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Direito e legislação imobiliária Descrição: Este material apresenta os fundamentos, os institutos jurídicos e os princípios éticos relacionados ao Direito Imobiliário, a fim de proporcionar os conhecimentos necessários para o exercício da atividade profissional de Corretor de Imóveis ou para todos aqueles que estão direta ou indiretamente envolvidos em compra, venda ou locação de imóveis. Bem-vindo(a) a Direito e legislação imobiliária! Atualmente, em virtude da relativa estabilidade econômica existente no Brasil e da expansão do crédito, o mercado imobiliário tem obtido índices expressivos de crescimento nos últimos anos. Cada vez mais pessoas buscam a concretização do sonho da “casa própria”, o que mantém a perspectiva de aquecimento do setor. É nesse contexto que o conhecimento da legislação imobiliária pelo profissional da área se torna importante, o que proporciona a realização de negócios mais sólidos com a devida segurança jurídica e consumidores cada vez mais exigentes. Há de se ressaltar, ainda, que o conhecimento jurídico é essencial para o exercício correto da profissão, com uma atuação que se enquadre na esfera de parâmetros legais e éticos, e para a compreensão das principais questões imobiliárias no país, o que proporcionará a descoberta de novos horizontes e uma melhor colocação profissional. Aproveite o curso! Ótimo aprendizado! TEORIA GERAL DO DIREITO PRIVADO Noções gerais O presente estudo tem o objetivo de apresentar uma visão geral do direito civil brasileiro, sem a pretensão de estender todos os seus institutos, ou ainda, de esgotar o tema daqueles que forem expostos. Trata-se, de subsídio importante para aqueles que pretendem conhecer um pouco das normas que regem as relações privadas no país e, mais ainda, para os que anseiam por informações relacionadas à legislação aplicável ao ramo imobiliário. Sem adentrarmos no campo da filosofia do direito, que não é objeto de nossa análise, podemos verificar que o homem, considerado “um ser social” desde os primórdios, vive em uma comunidade. Tal característica faz com que, desde aqueles tempos, atritos venham a acontecer, contendas que precisam ser solucionadas sob pena de, em caso extremo, impedir a vida social. Nas épocas mais antigas, em tempos imemoriais, a solução muitas vezes se dava pelo uso da força, o que alguns autores chamam de vingança privada, e, nesse caso, seria predominante a lei do mais forte. O direito surge como mecanismo essencial para dirimir tais conflitos e permitir a paz social. É uma construção humana que, sendo dotada de uma carga valorativa e disciplinando condutas, busca proporcionar a segurança e a ordem para tornar viável a vida em comunidade. Miguel Reale (1994), em sua Teoria Tridimensional do Direito, traz três elementos inerentes ao mundo jurídico: o fato, o valor e a norma. O primeiro deles indica a conduta em concreto, ou seja, está no mundo real, no mundo do “ser”. O segundo elemento, o valor, está associado à cultura, aos costumes e aos hábitos da sociedade e são os parâmetros de aferição do grau de lesão das condutas. Por fim, de nada adiantaria uma aferição de condutas geradoras de danos se não houvesse um elemento que permitisse, coercitivamente, ou seja, obrigatoriamente ou mesmo pelo uso da força, que tais condutas cessassem. Assim, verifica-se o terceiro elemento, a norma, que indica qual procedimento deve ser adotado, caso haja um fato que não esteja de acordo com os valores defendidos pela sociedade. Nesse contexto, percebe-se a carga valorativa do direito sobre um fato que estará no mundo do “ser” estampado na norma, que está no mundo do “dever ser”, de modo que as condutas humanas podem ser aferidas por uma norma com base nos usos e nos costumes sociais que disciplinará as relações. A fim de permitir maior segurança e fundamentação, as normas passaram a ser escritas por meio de descrições formais (tipificadas). É de se mencionar que as normas não precisam ser tipificadas para se determinar o direito, como exemplo clássico, perceba- se que a Constituição Inglesa é não escrita. Direito objetivo e direito subjetivo Quando falamos em fato, valor e norma e mencionamos que as normas escritas proporcionam mais segurança, pensamos no direito como Constituição, leis, decretos, resoluções, portarias e tanto outros atos normativos. Lembramos, muitas vezes, da jurisprudência, que são decisões adotadas pelos tribunais, e da doutrina, que são as lições proferidas pelos grandes mestres do direito. Efetivamente, todos esses instrumentos são fontes de direito, visto que neles serão observadas as medidas para serem pesadas as condutas e as relações humanas, como já falamos. Cabe observar, porém, que esse é o direito criado culturalmente pelo homem para permitir a vida em sociedade. Atualmente, em muitos países, o direito é escrito, é normatizado. A esse direito dá-se o nome de direito objetivo. Por outro lado, percebe-se que o homem é dotado de sonhos e anseios, o que é algo inerente ao ser humano e à sua individualidade. Na evolução do direito, buscou-se proteger a sociedade por meio da pacificação de conflitos impedindo a vingança privada, como já dissemos. Assim, a ênfase dada, em um primeiro momento, foi na defesa da possibilidade de se exigir uma conduta, sendo essa a primeira visão do direito subjetivo. Nesse caso, o direito não é considerado norma, mas como a capacidade de uma pessoa, dotada de anseios, ter a possibilidade de exigir uma conduta justa, valorada positivamente pela sociedade, de outra envolvida em um litígio. Tal visão é, atualmente, inerente ao direito das obrigações, que será tratado em outro momento. Em um segundo instante, essa primeira visão é complementada, pois nem todas as relações jurídicas envolvem condutas, a exemplo do vínculo gerado pela propriedade. Assim, não apenas a possibilidade de se exigir uma conduta é considerada direito subjetivo, mas também o próprio interesse. Agora vamos exercitar o que você aprendeu? Com base no que vimos, marque a opção correta: Podemos considerar uma visão do direito subjetivo aquela que: ( ) foi criada pelo homem, a fim de permitir a vida em sociedade. ( ) é complementada, pois nem todas as relações jurídicas envolvem condutas, a exemplo do vínculo gerado pela propriedade Desse modo, a vantagem decorrente de um objeto ou mesmo da exigência de uma conduta justa passa a ser protegida, de sorte que tal vantagem se identifica como o interesse a ser protegido pelo direito. Assim, o conceito de direito subjetivo, amplamente aceito em vários países, entre eles o Brasil, é o de que direito subjetivo é o interesse juridicamente protegido. Tanto é assim que o art. 485, inciso VI, da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), determina a extinção do processo, sem resolução do mérito, quando não houver o “interesse processual”. Apenas a título de conhecimento, é de se mencionar que essa visão está inserida nos países que adotam um sistema jurídico decorrente do modelo continental europeu, e o Brasil se filia a tal tradição. Em países que se embasam na Common Law, tais como Inglaterra, Estados Unidos e Austrália, por exemplo, existem outros pressupostos para a análise dos direitos subjetivos, expostos por autores como Wesley Newcomb Hohfeld, tais como direito de exigir prestações, liberdades, poderes e imunidades. Da personalidade e da capacidade civil Segundo Goffredo Telles Junior, (2005, p. 310) a personalidade “consiste no conjunto dos caracteres próprios de uma pessoa”, constituindo a individualidade inerente do ser humano. Assim, ainda segundo o ilustre autor, os “direitos de personalidade são os direitos subjetivos da pessoa de defender o que lhe é reputação ou honra, imagem e privacidade” (p. 23), entre tantos outros aspectos (apud FIÚZA, 2005). Na opinião de Carlos AlbertoBittar, os direitos de personalidade são aqueles “próprios da pessoa em si (ou originários), diante da dignidade humana ou referentes às suas projeções para o mundo externo, ou seja, à pessoa como ente moral e social, em suas interações da sociedade” (BITTAR apud GUERRA, 1999, p. 47). A distinção entre os direitos da personalidade e direitos fundamentais é que, para aqueles, há o enfoque privatista, enquanto nestes, a ótica se dá sob as lentes do direito público, havendo uma simples modificação da forma de análise. É de se observar, porém, que a distinção entre direito privado e direito público é cada vez mais frágil, dada a evolução e a complexidade das relações sociais nos dias de hoje. Considerados na esfera pública como direitos fundamentais, os direitos de personalidade são decorrentes da primeira geração de direitos, a qual foi entendida como uma consequência do pensamento liberal do século XVIII, de cunho nitidamente individualista, com o objetivo de proteger o homem do Estado. Assim, “são direitos inerentes a cada ser humano, existindo em seu âmago antes e independentemente ao direito positivo. Eles constituem o mínimo existencial do homem, sem os quais o mesmo não se realiza” (LOVATO, 2008, p. 4-5). Sendo direitos subjetivos especiais os direitos de personalidade que geram responsabilidade civil e, como tal, são protegidos por todos os meios judiciários destinados a evitar ameaças de violação ou a atenuar os efeitos da ofensa, ressaltando- se, nesses casos, os procedimentos cautelares (PINTO, 2004, p. 71). De forma bastante abrangente, o Código Civil fez referência a apenas três características dos direitos de personalidade, às quais nos limitaremos, a despeito da existência de outras, são elas: intransmissibilidade, irrenunciabilidade e indisponibilidade. Apesar de Maria Helena Diniz (2005) mencionar que os direitos de personalidade têm caráter absoluto, o Conselho da Justiça Federal tratou do assunto na IV Jornada de Direito Civil, abordando situação de possível colisão entre os direitos de personalidade. Assim, “os direitos da personalidade, regulados de maneira não-exaustiva pelo Código Civil, são expressão da cláusula geral de tutela da pessoa humana, contida no Art. 1°, inciso III, da Constituição (princípio da dignidade da pessoa humana). Em caso de colisão entre eles, como nenhum pode sobrelevar os demais, deve-se aplicar a técnica da ponderação" (CJF, Enunciado 274, art. 11). Como exposto, os direitos de personalidade são, em regra, indisponíveis. No entanto, há de se ter em mente que a indisponibilidade é relativa. Como exemplo, percebe-se que não é possível a recusa de exposição de sua foto em um documento de identificação, em virtude do interesse social envolvido. Ainda no mesmo sentido, uma pessoa famosa pode explorar sua imagem comercialmente. Deve-se ter em mente, porém, alguns Enunciados de Jornadas de Direito Civil, por meio dos quais o Conselho da Justiça Federal tratou do assunto: “o exercício dos direitos da personalidade pode sofrer limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral" (CJF, Enunciado 4) e, ainda, “os direitos de personalidade podem sofrer limitações, ainda que não especificamente previstas em lei, não podendo ser exercidos com abuso de direito de seu titular, contrariamente à boa-fé subjetiva e aos bons costumes” (CJF, Enunciado 139). Na mesma direção do que já foi exposto, existem critérios que devem ser observados ao se apreciar uma limitação voluntária do exercício dos direitos da personalidade. O primeiro deles é que qualquer limitação voluntária pretendida pelo titular do direito de personalidade que ofenda valores jurídicos fundamentais é nula. Nesses casos, é possível recorrer aos conceitos de ordem pública e aos “bons costumes” (ainda que seja conceito indeterminado) para defender o núcleo essencial da pessoa. O segundo critério é que, se houver limitação legal e lícita de um direito de personalidade resultante de contrato válido, a pessoa titular do direito pode sempre, de forma voluntária, unilateral e a todo o tempo, revogar a limitação que aceitou fazer. “Pode-se discutir o pagamento de uma indenização por responsabilidade gerada pelo fato de, com o seu comportamento, ter gerado expectativas, mas fica completamente afastado o dever de cumprir o contrato” (PINTO, 2004, p. 72). Há de se observar, ainda, que o sistema jurídico tradicional tem inserido o caráter patrimonial no direito de personalidade, impactando o que o sistema normativo não se dispôs a proteger ou aquela relação jurídica que o direito não se pôs a prever. Ocorre, pois, uma mensuração da personalidade jurídica por meio da centralização patrimonial de nosso direito civil, engessamentos legislativos e não reconhecimento da evolução das relações jurídicas. Nesse sentido, a evolução da tecnologia e o crescimento dos meios de comunicação fazem com que informações a respeito de determinada pessoa circulem sem sua autorização, ocasionando danos à sua imagem, à honra, ou ao seu direito à intimidade. Some-se a tal aspecto o fato de que o direito à integridade física se depara com a acelerada evolução das tecnologias médicas, além de polêmicas questões como aborto, manipulação genética e eutanásia (LOVATO, 2008, p. 8-9). Vamos exercitar o conhecimento? Relembrando o conteúdo e testando seus conhecimentos! De acordo com o que vimos sobre personalidade, julgue os itens em V (verdadeiro) e F (falso). ( ) O Código Civil de 2002 fez referência a apenas três características dos direitos de personalidade, sendo elas: intransmissibilidade, irrenunciabilidade e indisponibilidade. ( ) Considerados na esfera pública como direitos fundamentais, os direitos de indisponibilidade são decorrentes da terceira geração de direitos. ( ) A evolução da tecnologia e o crescimento dos meios de comunicação fazem com que informações a respeito de determinada pessoa circulem sem sua autorização, ocasionando danos à sua imagem, à honra, ou ao seu direito à intimidade. A capacidade civil Antes de iniciarmos a análise relativa à capacidade na órbita civilista, é importante entendermos o significado do termo. Nesse sentido, o que é capacidade? Vamos entender? Em termos jurídicos, pode-se distinguir a capacidade em capacidade de direito ou de gozo e capacidade de fato ou de exercício (alguns doutrinadores ainda a chamam de capacidade de ação). A primeira delas – capacidade de direito ou gozo – é inerente à personalidade, toda pessoa tem essa capacidade; nenhum ser dela pode ser privado pelo ordenamento jurídico. Nesse sentido, o art. 1º, do Código Civil, diz que “toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”. Por outro lado, a capacidade de exercício ou de fato é a aptidão para exercitar direitos. É a faculdade de fazê-los valer. Se a capacidade de gozo é imanente a toda pessoa, a de exercício ou de fato pode ser retirada. O exercício dos direitos pressupõe realmente consciência e vontade; por conseguinte, a capacidade de fato subordina-se à existência no homem dessas duas faculdades. Em outras palavras, a capacidade de gozo ou de direito é a que todos têm e adquirem ao nascer com vida e que não pode ser recusada ao indivíduo, visto que negaria sua qualidade de pessoa. A capacidade de fato ou de exercício, por sua vez, é a aptidão para exercer, por si só, os atos da vida civil. Os que dispõem de seu pleno exercício são chamados de plenamente capazes. Outros, porém, por faltarem alguns requisitos previstos no Código Civil para o gozo da capacidade plena, podem ser relativamente ou absolutamente incapazes. No Código Civil, a capacidade se refere ao exercício pessoal dos atos da vida civil e, apenas para ilustrar, uma vez que trataremos do assunto no momento oportuno, são alguns exemplos de atos da vida civil realizar uma compra e venda, realizar matrimônio e gerir uma atividade empresarial. Diante doexposto, temos duas classificações: a) capacidade de direito ou de gozo; b) capacidade de fato ou de exercício. É oportuno salientar que a classificação apresentada no Código Civil (plenamente capazes, relativamente ou absolutamente incapazes) se refere apenas à capacidade de fato ou de exercício, uma vez que a de direito não pode ser restringida, como já mencionado. Conforme foi estudado, podemos afirmar, então, que existem duas classificações. Você sabe quais são elas? Marque a alternativa que considerar correta. ( ) Capacidade de direito ou exercício e capacidade de fato ou gozo. ( ) Capacidade de direito ou de gozo. ( ) Capacidade de fato ou de exercício. Os absolutamente incapazes são aqueles totalmente proibidos de exercer atos da vida civil e, se o fizerem, o ato será nulo, conforme previsão do art. 166, inciso I, do Código Civil, de modo que é necessária a representação para suprir a vontade do incapaz absoluto na geração de efeitos jurídicos. O art. 3º do Código trata do assunto, o qual traz o seguinte teor: Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis anos);. Os relativamente incapazes são aqueles que podem praticar os atos da vida civil por conta própria, desde que sejam assistidos para que haja efeitos jurídicos, sob pena de anulabilidade do ato, conforme art. 171, inciso I, do Código. Assim, verifica-se no art. 4º do Código Civil: Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: I – os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II –os ébrios habituais e os viciados em tóxico; III – aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade. Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial. Quanto à participação do Ministério Público em casos de incapacidade, vale observar a previsão contida no artigo 178, incisos I e II, do Código de Processo Civil (ainda que o inciso III não diga respeito à matéria tratada neste momento, também será transcrito, assim como demais artigos, a fim de que se tenha exata noção da possibilidade de intervenção processual do Ministério Público): Art. 178. O Ministério Público será intimado para, no prazo de 30 (trinta) dias, intervir como fiscal da ordem jurídica nas hipóteses previstas em lei ou na Constituição Federal e nos processos que envolvam: I – Interesse público em geral; II – Interesse de incapaz. Art. 179. Nos casos de intervenção como fiscal da ordem jurídica, o Ministério Público: I – terá vista dos autos depois das partes, sendo intimado de todos os atos do processo; II – poderá produzir provas, requerer as medidas processuais pertinentes e recorrer. Por fim, apenas para expor outros exemplos, o Código Civil traz, no seu art. 1.634, inciso VII, o seguinte: “representá-los judicialmente e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento.” O art. 1.690, também do Código Civil, prevê: “compete aos pais, e, na falta de um deles, ao outro, com exclusividade, representar os filhos menores de dezesseis anos, bem como assisti-los até completarem a maioridade ou serem emancipados”. Ainda, o art. 1.747, I, diz que: “compete mais ao tutor representar o menor, até os dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-lo, após essa idade, nos atos em que for parte.” É conveniente informar, nesse mesmo sentido, que a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), traz diversos dispositivos que determinam a participação do Ministério Público em casos que envolvam menores, como, por exemplo, a guarda de menores (art. 33, §4º e art. 35) e a adoção (art. 50, §§1º e 12 e art. 52-C, §§1º e 2º). A relação entre pessoa e personalidade A redação inicial do Projeto de Reforma do Código Civil repetia a redação do Código Civil de 1916, dispondo que “todo homem é capaz de direitos e obrigações na ordem civil”, sendo alterado, no Senado Federal, pelo então senador Josaphat Sobrinho para “todo ser humano é capaz de direito e obrigações na ordem civil”. Essa modificação proposta foi, mais uma vez, alterada pelo deputado Fiúza por sugestão do ilustre professor Miguel Reale, segundo o qual o termo “pessoa” seria mais compatível com a boa técnica jurídica e social que “ser humano”. Fiúza também substituiu o vocábulo “obrigações” por “deveres”, tornando a redação do Código de 2002 atual (FIÚZA, 2005, p.3). Assim, a ideia de personalidade liga-se à ideia de pessoa, “que exprime a aptidão genérica para adquirir direitos e contrair obrigações” (FIÚZA, 2005). A pessoa é o sujeito das relações jurídicas, e a personalidade, o atributo que permite a titularidade de direitos subjetivos, ou seja, a personalidade permite a titularidade de direitos e obrigações, que é a capacidade de direito. No mesmo sentido, segundo Caio Mário da Silva Pereira (2009), a ideia de pessoa se liga à de personalidade, a qual exprime a aptidão genérica para adquirir direitos e contrair obrigações, de modo que o conceito de personalidade está totalmente relacionado ao conceito de pessoa. Apenas ratificando, Sílvio Rodrigues (2002) explica que, ao se afirmar que o homem tem personalidade, afirma-se também que ele tem capacidade para ser titular de direitos. O direito civil pátrio encaixou o conceito de capacidade ao de personalidade. Das pessoas naturais A pessoa natural é o indivíduo, o sujeito das relações jurídicas. Segundo Venosa (2011), animais e seres inanimados não podem ser sujeitos de direito, podendo ser, porém, objetos de direito. Não se confunde a ideia de pessoa natural com a de personalidade civil, pois esta, a personalidade, é a possibilidade de ser sujeito e começa com o nascimento, com vida, conforme o art. 2º, do Código Civil. Na órbita jurídica, todo ser humano é pessoa. O contrário, porém, não é verdade, visto que existem as pessoas jurídicas, como será tratado no tópico a seguir. Assim, os institutos de capacidade civil e personalidade que vimos nos tópicos anteriores se aplicam em sua integralidade às pessoas naturais e são de aplicação restrita às pessoas jurídicas. Das pessoas jurídicas As pessoas jurídicas são, para alguns autores, ficções jurídicas por meio das quais é atribuída capacidade jurídica a entes abstratos, criados para a satisfação de necessidades do homem: O século XX, podemos dizer, foi o século da pessoa jurídica. Desde então, pouquíssimas atividades da sociedade são desempenhadas pelo homem como pessoa natural. A pessoa jurídica, da mais singela à complexa, interfere e imiscui-se na vida de cada um, até mesmo na vida privada. Sentimos um crescimento exacerbado da importância das pessoas jurídicas (VENOSA, 2011, p. 227). Todos nós vemos pessoas andando comprando, vendendo, mas não vemos o Banco X caminhando por aí, ou o Supermercado Z indo à praia. Por mais esdrúxulos que os exemplos aparentem ser, o banco, o supermercado e tantas outras instituições foram criadas para a satisfação da necessidade humana. Em regra, como coisas que são, não deveriam ter personalidade, como vimos no tópico anterior. Tal entendimento é conhecido por doutrina da ficção. A despeito de outras doutrinas existentes, como as negativistas e as institucionais, o direito brasileiro considera a doutrina da realidade, na sua vertente de realidade técnica, conforme proposto por Vicente Rao, de modo que a pessoa jurídica é real e existe por si só como fruto da criação do ser humano, mas a sua realidade não se compara à da pessoa natural (VENOSA, 2011, p.234). Para potencializar a realização de empreendimentos, as pessoas jurídicas são essenciais para o alcance dos objetivos e a organização da sociedade. Um grande exemplo disso está na própria ideia de Estado-Nação. Assim, as pessoas jurídicas têm personalidadeprópria, mas são representadas por pessoas naturais que se imiscuem em diversas posições: prefeitos de municípios, sócios-diretores ou gerentes de empresas, chefes de organismos internacionais e inúmeros outros. Cabe dizer, ainda, que a pessoa jurídica não se limita a direitos patrimoniais. Ao adquirir personalidade, a pessoa jurídica adquire diversos atributos de personalidade, mas não possui todos, uma vez que sua natureza é diferente de pessoa natural, de forma que uma pessoa jurídica não pode casar, por exemplo. Mas é possível que uma pessoa jurídica ingresse em juízo para obtenção de danos morais. Nesse sentido, observe-se a ementa a seguir, que se refere ao Recurso Especial 2008/0033686-0, da Relatora Ministra Nancy Andrighi (DJe 04/06/2009, RSTJ vol. 215, p. 466). Apenas para ratificar o que já foi exposto, o próprio Código é claro a respeito da proteção aos direitos de personalidade da pessoa jurídica, ao dizer, no seu art. 52, que “aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade.” O Código Civil traz, no seu Título II, as pessoas jurídicas e as classifica em três grandes grupos, conforme previsão do art. 40: a) pessoas jurídicas de direito público interno; b) pessoas jurídicas de direito público externo; c) pessoas jurídicas de direito privado. As pessoas jurídicas de direito público interno se referem à organização política dos poderes nacionais, considerada em seu conjunto (DINIZ, 2005, p. 52). A União é o ente federativo autônomo que exerce as atribuições da soberania do Estado brasileiro. Não se deve confundir União com Estado-Federal, que é o conjunto constituído por União, estados, Distrito Federal e municípios. Os estados federados são entes dotados de capacidade de auto-organização, autogoverno e autoadministração, com competência constitucional subsidiária. O Distrito Federal é um ente autônomo que congrega as competências estaduais e municipais, dotado de capacidade de auto-organização, autogoverno e autoadministração, da mesma forma que os estado federados e os municípios. Os territórios ou autarquias territoriais integram a União, ressalvando-se que, atualmente, não existem territórios na República Federativa do Brasil. Observe-se a previsão do art. 18, §2º, da Constituição: “os Territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar.” Os municípios também são dotados de capacidade de auto-organização, autogoverno e autoadministração, com competência constitucional expressa no art. 30 da Constituição e autoridade sobre questões locais, sem Poder Judiciário. As autarquias são integrantes da administração indireta e podem ser constituídas nos três níveis federativos (União, Estados e Distrito Federal e Municípios) e, conforme o art. 5º, inciso I, do Decreto- -Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 2007, são serviços autônomos, criados por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita próprios para executarem atividades típicas da Administração Pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada. Quanto às pessoas jurídicas de direito público externo ou de direito internacional público, segundo Rezek (2005), são os Estados soberanos (aos quais se equipara, por questões singulares, a Santa Sé) e as organizações internacionais em sentido estrito. O autor chama a personalidade jurídica do Estado de originária, visto que possui precedência histórica e, mais importante, realidade física, com espaço territorial sobre o qual vive uma comunidade de seres humanos. Por outro lado, a personalidade jurídica das organizações é chamada de derivada, uma vez que é produto da vontade conjugada de certo número de Estados. A respeito das pessoas jurídicas de direito privado, segundo o art. 45, do Código Civil, “começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.” Atividades de fixação Questão 1 – A Teoria Tridimensional do Direito, de Miguel Reale, traz os seguintes elementos inerentes ao mundo jurídico: a) fato, valor e justiça. b) justiça, fato e norma. c) valor, norma e justiça. d) fato, valor e norma. Questão 2 – A respeito das ideias de direito objetivo e de direito subjetivo, marque a alternativa correta. a) Direito subjetivo corresponde à lei, uma vez que ela concretiza as regras de conduta da sociedade. b) Direito subjetivo corresponde à possibilidade que um indivíduo tem de exigir uma conduta, complementada pela proteção jurídica dada ao interesse. c) Direito objetivo corresponde exclusivamente ao modelo continental europeu de direitos, ao qual o Brasil se filia. d) Direito objetivo não guarda nenhuma relação com o sistema jurídico da Common Law. Questão 3 – O Decreto-Lei no 4.657, de 4 de setembro de 1942, que apresenta a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), trata-se de uma lei geral que visa ao estabelecimento dos parâmetros a serem observados nas normas do direito brasileiro. Sobre o referido decreto-lei, marque a alternativa incorreta. a) Em caso de omissão da lei, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. b) Repristinação é o fenômeno pelo qual a lei revogada se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência. c) O juiz, por ocasião da aplicação da lei, deverá alternativamente atender aos fins sociais aos quais ela se dirige ou às exigências do bem comum, uma vez que a aplicação conjunta de tais aspectos trará muitas despesas ao Estado. d) A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. Questão 4 – Sobre os direitos de personalidade, marque a alternativa correta. a) Os direitos de personalidade são protegidos por todos os meios judiciários destinados a evitar ameaças de violação ou a atenuar os efeitos da ofensa. b) Os direitos de personalidade são decorrentes da primeira geração de direitos que surgem como uma consequência do Estado Social, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de proteger as pessoas atingidas pelo conflito. c) A indisponibilidade dos direitos de personalidade é absoluta, não sendo possível ao Estado restringi-la. d) O exercício dos direitos da personalidade não pode sofrer limitação voluntária, salvo nas hipóteses em que essa limitação seja permanente e geral. Questão 5 – O direito criado pelo homem, a fim de permitir a vida em sociedade, é chamado de: a) Direito objetivo. b) Direito subjetivo. c) Direito introdutório. d) Direito de berço Questão 6 – A respeito das pessoas jurídicas, assinale a alternativa correta. a) A União é pessoa jurídica de direito privado. b) As associações são pessoas jurídicas de direito privado, constituídas por pessoas, com fins econômicos. c) As autarquias são pessoas jurídicas de direito público e, por isso, integram a administração direta. d) As fundações são pessoas jurídicas de direito privado que devem ter uma finalidade específica e são criadas por dotação especial de bens livres de um instituidor. Questão 7 – O Código Civil traz, no seu Título II, as pessoas jurídicas e as classifica em três grandes grupos, conforme previsão do art. 40. Quais são eles? a) Pessoas jurídicas de direito público interno, pessoas jurídicas de direito público externo e pessoas jurídicas de direito privado. b) Pessoas jurídicas de direito privado interno, pessoas jurídicas de direito privado externo e pessoas jurídicas do direito público. c) Pessoas jurídicas de direito público interno e externo, pessoas jurídicas de direito privado externo e pessoasjurídicas de direito privado interno. d) Pessoas jurídicas do direito público, pessoas jurídicas do direito privado e pessoas jurídicas do direito privado interno e externo. Questão 8 – Complete a frase: A pessoa é o sujeito das relações jurídicas, e a personalidade, o atributo que permite a titularidade de direitos. a) objetivos . b) subjetivos . c) estrangeiros. d) nacionais. Questão 9 – Podemos classificar as pessoas jurídicas de direito público como: a) associações, sociedades, fundações, União, estados, Distrito Federal e territórios. b) associações, sociedades, fundações, Estados estrangeiros e pessoas que forem regidas pelo direito internacional público. c) associações, Estados estrangeiros e territórios. d) União, estados, Distrito Federal, territórios, Estados estrangeiros e pessoas que forem regidas pelo direito internacional público. Questão 10 – Quanto à capacidade de fato ou exercício, podemos dizer que: a) é a que todos têm e adquirem ao nascer com vida e que não pode ser recusada ao indivíduo, visto que negaria sua qualidade de pessoa. b) é a aptidão para exercer, por si só, os atos da vida civil. Os que dispõem de seu pleno exercício são chamados de plenamente jugado. c) é a aptidão para exercer, por si só, os atos da vida civil. Os que dispõem de seu pleno exercício são chamados de plenamente capazes. d) é a que todos têm e adquirem ao nascer com vida e que o indivíduo pode recusar a qualquer momento, a fim de afirmar a sua qualidade de pessoa.
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