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História da Loucura e Luta Antimanicomial

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FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS 
 
 
ANA PAULA TOMAZ 
CAROLINE DE SOUSA 
FREDERICO BONSUCESSO 
LARA OLIVEIRA SOUSA 
LÍVIA MELHEM 
MARIA EDUARDA ALVES PEREIRA 
 
 
 
 
HISTÓRIA DA LOUCURA E LUTA ANTIMANICOMIAL NO BRASIL 
Os percursos da psicologia brasileira no campo da saúde mental 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte, MG 
2020 
 
 
ANA PAULA TOMAZ 
CAROLINE DE SOUSA 
FREDERICO BONSUCESSO 
LARA OLIVEIRA SOUSA 
LÍVIA MELHEM 
MARIA EDUARDA ALVES PEREIRA 
 
HISTÓRIA DA LOUCURA E LUTA ANTIMANICOMIAL NO BRASIL 
Os percursos da psicologia brasileira no campo da saúde mental 
 
 
Trabalho apresentado à disciplina de Fundamentos Históricos 
e Epistemológicos da Psicologia do curso de Psicologia da 
Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais. 
 
Professor Alexandre Dutra Gomes da Cruz 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte, MG 
2020 
 
 
 RESUMO 
O presente trabalho discorre acerca de como eram vistos os ditos loucos, como as 
concepções da loucura estavam visceralmente relacionadas às antigas funções dos 
manicômios e o contexto da Luta Antimanicomial no Brasil. Inicialmente apresentamos 
os percursos da historia da loucura e o progresso das instituições psiquiátricas, ou seja, 
seus paradigmas científicos e as práticas ocorridas. Localizando o desenvolvimento da 
psicologia no campo da saúde mental e a relação entre as práticas ocorridas que 
resultaram, sobretudo, em grande modificação dos conceitos e procedimentos 
anteriormente adotados na historia da loucura, sendo inadequada para o contexto 
brasileiro. Desse modo, relatamos a presença marcante da construção social e o 
preconceito contra os ditos loucos e sua suposta improdutividade para a sociedade e os 
movimentos de reforma psiquiátrica no Brasil a partir das novas concepções sobre a 
loucura e saúde mental atualmente. 
 
Palavras-chave: História da loucura, Instituições psiquiátricas e manicomiais, Luta 
Antimanicomial. 
 
1. INTRODUÇÃO 
 A Luta Antimanicomial refere-se a um contexto de preocupação com saúde 
mental, notadamente em pacientes psiquiátricos diante de seu processo de internação, 
objetivando respeitar e proteger seus direitos relacionados à liberdade e vida. 
Iniciado no final da década de 70, o também chamado Movimento 
Antimanicomial questionava o tratamento oferecido em instituições psiquiátricas. 
Defendia a ideia que os denominados “loucos”, termo utilizado para reporta-se a 
pacientes que possuíam algum tipo de transtorno ou sofrimento mental, não era 
adequado em um cenário onde se almejava que aquele indivíduo voltasse para o seu 
convívio social e se adequasse a ele novamente. 
 Mediante a uma pesquisa qualitativa acerca do referido assunto, realizaram-se 
levantamentos de dados históricos primordiais para a compreensão de sua importância e 
 
 
relevância no contexto da saúde mental, que serão abordados em ordem cronológica e 
contextual no presente trabalho. 
 
2. JUSTIFICATIVA 
Estudar o contexto da maneira como ocorreu a história da loucura e a realidade 
social no campo da saúde mental desses indivíduos tanto em seu meio quanto em 
manicômios e hospitais psiquiátricos, é extremamente necessário para a compreensão 
do movimento da reforma psiquiátrica no Brasil e engajamento na Luta 
Antimanicomial. 
O sofrimento psíquico trazia para a sociedade uma concepção preconceituosa de 
incapacidade daqueles que sofrem com doenças mentais - que é o mesmo de doença 
cerebral, tendo, sua origem, endógena. A sociedade defendia a ideia de que os ditos 
como loucos precisassem ser retirados, contra suas próprias vontades, do convívio 
social para serem tratados isoladamente, ou seja, era retirado o direito básico de 
liberdade desses cidadãos. 
Por outro lado, a consciencialização acerca das barbáries que eles sofriam e o 
respeito são fundamentais para a reparação da compreensão do significado das doenças 
mentais, para, assim, transformar dentro e fora das instituições o modo com que os 
pacientes eram tratados. O Movimento de Luta Antimanicomial tem como lema “Por 
uma sociedade sem manicômios” e, fundamenta-se no respeito à defesa da liberdade e 
intervenções para um tratamento adequado e humanizado para a melhoria da qualidade 
de vida daqueles em sofrimento mental. 
A partir das novas concepções na atualidade sobre a loucura e saúde mental, 
ainda é refletido socialmente um tabu e um preconceito em relação ao sofrimento 
psíquico, defendendo o afastamento dos mesmos no meio social. Em outro olhar, para 
funcionar de maneira eficaz, o paciente psiquiátrico necessita de tratamentos que 
respeitem sua integridade e seus direitos, pois eles ainda enfrentam dificuldades 
inerentes no dia a dia. Dessa forma, as políticas públicas voltadas para a saúde mental 
são fundamentais para retirar a concepção de que o lugar ideal para a restauração e 
normalização de comportamentos seria os manicômios. 
 
 
 
3. REFERENCIAL TEÓRICO 
Inúmeros estudiosos, filósofos, psicólogos e psiquiatras contribuíram para 
explicar no que consistem as concepções sobre normalidade e anormalidade e como as 
formas de lidar com a loucura variam de acordo com o contexto histórico. Segundo 
Michel Foucault, em sua obra “A História da Loucura” (1961), a loucura clássica 
não é uma doença, mas sim, o extremo dos defeitos, visto que a grande internação é “o 
momento em que a loucura é percebida no horizonte social da pobreza, da incapacidade 
para o trabalho, da impossibilidade de integrar-se no grupo; o momento em que começa 
a inserir-se no texto dos problemas da cidade”. 
 No contexto histórico brasileiro, destaca-se, entre os inúmeros hospitais 
psiquiátricos que existiram e realizavam maus-tratos, barbáries e abusos através de 
eletrochoques e excesso de medicamentos, ou seja, verdadeiras chacinas, o Hospital 
Colônia, localizado em Barbacena, Minas Gerais. Daniela Arbex, em sua obra 
“Holocausto Brasileiro” (2013), retrata os maus-tratos da história do Hospital Colônia, 
administrado pela FHEMIG através do depoimento de ex-funcionários e pessoas ligadas 
diretamente ao dia-a-dia do funcionamento do local. Segundo a autora, 70% dos 
internos não possuíam transtornos mentais. 
Segundo Franco Basaglia, psiquiatra italiano e reformulador do modelo de 
tratamento aplicado em instituições psiquiátricas, “se queremos combater a 
marginalidade e os desvios, devemos fazer na estrutura social e não como fenômeno 
isolado que se pretende passar como simples anomalias individuais, onde só uma 
porcentagem da população tem a desgraça de ser o alvo”. A influência de Basaglia foi 
importante para o nascer da Luta Antimanicomial no Brasil, que teve seus primeiros 
protestos realizados em 1970. O Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental 
(MTSM), através de variados campos de passa a protagonizar e a construir a partir 
deste período a denúncia da violência dos manicômios e da mercantilização da loucura. 
Paulo Delgado, sociólogo e deputado, foi o “porta-voz” desse grupo 
historicamente silenciado, que desde a época de estudante fora influenciado pelos ideais 
de Franco Basaglia. O deputado apresentou, em 1989, no Congresso Nacional, o 
Projeto de Lei 3.657, propondo a regulamentação dos direitos da pessoa com 
transtornos mentais e a extinção progressiva dos manicômios no país. De acordo com 
Delgado: 
A lei não desconhece a doença mental. Ela regula a forma de tratá-la. As 
insuficiências do tratamento não são da lei, mas da deficiênciana sua 
 
 
aplicação. A doença é uma coisa normal da vida. O que não é normal é não 
haver convivência pacífica com ela. O maior problema ainda é de aceitação da 
dificuldade do outro. A reforma psiquiátrica é, de certa forma, a abolição da 
escravidão do doente mental, seu fim como mercadoria de lucro dos hospitais 
fechados, da exploração do sofrimento humano com objetivos mercadológicos. 
 
Atualmente, o Brasil tem 15.532 leitos em hospitais psiquiátricos, além de 59 
Unidades de Acolhimento e 1.475 leitos SUS em hospitais gerais, de acordo com 
Ministério da Saúde. Essa população fica na invisibilidade e muitos ficam internados 
por décadas, sem perspectiva de saída para o convívio social. No início dos anos 2000, 
havia 50 mil leitos. Parafraseando, ainda, Arbex, agora, é preciso lembrar. Porque a 
história não pode ser esquecida. Porque o holocausto ainda não acabou. 
 
4. OBJETIVOS 
4.1 Gerais 
 Proporcionar uma analise a trajetória da historia da loucura, no âmbito da 
saúde mental, concomitantemente a analise ao crescente movimento 
antimanicomial, principalmente no Brasil. 
4.2 Específicos 
 Explicitar a luta pelas mudanças e suas transformações com o decorrer do 
tempo. 
 Reconhecimento da inadequação de tratamento dos ditos como loucos e suas 
mudanças em relação aos atos políticos. 
 Compreensão dos conceitos que tangem a saúde mental dentro e fora dos 
hospitais psiquiátricos. 
 Impacto na mudança de concepções em relação à Reforma psiquiatra e a 
importância da desospitalização. 
 
5. METODOLOGIA 
Trata-se de um estudo de caso qualitativo, elaborado no contexto da disciplina 
Fundamentos Históricos e Epistemológicos da Psicologia, ministrada como disciplina 
obrigatória do 1º período da faculdade Ciências Mêdicas de Minas Gerais (CMMG). 
 
 
 Assim, seis discentes realizaram essa atividade utilizando os dados obtidos 
através de uma pesquisa exploratória e qualitativa, de fontes primárias e secundárias, 
por meio de técnicas de coletas de dados, baseadas em estudos da revisão bibliográfica 
por meio de sites, artigos, documentários, filmes e livros, sendo alguns desses, 
sugeridos pelo professor. Tais práticas servem para descrever, analisar e conscientizar 
toda a população sobre a história da loucura, a necessidade latente da reforma 
psiquiátrica e a urgência de se ter uma luta antimanicomial devido aos métodos 
torturantes e cruciais no tratamento dos pacientes. 
 
6. DESENVOLVIMENTO 
6.1. A História da Loucura 
Em sua obra “A História da Loucura”, Michel Foucault compreende que o saber 
psicológico seria impensável desde o fim da Idade Média até a o período da 
Renascença. Desse modo, o autor afirma que a loucura seria uma expressividade do 
sujeito envolta em mistérios e inúmeras vezes associadas a forças místicas das 
contradições e tradições sociais que impediriam a objetivação de seus discursos, de 
acordo com parâmetros de uma medicina rudimentar vigente na época. Neste período, a 
loucura era tida como espelho da experiência da pequenez do homem medieval diante 
de um universo infinito, estando sempre em proximidade com a morte. É necessário 
ressaltar, também, que a humanidade, naquela época, vivia os riscos iminentes de 
guerras, pragas e fome. 
Entre o período medieval e renascentista havia uma forte expressão social no 
ocidente de exclusão de um grupo de sujeitos, os leprosos – eram tidos como aqueles 
que traziam consigo as mazelas do mundo. A partir do final da Idade Média e início do 
período neoclássico ou renascentista, no entanto, há uma drástica diminuição do número 
dos casos de lepra. A partir disso, a lepra e as mazelas que a ela eram atribuídas passam 
a desocupar o espaço de segregação social. É neste instante que a loucura assume esse 
papel e passa a ser a essência da segregação e do banimento. 
A experiência da loucura se contrapõe, progressivamente, com o humanismo do 
período Renascentista que traz consigo uma importante e crescente valorização da 
racionalidade, da ciência e da natureza. Nesse momento, surge uma loucura advinda da 
 
 
razão, submetendo uma reflexão crítica que confrontava suas alegorias metafísicas e 
transcendentais. "A loucura nasce no coração dos homens e organiza – na medida em 
que ele - desorganiza sua conduta" (FOUCAULT, 1961). A partir dessa definição, a 
loucura é abordada por outros autores como a imanência da razão, sendo assim, a 
representação do castigo do homem que erra e, assim, se expõe aos efeitos da inverdade 
delirante de seus próprios atos. Este discurso possibilita o surgimento da experiência 
clássica da loucura. 
A partir do século XVII, no decorrer do chamado Classicismo, se iniciam as 
práticas de internamento do indivíduo considerado fora dos padrões sociais, como 
dispositivo de poder e exclusão. Os internamentos poderiam ser realizados de diversas 
formas – alguns exemplos seriam via cartas régias, encaminhamentos policiais, curas 
paroquiais e pedidos familiares. É necessário ressaltar que esta ferramenta era utilizada 
em demasia e compreendia uma parcela população totalmente heterogênea, visto que se 
estima que apenas 10% dos internos possuíam alguma insanidade. Assim, eram 
internados, também, pobres, criminosos, ateus, mulheres viúvas, alquimistas e 
blasfemadores (SILVEIRA, Fernando de Almeida; SIMANKE, Richard Theisen). 
Assim, Foucault considera o Classicismo como período inicial para uma nova 
percepção da loucura como risco para a sociedade, sendo referida como 
“desorganização da família, desordem social e perigo para o Estado” (FOUCAULT, 
1961). Neste âmbito, o internamento é considerado castigo para a purificação da alma e 
cura do corpo: nele, a loucura está associada à noção de desatino, visto que a razão 
antecede a loucura. 
 
6.2. A Luta Antimanicomial 
A priori, vale destacar que o estopim para que houvesse uma luta contra o 
tratamento dentro e fora das instituições psiquiátricas, no Brasil, foi a maneira 
brutalmente desumana que os ditos “loucos” eram tratados e submetidos nos hospitais 
psiquiátricos, sobretudo, a chacina que ocorreu em Barbacena, MG, no Hospital 
Colônia. No fim da década de 70, surgiram alguns movimentos de trabalhadores da área 
da saúde mental juntamente com familiares e amigos dos pacientes, que colocaram, 
portanto, em evidência a necessidade de uma reforma psiquiátrica no Brasil. Os 
movimentos propulsores da hoje conhecida nacionalmente como Luta Antimanicomial 
 
 
foram denominados Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM) e 
Movimento Sanitário. 
O movimento antimanicomial consiste pela luta por direitos das pessoas com 
sofrimento mental, pois, assim como qualquer cidadão, elas têm o direito à liberdade, o 
direito a viver em sociedade sem que haja exclusão, além do direito a receber cuidado, 
atenção e um tratamento humano. No entanto, o movimento questiona o modelo de 
tratamento nos hospitais psiquiátricos, uma vez que ali violam veementemente o direito 
básico à vida humana. Sendo assim, o movimento propõe a reformulação do modelo de 
atendimento da saúde mental no Brasil, buscando a garantia da cidadania dos pacientes 
e familiares, sem que haja sofrimento para todos. 
Não obstante, comemora-se o dia da Luta em 18 de Maio; pois, nesta data, no 
ano de 1987, foi realizado um encontro de grupos favoráveis a politicas 
antimanicomiais, surgindo, portanto, a proposta de reconstruir o sistema psiquiátrico 
brasileiro. Com o lema“Por uma sociedade Sem manicômio”, luta-se pela pluralidade 
de tratamentos para com as pessoas em sofrimento psíquico grave, sem que haja tortura, 
agressão e exclusão. Além de ser um ato de resistência em memória daqueles que foram 
cruelmente torturados, silenciados e assassinados. Desse modo, o Movimento de Luta 
Antimanicomial constitui-se em um diálogo de conscientização com as instituições 
legais e com os cidadãos. 
 
6.3. Hospital Colônia em Barbacena: Holocausto Brasileiro 
 
No Brasil, a luta ganhou mais visibilidade, destaque e urgência depois do 
ocorrido em um dos maiores hospícios do país, o Hospital Colônia, situado em 
Barbacena, MG, cidade essa com outras seis instituições psiquiátricas. Denominado 
“Holocausto Brasileiro” por Daniela Arbex, o episódio brasileiro ganhou destaque após 
as 60 mil mortes por situações desumanas diversas, a título de exemplo, por tortura, 
fome, frio, sede, etc - estima-se que mais de mil cadáveres foram vendidos ilegalmente 
para universidades mineiras. O Hospital Colônia foi inaugurado em 1903 e era mantido 
pelo governo mineiro com auxílio da Igreja Católica. Antes de se tornar um lugar de 
chacina humana, o Hospital era destinado ao tratamento de pacientes tuberculosos. 
 
 
Com o passar dos anos, em 1930, o Hospital Colônia tornou-se uma instituição 
de natureza pública, sendo oficialmente um hospício. E foi ali que ocorreu o assassinato 
em massa de cerca de 60 mil pessoas, visto que aquela instituição servia como um 
depósito de humanos renegados e indesejados pela sociedade, com o fito de se ter uma 
sociedade padrão e normal, uma vez que desabrigados, alcoólatras, prostitutas, inimigos 
políticos, homossexuais, pessoas negras, loucos, portadores de doenças físicas, jovens, 
crianças e até mesmo órfãos eram encaminhados para a Colônia. Vale ressaltar, 
também, que grande parte daqueles que ali viviam, eram de etnia negra. 
O dia a dia no Hospital configurava-se como crime à humanidade, não só pelo 
tratamento obsoleto, torturante e genocida, mas como também a superlotação, uma vez 
que o hospital tinha capacidade para receber até 200 pessoas, mas chegou a ter 5 mil, 
reafirmando, assim, a ideia da limpeza social, pois o Colônia não tratava apenas pessoas 
da cidade, mas também, de muitas outras pessoas que vinham de fora, desembarcando de 
trem. Frente a isso, dormiam amontoados uns aos outros para se aquecerem em razão de 
suas camas terem sido trocadas por capins, e, muitas vezes, os que ficavam na parte de 
baixo eram sufocados. 
Geraldo Magela Franco, funcionário aposentado do hospital, trabalhou por vinte 
e nove anos e relata que o tratamento de choque e o uso de medicações nem sempre 
tinham finalidades terapêuticas, mas sim de contenção e intimidação. Afirma também 
que: “Não havia prescrição, a gente aprendia na prática sobre o que fazer, quando 
ocorria qualquer perturbação. No caso dos remédios, a gente dava quando o doente 
apresentava algum tipo de alteração. Em situação de epilepsia, aplicávamos uma 
injeção. Se o cara, às vezes, se exaltava, ficava bravo, a gente dava uma injeção para ele 
se acalmar”. 
Em 1979, os primeiros passos para a Reforma Psiquiátrica foram impulsionados 
pelo psiquiatra italiano Franco Basaglia, o mesmo que estabeleceu a abolição dos 
hospitais psiquiátricos na Itália, com a aprovação da lei nº180 de 1978, também 
conhecida como Lei Basaglia. Franco compareceu ao Hospital Colônia e chegou a 
comparar o local a um campo de concentração nazista e afirmou: “Em lugar nenhum do 
mundo, presenciei uma tragédia como esta”, exigindo seu fechamento imediato frente às 
condições malevolentes e cruéis que as pessoas ali se encontravam. No entanto, foi 
apenas na década de 1980 que a história do Hospital Colônia teve fim, encerrando de 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Psiquiatra
https://pt.wikipedia.org/wiki/It%C3%A1lia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Franco_Basaglia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Campo_de_concentra%C3%A7%C3%A3o
https://pt.wikipedia.org/wiki/Nazista
 
 
vez as atividades. Por fim, em 1996, o hospital foi aberto como o Museu da Loucura, 
em memória daqueles que foram exterminados brutalmente na Colônia Barbacena. 
 
6.4. Nise da Silveira: pioneira no processo de humanização da psiquiatria 
 Nise da Silveira, grande expoente do Movimento e psiquiatra alagoana, foi uma 
das maiores responsáveis pela revolução do tratamento da loucura no Brasil. Nise era 
contra as violências praticadas dentro dos hospitais psiquiátricos e, através da terapia 
ocupacional - cuja foi pioneira no Brasil -, ela viabilizou uma intervenção mais 
humanitária. Além dos feitios em manicômios brasileiros, Nise já havia deixado sua 
marca na Faculdade de Medicina da Bahia, onde era a única mulher em uma turma de 
158 alunos. Em 1940, Nise iniciou seu trabalho no Centro Psiquiátrico Nacional - 
atualmente, Centro Psiquiátrico Pedro II. 
A cientificidade da psiquiatria vigente da década de 195 alegava maior 
efetividade terapêutica através dos métodos psicocirúrgicos, como a lobotomia, e o uso 
de eletrochoque. Essas intervenções, entretanto, não eram feitas apenas de forma 
terapêutica como, também, por meio de punições quando os pacientes causavam 
confusões. Nise se contrapunha duramente a estas práticas. 
Os pacientes submetidos a esses procedimentos tiveram como consequência 
diminuição ou regressão do estado mental, alteração de personalidade, imprevisibilidade 
das reações, regressão geral e uma alta taxa de morbidade e mortalidade. A perda da 
capacidade de realizar necessidades básicas é outra consequência recorrente a esses 
excessos. A lobotomia transforma uma desordem funcional em uma doença orgânica 
irreversível, de acordo com o psicólogo Walter Melo. 
Nise promoveu uma intervenção mais humanitária indo contra as práticas 
violentas e negligentes dos demais. Através da terapia ocupacional, cargo o qual a 
psiquiatra foi designada, Nise foi responsável por criar um ambiente acolhedor para os 
seus clientes, como denominava seus pacientes, por meio do uso da arte, como pinturas 
e esculturas. Neste local a represália é proibida, a liberdade é dada a eles para 
produzirem sua arte. Ao invés dos funcionários darem ordens, estes praticam a escuta. 
 A psiquiatra alagoana, além de ter sido pioneira na área de terapia ocupacional 
em manicômios, também foi pioneira na implantação da zooterapia em esquizofrênicos. 
 
 
Ela também realizou estudos de mandalas, influenciada por Carl Gustav Jung, ao 
identificar um padrão de imagens circulares nos trabalhos dos clientes do ateliê. Nise da 
Silveira contribuiu de forma grandiosa para a Reforma Psiquiátrica e, ainda hoje, é 
prestigiada por seus feitos. 
 
6.5. Reforma Psiquiátrica no Brasil 
No Brasil, o processo da reforma psiquiátrica surgiu no final da década de 1970, 
sob a influência do movimento da reforma psiquiátrica iniciado na Itália, pelo psiquiatra 
Franco Basaglia, anos antes e inserido no contexto da época em que se demonstrava a 
crise do modelo de cuidados, centrado no hospital psiquiátrico. Verificava, portanto, a 
eclosão do surgimento dos movimentos sociais que lutavam pelos direitos das pessoas 
com transtornos mentais. Além disso, as denúncias de maus tratos, torturas e baixa 
assistência, os quais ocorriam nos hospitais psiquiátricos brasileiros e que eram 
negligenciadas pelo Estado, levaram à mobilização de vários profissionais e, 
consequentemente, ao Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM). 
A partir deste período, as principais reivindicações nos projetos de reforma 
incluíamdesde modificações para readequar o saber psiquiátrico até reformas de cunho 
mais amplo que defendiam a desconstrução deste saber. Ademais, vale ressaltar as 
propostas de reformas que visam à ‘humanização’ da estrutura hospitalar, da vida dos 
internos propostas que indicam a necessidade de desconstruir o paradigma psiquiátrico -
torturante- segundo perspectivas que as alforriem do secular aparato médico hospitalar. 
No Brasil, o processo para essa reforma ficou marcado por dois períodos: o 
primeiro se deu através da crítica ao modelo hospitalocêntrico (1978-1991) e, o segundo 
momento, se deu pela implantação das redes extra- hospitalares (1992-2000). Sendo 
assim, em primeiro instante, os movimentos eram marcados pela denúncia de maus 
tratos e a crítica aos os serviços prestados aos doentes psíquicos graves. Ainda na 
primeira fase, no ano de 1989, foi dada estrada no projeto de lei do Deputado Paulo 
Delgado, objetivando a regulamentação dos direitos dos pacientes portadores de 
transtorno mentais e também a extinção dos manicômios de forma progressiva no país. 
Em segundo instante, no ano de 1992, começaram a surgir as primeiras 
consequências positivas do projeto de lei de Paulo Delgado, a aprovação em vários 
 
 
estados, por exemplo, e, também à implantação das primeiras leis que determinavam a 
substituição progressiva dos leitos psiquiátricos. Logo depois, surgiram movimentos 
que contribuíram para execução das primeiras normas federais que visam regulamentar 
a implantação dos serviços de atenção diária e o surgimento das primeiras fiscalizações 
e classificações dos hospitais psiquiátricos. 
Além disso, foi neste período que, com influências internacionais de 
desinstitucionalização, criou-se a CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), a qual tem 
como objetivo oferecer aos seus usuários um tratamento que alinhe o acompanhamento 
clínico e os cuidados de reintegração social, focando na reconstrução da singularidade e 
da autonomia dos mesmos. No entanto, isso é um dos principais desafios da Reforma 
Psiquiátrica, haja vista a exclusão social ter sido um agravante no que tange à saúde 
mental. Frente a Reforma, então, tornou-se o trabalho psiquiátrico por meios 
alternativos, sem agressões, visando à autonomia do ser. 
Nos dias atuais, apesar de todos os avanços alcançados nos tratamentos 
psiquiátricos por meio da luta Antimanicomial, ainda há muito que se fazer no que 
tange melhorias ao se tratar da saúde mental. Em consequência da exclusão social 
sofrida pelos taxados “loucos” que saiam do manicômio, o tratamento psiquiátrico ainda 
sofre uma repressão e é tratado como tabu diante a sociedade. Além disso, medidas 
como a lei sancionada em 2019, a qual permite a internação compulsória de 
dependentes químicos sem autorização judicial coloca novamente em questão os 
direitos do indivíduo, urgindo, então, a importância da reafirmação de um compromisso 
por essa luta. 
 
7. CONCLUSÃO 
Este trabalho possibilitou a compreensão sobre o percurso da história da loucura, 
principalmente no Brasil. Sendo presente a cultura manicomial, a violência, o 
preconceito na visão dos ditos como loucos e desprezo em relação a esses, mas apesar 
disso tudo também é possível encontrar resistência. 
Na realização do trabalho, embora possuir toda trajetória marcante oque mais 
chamou atenção, foram às condições que os doentes mentais eram colocados e expostos, 
tendo como exemplo, os tratamentos como forma de métodos efetivos, como o 
 
 
eletrochoque ou a lobotomia. Tratamentos com a finalidade de modificar ou curar os 
comportamentos dos indivíduos com as doenças mentais. Sendo atualmente evidente, o 
quão era invasivo e danoso para todos que eram expostos a essas intervenções por se 
tratar de operações que desligavam os lobos frontais direito e esquerdo de todo o 
encéfalo. Os pacientes não conseguiam ter voz, por além de sofrerem o preconceito 
social, muitas vezes também a própria família criminalizava a doença pela falta de 
conhecimento. 
Em resumo, evidencia-se a importância da marcante Luta Antimanicomial, 
sendo fundamental para o legado do direito fundamental à liberdade que todo cidadão 
deve ter, sem excluir os doentes mentais do seu lugar como cidadãos, recebendo um 
tratamento efetivo e cuidado necessário para o auxilio e melhora no convívio social 
destes. 
Desse modo, o presente trabalho tem como objetivo mostrar como a luta 
repercutiu como forma de resistência e assim revolucionou os percursos da psicologia 
brasileira no campo da saúde mental, influenciando a forma de estudar não só o 
individuo, mas também, a loucura e a diferenciação para o sofrimento psíquico. 
Por último, evidencia-se a importância do auxilio médico para o diagnóstico 
clínico, com o acompanhamento psicológico, tendo como finalidade acompanhar o 
paciente durante o processo de tratamento efetivo e a reintegração social deles, pois uma 
sociedade sem manicômios fornece respeito, aceitação e acolhimento, ao invés da 
exclusão social. Por isso, políticas públicas voltadas para a saúde mental, são 
imprescindíveis para que os tratamentos funcionem de maneira eficaz. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Analisando a situação de pandemia que nos encontramos atualmente, uma boa 
alternativa para lidar com o isolamento social e a ansiedade presente nesse momento é 
assistir filmes. É notável pensar na importância do cinema na atual situação em relação 
à pandemia e também no atual momento crítico político que estamos enfrentando. Em 
momentos assim, a arte é o primeiro alvo daqueles que tentam sufocar a liberdade. O 
cinema nos influencia e afeta de diversas formas, por conciliar várias artes, filosofias e 
estudos. Reunimos algumas sugestões de filmes e documentos que retratam a temática 
 
 
da Luta Antimanicomial, tais como “Nise: O Coração da Loucura”, “Bicho de Sete 
Cabeças”, “Um Estranho no Ninho”, “Uma Mente Brilhante”, “Holocausto Brasileiro”, 
“A Loucura Está Entre Nós” e “Epidemia de Cores”. 
A cultura manicomial e a violência estão presentes em todos estes filmes e 
documentários, corroborando como a Luta Antimanicomial foi e ainda é de extrema 
importância. Ao concluirmos este trabalho, é possível afirmar que quanto mais pessoas 
conhecerem e puderem fazer parte, mais potente e resistente ela se tornará. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
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BORGES, Francisca Maria Oliveira. O Nascer da Reforma 
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https://psicologado.com.br/
https://psicologado.com.br/psicopatologia/psiquiatria/o-nascer-da-reforma-psiquiatrica
https://psicologado.com.br/psicopatologia/psiquiatria/o-nascer-da-reforma-psiquiatrica
 
 
QUESTÕES PROPOSTAS PELO GRUPO: 
1. O processo de reforma psiquiátrica no Brasil ocorreu em 1970, exercendo uma 
importante atuação na assistência à saúde mental concedida ao individuo em sofrimento 
psíquico. Discorra por que sua transformação aconteceu e quais foram seus principais 
avanços. 
2. Cite qual foi à contribuição da Psicanálise em relação aos estudos dos distúrbios 
comportamentais e sua importância no percurso da psicologia brasileira no campo da 
saúde mental. 
3. Com o surgimento do Renascimento, surge também a prática de exclusão daqueles 
que não pertencem ao meio social – os denominados loucos. No entanto, tal prática 
persiste e ainda é realizada, atualmente, em território brasileiro. Discorra sobre o papel 
do psicólogo na desconstrução deste mecanismo e os seus principais desafios.

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