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Revitalização e Gentrificação os processos de re-estruturação das zonas portuárias do Rio de Janeiro e Barcelona

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1 
 
“Revitalização” e “Gentrificação”: os processos de 
(re)estruturação das zonas portuárias do Rio de Janeiro e 
Barcelona 
 
 Marcelle da Costa Anes Rodrigues 
 Graduanda em Arquitetura e Urbanismo pelo 
 Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM) RJ, BRASIL 
marcelleanesrodrigues@hotmail.com 
 
 José Roberto Moreira Ribeiro Gonçalves 
 Mestrado Acadêmico em Engenharia Agrícola e ambiental pela 
 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, RJ, BRASIL 
Docente, UNISUAM, Rio de Janeiro, RJ,BRASIL 
 joserobertoverde@gmail.com 
 
 
RESUMO 
Este artigo pretende realizar uma análise sobre os processos de revitalização 
das zonas portuárias do Rio de Janeiro e de Barcelona. Pretende-se realizar 
análises e suscitar reflexões no que se refere aos processos de gentrificação 
que estão associados a estas (re)qualificações urbanas propostas para estas 
grandes cidades, observando os pontos negativos e positivos. Pretende-se ainda 
refletir sobre as possibilidades de combater a gentrificação associada a estes 
projetos. 
 
Palavras-chave: Gentrificação; “revitalização”; zona portuária; megaeventos. 
 
ABSTRACT 
This article pretends to do an analysis about the revitalization processes of port 
zones in Rio de Janeiro and Barcelona. It pretends to analyze and reflect about 
the gentrification processes that are associated with the urban (re) qualifications 
proposes to these two big cities, observing the positive and negative points. It still 
pretends to reflect about the possibilities of combating gentrification driven by 
these projects. 
 
keywords: Gentrification, “revitalization”, port zone, mega-events. 
 
 
 
2 
 
1.INTRODUÇÃO 
 Diversas grandes cidades no mundo têm passado por processos de 
“revitalização”. O contexto dos megaeventos, como Jogos Olímpicos e 
Olímpiadas motivam e impulsionam estas grandes “requalificações urbanas”, e 
este artigo se concentra em analisar os casos específicos do Rio de Janeiro 
(Porto Maravilha) e Barcelona (Port Vell). A escolha destes dois exemplos se deu 
justamente pois o projeto de requalificação da área portuária de Barcelona serviu 
de inspiração para o projeto implementado na cidade do Rio de Janeiro. Além 
disso, ambas as cidades foram sede de Jogos Olímpicos, e este fator 
impulsionou os processos de “revitalização” de suas áreas portuárias. 
 Este artigo tem como finalidade evidenciar o processo de gentrificação 
trazido pelas (re)qualificações das áreas do Rio de Janeiro e de Barcelona, pois 
este assunto tem suscitado inúmeras pesquisas e debates ao longo dos últimos 
anos. Pretende-se investigar e compreender os pontos positivos e negativos 
destes processos de “revitalização”, buscando compreender a possibilidade de 
desenvolver ferramentas e estratégias que possam impedir que haja um 
processo de gentrificação destas regiões das cidades, associadas aos projetos 
de revitalização. 
Compreende-se que a gentrificação é uma consequência negativa, na 
medida em que ocasiona uma hipervalorização destas regiões, favorecendo a 
iniciativa privada, e prejudicando as camadas populares que residem nestes 
territórios. Para analisar esta questão foi realizada uma pesquisa bibliográfica 
sobre o tema com o intuito de realizar uma pesquisa qualitativa de cunho 
exploratório. 
 
1.1Relevância do tema 
 A discussão sobre a questão dos projetos de revitalização” de grandes 
centros urbanos pelo viés da gentrificação são de fundamental importância. Isto 
porque os impactos destas estratégias de “requalificação urbana” têm sido 
implementados em diversas partes do mundo, e as consequências negativas no 
que concerne à hipervalorização do solo urbano e dos imóveis tem implicado em 
uma expulsão das classes mais empobrecidas dessas localidades. 
 É de fundamental importância refletir sobre os pontos positivos e 
negativos desses projetos de requalificação urbana, assim com pensar a criação 
3 
 
de mecanismos que possibilitem a transformação positiva destas áreas, mas 
impedindo ou freando os efeitos de processos gentrificadores. 
 
1.2Definições 
É necessário trazer neste contexto a definição de gentrificação – 
“gentrification” - à qual este artigo se refere. O processo de gentrificação aqui 
está sendo compreendido como um dos elementos de um processo permanente 
de (re)estruturação urbana (FURTADO, 2014). Este processo se constitui como 
parte da organização do espaço urbano, em função das necessidades e 
interesses do modo de produção dominante na economia. De acordo coma 
Smith, a expansão econômica se desenvolve na contemporaneidade não 
através da expansão geográfica absoluta, mas através da construção de 
sistemas de diferenciação interna no espaço geográfico. 
A produção do espaço, ou desenvolvimento geográfico hoje é, no entanto, 
um processo absolutamente desigual. Gentrificação, renovação urbana e os 
maiores e mais complexos processos de reestruturação urbana são todos parte 
da diferenciação do espaço geográfico na escala urbana (FURTADO, 2014, p. 
18) 
Desta forma, compreende-se que a gentrificação é ainda mais que 
simples caso de substituição de habitação de baixo custo por projetos 
habitacionais voltados para as camadas médias e altas da população, vivemos 
um processo de gentrifficação da cidade: a cidade-mercadoria (MARICATO, 
2014). A cidade, portanto, estaria em permanente (re)formulação para atender 
aos interesses dos capitais, e a valorização da terra de espaços degradas 
resultaria na expulsão das camadas mais pobres residentes nestas áreas, onde 
os imóveis estão cada vez mais caros: esta é a face da gentrificação dos grandes 
centros urbanos que passam por projetos de “revitalização”. 
 
1.3 Metodologia 
 O presente trabalho foi realizado a partir da metodologia qualitativa 
através de revisão bibliográfica sobre a temática em questão. Foram consultados 
os principais trabalhos que têm sido produzidos sobre o tema ao longo dos 
últimos anos, assim como documentos oficiais dos poderes públicos. Apesar de 
não ser o objetivo produzir dados quantitativos, alguns dados desta natureza 
4 
 
produzidos por órgãos oficiais de pesquisa foram utilizados como complemento 
à análise qualitativa presente no artigo. 
 
1.4 Objetivos 
 
1.4.1 Objetivo geral 
 Construir uma análise comparativa entre os projetos de revitalização das 
regiões portuárias do Rio de Janeiro e de Barcelona, analisando seus pontos 
negativos e positivos. 
 
1.4.2 Objetivos específicos 
 
 Analisar os processos de gentrificação na área do porto do Rio de Janeiro 
e em Barcelona; 
 Investigar os projetos de revitalização das regiões do porto das duas 
cidades em análise; 
 Compreender as motivações e as consequências dos projetos Porto 
Maravilha e Port Vell. 
 
 
2. REFERENCIAL TEÓRICO 
 
A “revitalização” da área portuária do Rio de Janeiro 
O projeto de revitalização da área portuária da cidade do Rio de Janeiro, 
intitulado de Porto Maravilha, foi apresentado pela Prefeitura em 2009 como um 
“novo” plano urbanístico para a região. É necessário salientar que a 
“revitalização” da área portuária da cidade vinha sendo pauta de discussões 
alguns anos antes. Sendo assim, havia um projeto anterior que previa a 
revitalização dos bairrosSaúde, Gamboa e Santo Cristo desde meados de 2007. 
O projeto Porto Maravilha foi formulado com o intuito de se constituir como um 
plano de revitalização mais abrangente – incluindo também o bairro do Caju e 
partes do Centro, Cidade Nova e São Cristóvão. O Porto Maravilha, portanto, 
traz um aumento significativo de investimentos do Governo Federal, o que foi 
facilitado e estimulado pela aprovação do Rio de Janeiro como a sede das 
5 
 
Olimpíadas de 2016. 
De acordo com Sampaio (2011), apoiado na concepção teórica de Gary 
McDonoght (2003), naquele momento a área portuária do Rio de Janeiro 
passava por uma profunda ressignificação n que concerne à sua geografia moral, 
que estava fundamentalmente apoiada em um novo paradigma que se buscava 
criar para esta região da cidade. 
 
Naquele momento, a Zona Portuária estava em processo 
de ressignificação perante a geografia moral da cidade, 
como conceituada pela antropóloga Gary McDonogth 
(2003): nos imaginários construídos por diferentes mídias, 
não estava mais sendo associada apenas à prostituição, 
ao tráfico de drogas e às “favelas”, despontando notícias 
que positivavam alguns de seus espaços e habitantes. 
Essa transformação da percepção da mídia se relacionava 
diretamente com a instalação de alguns bares e casas de 
show voltadas para um público de classe média na Rua 
Sacadura Cabral e também com a reforma do terminal de 
passageiros do porto, que havia incentivado o 
desembarque de turistas de cruzeiros marítimos 
internacionais e nacionais na cidade (Sampaio, 2011, 
p.25). 
 
 O Porto Maravilha previa a realização de diversas obras públicas na área 
da Zona Portuária. O objetivo central divulgado pela Prefeitura do Rio de Janeiro 
consistia na tarefa de transformar aquela região da cidade em uma área de 
negócios, entretenimento e turismo internacional. Além disso, o projeto de 
revitalização pretendia modificar a região atribuindo à mesma um caráter 
eminentemente residencial. De acordo com dados disseminados através do site 
do projeto, a meta era de ampliar a população residente para 100 mil habitantes. 
(BORDENAVE, 2018). 
 
"Trata-se de uma operação mista, realizada por meio da 
maior parceria público-privada do país. A partir de 2010, 
importantes obras públicas, viárias e de saneamento, 
começaram a ser feitas na região portuária. Na segunda 
fase dessas reformas urbanísticas, o capital privado está 
sendo massivamente investido na construção imobiliária. 
Graças a uma legislação favorável aos interesses 
privados, a Prefeitura tenta atrair capitais e investidores 
nacionais ou estrangeiros para a região. Nessa operação 
urbana, os poderes públicos, proprietários de grande 
maioria dos terrenos, aparecem mais como agentes do 
que como reguladores do mercado." (SOUTY, 2013) 
 
6 
 
De acordo com Sarue (2018) o projeto Porto Maravilha inseriu o Brasil em 
um movimento mundial de transformações no que se refere à (re)configuração 
espacial e fundiária das cidades através da elaboração e implementação de 
grandes projetos de “revitalização” urbana. O termo “revitalização” presente na 
maior parte destes projetos é, no entanto, bastante problematizado pelos 
pesquisadores, uma vez que supõe um vazio urbano, ou uma ausência de vida 
naquele território específico, que precisaria de uma ação do Estado para lhe “dar 
vida”, “revitalizar” (SMITH, 1996; SOUZA, 2011). 
 
 
3. Porto Maravilha pelo viés da gentrificação 
A maior parte das intervenções do Porto Maravilha foram realizadas em 
áreas públicas, no entanto, dezenas de imóveis foram desapropriados para 
serem entregues à iniciativa privada (NASCIMENTO, 2019). 
 
Sob o argumento de promover melhores condições de 
habitabilidade e mobilidade os executores do projeto estão 
ameaçando e despejando pessoas de suas moradias. Além 
destas remoções, há pessoas que não conseguem se manter na 
área onde moram devido à valorização imobiliária na qual a Zona 
Portuária está passando (NASCIMENTO, 2019, p. 45). 
 
Esta modalidade de gerenciamento, conforme aponta Nascimento (2019) 
não tem o objetivo de atender às necessidades da população, mas sim de 
favorecer os interesses de grupos hegemônicos do capital imobiliário e outros 
setores empresariais. 
De acordo com Smith (2006), a principal justificativa para a promoção da 
gentrificação consiste na ideia de modernização e a regeneração urbana. No 
caso específico da Zona Portuária do Rio de Janeiro, o discurso que legitima a 
operação consorciada é que esta teria o objetivo de beneficiar todos os 
envolvidos, inclusive a população. 
O governo conseguirá "revitalizar" uma área degradada sem gastar seus 
recursos graças às parcerias público-privadas; os moradores dos bairros 
afetados passarão a viver em lugares mais seguros e com mais opções de 
atividades e serviços; os investidores do mercado imobiliário, embora gastem 
cifras elevadas num primeiro momento, terão garantia de retornos financeiros 
7 
 
graças ao aumento do potencial construtivo e ainda pela valorização 
especulativa da terra. 
A especulação imobiliária, no entanto, aparece como uma realidade 
associada a estes processos. A terra urbana, extremamente valorizada após a 
implementação destes projetos, resulta em expansão dos lucros para os capitais, 
e dificuldades e prejuízos para a população. 
 
 
 
4. Port Vell em Barcelona 
 
O Port Vell, que consistiu na “revitalização” da área portuária de Barcelona 
foi uma das principais inspirações para o poder público do Rio de Janeiro 
implementar o projeto Porto Maravilha. Esta experiência foi reafirmada pela 
Prefeitura do Rio como um caso de sucesso espanhol a ser seguido na cidade 
do Rio de Janeiro. 
De acordo com Gianella e Garza (2016) a produção da cidade neoliberal 
no contexto barcelonês tem início na preparação da candidatura da cidade para 
sediar as Olimpíadas, assim como no caos do Rio de Janeiro. Desta forma, 
observa-se que o contexto dos megaeventos e da (re)formulação das cidades 
para sediar estes eventos é um dos pontos que une os processos de 
“revitalização” do Rio de Janeiro e de Barcelona. 
 
Quando falamos de megaeventos esportivos como pretexto para 
a reestruturação neoliberal das cidades, estamos nos referindo 
ao que Gilmar Mascarenhas descreve da seguinte maneira: 
“Considerando basicamente os Jogos Olímpicos de Verão e as 
Copas do Mundo de Futebol Masculino, estamos diante de 
eventos cuja globalidade não se mede apenas pela mobilização 
de praticamente todas as nações do mundo, afiliadas às 
respetivas entidades organizadoras internacionais e desejosas 
de participação no certame; trata-se de constatar a dimensão 
simbólica adquirida por tais eventos, capazes de atrair as 
atenções em todo o planeta, promovendo fantásticos rituais 
periódicos, sem parâmetro de comparação com nenhum outro 
fenômeno social (GIANELLA e GARZA, 2016, p. 45). 
 
No ano de 1986, a cidade de Barcelona foi eleita sede dos Jogos 
Olímpicos e foi formado um Comitê Organizador (COOB) que contou com a 
participação de diversos representantes do setor privado. Conforme apontam 
8 
 
Gianella e Garza (2016) tratou-se de um sistema de financiamento diferente do 
modelo implementado pelo projeto Porto Maravilha na cidade do Rio de Janeiro, 
no entanto, o que os projetos tem em comum é justamente a primazia de 
interesses privados. 
É importante salientar que o chamado “Modelo Barcelona”, que a princípio 
se apresentou como um serviço a favor dos interesses dos cidadãos, acabou 
evidenciado pelos pesquisadores como uma ferramenta para transformar a 
cidade em cidade-empresa, nos marcos da lógica do neoliberalismo. Inclusive o 
prefeito que se tornou uma grande figura central da Barcelona olímpica, Pascual 
Maragall vinha de uma tradição de esquerda, militante e intelectual, ressaltando 
a impressão para movimentos sociais espanhóis de que este processo se daria 
de forma a favorecer também os interesses da população, e não apenasas 
classes dominantes. No entanto, “contribui para velar e comprometer a 
compreensão do complexo conjunto de atores políticos e econômicos que 
participaram do campo de poder capaz de levar adiante o ambicioso projeto de 
renovação urbana para as Olimpíadas” (SANCHEZ, 2010, p. 202). 
 
 
 
 
5. Criação de instrumentos que evitem o processo de gentrificação 
 
Muito se tem discutido ao longo dos últimos anos sobre as possibilidades 
da criação de ferramentas que possam combater os processos de gentrificação 
das cidades. Assim, alguns países têm buscado formular estratégias para 
combater os efeitos deste processo de gentrificação. 
No ano de 2015, a autarca de Barcelona, Ada Colau, suspendeu, por um 
ano, a concessão de licenças para a construção de hotéis, assim como de outros 
tipos de empreendimentos que estejam associados ao turismo. 
Em março deste ano, Colau aprovou inicialmente o Plano 
Especial Urbanístico de Alojamientos Turísticos que visa limitar 
a 11.500 as camas nas unidades hoteleiras de Barcelona, 
proibindo a abertura de novos estabelecimentos na Ciutat 
Vella e impondo um decrescimento natural. O desenvolvimento 
9 
 
na periferia será autorizado de forma controlada. Está a ser 
também a ser estudada a introdução de uma taxa especial para 
os cruzeiros turísticos, cujas receitas seriam agora utilizadas 
exclusivamente para melhorias das infraestruturas1. 
 Considerando que um dos efeitos mais significativos no que se refere à 
supervalorização dos valores da terra em áreas revitalizadas es tá associada ao 
turismo, tem-se defendido que o controle deste setor é uma das chaves para um 
combate efetivo do processo de gentrificação das cidades. O que se observa é 
que diante do crescimento do setor hoteleiro nestas regiões, os moradores locais 
tem cada vez mais dificuldades de permanecer morando nestas regiões. Além 
disso, ocorreria uma descaracterização deste território, que ficaria voltado quase 
que exclusivamente para os turistas, em detrimento dos moradores locais. 
Evidencia-se, portanto, que é fundamental que haja um controle do poder publico 
nestes territórios no sentido de garantir que não sejam privilegiados apenas os 
interesses dos capitais nestes projetos de revitalização de determinadas áreas 
das cidades. 
 
 
 
6. Considerações finais 
 
Os processos de revitalização nas zonas portuárias do Rio de Janeiro e 
Barcelona possuem semelhanças e distinções, como foi demonstrado no 
decorrer deste trabalho. Como semelhanças é possível apontar, inicialmente, a 
própria motivação do poder público em realizar tais reformulações nesta região 
da cidade: sediar os Jogos Olímpicos foi o marco tanto no Rio de Janeiro quanto 
em Barcelona. 
Ambas as cidades estão marcadas pela lógica neoliberal, que produz 
fundamentalmente um modelo de cidade mercadoria voltado para a defesa dos 
interesses dos capitais. Isto influencia significativamente estes processos de 
intervenção do poder público, que, apesar de possuírem em seu discurso a 
lógica de requalificação urbana e atendimento aos interesses de todos – 
 
1 Para mais informações acessar o Dossiê Turismo, Cidade e Gentrificação. Disponível em: 
http://www. dossier/ada-colau-por-um-controlo-democratico-do-turismo-em-barcelona/44794. 
Acesso em 27/11/2019, às 14:10h. 
10 
 
principalmente no caos de Barcelona – a prática evidencia a expansão dos lucros 
dos capitais, sobretudo no que se refere ao setor imobiliário e do turismo. 
É necessário salientar que os processos de revitalização das áreas 
portuárias, tidas como degradas e mal conservadas, podem sim ser realizadas 
de forma positiva, e favorecendo os interesses da população que reside na 
cidade. 
 Uma estratégia poderia ser haver um maior controle por parte do Estado 
no que se refere ao favorecimento dos interesses privados. Isto poderia ocorrer 
reservando uma parte do território a ser revitalizado para a construção de 
habitações de interesse social. Além disso, o controle da expansão do setor 
hoteleiro é de fundamental importância, conforme foi demonstrado neste artigo. 
A cidade de Barcelona já iniciou esse controle, e isto pode ser uma importante 
ferramenta para conter o processo de gentrificação em curso nestas cidades há 
décadas. 
Conforme foi demonstrado neste trabalho, para além da gestão das 
cidades, há um ponto que se refere ao próprio modelo de cidade que está posto 
no mundo capitalista contemporâneo: a cidade mercadoria do cenário neoliberal. 
Isto faz com que seja difícil combater este processo de gentrificação, que nada 
mais é do que a reafirmação da lógica que rege a expansão dos lucros dos 
capitais. Conforme aponta Maricato (2014) um dos pontos fundamentais para a 
construção de um modelo de cidade que favoreça os interesses de todos os 
habitantes está na defesa da construção democrática das cidades. 
Compreende-se a partir do presente trabalho que, para combater 
efetivamente o processo de gentrificação destes projetos, é essencial combater 
o próprio projeto de cidade mercadoria. É preciso evidenciar a necessidade de 
uma gestão democrática das cidades, que garanta a participação e o controle 
social por parte da comunidade local. Estratégias que possibilitem a participação 
efetiva da população nas decisões que dizem respeito à (re)construção das 
cidades é de fundamental importância para que não somente os interesses das 
classes dominantes sejam tendidos nestes processos. Para tanto, torna-se 
fundamentalmente relevante construir uma cultura de participação social, e 
fomentar a necessidade de que o poder público exerça também um controle 
direto sobre estes territórios, que devem servir para atender as necessidades de 
toda a população, e não somente de alguns nichos privilegiados. 
11 
 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
BORDENAVE, G. A antiga fábrica da Bhering” e o projeto de “revitalização” da 
zona portuária do Rio de Janeiro. INTRATEXTOS, Rio de Janeiro, vol. 9, n.1, 
2018 
FURTADO, C. R. Intervenção do Estado e (re)estruturação urbana. Um estudo 
sobre gentrificação. Cad. Metrop., São Paulo, v. 16, n. 32, pp. 341-363, nov 2014 
GIANELLA, L. C.; GARZA, M. M. Conexões Rio-Barcelona: da realidade à utopia. 
Da produção da cidade neoliberal à articulação das resistências. XIV Coloquio 
Internacional de Geocrítica Las utopías y la construcción de la sociedad del 
futuro Barcelona, 2-7 de mayo de 2016. 
NASCIMENTO, B. P. Gentrificação na zona portuária do Rio de Janeiro: 
deslocamentos habitacionais e hiper precificação da terra urbana. Caderno 
Prudentino de Geografia, Presidente Prudente, n. 41, v. 1, p. 45-64, Jan./Jun. 
2019. 
SARUE, B. Quando grandes projetos urbanos acontecem? Uma análise a partir 
do Porto Maravilha no Rio de Janeiro. Dados vol.61 no.3 Rio de 
Janeiro July/Sept. 2018 
SMITH, Neil. The new urban frontier: gentrification and revanchist city. London: 
Routledge, 1996. 
 
SOUZA, M. L. “O direito ao Centro da cidade”. Publicado em: 03/04/2011. 
SOUTY, Jérôme. Dinâmicas de patrimonialização em contexto de revitalização 
e de globalização urbana. Notas sobre a região portuária do Rio de Janeiro. 
Revista Memória em Rede, Pelotas, v.3, n.9, jul/dez. 2013.

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