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Curso “Noções sobre Oceanografia” – Aula sobre circulação oceânica – Prof. Dr. Joseph Harari Prof. Dr. Joseph Harari – joharari@usp.br OCEANOGRAFIA 71% da área da Terra é coberta por mares e oceanos e 29% por terras. Oceanografia é o estudo científico dos oceanos. Motivos para o desenvolvimento do conhecimento dos oceanos: São fontes de alimentos, de produtos químicos, de água e de energia. São vias de transporte e destinação de materiais poluentes. Influenciam o clima, requerem obras de engenharia costeira. São locais de atividades militares, propiciam diversas formas de lazer e de turismo, ... As quatro divisões da Oceanografia são: Física, Química, Geológica e Biológica. OCEANOGRAFIA FÍSICA - OBJETIVOS Na Oceanografia Física, objetivos das pesquisas e estudos consistem em conhecer: 1) propriedades físico-químicas da água do mar (temperatura, salinidade, etc ...). 2) técnicas de medições de variáveis de interesse no oceano, como correntes, marés, etc... 3) propagação de ondas sonoras e eletromagnéticas no oceano. 4) natureza das águas oceânicas e sua classificação em “tipos d’água” e “massas d’água”. 5) movimentos no oceano, sob a forma de correntes e de ondas, em diversas escalas. 6) interação da atmosfera com o oceano, através dos ventos, da radiação, da umidade, etc... 7) influência dos corpos celestes no oceano, formando as marés astronômicas. PROPRIEDADES FÍSICO – QUÍMICAS DA ÁGUA DO MAR SALINIDADE A quantidade total de substâncias dissolvidas na água do mar se denomina “salinidade”, cujas unidades são grama por kilograma (g/kg), partes por mil (%o) ou “unidades práticas de salinidade” (ups) . A salinidade dos oceanos varia normalmente entre 33 e 37 %o. Salinidades mais baixas (28 a 29 %o) são encontradas em águas costeiras. Alguns pequenos mares têm salinidade muito pequena (Báltico, 20 %o) e outros muito grande (Mediterrâneo, 38 %o e Mar Vermelho, 40 %o). A salinidade de superfície é muito influenciada por dois fatores: a evaporação, que a aumenta, e a precipitação, que a reduz. Em áreas costeiras, pode haver influência da descarga de rios ou da drenagem continental, que tendem a reduzir a salinidade. TEMPERATURA A segunda característica física importante da água do mar é a temperatura. O oceanógrafo físico tem interesse especial na temperatura e na salinidade porque tais características o ajudam a identificar tipos d’água. A temperatura no mar aberto varia entre os limites de -2°C e + 30°C, aproximadamente; o limite inferior é regulado pelo ponto de congelamento da água do mar, o qual é sempre maior que -2°C, de modo que há formação de gelo antes que a temperatura da água caia abaixo deste nível. Efetivamente, uma água do mar tendo salinidade de 37%o congela a -2.023°C, mas águas com esta salinidade relativamente alta não são encontradas nas altas latitudes, onde o congelamento normalmente ocorre. Com relação ao limite superior da temperatura, qualquer calor absorvido na camada de superfície tem a tendência de se espalhar através da hidrosfera, devido à alta capacidade do calor específico, condutividade térmica e mistura presentes no mar. E outra razão importante para a manutenção da temperatura no oceano abaixo de 30°C é o fato que mais que a metade da energia recebida nas camadas superiores é utilizada para a evaporação, e o restante para variações de temperatura. Obviamente, isto não significa que a temperatura do oceano seja constante, mas sua variação é bem menor que a da atmosfera. PRESSÃO A profundidade média dos oceanos é de 3730 m, a elevação média dos continentes é de 840 m, a máxima profundidade dos oceanos é de 11524 m (Fossa Mindanao, no Pacífico Oeste) e a máxima altitude dos continentes é de 8840 m (Monte Everest, Himalaia, Ásia) Curso “Noções sobre Oceanografia” – Aula sobre circulação oceânica – Prof. Dr. Joseph Harari Prof. Dr. Joseph Harari – joharari@usp.br A pressão atmosférica normal é 1 atmosfera ou 1013 milibares. Um decibar corresponde aproximadamente à variação da pressão associada com o aumento de 1 metro na profundidade; cada 10 metros em profundidade representam um aumento de pressão de cerca de 1 atmosfera. DENSIDADE A densidade é expressa em kg/m3 e no oceano aberto varia, na superfície, de 1020 a 1030 kg/m3, aproximadamente. Valores mais baixos são encontrados junto à costa, próximo a rios (um pouco acima de 1000 kg/m3). Em grandes profundidades, a densidade da água do mar chega a ultrapassar 1050 kg/m3. ESTRUTURA VERTICAL DA TEMPERATURA Quanto à estrutura vertical, nas baixas e médias latitudes, há uma camada superior, de 50 a 500 m de espessura, com temperatura próxima à da superfície, chamada “camada de mistura”; uma camada intermediária, estendendo-se até 500 ou 1000 m, na qual a temperatura declina bastante com a profundidade, chamada “termoclina principal”; e uma camada profunda, em que o declínio da temperatura com a profundidade é pequeno, chamada “camada de fundo”; já nas altas latitudes, a temperatura é relativamente uniforme segundo a vertical (ver Figura 1). A densidade tem padrão vertical similar ao da temperatura, sendo homogênea nas altas latitudes e com três camadas nas baixas e médias latitudes (superfície, “picnoclina” e de fundo). Figura 1 – Perfis verticais de temperatura em altas e médias latitudes. MASSAS D´ÁGUA DIAGRAMA - T-S Um número limitado de combinações particulares de temperatura e salinidade ocorre nos oceanos. Isto porque a maioria das massas d’água adquire propriedades características na superfície, em determinadas regiões, devido à influência do clima (geralmente altas latitudes); e ao se deslocarem levam consigo as propriedades originais. Dessa forma, normalmente uma massa d’água é identificada pela combinação característica das propriedades que apresenta, e sua trajetória pode ser determinada. Não é possível reconhecer uma parcela de água somente pela sua densidade, visto que há muitas combinações de temperatura e salinidade que produzem a mesma densidade; entretanto, a combinação temperatura-salinidade pode ser usada para este fim, com a vantagem destas propriedades serem conservativas nas camadas abaixo da superfície. O “diagrama T-S”, é um gráfico da temperatura contra a salinidade: cada ponto do diagrama representa a combinação temperatura-salinidade a uma dada profundidade de uma coluna vertical no oceano e corresponde a uma densidade; os pontos reunidos em seqüência de profundidades crescentes compõem uma curva contínua. No diagrama T-S, um ponto (na prática, um conglomerado de pontos próximos) é chamado “tipo d’água”; uma porção da curva T-S (na prática, não exata) representa uma Curso “Noções sobre Oceanografia” – Aula sobre circulação oceânica – Prof. Dr. Joseph Harari Prof. Dr. Joseph Harari – joharari@usp.br “massa d’água”. Dessa forma, uma massa d’água possui uma faixa de temperaturas e uma faixa de salinidades associadas a ela. Processos climáticos de superfície formam os tipos d’água. Uma massa d’água pode ser considerada como uma mistura de dois ou mais tipos d’água. Figura 2 – Diagramas TS dos principais tipos e massas d´água no Oceano Atlântico (ver tabela). MASSA D´AGUA PROFUNDIDADE TEMPERATURA (°C) SALINIDADE %o Antártica de Fundo 4000 m ao fundo -0.4 °C 34.66 Antártica Circumpolar 100 a 4000 m 0.5 °C 34.68 a 34.70 Antártica Intermediária 500 a 1000 m 2.2 °C 33.8 Central do Atlântico Sul 100 a 300 m 6 a 18 °C 34.65 a 36.00 Ártica de Fundo 1300 m ao fundo 2.2 a 3.5 °C 34.90 a 34.97 Norte Atlântica Intermediária 300 a 1000 m 4 a 8 °C 34.73 Central do Atlântico Norte 100 a 500 m 8 a 19 °C 35.10 a 36.70 Mediterrânea 1400 a 1600 m 13 °C 37.75 ASPECTOS GERAIS DA CIRCULAÇÃO OCEÂNICA As principais formas de geração de correntes no oceano são: 1) Efeitos termohalinos. A circulação termohalina se refere aos movimentos da água produzidos quando a densidade é alterada por variações de temperatura ou salinidadeem alguma região do oceano. Um aumento de densidade (devido ao resfriamento da água ou aumento da salinidade) faz com que a água mergulhe e desloque as águas profundas; assim, o início da circulação termohalina é um fluxo vertical mergulhando a uma profundidade intermediária ou mesmo ao fundo; e o prosseguimento é como um fluxo horizontal, com as águas recém afundadas deslocando as antigas residentes no local. A excessiva perda de energia térmica pelos oceanos nas altas latitudes provoca um aumento da densidade das águas na superfície e gera este tipo de circulação (Figura 3). O efeito isolado da salinidade na geração da circulação termohalina ocorre principalmente nas regiões tropicais, por efeito de evaporação. Os “efeitos termohalinos” podem ocorrer tanto em grande como em pequena escala, como por exemplo num estuário, onde há o encontro de água doce do rio com água salina do mar. Curso “Noções sobre Oceanografia” – Aula sobre circulação oceânica – Prof. Dr. Joseph Harari Prof. Dr. Joseph Harari – joharari@usp.br Figura 3 – Esquema da circulação termohalina (parte térmica). 2) A circulação gerada pelo vento ocorre principalmente na primeira centena de metros de profundidade e é basicamente uma circulação horizontal. A fricção do vento na superfície do mar é a força geradora do movimento, mas a direção da corrente na superfície do mar não é a do vento: a rotação da Terra origina a força de Coriolis, que deflete as correntes para a esquerda do vento no hemisfério Sul e para a direita do vento no hemisfério Norte. Ao longo da vertical, se tem a “espiral das correntes de deriva” (ver Figura 4). Em locais mais rasos, a deflexão das correntes ao longo da vertical é menor e as correntes tendem a ser mais alinhadas com o vento. Figura 4 – Perfil vertical das correntes geradas pelo vento (no Hemisfério Norte). 3) Gradientes (variações horizontais) de pressão atmosférica geram acelerações, da pressão maior para a menor, em toda a coluna d’água (Figura 5). 4) Inclinações do nível médio do mar também induzem acelerações no oceano, do nível maior para o menor, desde a superfície até o fundo (Figura 6). 5) O Sol e a Lua atuam com a força da gravidade, gerando as correntes de maré astronômica, ao longo de toda a coluna d’água (Figura 7). As correntes oceânicas são pois resultantes do efeito combinado dos movimentos termohalinos (predominam em águas profundas), dos movimentos gerados pelo vento (predominam na superfície) e dos movimentos devidos a gradientes de pressão atmosférica, inclinações da superfície e devidos a influências astronômicas (em toda a coluna). Todos os movimentos são afetados: Curso “Noções sobre Oceanografia” – Aula sobre circulação oceânica – Prof. Dr. Joseph Harari Prof. Dr. Joseph Harari – joharari@usp.br Figura 5 – Geração de correntes por variações horizontais da pressão atmosférica. Figura 6 – Geração de correntes por variações horizontais do nível médio do mar. Figura 7 – Geração de correntes de maré pelo efeito gravitacional da lua. 1) pela força de Coriolis, devida à rotação da Terra e 2) por efeitos de continuidade, que são também importantes nos fluxos oceânicos. Em todos os casos, os movimentos prosseguem e se desenvolvem muito além das regiões de origem, gerando os grandes sistemas de circulação nos oceanos. Além dos efeitos que geram e modificam os sistemas de circulação, há efeitos (de atrito) que atenuam os movimentos: 1) fricção das correntes com o fundo do mar, 2) fricção vertical (entre camadas de fluido em movimento ao longo da coluna d’água) e 3) fricção lateral (especialmente efeitos de turbulência). A seguir, serão estudados os grandes sistemas de circulação nos oceanos, com uma divisão: circulação na superfície e circulação em águas profundas. Não existe uma fronteira definida entre águas de superfície e águas profundas. Entretanto, normalmente se consideram as águas de superfície até o início da termoclina: é a camada de mistura, com espessura de 200 a 500 m, geralmente bastante homogênea devido à mistura gerada pelo vento e pelas ondas. CIRCULAÇÃO DE SUPERFÍCIE NOS OCEANOS As circulações nas superfícies das grandes áreas oceânicas mostram semelhanças notáveis (Figuras 8 e 9): 1) No hemisfério Norte as circulações de superfície são horárias e no hemisfério Sul são anti- horárias. 2) As correntes de superfície são mais concentradas e mais intensas no lado Oeste do que no lado Leste do oceano. 3) Na região equatorial, um pouco ao Norte e um pouco ao Sul do Equador, ocorrem, na superfície, as correntes Norte Equatorial e Sul Equatorial, ambas para Oeste; essas duas correntes são separadas por uma Corrente Contra Equatorial, fluindo para Leste. Curso “Noções sobre Oceanografia” – Aula sobre circulação oceânica – Prof. Dr. Joseph Harari Prof. Dr. Joseph Harari – joharari@usp.br Figura 8 – Circulação média de superfície. Já para as circulações em águas profundas não ocorrem características globais. Normalmente, para estas águas se considera cada região em particular e, às vezes, é necessária uma divisão dessas águas em camadas. A circulação em águas profundas é fortemente influenciada pela topografia do fundo e esse é um dos fatores que a tornam particular para cada região. CIRCULAÇÃO PROFUNDA E MASSAS D’ÁGUA DO OCEANO ATLÂNTICO Nas vizinhanças do continente antártico, particularmente no Mar de Weddell, as águas atingem temperaturas extremamente baixas no inverno. Devido a estas baixas temperaturas e alta salinidade advinda da formação de gelo, esta água tem a mais elevada densidade de superfície do mundo oceânico. Em consequência, tendo ganho estas características, ela afunda e flui ao longo do fundo em direção ao Equador. De fato, essa água tem sido medida a até 45°N de latitude. Ela é chamada Água Antártica de Fundo (AAF), obviamente devido à sua área de formação e localização vertical. A Água Antártica de Fundo também flui para Leste, em torno do Continente Antártico e, devido ao surpreendente efeito de grande alcance em profundidade da corrente de superfície Deriva Vento Oeste, se mistura a esta, formando a Água Circumpolar Antártica, que é bastante homogênea. A Água Circumpolar Antártica fornece água de fundo para os Oceanos Índico e Pacífico Sul (Ver Figura 10). A Água de Fundo Norte Atlântica (AFNA) é formada em áreas relativamente pequenas, na costa da Groenlândia. Sendo menos densa que a Água Antártica de fundo, ela se assenta sobre esta e flui para o Sul. A Água de Fundo Norte Atlântica é continuamente modificada no seu trânsito pela mistura com outras massas d’água; de qualquer forma, suas características chegam a ser notadas a 60°S, na superfície. A aproximadamente 60° S, a Água Intermediária Antártica (AIA) mergulha até 1000 m e segue para o Norte, até 20°N. A Água Intermediária do Atlântico Norte (AIAN) se forma a cerca de 60° N e flui para o Sul, também a 1000 m, encontrando-se com a Água Intermediária Antártica (Figura 10). Em torno de 45° de latitude, no inverno dos dois hemisférios, são formadas a Água Central do Atlântico Norte (ACAN) e a Água Central do Atlântico Sul (ACAS). Elas afundam até cerca de 300 m e se dirigem ao Equador, perdendo a sua identidade à medida que se espalham. Curso “Noções sobre Oceanografia” – Aula sobre circulação oceânica – Prof. Dr. Joseph Harari Prof. Dr. Joseph Harari – joharari@usp.br Figura 9 – Circulação média de superfície no Oceano Atlântico. Uma significativa incursão de águas ocorre através da Água Mediterrânea (AM), a qual encontra o seu nível de equilíbrio a 1500 m de profundidade; ela entra no Atlântico Norte após atravessar o Estreito de Gibraltar. Esta água é continuamente formada na parte Norte do Mediterrâneo Oeste, pelo resfriamento do inverno e pela evaporação através do ar seco que sopra da África do Norte. Estas águas frias e salinas afundam e fluem para o Sul e para Oeste. Elas têm uma forteinfluência na Água de Fundo do Atlântico Norte, sentida a até 3000 km a Oeste e Sul de Gibraltar. Figura 10 – Circulação em águas profundas no Oceano Atlântico. BIBLIOGRAFIA THE OPEN UNIVERSITY COURSE TEAM - 1992 - VOL 1 - The ocean basins: their structure and evolution - 171 p. VOL 2 - Seawater: its composition, properties and behaviour - 165 p. VOL 3 - Ocean circulation - 238 p. VOL 4 - Waves, tides and shallow water processes - 187 p. VOL 5 - Ocean chemistry and deep-sea sediments - 134 p. VOL 6 - Case studies in Oceanography and marine affairs - 248 p. Pergamon Press.
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