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Interação com o analito extraído da matriz Pré-concentrado para posterior análise A facilidade na obtenção de praguicidas faz com que o número de mortes por envenenamento culposo, doloso ou suicida, permaneça alto. Em caso de morte com suspeita de praguicidas é necessário análise toxicológica do material biológico seja ele urina, sangue ou conteúdo gástrico; além disso é preciso atenção para a escolha do método de análise. A técnica mais utilizada para preparo da amostra é Extração em Ponteira Descartáveis (por E. Brewer da Universidade de Carolina do Sul). A Organização para Agricultura e Alimentação das Nações Unidas (FAO) define os praguicidas como substâncias ou misturas introduzidas no ambiente visando: prevenção, destruição, repulsão ou amenização de pragas. Estão inclusas nessa definição: substância químicas destinadas a regularização do crescimento de plantas , desfolhamento, dessecamento. Toxicologia Praguicidas Técnica Ponteira contendo o solvente 1 Sobre os praguicidas Lei 7802/89: denomina agrotóxicos para evidenciar o uso voltado para agricultura e que os produtos possuem toxicidade humana. Os praguicidas não são seletivos para espécie-alvo, por isso causam intoxicações em seres humanos. Por esse motivo foi criada uma tabela contendo o grau de intoxicação desses produtos. Louise Suzy 1a Extremamente tóxico 1b Altamente tóxico 2 Moderadamente tóxico 3 Levemente tóxico 4+ Pouco provável que apresente toxicidade em condições normais Toxicologia Praguicidas 2 Os maiores causadores de morte por envenenamento são os inseticidas. Podem ser divididos em 4 grupos: Carbamatos, organofosforados, organoclorados e piretróides Breve histórico Durante a Segunda Guerra Mundial os agrotóxicos foram usados como armas químicas. E, foi nesse período que descobriram seus efeitos nocivos aos vegetais e insetos nativos. Os principais (organofosforados) utilizados foram: sarin, soman e tabun. Organofosforados e Carbamatos São inibidores de colinesterase. Podem ser utilizados como inseticidas, nematicidas, larvicidas e acaricidas sistêmicos, além disso, alguns fármacos também podem conter esses componentes. A figura mostra a estrutura dos compostos e, o substituinte R do carbamato pode ser um arila ou alquila. Toxicocinética Os compostos são lipossolúveis, possuem boa absorção oral, dérmica e respiratória. Na presença de um solvente orgânico como veículo, a absorção é intensificada. Carbamatos são rapidamente distribuídos, não há evidências de bioacumulação. Os ésteres da molécula podem sofrer ataque em vários pontos da molécula, dependendo do tipo de radical contido na estrutura básica. Louise Suzy Tanto organofosforados como carbamatos inibem a ação da colinesterase nos eritrócitos e sinapses e da pseudocolinesterase, no plasma. Como resultado, o acúmulo da acetilcolina nas junções da musculatura lisa estimula o sistema nervoso parassimpático, com sintomas de opressão torácica, salivação, lacrimejamento, sudorese, peristalse (náusea, vômito, cólica, diarreia), bradicardia e miose. Se ocorrer a fosforilação de uma esterase específica do tecido nervoso (esterase alvo neuropática), pode ocorrer uma neuropatia tardia. Compostos carbamatos formam complexos menos estáveis, assim, a enzima aceticolinesterase se recupera mais facilmente. Diferentemente, os organofosforados fosforilam a enzima formando um complexo estável e irreversível. Os citocromos são responsáveis pela conversão dos fosforotioatos inativos em fosforatos, com ligação fósforo-oxigênio, estando, dessa forma, ativado. As principais vias de eliminação são urinária e fecal. Em 48 horas cerca de 80-90% é eliminado. Uma pequena proporção é eliminada de forma inalterada. Toxicologia Praguicidas 3 Hidrólise do éster-carbâmico (espontânea ou pelas carboxilesterases tissulares) Liberação Fenol substituído Dióxido de carbono Metilamina Também ocorre oxidação e redução pela citocromo P- 450. Os organofosforados sofrem hidrólise pelas esterases plasmáticas em ácidos fosfórico e fosfônico. Toxicodinâmica Sintomas agudos Ingestão acidental ou intencional alimentos contaminados Roupas contaminadas Manifestações dos efeitos muscarínicos e nicotínicos Lacrimejamento, miose, alteração da acuidade visual. Salivação excessiva Louise Suzy Toxicologia Praguicidas 4 Fraqueza muscular, tremores, paralisia, convulsões. Manifestações cardíacas. As convulsões são causadas por hiperestimulação autômica, dessensibilização dos receptores colinérgicos, paralisia flácida, levando a disfunçãod o 2° neurônio motor. Isso pode levar à falência respiratória. Síndrome intermediária Fraqueza muscular proximal e paralisia dos nervos cranianos, não ocorre alterações sensitivas. Pode ocorrer de 12h a 7 dias despois da exposição; alpem disso, pode ocorrer após sinais muscarínicos e antes da polineuropatia tardia. A síndrome foi descrita por exposição ao: fention, dimetoato, monocrotofós, metamidofós, malation, sumition e metil paration. Sintomas tardios A intoxicação crônica está relacionada a disfunção na placa motora, que pode gerar insuficiência respiratória e necessidade de ventilação mecânica Polineuropatia tardia costuma aparecer até três semanas após a intoxicação após inibir a esterase alvo neuropática. Os sintomas são formigamento ou queimação nos dedos que se espalha causando fraqueza no membros superiores e marcha atáxica. Quando ocorre lesão direta na medula espinhal (1° neurônio motor) pode ocorrer paralisia espástica com espasmos, hipertonicidade, hiperreflexia e reflexos anormais (vias piramidais). A neuropatia também pode causar degeneração dos axônios de fibras longas em alguns nervos periféricos e degeneração do Sistema Nervoso Central. Cuidar quando, depois da intoxicação aguda com doses elevadas ou exposições repetidas, o paciente apresentar: cefaleia persistente, perda de memória, confusão, fadiga, letargia, ansiedade, labilidade emocional, irritabilidade e depressão. A recuperação completa depende do manejo do quadro, grau de intoxicação e da injúria hipoxêmica cerebral. Louise Suzy Lavagem gástrica: soro fisiológico até 1h da ingestão. Carvão ativado: 1g/Kg de peso, diluído na proporção de 1g/8ml de soro fisiológico via oral ou sonda nosogástrica até 1h da ingestão. Exposição cutânea, ocular ou inalatória, remover roupas contaminadas, lavar áreas expostas com água corrente e sabao e, soro fisiológico abundante na área dos olhos por 20 minutos. Toxicologia Praguicidas 5 Tratamento Antídoto Atropina Dose de ataque Leve a moderado: 1-2 mg/dose EV em bolus, com intervalos de 3-10 minutos. Graves: 2-4 mg/dose EV em bolus, com intervalos de 3-10 minutos. Atropina Manutenção Leve/moderado: 1-3 mg/h Grave: 3-4 mg/h Monitorar pressão arterial, pulso, frequência respiratória e cardíaca, saturação de oxigênio e ritmo cardíaco. Controle hidroeletrolítico em caso de perdas por vômitos, diarreia, sudorese intensa. Em caso de convulsão: Diazepam EV. Acidose metabólica: bicarbonato de sódio EV. Manter paciente assintomático em observação pelo menos de 8-12h para descartar sintoma tardio. Pacientes sintomáticos devem realizar: dosagem de colinesterase, hemograma, eletrólitos, gasometria arterial, glicemia, função renal, função hepática, amilase, lipase, creatino-fosfo-quinase (CPK), radiografia do tórax, eletrocardiograma. Quando suspeita de Síndrome intermediária o paciente deve ficar em observação por 3-5 dias após a intoxicação e melhora da crise colinérgica aguda. Louise Suzy Toxicologia Praguicidas 6 Alertar sobre a possibilidade de Neuropatia Periférica Tardia em 2-4 semanas após a exposição). Não há tratamento específico. É indicado fisioterapia para tratamento de fraqueza muscular. A Diretriz Brasileira para Diagnóstico e Tratamento de Intoxicações por Agrotóxicos propõe uma dose de ataque diferente: 0,6-0,3 mg EV bolus. A dose deve ser dobrada a cada 5 minutos até efeito da atropina. Após, infundir continuamente 10-20% da dose total de atropina/h em solução salina 0,9%. Monitorar o paciente. Organoclorados Etanoclorado (DDT) Ciclodieno (Clordano) Estruturas cíclicas(Mirex) Hexaclorociclo-hexano (Lindano) A absorção desses composto pode ocorrer pelo Trato Gastrointestinal e respiratório. São altamente lipossolúveis, ou seja, podem ser armazenados por longos períodos no tecido adiposo e atravessam a Barreira Hematoencefálica. A eliminação é via biliar, com maior quantidade nas fezes. Interferem nos canais de sódio da membrana axonal, alterando as propriedades eletrofisiológicas da membrana neuronal e na enzima sódio/potássio ATPase, modificando a cinética do fluxo dos íons. A exposição aguda a altas doses de DDT causam agitação motora, aumento da frequência dos movimentos espontâneos, suscetibilidade anormal a sensação de medo e hipersuscetibilidade a estímulos extremos (luz, toque e sons), hiperestesia da boca. O fígado é o principal órgão -alvo na exposição crônica, os compostos e metabólitos podem causar hipertrofia e necrose das células hepáticas por induzirem as enzimas do citocromo P450. Os produtos da biotransformação do DDT são carcinogênicos e neurotóxicos. Vale ressaltar que a ação dos organoclorados no sistema reprodutor pode causar interferência endócrina. Piretrinas e piretróides Piretróides são derivados sintéticos das piretrinas. São ésteres obtidos de flores das espécies Chrysanthemum cinerariaefolium. Louise Suzy Ensaio com molibdato de amônio para identificação de compostos que apresentam fósforo e fosfetos em sua estrutura química. Ensaio com furfural para identificação de carbamatos. Ensaio com ditionito de sódio para identificação dos compostos diquat (herbicidas). O teste da inibição da acetilcolinesterase que pressupõe intoxicação por organofosforados ou carbamatos. Nesse teste os valores de colinesterase total diferentes de 75-100% indicam possível intoxicação. Métodos Cromatográficos: a cromatografia gasosa e a cromatografia líquida são técnicas mais utilizadas para identificação e confirmação de praguicidas, sendo que podem ser utilizadas matrizes biológicas ou não biológicas. O potencial dessas técnicas é aumentado pelo uso do espectrometro de massas. As bibliotecas disponíveis com os espectros de referência auxiliam na identificação dos praguicidas, seus metabólitos e produtos de biotransformação. Toxicologia Praguicidas 7 São pouco tóxicos para mamíferos e possuem alta toxicidade para insetos. Em caso de contato, o produto é rapidamente distribuído, possui lipossolubilidade que contribui para atravessar a Barreira Hematoencefálica. Os compostos são pouco tóxicos quando ocorre intoxicação aguda, os principais efeitos são irritação nos olhos e mucosa, eritema, prurito, sensação de queimação, náusea e vômito. Análise para diagnóstico da exposição Ensaios preliminares, para determinação de grupos químicos característicos do composto de interesse. Dessa maneira direciona a análise instrumental que é mais sensível, específica e robusta. Referências Alvares, Racyne Chagas Moroni. Perfil Epidemiológico e Clínico das Exposições por Organofosforados e Carbamatos Registradas no Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Santa Catarina (CIATox/SC), no período de 2015 a 2018. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/2023 57/TCC%20Racyne%20Final%20P%C3%B3s%20revis%C3%A3o FIM-convertido.pdf?sequence=1 TOXICOLOGIA forense. São Paulo Blucher 2018 1 recurso online ISBN 9788521213680. Oenning, Anderson Luiz. Desenvolvimento de metodologia para análises toxicológicas forenses na determinação de praguicidas em urina humana empregando a técnica de extração em ponteiras descartáveis e GC-MS. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/192810 Louise Suzy
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