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TRAUMATOLOGIA I MEDICINA LEGAL - 2021.1 CONCEITO A traumatologia ou lesonologia médico-legal estuda as lesões e os estados patológicos, imediatos ou tardios, produzidos por violência (agentes externos) sobre o corpo humano. Agentes Externos: ● De ordem mecânica. ● De ordem física. ● De ordem química. ● De ordem físico-química. ● De ordem bioquímica. ● De ordem biodinâmica. ● De ordem mista. AGENTES FÍSICOS MECÂNICOS DEFINIÇÃO ● Os agentes físicos mecânicos são modificadores do estado de repouso e/ou movimento de um corpo. ● As lesões produzidas por ação mecânica no ser humano podem ter suas repercussões externa ou internamente. TIPOS Meio ativo: resultado de um objeto em movimento contra o corpo humano parado. Meio passivo: o instrumento encontra-se imóvel e o corpo humano em movimento. Misto: é a associação de ambos – objeto e corpo em movimento, indo um contra o outro. *** Esses meios atuam por pressão, percussão, tração, torção, compressão, descompressão, explosão, deslizamento e contrachoque. CLASSIFICAÇÃO DOS AGENTES MECÂNICOS ● Agentes Perfurantes: geram feridas puntiformes. ● Cortantes: geram feridas cortantes. ● Contundentes: geram feridas contusas. ● Perfurocortantes: geram feridas perfurocortantes. ● Perfurocontundentes: geram feridas perfurocontusas. ● Cortocontundentes: geram feridas cortocontusas. AÇÃO CONTUNDENTE ● Os instrumentos contundentes são os maiores causadores de dano ● Pode causar lesão por meio ativo, passivo ou misto ● Sua ação é quase sempre produzida por um corpo de superfície, e suas lesões mais comuns se verificam externamente, embora possam repercutir na profundidade. ● Agem por pressão, explosão, deslizamento, percussão, compressão, descompressão, distensão, torção, fricção, por contragolpe ou de forma mista. ● As lesões produzidas por essa forma de energia mecânica variam de acordo com suas características, podendo ser: RUBEFAÇÃO ● Caracteriza-se pela congestão repentina e momentânea de uma região do corpo atingida pelo traumatismo, evidenciada por uma mancha avermelhada, efêmera e fugaz, que desaparece em alguns minutos. ● Seu surgimento é imediato ao trauma e ao restabelecer a normalidade circulatória regional atingida, desaparecem todos os seus vestígios. ESCORIAÇÃO: ● É definida como o arrancamento da epiderme e desnudamento da derme, de onde fluem serosidade e sangue - apenas a epiderme sofre a ação da violência. ● Pode ser encontrada isolada ou associada a outras modalidades de lesões contusas mais graves. ● A formação de crostas na lesão, indica que já houve cicatrização e, portanto, é uma lesão antiga. EQUIMOSE ● São lesões que se traduzem por infiltração hemorrágica nas malhas do tecido ○ Apresenta sangue coagulado, presença de malhas de fibrina, infiltração hemorrágica, presença em qualquer lugar do corpo, sangue fora do vaso, ruptura de vasos, sinais de transformação de hemoglobina e ausência de meta-hemoglobina. ● Atinge e rompe os capilares. ● As equimoses, às vezes, imprime a marca dos objetos que lhe deram origem com mais facilidade do que as escoriações. ● A depender do aspecto, podem ser: ○ Sugilação ○ Petéquia ○ Vibrice ➔ Rubefação ➔ Edema traumático ➔ Escoriação ➔ Lesão/ferida contusa ➔ Equimose: ➔ Hematoma ➔ Sugilação ➔ Bossa sanguínea ➔ Petéquia ➔ Entorse ou Luxação ➔ Vibice ➔ Fratura ● A tonalidade da equimose é um ponto importante, pois a variação de cores ocorre com o passar do tempo. Essa variação de tonalidade, determina o Espectro Equimótico Legrand du Saulle: Sugilação: ● Se apresentam em forma de pequenos grãos (se assemelham a areia) ● São pontos menores que as petéquias. Petéquia: ● São pequenas equimoses, quase sempre agrupadas e caracterizadas por um pontilhado hemorrágico. Vibice: ● São estrias longas e paralelas em virtude do extravasamento do sangue ao lado do traumatismo e não na sua linha de impacto. ● Causadas por vassoura, varinha, cassetete… Espectro Equimótico de Legrand du Saulle: pela coloração da equimose, conseguimos estimar há quanto tempo ela está ali. ● A equimose leva em torno de 15 dias para desaparecer completamente. EDEMA TRAUMÁTICO ● É o acúmulo de líquido no espaço intersticial e é constituído por uma solução aquosa de sais e proteínas do plasma, variando de acordo com a sua etiologia. ● O edema é agravado pela ação endógena da histamina. LESÃO/FERIDA CONTUSA ● Trata-se de lesões abertas cuja ação contundente foi capaz de vencer a resistência e a elasticidade dos planos moles. ● São produzidas por meios ou instrumentos de superfície e não de gume, mais ou menos afiados. Características: ● Bordas escoriadas equimosadas; ● Vertentes irregulares ligadas por pontes de tecido; ● Fundo irregular; ● Forma estrelada, sinuosa ou retilínea. ENTORSE ● Estiramento da cápsula de uma articulação com ou sem rotura LUXAÇÃO ● Deslocamento das superfícies articulares FRATURA ● Exposta, patológica, completa ou incompleta. AÇÃO PERFURANTE ● Instrumentos de aspecto pontiagudo, alongado e fino, de diâmetro transverso reduzido. ○ Alfinete, agulha, espinho, estilete, picador de gelo, prego, etc; CARACTERÍSTICAS DAS LESÕES ● Lesões punctórias ou punctiformes ● Abertura estreita, raro sangramento, pouco nocivos superficialmente ● O ferimento de saída é mais irregular e de menor diâmetro ● A gravidade desses ferimentos depende do caráter vital dos órgãos e estruturas atingidas ou da eventualidade de infecções supervenientes. ○ Podem se complicar com hemorragias internas ● Quando o instrumento perfurante é de médio calibre, as características da lesão são diferentes, obedecendo o que chamamos de Leis de Filhos. 1ª Lei de Filhos: ● As soluções de continuidade dessas feridas assemelham-se às produzidas por instrumentos de 2 gumes (2 extremidades cortantes) ○ Lesão em “Casa de Botão” 2ª Lei de Filhos: ● Quando essas feridas se mostram em uma mesma região onde as linhas de força tenham um só sentido, seu maior eixo tem sempre a mesma direção ○ Os ferimentos seguem a linha de força da pele. ● Dependendo do local onde fere, por mais que seja com o mesmo instrumento, as feridas podem ter formatos diferentes devido à diferença das linhas de força daquela região. Lei de Langer: ● Na confluência de regiões de linhas de força diferentes, a extremidade da lesão toma o aspecto de ponta de seta, de triângulo, ou mesmo de quadrilátero. ● Somente no vivo esses ferimentos tomam tais direções, em virtude da elasticidade e da retratibilidade dos tecidos. AÇÃO CORTANTE ● Os meios ou instrumentos de ação cortante agem através de um gume afiado, por um mecanismo de deslizamento sobre os tecidos, na maioria das vezes, em sentido linear ⇒ feridas cortantes. ● Instrumentos Típicos: faca, navalha, lâmina (ação pelo gume). ● Instrumentos Atípicos: folha de papel, cerol, capim. ● As ações cortantes incluem o esquartejamento, a decapitação e o engortejamento LESÕES CORTANTES ● Forma linear ● Regularidade das bordas e do fundo da lesão ● Ausência de vestígios traumáticos em torno da ferida ● Hemorragia quase sempre abundante ● Afastamento das bordas da ferida ● Cauda de escoriação voltada para o término da ação do instrumento !!! ● Paredes da ferida lisas e regulares ESQUARTEJAMENTO ● Ato de dividir o corpo em partes, por amputação ou desarticulação, quase sempre como modalidadede o autor livrar-se criminosamente do cadáver ou impedir sua identificação. DECAPITAÇÃO ● É a separação da cabeça e do corpo ● Pode ser oriunda de outras formas de ação, além da cortante ESGORJAMENTO ● Longa ferida transversal do pescoço, de significativa profundidade, lesando além dos planos cutâneos, vasculonervosos e musculares, órgãos mais internos como esôfago, laringe e traqueia. AÇÃO PERFURO-CORTANTE ● As lesões perfurocortantes são provocadas por instrumentos de ponta e gume, atuando por um mecanismo misto: penetram perfurando com a ponta e cortam com a borda afiada os planos superficiais e profundos do corpo da vítima ⇒ pressão e secção. Características: ● Profundidade maior que largura. ● Hemorragia interna. ● Lado do gume mais agudo. Tipos de Instrumentos: ● Instrumento de um só gume: faca-peixeira, canivete, espada. ○ Lesão com forma de botoeira com uma fenda regular, e quase sempre linear, com um ângulo agudo e outro arredondado. ○ Sua largura é notadamente maior que a espessura da lâmina da arma usada e o seu comprimento, menor que a largura da folha, se o trajeto da arma foi perpendicular ao plano do corpo, saindo da mesma direção, e maior se agiu obliquamente. ○ Se, ao sair, tomou um sentido inclinado, corta mais a pele, aumentando o diâmetro da fenda. ● Instrumento de dois gumes: punhal, faca “vazada”. ○ Lesão (fenda) de bordas iguais e ângulos agudos. ● Instrumento de três gumes: lima. ○ Lesão com forma triangular ou estrelada. Obs: o trajeto das feridas produzidas por esses instrumentos têm as características das resultantes da ação dos meios perfurantes. Obs 2: a ordem da sucessão das lesões, fundamenta-se na direção e na quantidade da hemorragia das feridas. AÇÃO PERFURO-CONTUNDENTE ● As feridas perfurocontusas são produzidas por um mecanismo de ação que perfura e contunde ao mesmo tempo – na maioria por projéteis de arma de fogo. ● As características da lesão variam conforme o calibre da arma e a distância entre o local de disparo e a vítima. AÇÃO POR ARMA DE FOGO Ferimento de Entrada - Tiro Encostado: ● Sinal da Câmara de Mina de Hoffmann: ○ Os ferimentos com plano ósseo logo abaixo, têm forma irregular, denteada ou com entalhes, devido à ação resultante dos gases que deslocam e dilaceram os tecidos, isso ocorre porque os gases da explosão penetram no ferimento e refluem ao encontrar a resistência do plano ósseo. ○ Ao redor do ferimento, nota-se crepitação gasosa da tela subcutânea proveniente da infiltração dos gases. ○ Em geral, não há zona de tatuagem nem de esfumaçamento, pois todos os elementos da carga penetram pelo orifício da bala e, por isso, suas vertentes mostram-se enegrecidas e desgarradas, com aspecto de cratera de mina. ● Sinal de Benssi ou Benassi-Cueli: ○ Presente em tiros que atingem crânio, costelas e escápulas ○ Caracteriza-se por um halo fuliginoso na lâmina externa do osso referente ao orifício de entrada ○ Pode apresentar-se borrado ou desaparecer com a lavagem. Também desaparece com a putrefação cadavérica. ● Sinal de Werkgaertner: ○ É o sinal deixado pelo contato do cano da arma quente com a pele. Ferimento de Entrada - Tiros a curta distância: são os tiros à queima roupa, nos quais a distância entre o disparo e o alvo é de até aproximadamente 1,5m. ● Forma: arredondada ou elíptica ○ Quanto maior a inclinação do tiro sobre o alvo, maior o eixo longitudinal do ferimento - ou seja, mais elíptico ● Orla de Escoriação ou Contusão: apresenta-se como uma área de escoriação ao redor do local do impacto na pele ○ Ocorre devido ao arrancamento da epiderme pelo movimento rotatório do projétil antes de penetrar o corpo. ● Bordas Invertidas: invaginação da pele ao redor do ponto de penetração do projétil. ○ Deve-se à ação traumática de fora para dentro sobre a natureza elástica da pele. ● Halo de Enxugo: é uma marca, geralmente escurecida ao redor do orifício de entrada do projétil. ○ É explicado pela passagem do projétil através dos tecidos, atritando e contundindo, e deixando na pele suas impurezas. ○ O formato é variável: concêntrico nos tiros perpendiculares e em meia-lua nos tiros oblíquos. ○ A tonalidade depende das substâncias que o projétil carrega, mas em geral é escura. ● Halo ou Zona de Tatuagem: é uma área pontilhada (assemelha-se à petequias) ao redor do orifício de entrada do projétil. ○ É uma zona mais ou menos arredondada nos tiros perpendiculares ou em forma de crescente nos tiros oblíquos. ○ Essa tatuagem varia de cor, forma, extensão e intensidade conforme a pólvora. ○ É resultante da impregnação de grãos de pólvora incombusta que alcança o corpo. ○ Pela análise desse halo, a perícia consegue determinar a distância exata do tiro, usando-se a mesma arma e a mesma munição em vários tiros de prova, até alcançar um halo de mesmo diâmetro que o original, além de servir para orientar a perícia quanto à posição da vítima e do agressor. ● Orla ou Zona de Esfumaçamento: ○ É decorrente do depósito deixado pela fuligem que circunscreve a ferida de entrada, formado pelos resíduos finos e impalpáveis da pólvora combusta. ○ É também chamada de zona de falsa tatuagem, pois desaparece com a lavagem. ○ Não vai estar presente somente nos casos em que a região atingida está protegida por vestes, pois estas retêm a fuligem. ● Zona de Queimadura: ○ Decorre da ação superaquecida dos gases que atingem e queimam o alvo. ○ Nas zonas cobertas por pêlos ocorre um verdadeiro chamuscamento dos mesmos, que ficam crestados e quebradiços. ● Auréola Equimótica: é uma área bem próxima à periferia do ferimento de entrada, tem tonalidade violácea. ○ Decorre da sufusão hemorrágica oriunda da ruptura de pequenos vasos localizados próximos ao ferimento. ● Zona de Compressão de Gases: ○ É vista apenas nos primeiros instantes no vivo, é representada pela depressão da pele em virtude da ação mecânica da coluna de gases que segue o projétil. Ferimento de Entrada - Tiros à distância: nos tiros à distância, a lesão não apresenta os efeitos secundários ao tiro, somente os efeitos da própria penetração do projétil. ● Diâmetro: é quase sempre menor do que o projétil nos tiros em perpendicular, isso devido à elasticidade e retratibilidade da pele. ○ Essa diferença será mais acentuada quanto maior for a elasticidade dos tecidos da região atingida, mais pontiaguda for a ogiva do projétil e maior for a sua velocidade. ● Forma: varia de acordo com a inclinação do tiro ○ Arredondada ou levemente oblíqua nos tiros perpendiculares ○ Elíptica nos tiros oblíquos. ● Borda: reviradas para dentro ○ A contusão do projétil às margens do ferimento no sentido de fora para dentro, inverte as bordas. ● Orla de Escoriação ou Anel de Fish: tem aspecto concêntrico nos orifícios arredondados, e em crescente ou meia-lua, nos ferimentos ovalares. ○ Seu exame detalhado é muito importante, pois pode esclarecer a direção do tiro ● Halo de Enxugo: ○ É representada pelas impurezas deixadas pelo projétil no anel interno do ferimento da entrada. ● Aréola Equimótica: formação de uma equimose de coloração violácea justa ao ferimento ○ Decorre do rompimento de capilares, vênulas e arteríolas atingidos pelo projétil.Ferimento de Saída: ● Forma: irregular, em forma de fenda ou desgarro ○ O projétil sofre deformação ao longo do trajeto, devido à resistência encontrada nos tecidos, então não vai sair no mesmo formato que entrou. ● Bordas: reviradas para fora ○ A saída do projétil se dá em sentido contrário ao de entrada (de dentro para fora), a borda da ferida segue o sentido do projétil. ● Sangramento: ○ O diâmetro aumentado, a irregularidade e a eversão das bordas permitem um maior sangramento. ● Não apresenta apresenta orla de escoriação, halo de enxugo e nem elementos químicos resultantes da decomposição da pólvora Ferimento de Entrada X Ferimento de Saída - Sinal do Funil de Bonnet: o diagnóstico diferencial entre o ferimento de entrada e o de saída no plano ósseo, principalmente nos ossos do crânio, é feito pelo sinal de funil de Bonnet. ● Na lâmina externa do osso, o ferimento de entrada é arredondado, regular e em forma de “saca-bocado”. ● Na lâmina interna do osso, o ferimento é irregular, maior do que o da lâmina externa e com bisel interno bem definido, dando à perfuração a forma de um funil ou de um tronco de cone. ● O ferimento de saída é exatamente o contrário, como um amplo bisel externo, repetindo a forma de tronco de cone, mas, desta vez, com a base voltada para fora. Trajeto: é o caminho percorrido pelo projétil no interior do corpo, sendo este o mais variável possível. AÇÃO CORTO-CONTUNDENTE ● São ferimentos produzidos por instrumentos com gume (ação cortante) que sofrem influência pelo seu próprio peso ou pela força de quem o maneja, o que permite também uma ação contundente. ● Sua ação se dá por deslizamento, percussão ou pressão. ● Instrumentos: foice, facão, machado, enxada, guilhotina, serra elétrica, rodas de trem, tesoura, unhas e dentes. ○ Tesouras são mais utilizadas como objetos perfurantes do que cortantes, mas algumas bibliografias as colocam como cortocontundentes. ○ As unhas se enquadram mais nos objetos contundentes, já que a ação tem como resultado as escoriações. Características: ● Predominam as características dos ferimentos cortantes. ● O formato é variável, depende da região atingida, da inclinação, do peso, do gume e da força viva atuante. ● São lesões quase sempre graves, fundas, com alcance profundo dos planos interiores – variados tipos de ferimentos, inclusive fraturas ● Não apresentam: ○ Cauda de escoriação (diferente das feridas cortantes) ○ Pontes de tecidos íntegros entre as vertentes da ferida (diferente das feridas contusas)
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