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2013 AuditoriA Prof. Valdecir Knuth Copyright © UNIASSELVI 2013 Elaboração: Prof. Valdecir Knuth Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 657.45 K748a Knuth, Valdecir Auditoria / Valdecir Knuth. Indaial : Uniasselvi, 2013. 240 p. : il ISBN 978-85-7830- 674-8 1. Auditoria. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. III ApresentAção Esta área da contabilidade, conhecida como Auditoria, vem experimentando no campo profissional uma expressiva evolução nos últimos anos e possibilitando um aumento substancial de conhecimentos que envolvem, direta ou indiretamente, a contabilidade e os demais setores de uma empresa. Assim, com o propósito de aprofundar os estudos do(a) acadêmico(a) da área de Gestão Financeira, foi elaborado este Caderno de Estudos, com o objetivo de contribuir para o fornecimento de uma visão teórico-prática do trabalho de auditoria. Neste Caderno de Estudos abordaremos aspectos práticos do trabalho realizado pelo profissional de auditoria no exame das demonstrações contábeis e que envolvem programas, testes, papéis de trabalho e relatórios. Para tanto, iniciaremos a Unidade 1 com o estudo do surgimento e evolução da auditoria, seus principais conceitos e os aspectos que envolvem a profissão de auditor. Conheceremos a importância das normas específicas da auditoria, bem como as formas de se encaminhar um trabalho nesta área de acordo com a realidade da organização que será auditada. A Unidade 2 apresentará a avaliação e uso dos procedimentos da auditoria no sistema de controle interno e o trabalho do auditor na detecção e prevenção de erros. Porém, antes de iniciar qualquer trabalho de auditoria, é necessário estabelecer um plano de metas, considerando a realidade da organização auditada, para estabelecer a forma mais adequada de realizar os trabalhos de auditoria. Um importante instrumento aplicado com o intuito de facilitar e organizar o processo de auditoria é o uso de amostragem. Veremos isso no decorrer da unidade e, também, que o trabalho do auditor implica num grau de risco, devido à sua responsabilidade em emitir opiniões sobre o material examinado com base no atendimento aos princípios fundamentais de contabilidade. Por fim, a Unidade 3 abordará, de forma prática, a elaboração dos papéis de trabalho da auditoria operacional do Balanço Patrimonial, nas Contas do Ativo, Passivo, Patrimônio Líquido e da Demonstração do Resultado do Exercício. Finalizando, conheceremos a fase final do trabalho do auditor, que é a comunicação dos resultados da auditoria transmitidos por meio de diversos tipos de relatórios e modelos de recomendações. IV O conteúdo deste caderno tem o objetivo de orientar os seus estudos e contribuir para a sua atuação profissional. Então, tenha um ótimo estudo! Professor Valdecir Knuth APRESENTAÇÃO DO AUTOR Olá! Sou o professor Valdecir Knuth, Mestre em Ciências Contábeis pela Fundação Universidade Regional de Blumenau, com área de concentração em Controladoria. Sou professor do Centro Universitário Leonardo da Vinci em cursos de graduação e no ICPG em cursos de pós-graduação. Tenho atuação em cursos de graduação desde 1996, na área de Contabilidade, com ênfase em Contabilidade Geral, Custos, Controladoria e Auditoria, principalmente nos seguintes temas: Gestão Econômica de Negócios, Gestão de Custos e Resultados, Resultado Econômico, Ética Profissional, Responsabilidade Profissional, Sistemas de Custeio, Método de Custeio e Orçamentos. Atuo na pós-graduação, em cursos de Especialização/lato-sensu, desde 2001, na área de Contabilidade com ênfase em Controladoria, Gestão Econômica, Finanças Internacionais e Auditoria (Controles Internos/ Sarbanes Oxley). Sou autor de Cadernos de Estudos de Ensino à Distância (EAD) nas áreas de Orçamento Empresarial, Custos Industriais, Engenharia Econômica, Controladoria e coautor no Caderno de Estudos de Empreendedorismo. Atuo como consultor empresarial nas áreas de custos, orçamentos e gestão financeira. Meu e-mail de contato: valdecir.knuth@tpa.com.br. V Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA VI VII UNIDADE 1 – AUDITORIA GERAL .................................................................................................1 TÓPICO 1 – AUDITORIA: SURGIMENTO E EVOLUÇÃO .........................................................3 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................3 2 ELEMENTOS HISTÓRICOS DA AUDITORIA NO MUNDO .................................................3 3 AUDITORIA NO BRASIL ................................................................................................................5 4 CONCEITUAÇÃO ..............................................................................................................................7 5 O AUDITOR E A AUDITORIA........................................................................................................8 5.1 A PROFISSÃO ................................................................................................................................8 5.2 QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL ............................................................................................9 5.3 RESPONSABILIDADE SOCIAL DO AUDITOR .......................................................................10 5.4 ÉTICA PROFISSIONAL ................................................................................................................11 5.5 RELAÇÕES HUMANAS E O AUDITOR ...................................................................................13 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................15 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................16 TÓPICO 2 – NORMAS DE AUDITORIA .........................................................................................191 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................19 2 NORMAS DE AUDITORIA GERALMENTE ACEITAS ............................................................19 3 INTRODUÇÃO ÀS NORMAS PROFISSIONAIS DE AUDITORIA NO BRASIL ...............19 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................51 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................52 TÓPICO 3 – FORMAS DE AUDITORIA ..........................................................................................55 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................55 2 FORMAS DE AUDITORIA ..............................................................................................................55 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................75 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................81 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................82 UNIDADE 2 – CONTROLES INTERNOS E AMOSTRAGEM EM AUDITORIA ..................85 TÓPICO 1 – AUDITORIA EM CONTROLES INTERNOS DE EMPRESAS .............................87 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................87 2 ELEMENTOS DO CONTROLE INTERNO ...................................................................................87 3 AVALIAÇÃO DO CONTROLE INTERNO ...................................................................................91 3.1 UTILIZAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS DE AUDITORIA NA AVALIAÇÃO DOS CONTROLES INTERNOS ............................................................................................................93 3.1.1 Aplicação de questionários dirigidos ................................................................................93 3.1.2 Montagem de planilhas de controle...................................................................................95 3.1.3 Fluxogramação dos procedimentos das atividades .........................................................97 4 A MUDANÇA NOS ENFOQUES DOS CONTROLES GERENCIAIS ....................................99 5 O AUDITOR E AS PREVENÇÕES CONTRA FRAUDE .............................................................99 6 CONTROLE INTERNO EM PROCESSAMENTO DE DADOS ...............................................104 sumário VIII 6.1 SEGURANÇA DOS SISTEMAS DE INFORMAÇÕES .............................................................107 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................111 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................113 TÓPICO 2 – PLANEJAMENTO DOS TRABALHOS DE AUDITORIA ....................................115 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................115 2 DESENVOLVIMENTO DO PLANO DE AUDITORIA ..............................................................115 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................118 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................131 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................132 TÓPICO 3 – ANÁLISE DE RISCOS E AMOSTRAGEM EM AUDITORIA ..............................135 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................135 2 ANÁLISE DE RISCO .........................................................................................................................135 2.1 RISCO NA AMOSTRA ..................................................................................................................139 2.2 MATERIALIDADE X RISCO DE AUDITORIA .........................................................................139 2.3 NORMAS DE AUDITORIA X RISCO DE AUDITORIA ..........................................................140 3 SELEÇÃO DA AMOSTRA A SER AUDITADA ...........................................................................140 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................143 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................147 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................148 UNIDADE 3 – PAPÉIS DE TRABALHO E RELATÓRIOS DE AUDITORIA ............................151 TÓPICO 1 – AUDITORIA OPERACIONAL NAS CONTAS DO ATIVO ..................................153 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................153 2 BALANÇO PATRIMONIAL .............................................................................................................153 2.1 CONTAS DO ATIVO .....................................................................................................................156 2.1.1 Papéis de trabalho em disponibilidades ...........................................................................157 2.1.2 Papéis de trabalho em clientes ............................................................................................161 2.1.3 Papéis de trabalho em outros créditos e valores ..............................................................165 2.1.4 Papéis de trabalho em estoques ..........................................................................................169 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................171 2.1.5 Papéis de trabalho em realizável a longo prazo ...............................................................175 2.1.6 Papéis de trabalho do ativo permanente - investimentos ...............................................177 2.1.7 Papéis de trabalho do ativo permanente - imobilizado ..................................................180 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................186 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................187 TÓPICO 2 – AUDITORIA OPERACIONAL NAS CONTAS DO PASSIVO, DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO E DA DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO ....................................................................................189 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................189 2 AUDITORIA OPERACIONAL NAS CONTAS DO PASSIVO .................................................189 2.1 PAPÉIS DE TRABALHO DO PASSIVO CIRCULANTE (AA) ................................................190 2.2 PAPÉIS DE TRABALHO DO PASSIVO NÃO CIRCULANTE ...............................................198 3 AUDITORIA OPERACIONAL NASCONTAS DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO - PL ............201 4 AUDITORIA OPERACIONAL NAS CONTAS DO RESULTADO ..........................................204 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................210 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................211 IX TÓPICO 3 – RELATÓRIOS DO AUDITOR E MODELOS DE RECOMENDAÇÕES .............213 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................213 2 TIPOS DE RELATÓRIOS ..................................................................................................................213 3 DISTRIBUIÇÃO DO RELATÓRIO .................................................................................................215 4 ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO ..................................................................................................215 5 MODELOS DE RECOMENDAÇÕES PARA RELATÓRIO DA AUDITORIA ......................220 5.1 DISPONIBILIDADES (CAIXA, BANCOS E APLICAÇÕES) ..................................................220 5.1.1 Boletins de caixa ....................................................................................................................220 5.1.1.1 Inexistência de boletins auxiliares de caixa ...................................................................222 5.1.2 Saldos bancários ....................................................................................................................222 5.1.2.1 Saldos de aplicação financeira .........................................................................................223 5.2 CONTAS A RECEBER ...................................................................................................................223 5.2.1. Relatório das contas a receber ............................................................................................223 5.3 ADIANTAMENTOS E OUTROS CRÉDITOS ............................................................................224 5.4 ATIVO IMOBILIZADO .................................................................................................................225 5.5 CONTAS A PAGAR .......................................................................................................................227 5.6 DESPESAS .......................................................................................................................................228 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................229 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................231 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................233 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................237 X 1 Esta unidade tem por objetivos: • conhecer a origem e evolução da auditoria, seus principais conceitos e os aspectos que envolvem a profissão de auditor; • compreender como as normas de auditoria estão estruturadas e qual a importância deste conhecimento para o trabalho do auditor; • conhecer como são elaborados os relatórios e emitidas as opiniões, que consistem no trabalho final do auditor e têm a função de apresentar o resultado final do relatório; • identificar os principais tipos de relatórios (opiniões do auditor); • conhecer como a auditoria é classificada e como pode ser executada, dependendo da necessidade de averiguação da segurança do sistema de controle interno. UNIDADE 1 AUDITORIA GERAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Esta unidade está dividida em três tópicos e no final de cada um deles você encontrará atividades que reforçarão o seu aprendizado. TÓPICO 1 – AUDITORIA: SURGIMENTO E EVOLUÇÃO TÓPICO 2 – NORMAS DE AUDITORIA TÓPICO 3 – FORMAS DE AUDITORIA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 AUDITORIA: SURGIMENTO E EVOLUÇÃO 1 INTRODUÇÃO Para uma melhor compreensão da auditoria, neste primeiro tópico vamos conhecer a sua origem e evolução, seus principais conceitos e os aspectos que envolvem a sua profissão. Conheceremos a importância da qualificação profissional, bem como a responsabilidade social e ética do auditor perante o auditado e a sociedade. 2 ELEMENTOS HISTÓRICOS DA AUDITORIA NO MUNDO Tem-se a impressão de que a auditoria é uma área de surgimento recente e que foi criada apenas com a internacionalização da economia a partir da 2ª Guerra Mundial. Mas não é bem assim. Conforme Krieck (2011), praticamente a auditoria surgiu com a contabilidade. Ao realizar a contagem (contabilização) de determinado patrimônio, também se fazia a sua conferência, cuja prática era um sinal claro de controle patrimonial, que pode ser entendido como uma forma de auditoria. Assim, a auditoria existe há mais de 4.000 anos, desde a antiga Babilônia, embora que somente em 1314 foi criado o cargo de auditor, na Inglaterra. (KRIECK, 2011). Ainda segundo o autor, no final do século XIII, na Europa, a auditoria era desenvolvida através de trabalhos executados por associações profissionais: os Conselhos Londrinos, o Tribunal de Contas em Paris ou, ainda, o Collegio dei Raxonati e a Academia dei Ragionieri, na Itália. Mas foi com o advento do comércio marítimo que, no final do século XV, surgiu a necessidade de prestação de contas das receitas e dos gastos das expedições marítimas às Américas, Índia e Ásia (expedições em forma de joint ventures financiadas pelos reis, príncipes, empresários e banqueiros de Portugal, da Espanha, da França, da Inglaterra e da Holanda), com o objetivo de haver maior controle e evitar possíveis desvios de recursos financeiros. UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 4 As atividades de auditoria foram se desenvolvendo e tornaram-se mais complexas em função da própria complexidade produtiva e comercial que o mundo vivenciava a partir da Revolução Industrial (1756, na Inglaterra). Foi com a expansão do capitalismo que surgiram as primeiras fábricas com o uso intensivo de capital fora da jurisdição geográfica dos proprietários, o que provocou a necessidade de delegação de funções, atividades e atribuições de responsabilidades a pessoas que controlavam ou comandavam grupos de trabalho em outras cidades. E para evitar que qualquer tipo de desvio de recursos pudesse ocorrer por motivos de fraudes ou erros, criaram-se controles que auxiliavam os auditores na execução do seu trabalho. (KRIECK, 2011). A partir da expansão industrial e comercial ocorrida no início do século XX, surgiram as grandes corporações americanas (Ford, DuPont) e houve uma rápida expansão do mercado de capitais nos Estados Unidos. A auditoria teve um avanço em 1929, quando ocorreu o crash da Bolsa nos Estados Unidos devido à grande depressão econômica. Neste período foi criado o Comitê Maycom, com a finalidade de instituir regras de auditoria para as empresas que tivessem ações negociadas em bolsa, tornando obrigatória a auditoria contábil, independente da publicação das demonstrações contábeis. FONTE: Adaptado de: <www.administradores.com.br/informe-se/.../auditoria...e.../4267/>. Acesso em: 7 fev. 2013. Com o Pós-Guerra, a partir de 1959 a Accounting Principles Board (APB) – Junta de Princípios Contábeis passou a executar as pesquisas contábeis, emitindo mais de 30 pronunciamentos até 1973 com o intuito de padronizar a harmonização contábil e de auditoria naquela época. (KRIECK, 2011). Em 1° de junho de 1973 foi criada a Financial Accounting Standards Board(FASB) – Junta de Normas de Contabilidade Financeira, com o objetivo de determinar e aperfeiçoar os procedimentos, conceitos e normas contábeis. Esta Junta criou vários pronunciamentos FASB para consolidar a harmonização das informações contábeis das empresas multinacionais, pois com a Europa destruída no período da 2ª Guerra Mundial, as empresas norte-americanas tiveram seu auge na internacionalização da economia. (KRIECK, 2011). Em síntese, podemos elucidar os seguintes fatores que contribuíram para o fortalecimento da auditoria quanto à origem, evolução e organização da profissão: Grandes companhias inglesas de comércio e navegação. Com o advento da marinha mercantil, grandes operações comerciais foram realizadas e, por conseguinte, havia a necessidade de maiores controles. ATENCAO TÓPICO 1 | AUDITORIA: SURGIMENTO E EVOLUÇÃO 5 A necessidade de credibilidade nos registros contábeis. Devido ao advento do comércio internacional, houve a necessidade da oferta do crédito, que, por consequência, era apenas concedido para as empresas devidamente controladas e auditadas. Tributação do Imposto de Renda na Inglaterra, pois o governo inglês necessitava de maiores controles sobre o erário público. Desenvolveu-se com o aparecimento das grandes empresas, com operações mais complexas e necessidade de maior volume de controles. Empresas formadas por capitais de muitas pessoas. Poderiam ocorrer conflitos de interesses, e para evitar que uma minoria da sociedade de capital fosse prejudicada, a auditoria tornou-se necessária. Criação do cargo de auditor em contas públicas na Inglaterra, a partir de 1314, devido à necessidade do controle do governo. Desenvolvimento da prática sistematizada nos séculos XIX e XX, em função da Revolução Industrial e expansão econômica do pós-guerra. Surgimento do Guia Profissional de New York e do Guia Comercial inglês em 1786. Aparecimento das primeiras associações de contadores na Inglaterra de 1854 a 1867, e da Sociedade dos Contadores da Inglaterra em 1879. Aparecimento das primeiras associações de contadores nos Estados Unidos, de1874 a 1882, da American Accounting Association (AAA) em 1916 e da American Institute of Certified Public Accountants (AICPA) em 1886. Criação do Instituto Holandês de Contadores Públicos, em 1894. FONTE: Floriani (2011) Com a contextualização dos principais fatos que contribuíram para o crescimento da auditoria, é possível conhecer um pouco mais sobre a história da auditoria no mundo e, a partir disso, compreender o desenvolvimento da auditoria no Brasil. 3 AUDITORIA NO BRASIL A Auditoria no Brasil teve cunho relevante em função do surgimento das grandes corporações econômicas a partir da década de 50. Em 1909 surgiu a primeira empresa de auditoria, a Mc-Auliffe Davis Bell & Co, mais tarde denominada Arthur Andersen. A segunda empresa que foi criada era a Price Waterhouse, incorporando a W.B. Peat & Co e a Touche, Faller & C, mais tarde Arthur Andersen S/C, já mantinha um escritório no Rio de Janeiro, que tinha o objetivo de fiscalizar os demonstrativos contábeis desde 21 de outubro de 1909. (FLORIANI, 2011). FONTE: Adaptado de: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAfkmQAB/auditoria-governanca- corporativa-online>. Acesso em: 6 fev. 2013. As bolsas de valores de Rio de Janeiro e de São Paulo iniciaram suas atividades em 1876 e 1890, respectivamente. E no período pós-guerra foram fundados, em 1957, o Instituto dos Contadores Públicos do Brasil (ICPB), em 1968, o Instituto dos Auditores Independentes (IBAI) e, em 1971, o Instituto Brasileiro de Contadores, atual Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON), com a fusão do ICPB e do IBAI. (FLORIANI, 2011). UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 6 Em 1972, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) pronunciou-se a respeito dos princípios a serem seguidos sobre os procedimentos do trabalho do auditor, definindo as normas relativas à pessoa do auditor, à execução dos trabalhos e ao parecer da auditoria, pois ainda não haviam sido divulgadas normas que orientassem essas condutas. (FLORIANI, 2011). Em 1976, ocorreu a normatização das práticas e dos relatórios contábeis com a Lei n◦ 6.404, das Sociedades por Ações, que harmonizou no âmbito nacional as atividades da contabilidade frente às empresas e assim determinou padrões de registro e de controle para viabilizar as atividades da auditoria. (FLORIANI, 2011). Ainda em 1976 foi criada a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), com a responsabilidade de normatizar as normas contábeis e os trabalhos de auditoria das empresas de capital aberto, além de exercer as funções de fiscalização (semelhante à SEC dos Estados Unidos), pois com o advento da Lei das S.A´s isso se tornou necessário (FLORIANI, 2011). Em 1985, o Banco Central do Brasil emitiu a Resolução nº 1.007 - Normas Gerais de Auditoria, com o auxílio do atual Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON) e do Conselho Federal de Contabilidade (CFC). (FLORIANI, 2011). FONTE: Disponível em: <www.administradores.com.br/informe-se/.../auditoria...e.../4267/>. Acesso em: 7 fev. 2013. Segundo Almeida (2010, p. 4): Nas últimas décadas, instalaram-se no Brasil diversas empresas com associações internacionais e auditoria externa. Esse fato ocorreu em função da necessidade legal, principalmente nos Estados Unidos da América e da Europa, de os investimentos no exterior serem auditados. Essas empresas praticamente iniciaram a auditoria no Brasil e trouxeram todo um conjunto de técnicas de auditoria, que posteriormente foram aperfeiçoadas. Assim, o Brasil passou a assumir importantes compromissos junto às empresas no que se refere a órgãos fiscalizadores em contabilidade e auditoria. TÓPICO 1 | AUDITORIA: SURGIMENTO E EVOLUÇÃO 7 4 CONCEITUAÇÃO Vimos nos itens anteriores a origem e a evolução da auditoria. Agora vamos estudar o que vem a ser a auditoria propriamente dita. Para Crepaldi (2009, p. 3), “de forma bastante simples, pode-se definir auditoria como o levantamento, estudo e avaliação sistemática das transações, procedimentos, operações, rotinas e das demonstrações financeiras de uma entidade”. Em outras palavras, podemos dizer que auditoria é a técnica utilizada para verificar e confirmar a veracidade das informações e dos registros contábeis, principal meio de que se vale a Contabilidade para alcançar seu fim, que é o de apresentar a situação da saúde econômica e financeira da empresa. Com isto não queremos simplesmente afirmar que a ação da auditoria se limita em verificar aquilo que está registrado nos livros contábeis, pois a auditoria tem uma finalidade mais ampla e ela poderá também apurar o que foi omitido nos registros. As provas extracontábeis podem ser o testemunho de pessoas ligadas à empresa e que possam confirmar as ações ilícitas que os gestores ou inclusive os próprios funcionários da empresa tenham tomado. Quer um exemplo de uma ação ilícita e que não tenha registro contábil? É o caso dos juros das duplicatas pagas em atraso e cuja cobrança é feita no caixa da empresa em dinheiro. Pode-se colocar um carimbo de “PAGO” na duplicata sem mencionar o valor dos juros e como não fica registrado o valor, o próprio funcionário pode fraudar a empresa ficando com parte deste dinheiro. Mas há meios de a auditoria detectar isso, que veremos mais adiante. A apuração da falta de registros que deveriam ter sido feitos, por exemplo, é uma das formas de comprovar que inexiste exatidão nas demonstrações contábeis, principal objetivo da auditoria. FONTE: Disponível em: <www.learned.com.br/download.php?pasta=_upl/file...aidc...>. Acesso em: 7 fev. 2013. Para Attie (2010, p. 5), “a auditoria é uma especialização contábil voltada a testar a eficiência e a eficácia do controle patrimonialimplantado, com o objetivo de expressar uma opinião sobre determinado dado”. O autor afirma que a “auditoria das demonstrações contábeis visa as informações contidas nessas afirmações, assim é evidente que todos os itens, formas e métodos que as influenciam também estarão sendo examinados”. (ATTIE, 2010, p. 5). Desta forma, conforme Almeida (2010, p. 34), “os procedimentos de auditoria representam um conjunto de técnicas que o auditor utiliza para colher as evidências sobre as informações das demonstrações financeiras”. UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 8 Assim, entende-se que o auditor deve executar procedimentos pautados de acordo com a sua qualificação profissional e emitir opiniões sobre as demonstrações contábeis à medida que investigar as evidências necessárias para a sua execução. 5 O AUDITOR E A AUDITORIA A partir de agora vamos compreender um pouco mais sobre a regulamentação do trabalho de contabilidade, que é a formação específica para o profissional de auditoria. E como tal, é um trabalho realizado por profissionais devidamente capacitados e que possuem formação técnica para o desempenho da sua função com competência e acurácia. 5.1 A PROFISSÃO A profissão de auditor não está regulamentada, então cabe ao contador, profissional de contabilidade formado pelos cursos de graduação em Ciências Contábeis, a atribuição ao direito de executar os serviços de auditoria. Esta prerrogativa para o desempenho das atividades de auditoria é privativa dos contadores, sendo vedada aos técnicos em contabilidade ou outros profissionais de categoria diversa. A legislação que estabelece as normas referentes à competência profissional do auditor é o Decreto-Lei nº 9.295, de 27 de maio de 1946, com alterações de acordo com a Lei nº 12.249, de 11 de junho de 2010. (BRASIL, 2013). É preciso salientar que as companhias abertas devem ser auditadas por auditor independente registrado na Comissão de Valores Mobiliários para o exercício da auditoria independente, como está conceituada nas Leis nos 6.404/76 e 6.385/76, o qual fica subordinado às instruções da CVM, que disciplina e fiscaliza o mercado de capitais e legislações posteriores. Segundo Attie (2010, p. 7), “a origem do termo auditor em português, muito embora perfeitamente representado pela origem latina (aquele que ouve, ouvinte), na realidade provém da palavra inglesa to audit (examinar, ajustar, corrigir, certificar) [...]”. O profissional de auditoria tem a incumbência de realizar atividades de acompanhamento, ajustes, correção e certificação dos registros contábeis e procedimentos contábeis adotados pela empresa e assim validar os mesmos perante os stakeholders. TÓPICO 1 | AUDITORIA: SURGIMENTO E EVOLUÇÃO 9 NOTA Stakeholders: que significa, nas palavras de Gruel, Santos e Knuth (2010 p.114), “grupos ou indivíduos cujos interesses são afetados pelas medidas que a organização toma”. 5.2 QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL Assim como outras profissões, a qualificação profissional exigida de um auditor é a de uma pessoa com devida escolaridade, experiência necessária nessa função e conhecimentos em contabilidade e finanças, auditoria, ciências do comportamento, comunicações, sistemas e equipamentos de informática, economia, aspectos legais de negócios, métodos quantitativos, processo administrativo e atividades gerenciais. E ainda, atualmente, conhecimento em áreas não muito familiares para o auditor, tais como: processos informatizados da produção de bens e serviços, tecnologia de produção, automatização e robotização, práticas comerciais e de negócios, fatores motivacionais, entre outros. Isso tudo para facilitar as atividades do auditor, que deve ter preparo para assumir atividades em qualquer ramo empresarial. Desde o início dos estudos na universidade, o contador se relaciona com os problemas das áreas de seu exercício profissional e, portanto, necessita conhecer auditoria, sistemas de informações e de controles internos. Através de cursos específicos, o auditor recebe orientações para identificar- se com os propósitos dos serviços e da profissão. E assim familiarizar-se com todas as nuances da profissão. A profissão de auditor impõe aos que a ela se dedicam um trabalho estruturado com base nos seguintes princípios básicos: Capacidade técnica para rapidamente identificar possíveis problemas na empresa. Apego a estritas normas morais e éticas para assegurar a melhor qualidade das atividades da auditoria. Independência de julgamento que lhe permite expressar-se com liberdade, ou seja, não ficar “preso” a situações que comprometam a idoneidade do auditor em nenhuma situação. UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 10 5.3 RESPONSABILIDADE SOCIAL DO AUDITOR Todo o trabalho do auditor possui reflexo no relatório final de auditoria. O que basicamente caracteriza a responsabilidade da auditoria é a emissão do parecer (opinião) sobre as demonstrações contábeis examinadas. É evidente que a simples emissão de um parecer, com relação à situação de uma determinada empresa, implica necessariamente num comprometimento que deve estar pautado em evidências implícitas da regularidade da situação examinada e da confiabilidade nos demonstrativos que foram utilizados como base para as pesquisas das evidências do auditor. Com base nisso, se estabelece que a responsabilidade do auditor contábil é abrangente e tem em seu plano de trabalho áreas ilimitadas a serem investigadas, principalmente nos dias atuais, em que se divulga que para cada empresa existe uma forma de “hipoteca social”, cuja responsabilidade perante a sociedade precisa ser cumprida. Entende-se então que a responsabilidade do trabalho do auditor independente está voltada ao envolvimento de interesses dos sócios e acionistas da empresa para que sejam protegidos e vigiados. Mas, atenção para o fato de que o auditor independente não é apenas um profissional liberal prestando serviços à diretoria de uma empresa. Ele está a serviço da verdade contábil e patrimonial e por isso deve zelar pelos interesses múltiplos e intrincados na dinâmica patrimonial, na proteção das informações da empresa. Prosseguindo, há outros interesses em jogo. De um lado, encontram-se os interesses dos controladores, geralmente representados pelos diretores em exercício. De outro lado, os interesses dos clientes, fornecedores, financiadores e todos aqueles que para transacionar com a empresa precisam conhecer o potencial de seu patrimônio, para se certificarem do mínimo de risco aceitável dentro da normalidade dos negócios. Vejamos alguns cuidados necessários ao desempenho de uma auditoria: a) Realizar as avaliações nos locais onde os trabalhos estão sendo executados. b) Verificar e comprovar as evidências antes de qualquer conclusão. O auditor não deve basear-se em opiniões ou informações recebidas de quaisquer pessoas. Deve apenas utilizar-se dessas informações para aprofundar evidências em casos de fraudes que ocorram nas empresas. c) Constatar as evidências como verdadeiras após a verificação de mais de uma pessoa integrante da equipe. É importante elaborar o relatório da auditoria em conjunto com a equipe, não se esquecendo de revisá-lo antes da entrega final. ATENCAO TÓPICO 1 | AUDITORIA: SURGIMENTO E EVOLUÇÃO 11 d) Registrar as deficiências à medida que forem sendo encontradas, para que, no relatório de auditoria, possam ser relatadas com exatidão de detalhe. e) Condições adversas que sejam encontradas durante a auditoria e que requeiram atenção especial devem conter relatórios prontos para corrigi-las e serem comunicadas de imediato aos diretores da entidade. Geralmente se encontram anormalidades nas empresas e, nesse caso, transmiti-las de imediato para os diretores. f) Registrar as evidências objetivas de tal modo que não permitam dúvidas de interpretação.Termos como alguns, muitos, poucos, diversos etc. devem ser evitados. g) Não fazer comentários sobre as evidências descobertas, mantendo-se o sigilo profissional. Entretanto, se necessário, fazê-los por códigos secretos. h) Evitar opiniões de terceiros sobre como o serviço deve ser feito. i) Não interromper a auditoria. Caso seja necessário, os elementos que estão sendo examinados devem ficar blindados, fechados ou lacrados. j) Não esquecer que o objetivo não é somente localizar irregularidades, mas também destacar aspectos positivos encontrados durante a auditoria. k) Saber distinguir os aspectos vitais das evidências. l) Ficar atento a ações contrárias à auditoria por parte da entidade auditada, como a ausência de pessoas-chave alegando doença, o prolongamento do tempo de almoço e outras atitudes que possam dificultar os trabalhos de auditoria. m) Utilizar de canais de comunicação adequados e transparentes, exceto para assuntos sigilosos. 5.4 ÉTICA PROFISSIONAL A ética, em sua expressão filosófica, começou com a filosofia no século VI a.C., na Grécia. IMPORTANT E Ética é conceituada como o ramo da filosofia que estuda o que é moralmente bom ou mal, certo ou errado. No uso popular, o termo ética diz respeito aos princípios de conduta que orientam o indivíduo ou grupo de indivíduos, o que na realidade é definido por moral. UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 12 UNI A moral é a aprovação do comportamento humano, através dos princípios de conduta ética. Seria como dizer: a prática da teoria. A moral são as atitudes dos indivíduos e a ética é a ciência que estuda esses comportamentos. A ética ou moralidade das pessoas ou grupos sociais não consiste simplesmente naquilo que elas fazem costumeiramente, mas naquilo que elas pensam o que é correto fazer, ou são obrigadas a isso. Tomemos, por exemplo, o caso do auditor contábil, que está incumbido de auditar as contas da empresa de um parente seu. Esse auditor estará agindo de acordo com suas crenças e podendo dizer sim ou não para esta tarefa. Mas o comportamento esperado do auditor é que o mesmo recuse o serviço. De acordo com a ética, esse auditor deverá solicitar a sua exclusão da tarefa a ele incumbida comunicando as razões ao gerente de auditoria. O seu gerente, sob o enfoque da ética profissional, deverá substituí-lo, mostrando à sociedade que a empresa de auditoria está agindo de acordo com os procedimentos éticos. No caso do auditor aceitar a tarefa de auditar as contas de seu parente, este tipo de atitude pode ser contraditório às opiniões de outros indivíduos, chamamos isso de dilema. O dilema implica que a ação de determinado indivíduo ou um grupo social contrariou aquilo que determinada sociedade acredita ser o comportamento adequado para aquela situação. Vejamos o caso da história de Robin Hood: analisando as suas ações como saqueador, elas apresentam enorme ausência moral. Se analisarmos os motivos que o levaram a agir daquela maneira (o sofrimento do povo em consequência da tirania de um soberano), tal comportamento pode ser moralmente aceito. Sabemos que a humanidade está em constante transformação. O comportamento humano muda ao longo da vida das pessoas, e estas alterações são em decorrência da evolução tecnológica ou ascensão ao poder de pessoas com novas formas de pensamento. TÓPICO 1 | AUDITORIA: SURGIMENTO E EVOLUÇÃO 13 A ética geral se constitui de normas pelas quais o indivíduo estabelece uma conduta pessoal adequada. A ética profissional nada mais é que uma divisão especial da ética geral e dela o profissional recebe normas específicas de conduta em questões que refletem responsabilidade para com a sociedade, com os clientes e com outros membros de sua profissão, assim como com a própria pessoa. A profissão de auditor se autoimpôs um código de ética bastante rígido. Conforme Attie (2010), os princípios éticos que regem a profissão do auditor independente são os seguintes: Independência, integridade e objetividade: deve manter sua integridade e objetividade e, quando exercer a auditoria, ser independente daqueles a quem presta serviços. Competência e padrões técnicos: deve observar os padrões técnicos profissionais e esforçar-se continuamente para tornar-se mais competente e melhorar a qualidade de seus serviços. Responsabilidade perante o auditado: deve ser justo e honesto com seus auditados e servi-los o melhor que puder, cuidando de defender profissionalmente os interesses desses clientes, de forma condizente com as responsabilidades que tem para com o público. Responsabilidade perante os colegas: deve conduzir-se de maneira a promover a cooperação e o bom relacionamento entre os membros de sua profissão. Outras responsabilidades e práticas: deve conduzir-se de modo a elevar o nível de sua profissão e sua capacidade de servir ao público. 5.5 RELAÇÕES HUMANAS E O AUDITOR O auditor, em seu trabalho, deverá ter sempre em mente que nas relações humanas (em seu significado mais amplo, o estabelecimento e/ou a manutenção de contato entre pessoas), quer seja dentro de sua própria empresa ou departamento como fora dele quando se dirige à empresa que o contratou, poderão ou não estar presentes atitudes que vão de acordo com os princípios éticos. Na ausência dessas atitudes, o que resulta é um clima de ressentimento, resistência, incompreensão, falta de colaboração e iniciativa. Enfim, uma atmosfera que não conduz a um aproveitamento positivo na relação que se estabelece. Isso prejudicará a condução de seu plano de trabalho, trará um consequente mal-estar, além de péssima imagem que deixará perante o auditado. UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 14 No caso de o auditor manifestar a prática de relações humanas assentada no princípio do reconhecimento dos seres humanos dotados de uma personalidade própria que merece ser respeitada, ele, auditor, conseguirá conduzir o seu trabalho e terá a cooperação daqueles que estão dentro deste contexto. O auditor deverá sempre reconhecer que cada um de seus colegas, chefe e subordinado, mais do que simples executor de uma tarefa, é um ser humano e como tal deve ser tratado. A relação humana é condição básica para um resultado positivo do trabalho do auditor. Em síntese, presume-se uma atitude que envolve uma compreensão mútua e sincera dos sentimentos e anseios que todo ser humano leva consigo. Sentimentos e anseios estes que deverão estar presentes em todo trabalho do auditor, qualquer que seja o nível de formação intelectual das pessoas com as quais irá tratar. 15 Chegamos ao final do tópico 1. Faremos uma revisão do que estudamos até agora. • A auditoria existe há mais de 4.000 anos, desde a antiga Babilônia, embora que somente em 1314 foi criado o cargo de auditor, na Inglaterra. • A prática sistematizada da auditoria começou a desenvolver-se nos séculos XIX e XX, em função da Revolução Industrial e da expansão econômica do pós- guerra. • A auditoria no Brasil teve cunho relevante em função do surgimento das grandes corporações econômicas, a partir da década de 50. • Em 1976 ocorreu a normatização das práticas e dos relatórios contábeis com a Lei n◦ 6.404, das Sociedades por Ações, que harmonizou no âmbito nacional as atividades da contabilidade frente às empresas e assim determinou padrões de registro e de controle para viabilizar as atividades da auditoria. • Pode-se conceituar auditoria como um controle gerencial que funciona por meio de medição e avaliação da eficiência e eficácia dos controles da empresa. E não é só isso, também a auditoria deve ser entendida como a atividade de assessoramento à administração para medir o desempenho das atribuições definidas para cada área da empresa, mediante a aplicação das diretrizes políticas e objetivos determinados. • A ética profissional nada mais é que uma divisãoespecial da ética geral, e dela o profissional recebe normas específicas de conduta em questões que refletem responsabilidade para com a sociedade, com os clientes e com outros membros de sua profissão, assim como com a própria pessoa. RESUMO DO TÓPICO 1 16 1 Assinale a alternativa CORRETA: Devido ao advento do comércio internacional, houve a necessidade da oferta do crédito, que, por consequência, era apenas concedido somente a determinadas empresas com: a) ( ) Contabilidade implantada. b) ( ) Uma situação econômica viável. c) ( ) Devidamente controladas e auditadas. d) ( ) Determinados procedimentos contábeis, porque a auditoria ainda não existia. 2 Assinale a alternativa CORRETA: Em 1976, foi criada a Lei n◦ 6.404, das Sociedades por Ações, que normatizou as práticas e os relatórios contábeis. Qual a consequência desta lei para a auditoria? a) ( ) Normatizou a profissão do auditor. b) ( ) Harmonizou no âmbito nacional as atividades da contabilidade frente às empresas e assim determinou padrões de registro e de controle para viabilizar as atividades da auditoria. c) ( ) Fez com que o Conselho Federal de Contabilidade se pronunciasse a respeito dos princípios a serem seguidos sobre os procedimentos do trabalho do auditor. d) ( ) Permitiu que surgisse a primeira empresa de auditoria no país. 3 Assinale a alternativa CORRETA: A auditoria pode ser conceituada da seguinte forma: a) ( ) Como um controle gerencial que funciona por meio de medição e avaliação da eficiência e eficácia dos controles da empresa. Além disso, pode ser entendida como uma atividade de assessoramento à administração para medir o desempenho das atribuições definidas para cada área da empresa, mediante a aplicação das diretrizes políticas e objetivos determinados. b) ( ) É um ramo da ciência usado no estudo da verificação de relatórios analíticos da contabilidade. c) ( ) É uma área da contabilidade que apenas se preocupa em apurar fraudes nas empresas. d) ( ) É uma área da economia que presta serviços de controle. AUTOATIVIDADE 17 4 Assinale a alternativa CORRETA: Existem alguns princípios éticos que regem a profissão do auditor independente. Dentre eles podemos citar o seguinte: a) ( ) Atender às exigências do auditado quanto ao resultado da auditoria. b) ( ) Evitar emitir pareceres contrários à empresa auditada para terceiros. c) ( ) Independência, integridade e objetividade. d) ( ) Interpretar e decidir suas próprias normas nos encaminhamentos dos serviços de auditoria. 5 Assinale a alternativa CORRETA: A auditoria precisa de alguns cuidados no desempenho de sua função. Um deles é o seguinte: a) ( ) Condições adversas que sejam encontradas durante a auditoria e que requeiram atenção especial devem conter relatórios prontos para fazer denúncias. b) ( ) Realizar as avaliações fora dos locais onde os trabalhos estão sendo executados. c) ( ) Registrar as deficiências à medida que forem sendo encontradas, para que no relatório de auditoria possam ser relatadas com exatidão de detalhe. d) ( ) Ouvir opiniões de terceiros sobre como o serviço deve ser feito. 18 19 TÓPICO 2 NORMAS DE AUDITORIA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO As normas de auditoria têm a função principal de serem instrumentos de padronização dos exames, com a finalidade de evitar distorções nas análises. Desta forma, determinam as condições básicas que devem ser observadas pelo auditor no exercício da sua profissão. A forma como estas normas estão estruturadas e a profundidade com que são determinadas é o que vamos estudar neste tópico. 2 NORMAS DE AUDITORIA GERALMENTE ACEITAS Segundo Crepaldi (2009, p. 208), “essas normas determinam a estrutura dentro da qual o auditor decide sobre o que é necessário à elaboração de um exame de demonstrações financeiras, à realização do exame e à redação do relatório”. Então, Normas de Auditoria são instrumentos de padronização dos exames de auditoria, de forma que não ocorram distorções em determinados tipos de análises. É inadequado cada auditor proceder as suas análises de acordo com suas próprias interpretações. 3 INTRODUÇÃO ÀS NORMAS PROFISSIONAIS DE AUDITORIA NO BRASIL No exercício de suas funções, o auditor deve observar determinadas normas profissionais estabelecidas e aprovadas pelas entidades responsáveis pela regulamentação e fiscalização da atividade. No Brasil, estas entidades responsáveis são: • Conselho Federal de Contabilidade (CFC). • Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON). • Comissão de Valores Mobiliários (CVM). • Banco Central do Brasil (BACEN). • Superintendência de Seguros Privados (SUSEP). • Instituto dos Auditores Internos do Brasil (AUDIBRA). • Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 20 Além disso, Crepaldi (2009, p. 55) coloca que “[...] muitos auditores estão sujeitos aos regulamentos do American Institute of Certified Public Accountants (AICPA), que exerce considerável autoridade sobre seus membros e sobre a profissão de auditor independente”. As normas profissionais representam as condições mínimas necessárias a serem observadas pelos auditores no desenvolvimento de seus serviços, e são dividi das em três partes: • Normas relativas à pessoa do auditor. • Normas relativas à execução do trabalho. • Normas relativas ao parecer do auditor externo independente. a) Normas profissionais de auditoria relativas à pessoa do auditor Estas normas dizem respeito à natureza pessoal e às qualificações do auditor, estabelecendo as normas éticas e morais que, conforme Almeida (2010, p. 16), são as seguintes: • a auditoria deve ser executada por pessoa legalmente habilitada, perante o CRC; • o auditor deve ser independente em todos os seus assuntos relacionados com seu trabalho; • o auditor deve aplicar o máximo de cuidado e zelo na realização do seu exame e na exposição de suas conclusões. IMPORTANT E Estas normas estabelecem as atitudes profissionais do auditor, a obrigatoriedade de ter registro em um órgão de classe devidamente reconhecido para o desempenho do exercício da sua profissão. Também é necessário não estar “preso” a relações de parentesco ou amizade, pois isso não garante a integridade do trabalho executado, sendo que o auditor deve zelar por toda a qualidade das informações analisadas e auditadas. As normas relativas à pessoa do auditor estão subdivididas em duas categorias, que são as seguintes: ● Normas profissionais do auditor externo independente: foram regulamentadas pelo Conselho Federal de Contabilidade em 17 de dezembro de 1997, pela Resolução CFC nº 821/97, que aprovou a NBC P 1 - Normas Profissionais de Auditor Independente. TÓPICO 2 | NORMAS DE AUDITORIA 21 ● Normas profissionais do auditor interno: foram regulamentadas pelo Conselho Federal de Contabilidade em 24 de março de 1995, pela Resolução CFC nº 781/95, que aprovou a NBC P 3 - Normas Profissionais do Auditor Interno. Essa resolução elencou as seguintes normas relativas à pessoa do auditor interno: • competência técnico-profissional; • autonomia profissional; • responsabilidade do auditor interno na execução dos trabalhos; • relacionamento com profissionais de outras áreas; • sigilo; • cooperação com o auditor independente. FONTE: Disponível em: <http://www.apcontabilidade.com.br/artigos/auditoria.htm>. Acesso em: 7 fev. 2013. b) Normas profissionais de auditoria relativas à execução do trabalho Tais normas foram regulamentadas pelo Conselho Federal de Contabilidade em 17 de dezembro de 1997, pela Resolução CFC nº 820/97, que aprovou a NBC T 11 - Normas de Auditoria Independente das Demonstrações Contábeis. Essa resolução elencou as seguintes normas de execução dos trabalhos: • planejamento da auditoria;• relevância; • risco de auditoria; • supervisão e controle de qualidade; • estudo e avaliação do sistema contábil e de controles internos; • aplicação dos procedimentos de auditoria; • documentação da auditoria; • continuidade normal das atividades da entidade; • amostragem; • processamento eletrônico de dados (PED); • estimativas contábeis; • transações com partes relacionadas; • transações e eventos subsequentes; • carta de responsabilidade da administração; • contingências. As normas do trabalho no campo determinam o que podemos chamar de mecanismo de execução do exame. Almeida (2010, p. 16-17) define-as como “normas relativas à execução do trabalho” e as descreve da seguinte forma: o trabalho deve ser adequadamente planejado; quando executado por contabilistas-assistentes, estes devem ser convenientemente supervisionados pelo auditor responsável; o auditor deve estudar e avaliar o sistema contábil e o controle interno da empresa, como base para determinar a confiança que neles pode depositar, como fixar a natureza, a extensão e a profundidade dos procedimentos de auditoria a serem aplicados; UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 22 os procedimentos de auditoria devem ser estendidos e aprofundados até a obtenção dos elementos comprobatórios necessários para fundamentar o parecer do auditor. (ALMEIDA, 2010, p. 16-17). Estes mecanismos de execução do trabalho é que determinam a profundidade do exame de auditoria a ser realizado e estabelecem os elementos comprobatórios para que o auditor possa fundamentar sua opinião no relatório final de auditoria. c) Normas relativas ao parecer do auditor externo independente As normas do parecer têm a premissa de determinar a profundidade dos exames a serem realizados, a natureza da auditoria realizada, dentre outros. Podemos dizer que estas normas determinam o alcance da opinião formulada e devem atender aos seguintes requisitos: o parecer deve esclarecer: (1) se o exame foi efetuado de acordo com as normas de auditoria geralmente aceitas; (2) se as demonstrações contábeis examinadas foram preparadas de acordo com os princípios fundamentais de contabilidade; (3) se os referidos princípios foram aplicados, no exercício examinado, com uniformidade em relação ao exercício anterior; salvo declaração em contrário, entende-se que o auditor considera satisfatórios os elementos contidos nas demonstrações contábeis examinadas e nas exposições informativas constantes das notas que as acompanham; o parecer deve expressar a opinião do auditor sobre as demonstrações contábeis tomadas em conjunto. Quando não se puder expressar opinião sem ressalvas sobre todos os elementos contidos nas demonstrações contábeis e nas notas informativas, devem ser declaradas as razões que motivaram esse fato. Em todos os casos, o parecer deve conter indicação precisa da natureza do exame e do grau de responsabilidade assumida pelo auditor. (ALMEIDA, 2010, p. 17). Neste sentido, as normas do parecer dos auditores independentes estabelecem que esses pareceres (opiniões dos auditores) devem expressar a situação econômica e financeira da empresa e salvaguardar o interesse dos investidores. A seguir, apresentamos a síntese de alguns pontos da Resolução n◦ 1.203/2009, que trata dos objetivos gerais do auditor independente e a condução da auditoria em conformidade com normas de auditoria. TÓPICO 2 | NORMAS DE AUDITORIA 23 RESOLUÇÃO CFC Nº. 1.203/09 Aprova a NBC TA 200 – Objetivos Gerais do Auditor Independente e a Condução da Auditoria em Conformidade com Normas de Auditoria. O CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, no exercício de suas atribuições legais e regimentais, CONSIDERANDO o processo de convergência das Normas Brasileiras de Contabilidade aos padrões internacionais; CONSIDERANDO que o Conselho Federal de Contabilidade é membro associado da IFAC – Federação Internacional de Contadores; CONSIDERANDO a Política de Tradução e Reprodução de Normas, emitida pela IFAC em dezembro de 2008; CONSIDERANDO que a IFAC, como parte do serviço ao interesse público, recomenda que seus membros e associados realizem a tradução das suas normas internacionais e demais publicações; CONSIDERANDO que mediante acordo firmado entre as partes, a IFAC autorizou, no Brasil, como tradutores das suas normas e publicações, o Conselho Federal de Contabilidade e o IBRACON – Instituto dos Auditores Independentes do Brasil; CONSIDERANDO que a IFAC, conforme cessão de direitos firmada, outorgou aos órgãos tradutores os direitos de realizar a tradução, publicação e distribuição das normas internacionais impressas e em formato eletrônico, RESOLVE: Art. 1º. Aprovar a NBC TA 200 – “Objetivos Gerais do Auditor Independente e a Condução da Auditoria em Conformidade com Normas de Auditoria”, elaborada de acordo com a sua equivalente internacional ISA 200. Art. 2º. Esta Resolução entra em vigor nos exercícios iniciados em ou após 1º de janeiro de 2010. Art. 3º. Aplicam-se as normas atualmente vigentes para os trabalhos de auditoria de exercícios iniciados antes de 1º de janeiro de 2010. Art. 4º. Observado o disposto no artigo anterior, ficam revogadas, a partir de 1º de janeiro de 2010, as Resoluções CFC nºs. 820/97, 830/98, 836/99, 953/03, 981/03, 1.012/05, 1.022/05, 1.024/05, 1.029/05, 1.035/05, 1.036/05, 1.037/05, 1.038/05, 1.039/05, 1.040/05 e 1.054/05, publicadas no D.O.U., Seção I, de 21/1/98, 21/12/98, 2/3/99, 3/2/03, 11/11/03, 25/1/05, 22/4/05, 9/5/05, 6/7/05, 22/9/05, 22/9/05, 22/9/05, 22/9/05, 22/9/05, 22/9/05 e 8/11/05, respectivamente. Brasília, 27 de novembro de 2009. Contadora Maria Clara Cavalcante Bugarim Presidente Ata CFC nº. 931 Fonte: Disponível em: <http://www.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?codigo=2009/001203>. Acesso em: 22 set. 2012. UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 24 DICAS Para a leitura completa da Resolução CFC nº 1.203/09, acesse o link: <http:// www.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?codigo=2009/001203>. O trabalho do auditor apresentado no parecer do auditor independente é a parte em que o público poderá conhecer e avaliar a competência do seu trabalho e a sua responsabilidade legal assumida sobre o conteúdo exposto. Chama-se “função de certificar” a responsabilidade que os auditores têm em atestar a fidelidade e fidedignidade dos relatórios contábeis. Pode-se dizer que o parecer é um atestado fundamentado nos conhecimentos especializados de contabilidade e auditoria em conformidade com as normas de auditoria. O parecer padrão, geralmente, possui três parágrafos, nos quais deverão declarar que foram adotados os princípios fundamentais de contabilidade, se esses princípios foram aplicados uniformemente, se a divulgação foi realizada de forma correta, e qual é o grau de responsabilidade assumido pelo auditor em relação às demonstrações contábeis. O Parecer do Auditor Independente é o documento elaborado pelo auditor para expressar, de forma clara e objetiva, obedecendo às características estabelecidas em normas específicas de auditoria, sua opinião sobre as demonstrações contábeis auditadas. Mediante o parecer, o auditor assume responsabilidade de ordem técnico-profissional, inclusive publicamente. Normalmente, o parecer é enviado aos acionistas, cotistas ou sócios, ao conselho de administração ou à diretoria da entidade, ou outro órgão equivalente. No parecer devem constar o nome da entidade auditada, a identificação das demonstrações contábeis sobre as quais o auditor expressa a sua opinião e as datas e períodos a que correspondem. O contador responsável pelos trabalhos deve ter seu número de registro no Conselho Regional de Contabilidade, assinar e datar o parecer. Se a auditoria foi realizada por empresa especializada, o nome e o número de registro cadastral no Conselho Regional de Contabilidadetambém devem constar do parecer. A data do parecer deve corresponder ao dia do encerramento dos trabalhos de auditoria na entidade. ATENCAO TÓPICO 2 | NORMAS DE AUDITORIA 25 Os principais tipos de pareceres de auditor independente são classificados em: ● Opinião não modificada. − Opinião sem ressalva. ● Opinião modificada. − Opinião com ressalva. − Opinião adversa. − Abstenção de opinião. Veremos a seguir cada tipo de opinião, separadamente. d) Relatório/parecer do auditor independente com opinião sem ressalva É o tipo de parecer usado quando o auditor não tem dúvidas das demonstrações financeiras auditadas. O primeiro e o segundo parágrafo destinam-se à apresentação do escopo do parecer. É o momento em que o auditor informa o objetivo e o tipo de exame que foi realizado pelo auditor. No terceiro parágrafo, o auditor expressa sua opinião sobre o trabalho auditado. Salienta- se que, para emitir o parecer sem ressalva, o auditor deve estar certo de que as demonstrações contábeis foram elaboradas conforme as normas de contabilidade e legislação em vigor. Por isso, o parecer deve estar alicerçado em alguns critérios, entre os quais: a) A observância dos princípios contábeis geralmente aceitos. b) A aplicação de testes dos registros contábeis ao invés de uma verificação completa. c) Os erros de pouca relevância devem ser desconsiderados. d) O nível de segurança do sistema de controle interno deve ser o suficiente para o auditor estabelecer confiança nas informações contábeis auditadas. e) Os livros e registros da empresa auditada devem ter suas informações relacionadas nas demonstrações contábeis. Franco e Marra (2001, p. 534) apresentam um modelo de relatório/parecer do auditor independente com opinião sem ressalva, que demonstraremos a seguir: UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 26 RELATÓRIO DO AUDITOR INDEPENDENTE Destinatário (1) Examinamos os balanços patrimoniais da Empresa ABC, levantados em 31 de dezembro de 19X1 e de 19X0, e as respectivas demonstrações do resultado, das mutações do patrimônio líquido e das origens e aplicações de recursos correspondentes aos exercícios findos naquelas datas, elaborados sob a responsabilidade de sua administração. Nossa responsabilidade é a de expressar uma opinião sobre essas demonstrações contábeis. (2) Nossos exames foram conduzidos de acordo com as normas de auditoria e compreenderam: (a) o planejamento dos trabalhos, considerando a relevância dos saldos, o volume de transações e o sistema contábil e os controles internos da entidade; (b) a constatação, com base em testes, das evidências e dos registros que suportam os valores e as informações contábeis divulgados; e (c) a avaliação das práticas e das estimativas contábeis mais representativas adotadas pela administração da entidade, bem como da apresentação das demonstrações contábeis tomadas em conjunto. (3) Em nossa opinião, as demonstrações contábeis acima referidas representam adequadamente, em todos os aspectos relevantes, a posição patrimonial e financeira da Empresa ABC em 31 de dezembro de 19X1 e de 19X0, o resultado de suas operações, as mutações de seu patrimônio líquido e as origens e aplicações de seus recursos referentes aos exercícios findos naquelas datas, de acordo com os Princípios Fundamentais de Contabilidade. Local e data Assinatura Nome do auditor-responsável técnico Contador nº de registro no CRC Nome da empresa de auditoria Nº de registro cadastral no CRC (FRANCO E MARRA, 2001, p. 534) No relatório do auditor independente com opinião sem ressalva não se encontra nenhum tipo de evidência que constate irregularidade, portanto pode ser considerado “parecer limpo”. e) Relatório/parecer do auditor independente com opinião com ressalva A opinião com ressalva ocorre quando o auditor observa algum tipo de discordância ou restrição na extensão de seus exames de auditoria, mas que não requeiram parecer adverso ou abstenção de opinião. TÓPICO 2 | NORMAS DE AUDITORIA 27 A única diferença entre a opinião com ressalva e a opinião sem ressalva é a utilização das expressões “exceto por”, “exceto quanto” ou “com exceção de” quando se refere ao assunto objeto da ressalva. Ressaltando esse aspecto, Franco e Marra (2001, p. 538) citam a Resolução 820/97 do Conselho Federal de Contabilidade – CFC que define o parecer com ressalva da seguinte forma: 11.3.4.1 – O parecer com ressalva é emitido quando o auditor conclui que o efeito de qualquer discordância ou restrição na extensão de um trabalho não é tal magnitude que requeira parecer adverso ou abstenção de opinião. 11.3.4.2 – O parecer com ressalva deve obedecer ao modelo do parecer sem ressalva, com a utilização das expressões ‘exceto por’, ‘exceto quanto’ ou ‘com exceção de’ referindo-se aos efeitos do assunto objeto da ressalva. As circunstâncias que geram uma opinião com ressalva, segundo Floriani (2006, p. 78-79) (grifo do autor), são as seguintes: a.1. Quebra de consistência - Essa situação surge quando o cliente não emprega consistentemente os princípios contábeis e isto tem consequências materiais para as demonstrações financeiras; a.2. Inobservância de princípios contábeis - Essa decorre da aplicação, pelo cliente, de princípios contábeis que não têm aceitação geral ou que diferem daqueles promulgados por entidades normativas; a.3. Divulgação inadequada - Deve-se incluir nas demonstrações financeiras, ou em notas às mesmas, todas as informações necessárias a uma apresentação fidedigna. De outra forma, não se pode considerar fidedigna uma demonstração financeira e o auditor tem de emitir parecer com ressalva. a.4. Limitação de escopo - Se, por qualquer motivo, o auditor foi impedido de aplicar todos os procedimentos ou de reunir todas as evidências consideradas necessárias, talvez seja o caso de emitir parecer com ressalva; a.5. Contingências ou incerteza material - Nas atividades de negócios surgem muitas situações cujo desfecho é imprevisível, exemplo: processos legais, resultado de renegociação de contrato e apelação contra glosa no imposto; a.7. Registros contábeis incompletos ou inadequados - Uma circunstância intimamente relacionada com a deficiência de controles e a de registros contábeis incompletos ou inadequados. Para melhor compreensão, apresentaremos a seguir alguns exemplos de parágrafos com opinião com ressalva, contendo as diversas expressões utilizadas. Exemplo 1: (a) O terreno e os edifícios da fábrica da companhia foram dados em 2XX2 em garantia de financiamento a longo prazo. UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 28 (b) Em nossa opinião, exceto pela falta de divulgação da informação mencionada no parágrafo anterior, as demonstrações contábeis acima referidas representam etc., etc., etc. (c) Conforme mencionado na nota explicativa nº X, a companhia mudou no exercício social de 2XX2 o método de avaliar seus estoques. Neste caso, tanto a redação do parágrafo de alcance como o de opinião precisa ser modificada, para justificar a causa da limitação de alcance e a ressalva de opinião. Por exemplo, quando o auditor não tem condições ou é impedido pela administração de acompanhar o levantamento de estoque, ou de fazer a circularização dos créditos, ele dirá, no parágrafo explicativo dos trabalhos executados, que seu exame: “foi efetuado de acordo com as normas brasileiras de auditoria geralmente aceitas, exceto quanto ao acompanhamento do inventário, ou quanto à circularização dos créditos...”, ou, simplesmente, “salvo quanto ao descrito no parágrafo seguinte...”. Exemplo 2: (1) Exceto quanto ao mencionado no parágrafo 3, nosso exame foi conduzido de acordo com as normas de auditoria e compreendeu: etc., etc., (conforme padrão deste parágrafo no parecer sem ressalva). (2) Pelo fato de termos sido contratados pelaempresa ABC S.A. após 31 de dezembro de 2XX2, não acompanhamos o inventário físico dos estoques naquela data, registrados no balanço patrimonial pela importância de R$ 700.000,00, nem foi possível satisfazer-mo nos sobre a existência dos estoques por meio de procedimentos alternativos de auditoria. O valor dos estoques em 31 de dezembro de 2XX2 contribui significativamente para a determinação do resultado das operações, das mutações do patrimônio líquido do exercício findo em 31 de dezembro de 2XX3. Como consequência, não estamos em condições de emitir, e por isso não emitimos opinião sobre as demonstrações do resultado, das mutações do patrimônio líquido correspondentes ao exercício findo em 31 de dezembro de 2XX3. (3) Em nossa opinião, o balanço patrimonial representa adequadamente, em todos os aspectos relevantes, a posição patrimonial e financeira da empresa ABC S.A. em 31 de dezembro de 2XX3, de acordo com os princípios fundamentais de contabilidade. (4) Não examinamos, nem foram examinadas por outros auditores independentes, as demonstrações contábeis do exercício findo em 31 de dezembro de 2XX1, cujos valores são apresentados para fins comparativos, e consequentemente não emitimos opinião sobre elas. TÓPICO 2 | NORMAS DE AUDITORIA 29 Exemplo 3: a) A companhia está, atualmente, contestando certas incorreções no cálculo do Imposto de Renda que a Secretaria da Receita Federal arbitrou para os exercícios sociais de 2XX3 e 2XX2 no valor de R$ 500.000,00, excluídos de juros e correção monetária. O ponto de discórdia refere-se a decisões conflitantes emanadas da Secretaria da Receita Federal, sobre as quais poderão ampliar- se as discussões. Como consequência é impossível determinar, nesta ocasião, o montante da dívida da companhia, se alguma ou nenhuma provisão foi constituída para atender a esse passivo contingente. b) Em nossa opinião, sujeitas a quaisquer ajustes nas demonstrações contábeis que possam advir da solução final da dívida de responsabilidade da empresa, relativo ao Imposto de Renda de exercícios anteriores, conforme exposto no parágrafo anterior (ou na nota explicativa), as demonstrações contábeis etc., etc., etc. Agora podemos observar, a seguir, um modelo de relatório/parecer do auditor independente com opinião com ressalva completo, proposto por Araújo (1998, p. 195-196). RELATÓRIO DO AUDITOR INDEPENDENTE COM OPINIÃO COM RESSALVA Destinatário (Parágrafo do escopo) Examinamos os balanços patrimoniais da Empresa Vou Passar, levantados em 31 de dezembro de 19X1 e 19X0, e as respectivas demonstrações do resultado, das mutações do patrimônio líquido e das origens e aplicações de recursos correspondentes aos exercícios findos naquelas datas, elaboradas sob a responsabilidade de sua administração. Nossa responsabilidade é a de expressar uma opinião sobre essas demonstrações contábeis. (Parágrafo das normas e procedimentos) (2) Nossos exames foram conduzidos de acordo com as normas de auditoria, e compreenderam: (a) o planejamento dos trabalhos, considerando a relevância dos saldos, o volume de transações e o sistema contábil e de controles internos da entidade; (b) a constatação, com base em testes, das evidências e dos registros que suportam os valores e as informações contábeis divulgadas; e (c) a avaliação das práticas e das estimativas contábeis mais representativas adotadas pela administração da entidade, bem como da apresentação das demonstrações contábeis tomadas em conjunto. UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 30 (Parágrafo da ressalva) (3) De acordo com suas instruções, não solicitamos a nenhum cliente que confirmasse seus saldos relativos ao contas a receber. Como consequência, não podemos expressar opinião sobre o saldo de Duplicatas a Receber no montante de R$ 200.000,00, que representa 5% do total do Patrimônio Líquido da Companhia e 10% do seu resultado. (Parágrafo da opinião) Em nossa opinião, exceto quanto ao fato mencionado no parágrafo anterior, as demonstrações contábeis acima referidas representam adequadamente, em todos os aspectos relevantes, a posição patrimonial e financeira da Empresa Vou Passar em 31 de dezembro de 19X1 e de 19X0, o resultado de suas operações, as mutações de seu patrimônio líquido e as origens e aplicações de seus recursos referentes aos exercícios findos naquelas datas, de acordo com os Princípios Fundamentais de Contabilidade. Local e data Assinatura Nome do auditor – responsável técnico N. de registro no CRC Nome da empresa de auditoria N. de registro no CRC A NBC TA 705, aprovada pela Resolução CFC nº. 1.232/09, estabelece modificações na opinião do auditor independente, definindo no item 7 o seguinte: O auditor deve expressar uma opinião com ressalva quando: (a) ele, tendo obtido evidência de auditoria apropriada e suficiente, conclui que as distorções, individualmente ou em conjunto, são relevantes, mas não generalizadas nas demonstrações contábeis; ou (b) ele não consegue obter evidência apropriada e suficiente de auditoria para suportar sua opinião, mas ele conclui que os possíveis efeitos de distorções não detectadas, se houver, sobre as demonstrações contábeis, poderiam ser relevantes, mas não generalizados. (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 2013). Vejamos dois exemplos de relatório do auditor independente com opinião com ressalva, conforme a NBC TA 705. Exemplo 1: Relatório do auditor independente com opinião com ressalva devido a distorção relevante nas demonstrações contábeis. As circunstâncias incluem o seguinte: TÓPICO 2 | NORMAS DE AUDITORIA 31 • auditoria do conjunto completo de demonstrações contábeis para fins gerais elaboradas pela administração da entidade de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil; • os termos do trabalho de auditoria refletem a descrição da responsabilidade da administração sobre as demonstrações contábeis na NBC TA 210; • os estoques estão superavaliados. A distorção é considerada relevante, mas não generalizada para as demonstrações contábeis. RELATÓRIO DOS AUDITORES INDEPENDENTES SOBRE AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS (1) [Destinatário apropriado] (2) Examinamos as demonstrações contábeis da Companhia ABC, que compreendem o balanço patrimonial em 31 de dezembro de 20X1(3) e as respectivas demonstrações do resultado, das mutações do patrimônio líquido e dos fluxos de caixa (4) para o exercício findo naquela data, assim como o resumo das principais práticas contábeis e demais notas explicativas. Responsabilidade da administração (5) da Companhia sobre as demonstrações contábeis A administração da Companhia é responsável pela elaboração e adequada apresentação dessas demonstrações contábeis de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil e pelos controles internos que ela determinou como necessários para permitir a elaboração de demonstrações contábeis livres de distorção relevante, independentemente se causada por fraude ou erro. Responsabilidade dos auditores independentes (6) Nossa responsabilidade é a de expressar uma opinião sobre essas demonstrações contábeis com base em nossa auditoria, conduzida de acordo com as normas brasileiras e internacionais de auditoria. Essas normas requerem o cumprimento de exigências éticas pelos auditores e que a auditoria seja planejada e executada com o objetivo de obter segurança razoável de que as demonstrações contábeis estão livres de distorção relevante. Uma auditoria envolve a execução de procedimentos selecionados para obtenção de evidência a respeito dos valores e divulgações apresentados nas demonstrações contábeis. Os procedimentos selecionados dependem do julgamento do auditor, incluindo a avaliação dos riscos de distorção relevante nas demonstrações contábeis, independentemente se causada por fraude ou erro. Nessa avaliação
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