidade de abrir uma empresa. Apresentar qual será a sua forma jurídica e o enquadramento tributário, identificando os principais tributos (impostos, taxas e contribuições) que incidirão nas receitas e/ou lucros do negócio (BIAGIO, 2013; DORNELAS, 2018). 3Análise SWOT (Strenght, Weakness, Opportunities and Threats) é a ferramenta que auxilia na construção de uma matriz que apresenta Forças, Fraquezas, Ameaças e Oportunidades dos agentes que irão interagir com o negócio, tais como situação de mercado, concorrentes, cliente e fornecedores (RAZZOLINI FILHO, 2012, p. 212). 4Também chamada de análise das cinco forças, é um modelo desenvolvido por Michael Porter para análise de mercados, identificado as forças que atuam sobre ele e refletem no potencial de lucratividade das empresas desse mercado. As cinco forças são: ameaça de novos entrantes, intensidade da rivalidade entre concorrentes existentes, ameaça de produtos substitutos, poder de negociação de clientes e poder de negociação de fornecedores (RAZZOLINI FILHO, 2012, p. 53). , 37 Plano de Marketing: É o plano que descreve como o negócio será inserido no mercado. Para isso, é preciso apresentar um estudo de previsão de demanda, que servirá de base para a posterior projeção de vendas e receitas. O Plano de Marketing, como recomenda Biagio (2013), também apresenta como foi organizado o composto de marketing5 do negócio, ou seja: • Produtos e/ou serviços: características, funcionalidades e diferenciais do portfólio que serão oferecidos pela empresa. É interessante incluir também a forma como são produzidos, o ciclo de vida e os recursos tecnológicos envolvidos; • Preços: estratégias e políticas de preço; • Distribuição: localização, formas de comercialização, canais de distribuição, parceiros comerciais; • Promoção e comunicação: ferramentas utilizadas para apresentar o negócio e seus produtos. Plano operacional: É nesta seção que o empreender apresenta o processo produtivo do negócio, ou seja, como serão fabricados os produtos ou a forma de prestação dos serviços. Para Dornelas (2018) e Razzolini (2012), isso inclui o planejamento da produção, a capacidade para produzir o volume projetado, tanto do ponto de vista dos recursos materiais (prédios, instalações, máquinas, equipamentos etc.), como a capacidade da mão de obra. É interessante incluir também um layout da empresa e o desenho dos fluxogramas dos principais processos. 5 O composto de marketing, também chamado de Mix de Marketing, é a combinação dos quatro Ps de marketing: Produto, Preço, Praça e Promoção. Lembrando que o P de praça inclui toda a estrutura de comercialização e distribuição do produto, enquanto o P de promoção engloba as ações necessárias para divulgar o produto e estimular as vendas, tais como propaganda, publicidade, promoção de vendas, marketing digital dentre outras (RAZZOLINI FILHO, 2012). , 38 Plano de recursos humanos: É o momento de apresentar como será feita a gestão de pessoas do empreendimento. O planejamento dos recursos humanos inclui as necessidades atuais e futuras do negócio, para isso, é preciso descrever as estratégias de recrutamento e seleção, descrição dos cargos com as atividades realizadas e perfil do ocupante, política salarial e de carreira, programas de capacitação e de retenção de colaboradores (BIAGIO, 2013). Trata-se de um planejamento estratégico destinado a suportar o crescimento da empresa, especialmente em setores nos quais o capital humano é fator crítico de sucesso, como aqueles em que é necessária a utilização de alta tecnologia. (DORNELAS, 2018). Plano financeiro: Os recursos financeiros para o negócio podem ser obtidos de diversas maneiras, porém, quaisquer sejam as fontes, Biagio (2013) e Razzolini (2012) alertam sobre a necessidade de apresentar de maneira detalhada todas as projeções que confirmam a viabilidade econômica e financeira do empreendimento. Assim, o estudo da demanda realizado no Plano de Marketing, deve servir de base para as projeções de vendas e de receitas. Todos os custos e despesas, fixos e variáveis, devem ser apurados e demonstrados. Segundo os autores, as informações são consolidadas e apresentadas na forma de fluxo de caixa financeiro, registrando as entradas e saídas efetivas de caixa, por um período de cinco anos. A demonstração de resultados também deve ser projetada, com a apuração das estimativas de lucros para cada um dos cinco anos do horizonte previsto. Com base na confrontação entre o valor do investimento e os resultados dos fluxos de caixa, é feita a análise de viabilidade do projeto, com a apuração do Valor Presente , 39 Líquido (VPL) e da Taxa Interna de Retorno (TIR)6. A demonstração de resultados permite apurar a margem de lucros e o retorno dos investimentos. Anexos: Ao final do Plano de Negócios, podem ser incluídos anexos com informações adicionais julgadas relevantes para o melhor entendimento do plano de negócios. Exemplos: currículo dos sócios, folhetos e/ou catálogos com descrição de produtos, estrutura do website da empresa, contrato social, planilhas financeiras detalhadas, entre outros. 2.4 Determinar e obter os recursos para o negócio Após estruturar o Plano de Negócios, o empreendedor precisa avaliar suas opções para obter recursos e colocar em prática o plano desenvolvido. Há muitas possibilidades e não existe uma regra que determine qual é a melhor. O que o empreendedor precisa comparar são os custos e os riscos decorrentes das fontes de capital disponíveis. Dornelas (2018) apresenta uma lista, não exaustiva, de opções ao empreendedor para obter os recursos necessários à abertura do negócio. Recursos próprios e empréstimos de familiares e amigos As economias pessoais do empreendedor costumam ser a primeira fonte de capital para o negócio. Algumas alternativas, em caso de não haver poupança suficiente, são a venda de bens patrimoniais, como imóveis e veículos. Ao utilizar esses recursos como fonte de capital, o empreendedor conta com relativa liberdade para tomada de decisão, além de não ter os encargosdecorrentes de empréstimos e financiamentos. 6 VPL e TIR são técnicas que comparam o valor presente dos futuros fluxos de caixa com o montante inicial investido. O VPL apresenta o valor final obtido com a dedução do valor investido da soma dos fluxos de caixa, enquanto a TIR apresenta a taxa de retorno anual do empreendimento (BIAGIO, 2013). , 40 No entanto, o baixo valor de investimento inicial pode limitar as possibilidades de crescimento do negócio. Existe a possibilidade de recorrer a empréstimos de familiares e amigos, mas Dornelas alerta que, a decisão de emprestar ou não o dinheiro não se dará com base em fatores relacionados com o rendimento do dinheiro, mas como forma de auxílio a um amigo conhecido e que inspira credibilidade. Isso, às vezes, pode prejudicar a própria amizade, caso, no futuro, o empreendedor não consiga honrar seus compromissos com a família e os amigos. (DORNELAS, 2018, p. 183). Investidores anjos São pessoas físicas que possuem recursos financeiros para investir em empresas novas e que apresentam alto potencial de crescimento. Para acessar esse tipo de fonte, é necessário que o Plano de Negócios esteja bem estruturado e consolidado, demonstrando de forma consistente o potencial do empreendimento. Segundo a Anjos do Brasil, organização destinada a estimular o desenvolvimento de empresas com potencial inovador, esse tipo de investimento: 1. É efetuado por profissionais (empresários, executivos e profissionais liberais) experientes, que agregam valor para o empreendedor com seus conhecimentos, experiência e rede de relacionamentos além dos recursos financeiros, por isto é conhecido como smart-money; 2. Tem normalmente uma participação minoritária no negócio; 3. Não tem posição executiva na empresa, mas apoiam o empreendedor atuando como um mentor ou conselheiro (ANJOS DO BRASIL, n.d., n.p.). Essa não era uma opção disponível no Brasil até o final do século XX, mas tem crescido com abertura e estabilidade econômica do país. Conforme a Endeavor Brasil (2017), não é uma prática amplamente difundida, mas o número de investidores anjos tem crescido. A seguir, alguns exemplos desse tipo de investidor.: • Gávea Angels, Rio de Janeiro; • Floripa Angels, Florianópolis; , 41 • Jacard Investimentos, Santa Catarina; • São Paulo Anjos, São Paulo; • Bossanova Angels, São Paulo com escritório no Vale do Silício (EUA); • Harvard Business School Alumni Angels of Brazil, São Paulo. Se você quiser conhecer melhor os investidores anjos, acesse o link para o site da Anjos do Brasil, disponível nas Referências. Bancos e agências de fomento O empreendedor pode utilizar diversas fontes de financiamento provenientes dos governos municipais, estaduais e federal. Há diversos programas com recursos não reembolsáveis (chamados de recursos “a fundo perdido”), ou com custo subsidiado que permite utilizar taxas abaixo do mercado. Alguns exemplos estão apresentados no quadro a seguir. Quadro 2.3 – Programas com incentivos governamentais Programa Responsável Descrição Fundos Criatec Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Fundos de investimento em participações de Micro e Pequenas Empresas (MPEs) inovadoras, nos quais a BNDESPar é a principal investidora. O Criatec está em sua 3ª edição e já apoiou mais de 70 empresas brasileiras, viabilizando o registro de cerca de 60 patentes e a criação de quase 1000 produtos. , 42 Programa de Capacitação de Recursos Humanos para Atividades Estratégicas (RHAE) Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Apoio para projetos de inovação por meio da inserção de recursos humanos em atividades de pesquisa e desenvolvimento nas empresas. Projeto Inovar Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) Ações em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), promovendo a realização de atividades de estímulo ao setor, como rodadas de negócios, seminários e campanhas de divulgação. Programa de subvenção econômica Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) Promover a aplicação de recursos públicos não reembolsáveis (ou seja, não se trata de financiamento nem de aporte de capital em troca de participação acionária) diretamente em empresas, para compartilhar com elas os custos e riscos inerentes a atividades de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação. Finep Startup Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) Apoiar a inovação em empresas nascentes intensivas em conhecimento através do aporte de recursos financeiros para execução de seus planos de crescimento. Programa de Inovação em Pequenas Empresas Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) O PIPE é dividido em três fases, com os seguintes objetivos: • Fase 1: realização de pesquisas , 43 (PIPE) sobre a viabilidade das ideias propostas. • Fase 2: fase de desenvolvimento da parte principal da pesquisa. • Fase 3: desenvolvimento de novos produtos comerciais baseados nas Fases 1 e 2. Programa de Apoio Tecnológico à Exportação (Progex) Ministério da Ciência e Tecnologia Prestar assistência tecnológica às micro e pequenas empresas que queiram se tornar exportadoras ou àquelas que já exportam e desejam melhorar seu desempenho nos mercados externos. Fonte: elaborado pela autora com base em Dornelas (2018, p. 188-192). Instituições financeiras A opção de obter capital para financiar a abertura da empresa em instituições financeiras pode gerar algumas dificuldades em função das exigências estabelecidas pelos agentes financiadores (bancos de varejo principalmente), além das altas taxas de juros normalmente cobradas e das dificuldades em pagar os empréstimos depois de concretizado o acordo. Existem iniciativas de algumas instituições que destinam recursos para linhas de financiamento aos pequenos negócios. Alguns desses bancos incluem pacotes com ferramentas para auxiliar o empreender na gestão dos negócios. Alguns exemplos são o Programa Avançar do Banco Santander; a Movera do Banco do Brasil e o Itaú Empreendedor. , 44 2.5 Gerenciar o negócio criado Após avaliar as opções para capitalizar e iniciar o negócio, o empreendedor agora tem o desafio da gestão do empreendimento para garantir a sua sobrevivência e crescimento. O sucesso de uma empresa é medido por meio de indicadores que se organizam em uma cadeia de causas e efeitos. O indicador mais importante de sucesso é o desempenho financeiro, que depende da satisfação do cliente e da eficiência dos processos. A satisfação do cliente depende da qualidade dos produtos e serviços, que depende, entre outros fatores, do desempenho das pessoas. No final das contas, tudo depende da competência gerencial do empreendedor (MAXIMIANO, 2011, p.13). Nesse sentido, para obter sucesso no empreendimento é preciso mensurar os resultados obtidos, em relação às projeções realizadas no Plano de Negócios, utilizando alguns indicadores. O principal deles é o que avalia o desempenho financeiro, no entanto, esse resultado depende da aceitação do cliente e da eficiência dos processos da empresa. Para Maximiano (2011), os indicadores funcionam em uma relação de causa e efeito, uma vez que para ter clientes satisfeitos é preciso ter produtos de qualidade e colaboradores competentes. Todas essas relações dependem da competência de gestão do empreendedor, como mostra a figura a seguir. Figura 2.5 – Indicadores do sucesso de uma empresa Fonte: Maximiano (2011, p. 13). , 45 Com base em Maximiano (2011), vamos aprofundar cada um dos indicadores da figura 2.5. Desempenho financeiro: é medido pelo indicador básico de todo negócio – o Lucro, que representa a diferença entre receitas e despesas.A geração de receita depende do nível de satisfação dos clientes, que também reflete no preço de venda. Com o cenário de competição acirrada, o preço é definido pelo mercado, portanto, o aumento das margens de lucro depende do controle dos custos. E os custos dependem da eficiência operacional a empresa. Eficiência dos processos: ter uma operação eficiente significa produzir resultados sem desperdícios, ou seja, aumentar a produtividade. O objetivo é aumentar os níveis de produção, sem aumentar o consumo de recursos. Por isso, a produtividade é medida pelo consumo dos recursos em relação ao que foi produzido. Cada setor de atividade tem fatores de produção próprios que auxiliam na mensuração dos níveis de produtividade, e o empreendedor precisa identificar quais fatores são mais relevantes no seu negócio. Qualidade dos produtos: pode ser avaliada com base em duas perspectivas – a qualidade própria dos produtos e a ausência de defeitos. A qualidade do produto está relacionada às características que atendem as necessidades ou resolvem os problemas dos clientes. Assim, quanto maior for a capacidade de o produto atender a sua finalidade, maior será a satisfação do cliente. Em relação aos defeitos, eles comprometem os objetivos dos produtos, por isso, quanto menor o número de falhas, maiores as possibilidades de satisfazer os clientes. Desempenho das pessoas: depende da capacitação dos colaboradores para exercer as suas funções, bem como da sua qualidade de vida no trabalho. Implica investimentos contínuos no desenvolvimento dos funcionários e em ações para gerar um clima organizacional positivo. O alcance dos objetivos, medidos pelos indicadores, dependem da atuação do empreendedor como gestor do negócio. Nesse contexto, Maximiano (2011) sintetiza a atuação do empreendedor como administrador de seu negócio na figura que segue. , 46 Figura 2.6 – Papéis do empreendedor na gestão do negócio Fonte: Maximiano (2011, p. 16). Tomar decisões O processo de tomada de decisão é baseado em escolhas que devem ser feitas a partir da análise das alternativas disponíveis. Todos os indicadores dependem da capacidade do empreendedor em decidir sobre o futuro da empresa, com base no planejamento, avaliando os impactos das decisões atuais nos resultados de longo prazo. Além disso, deve-se tomar decisões importantes sobre a forma como os recursos – materiais e humanos, são alocados nas atividades do empreendimento. Situações imprevistas podem ocorrer com o início das atividades da empresa, e o empreendedor deve estar preparado para realizar o diagnóstico dos problemas e atuar criativamente para avaliar as opções e escolher as mais adequadas. Trabalhar com pessoas As pessoas fazem parte de todo o contexto de um empreendimento, considerando não apenas seus colaboradores e clientes, mas eventuais sócios, além de fornecedores e outras pessoas. É por isso que o empreendedor precisa se preparar para compreender as diferenças e as formas adequadas para exercer a liderança, bem como desenvolver , 47 estratégias de motivação. Também precisa saber negociar e compreender como os grupos se formam e se relacionam. Lidar com informações Para tomar decisões adequadas, e compreender a dinâmica da gestão e convivência com pessoas, o empreendedor necessita de informações. Assim, ter habilidade para procurar informações e identificar as mais relevantes ao processo de gestão é fundamental. Mas não basta ter informações, pois a sua utilização requer interpretação e análise para suportar as decisões. E o resultado do processo de obtenção e análise das informações precisa ser compartilhado com as pessoas que atuam nos processos, permitindo que o trabalho seja realizado com maior eficiência. Conclusão O processo empreendedor é uma metodologia que permite ao empreendedor organizar as atividades necessárias para tornar viável uma ideia de negócio. Diversas fontes podem servir de base à geração de ideias, que devem ser analisadas para que possam se tornar oportunidades de negócio, por meio de sua exploração comercial. A análise das ideias considera a análise do mercado e de seus participantes, tais como tamanho da demanda, perfil do público-alvo, comportamento da concorrência e disponibilidade de fornecedores, dentre outras. Após concluir que a ideia pode se tornar uma oportunidade de negócio, o empreendedor deve elaborar o Plano de Negócios, um instrumento que viabiliza o planejamento de longo prazo do futuro empreendimento, por meio de projeções que atingem o horizonte mínimo de 5 anos. Além disso, permite que a gestão do negócio seja feita de maneira mais eficiente, comparando os resultados obtidos com o que foi planejado. Para obter recursos que permitem colocar em prática o conjunto de atividades previstas no Plano de Negócios, diversas opções estão disponíveis. Desde recursos próprios, de familiares e amigos, até mesmo a busca de investidores anjos. Programas governamentais também oferecem alternativas, alguma delas incluem recursos de , 48 fundos não reembolsáveis. Por fim, as instituições financeiras também estão preparadas para não apenas fornecer recursos, mas também para dar suporte ao empreendedor na gestão da sua empresa. E a gestão é o ponto fundamental no processo empreendedor, pois após todo esforço para colocar a ideia em prática, é necessário administrar o negócio com eficiência para garantir sua sobrevivência e ampliar as chances de sucesso. A utilização de indicadores auxilia nesse processo, bem como o desenvolvimento de competências gerenciais essenciais para que o empreendedor possa executar os seus papéis. REFERÊNCIAS ANJOS DO BRASIL. O que é um investidor anjo. Disponível em: <https://bit.ly/2JbRvSH>. Acesso em: 27 jun. 2020. BIAGIO, L. A. Como elaborar o plano de negócios: curso on-line. Barueri: Manole, 2013. DORNELAS, J. Empreendedorismo, transformando ideias em negócios. 7 ed. São Paulo: Empreende, 2018. ENDEAVOR BRASIL. Capital, experiência e relacionamento: com um investidor anjo, sua empresa está sempre bem acompanhada. Disponível em: <https://endeavor.org.br/dinheiro/investidor-anjo/>. Acesso em: 27 jun. 2020. FABRETE, T. C. L. Empreendedorismo. 2 ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2019. MAXIMIANO, A. C. A. Empreendedorismo. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012. MAXIMIANO, A. C. A. Administração para empreendedores: fundamentos da variação e da gestão de novos negócios. 2 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011. RAZZOLINI FILHO, E. Empreendedorismo: dicas e planos de negócios para o século XXI. Curitiba: Intersaberes, 2012. , 49 3 INOVAÇÃO E EMPREENDEDORISMO Inovação e empreendedorismo têm uma relação estreita, pois os empreendedores têm sido os maiores responsáveis por gerar ideias que vêm revolucionando a maneira de se fazer negócios, tendo a inovação como principal ingrediente. Para Dornelas (2018), os empreendedores são o centro de um movimento global que, especialmente na era da Internet, tem renovado os conceitos econômicos e proporcionado avanços nas relações de trabalho e emprego, proporcionando riqueza para a sociedade. Geralmente, essas invenções são fruto de inovação, de algo inédito ou de uma nova visão de como utilizar elementos já existentes, mas para os quais ninguém antes ousou olhar de outra maneira. Por trás dessas invenções, existem pessoas ou equipes com características especiais, visionárias, que questionam, arriscam, querem algo diferente, fazem acontecer e empreendem. Ao associar inovação e empreendedorismo, estamos retomando e reforçando o conceito inicial e o papel do empreendedor na sociedade, uma vez que a inovação é o motor do crescimento econômico, porém, também deve proporcionar benefícios para a sociedade, melhorando a sua qualidade de vida. Mas como se dá esse processo? De que maneira as ideiasse tornam invenções e inovações? Quais fatores do ambiente ampliam o potencial de geração de novos negócios baseados em inovação? É sobre isso que trataremos agora. 3.1 Ideias, invenções e inovações Para que o empreendedor utilize as inovações como fonte de vantagens competitivas precisa estar preparado para criar e administrar a matéria prima das inovações que são as ideias. Por isso, para sistematizar e realizar inovações é necessário viabilizar um fluxo de geração de ideias. Mas o que é uma ideia? , 50 [...] uma ideia se expressa mediante opinião, ponto de vista, noção, conhecimento ou qualquer outro meio capaz de representar a concepção mental de algo concreto ou abstrato. Por ideia não se entende unicamente a representação mental de um objeto existente, mas também uma possibilidade ou a antecipação de algo. (BARBIERI; ALAVARES; CAJAZEIRA, 2009, p. 21) Com base em uma nova ideia, são desenvolvidos planos, modelos, protótipos e outras formas de se registrar essa ideia, resultando em algum tipo de invenção. Ele envolve os esforços despendidos para gerar novas ideias e desenvolvê-las para que possam ter utilidade prática, e depois sejam exploradas comercialmente com aplicação em áreas específicas e nos setores produtivos. O processo de desenvolvimento da ideia, portanto, é o que gera as invenções que as ideias iniciais sugeriram como possibilidades. A inovação resulta da aplicação dos novos conhecimentos e aplicabilidades, gerados no processo de invenção, para desenvolver e ofertas novos produtos que atendam às necessidades e aos desejos do consumidor (BARBIERI; ALVARES; CAJAZEIRA, 2009). Como a inovação é um processo que tem início na mente das pessoas, os modelos de inovação fazem referências às fontes de ideias, como mostram os modelos que iremos explorar: Modelo em Funil e Inovação Aberta. Modelo em Funil O processo de inovação tem início com uma ideia inicial e outras são inseridas no decorrer do tempo, como mostra a figura a seguir. , 51 Figura 3.1 – Processo de inovação: modelo de funil Fonte: BARBIERI; ALVARES; CAJAZEIRA, 2009, p. 21. A figura demonstra que as ideias integram todas as etapas do processo, o que permite concluir que a inovação é um fluxo repleto de ideias, que são filtradas e avaliadas em todas as etapas. Após finalizado o processo, com a aplicação e utilização do produto decorrente do projeto de inovação, as ideias continuarão a fazer parte dele, pois é necessário manter o aperfeiçoamento ao longo do ciclo de vida (PEARSON, 2011). As ideias iniciais, representadas na fase 1 do processo entrando no funil, surgem em virtude das seguintes situações: [...] problemas, necessidades e oportunidades nas áreas de produção e comercialização que ocorrem tanto na própria empresa quanto no seu ambiente geral; e oportunidades vislumbradas com a ampliação dos conhecimentos científicos e tecnológicos (BARBIERI; ALVARES; CAJAZEIRA, 2009, p. 21). Dessa forma, cada etapa do processo estimula a geração de novas ideias originadas pelo conhecimento científico e tecnológico decorrentes das pesquisas científicas e também de variáveis do ambiente, tais como problemas e oportunidades operacionais. Com essa ampliação da abordagem do funil, a figura 3.2 demonstra com mais detalhes o processo envolvido na geração de ideias, os esforços para criar invenções e as inovações resultantes. , 52 Figura 3.2 – Modelo detalhado de inovação em funil Fonte: BARBIERI; ALAVARES; CAJAZEIRA, 2009, p. 26. Modelo de inovação aberta Inovação aberta é um conceito desenvolvido por Henry Chesbrough (1956-) a partir da ideia de que as fontes de inovação estão distribuídas em toda a sociedade. Por esse modelo, as empresas utilizam ideias e tecnologias externas no seu negócio e liberam as que foram desenvolvidas internamente, e não são mais utilizadas, para que outros utilizem em seu mercado. A utilização desse conceito proporciona um crescimento nas fontes de conhecimento que podem ser utilizadas pelas empresas, em especial, com o crescimento da internet e das mídias sociais, que expandiram a produção compartilhada de ideias e do conhecimento (CHESBROUGH, 2018; HENRIQUES, 2018). Com a adoção da inovação aberta, segundo Chesbrough (2018), as empresas podem gerenciar fluxos de conhecimento externos para suas operações, além de desenvolver mecanismos que permitam transferir o conhecimento gerado internamente, quando não utilizado, para outras empresas do seu mercado. Dessa forma, instrumentos podem ser utilizados para realizar a gestão dos fluxos de entradas e saídas de conhecimento, portanto, de ideias passíveis de se converterem em inovações. , 53 Figura 3.3 – Modelo de inovação aberta Fonte: CHESBROUGH (2018, p. 43). Para promover a inovação de fora para dentro, segundo o autor, a empresa precisa desenvolver processos destinados a gerenciar as diversas possibilidades de obter contribuições externas, tais como: busca de tecnologias externas em universidades, laboratórios de pesquisa ou empreendimentos de alta tecnologia, financiamento de pequenas empresas inovadoras no segmento de mercado desejado, fornecedores e clientes. Esses processos devem prever a utilização dos acordos de confidencialidade. Para gerenciar o fluxo de inovação de dentro para fora, as organizações devem permitir que ideias e ativos não utilizados e subutilizados sejam ofertados para fora da organização, para que outros possam utilizá-los em seus negócios e em seus modelos de negócios, por meio da venda ou da revelação. Alguns modelos utilizados nesse processo incluem o licenciamento, a doação, a criação de incubadoras e as alianças (CHESBROUGH, 2018; HENRIQUES, 2018). , 54 3.2 Transformando conhecimento em inovação Para que possamos articular conhecimento e inovação, é necessário refletir sobre as expressões: dado, informação e conhecimento. O quadro a seguir mostra uma síntese desses três conceitos. Quadro 3.1 – Dado, informação e conhecimento Fonte: POSSOLLI (2012, p.107). Com base nas informações do quadro, percebemos que o dado é uma informação bruta, ainda não avaliada, apenas uma descrição de um fato ou evento. Para que um dado se torne informação, é necessário que ele seja interpretado, decodificado, de maneira a ser compreendido em determinado contexto. Se o dado é a matéria prima da informação, esta última é a base para a construção do conhecimento (POSSOLI, 2012; TROTT, 2012). É nesse sentido que a geração de inovações requer das organizações a habilidade de conectar sua base de conhecimentos à estratégia de inovação. Assim, exige-se que o capital intelectual e o tecnológico sejam convertidos em produtos que os consumidores desejem ou necessitem. Para isso, é preciso empregar os recursos de maneira que as atividades sejam realizadas no sentido de agregar valor ao desenvolvimento de competências organizacionais específicas para suportar o processo de inovação (TROTT, 2012). , 55 O quadro a seguir apresenta, de forma sintética, as etapas do processo de inovação e sua articulação as atividades de gestão do conhecimento. Quadro 3.2 – Gestão do conhecimento e inovação Fonte: elaborado pela autora com base em Trott (2012). Explorando as informações do quadro 3.2, vemos que a primeira fase da Inovação é a Descoberta. Nessa fase, ocorre o rastreamento e a busca em ambientes internos e externos a fim de obter e processar sinais de possíveis inovações. Esses sinais podem ser necessidades de vários tipos, oportunidades que surgem a partir de atividades de pesquisa, pressões reguladoras ou comportamento de concorrentes. As atividades de gestão do conhecimento relacionadas são: buscar, capturar e articular. Para buscar conhecimento, a organização utiliza meios de investigar fontes potenciais
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