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Teoria Geral do Processo - Aula 3 - Principios Processuais

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Teoria geral do processo
Aula 3: Princípios processuais
Devido processo legal 
Sem dúvida um dos mais importantes princípios processuais foi introduzido em nosso ordenamento de forma expressa pela Constituição de 1988, em seu art. 5º, LIV.
Esse princípio pode ser compreendido em dois aspectos distintos:
Sentido substantivo: Não basta a regularidade formal da decisão, é necessário que a decisão seja substancialmente razoável. É dessa garantia que surgem os princípios da proporcionalidade e razoabilidade;
É o sentido a ser processado e processar de acordo com as normas previamente estabelecidas para tanto. 
Assim sendo, esse princípio representa um conjunto de garantias constitucionais destinadas a assegurar às partes a participação e o exercício de suas faculdades e poderes processuais, bem como a legitimidade do exercício da jurisdição. Decorrem dele outros importantes princípios processuais, como o princípio do contraditório, o da ampla defesa e o da duração razoável do processo, também consagrados em sede constitucional.
Isonomia
Isonomia, ou igualdade, significa estabelecer ou restabelecer o equilíbrio entre as partes e possibilitar a sua livre e efetiva participação no processo, como decorrência do princípio do devido processo legal.
Os litigantes devem estar em combate com as mesmas armas, de modo que possam lutar em pé de igualdade. (É bem verdade que essa noção de “combate” vai ser questionada, mais abaixo, quando o texto do Projeto do CPC trabalhar com os conceitos de cooperação e colaboração).
Em primeiro lugar, tratase da igualdade perante a lei. Significa que aqueles que aplicarem a lei só poderão distinguir os destinatários na medida em que a lei permitir. Isto porque o papel de discriminar incumbe ao legislador, o qual dirá em que casos deverá haver tratamento diferençado.
Destinada ao Poder Executivo e ao Poder Judiciário, essa igualdade foi consagrada pelo constituinte de 1988, no art. 5º, caput. Já no plano infraconstitucional, existe previsão no art. 7º do CPC/2015.
Em segundo lugar, tratase da exigência de igualdade na lei. Significa que a lei não pode distinguir as partes de maneira absurda, de qualquer modo.
O próprio Legislativo, que estabelece os casos de diferenciação, encontra seu limite. Está adstrito ao princípio da razoabilidade, que é um valor constitucional.
A razoabilidade é que estabelecerá a situação fática que autoriza uma aceitável distinção.
Exemplo: Devemos lembrar, ainda, que a isonomia pode ser compreendida, também, no sentido material. Podemos citar como exemplos dessa modalidade a inversão do ônus da prova no Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/1990), de modo a favorecer a parte hipossuficiente (art. 6º, VIII), excepcionandose a regra de que o ônus da prova incumbe a quem alega.
Nessa linha, e ampliando a extensão da garantia, o CPC/2015, no art. 373, § 1º, consagra a teoria da carga dinâmica da prova.
Contraditório e ampla defesa
“Previsto no art. 5º, LV, da CF/88 e no art. 9º do CPC/2015, o referido princípio é tão importante no direito processual a ponto de renomados doutrinadores afirmarem que ‘sem contraditório, não há processo’.
Esse princípio impõe que, ao longo do procedimento, seja observado verdadeiro diálogo, com participação das partes” que é a garantia não apenas de ter ciência de todos os atos processuais, mas de ser ouvido, possibilitando a influência na decisão.
“Desse modo, permite que as partes, assim como eventuais interessados, participem ativamente da formação do convencimento do juiz, influindo, por conseguinte, no resultado do processo”. Na concepção clássica, tal princípio significava o produto do seguinte binômio:
1 – Informação: A regra é ser informado dos atos do juiz e da contraparte;
2 – Possibilidade de manifestação: Abertura de prazo para se pronunciar quanto ao alegado pela contraparte. 
Além do mais, tal princípio deve ser visto sob dois enfoques, quais sejam:
Jurídico – Os fatos alegados e não contestados são tidos como verdadeiros, sendo declarada à revelia do réu. 
Político – Assegura às partes a participação na formação do provimento jurisdicional, ou seja, é a possibilidade que o jurisdicionado possui de influir nas decisões que irão repercutir em sua vida. 
Numa visão contemporânea, o contraditório é consequência do princípio político da participação democrática e pressupõe:
Juiz Natural
Com previsão constitucional no art. 5º, XXXVII e LIII, da Lei Maior, o princípio processual do juiz natural pode ser examinado como a garantia de julgamento pelo juiz competente segundo a Constituição.
Possui o intuito de:
01 – Evitar os odiosos tribunais de exceção que já se apresentaram nas ditaduras; 
02 – Garantir que não haverá nenhum tipo de ingerência na escolha do juiz que jugará a causa.
Além disso, o órgão julgador, representando o Estado na condução e julgamento da causa, deve agir imparcialmente e com impessoalidade; isto é, o juiz não pode ter interesse na causa a ser apreciada, sob pena de ser afastado por impedimento ou suspeição.
Inafastabilidade do controle jurisdicional
Não se trata, portanto, de mera garantia de acesso ao juízo (direito à ação), mas da própria tutela (proteção) jurisdicional (adequada, tempestiva e, principalmente, efetiva) a quem tiver razão.
Publicidade dos atos processuais
Inserido nos art. 5º, LX, e 93, IX, da CF/88, constitui projeção do direito constitucional à informação e suporte para a efetividade do contraditório, garantindo o controle da sociedade sobre a atividade jurisdicional desenvolvida. A administração da justiça faz parte da Administração Pública, que tem como princípio a publicidade (art. 37 da CF).
Significa que, em regra, o processo deve ser público e, apenas excepcionalmente, sigiloso – quando houver expressa previsão legal, notadamente quando a defesa da intimidade ou do interesse público o exigirem.
O art. 189 do CPC/2015 regula a matéria, fazendo a previsão, em casos excepcionais, do chamado “segredo de Justiça”. Em regra, a lei define algumas hipóteses básicas, ficando ao prudente arbítrio do juiz estender essa exceção a outros casos não contemplados especificamente no texto legal, desde que sua decisão seja fundamentada, pois estará restringindo uma garantia constitucional.
Casos comuns de segredo de Justiça são os de Direito de Família, como guarda de menores e partilha de bens.
Motivação das decisões judiciais
De acordo com o art. 93, IX, da CF, todas as decisões do Poder Judiciário devem ser fundamentadas, sob pena de serem consideradas nulas de pleno direito. Trata-se de dupla garantia:
Além disso, a motivação, ao revelar às partes os fundamentos da decisão, viabiliza a utilização pelo interessado dos meios de impugnação disponíveis no sistema, pois a parte deverá, em seu recurso, demonstrar, claramente, seu ponto de insatisfação, sua discordância e, principalmente, suas razões para pleitear a reforma, a invalidação ou, até mesmo, a eliminação de obscuridade ou omissão contida no ato hostilizado.
Impulso oficial do processo 
Segundo esse princípio, compete ao juiz, uma vez instaurada a relação processual, dar andamento a todas as fases do procedimento e finalizar sua atuação. Est[a previsto nos Arts. 2º, 312 e 490 do CPC de 2015. 
Dessa forma, enquanto o processo só pode ser instaurado pela iniciativa das partes – uma vez que, pelo princípio da inércia da jurisdição, o juiz não age de ofício, mas apenas quando provocado –, instaurada a relação jurídica processual, o magistrado não pode paralisála, cabendolhe zelar pelo andamento contínuo do processo.
Inadmissibilidade da prova obtida por meios ilícitos 
O direito à prova é uma normaprincípio constitucional que se revela como garantia do direito de ação, do contraditório e da ampla defesa, podendo sua negativa se revelar cerceamento de defesa. Contudo, mediante o art. 5º, LVI, da CF, são vedadas as provas obtidas por meio ilícito, isto é, as provas produzidas com violação de garantias constitucionais, tais como o direito à intimidade e à integridade física.
Extraise, então, que o direitoà prova é limitado, havendo uma vedação taxativa às provas obtidas por meio ilícito. Na verdade, a prova, em si, não é ilícita; o acesso a ela é que foi obtido ilicitamente. É o caso da testemunha que sofre coação física ou moral a fim de que preste declarações em favor de uma das partes na relação processual; ou ainda a correspondência apresentada em juízo a partir da violação da caixa postal do interessado.
Modernamente, novas questões vêm se colocando em exame. A invasão de programas de mensagem eletrônica, a interceptação de conversas telefônicas, a violação do sigilo que envolve a relação clienteadvogado são exemplos que comumente são encontrados nos jornais.
Atenção: Importante frisar que não só a prova obtida por meio ilícito se torna imprestável como também todas as que dela derivarem (prova ilícita por derivação) como decorrência da aplicação do princípio do devido processo legal, ante a expressa vedação constitucional de sua utilização.
Contudo, em algumas situações, necessário se faz a ponderação do magistrado, no caso concreto, para analisar qual o princípio que estaria em jogo em detrimento do uso da prova ilícita, isto é, qual poderia ser sacrificado se a prova não for utilizada, a fim de viabilizar a melhor resposta para o jurisdicionado e, em um patamar maior, para a sociedade.
Livre convencimento motivado 
Conforme tal princípio, previsto no art. 371 do CPC/2015, o juiz tem liberdade para apreciar e avaliar as provas produzidas nos autos e, a partir daí, formar livremente seu convencimento, desde que fundamentado nesses elementos.
Situase entre o sistema da prova legal (ou tarifada) – segundo o qual eram atribuídos valores predeterminados aos meios de prova, os quais deveriam ser obedecidos pelo juiz ao decidir – e o sistema da íntima convicção – em que o juiz julgava de acordo com o seu convencimento, baseado em quaisquer elementos, inclusive extrajudiciais. Dessa forma, o juiz é livre para decidir; todavia terá que se valer das provas carreadas para o processo.
Assim sendo, se o juiz pode determinar a busca das provas, pode atribuir a elas o valor que achar adequado. É a discricionariedade, o juízo de conveniência e a oportunidade, permitidos pela lei, para avaliar as provas produzidas no processo.
Economia processual
Preconiza o princípio, inferido do art. 139, II, do CPC/2015, que a prestação jurisdicional obedeça a uma vantajosa relação custobenefício, ou seja, que proporcione maior eficiência com o menor custo possível.
A economia torna o processo mais efetivo, na medida em que a providência desejada deve ser realizada da forma mais célere, menos custosa e com maiores chances de sucesso.
Traduz, ainda, o comprometimento do Poder Judiciário com a busca de rotinas e padrões administrativos que melhorem a qualidade da prestação jurisdicional e promovam um acesso à Justiça cada vez mais concreto.
A movimentação da máquina judiciária é cara para o Estado e por isso os recursos devem ser adequadamente aplicados
Duração razoável do processo 
Em atenção ao mandamento da efetividade processual, o Princípio da Tutela Tempestiva foi introduzido no art. 5º de nossa Constituição por meio do inciso LXXVIII, pela Emenda Constitucional n. 45/2004, com o objetivo de combater a morosidade na entrega da prestação jurisdicional e garantir o acesso à Justiça que, por sua vez, pressupõe não apenas a tutela adequada, mas também a tempestiva.
O CPC/2015, no art. 4º, prevê expressamente essa garantia e acrescenta serem garantidas às partes não apenas a conclusão do processo no prazo razoável, mas também, e principalmente, a atividade satisfativa, ou seja, o exame da pretensão, com a consequente solução da lide.
Cooperação 
O Art. 6º do CPC dispõe que todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva. A boa-fé processual é referida pelo Código como dever de todo e qualquer sujeito do processo (art. 5º) e também como norte para a interpretação do pedido formulado (art. 322, § 2º) e das decisões judiciais (art. 489, § 3º).
Na verdade, no art. 6º, o legislador parece exigir mais do que a boa-fé (não praticar atos de indignidade processual ou de má-fé). Demanda-se um comportamento colaborativo.
A ideia de lealdade processual traz ínsita a vedação à litigância de má-fé. Como consequência, será imposta uma multa calculada sobre o valor da causa. A cooperação traz uma ideia maior; ou seja, não basta não praticar o ato de má-fé ou de improbidade processual. É preciso ter um atuar construtivo, agir no intuito de promover um processo justo.
“Quanto ao juiz, é preciso atentar para a evolução de seu papel, ao longo das dimensões assumidas pelo Estado, desde a fase liberal, passando pela social, até chegar ao atual Estado Democrático de Direito”
A norma genérica do art. 6º é complementada por diversos outros dispositivos no CPC, tais como:
a) Art. 76;
b) Art. 139, IX;
c) Art. 317;
d) Art. 321;
e) Art. 357, IV;
f) Art. 370;
g) Art. 932, parágrafo único;
h) Art. 938, § 1º;
i) Art. 1.007, § 7º;
j) Art. 1.017, § 3º;
k) Art. 1.029, § 3º.
Conciliação
A conciliação tem sido o foco do processo civil nos últimos anos. No CPC encontramos o art. 334 que determina ao magistrado, como regra, designar audiência para tentativa de acordo. Desse modo, o réu será chamado, em primeiro lugar, para uma audiência prévia, que, na verdade, pode assumir a forma de audiência de conciliação ou de sessão de mediação.
Via de regra, se o conflito tem um viés patrimonial predominante, se a questão de fundo é apenas uma obrigação que une pessoas que não guardam uma relação mais próxima ou íntima, a conciliação se mostra como o meio mais adequado.
Se, por outro lado, entre os conflitantes há um relacionamento continuado, se são pessoas que vão continuar a se relacionar, quer queiram, quer não, após aquele processo, a mediação será o instrumento mais adequado para tratar o conflito numa perspectiva continuada, e não como um mero ato isolado na vida daquelas pessoas.
Atenção: Perceba que, nas duas hipóteses (conciliação e mediação), a palavra-chave é “adequação”. Ambos os instrumentos podem ser efetivos, mas apenas um será o mais adequado. Cabe ao magistrado, por ocasião do despacho liminar, identificar qual é este instrumento e indicar o seu uso naquele processo.
Duplo grau de jurisdição
Por força de tal princípio, toda decisão seria passível de pelo menos um recurso no direito brasileiro. Estaria implícito no art. 102, III, da Constituição Federal, quando se vê ser cabível recurso extraordinário interposto contra decisão de última ou única instância. É, ainda, uma decorrência do Princípio do Contraditório.
 No art. 496 do CPC encontramos o chamado “duplo grau obrigatório” ou “remessa necessária”. É o caso de decisões obrigatoriamente reexaminadas pelo Tribunal, independentemente da interposição de recurso por qualquer uma das partes.
Enquanto não confirmada pelo Tribunal, a decisão de primeiro grau não produz efeitos (ausência de eficácia).
A previsão legal trata de casos que envolvam p erário, como medida protetiva da Fazenda (Municipal, Estadual ou Federal), salvo as causas de pequeno valor, assim definidas pela própria lei. 
Princípio da Primazia do Mérito 
De acordo com esse princípio, no caso de o juiz verificar a existência de irregularidades ou vícios sanáveis, deverá determinará sua correção em prazo por ele fixado, que não pode ultrapassar trinta dias (art. 352). Esse dispositivo está em consonância com os arts. 317 e 488.
Desse modo, o CPC/2015 prestigia a “solução integral do mérito” (art. 4º), isto é, a prolação de uma “decisão de mérito justa e efetiva” (art. 6º).

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