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Victoria Chagas 1 DOENÇA DE ALZHEIMER (DA) O QUE É? - Transtorno neurodegenerativo progressivo que se manifesta por deterioração cognitiva e da memória, comprometimento progressivo das atividades de vida diária e uma variedade de sintomas neuropsiquiátricos e de alterações comportamentais. EPIDEMIO - A doença de Alzheimer é a causa mais comum de demência → mais de 50% dos casos. - Acomete 5-10% dos pacientes acima de 65 anos e 20-40% daqueles acima de 85 anos. - Principal causa de morbidade e mortalidade em idosos - A maior parte dos casos são de forma esporádicas (95%) → associação genética e ambiente - As formas hereditárias apenas 5% → relacionadas a mutações autossômicas dominantes ➢ FATORES DE RISCO • Idade >65 anos • História familiar • Presença de APOE4 • Outros: insônia, TCE, depressão, etilismo, sedentarismo, obesidade, DM ... ETIOFISIO PATOLO GIA - Trata-se de demência do tipo cortical. - Os neurônios do córtex cerebral (especialmente dos lobos parietais e temporais, hipocampo e núcleo basal de Meynert) estão depletados de acetilcolina e outros neurotransmissores. - A degeneração neuronal é decorrente do acúmulo de placas senis amiloides (formadas pela proteína amiloide Aβ) no interstício e de novelos neurofibrilares no citoplasma dos neurônios - Mais de 20 loci genéticos foram relacionados a DA, sendo o principal a presença da Apolipoproteína 4 (APOE4) ➢ FISIOPATOLOGIA - Na DA há morte dos neurônios colinérgicos e hipocampais responsável pelas funções de aprendizado, memória, raciocínio, comportamento e controle emocional → ACETILCOLINA ↓ - Essas alterações caracterizam-se por atrofia acentuada do córtex cerebral e perda dos neurônios corticais e subcorticais. - A presença de emaranhados neurofibrilares (ENF) e placas neuríticas (PN) é a condição necessária para caracterizar a DA. - Formação dessas estruturas leva a perda da ligação sináptica e atrofia cerebral → cérebro passa a ter um aumento de ventrículos e de sulcos, com diminuição do peso do encéfalo. - Essas alterações começam a surgir 20 anos antes do início dos sintomas DEMÊNCIAS Victoria Chagas 2 ETIOFISIO PATOLO GIA • Proteína Tau - Os ENF intracelulares consistem em filamentos helicoidais pareados, formados a partir da proteína tau (proteína citosólica encontrada predominantemente em neurônios), onde a sua função principal é manter a estabilidade e montagem dos microtúbulos presentes nos axônios. - Sendo que a hiperfosforilação da tau leva a perda da estabilidade e rompimento desses microtúbulos, além de resultar na formação dos emaranhados neurofibrilares. • Placas amiloides - Já as PN, também chamadas de placas amiloides ou senis, no espaço extracelular, consistem de um agregado de filamentos denominados de peptídeos B-amiloide. - Na DA, Paciente apresenta um acúmulo de proteína beta amiloide no espaço extracelular em placas, encontradas principalmente no hipocampo, amígdala e no neocórtex. - As proteínas bela-amiloide estão relacionadas no auxílio do sistema imunológico do SNC → atuam na captura de microrganismos - A forma deficiente desta proteína ocasiona inúmeras alterações nas células nervosas, principalmente a destruição dos dendritos que são projeções comunicantes nos neurônios. • Genética - Mutação na APOE4 → DA de início tardio - Influenciam a doença em pacientes entre 60 à 70 anos de idade. → é a principal proteína carregadora de colesterol para o cérebro. Aparece aproximadamente em 40% dos portadores com DA e os pacientes que possuem esse alelo apresentam maiores chances de possuir a DA (4x mais). - Mutação na PSEN1, PSEN2 e APP → levam a DA de início precoce • Deficiência colinérgica - A base anatômica da deficiência colinérgica é a atrofia e a degeneração dos neurônios colinérgicos subcorticais que fornecem inervação colinérgica para todo o córtex cerebral. - Acetilcolina é o maior neurotransmissor responsável pela formação da memória e aprendizado. - Além disso, nesta patologia há destruição não apenas dos neurônios colinérgicos, mas também das células corticais e hipocampais que recebem estímulos colinérgicos. - Entretanto, a DA promove a degeneração de vários outros sistemas de neurotransmissores, como serotonina, glutamato e neuropeptídeos. **Glutamato na DA → As doenças neurodegenerativas possuem a característica de perda de neurônios por mecanismo derivados da sobreativação dos receptores de glutamato (excitotocidade) → o glutamato regulo a entrada de cálcio nos neurônios. Na DA há uma atividade excessiva de canais iônicos pelo excesso do glutamato no canal sináptico. Esse excesso acaba matando os neurônios pela alta concentração de cálcio. CLÍNICA • Declínio da memória + outra função cognitiva → persistente e progressivo - A perda da memória principal/inicial é a episódica recente - Exemplos: repetição das mesmas perguntas, esquecimento de eventos e compromissos... • Perda de funcionalidade - Outras funções cognitivas afetadas: o Orientação temporo-espacial – dificuldade em reconhecer ambientes o Linguagem – expressão, compreensão, leitura e escrita – empobrecimento do discurso o Função executiva – compromete realização de tarefas complexas o Praxia – capacidade de ordenar nossos movimentos para realizar tarefas) o Velocidade de pensamento – lentificação o Visoespacial – capacidade de se orientar no espaço e reconhecer faces ou objetos comuns, dificuldade para encontrar/compreender palavras o Personalidade ou comportamento – alteração de humor, agitação, apatia, desinibição. Victoria Chagas 3 CLÍNICA - Quadro clínico: • Depressão, apatia e irritabilidade • Anosognosia → perda do insight da doença (incapacidade de reconhecer a doença) • Alterações comportamentais → lobo frontal está afetado (responsável pela inibição) • Apraxia ideomotora (incapaz de repetir e executar gestos) – construcional (incapaz de operar instrumentos, se vestir, comer, copiar figuras) e Afasia • Agitação psicomotora → fases mais tardias • Nas fases mais avançadas o paciente evolui para um déficit cognitivo grave, apatia e incapacidade de deambulação → DA não cursa com distúrbios motores (paresias, espatiscidade), salvo nas fases finais da doença. Isso difere da segunda causa mais comum, a demência vascular (evolução mais rápida – manifesta-se com graus de afasia, predominantemente motora) - Fases da DA: o Fase inicial (estágio l - leve) de 1 a 3 anos ✓ Perda de memória recente – lapsos ✓ Mudanças de comportamento ✓ Senso de direção comprometido – doente se perde ✓ Atitude mais agressiva que o normal ✓ Dificuldade em fixar informações novas ✓ Teimosia – paciente insiste que nada está errado o Fase intermediária (estágio ll - moderada) de 2 a 8 anos ✓ Perda de memória intensificada ✓ Repetição infinita de informações ✓ Alternâncias de momentos de lucidez e confusão ✓ Estresse psicológico e depressão ✓ Agressividade quando contrariado ✓ Estranhamento constante da casa e dos pertences ✓ Começa a dependência físico – algumas atividades se tornam perigosas ou penosas ✓ Vocabulário – o doente esquece palavras óbvias o Fase grave (estágio lll) de 6 a 12 anos ✓ Dependência física total ✓ Não anda e quase não fala ✓ Aparecimento de infecções, como ITU e pneumonia ✓Deglutição prejudicada ✓ Surgimento de feridas e problemas de circulação devido longos períodos sentados ou deitados. ➢ ALZHEIMER DE INÍCIO PRECOCE - O Alzheimer precoce ou "demência pré-senil", é um tipo de Alzheimer raro que tem início antes dos 65 anos, normalmente entre os 40 e 50 (mas pode ser antes), e está relacionada a alterações genéticas hereditárias que levam a perda progressiva da cognição, resultando em sintomas como falha ou perda de memória, confusão mental, agressividade e dificuldade em fazer atividades diária. - Os sintomas geralmente se desenvolvem mais rápido gerando uma perda rápida de cognição. - Quando os primeiros sintomas surgem, muitas vezes são confundidos com excesso de estresse ou depressão, e por isso o diagnóstico do Alzheimer precoce acaba sendo tardio. O ideal é consultar um neurologista sempre que surgirem sintomas e existir histórico familiar da doença, pois o diagnóstico antecipado é importante. Victoria Chagas 4 DIAGNÓS TICO - Clínica + exclusão de outras causas de demências reversíveis - Processo de investigação diagnóstica para preencher os critérios inclui: o História completa (com paciente e familiar ou cuidador) e avaliação clínica o Rastreio cognitivo – testes cognitivos como o MINIMENTAL ou MoCA o Rastreio funcional – teste de Lawton e Brody – AIVD ou Katz - ABVD o Exames laboratoriais: hemograma completo, glicemia, ureia e creatinina, TSH, função hepático (ALT)/(AST), vitamina B12, ácido fólico. o Sorologia sérica para sífilis (VDRL) e HIV → em pacientes com menos de 60 anos o Imagem cerebral (TC sem contraste ou RM) - útil para excluir lesões estruturais que podem contribuir para demência, como infarto cerebral, neoplasia → podem ser normais no início ou mostrar atrofia cerebral, predominando nos lobos parietal, temporal e hipocampo com o passar do tempo. - Outros exames possíveis: o Punção lombar → Biomarcadores → não é de rotina (não tem no SUS e é caro) – proteína amiloide, Tau total e fosforilada o SPECT ou TC com emissão de pósitrons – irá revelar diminuição da atividade nas áreas cerebrais mais afetadas - Diagnóstico definitivo de DA só pode ser realizado por necropsia (ou biópsia) → identificação do número apropriado de placas e enovelados em regiões específicas do cérebro, na presença de história clínica consistente com demência (não é usado para diagnóstico clínico) TRATA MENTO - Não há tratamento com evidência de cura ou interrupção de avanço da doença. - Dentre os mais utilizados são anticolinesterásicos e memantina. - Estimulação cognitiva favorece retardamento da perda de funcionalidade. - Para sintomas como agitação ou delírios podem ser usados antipsicóticos atípicos ou bzd ➢ FARMACOLÓGICO • Inibidores da acetilcolinesterase - ↑ acetilcolina cerebral e podem melhorar os sintomas e/ou reduzir a progressão da doença. - Doses devem ser tituladas - minimizar EA – náuseas, diarreia, pesadelos, cãibras, bradicardia ✓ Donepezila – 5 a 10 mg VO 1x/dia ✓ Rivastigmina – 6 a 12 mg dividido em 2x/dia ✓ Galantamina – 16 a 24 mg/dia dividido em 2x/dia • Antagonista do receptor de glutamato – Inibidor do receptor NMDA - Usada para tto em moderada a grave associado ao anticolinesterase - A memantina (medicamento antagonista de NMDA) regula a ativação de um tipo de canal de cálcio, ou seja, não tem entrada excessiva de cálcio e os neurônios não morrem → usa em DA grave ou moderada pois nessas fases há maior desregulação destes canais iônicos que nas fases iniciais. ✓ Memantina – 20 mg dividido 2x ao dia • Antioxidantes → alguns estudos demonstrarão ↓ nas internações e ↑ da sobrevida ✓ Vitamina E → 2000 UI divididos em 2x/dia em pacientes sem IC (controverso) • Pacientes com depressão → IRSS ✓ Citalopram ou sertralina ➢ TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO • Atividades produtivas (estimulação cognitiva) → artesanato, música ... • Manter a rotina do paciente • Caminhadas e exercícios físicos simples • Contato social → interação é importante • Adaptação do ambiente para segurança do paciente Tau ↑ no LCR Amiloide ↓ LCR Victoria Chagas 5 DEMÊNCIA VASCULAR (DV) O QUE É? - Degeneração cognitiva, aguda ou crônica, decorrente de infarto cerebral difuso ou focal, relacionada com mais frequência à doença cerebrovascular - Com a prevenção primária e secundária de fatores de risco para doenças vasculares, a DV (ou CCV – comprometimento cognitivo vascular) pode ser considerado também uma demência potencialmente reversível, ou pelo menos, potencialmente estabilizável. EPIDEMIO - A DV é a mais prevalente entre as demências secundárias - Ocupa o 2º lugar entre todos os quadros demenciais, depois da DA na faixa senil (>65 anos) - A estimativa global é de 15-20% → 2% em 65-70 de idade e de 20-40% na de > 80 anos de idade - É mais comum em homens que em mulheres. - Demência vascular (DV) é muito frequente em países em que o controle dos fatores de risco para doenças vasculares é escasso, e também no Oriente (prevalência até 50% Japão e China) - Fatores de risco incluem → HAS, arritmia, DAC, DM, hipercolesterolemia, vasculite, tabagismo - Comum associação com a DA – demência mista ETIOFISIO PATOLO GIA - Em geral, a demência vascular resulta de múltiplos infartos cerebrais pequenos (ou, às vezes, hemorragias) → Embora cada infarto possa, por si só, ser apenas minimamente sintomático, a combinação de múltiplos infartos pequenos podem causar perda neuronal/axonal suficiente para prejudicar a função cerebral. - Demências vasculares incluem: • Múltiplo infarto lacunar: os pequenos vasos são afetados • Demência de múltiplos infartos: são afetados vasos de tamanho médio. • Demência de um único infarto estratégico: infarto único que ocorre em uma área crucial do cérebro (p. ex., giro angular, tálamo). • Demência de Binswanger (encefalopatia arteriosclerótica subcortical): É uma variante incomum da demência de pequenos vasos associada à hipertensão grave e mal controlada e à doença vascular sistêmica. Ela provoca perda difusa e irregular de axônios e mielina com gliose generalizada, morte tecidual devido a um infarto, ou perda de suprimento de sangue para a massa branca do cérebro. • Demência vascular hereditária: a arteriopatia cerebral autossômica dominante com infartos subcorticais e leucoencefalopatia (AADCISL) é uma doença cerebral de pequenos vasos causada por mutações. https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-neurol%C3%B3gicos/acidente-vascular-encef%C3%A1lico/acidente-vascular-encef%C3%A1lico-isqu%C3%AAmico Victoria Chagas 6 CLÍNICA - Os sintomas podem variar dependendo de onde o infarto ocorre → início dos sintomas geralmente ocorrem nos 3 primeiros meses que se seguem ao AVC - Os sinais e sintomas da demência vascular são semelhantes àqueles de outras demências → perda de memória, função executiva prejudicada, dificuldade de iniciar ações ou tarefas, raciocínio lento, alterações de personalidade e humor, alterações de linguagem. - Em comparação com a doença de Alzheimer, a demência vascular tende a causar perda de memória mais tarde e afetar a função executiva mais precocemente. - Progressão em “degraus” → cada episódio de infarto é acompanhado por declínio intelectual. - À medida que a doença progride, está muito associada a déficits neurológicos focais como: exacerbação dos reflexos tendinosos profundos, resposta extensora plantar, anormalidades da marcha, hemiplegias/hemiparesias, outros sinais de disfunção extrapiramidal,afasias - A perda cognitiva pode ser focal. Por exemplo, a memória de curto prazo pode ser menos afetada do que em outras formas de demência. Portanto, pacientes podem estar mais cientes de seus déficits e depressão pode ser mais comum que em outras demências. DIAGNÓS TICO - Diagnóstico de DV é realizado levando-se em conta a história clínica, os achados de exame, a avaliação neuropsicológica e os dados de neuroimagem - A avaliação neuropsicológica geralmente evidencia comprometimento de memória episódica menos intenso do que na DA, enquanto a atenção e as funções executivas e motoras estão mais gravemente acometidas. - O escore de Hachinski Pode ser usado o para diferenciar do Alzheimer (quadro) - É comum ter demência mista (DV + DA) • Achados clínicos sugestivos: ✓ História de AVC ✓ História de distúrbios de marchas ou quedas frequentes ✓ Incontinência de esfíncteres no início ✓ Paralisia pseudobulbar ✓ Achados focais como hemiparesia, e sinais extrapiramidais (rigidez e acinesia) ✓ Depressão e outras alterações • TC ou RM podem apresentar ✓ Infartos múltiplos bilaterais, múltiplos AVE lacunares e lesões da substância branca • Prognóstico → taxa de mortalidade em 5 anos é de 61% (o mais alto nas demências), provavelmente devido coexistência com outras doenças cardiovasculares. TRATA MENTO - Manejo terapêutico da DV passa necessariamente pelas estratégias de prevenção, tanto primária quanto secundária, de eventos cerebrovasculares, com o objetivo de identificar e controlar os fatores de risco, como HAS, DM, dislipidemia, fibrilação atrial e tabagismo. - Pela observação do déficit colinérgico na DV, tem-se mostrado a eficácia dos 3 principais IChEs (donepezil, galantamina e rivastigmina) em pacientes com DV de intensidade leve a moderada. - A memantina também se mostrou eficaz em pacientes com DV. https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-neurol%C3%B3gicos/delirium-e-dem%C3%AAncia/dem%C3%AAncia#v1036676_pt Victoria Chagas 7 DEMÊNCIA POR CORPÚSCULOS DE LEWY O QUE É? - A Doença de Lewy afeta indivíduos prioritariamente após os 75 anos e é caracterizada pela perda progressiva das funções cognitivas em decorrência da formação dos “corpos de Lewy”. EPIDEMIO - É a 2ª causa de demência de causa degenerativa em idosos → cerca de 15-20% - Apresenta uma média de idade de início de 75 anos, variando de 50-80 anos - Período médio de evolução de 9 anos ETIOFISIO PATOLO GIA - A gênese dos corpos de Lewy vem da proteína alfa sinucleína, encontrada na fenda pré-sináptica → corpos de Lewy intracelulares são formados pela agregação anômala de alfasinucleína - Fisiologicamente, essa proteína age como reguladora de liberação das vesículas sinápticas e na regulação de liberação de dopamina. - Em casos de mutação do gene dessa proteína, a substituição de alanina e de treonina propõe o surgimento dos copos de Lewy. - Os CL apresentam efeito neurotóxico regional, colaborando com o aparecimento de células da glia proporcionais ao número desses corpúsculos degenerativos. - O sistema imune responde com efeito pró inflamatório, no entanto, essa resposta também possui efeito neurotóxico e pode estar relacionada com a progressão dos corpos de Lewy. **Um paciente que apresenta a doença de Parkinson também apresenta uma histopatologia dos Corpos de Lewy, todavia, situada em um local diferente da Demência com Corpos de Lewy → na DP, os corpos de Lewy intracelulares estão no tronco cerebral e na substância nigra. Já na DCL, os corpos estão situados no neocórtex, sistema límbico, tronco cerebral e núcleos subcorticais. CLÍNICA - Presença de declínio cognitivo + perda funcional → dx de demência - A DCL é marcada por: • Inicialmente a atenção e estado de alerta estão mais prejudicados que a memória - Paciente ainda possui dificuldade de avaliar distancias → quedas constantes • Parkinsonismo → rigidez e bradicinesia, tremores e instabilidade postural - Geralmente demência e Parkinsonismo aparecem juntos, diferente da doença de Parkinson que tem um intervalo de tempo maior entre essas manifestações • Alucinações visuais (60-70%) → complexas e detalhadas - Geralmente começam nos 2 ou 3 anos da doença (na DA são tardios) - Alucinações geralmente não são assustadoras, se caracterizando por má interpretação de estímulos ambíguos – ex.: paciente interpreta sombra como pessoa ou animal (na DA geralmente quando tem alucinações são ameaçadores, causadoras de medo) • Flutuações cognitivas → alteração de consciência e de atenção já em estágios inicias - Ex.: Presença de uma fala confusa e incoerente, sem lembrar de ninguém... - Esses estados são transitórios e intercala com momentos de normalidade • Alterações de memória → mais de evocação do que de aquisição ou consolidação - Além disso a perda de memória é mais em fase evoluída da doença • Grande sensibilidade aos neurolépticos → pode acarretar quadros graves de parkinsonismo e mesmo síndrome neuroléptica maligna, com quedas repetidas • Distúrbios no sono REM → comportamentos motores automáticos associados a fenômenos oníricos vívidos ou assustadores • Ansiedade (27%) e depressão (59%) são sintomas comuns Victoria Chagas 8 DIAGNÓS TICO - O diagnóstico ocorre pela história clínica detalhada e exclusão de outras causas TRATA MENTO - O tratamento ocorre com as medidas de apoio e prevenção de acidentes como, por exemplo, melhorando a iluminação dos ambientes na casa, organizando horários de alimentação e ciclo- sono vigília, retirada de tapetes e móveis que sejam propícios a quedas. - A intervenção medicamentosa pode ser realizada com anticolinesterásicos, mas não há evidências de impedimento da progressão da doença. - Se necessário, por sintomas graves, podem ser utilizados os medicamentos neurolépticos atípicos (como benzodiazepínicos ou quetiapina), mas jamais neuroléptico típico, pois tende a piorar os sintomas e gerar surtos (maior sensibilidade) Victoria Chagas 9 DEMÊNCIA FRONTO-TEMPORAL O QUE É? - Degeneração lobar frontotemporal é a denominação geral para um grupo de doenças que se caracterizam por esse fenótipo (ou por comprometimento da linguagem), mas que dependem de diferentes mecanismos genéticos e bioquímicos - Doença de Pick: termo utilizada para descrever alterações patológicas na DFT, incluindo atrofia grave, perda neuronal, gliose e presença de neurônios anormais (células de Pick) contendo inclusões citoplasmática (corpos de Pick) EPIDEMIO - 30 a 50% possuem HMF e em 10% desses pacientes há padrão autossômica dominante - É considerada a 2ª causa mais frequente de demência de início precoce (em torno de 45 anos) depois da doença de Alzheimer (DA) - Discretamente mais prevalente em homens. ETIOFISIO PATOLO GIA - Como mencionados, a DFT tem componente hereditário, representando cerca de 50% dos casos e afeta indivíduos jovens, entre 45 e 65 anos. - Há uma atrofia cerebral assimétrica predominantemente na região frontotemporal que caracteriza o quadro clínico peculiar. o Cerca de metade dos casos está associada a mutações/alterações da proteína tau que sofre hiperfosforilação, o que interfere na sua função importante para a integridade do citoesqueleto neuronal → tauopatia o Alguns dos indivíduos com esse tipo de demência ainda têm uma mutação genética específica, que impede que as células cerebrais produzam uma proteína chamada PROGRANULINA. Emboraessa proteína não seja amplamente compreendida, sua ausência está ligada à doença. CLÍNICA - A DFP afeta, em geral, a personalidade e comportamento, ou seja, são sintomas neuropsiquiátricos, mas também pode estar relacionada a alterações de linguagem. - A memória é menos afetada, ao contrário do que o corre na doença de Alzheimer e, inclusive, pode estar sem nenhuma alteração durante doença. - Podem estar presentes alterações de neurônio motor com os seguintes sinais e sintomas: atrofia muscular, fraqueza, fasciculações e sintomas bulbares como disfagia e disfonia. DIAGNÓS TICO - O diagnóstico ocorre de maneira geral como nas outras demências, com avaliação clínica ampliada e alguns sintomas são bastante sugestivos da DFT, como a desinibição e comprometimento importante da linguagem. - Tomografia computadorizada e ressonância magnética são indicados para determinar o local e extensão dos danos cerebrais → atrofia frontotemporal ou padrões de hipometabolismo frontotemporal e/ou do cíngulo anterior. - Há biomarcadores, mas não são realizados na rotina - muito caro TRATA MENTO - Tratamento é mais sintomático • Estudos de PET têm demonstrado diminuição de receptores 5-HT2A nos pacientes→ Com base nesses dados, iniciou-se o uso de ISRS e trazodona • Há relatos de casos de melhora comportamental com o uso de memantina (um antagonista do receptor N-methil-D-aspartato, também utilizada em portadores de DA) • Sem evidencias de melhora com anticolinesterásicos Victoria Chagas 10 DOENÇA DE CREUTZFELDT-JACOB (DEMÊNCIA RAPIDAMENTE PROGRESSIVA) O QUE É? - DCJ é uma encefalopatia espongiforme transmissível (EET) humana, caracterizada por disfunção cerebral progressiva e degenerativa que inevitavelmente leva à morte EPIDEMIO - A forma esporádica apresenta uma idade média de início é de 60 anos, a duração média da doença é de 8 meses, e não há diferença de incidência entre os sexos. - A vDCJ (nova variante) acomete predominantemente pessoas jovens (com idade média de 28 anos no momento do óbito), que inicialmente apresentam sintomas psiquiátricos inespecíficos e sensoriais (disestesias e parestesias), seguidos por outros sinais e sintomas neurológicos. ETIOFISIO PATOLO GIA - Príon é uma proteína que em alguns casos sofrem mutações/alterações que geram a proteína priônica anormal – causa as DOENÇAS PRIÔNICAS - Essa proteína anormal é neurotóxico e causa apoptose e morte celular de neurônios - A doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJe) tem etiologia variada: o Esporádica –mais frequente (84%) o Transmitida ✓ Nova variante da doença (doença da vaca louca) - ingestão de carne infectada ✓ Iatrogênica – cirurgia ou procedimentos ✓ Kuru – atos de canibalismo (mt raro) o Genética (10-15%) CLÍNICA - Doença neuropsiquiátrica de evolução rápida (semanas a meses) com quadros variados: • Demência rapidamente progressiva → <2 anos de evolução • Mioclonia (espasmos) → em mais de 90% dos casos • Sinais piramidais → 40-80% dos pacientes → sinal de Babinski e hiperrreflexia • Ataxia cerebelar → 1/3 dos pacientes • Outros sintomas: Transtorno do sono, psicose, apraxia, comportamental (apatia, euforia), afasia, perda da inibição, mutismo acinético, sintomas sensoriais dolorosos, disestesias ... - O período de incubação pode prolongar-se por até 30 anos, mas a evolução ao óbito geralmente ocorre entre 6 meses e 2 anos do início dos sinais e sintomas (média de 5 meses) DIAGNÓS TICO - O diagnóstico definitivo é a biópsia cerebral, mas não é muito usado • RM → achados como “sinal taco de hóquei invertido”, realce cortical e descartar dxx • Eletroencefalograma – EEG → complexo de onda aguda periódica em 67 a 95% • Líquor - Exame do líquido cerebrospinal → Proteína elevada em 40% dos pacientes - RT-Quic (alta sensibilidade e especificidade) – presença do príon – alto custo TRATA MENTO - A partir da identificação do caso → notificação pelo profissional ou serviço de saúde - O tratamento da DCJ continua sendo de suporte → Não existe, até o momento, terapia específica para interromper a progressão da doença. ➢ PRECAUÇÕES - O principal cuidado ao realizar trabalho com material contaminado é evitar perfuração da pele - Não é necessário o isolamento dos suspeitos → maioria dos tecidos, secreções e excreções são considerados de baixa ou nenhuma infectividade - contato social não tem risco - Destruir ou usar métodos rigorosos de desinfecção de materiais (como instrumentos cirúrgicos - autoclave) que entrem em contato com tecidos infectados ou possivelmente infectados Victoria Chagas 11 NEUROSSÍFILIS O QUE É? - Sífilis é uma doença sexualmente transmitida, causada pelo Treponema pallidum e caracterizada por episódios de clínica ativa alternados com períodos latente, se não-tratada - O termo ''neurossífilis'' se refere à infecção do SNC, que pode ocorrer em qualquer momento após a infecção inicial, sendo mais caracteristicamente o aparecimento tardio - Quando precoce, a neurossífilis mais comumente envolve as meninges ou a vasculatura - Nos estágios tardios, o envolvimento do cérebro e da medula espinal) é mais comum - Pacientes sem sinais ou sintomas neurológicos, mas com exame do LCR anormal, são definidos como portadores de Neurossífilis assintomática EPIDEMIO - Antes da descoberta da penicilina era uma condição extremamente comum, afetando cerca de 5 a 10% dos pacientes com sífilis não tratada. - Com a era antibiótica, a apresentação clínica da neurossífilis sofreu mudanças, com aumento de quadros oligoassintomáticos e atípicos. - Atualmente a neurossífilis nas fases iniciais é vista mais frequentemente em pacientes com HIV ETIOFISIO PATOLO GIA - O SNC pode ser envolvido em qualquer estágio da infecção, embora as manifestações tradicionais sejam tardias. - A infecção, maioria das vezes, é adquirida por via sexual, em geral por contato com lesão 1ª. - Ao contrário de outras bactérias que infectam o LCR, a invasão com Treponema pallidum nem sempre resulta em infecção persistente, já que a resolução espontânea pode ocorrer sem resposta inflamatória. - A meningite persistente é o resultado da incapacidade de retirar os organismos do LCR. - Pacientes com meningite persistente sem sintomas têm a chamada neurossífilis assintomática, e indivíduos com essa forma de neurossífilis correm risco de formas subsequentes de neurossífilis. CLÍNICA - Curso clínico é caracterizado por episódios de exacerbação e períodos de latência, sendo o acometimento neurológico presente na fase 2ª (4-6 semanas pós-cancro) e 3ª (meses/décadas). - Na fase secundária podem ocorrer sintomas constitucionais como febre, queda do estado geral, astenia, linfadenomegalia generalizada e rash. Manifestações neurológicas nesta fase são meningite, neuropatias cranianas, incluindo perda auditiva neurossensorial e sintomas oculares - Na fase terciária podem ocorrer alterações granulomatosas (goma sifilítica), cardiovasculares e neurológicas como a forma meningovascular, mielopatia (tabes Dorsalis) e demência. - As síndromes de neurossífilis inicial (meningite, síndromes meningovascular, uveíte com meningite) são mais comuns que as síndromes tardias (paresia geral e tabes Dorsalis). ➢ RECENTE (forma secundária) ✓ Meningite sintomática: - Ocorre inflamação difusa das meninges acompanhadas ou não de gomas sifilíticas - São comuns: cefaleia, febre, náuseas, vômitos, rigidez de nuca, neuropatias e convulsões - A meningomielite e polirradiculopatia, apesarde raras, podem surgir também. - O acometimento é precoce, muitas vezes após tratamento falho de sífilis recente. - Deve-se ficar atento a ectoscopia, pois lesões de sífilis secundárias podem coexistir ✓ Meningovascular: - Ocorre uma endarterite infecciosa que acomete vasos do SNC, gerando trombose e isquemia. - Em geral, os ramos da artéria cerebral média são os mais acometidos. - Causam déficits neurológicos que podem ser indistinguíveis dos gerados num evento vascular - Pacientes podem ter pródromos - cefaleia, vertigem, insônia e alterações de personalidade. - Principalmente adultos jovens sem comorbidades cardiovasculares, meses/anos pós-infecção Victoria Chagas 12 CLÍNICA ➢ TARDIA (forma terciária) ✓ Tabes Dorsalis: - Sintomas sensoriais iniciais incluem dor e parestesias com distribuição radicular - Tardiamente ocorre perda da sensibilidade vibratória e propriocepção, além de arreflexia - Anormalidades pupilares (pupilas de Argyl Robertson), atrofia óptica, dores lancinantes, ataxia sensitiva, levando à tão famosa marcha tabética, e disfunção vesical são sintomas clássicos. - Era a manifestação mais comum na era pré-antibiótica, atualmente pouco menos frequente - Surge cerca de 20 anos após infecção inicial não tratada ✓ Demência paralítica: - Demência de caráter progressivo ou crônico - Pode mimetizar qualquer desordem psiquiátrica ou apresentar apenas declínio cognitivo - Ao exame neurológico pode haver sinais de liberação frontal, disartria e alterações pupilares - Na RM, há atrofia frontotemporal ou até mesmo estar normal nos casos iniciais - Ocorre 10 a 30 anos após infecção ➢ OUTRAS FORMAS ✓ Sífilis otológica → perda auditiva gradual assimétrica (surdez neurossensorial bilateral) - Mais comum na sífilis tardia ✓ Sífilis ocular → acomete qualquer estrutura ocular, sendo a uveíte anterior o mais comum. - Mais comum na sífilis precoce. ✓ Encefalopatia herpética → em pacientes jovens, levando a encefalopatia, febre e convulsão. - Melhora dos sintomas após tratamento com antibióticos. DIAGNÓS TICO - O diagnóstico de neurossífilis continua a ser um desafio pois não há teste padrão ouro. - Consequentemente, diagnóstico é baseado em uma combinação de achados clínicos, alterações LCR e ao resultado do VDRL no LCR. • O VDRL apresenta menor taxa de resultados falso-positivos do que no sangue; assim, um teste positivo confirma o diagnóstico. Mas o teste negativo não exclui neurossífilis, uma vez que o LCR pode ser normal e o VDRL negativo. • FTA-ABS negativo no LCR constitui forte evidência contra o diagnóstico de neurossífilis • LCR → mais comum é haver pleocitose linfocítica, proteinorraquia aumentada e VDRL + • Na ausência de sinais neurológicos ou sintomas, o VDRL positivo no LCR no cenário de líquido cefalorraquidiano anormal estabelece o diagnóstico de neurossífilis latente TRATA MENTO - Deve-se tratar para neurossífilis todos os pacientes infectados com sífilis que apresentem os achados descritos: Victoria Chagas 13 TRATA MENTO - Indivíduos tratados para neurossífilis devem ser submetidos a punção liquórica de controle após seis meses do término do tratamento. - Na persistência de alterações do LCR, recomenda-se o retratamento e punções de controle em intervalos de seis meses, até a normalização da celularidade e VDRL não reagente. - Em PVHIV essa resposta pode ser mais lenta, e uma avaliação caso a caso é necessária - A normalização do VDRL (queda da titulação em pelo menos 2 diluições ou soro reversão para não reagente) pode ser um parâmetro a ser considerado como resposta ao tratamento da neurossífilis principalmente num cenário de indisponibilidade de realização da punção lombar - Se a contagem celular não tiver diminuído após 6 meses, se os títulos sorológicos se elevarem ou não caírem, ou sintomas reaparecerem ou persistirem, o retratamento deve ser considerado - Todos os parceiros devem ser testados e o tratamento das parcerias sexuais com teste de sífilis reagente devem seguir as recomendações de tratamento de sífilis adquirida no adulto, de acordo com o estágio clínico.
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