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JOÃO CARLOS BARRETO Professor autor/conteudista É vedada, terminantemente, a cópia do material didático sob qualquer forma, o seu fornecimento para fotocópia ou gravação, para alunos ou terceiros, bem como o seu fornecimento para divulgação em locais públicos, telessalas ou qualquer outra forma de divulgação pública, sob pena de responsabilização civil e criminal. SUMÁRIO Unidade 1 – Modelos e metodologia de decisão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 1 . Apoio à decisão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 1.1 Modelos tradicionais de apoio à decisão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7 1.2 Metodologias multicritério de apoio à decisão (MCDA construtivista). . . . . . . . . .16 1.2.1 Estruturação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 1.2.2 Limites geográficos e temporais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 1.2.3 Histórico do processo de decisão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 1.2.4 Construção do mapa cognitivo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 Objetivos e valores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 Especificar valores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 2.1 Identificar objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 2.2 Estruturar objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 2.3 Especificar atributos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35 Alternativas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 3 . Avaliar alternativas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 3.1 Avaliação das ações potenciais – fórmula de agregação aditiva . . . . . . . . . . . . . .42 Recomendações e desempenho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 4 . Recomendações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 5 . Análise de desempenho: produção de veículos que contribuam no transporte urbano de cargas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 5.1 Tipo de situação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 5.2 Limites geográficos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 5.3 Prazos do projeto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 5.4 Atores envolvidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 5.5 Histórico do processo de decisão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 5.6 Construção do mapa cognitivo para uma situação de transporte . . . . . . . . . . . . 63 5.7 Análise do mapa cognitivo para uma situação de transporte . . . . . . . . . . . . . . . . 73 5.8 Avaliação das alternativas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84 5.9 Recomendações das alternativas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 Glossário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 Pág. 4 de 92 UNIDADE 1 – MODELOS E METODOLOGIA DE DECISÃO INTRODUÇÃO Ao longo da vida, em diversos momentos se faz necessário tomar decisões. Essas decisões podem ser simples ou complexas, mas todas buscam um objetivo. Não há certeza de que a decisão tomada é a mais acertada, entretanto, a partir dela, são geradas as consequências. No aspecto pessoal, as decisões podem estar centradas em: • onde morar; • que carreira seguir; • que emprego escolher; • para onde viajar; • em que investir etc. No aspecto empresarial, as decisões podem estar centradas em: • qual mercado atingir; • quais fornecedores escolher; • que estratégia adotar; • quais clientes atender etc. De uma forma ou de outra, todas essas decisões são complexas e requerem cuidados para evitar futuros arrependimentos. Quantas pessoas trocaram de emprego e depois perceberam que o emprego novo era inferior ao anterior? Quantas empresas investiram em um novo produto e esse produto não teve o retorno esperado? Quantas pessoas decidiram viajar para um destino e tiveram decepções? Enfim, toda tomada de decisão passa por uma série de fatores que não se controla, ou seja, pode ou não atingir a expectativa do decisor. A tomada de decisão também pode envolver outros fatores, conforme Churchill (1990, apud ENSSLIN; MONTIBELLER; NORONHA, 2001): • envolvem incertezas sobre o caminho a seguir, que envolvem alternativas a seguir e que têm grupos envolvidos; • há conflitos entre os diversos grupos que podem conter em um determinado problema; Pág. 5 de 92 • existem diferentes relações de poder na tomada de decisão, que podem comprometer o resultado final; • há uma grande quantidade de informações, sejam elas quantitativas ou qualitativas que são importantes no processo decisório; • apesar de serem em grande quantidade, as informações tendem a ser incompletas; e • exigem soluções criativas e inéditas. Assim, por mais que as características sejam similares, as decisões mais complexas são únicas, ou seja, se modificam dependendo de quem as busca. Por mais que a troca de emprego seja algo comum no mercado, a tomada de decisão de uma pessoa é diferente de outra pessoa, pois o resultado é percebido de forma distinta. Um dos métodos que contribuem para a tomada de decisão trata de modelos quantitativos. Esses modelos, a partir de uma perspectiva numérica, traduzem em melhor opção aquela que gerar redução de custo, aumento de receita etc., entretanto, não observam aspectos qualitativos. Se após os anos 1950 a abordagem quantitativa passou a ser mais utilizada pelas empresas, destacando nesse cenário a pesquisa operacional, a partir da década de 1980 a abordagem qualitativa destaca-se pelo crescimento do interesse em sua abordagem. Os aspectos qualitativos estão diretamente relacionados com fatores ambientais, sociais, organizacionais etc. Assim, este material busca por meio dos fatores quantitativos e qualitativos a tomada de decisão. Para isso, utilizaa metodologia multicritério de apoio à decisão (MCDA construtivista). O objetivo é que ao final desta disciplina seja possível recomendar, a partir dos resultados gerados, a alternativa que melhor atenda as expectativas dos atores envolvidos em determinado problema ou oportunidade. Por citar oportunidade, pressupõe-se que essa metodologia não parte de um problema já existente, como a maioria das técnicas existentes no mercado, e que não há pretensão de se achar a solução ótima, mas aquela que mais conseguiu corresponder às expectativas dos atores. Para facilitar a compreensão, vamos discutir os seguintes aspectos: Pág. 6 de 92 1. Apoio à decisão. 2. Metodologias multicritério. 3. Identificação do contexto decisório. 4. Construção do mapa cognitivo. 5. Análise de mapas cognitivos. 6. Pontos de vista fundamentais. 7. Descritores ou atributos. 8. Funções de valor. 9. Taxas de substituição. 10. Avaliação das ações. 11. Aplicações práticas. 1. APOIO À DECISÃO Em uma necessidade gerada por uma empresa, é possível utilizar duas abordagens: A) para apoio à decisão, as metodologias multicritério de apoio à decisão; e B) para tomada de decisão, as metodologias de pesquisa operacional disponíveis no mercado. Seja por um modelo ou pelo outro, há de se avaliar quais são os problemas existentes, quais as possíveis oportunidades percebidas, quais métodos podem ser utilizados e qual objetivo desejado. Assim, gera-se a necessidade de escolher um paradigma científico. Paradigma científico, segundo Kuhn (1996 apud ENSSLIN; MONTIBELLER; NORONHA, 2001, p. 16): Serve para definir como legítimos os problemas e métodos de uma determinada área de pesquisa. Os praticantes de uma área de pesquisa são guiados pelo paradigma quanto atuam como cientistas/consultores. Um paradigma definirá tantos os problemas considerados como pertinentes à resolução pelos praticantes, quanto as teorias e modelos julgados como válidos para atacar aqueles problemas. Os pesquisadores empenhados em resolver problemas e/ou criar novas teorias e modelos estão engajados em fazer ciência normal. Já aqueles pesquisadores envolvidos em questionar o paradigma vigente e propor um novo paradigma estão envolvidos na ciência extraordinária. Os mesmos autores propõem ainda uma analogia ao jogo de xadrez para melhor entender as questões do paradigma. O paradigma seria as regras do jogo: os movimentos permitidos às peças, o número de jogadas, a ordem das jogadas (alternadas entre jogadores), o que é considerado como vitória (cheque mate etc). Pág. 7 de 92 A ciência normal, nesse caso, estaria relacionada em descobrir formas de ganhar o jogo (resolver o problema), guiada por teorias e modelos que buscam tal objetivo. Ela está sujeita a seguir as normas do jogo (o paradigma). Portanto, as teorias e modelos podem lidar somente com as regras permitidas pelo paradigma. A ciência extraordinária nesse exemplo estaria ligada àqueles que querem propor novas regras ao jogo de xadrez, visando resolver problemas intrínsecos ao paradigma. Por exemplo, um dos problemas das normas do jogo é o tempo levado para que um jogador vença. Diante disso, uma modificação do paradigma foi a inclusão de um tempo determinado (ENSSLIN; MONTIBELLER; NORONHA, 2001, p. 16) . Na medida em que existem críticas ao modelo tradicional, as regras devem ser explicadas ressaltando as diferenças em relação ao novo paradigma proposto. Essas comparações são necessárias para identificar qual opção pode apresentar mais vantagens para uma situação determinada: manter-se com as regras atuais ou alterá-las para as novas regras propostas? Dessa forma, a decisão é tomada com o intuito de fazer ou não algo, não sendo possível expressar qual é o melhor, apenas sugerir a adoção de uma das alternativas. Os atores têm participação decisiva nessa decisão. Os atores são pessoas, um grupo de pessoas ou empresas que fazem parte do contexto decisório. Por serem distintos, podem ter expectativas diferentes entre si. Esses atores são definidos pela sua atuação diante do problema apresentado e possuem importância diferenciada. A decisão então passa por diversas etapas e pela análise de diversos atores, gerando conflitos ao longo do processo. 1.1 Modelos tradicionais de apoio à decisão A tomada de decisão por métodos quantitativos é comum no mercado. Essas variáveis utilizam restrições de capacidade e custos para sugerir a melhor opção para resolver determinado problema. A tabela 1 apresenta um modelo típico de tomada de decisão baseado em pesquisa operacional. Pág. 8 de 92 Tabela 1 – Tomada de decisão CLIENTE 1 CLIENTE 2 CLIENTE 3 Total (pçs) Necessidade por cliente (pçs) 45 50 85 180 Custos de envio – Fábrica A (pç) R$ 5,00 R$ 3,00 R$ 9,00 Custos de envio – Fábrica B (pç) R$ 6,00 R$ 5,00 R$ 7,00 Multa por não entregar (pç) R$ 9,00 R$ 7,00 R$ 8,00 Estoque disponível Fábrica A 67 Fábrica B 55 Total 122 Fonte: elaborado pelo autor. Na situação apresentada na tabela 1, a empresa X precisa entregar os produtos para três clientes distintos. Os clientes têm necessidades diferentes, entretanto, têm interesse no mesmo produto. A soma total dos pedidos é de 180 peças e a empresa X possui em seu estoque disponível 122 peças. Se a empresa adota como premissa a redução de seus custos, qual a quantidade a ser enviada para cada cliente? Nesse caso, trata-se de pesquisa operacional por conter as seguintes características: • Objetivo: redução de custo. • Restrição 1: estoque disponível nas fábricas menor que a necessidade dos clientes. • Restrição 2: necessidade dos clientes limitada. • Custo 1: para saída de cada fábrica, um custo diferente para cada cliente. • Custo 2: multa em caso de não atendimento. Apesar de conter um objetivo, apenas se observa a necessidade de redução de custo. Assim, sob esse ponto de vista, a tomada de decisão apresentará a solução ótima, ou seja, aquela que apresenta a distribuição de peças aos clientes que reduzirá o custo total da empresa. Pág. 9 de 92 Outro exemplo muito comum dentro das empresas é a definição da compra de produtos de terceiros (horizontalização) ou fabricação interna (verticalização). No mercado atual, as empresas precisam definir suas estratégias e cada uma dessas opções apresenta vantagens e desvantagens. São elas: 1. Horizontalização: comprar de terceiros o máximo de itens possível pode significar: a) atenção ao core business (negócio principal) da empresa; b) uso do conhecimento do fornecedor sobre o negócio; e c) possível redução de custo com estrutura e infraestrutura de fábrica para produção interna. 2. Verticalização: fabricar os itens internamente pode significar: a) possível maior lucro, pois pode vender a expertise para outras empresas; b) domínio sobre a tecnologia própria, garantindo assim maior possibilidade de avanço no desenvolvimento de produtos; e c) independência de terceiros, o que pode representar solidez em momentos de alta volatilidade. A decisão de qual modelo de negócio utilizar passa pela análise dos fatores citados e, como consequência, dos custos envolvidos. Nesse sentido, a empresa deve avaliar seu custo fixo e seu custo variável, tomando assim a melhor decisão. Para isso, apresenta-se o seguinte raciocínio matemático: CUSTO TOTAL: CF + (Cv × D) Onde: CF = Custo fixo, todos os recursos pagos que auxiliam na operacionalização de um processo. Cv = Custo variável, ou seja, somente há custo caso haja produção. D = Demanda, ou seja, a necessidade projetada durante um período. Pág. 10 de 92 Essa tomada de decisão pode ser percebida no exemplo a seguir: Uma empresa precisa definir sua estratégia de negócio e depois de várias análises, entende que o custo deveria ser o diferencial na difícil decisão de fabricar ou comprar de terceiros. Assim, relacionou seus custos de negócio: Situação 1: Fabricar internamente com uma máquina antiga Demanda prevista: 200 mil produtos Custo variável: R$14,80 por produtoCusto fixo: R$ 235.000,00 Situação 2: Fabricar internamente com uma máquina nova Demanda prevista: 200 mil produtos Custo variável: R$11,80 por produto Custo fixo: R$ 135.000,00 Situação 3: Comprar de terceiros Demanda prevista: 200 mil produtos Custo variável: R$19,80 por produto Custo fixo: R$ 0 Considerando os três cenários apresentados, o resultado gerado é: Situação 1: 235.000 + (14,80 × 200.000) = R$3.195.000 Situação 2: 135.000 + (15,35 × 200.000) = R$3.205.000 Situação 3: 0 + (19,80 × 200.000) = R$3.960.000 Nas três situações apresentadas, a empresa busca o entendimento da melhor opção para o seu negócio, ou seja, reduzir seu custo ao máximo. Nesse sentido, manter-se com a máquina antiga ainda é a melhor opção. Sabendo-se que os problemas de pesquisa operacional são usualmente utilizados na forma de função objetivo (minimizar custo, por exemplo) e restrições (matéria prima, mão de obra etc.), exemplificados anteriormente, as restrições são o ponto central e a utilização de variáveis que envolvem uma solução e formam uma região, caracterizando-se assim o método simplex. Pág. 11 de 92 Esses problemas de pesquisa operacional envolvem programação linear e não linear. O método simplex resolve problemas de programação linear. Um problema qualquer de programação linear é um problema de otimização (isto é, busca pela melhor dentre várias situações, utilizando um critério preestabelecido de otimalidade), com as seguintes características (BRONSON; NAADIMUTHU, 1997): • O problema possui um conjunto de variáveis manipuláveis no procedimento de busca pelo ótimo; essas são as variáveis de decisão do problema. • Uma função objetivo compõe o critério de otimalidade, sendo escrita em termos das variáveis de decisão do problema. A função objetivo é uma função linear das variáveis de decisão, devendo ser maximizada ou minimizada. • Os valores assumidos pelas variáveis de decisão devem satisfazer um conjunto de restrições, que compõem a região de soluções viáveis do problema. • As variáveis de decisão podem assumir valores preestabelecidos no domínio dos números reais (isto é, valores positivos, negativos ou ambos). A construção de um modelo de programação linear segue três passos básicos (RAVINDRAN; PHILLIPS; SOLBERG, 1987): Passo I . Identificar as variáveis não conhecidas que serão determinadas para decisão (por exemplo, x e y ou x1 e x2); Passo II . Selecionar as restrições do problema, considerando igualdade, maior ou menor em relação às variações anteriores; e Passo III . Identificar o objetivo central do problema em questão, considerando as variáveis de decisão. Nessa situação, o objetivo central pode ser do tipo maximizar lucro ou minimizar custos, por exemplo. Esse cenário pode ser assim exemplificado: Uma renomada empresa na fabricação de calças e camisetas destacou suas informações de negócio: a) Cada calça é vendida por R$ 27,00 e tem como custo R$ 24,00 (R$ 10 de matéria-prima e R$ 14,00 de mão de obra). São consideradas 2 horas para acabamento e 1 hora de costura para a produção de 1 calça. Pág. 12 de 92 b) Cada camiseta é vendida por R$ 21,00 e tem como custo R$ 19,00 (R$ 9,00 de matéria- prima e R$ 10,00 de mão de obra). Considera-se 1 hora para acabamento e 1 hora de costura para a produção de 1 camiseta. Considerando que não há problema no fornecimento de matéria-prima para a empresa, entretanto, há capacidade máxima de 100 horas de acabamento e 80 horas de costura. Sabe-se ainda que a demanda de camisetas é ilimitada e no máximo são vendidas 40 calças por semana. A empresa necessita maximizar seus ganhos semanais, definindo qual a quantidade a ser produzida de calças e camisetas que maximiza seu ganho. Dessa forma, é necessário: 1. Definir as variáveis de decisão (decisões a serem tomadas) x1: número de calças produzidas por semana x2: número de camisetas produzidas por semana 2. Definir a função objetivo (maximizar o ganho – função objetivo) a) Ganho semanal: venda de calças + venda de camisetas (R$/calças)×(calças/semana) + (R$/camisetas) × (camisetas/semama) = 27x1 + 21 x2 b) Custo semanal: Matéria-prima: 10x1 + 9 x2 Mão de obra: 14 x1 + 10 x2 3. Apresentação dos resultados Função: (27 x1 + 21 x1) – (10 x1 + 9 x2) – (14 x1 + 10 x2) = 3 x1 + 2 x2 Considerando a variável z para designar o valor assumido pela função objetivo: Max z = 3 x1 + 2 x2 Os números 3 e 2 representam o coeficiente da função objetivo. Eles são a contribuição de cada variável nos ganhos da empresa. Pág. 13 de 92 4. Definição das restrições 1. 100 horas acabamento/semana 2. 80 horas costura/semana 3. Produção máxima de 40 calças 5. Apresentação das restrições Restrição 1: (h-acabamento/calças) × (calças-produzidas/sem) + (h-acabamento/camisetas) × (camisetas-produzidas/sem) Total de horas/acabamento por semana: 2(x1) + 1(x2) = 2x1 + x2 Logo, considera-se na restrição 1: 2x1 + x2 ≤ 100 Restrição 2: (h-costuras/calças) × (calças-produzidas/sem) + (h-costuras/camisetas) × (camisetas- produzidas/sem) Total de horas/costuras por semana: 1(x1) + 1(x2) = x1+x2 Logo, considera-se na restrição 1: x1+x2 ≤ 80 Restrição 3: a limitação está na produção de calças (pela demanda): x1 ≤ 40 6. Restrição de sinais No exemplo, são de três tipos: ≤ 0 ; ≥ 0 7. Formulação matemática Max z = 3x1 + 2x2 Considerando: 2x1+ x2 ≤ 100 -> restrição de horas de acabamento x1 + x2 ≤ 80 -> restrição de horas de costura x1 ≤ 40 -> restrição de demanda x1, x2 > 0 -> restrição de demanda Pág. 14 de 92 8. Representação gráfica Figura 1 – Representação gráfica de uma situação problema para tomada de decisão Restrição de demanda calça x2 100 80 60 40 x1 20 20 40 60 80 100 z = 3(20) + 2(60) = 180 Restrição de acabamento Restrição de costura Ponto ótimo Fonte: elaborado pelo autor. 9. Entendimento Considerando o gráfico, afirma-se: a) Para a empresa maximizar seus ganhos semanais, deve vender 20 calças e 60 camisetas, faturando: i. Receitas Calças: 20 × R$ 27 = R$ 540 Camisetas: 60 × R$ 21 = R$1.260 Total faturamento/semana = R$ 1.800 ii. Custos: Calças: 20 × R$ 24 = R$ 480 Camisetas: 60 × R$ 19 = R$ 1.140 Total custos/semana = R$ 1.620 Pág. 15 de 92 iii. Resultado: Lucro: (Receitas – Custos) (R$ 1.800 – R$ 1620) = R$ 180 Por outro lado, a tomada de decisão também passa por métodos qualitativos. Um desses métodos é a técnica Delphi. A técnica Delphi, segundo Wanke e Julianelli (2006), é a busca pela estruturação da comunicação grupal, gerando um conjunto de informações e, a partir disso, a criação de um consenso entre diferentes especialistas a respeito de algum assunto. De uma forma geral, a técnica Delphi entende que a opinião coletiva é mais importante que a opinião individual, gerando assim melhores resultados. O objetivo é agrupar o conhecimento e a experiência dos diversos especialistas com o intuito de gerar um consenso sobre a previsão e a tendência de determinado segmento ou abordagem. Figura 2 – Operacionalização da técnica Delphi Definição do tema Equipe de coordenação Seleção dos especialistas Rodada 1 Rodada 2 Tratamento das informações Após consenso (independe do número de rodadas) Relatório Final Elaboração de questionários Elaboração de novo questionário Fonte: adaptado de Wanke e Julianelli (2006, p. 58). Pág. 16 de 92 Essa técnica pode ser ainda percebida e utilizada em duas situações: 1. no lançamento de um produto, em que não há qualquer informação de demanda, auxiliando a área de marketing para a projeção de cenários futuros, aceitação do produto no mercado etc.; 2. na análise SWOT (forças, fraquezas, oportunidades e ameaças), por considerar a percepção de diversos especialistas sobre a análise sugerida, entretanto, buscando consenso nas informações. Tanto o método quantitativo apresentado quanto o qualitativo são importantes recursos para a tomada de decisão. Entretanto, ambos apresentamvantagens e a junção deles pode alcançar resultados mais satisfatórios para os atores envolvidos. Se o item custo é importante na geração do resultado, a opinião dos participantes também é fundamental. Para tentar aproximar essa relação, as abordagens multicritério e o apoio à decisão construtivista podem ajudar. 1.2 Metodologias multicritério de apoio à decisão (MCDA construtivista) Ao estruturar uma situação, a ideia é conhecer mais sobre ela. Assim, o primeiro passo é saber se aquela situação é uma necessidade ou uma oportunidade. A necessidade é a busca pela resposta de algo que vem causando algum problema ou ainda que denote carência. A oportunidade é, por meio de alguma situação já existente, a possibilidade de expansão ou integração de algo que contribua na melhoria de determinado serviço, produto etc. Como há certa discussão sobre esses termos e suas definições, este trabalho utilizará do aspecto necessidade como o início da análise multicritério. A partir de uma necessidade, gerada por meio de um problema, necessita-se de uma estruturação da situação para auxílio na tomada de decisão. Nesse sentido, utiliza-se a metodologia multicritério de apoio à decisão (MCDA construtivista). Curiosidade Novos caminhos para a gestão agrícola . [...] Por se tratar de um segmento da economia que envolve múltiplos atores (fornecedores, empregados e consumidor final), com múltiplos objetivos conflitantes, mal definidos e com características singulares desaconselhando o uso de modelos genéricos, a metodologia multicritério em apoio à decisão construtivista MCDA-C como surge como um excelente instrumento de intervenção, dada sua capacidade de contribuir com tais contextos. [...] Veja a matéria completa em: <http://www.administradores.com.br/artigos/negocios/novos-caminhos-para- gestao-agricola/107877/>. Pág. 17 de 92 Esse modelo, segundo Ensslin, Montibeller e Noronha (2001); Ensslin (2002); Ensslin et al. (2010); e Bortoluzzi, Ensslin e Ensslin (2011, apud Ensslin et al., 2012), pode contribuir para: a) melhorar o entendimento do contexto segundo a percepção do decisor; b) identificar e organizar os objetivos; c) permitir a compreensão das consequências das alternativas nos objetivos; d) gerar consenso com relação ao fato de que, nos problemas decisórios, existem múltiplos critérios; e e) tomar uma decisão que busque uma solução que enquadre as necessidades do decisor com as necessidades gerais dos demais envolvidos. A escolha desse método passa também pelas perspectivas de resultados que a MCDA pode trazer. Dentre essas informações possíveis, Dutra (2005, p. 50-51) e Bana e Costa (1993, p. 11) destacam: 1. a possibilidade de a MCDA abordar diferentes tipos de informações, sejam elas qualitativas, quantitativas, verbais ou não verbais; 2. a possibilidade de capturar e apresentar, de maneira explícita, os objetivos dos tomadores de decisão; 3. a possibilidade de os mesmos tomadores de decisão refletirem sobre os objetivos, prioridades e preferências; 4. a possibilidade de desenvolver um conjunto de condições e meios para informar as decisões em que o tomador de decisão considera ser o mais adequado. 5. o reconhecimento dos limites da objetividade e a consequente aceitação da subjetividade; 6. a incorporação da dimensão construtivista, segundo a qual ocorre aprendizagem constante e evolutiva nas situações de problemas decisórios, em oposição à crença em um conjunto de ferramentas que permitam uma solução única e melhor do problema (convicção do construtivismo calcada na noção de participação, conduzindo a um novo paradigma de aprendizagem); 7. a aceitação da inseparabilidade dos elementos de natureza objetiva e dos elementos de natureza subjetiva (convicção da interpenetração em consonância com o aspecto da indivisibilidade do sistema); 8. a proposta de uma atividade de apoio à decisão, diferencial central da MCDA diante de outras metodologias; a presença de tal apoio em todas as etapas do processo decisório (estruturação, avaliação e recomendação); e, 9. a incorporação de uma linguagem que é, ao mesmo tempo, linear (fazendo uso da linguagem humana natural) e não linear (fazendo uso de representações visuais, que permitem a simultaneidade da informação). Pág. 18 de 92 Por fim, a justificativa da escolha do método passa pela análise de Dutra (2005), que comparou diversas metodologias de análise de desempenho, conforme a tabela 2. Tabela 2 – Síntese crítica das metodologias de avaliação de desempenho selecionadas Dimensões/ Metodolo- gias Grau de personalização Grau de ambigui- dade Grau de priori- zação Grau de flexibili- dade Grau de geração de conhecimento Grau de geração de aperfeiçoamento BSC (2002) Considera apenas as especificidades da metodologia Não apresenta Prioriza uma área específica Permite atender o contexto macro Gera conhecimento ao facilitador Não identifica os aperfeiçoamentos necessários, de forma estruturada McKinsey 7-S (1980) Considera apenas as especificidades da metodologia Não apresenta Não prioriza nenhuma área específica Permite atender o contexto macro Gera conhecimento ao facilitador Não identifica os aperfeiçoamentos necessários, de forma estruturada Baldrige (2002) Considera apenas as especificidades da metodologia Apresenta Prioriza uma área específica Permite atender o contexto macro Gera conhecimento ao facilitador Não identifica os aperfeiçoamentos necessários, de forma estruturada Três níveis de desem- penho (1992) Considera apenas as especificidades da metodologia Não apresenta Prioriza uma área específica Permite atender o contexto macro Gera conhecimento ao facilitador Não identifica os aperfeiçoamentos necessários, de forma estruturada Family Nevada (1997) Considera apenas as especificidades da metodologia Não apresenta Não prioriza nenhuma área específica Permite atender o contexto macro Gera conhecimento ao facilitador Não identifica os aperfeiçoamentos necessários, de forma estruturada Quantum (1993) Considera apenas as especificidades da metodologia Não apresenta Não prioriza nenhuma área específica Permite atender o contexto macro Gera conhecimento ao facilitador Não identifica os aperfeiçoamentos necessários, de forma estruturada MCDA (1990, 1996, 2001) Considera apenas as especificidades da metodologia e da organização Não apresenta Não prioriza nenhuma área específica Permite atender o contexto macro e/ou contexto micro Gera conhecimento ao facilitador e ao decisor Identifica os aperfeiçoamentos necessários, de forma estruturada Fonte: Dutra (2005, p. 49). Pág. 19 de 92 Nessa pesquisa, o autor analisa sob a perspectiva de cinco critérios estabelecidos na tabela 2 (grau de personalização, grau de ambiguidade, grau de priorização, grau de flexibilidade, grau de geração do conhecimento e grau de geração do aperfeiçoamento) e confirmou a MCDA como a ferramenta de avaliação de desempenho mais eficaz por responder às configurações do mundo contemporâneo e por não priorizar certas medidas ou área da organização em detrimento de outras, gerando aperfeiçoamento do desempenho organizacional e, sobretudo, demonstrando elevado grau de personalização, flexibilidade e potencial para gerar conhecimento (DUTRA, 2005 p. 52). Assim, a figura a seguir apresenta a modelagem para aplicação da MCDA. Figura 3 – Modelagem da análise multicritério Etapas da solução de problemas (Dewey, 1910) Etapas do processo de decisão (Simon, 1960) Qual é o problema? Quais são as alternativas? Qual é a melhor alternativa? Escolha Recomendação Avaliação EstruturaçãoInteligência Concepção inventar, desenvolver, e Analisar ações possíveis Fonte: adaptado de Galves (2005). O paradigma construtivista é a metodologia utilizada no apoio à decisão e pode ser definido “como uma atividade em que o facilitador, de formacientífica, busca obter elementos que respondam as questões levantadas pelos decisores em um processo decisório. Esses elementos ajudam a clarificar sua decisão” (ENSSLIN et al., 2012, p. 36). De uma forma geral, o facilitador, que é o elo entre os decisores, busca aumentar a coerência para a tomada de decisão e observar as perspectivas de cada ator envolvido. O quadro a seguir apresenta um comparativo entre os paradigmas racionalista e construtivista. Pág. 20 de 92 Quadro 1 – Comparativo entre paradigmas Paradigma racionalista (pesquisa operacional) Paradigma construtivista Tomada de decisão Momento em que ocorre a escolha da solução ótima Processo ao longo do tempo envolvendo interação entre os atores Decisor Totalmente racional Dotado de sistemas de valores próprios Problema a ser resolvido Problema real Problema construído (cada decisor constrói seu próprio problema) Os modelos Representam a realidade objetiva São ferramentas aceitas pelos decisores como úteis no apoio à decisão Os resultados dos modelos Soluções ótimas Recomendações que visam atender aos valores dos decisores O objetivo da modelagem Encontrar a solução ótima Gerar conhecimento aos decisores sobre o problema A validade do modelo Modelo é válido quando representa a realidade objetivamente Modelo é válido quando serve como ferramenta de apoio à decisão Preferência dos decisores São extraídas pelo analista São construídas pelo facilitador Forma de atuação Tomada de decisão Apoio à decisão Fonte: adaptado de Ensslin, Montibeller e Noronha (2001, p. 36). Dessa forma, após apresentar as principais diferenças entre os modelos, a MCDA define a estruturação como essencial para a consolidação do modelo e possibilidade de recomendação da alternativa que melhor apresenta a opinião dos atores. Pág. 21 de 92 1.2.1 Estruturação A estruturação é parte fundamental na avaliação multicritério. Nesse sentido, Bana e Costa et al. (1999) citam como esses elementos os objetivos, metas, valores de decisores, além de ações, opções e alternativas. Assim, na atividade de estruturação busca-se identificar o tipo de situação. Considerando as perspectivas de cada ator, o tipo de situação trata das alternativas geradas e a distinção entre um problema e uma oportunidade. As alternativas são simulações de situações para o problema gerado. Para a devida estruturação de um problema, propõem-se ao menos duas alternativas, que atingirão o mesmo objetivo, entretanto, desenvolvem-se em caminhos alternados. A figura 4 apresenta essa definição. Figura 4 – Definição de alternativas - Apresentação da proposta - Considerações acerca da proposta - Apresentação da proposta - Considerações acerca da proposta Alternativa 1 Alternativa 2 Alternativa N Problema ou oportunidade Fonte: elaborado pelo autor. A figura 4 apresenta um número de alternativas que depende das necessidades geradas pelos decisores. Quanto maior o número de alternativas, mais complexa será a análise do modelo. Parte de uma necessidade ou oportunidade: a) Necessidade está relacionada com algo essencial, que é imprescindível, indispensável. Em uma empresa, essa necessidade pode ser caracterizada pela entrada em mercado que seus concorrentes já atuam, pela alteração da fabricação de um produto etc. Pág. 22 de 92 b) Oportunidade está relacionada com algo que tenha possibilidade de melhorar, que pode trazer algum benefício. Em uma empresa, pode ser caracterizada pela adoção de um novo produto, pela adoção de práticas que visam aprimorar o atendimento ao cliente etc. Assim, o objetivo é o fim e as alternativas são os meios para se alcançar um resultado, conforme apresentado no exemplo a seguir. Imagine que uma empresa localizada na cidade de São Paulo pretende começar a vender para a cidade de Sorocaba, no interior do estado de São Paulo. A cidade e suas limítrofes, pela análise da empresa, pode trazer maior rentabilidade ao seu negócio, gerando assim uma oportunidade. Entretanto, para entrega de seus produtos, precisa definir qual a melhor rota do caminhão. Assim, propôs duas alternativas: 1) Fazer a entrega das mercadorias saindo da cidade de São Paulo e seguindo pela rodovia Raposo Tavares; ou 2) Fazer a entrega das mercadorias saindo da cidade de São Paulo e seguindo pela rodovia Castelo Branco. O que pode se observar é que, apesar de tratar-se de uma situação relativamente simples – ir por uma rodovia ou por outra –, o objetivo final é um só: atender a nova demanda da cidade de Sorocaba-SP e região. Assim, podem ser observados o tempo de trajeto, o congestionamento, o valor gasto etc. e ao final, pretende-se gerar uma sugestão da alternativa que se apresentou mais viável, não necessariamente a solução ótima. Caracterização do contexto decisório Os aspectos que deverão ser relacionados no início de um processo de decisão partem de um conjunto de informações necessárias para a construção de um modelo. Dessa forma, os passos a seguir consideram a estruturação da tomada de decisão. Nível de decisão O nível de decisão está diretamente com relacionado com sua amplitude. Consideram-se duas vertentes, projeto ou planejamento estratégico. O projeto trata de um objetivo que se defina com começo, meio e fim. A continuidade do objetivo ao final desse projeto o torna um novo projeto ou um processo incorporado à empresa. Tradicionalmente, tem prazo definido em até cinco anos. Pág. 23 de 92 O planejamento estratégico trata de um objetivo de longo prazo, geralmente acima de cinco anos, que busca atingir determinado nível de atuação com ações diversas. Os autores Ensslin, Montibeller e Noronha (2001, p. 64) destacam vários tipos de ações, que tratam das decisões e alternativas durante o processo decisório: no problema da compra de uma casa para uma família, as ações seriam definidas como os vários tipos de casas existentes; em um modelo para avaliar a performance de gerentes em uma empresa, as ações seriam os indivíduos que ocupam cargos gerenciais na organização; caso uma instituição financeira desejasse adotar um modelo para decidir se concederia ou não recursos aos seus clientes, as ações seriam as diversas pessoas (físicas ou jurídicas) que desejam candidatar-se ao empréstimo. um modelo pra a escolha de uma determinada variedade de arroz para plantio teria as diversas variedades como ações; e as estratégias de negócio em um determinado setor de atividade seriam as ações de um modelo para determinar quais delas seriam as mais atrativas aos decisores. Há também a separação por ação: ação real é aquela originada de um projeto completamente desenvolvido, que pode ser executado. ação fictícia é aquela a um projeto ou planejamento estratégico idealizado, ou não completamente desenvolvido, passando ainda por algo hipotético (ENSSLIN; MONTIBELLER; NORONHA, 2001.p. 64). 1.2.2 Limites geográficos e temporais O limite geográfico é o grau de alcance de um projeto ou planejamento. Está relacionado diretamente com o objetivo geral a ser buscado e com as características de cada projeto ou planejamento estratégico. São exemplos de limites geográficos: • uma área da empresa em que o problema é a falta de cumprimento de prazo de entrega; • um aspecto familiar em que o problema é a troca de emprego; e • uma região de atendimento em que o problema é a perspectiva de venda. Da mesma forma é o limite temporal que retrata, a partir das perspectivas dos atores, o tempo para execução do projeto ou do planejamento estratégico. Considera-se também o tempo para execução das ações ora convencionadas na estruturação do problema ou da oportunidade. Pág. 24 de 92 Atores e decisores Em uma situação pessoal, percebe-se claramente quem são os decisores. Em uma residência, por exemplo, uma família composta por pai, mãe e três filhos, a decisão para um determinado problema está centrada nos pais, facilmente perceptível. Entretanto, em um ambiente empresarial, nem sempre é simplesdefinir os decisores, pois o contexto decisório pode envolver áreas diversas de uma empresa e diversos stakeholders. Assim, é primordial considerar para quem o apoio à decisão será fornecido. Saiba mais Stakeholder (em português, parte interessada ou interveniente), trata de um termo adotado em diversas áreas de negócio que se refere aos envolvidos, em grau elevado ou não, em uma atividade da empresa, em um projeto ou qualquer ação que necessite de várias áreas, pessoas ou empresas envolvidas. Em uma faculdade, por exemplo, os stakeholders podem ser desde professores, alunos, passando pelo banco (que trata de financiamento estudantil), lanchonete (que fornece alimentação aos frequentadores da instituição) etc. Para essa identificação, o facilitador, elo entre as empresas ou áreas envolvidas, tem participação importante e pode ser o responsável por essa tarefa. Ensslin, Montibeller e Noronha (2001) sugerem fazer uma lista, junto com o contratante, dos grupos diretamente envolvidos na situação e os que, apesar de não estarem diretamente envolvidos, têm influência sobre o processo decisório. Ao identificar os atores, os autores propõem a adoção de um plano, em que: o eixo das abscissas indica o grau de poder relativo que o ator tem com relação à decisão a ser tomada; e o eixo das ordenadas indica o grau de interesse relativo que o ator tem sobre a decisão a ser tomada. (ENSSLIN, MONTIBELLER; NORONHA, 2001, p. 62). Por exemplo, uma família, ao decidir comprar uma casa nova, destacou quatro atores: pai, mãe, filhos e tia. A figura a seguir apresenta essa relação de interesse e poder no contexto decisório. Pág. 25 de 92 Figura 5 – Influência × poder dos atores Interesse na tomada de decisão Poder com relação à tomada de decisão Poder com relação à tomada de decisão Filhos Mãe Pai Tia Interesse na tomada de decisão Filhos Mãe Pai Tia Fonte: Ensslin, Montibeller e Noronha (2001, p. 63). Para a devida interpretação da figura 5 (lado esquerdo), quanto mais próximo do canto superior direito estiver alocado o ator, mais importância ele terá no processo decisório. O contrário também é verdadeiro: quanto mais próximo do canto inferior esquerdo, menos importância na tomada de decisão. Dessa forma, o pai e a mãe são escolhidos como decisores, pois são os que estão mais próximos do canto superior direito e da reta que define o grau de importância, conforme apresenta a figura 5 ao lado direito. Apesar dos filhos apresentarem grande grau de interesse na tomada de decisão, não foram relacionados como decisores, pois há falta de poder na tomada de decisão. 1.2.3 Histórico do processo de decisão Considerando o paradigma construtivista, Ensslin, Montibeller e Noronha (2001) consideram que cada decisor apresenta seu problema em acordo com as suas próprias interpretações. Assim, um problema é algo pessoal. Vale ressaltar que problema não significa necessariamente algo ruim, pode tratar-se de uma situação em que se busca alternativa para melhorar desempenho ou aprimorar atividades já existentes. Um histórico sobre dado problema é fundamental para que os diversos atores, apesar de perspectivas diferentes, tenham entendimento sobre o processo decisório. Assim, o histórico do processo decisório trata da transcrição de toda situação a que gerou o problema a ser abordado. Pág. 26 de 92 1.2.4 Construção do mapa cognitivo Cossete e Audet (apud ENSSLIN; MONTIBELLER; NORONHA, 2001, p. 75) definem um mapa cognitivo como representação cognitiva quádrupla, defasada no tempo. As representações mentais do decisor sobre os eventos do contexto decisório no momento t1 criam suas representações discursivas no momento t2 (que irá influenciar seu pensamento). A figura a seguir apresenta essa relação. Figura 6 – Articulação e pensamento L1 L2 t5 Representações discursivas (t2) Representações mentais (t1) Contexto decisional (eventos) DecisorFacilitador Representações mentais (t3) Representações gráficas (t4) Mapa cognitivo Fonte: Ensslin, Montibeller e Noronha (2001, p. 76). A figura 6 apresenta em seu contexto as linhas L1 e L2. Para que a figura fique mais fácil de interpretar, os autores simularam um exemplo: Ao ocorrer a quebra de um carro (evento), um executivo faz em t1 representações mentais sobre o fato de o carro estar quebrado. Ele pensa sobre as consequências disso para o seu dia a dia. Em t2, passa a falar sobre seu problema, por meio de representações discursivas. Enquanto fala, começa a avaliar melhor cada situação em que o carro quebrado pode gerar algum impacto (L). Pág. 27 de 92 No momento t3, o facilitador começa a interpretar o que executivo fala, anotando em t4 os aspectos que mais chamam a sua atenção, gerando um mapa cognitivo. Ao ver o mapa em t5, o executivo altera e refina sua interpretação sobre o contexto decisório, adicionando elementos, como por exemplo, a prova do filho na manhã seguinte e a necessidade de que o carro esteja consertado. Um mapa cognitivo pode ser definido como uma hierarquia de conceitos, relacionados por ligações de influência entre meios e fins (MONTIBELLER, 2000, apud ENSSLIN; MONTIBELLER; NORONHA, 2001). Com isso, o decisor cria uma valoração dos aspectos relacionados com o problema em questão. Para a construção do mapa cognitivo, é preciso definir um nome que descreva o problema que será discutido. Ensslin, Montibeller e Noronha (2001) sugerem ao facilitador escutar as diversas perspectivas dos atores envolvidos sobre o problema. Após a definição do nome, sugere-se um brainstorming com o decisor para a identificação dos elementos primários de avaliação (EPAs) que permitem a criação do mapa. Bana e Costa (apud ENSSLIN; MONTIBELLER; NORONHA, 2001) define os EPAs como objetivos, metas, valores dos decisores, bem como as ações, opções e alternativas, tornando-se a base do mapa cognitivo. Os EPAs sugerem a busca da criatividade por: • expressar todos os EPAs que vêm à mente; • desejar quanto mais EPAs melhor para a empresa; • evitar críticas às ideias pronunciadas; e • combinar e adaptar ideias já apresentadas. O quadro a seguir apresenta uma série de estratégias que servem para estimular a geração de um maior número de EPAs. Pág. 28 de 92 Quadro 2 – Estratégias para identificar EPAs Estratégia Pergunta que deve ser feita Aspectos desejáveis Quais são os aspectos que você gostaria de considerar em relação ao seu problema? Ações Quais características distinguem uma ação (potencial ou fictícia) boa de uma ruim? Dificuldades Quais são as maiores dificuldades com relação ao estado atual? Consequências Quais consequências das ações boas/ruins inaceitáveis? Metas/restrições/linhas gerais Quais as metas/restrições/linhas gerais adotadas por você? Objetivos estratégicos Quais os objetivos estratégicos nesse contexto? Perspectivas diferentes Quais são para você, segundo a perspectiva de outro decisor, os aspectos desejáveis/ações/ dificuldades etc? Fonte: adaptado de Ensslin, Montibeller e Noronha (2001, p. 80). Cada conceito é gerado a partir de um EPA. Entretanto, é necessário criar um oposto psicológico. Ensslin, Montibeller e Noronha (2001) citam como importante o polo oposto, pois o conceito só tem sentido na existência de contrastes entre eles. Em um exemplo para a aquisição de um carro, o decisor listou os aspectos desejados: • preço de aquisição; • consumo; • potência; • conforto; • estabilidade; A figura a seguir apresenta a construção do conceito pelo elemento primário de avaliação (EPA). Pág. 29 de 92 Figura 7 – Construção de um conceito a partir de um EPA EPA Orientar à ação Pergunta sobre o lado oposto Preço de aquisição ser compatível com a renda Preço de aquisição ser incompatível com a renda ***** Preço de aquisição Preço de aquisição ser compatível com a renda Fonte: Ensslin, Montibeller e Noronha (2001, p. 81). Na figura 7, foi considerado o EPA pelo preço de aquisição. Nesse EPA, o fatorprincipal é o preço ser compatível com a renda, logo, o contrário seria o preço de aquisição ser incompatível com a renda, gerando o polo oposto. Vale ressaltar que nem sempre o polo oposto é o que parece óbvio, por isso a importância de ser o decisor a apresentar essa informação e não o facilitador. A figura a seguir apresenta ideias diferentes, apesar de polo idêntico. Figura 8 – Polo idêntico – conceitos diferentes Consumo ser reduzido *** Consumo ser elevado Consumo ser reduzido *** Consumo ser inadequado Fonte: Ensslin, Montibeller e Noronha (2001, p. 82). Pág. 30 de 92 A figura 8 apresenta o possível conflito gerado pela interpretação errada do conceito contrário. Ensslin, Montibeller e Noronha (2001) apontam para dois perigos quando os facilitadores assumem não adotar a prática de perguntar: • analisar conceitos diferentes dos que estão pensados pelo decisor; e • perder importantes e diferentes interpretações do decisor sobre seu problema. Construção da hierarquia de conceitos A partir de um conceito, o decisor deve apresentar quais os meios para atingi-lo ou ainda, conforme citam Ensslin, Montibeller e Noronha (2001, p. 62), “quais são os fins aos quais ele se destina. Assim, a estrutura do mapa é formada por conceitos meios e conceitos fins, relacionados por ligações de influência”. Quanto aos fins, sugere-se a utilização do “por quê?”. Por que determinado EPA é importante para análise? Considerando o exemplo anterior da aquisição do carro, a figura 9 apresenta essa perspectiva do decisor. Figura 9 – Construção da hierarquia – quanto aos fins Carro estar dentro do orçamento familiar *** Carro estar fora do orçamento familiar Preço de aquisição ser compatível com a renda *** Preço de aquisição ser incompatível com a renda Fins Meios Facilitador: “Por que é importante que o preço de aquisição seja compatível com a renda?” Decisor: “A fim de que o carro esteja dentro do orçamento da família” Fonte: Ensslin, Montibeller e Noronha (2001, p. 83). Pág. 31 de 92 Quanto aos meios, sugere-se a utilização do “como?”. Como determinado EPA pode atingir determinado objetivo? Considerando o exemplo anterior da aquisição do carro, a figura 10 apresenta essa perspectiva do decisor. Figura 10 – Construção da hierarquia – quanto aos meios Carro estar dentro do orçamento familiar *** Carro estar fora do orçamento familiar Manutenção do carro ser barata *** Manutenção do carro ser cara Fins Meios Decisor: “Fazendo com que a manutenção do carro seja barata” Facilitador: “Como você conseguiria que o preço de aquisição seja compatível com a renda familiar?” Fonte: Ensslin, Montibeller e Noronha (2001, p. 84). Em linhas gerais, o mapa é gerado a partir da ordem de conceitos-meio (na parte inferior da folha) para os conceitos-fim (parte superior da folha), conforme apresentado nas figuras 9 e 10. Essa sugestão de formatação colabora com uma interpretação mais precisa do objetivo geral proposto na resolução do problema. Análise de mapas cognitivos Bana e Costa et al. (1999, apud ENSSLIN; MONTIBELLER; NORONHA, 2001, p. 109) definem: A preocupação inicial da estruturação de um modelo multicritério é definir quais são os aspectos, dentro do contexto decisório, que o(s) decisor(es) considera(m) essenciais e desejáveis de serem levados em conta no processo de avaliação das ações. Tais aspectos constituem os eixos da avaliação do problema. Um eixo de avaliação é definido como uma dimensão considerada como relevante, segundo os valores dos decisores, para avaliar as ações potenciais. Pág. 32 de 92 Os mapas cognitivos são considerados grafos ou sistema de pontos e cada conceito é considerado um nó e uma relação de influência é uma ligação. Constituem uma estrutura de “meios-fins”. Conforme Sampaio (2009, p. 35), “[...] a cadeia de meios-fins estabelece um vínculo entre atributos tangíveis de um produto e as necessidades individuais e sociais de consumidores, como benefícios e valores”. Quando os mapas são formados com número elevado de nós, tornando-se extremamente complexos, Ensslin, Montibeller e Noronha (2001) sugerem a identificação de características estruturais que permitam sua análise, considerando: 1. as ferramentas de análise tradicional (que têm o objetivo de organização do mapa) têm se mostrado mais úteis na aplicação da estruturação de um modelo multicritério; 2. as propriedades dos mapas cognitivos, considerando a análise tradicional, são descobertas analiticamente; 3. o enfoque da análise é na hierarquização de conceitos. Pág. 33 de 92 OBJETIVOS E VALORES ESPECIFICAR VALORES As preferências dos decisores podem ser expressas numericamente como uma forma de gerar prioridades e desempenho sobre as ações. Essa especificação de valores é criada a partir do ponto de vista dos decisores e é uma forma de avaliação do impacto de cada situação no contexto decisório. 2.1 Identificar objetivos Bana e Costa (1992, apud ENSSLIN; MONTIBELLER; NORONHA, 2001, p. 127) trata os objetivos como as ações em que se busca um situação decisória específica. Para isso, adota o termo “pontos de vista fundamentais” e define: Os pontos de vistas fundamentais explicitam os valores que os decisores consideram importantes naquele contexto e, ao mesmo tempo, definem as características das ações que são de interesse dos decisores. Os pontos de vistas fundamentais constituem-se os eixos de avaliação do problema. Os autores citam que muitas vezes os pontos de vista fundamentais podem estar uma mesma árvore de interesse, ou seja, um ponto de vista que agrupa um conjunto de pontos de vista fundamentais. Considerando o exemplo da aquisição de um carro, a figura 11 apresenta uma estruturação de pontos de vista fundamentais. Figura 11 – Estruturação de pontos de vista Escolha de um carro Conforto Status Velocidade Segurança Custos Benefícios Aquisição Manutenção Fonte: Ensslin, Montibeller e Noronha (2001, p. 140). Pág. 34 de 92 2.2 Estruturar objetivos Com base na figura 11, que trata do conjunto de candidatos a pontos de vista fundamentais, é necessário que esse conjunto se constitua em uma família de pontos de vista fundamentais (BANA e COSTA, 1992, apud ENSSLIN; MONTIBELLER; NORONHA, 2001). Essa família é a base para a construção do modelo multicritério para a avaliação das ações potenciais. Para maior compreensão, os autores sugerem a interpretação pelo exemplo da aquisição de um carro, relacionando aos aspectos necessários para a constituição de uma família de pontos de vista fundamentais. a) Aspecto essencialidade: o ponto de vista fundamental leva em conta os aspectos fundamentais aos decisores. Exemplo: o quesito conforto, apresentado na figura 11 e considerado como ponto de vista fundamental, pode ter sua origem em assentos reguláveis. O decisor, ao indicar que o carro deveria ter esse recurso, trouxe à tona o item conforto como algo essencial na aquisição do veículo. b) Aspecto controlável: o ponto de vista fundamental representa um aspecto que seja influenciado pelas ações potenciais em questão. Exemplo: o quesito velocidade, apresentado na figura 11 e considerado como ponto de vista fundamental, pode ser controlável, ou seja, medido quanto ao seu desempenho. c) Aspecto complementaridade: o conjunto de pontos de vista fundamentais deve incluir todos os aspectos considerados fundamentais pelos decisores. Exemplo: o facilitador pode sugerir ao decisor imaginar dois veículos e definir pelo melhor veículo. Se o decisor conseguir definir um veículo como mais adequado, pontos de vista fundamentais podem não constar na avaliação. Se o decisor não consegue definir o melhor veículo, os pontos de vista fundamentais podem estar todos relacionados. d) Aspecto mensurável: o ponto de vista fundamental permite avaliar o desempenho das ações potenciais. Exemplo: se o item conforto for mensurável, é possível estabelecer um nível de conforto para cada carro, permitindouma escala de avaliação. e) Aspecto operacional: o ponto de vista fundamental permite coletar as informações sobre o desempenho das ações potenciais. Exemplo: se o item manutenção for operacional, é necessário que estejam disponíveis as informações acerca da atividade, tais como custo de peças, mão de obra etc. Pág. 35 de 92 f) Aspecto isolável: o ponto de vista fundamental permite a análise independente de um aspecto em relação aos demais aspectos do conjunto. Exemplo: o item conforto é isolável, ou seja, pode ser avaliado sem a necessidade dos demais aspectos relacionados (segurança, status etc.). g) Aspecto não redundante: o ponto de vista fundamental não deve se repetir Exemplo: o item conforto já está direcionado às características relacionadas ao bem-estar do usuário. Gerar outro aspecto associado a isso pode gerar redundância. h) Aspecto conciso: a quantidade de aspectos deve ser suficiente para avaliar o problema em questão Exemplo: quanto maior o detalhamento, maior o grau de análise, entretanto, deve-se levar em conta a quantidade de aspectos que consigam auxiliar na tomada de decisão. i) Aspecto compreensível: o ponto de vista fundamental deve ter seu significado para os decisores, permitindo a geração de ideias Exemplo: o detalhamento de cada item contribui para a compreensão de todos os atores envolvidos. Se tratar de custo de manutenção, esse deve ser especificado como os custos decorrentes de combustível, manutenção preventiva, seguro, pneus, taxas etc. 2.3 Especificar atributos Os atributos, também denominados descritores, podem ser definidos como um conjunto de níveis de impacto que servem como base para descrever as performances plausíveis das ações potenciais em termos de cada ponto de vista fundamental (BANA e COSTA, 1992 apud ENSSLIN; MONTIBELLER; NORONHA, 2001). Não existe um atributo ótimo a ser utilizado para avaliar os pontos de vista fundamentais. É considerado válido quando for considerado apto para avaliar as ações potenciais. Segundo Ensslin, Montibeller e Noronha (2001), os atributos são criados para: • auxiliar na compreensão do que os decisores estão considerando; • tornar o ponto de vista mais inteligível; • permitir a geração de ações de aperfeiçoamento; • possibilitar a construção de escalas de preferências locais; • permitir a mensuração do desempenho de ações em um critério; e • auxiliar na construção de um modelo global de avaliação. Pág. 36 de 92 ALTERNATIVAS 3. AVALIAR ALTERNATIVAS Nessa etapa, será desenvolvida a modelagem dos objetivos fundamentais, atribuindo pesos e pontuação para cada um dos objetivos, interligando-os. Como se trata de uma modelagem matemática, Ensslin, Montibeller e Noronha (2001, p. 187) definem essa fase como “um instrumento para auxiliar os decisores a expressar, de forma numérica, suas preferências”. Para a construção das funções de valor, pretende-se utilizar a modelagem matemática proposta pelos autores, que ajuda a avaliar opções comparando-os qualitativamente em termos das suas diferenças de atratividade em múltiplos critérios. A função de valor tem o objetivo de gerar uma escala de avaliação. Bodily (1985, apud ENSSLIN; MONTIBELLER; NORONHA, 2001) citam que variações idênticas de uma mesma grandeza geram variações diferentes e significativas de atratividade. Dessa forma, sugere-se construir uma função de valor para adequar as diferenças. A figura a seguir apresenta um exemplo de função de valor. Figura 12 – Exemplo de função de valor Valor atratividade Remuneração anual (R$) 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 R$ 40.000,00 R$ 50.000,00 R$ 60.000,00 R$ 70.000,00 R$ 80.000,00 Fonte: Ensslin, Montibeller e Noronha (2001, p. 189). Pág. 37 de 92 A função de valor não traduz a forma que as pessoas julgam suas preferências. Ensslin, Montibeller e Noronha (2001, p. 190) destacam dois motivos para a utilização da função de valor: • qualquer forma de obtenção de um parâmetro sobre as preferências dos decisores, tal como uma função de valor, faz com que tal parâmetro se altere, pois, ele é construído e não descoberto. • pesquisas na área da tomada de decisão argumentam não existir uma função de valor definida na mente dos decisores. Normalmente, quando defrontadas com uma decisão, as pessoas não usam funções numéricas (utilidade ou valor) para avaliar ações. Assim, as ferramentas como a função de valor fazem o decisor refletir sobre suas preferências de forma quantitativa. Para a construção de funções de valor, a literatura sugere diversos métodos, tais como: a) Método da pontuação direta (Direct rating) Esse método, muito utilizado na construção de funções de valor, é formado por um conjunto de níveis de impacto, ordenados do pior para o melhor. Nas duas extremidades são definidos valores que servirão de base para a escala (geralmente de 0 a 100). No exemplo de aquisição de um carro, um dos pontos de vista considerados é a imagem da marca. Assim, o decisor deve considerar uma função de valor aos veículos ofertados. O quadro a seguir apresenta essa relação. Quadro 3 – Função de valor – Imagem da marca Descritor do ponto de vista fundamental Níveis de impacto Níveis de referência Descrição N5 Carro importado de origem alemã N4 Bom Carro importado de origem americana N3 Carro importado de origem japonesa N2 Neutro Carro nacional de luxo N1 Carro nacional básico Fonte: Ensslin, Montibeller e Noronha (2001, p. 191). Os dois níveis considerados como a melhor e o pior resultado são expressos no quadro 3 como N5 e N1. O carro alemão teve a pontuação 100 por tratar-se da melhor opção e o carro nacional básico teve pontuação 0 por tratar-se da pior opção. Pág. 38 de 92 0 ___________ ? ___________? __________?____________100 a) b) c) d) e) Onde: • Carro nacional básico. • Carro nacional de luxo. • Carro importado de origem japonesa. • Carro importado de origem americana. • Carro importado de origem alemã. Percebe-se que nas duas extremidades foram atribuídos itens para expressar a função de valor. Entretanto, os níveis intermediários também se fazem necessários na mesma relação. Para isso, é importante saber as diferenças de atratividade. Assim, o facilitador faz a seguinte pergunta ao decisor: se um carro importado tem um valor de 100 pontos, quantos pontos vale um carro importado americano? E assim sucessivamente, até que todos os parâmetros estejam preenchidos com valores. 0 ___________ 15 ___________40 __________60____________100 a) b) c) d) e) Ensslin, Montibeller e Noronha (2001) destacam como vantagens do método de pontuação direta: • a rapidez na obtenção da função de valor; • a simplicidade do procedimento; • a ausência de transformações matemáticas que podem afetar a credibilidade; Como desvantagem, os autores citam a exigência ao decisor de expressar numericamente suas preferências, o que não é uma situação usual. b) Método da bisseção Esse método, segundo Ensslin, Montibeler e Noronha (2001, p. 192) é especialmente útil quando os atributos são quantitativos contínuos (por exemplo, tamanho de uma casa em metros quadrados). É também um método amplamente utilizado, na prática, para a construção de funções de valor. A diferença desse método é que se aplicam apenas valores ao melhor e pior cenários. A pontuação segue o mesmo método da pontuação direta (0 para o pior cenário e 100 para o melhor cenário). Pág. 39 de 92 Após essa determinação, o decisor identifica uma posição mediana para refinar a função de valor. A figura a seguir apresenta essa relação. Figura 13 – Determinação do primeiro ponto de uma função de valor 100 Valor Tempo (min.) 50 60 ? 0 0 100 Valor Tempo (min.) 50 60 20 0 0 Fonte: Ensslin, Montibeller e Noronha (2001, p. 194). Na figura 13 (à esquerda), apresenta-se umaindagação (?), ou seja, o decisor precisa definir qual o ponto intermediário em termos de atratividade; já a figura à direita apresenta essa relação. Considerando a figura 13 (à direita), o decisor considerou que o valor atribuído 20 é aquele que melhor expressa seu julgamento quando comparado com as extremidades (melhor e pior cenários). Assim, outros pontos podem ser atribuídos até que se obtenha a função de valor para o determinado ponto de vista fundamental. Ensslin, Montibeller e Noronha (2001) destacam como vantagem do método de bissecção: • não requerer transformações matemáticas a partir do julgamento dos decisores, sendo os pontos obtidos de forma direta. As desvantagens, segundo os autores, são: • exigir que os decisores expressem suas preferências matematicamente; • requerer um atributo quantitativo contínuo; e • ter um procedimento de questionamento abstrato para os decisores. c) Método do julgamento semântico Beinat (1995, apud ENSSLIN; MONTIBELLER; NORONHA, 2001, p. 195) considera que no método semântico “a função de valor é obtida por meio de comparações par-a-par da diferença da atratividade entre ações potenciais.” Tais comparações são feitas solicitando que os decisores expressem qualitativamente, através de uma escala ordinal semântica (com palavras), a intensidade de preferência de uma ação sobre a outra. Pág. 40 de 92 Um desses métodos é o Macbeth (Measuring attractiveness by a categorical based evaluation technique), desenvolvido por Bana e Costa e Vansnick (1995) e implementado em software. O modelo Macbeth é uma metodologia de análise de decisão que ajuda a avaliar alternativas comparando-as qualitativamente em termos de suas diferenças de atratividade em múltiplos critérios (BANA e COSTA, 2006, p. 12). O modelo sugere julgamentos qualitativos considerando as diferenças entre alternativas como: • extrema; • muito forte; • forte; • moderada; • fraca; • muito fraca; • nula. A figura a seguir (à esquerda) apresenta essa relação de diferença de atratividade e escala quantitativa de avaliação, sendo que no lado direito existe a detecção de inconsistências e sugestões de resolução do problema utilizando o software Macbeth. Figura 14 – Julgamentos Macbeth Fonte: Bana e Costa (2006, p. 3). O software também mede a ponderação de critérios para a tomada de decisão. Essa ponderação trata de definir o que é mais importante em um problema apresentado, por exemplo, custo ou prazo de execução. A figura a seguir demonstra o funcionamento do software. Pág. 41 de 92 Figura 15 – Ponderação de critérios Macbeth Fonte: Bana e Costa (2006, p. 3). A partir das definições dos atributos e a ponderação dos critérios, o software efetua a avaliação global pelo método aditivo, conforme apresenta a figura a seguir. Figura 16 – Avaliação global Macbeth Fonte: Bana e Costa (2006, p. 3). Pág. 42 de 92 De uma forma geral, Bana e Costa (2006) apresenta uma série de vantagens do uso do software Macbeth para a tomada de decisão, como pode ser observado na figura a seguir. Figura 17 – Vantagens do software Macbeth Análise do contexto de decisão e estruturação do processo de ajuda à decisão Análise de sensibilidade e elaboração de recomendações Estruturação dos elementos de avaliação Desenvolvimento do modelo multicritério de avaliação Abordagem MACBETH Fonte: Bana e Costa (2006, p. 6). Entretanto, o modelo também apresenta desvantagens. Ensslin, Montibeller e Noronha (2001) destacam: • ao contrário dos outros dois métodos, o Macbeth requer transformações matemáticas a partir dos julgamentos dos decisores; • quando não há função de valor compatível com o julgamento do decisor, o Macbeth sugere alternativas para resolver o problema, o que pode causar distorção no resultado; e • caso o decisor tenha vários níveis de impacto, a exigência de comparações que o sistema exige torna-se maçante. 3.1 Avaliação das ações potenciais – fórmula de agregação aditiva Caso os métodos utilizados não sejam suficientes para a tomada de decisão, o decisor pode agrupar todas as avaliações em uma avaliação global, feito por meio da fórmula de agregação. Ensslin, Montibeller e Noronha (2001) definem assim a fórmula de agregação aditiva: V(a) = w1.v1(a) + w2.v2(a) + w3.v3(a) + .... + wn.vn(a) Ou conforme os autores chamam de forma genérica: Pág. 43 de 92 Onde: V(a) = valor global da ação a v1(a), v2(a), ... , vn(a) = valor parcial da ação a nos critérios 1, 2,..., n w1, w2, ..., wn = taxas de substituição dos critérios 1, 2, ..., n n = número de critérios no modelo A equação está sujeita às seguintes restrições: a) A somatória das taxas de substituição deve ser igual a 1. w1 + w2 + w3 + .... + wn = 1 b) O valor das taxas de substituição deve ser maior que 0 e menor do que 1. 1 > w1 > 0 para i = 1, 2,..., n c) O valor parcial de uma ação fictícia com impacto no nível bom é igual a 100 em todos os critérios. vi(aBom) = 100 para i = 1, 2,..., n d) O valor parcial de uma ação com impacto no nível neutro é igual a 0 em todos os critérios. vi(aNeutro) = 0 para i = 1, 2,..., n e) O valor global de uma ação aBom com todos os impactos no nível bom é 100. V(aBom) = 100 f) O valor global de uma ação aNeutro com todos os impactos no nível neutro é 0. V(aNeutro) = 0 Segundo Ensslin, Montibeller e Noronhal (2001) o que se pretende com essa fórmula é favorecer a transformação de unidades de atratividade local (medida nos critérios) em unidades de atratividade global. Com isso, o que se quer é agregar a performance de uma ação nos múltiplos critérios em uma performance única, a avaliação global da ação. Pág. 44 de 92 Para a avaliação global, necessita-se de duas informações: • o desempenho de cada ação, obtido pelos atributos; e • taxas de substituição do modelo. Considerando o exemplo de compra de escolha de um carro, a figura a seguir apresenta a seguinte configuração. Figura 18 – Árvores de valores Custos Conforto Status Velocidade Segurança Assento Ar Ano Imagem Estabilidade Visibilidade Escolha de um carro 62% 40% 15% 8% 12% 25% 38% 67% 33% 55% 45% Fonte: Ensslin, Montibeller e Noronha (2001, p. 246). Se o item a ser analisado pelo decisor é conforto, por exemplo, ele deve observar qual a pontuação em relação à escala de valor, assim sugerida: • avaliação local item Assento V1(a) = 100 • avaliação local item Ar V2(a) = 60 Assim, agrega-se o valor da escala aos atributos. • V(conforto) = w1.v1(a) + w2.v2(a) + w3.v3(a) + .... + wn.vn(a) • V(conforto) = (0,62*100) + (0,38*60) = 84,8 Então, o item conforto apresenta uma pontuação de 84 pontos. Ao fazer o mesmo procedimento com os demais atributos, o decisor pode efetuar a avaliação global, que consiste em validar as alternativas geradas e apresentar as recomendações. Para isso, utiliza-se a seguinte fórmula: • V(escolha) = w1.v1(a) + w2.v2(a) + w3.v3(a) + .... + wn.vn(a) Pág. 45 de 92 Considerando as seguintes escalas (apenas o item conforto foi calculado efetivamente, os demais foram sugeridos para a formulação do problema): • custos: v(custos) = 50 • conforto: v(conforto) = 84,8 • status: v(status) = 107,2 • velocidade: v(velocidade) = 100 • segurança: v(segurança) = 39 Aplicando a fórmula: V(escolha) = w1.v1(a) + w2.v2(a) + w3.v3(a) + .... + wn.vn(a) V(escolha) = (0,40*50) + (0,15*84,8) + (0,08*107,2) + (0,12*100) + (0,25*39) = 54,7 Na avaliação global, o objetivo escolha de um carro atingiu 54,7 pontos. Ao abordar as alternativas geradas no modelo, efetua-se o mesmo procedimento de cálculo dessas alternativas e assim recomenda-se ao decisor aquela que apresentou o melhor resultado global. No exemplo de escolha de um carro, as alternativas podem estar relacionadas aos modelos de carros para avaliação. Pág. 46 de 92 RECOMENDAÇÕES E DESEMPENHO 4. RECOMENDAÇÕES Ao concluir a fase de avaliação, as informações são utilizadas na comparação das alternativas propostas. Ensslin et al. (2010, apud ENSSLINet al., 2012, p. 183) ressaltam que “traçando o perfil de impacto é possível comparar o conjunto de ações e a seguir, fornecer subsídios ao decisor para que este tenha condições de avaliar e selecionar qual estratégia mais adequada a ser tomada”. Para isso, propõe-se a adoção de um gráfico comparando os diversos itens que compõem o objetivo, conforme figura a seguir. Figura 19 – Comparativo entre alternativas 120,00 100,00 80,00 60,00 40,00 20,00 0,00 50,00 Custos Conforto Status Veículo 1 Veículo 2 Velocidade Segurança 52,35 84,48 67,90 107,20 50,00 100,00 78,00 39,00 45,00 Fonte: elaborado pelo autor. Pág. 47 de 92 Na recomendação das alternativas, o veículo 1 apresentou o melhor resultado global, logo, deveria ser o escolhido pelo decisor. A tabela a seguir apresenta o resultado final. Tabela 3 – Avaliação global Nr. Item Veículo 1 Veículo 2 Taxas Subst. 1 Custos R$ 50,00 R$ 52,35 40% 2 Conforto R$ 84,80 R$ 67,90 15% 3 Status R$ 107,20 R$ 50,00 8% 4 Velocidade R$ 100,00 R$ 78,00 12% 4 Segurança R$ 39,00 R$ 45,00 25% RESULTADO GLOBAL Veículo 1 R$ 63,05 Veículo 2 R$ 55,74 Fonte: elaborado pelo autor. Nesse exemplo, a alternativa que apresenta melhor desempenho é a escolha do carro 1, por ter alcançado a maior pontuação na avaliação das alternativas. 5. ANÁLISE DE DESEMPENHO: PRODUÇÃO DE VEÍCULOS QUE CONTRIBUAM NO TRANSPORTE URBANO DE CARGAS Uma das maiores tarefas de um setor público é o envolvimento com a mobilidade. Surgem políticas como entrega em pequenos lotes, aumentando o número de entregas ao mesmo cliente, agendamento de entrega, ferramentas de gestão como o just in time, colaborativas entre clientes e fornecedores, troca eletrônica de dados (EDI), entre outras (BARRETO, 2015). O autor pontua que as ações, tanto do poder público quanto do privado, apesar de terem como premissa diminuir o transtorno causado nesses grandes centros urbanos, não tem conseguido alcançar o resultado esperado, e vêm perdendo prestígio diante da opinião pública, das entidades civis e dos próprios cidadãos que residem ou transitam nas imediações das áreas mais atingidas. Pág. 48 de 92 O autor cita que uma das possíveis alternativas que pode contribuir para minimizar a concentração de veículos nos grandes centros, reduzir congestionamentos, emissão de poluentes e custos operacionais, ao mesmo tempo em que não diminui o nível de serviço proposto ao cliente, está relacionada na flexibilidade dos veículos de carga e, principalmente, do componente que transporta as mercadorias, os baús. E o que isso tem a ver com a engenharia de produção? Tudo. É no escoamento da produção que está o envolvimento da parte produtiva com a parte operacional. O que adiantaria produzir se a entrega não é possível? E mais que isso, a engenharia de produção pode contribuir ainda na concepção de um novo modelo de veículo que ajude na difícil tarefa de minimizar o impacto da distribuição de produtos nos grandes centros urbanos. No mundo todo, o problema da circulação de produto tem gerado discussões e propostas para sua redução. Na Europa, vários são os modelos de veículos que são produzidos na busca de alternativas. Esse conceito é denominado city logistics. De uma forma geral, Ricciard et al. (2003, apud DUTRA, 2004, p. 103) afirma que os objetivos estão centrados nos seguintes aspectos: • reduzir congestionamentos e aumentar a mobilidade por meio de controle do número e dimensão (processo produtivo) dos veículos que operam dentro da cidade, drásticas reduções em veículo-km e o aumento na eficiência dos movimentos de carregamentos (por exemplo, alta no fator de carregamento); • diminuição da poluição e dos níveis de ruídos (processo de produção), contribuindo com o Tratado de Kyoto e melhorando as condições de vida dos habitantes. Para que isso aconteça, alguns pontos são destacados: • integração, parceria, coordenação e consolidação constituem os conceitos fundamentais no projeto e operação de sistemas city logistics; • integração e parceria dos vários atores e tomadores de decisão, envolvidos no transporte urbano de carga: autoridades municipais, embarcadores (fabricantes), transportadores, gerentes de plataformas intermodais etc.; • coordenação do planejamento e dos processos de decisão, referente aos embarcadores (fabricantes), despachantes etc.; e • consolidação das diferentes mercadorias em um mesmo veículo entre pontos de consolidação e entregas finais. Pág. 49 de 92 Assim, o conceito de city logistics traz à tona a necessidade de organização das empresas empenhadas em distribuir cargas em centros urbanos. O crescimento com a preocupação da efetividade dos processos contribuiu para que esse conceito fosse difundido, visando o bem-estar do ambiente urbano (DUTRA, 2004). Alguns modelos produzidos para cooperar nesse processo são destacados a seguir: 1. O modelo francês: Vert chez vous – cidades de Paris (França) e Toulouse (França) Esse projeto trata da logística urbana com veículos ambientalmente adequados, combinando transporte multimodal entre bicicleta e transporte aquaviário. a) Descrição Entre as cidades de Paris e Toulouse, uma frota de veículos equipadas com energia elétrica ou gás está pronta para o processo de distribuição das cargas. Um veículo de transporte fluvial (barcaça) faz cinco paradas e distribui as entregas via rio Sena. Em cada uma das paradas, uma equipe de bicicleta recebe e entrega as mercadorias em torno de 1 hora e meia. Após isso, encontra a barcaça novamente duas paradas adiante. Enquanto isso, a equipe da embarcação faz a roteirização de carga. b) Benefícios • redução na emissão de poluentes como CO2 (dióxido de carbono); • redução na poluição atmosférica; • redução no barulho e engarrafamentos; e • benefícios na imagem corporativa. c) Fatores de sucesso A política pública promove o aparecimento desse tipo de iniciativa, criando impedimentos para o transporte tradicional, tais como a carga de impostos, os pedágios urbanos, limitação de velocidade e prazos de entrega na área central. Além disso, esse sistema garante a informação e a comunicação durante o período de entrega. d) Motivações Esse tipo de abordagem pode crescer à medida que as restrições aos veículos tradicionais aumentam. O maior gargalo desse projeto é a ligação rio-cidade, pois o acesso à terra pode ser demorado e atrasar a entrega. De qualquer maneira, trata-se de um processo com características distintas, utilizando meios de transporte que apoiam a gestão ambiental. A figura a seguir apresenta o processo entre a barcaça e o veículo em terra. Pág. 50 de 92 Figura 20 – Barcaça e descarga de mercadorias Fonte: BestFact (2014a). 2. O modelo sueco: iniciativa logística de integração – cidade de Gotemburgo A iniciativa logística na cidade de Gotemburgo, na Suécia, tem várias frentes, incluindo a regulação do centro da cidade e da área comercial, o desenvolvimento de novas infraestruturas, criação de um centro de consolidação, promoção de uso de veículos não poluentes, a aplicação de soluções inovadoras, o monitoramento e a coleta de dados em novos veículos e novas tecnologias. As ações são monitoradas por especialistas em diferentes empresas e instituições do setor público. a) Descrição O centro de consolidação em 2013 já contava com mais de 200 varejistas utilizando-se de caminhões para as entregas. Com o crescimento acentuado, uma empresa de transporte usando bicicletas de carga elétrica também foi adicionada à operação. O crescimento também gerou a necessidade de transferência do centro de consolidação para uma área maior, com o intuito de captar mais empresas transportadoras. O terminal está operando desde 2011 e conta com a gestão de resíduos no local. A principal dificuldade apresentada está relacionada com a obtenção de acordos entre varejistas e empresas em geral na utilização de veículos não poluentes, que possuem custos adicionais associados à