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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO ESPÍRITO SANTO – UNESC PABIELY APARECIDA FRANCISCO RESENHA CRÍTICA DO FILME “BOYHOOD – DA INFÂNCIA A JUVENTUDE” RELACIONADA AOS TEÓRICOS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO COLATINA - ES 2020 O filme “Boyhood: da infância à juventude”, dirigido por Richard Linklater, foi filmado ao longo de 12 anos. O filma conta a história de dois jovens Mason e Olivia que têm um casal de filhos: Mason Jr. e Samantha. Não suportando mais viverem juntos, se separam e podemos ver a dificuldade que Olivia tem em lidar com tamanha responsabilidade. Mason Jr, de 6 anos e sua irmã Samantha, vivem com sua mãe em uma cidade do Texas, EUA. Eles crescem em meio as dificuldades que sua mãe enfrenta e os seus vários relacionamentos conturbados. No final, Mason Jr. tem 18 anos e ingressa na Universidade. Durante o filme, podemos acompanhar as transformações, o processo de crescimento/mudança de Mason Jr. e de sua família. Assim como os nossos processos psíquicos e emocionais, Boyhood é lento. Tudo começa com o garoto vivendo o drama da separação de seus pais ao lado de sua irmã Samantha. Ambos vivem com a mãe Olivia, que cursa psicologia. Ela quem cuida e sustenta as crianças, pois o pai desaparece após a separação, e em seu retorno, passa a visitá-los nos finais de semana. As cenas apresentadas trazem temas sobre relacionamento familiar, separação dos pais, atividades escolares, contato com amigos, questão sobre a infância, sexualidade, adolescência e ingresso na Universidade. Na sua infância, Mason Jr. cria hipóteses sobre a existência das coisas. Sempre em busca pela construção de uma “família”, a mãe perde a capacidade de perceber relacionamentos saudáveis. Em uma das cenas, quando ela afirma a Mason Jr. que quer construir uma família, Mason Jr. a retruca dizendo que já são uma família. Nesta busca por relacionamentos, Olivia sempre acaba se envolvendo com pessoas alcoólatras e agressivas, que a maltrata e também as crianças. A partir daí, entre mudanças de casas, escolas, amigos e padrastos, Mason Jr. passa por experiências marcantes e dolorosas. Algumas cenas do filme retratam sentimentos negativos, insatisfação, mudanças de escola, impotência diante de situações em que era submetido. Outras cenas revelam diferentes configurações familiares pelos quais Mason Jr. passou. Ora morando com a mãe, a irmã, o padrasto e os filhos do mesmo; ora morando com a mãe, a irmã e o novo padrasto, e por fim, morando com a mãe e a irmã. O primeiro emprego, a busca pela realização profissional, o ingresso na faculdade, as cobranças de outras pessoas e o desejo de ser tratado como igual, dá início ao processo de inserção de Mason Jr. em atividades que o conduzirão à vida adulta. O filme se encerra com o ingresso de Mason Jr. na Universidade, situação retratada pelo sentimento ambíguo da mãe, apresentado pela resistência ao crescimento do filho. Descobertas na infância, tédio da adolescência, conflitos familiares, são etapas comuns no desenvolvimento humano e que são retratadas em Boyhood. Tanto os pais como os filhos vão amadurecendo no decorrer da trama, enfrentando mudanças, eventos, crises. Mason Jr. enfrenta a crise do desenvolvimento, em paralelo com as mudanças físicas e psicológicas. A maturidade sendo construída em diversas vertentes é algo bastante retratado no filme. O desenvolvimento infantil, de acordo com Wallon, tem suas crises. É marcado por conflitos, regressões e contradições que são capazes de reformular e ampliar conceitos e funções. A criança desenvolve-se com seus conflitos internos e cada estágio estabelece uma interação com o estágio seguinte. Com seus 6 anos, Mason Jr., encontra-se no final do estágio personalístico de Wallon. Nesta fase, a criança está voltada para si própria, colocando-se em oposição a um outro em um mecanismo de diferenciar-se. Na cena, onde Mason Jr. mostra sua coleção de pedras, esse processo fica evidente. Mason Jr. tenta fazer com que seu pai se sinta orgulhoso de si, porém, sua irmã quer chamar atenção de seu pai, sempre dizendo algo para que tire o foco do pai no irmão. E Mason Jr., sempre busca novamente a atenção do pai, dizendo algo contra sua irmã. Uma mudança importante na fase da adolescência é a transição marcada pela puberdade. Ela acontece de forma clara nos atores, porém é nítido que existe uma diferença na transição realizada pela menina em relação ao menino. A adolescência é um período de grandes transformações físicas e psicológicas, as quais são vivenciadas com muitas dificuldades. A sociedade, no entanto, acaba não compreendendo as dificuldades desse momento crítico do desenvolvimento, e acabam julgando os comportamentos como anormais. Erikson, um grande teórico do desenvolvimento humano, sugeriu que consideremos a adolescência como uma crise normativa, e não como um período de aflição. É uma fase de maior conflito, e também de um alto potencial de crescimento. No final da adolescência, a pessoa precisa adquirir um sentimento firme de identidade do ego. Sob o ponto de vista cognitivo, a mudanças que ocorrem no filme, pode ser explicada por Piaget, um outro teórico do desenvolvimento. Para Piaget, o nível mais alto do desenvolvimento é o operatório formal, que é caracterizado pela capacidade de pensar em termos abstratos, pela compreensão dos aspectos relacionados ao tempo histórico e ao espaço extraterrestre, de forma a proporcionar uma maneira mais flexível no processo de manipulação das informações e possibilitando o surgimento das implicações emocionais no desenvolvimento. Esse processo de desenvolvimento, fica evidente na cena em que Mason Jr. é obrigado a cortar o seu cabelo, a mando de seu padrasto, o que provoca um comportamento questionador com sua mãe, ao mesmo tempo em que as questões emocionais também são demonstradas, quando o mesmo se recusa ir a escola, por se sentir triste e envergonhado. A busca pela identidade como foco principal na adolescência, questões ocupacionais, sexuais e de valores presentes no filme, se enquadram nos aspectos psicossociais. Durante o filme, percebe-se o surgimento de relacionamentos afetivos, distanciamentos dos pais e aproximação dos amigos, exposição às drogas, aos riscos, primeiras atividades de trabalho, processos de escolha e início de autonomia. Em uma das cenas, o adolescente Mason Jr. convive mais com os amigos, expondo-se a ambientes com bebidas, drogas, dando início também a sua vida sexual. Nesta fase, Mason Jr. experimenta as responsabilidades do primeiro emprego, porém, carrega consigo uma certa imaturidade e dependência dos pais. Ao final da adolescência retratada no filme temos a presença da recentralização, que segundo Erikson, é a “mudança para uma identidade adulta”. Quando o jovem sai de sua casa rumo à universidade, inicia seu processo de autonomia e escolha profissional, aperfeiçoando as relações sociais e familiares. O filme é um misto de sentimentos, desde cenas engraçadas até cenas emocionantes. Mason Jr. diz: “Sinto que tem tantas coisas que eu poderia e queria fazer, mas não faço”, onde a maioria das pessoas vivem em uma grande rotina, deixando de fazer aquilo que tem vontade, gerando uma grande infelicidade. E como Mason Jr. disse no final da trama Boyhood, nos faz entender que somos resultados de uma coleção de instantes mais ou menos memoráveis, e que o segredo para a felicidade, é vivê-los intensamente acompanhando essas mudanças.
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