Prévia do material em texto
Fisiopato Demências Definição - Demência é um transtorno da cognição que interfere no funcionamento diário e resulta na perda da independência - São déficits múltiplos persistentes e progressivos que comprometem a memória e um ou mais dos domínios (linguagem, capacidade visuoespacial, emoção, personalidade ou cognição) capazes de interferir com as atividades sociais e ocupacionais - A maioria das demências é de início gradual, de natureza progressiva e ocorre em pessoas com cognição normal prévia. Entretanto, algumas podem começar abruptamente e permanecer estáveis durante longos períodos Características - Perda seletiva e progressiva de neurônios - Acúmulo de proteínas com conformações anormais, identificadas pela imuno- histoquímica (ex: peptídeo β-amiloide e proteína tau na doença de Alzheimer e α- sinucleína na doença de Parkinson) - Vulnerabilidade seletiva (ou seja, apenas algumas classes de neurônios são suscetíveis à doença) - Progressão estereotipada (o que significa que cada uma das doenças se inicia em uma região específica do cérebro e se espalha sistematicamente pelas mesmas redes neurais) Fatores de risco - Idade (65+) - História familiar - Trauma cranioencefálico prévio - Baixo nível educacional - Sexo (feminino) - Presença do alelo E4 da apolipoproteína - Demência vascular - Hipertensão arterial - Diabetes melito - Dislipidemia - Tabagismo - Fibrilação atrial Diagnóstico - O diagnóstico de demência é essencialmente clínico, feito pela avaliação cognitiva e funcional - A avaliação cognitiva é feita por meio de testes aplicados aos pacientes (ex: miniexame do estado mental) - Dois diagnósticos diferenciais se impõem na suspeita de demência, sendo eles o delirium e a depressão Fisiopato Critérios de diagnóstico 1- Prejuízo de memória de evocação ou aprendizado 2- Um ou mais do seguintes : afasia, apraxia, agnosia ou disfunção executiva (planejamento, organização, esquecimento, abstração) 3- Déficits cognitivos de intensidade suficiente para afetar o funcionamento social ou ocupacional, representando uma mudança em relação ao nível prévio 4- Início gradual e curso progressivo 5- Não causado por delirium 6- Ausência de outra doença sistêmica ou em sistema nervoso central possivelmente responsável pelos déficits Causas Causas mais comuns de demência irreversível - Doença de alzheimer - Demência vascular - Demência mista (alzheimer + vascular) - Demência por corpos de lewy - Demência frontotemporal - Doença de parkinson - Síndromes parkinson-plus (paralisia supranuclear progressiva, degeneração corticobasal, atrofia de múltiplos sistemas) Causas mais comuns de demência potencialmente reversível - Toxicas (álcool e medicamentos) - Infecciosas (neurossífilis e HIV) - Metabólicas (hipotireoidismo e hipertireoidismo) - Nutricionais (deficiência de vitamina B12, folato, tiamina) - Lesões expansivas (tumores e hematoma subdural) - Hidrocefalia de pressão normal - Distúrbios psiquiátricos Patologias 1. Doença de alzheimer (DA) - É a causa mais comum de demência em idosos - Predomina em mulheres de idade mais avançada - A maioria dos casos de DA é esporádica, mas pelo menos 5% a 10% são familiares (os casos esporádicos raramente se apresentam antes dos 50 anos de idade, mas o início precoce é observado em algumas formas hereditárias) Fatores de risco . Herança autossômica dominante devido a mutações nos genes: da proteína precursora do amiloide (cromossomo 21) da presenilina-1 (cromossomo 14) e da presenilina-2 (cromossomo 1) . Síndrome de Down (na qual a trissomia do cromossomo 21 triplica o gene da proteína precursora do amiloide, favorecendo o aparecimento de alterações neuropatológicas similares às da DA) Fisiopato Fisiopatologia No meio extracelular 1- Proteases (secretases beta e gama) clivam a proteína precursora beta amiloide em dois pontos 2- Fragmentos solúveis e insolúveis são gerados a partir da clivagem da proteína 3- Os fragmentos se aglomeram formando fibras amiloides rígidas e insolúveis 4- As fibras amiloides se tornam placas e emaranhados que resultam em dano neuronal No meio intracelular 1- Os fragmentos da proteína beta amiloide ativa proteínas quinases 2- As proteínas quinases fosforilam a proteína tau (a qual deveria estar agregada ao citoesqueleto) fazendo com que ela perca a afinidade pelos microtúbulos 3- Ocorre uma desmontagem dos microtúbulos e uma aglomeração da proteína tau, o que resulta em dano neuronal Patogênese 1- O evento primário e responsável pela morte neuronal é a agregação do peptídeo β- amiloide (β-A) que é tóxico para os neurônios 2- 50% dos casos de DA de início precoce ocorrem mutações em APP e em pré-senilinas 1 e 2 (PS1 e PS2) 3- O principal componente dos emaranhados neurofibrilares e dos fios do neurópilo é a proteína tau na forma hiperfosforilada 4- A relação do β-amiloide com a proteína tau (síndrome de Down) é que os depósitos de β- amiloide precedem o aparecimento das placas neuríticas e dos fios do neurópilo 5- Presença da apolipoproteína E (Apoε) 6- Inflamação Macroscopia . Atrofia cortical (principalmente nos lobos frontais e temporais) . Aumento ventricular . Redução do peso do encéfalo . Hidrocefalia ex-vácuo Microscopia . Acúmulo de proteínas anormais (marcadas pela impregnação pela prata, coloração para Fisiopato amiloide e imunohistoquimica para identificação do peptídeo beta-amiloide) . Alterações neurofibrilares . Placas senis . Vasos da leptomeninge corados com vermelho congo Critérios de diagnóstico Manifestações clínicas . Amnésia retrógrada . Esquecimento de eventos e conversas recentes . Colocação errada de objetos, problemas com o acompanhamento da data, perder-se em vizinhanças familiares e problemas para se lembrar de completar tarefas . Apatia, perda de iniciativa e perda de interesse por hobbies e passatempos . A função da memória episódica declarativa pode ser perdida * A frequência e gravidade dos lapsos de memória progridem de dificuldade ocasional para falhas mais pervasivas e consistentes * A medida que a doença progride, a capacidade de efetuar tarefas diárias necessárias se torna cada vez mais difícil, a ponto de o paciente necessitar de auxílio para preparar refeições, pagar contas, viajar e cuidar da casa * Os pacientes com doença de Alzheimer comumente morrem de doenças que atingem outros indivíduos idosos debilitados, como sepse, pneumonia e insuficiência cardíaca congestiva * Nos pacientes em quem é diagnosticada demência leve, cerca de 10% por ano atingem o estágio de demência grave Tratamento . Inibidores das colinesterases e memantina (um antagonista do receptor de glutamato) 2. Demência vascular - É uma demência que ocorre por uma doença cerebrovascular ou lesões cerebrovasculares (infarto, hemorragia, encefalopatia, lesões hipóxico-isquêmicas) Fisiopato - Constitui a terceira causa de demência em idosos, com frequência estimada em 10 a 25% dos casos - A maioria dos casos é do tipo misto (demência vascular associada a DA), especialmente nos indivíduos acima de 80 anos - Cerca de 1/3 dos pacientes com 65 anos ou mais que sobrevivem a acidente vascular cerebral desenvolve demência dentro de 3 meses após o ataque isquêmico ou hemorrágico - As demências vasculares acometem a região frontal ou subcortical (diferente da DA) * A demência vascular subcortical é associada a hipertensão arterial e diabetes. Essa é caracterizada por múltiplos infartos na substância branca cerebral, núcleos da base, tálamo, ponte, estado crivoso da substância branca (dilatação dos espaços perivasculares) e dilatação intensa dos ventrículos laterais Fatores de risco . Hipertensão arterial . Fibrilação atrial . Idade avançada . Gênero masculino . Negros e orientais . Cardiopatia isquêmica . Diabetes . Tabagismo Classificação . Demência por múltiplos infartos = decorre de grandes infartos solitários ou múltiplos. Demência vascular de pequenos infartos = decorre de infartos lacunares e demência vascular subcortical . Demência por infarto estratégico = decorre de pequeno infarto solitário em área estratégica . Demência por hemorragia cerebral = decorre de infartos em territórios de transição arterial, necrose laminar cortical, atrofia cortical granuloso e encefalopatia hipóxico-isquêmica . Demência por hemorragia cerebral = decorre de hemorragia cerebral . Demência mista = decorre da associação de algum subtipo de demência vascular com alterações neuropatológicas de uma doença neurodegenerativa (ex: estágio Braak maior do que III na doença de Alzheimer) Manifestações clínicas . Deterioração das funções executivas e da atenção . Mudanças de personalidade com preservação relativa da memória Critérios de diagnóstico 3. Sinucleinopatias - São patologias características por inclusões/ agregados da proteína alfa-sinucleína (corpos de lewy) - São elas: doença de parkinson e demência com corpos de Lewy A) Doença de parkinson . Progride ao longo de 10 a 15 anos . Com o agravamento da doença ocorre perda motora até sintomas de demência . A morte costuma ser o resultado de pneumonia por aspiração ou trauma por quedas causadas pela instabilidade postural . Os sintomas de movimento respondem inicialmente à L-di-hidroxifenilalanina (L-DOPA) Fisiopato mas esse tratamento não retarda a progressão da doença Sinais e sintomas . Bradicinesia, rigidez, tremor durante o repouso, postura encurvada, marcha com passos progressivamente encurtados e acelerados, face inexpressiva Patogênese . Alterações na alfa-sinucleína -> formação de emaranhados da proteína alfa-sinucleína mal dobrada -> agregação da proteína alfa- sinucleína -> corpos de lewy Causas genéticas . Mutações nos genes DJ-1, PINK e PARKIN . Herança autossômica dominante (codifica a α- sinucleína resultando na formação de agregados) . Padrão do tipo príon de propagação no interior do cérebro . Disfunção mitocondrial (fator que contribui para a DP com base em formas autossômicas recessivas de DP que são causadas por mutações em genes que codificam as proteínas DJ-1, PINK1 e Parkin) . Mutações no gene que codifica LRRK2 (repetições ricas em leucina cinase 2) são a causa mais comum de DP autossômica dominante e estão presentes em alguns casos esporádicos da doença Etapas evolutivas Estágio 1 . Tem inicio na região do bulbo olfatório Estágio 2 . Atinge o núcleo motor dorsal do nervo vago (região do tronco cerebral) . Sintomas: hiposmia (redução do olfato) Estágio 3 . Atinge região medular, ponte e mesencéfalo . Sintomas: tremores, distúrbios do sono Estágio 4 . Atinge região cortical . Sintomas: disfunção executiva Estágio 5 . Afeta o córtex pré-frontal . Sintomas: agnosia e apraxia Estágio 6 . Afeta o córtex parietal e temporal . Sintomas: demência Macroscopia . Palidez da substância negra (decorrente da morte de neurônios, principalmente dopaminergicos) Fisiopato Microscopia . Agregados da alfa-sinucleína (corpos de lewy) . Áreas de gliose (decorrente da perda de neurônios) . Ubiquitina e neurofilamentos B) Demência com corpos de lewy . Doença neurodegenerativa que acomete idosos (principalmente homens) . É a segunda causa mais frequente de demência em idosos, depois da doença de Alzheimer . A maioria dos casos é esporádica, mas há casos familiais . Ao contrário da doença de Alzheimer, não há um critério diagnóstico neuropatológico mas há recomendações para se uniformizar a graduação da gravidade e a distribuição das lesões . Atinge vários circuitos cerebrais (dopaminérgico, noradrenérgico e acetilcolinérgico) e restringe-se às áreas e neurônios vulneráveis . Cerca de 80% dos pacientes apresentam placas, 60% exibem emaranhados neurofibrilares e 30% preenchem critérios neuropatológicos para a doença de Alzheimer . Um dos maiores problemas diagnósticos é estabelecer se a demência é causada pelos corpos de lewy ou pelas alterações da doença de alzheimer nos casos em que há sobreposição (a hipótese mais aceita é que a própria DCL causa o déficit cognitivo) * Em alguns casos de doença de Alzheimer, encontra-se grande número de CL restritos à amígdala, possivelmente induzidos por depósitos da proteína tau Critérios de diagnóstico . Sintomas e sinais parkinsonianos . Alucinações visuais . Flutuações substanciais em vigília ou cognição . Transtorno de comportamento de sono de movimento ocular rápido . Grave piora do parkinsonismo por medicamentos antipsicóticos Manifestações clínicas . Distúrbio cognitivo, distúrbio neuropsiquiátrico, distúrbio motor e distúrbio de sono-vigília . Deficits visuoespaciais, comprometimento da concentração e da atenção . Apatia, perda de iniciativa, depressão. . Bradicinesia, perturbações da marcha, perturbações posturais e rigidez 4. Degenerações lobares frontotemporais - Grupo heterogêneo de doenças associadas com a degeneração focal dos lobos frontais e/ou temporais - Estão associadas á inclusões de proteínas celulares específicas - Distinguem-se da DA pelo fato de que as alterações de personalidade, de comportamento e de linguagem (afasias) precedem a perda de memória - A demência global ocorre com doença progressiva - Um subgrupo de pacientes também desenvolve perda motora extrapiramidal - Se divide em grupos de patologias causadas pela aglomeração da proteína tau (taupatias) e aglomeração da TDP-43 (TDP-43patias) Fisiopato Manifestações clínicas . Transtorno do comportamento . Transtorno da linguagem . Sinais e sintomas parkinsonianos A) Doença de pick . É uma taupatia . Apresenta inclusões tau-positivas (DLFT-tau), Macroscopia . Atrofia do lobo frontal e temporal Microscopia . Inclusões tau-positivas (3R tau e 4R tau) B) TDP-43patias . Grupo heterogêneo de doenças que têm em comum a presença de inclusões TDP-43 positivas . Representa 45% dos casos de DLFT . A maioria é esporádica, mas existem formas familiais de herança autossômica dominante causadas por mutações em genes nos cromossomos 9 e 17 Patogênese das formas hereditárias 1- Resultado de uma expansão de um hexanucleotídeo repetido na 5 UTR de C9orf72 2- Mutações no gene que codifica a proteína TDP-43 3- Mutações no gene que codifica a progranulina Macroscopia . Aumento ventricular . Atrofia da área fronto-temporal Microscopia . Inclusões da proteína TDP-43