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Ciências Sociais - POlítica III

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Montes Claros/MG - 2014
Regina Célia Fernandes Teixeira
Vanderlei Souza Carvalho 
2ª edição atualizada por 
Cassianne Campos Diniz
Política iii
2ª EDIÇÃO
2014
Proibida a reprodução total ou parcial.
Os infratores serão processados na forma da lei.
EDITORA UNIMONTES
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro
s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG)
Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089
Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214
Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes
Ficha Catalográfica:
Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES
REITOR
João dos Reis Canela
VICE-REITORA
Maria Ivete Soares de Almeida
DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES
Humberto Velloso Reis
EDITORA UNIMONTES
Conselho Consultivo
Antônio Alvimar Souza 
César Henrique de Queiroz Porto
Duarte Nuno Pessoa Vieira
Fernando Lolas Stepke
Fernando Verdú Pascoal
Hercílio Mertelli Júnior
Humberto Guido
José Geraldo de Freitas Drumond
Luis Jobim
Maisa Tavares de Souza Leite
Manuel Sarmento
Maria Geralda Almeida
Rita de Cássia Silva Dionísio
Sílvio Fernando Guimarães Carvalho
Siomara Aparecida Silva 
CONSELHO EDITORIAL
Ângela Cristina Borges
Arlete Ribeiro Nepomuceno
Betânia Maria Araújo Passos
Carmen Alberta Katayama de Gasperazzo
César Henrique de Queiroz Porto
Cláudia Regina Santos de Almeida
Fernando Guilherme Veloso Queiroz
Jânio Marques Dias
Luciana Mendes Oliveira
Maria Ângela Lopes Dumont Macedo
Maria Aparecida Pereira Queiroz
Maria Nadurce da Silva
Mariléia de Souza
Priscila Caires Santana Afonso
Zilmar Santos Cardoso
REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Carla Roselma Athayde Moraes
Waneuza Soares Eulálio
REVISÃO TÉCNICA
Karen Torres C. Lafetá de Almeida 
Káthia Silva Gomes
Viviane Margareth Chaves Pereira Reis
DESIGN EDITORIAL E CONTROLE DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO
Andréia Santos Dias
Camila Pereira Guimarães
Camilla Maria Silva Rodrigues
Fernando Guilherme Veloso Queiroz
Magda Lima de Oliveira
Sanzio Mendonça Henriiques
Wendell Brito Mineiro
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Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS/
Unimontes
Maria das Mercês Borem Correa Machado
Diretor do Centro de Ciências Humanas - CCH/Unimontes
Antônio Wagner Veloso Rocha
Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA/Unimontes
Paulo Cesar Mendes Barbosa
Chefe do Departamento de Comunicação e Letras/Unimontes
Mariléia de Souza
Chefe do Departamento de Educação/Unimontes
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Chefe do Departamento de Educação Física/Unimontes
Rogério Othon Teixeira Alves
Chefe do Departamento de Filosofi a/Unimontes
Ângela Cristina Borges
Chefe do Departamento de Geociências/Unimontes
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Chefe do Departamento de História/Unimontes
Francisco Oliveira Silva
Jânio Marques Dias
Chefe do Departamento de Estágios e Práticas Escolares
Cléa Márcia Pereira Câmara
Chefe do Departamento de Métodos e Técnicas Educacionais
Helena Murta Moraes Souto
Chefe do Departamento de Política e Ciências Sociais/Unimontes
Carlos Caixeta de Queiroz
Ministro da Educação
José Henrique Paim Fernandes
Presidente Geral da CAPES
Jorge Almeida Guimarães
Diretor de Educação a Distância da CAPES
João Carlos Teatini de Souza Clímaco
Governador do Estado de Minas Gerais
Alberto Pinto Coelho Júnior
Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
narcio Rodrigues da Silveira
Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes
João dos Reis Canela
Vice-Reitora da Universidade Estadual de Montes Claros - 
Unimontes
Maria ivete Soares de Almeida
Pró-Reitor de Ensino/Unimontes
João Felício Rodrigues neto
Diretor do Centro de Educação a Distância/Unimontes
Jânio Marques Dias
Coordenadora da UAB/Unimontes
Maria Ângela Lopes Dumont Macedo
Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes
Betânia Maria Araújo Passos
Autores
Regina Célia Fernandes Teixeira
Mestre em educação pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG.
Atualmente é professora do Departamento de Política e Ciências Sociais da Universidade 
Estadual de Montes Claros – Unimontes. 
Vanderlei Souza Carvalho 
Mestre em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Atualmente é 
professor de Ciência Política na Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes.
Atualização e revisão
Cassianne Campos Diniz
Mestre em Antropologia Social pela Universidade de Brasília-UnB.
Sumário
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9
Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
Conceito e elementos do Estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.2 Origens do estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.3 Conceito de estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15
1.4 Elementos constitutivos do estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .20
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .23
O estado moderno e sua relação com o capitalismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.2 Modernidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.3 Estado moderno: formação e capitalismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.4 Apontando contradições – a crítica do materialismo histórico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .32
Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33
As diversas formas de estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33
3.2 O Estado liberal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.3 O Estado socialista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37
3.4 O Estado social-democrata . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .39
3.5 O Estado e o neoliberalismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41
3.6 O neoliberalismo no Brasil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .45
3.7 Refletindo sobre o neoliberalismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51
Unidade 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53
Estado e cidadania . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53
4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53
4.2 Cidadania. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53
4.3 Cidadania: conquista e controle . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .62
Unidade 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .63
O Estado-nação e os dilemas da globalização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .63
5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .63
5.2 Neoliberalismo, reestruturação produtiva e centralidade do conhecimento . . . . . . .63
5.3 Por uma outra globalização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
5.4 Do estado providência ao estado penitência, ainda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .70
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .75
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .77
Referências básicas e complementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .79
Atividades de Aprendizagem – AA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .81
9
Ciências Sociais - Política III
Apresentação
Caros acadêmicos, dando continuidade aos estudos de Ciência Política, apresentamos o 
conteúdo da disciplina Política III. Vamos analisar nesta disciplina temas como Estado, sociedade, 
modernidade, transformações sociais, capitalismo, liberalismo, social-democracia, neoliberalis-
mo, cidadania, globalização, entre outros. 
Na medida em que o curso avança, os assuntos vão se tornando mais complexos, novos 
contextos, novos horizontes e novas abordagens vão surgindo. A linguagem também vai se com-
plexificando. Por mais que queiramos ser didáticos e facilitar o entendimento dos textos, não po-
demos nos afastar muito da linguagem mais densa, mais rigorosa e mais sofisticada que encon-
tramos nos livros. 
Diferentemente das duas disciplinas anteriores, que enfatizaram os autores, esta disciplina 
tem um enfoque temático. A despeito disso, aqui nós também mencionaremos alguns autores, 
para destacar seus argumentos mais importantes sobre os temas que abordaremos. 
A proposta central da disciplina é estudar as formas do Estado, nas suas mais variadas con-
figurações históricas, desde a antiguidade Grega e Romana, passando pela Idade Média, até 
chegarmos à Idade Moderna, para entendermos o Estado como observamos hoje. O Estado será 
analisado a partir de diferentes abordagens teóricas, enfocando as várias formas de manifestação 
do Estado, desde o Estado teocrático até o Estado de bem-estar social e as mudanças produzidas 
pelas reformas neoliberais. 
Na primeira unidade, a partir de uma abordagem histórica, tentaremos recompor a história 
da instituição Estado, da antiguidade à atualidade. Estudaremos a consolidação e a finalidade do 
Estado Moderno, como também a relação entre os cidadãos de um determinado território e as 
instituições políticas que o governam. Entender o Estado na atualidade implica compreender os 
critérios de nacionalidade, a noção de território, o conceito de soberania. Nessa discussão, lança-
remos mão dos referidos conceitos para entendermos alguns aspectos do Estado brasileiro.
Na segunda unidade voltaremos ao tema da formação do Estado na modernidade para en-
tender como ele foi se formando e se firmando como uma instituição intrinsecamente relaciona-
da com o desenvolvimento da sociedade moderna e com a dinâmica do capitalismo. 
Na terceira unidade, estudaremos diversas formas de Estado, ou, dito de outro modo, as vá-
rias modalidades de intervenção do Estado na vida social. Partiremos do Estado liberal, passare-
mos pelo papel do Estado no socialismo e pelo Estado de bem-estar social da social democracia, 
chegando ao Estado no neoliberalismo. Ao final da unidade, analisaremos a implantação da po-
lítica neoliberal no Brasil, um tema muito recente, pois atualmente ainda se fazem presentes os 
impactos das reformas neoliberais realizadas nos anos de 1990 e das duas primeiras décadas do 
século XXI.
A quarta unidade, é dedicada à relação entre Estado e cidadania, temática atualíssima. A re-
lação entre Estado e cidadania é de fundamental importância em nossos dias, pois sugere um 
cuidadoso estudo de como o Estado resolve a equação dos direitos e dos deveres dos cidadãos 
perante os demais e perante as instituições públicas.
Na quinta e última unidade, dedicamo-nos ao processo de globalização e o Estado-nação. 
Nesse caso estamos diante de um tema muito debatido na atualidade, pois se trata de um pro-
cesso em curso. Avanços observados com relação aos meios de comunicação,da informática im-
puseram muitas mudanças importantes na atualidade,repercutindo de modo contundente em 
questões como o controle do mercado,da cidadania, do trabalho e da organização da sociedade 
civil. 
Bem, há muito o que estudar, então estamos fazendo uma opção, a de apresentar um con-
junto de informações importantes, mas sugerindo que vocês ampliem seus conhecimentos pes-
quisando mais, a partir de indicações apresentadas. Ao longo do caderno há dicas importantes, 
indicações de livros e filmes. Também apresentamos atividades avaliativas com o propósito de 
reforçar os principais objetivos a serem alcançados por esta disciplina. 
Os autores
Bons estudos!
11
Ciências Sociais - Política III
UniDADe 1
Conceito e elementos do Estado
1.1 Introdução
Nesta unidade, a partir de uma abordagem histórica, estudaremos a consolidação do Estado 
Moderno, seus elementos e a sua finalidade.É importante estudar a relação entre os cidadãos de 
um determinado território e as instituições políticas que governam sobre este território. Se o Es-
tado forma seu povo (seus cidadãos), então é necessário conhecer os critérios através dos quais 
essa transformação acontece. Entender o Estado na atualidade implica compreender os critérios 
de nacionalidade, a noção de território e o conceito de soberania, enfocando tais conceitos no 
entendimento do Estado brasileiro. 
1.2 Origens do estado
Ao estudarmos a origem do Estado, devemos diferenciar dois processos em sua formação: 
1. formação originária – relativa a populações que nunca estiveram ligadas a qualquer Es-
tado; 
2. formação derivada – formação dos Estados a partir de um outro pré-existente. 
As mais diferentes e diversas sociedades,em tempos e lugares distintos, não estabeleceram 
instituições destinadas a centralizar o poder e controlar um determinado povo como o faz os Es-
tados-nação contemporâneos.As explicações para tal fato são muitas e indicamos uma pesquisa 
mais profunda nos campos da história e da etnologia. No entanto, de acordo com o historiador 
Edwuard McNall Burns, a origem do Estado encontra-se provavelmente numa variedade de fa-
tores, o desenvolvimento da agricultura foi seguramente um dos mais importantes. Em certasregiões, como no Vale do Rio Nilo, na África, onde uma população numerosa vivia da cultura in-
tensiva (dada a brevidade do prazo disponível para o cultivo) de uma área limitada de solo fértil, 
um alto grau de organização social tornou-se indispensável. Os antigos costumes não seriam su-
ficientes para definir os direitos e deveres numa sociedade com elevado padrão de vida. Com a 
distribuição desigual da riqueza e o vasto campo que oferecia ao embate dos interesses pessoais, 
novas medidas de controle social se tornariam necessárias, medidas que dificilmente poderiam 
ser postas em prática por outro meio que não a instituição de um governo revestido de autori-
dade e a submissão a esse governo, em outras palavras pela criação de um Estado (BURNS, 1978). 
Outra explicação para a formação do Estado é a de que muitos Estados surgiram por razões 
militares, ou seja, foram fundados para fins de conquistas e defesa de territórios – como ates-
tam os vários reinos descritos no livro O Príncipe, de Maquiavel (estudado na disciplina Política I). 
Você deve se lembrar de que Maquiavel cita muitos Estados que foram conquistados pelos prín-
cipes, outros foram unidos, formando novos Estados, etc. Nesses casos, estamos falando de Esta-
dos derivados, ou seja, de estados que surgiram a partir de outros previamente existentes. 
É muito difícil definir um conceito exato do que seria um primeiro tipo de Estado, mas his-
toriadores da política e estudiosos do Direito, como Georges Jellinek, Citado por Bobbio (2004) 
e Dallari (2001), acreditam que é possível estipular tipos de estados, pois todo fenômeno social 
oferece semelhanças e diferenças que permitem estabelecer analogias. Os tipos de Estado po-
dem ser vistos como tipos ideais, empíricos (seguindo a metodologia de Max Weber, estudado 
na disciplina Política II), com características básicas, mas nunca encontradas exatamente como 
descritos na realidade. São três os tipos de Estado descritos por esses autores: estado Antigo, 
estado Medieval e estado Moderno. Como se pode notar, esta tipificação recorre aos períodos 
12
UAB/Unimontes - 3º Período
históricos: Estados Antigos, como o egípcio, o grego e Romano, existiram na Antiguidade; o Esta-
do Medieval existiu na Idade Média e Estado Moderno é próprio da era moderna e existe, claro, 
até os dias de hoje.
1.2.1 Estado antigo
As primeiras manifestações do Estado Antigo, comumente definido como Estado Oriental 
ou Teocrático, começaram a surgir na região do Mediterrâneo e no Vale do Rio Nilo. Há duas mar-
cas fundamentais desse tipo de Estado: a natureza unitária – o Estado antigo era uma unidade 
geral, não admitindo divisão territorial, nem de funções; e a religiosidade – os estudiosos descre-
vem esse Estado como Teocrático, devido à influência da religião predominando sobre a auto-
ridade dos governantes e as normas comportamentais individuais e coletivas como expressões 
da vontade divina. A vontade do governante é sempre semelhante à vontade divina, em outros 
casos o poder do governante é limitado por uma classe sacerdotal (DALLARI, 2001).
Na Grécia antiga, formaram-se as Cidades-estados: o Estado existiu na forma da Polis grega 
(o termo Polis na Grécia antiga designava a cidade). O fenômeno decisório e a aplicação das nor-
mas se davam a partir das Cidades-estados. Atenas expressava uma cultura democrática, refleti-
da na Ágora, a praça pública onde ocorriam as assembleias dos cidadãos.
A filosofia grega foi pioneira ao teorizar o Estado. Um dos seus filósofos, Platão, tornou-se 
influente no pensamento político ocidental, por elaborar uma interessante teoria do Estado e do 
governo. Na obra A República, Platão formulou a teoria do Filósofo-Rei, de alma racional. Para 
Platão, os soldados, que tinham a alma irascível (propensa à ira), e os produtores e comerciantes, 
de alma concupiscente(tendente a desejar bens materiais) não teriam afinidade com o exercício 
do poder. O bom governo, isto é, o exercício do poder político em benefício da Polis, só poderia 
ser exercido pelo Rei-Filósofo, que teria conhecimento e virtude moral para fazer o melhor possí-
vel para todos.
Aristóteles, por sua vez, formula a teoria das“Formas de Governo”, em que o governo de um 
é definido como Monarquia (ou Realeza); o governo de poucos, como Aristocracia; e o governo 
da maioria, como democracia (ou Governo Popular). Aristóteles chamava, ainda, a atenção para 
Figura 1: Lupa 
Capitolina, antiguidade 
clássica. A peça em 
bronze representa 
o mito da fundação 
de Roma. A loba 
amamenta os gêmeos 
Rômulo e Remo.
Fonte Disponível em 
http://www.museica-
pitolini.org/ Acesso em 
18/05/2014.
►
GLOSSÁRiO
Ágora: praça principal 
das antigas cidades 
gregas, local em que 
se instalava o mercado 
e que muitas vezes 
servia para a realização 
das assembleias do 
povo; formando um 
recinto decorado com 
pórticos, estátuas, etc., 
era também um centro 
religioso.
13
Ciências Sociais - Política III
as formas “puras”, boas – voltadas para a realização e defesa do bem comum – e as formas “impu-
ras”, ruins – afastadas do objetivo do bem comum (DALLARI, 2001).
Os romanos, como os gregos, também instituíram uma forma de Estado que foi muito dis-
cutido pelos pensadores políticos ao longo da história ocidental. Durante um longo período, o 
Estado romano manteve a característica de uma Cidade-Estado, mas a amplitude e atuação da 
vida política de Roma na história do Ocidente duraram cerca de oitocentos anos. Ao longo dos 
séculos, Roma estendeu amplamente seu território de dominação política e instituiu um Império. 
Na sua formação e expansão, o Império Romano incorporou, reformulou, institucionalizou e pro-
moveu o cristianismo. 
Uma característica do Estado Romano era a base familiar, a Civitas (o termo Civitas do latim, 
designava a organização política da Roma antiga), resultou de uma união de grupos familiares 
(Gens). Tanto no Estado Grego como no Estado Romano, o povo participava das decisões, mas 
a noção de povo era muito restrita: apenas os nascidos no território e filhos de pais gregos ou 
romanos tinham a nacionalidade e podiam tomar parte nos assuntos políticos. Mesmo assim, seu 
poder de decisão era limitado pela sua condição socioeconômica. Nos períodos da Realeza, da 
República e do Império, pode-se notar a autoridade do Pater famílias (o termo Pater famílias, do 
latim, designa o poder do patriarca familiar, do pai da família), com direito de vida e morte sobre 
os membros da família, que era muito extensa e abarcava várias gerações. Pouco a pouco, o po-
der, inicialmente de base familiar, foi adquirindo uma face política com os Cônsules, Senadores e 
Tribunos da plebe (DALLARI, 2001).
1.2.2 Estado Medieval
No plano do Estado, a Idade Média foi um período tremendamente instável, difícil de carac-
terizar um modelo de Estado puro. Entretanto, três fenômenos marcaram o Estado Medieval: o 
cristianismo,as invasões bárbaras e o feudalismo. 
O cristianismo –defendia a universalidade, superando a ideia de que os homens valem de 
acordo com a sua origem, considerando-os iguais. Essa prerrogativa moral do cristianismo fez 
com que a Igreja estimulasse a unidade política dos impérios, mas os próprios reis não deseja-
vam se submeter à autoridade religiosa, por isso a luta entre o Papa e o Imperador marcou os 
últimos anos da Idade Média e só acabou com o nascimento do Estado Moderno, e com a supre-
macia dos monarcas em relação ao Papa (DALLARI, 2001).
As invasões dos bárbaros – iniciadas no século IV e retomadas no século VI, as invasões fo-
ram um fator de grande perturbação e transformações. Os povos denominados bárbaros eram 
oriundos de várias partes da Europa, sobretudo do norte (Germanos, Eslavos e Godos), introdu-
ziram mudanças nos costumes, acabaram influenciando o surgimento de pequenos núcleos de 
poder local e mesmo de Estados nosdomínios do Império Romano.
A formação de um vasto império proporcionou aos romanos grandes dificuldades ligadas à 
manutenção dos limites territoriais com outros povos europeus. A partir do século IV, os povos 
germânicos foram atraídos pela disponibilidade de terras férteis e o clima ameno das possessões 
romanas. Os romanos tinham o costume de chamar esses invasores estrangeiros de “bárbaros”. 
Essa palavra de origem grega era genericamente destinada a todo aquele que não tinha capaci-
dade de assimilar a língua e os costumes romanos. Apesar dessa distinção, as invasões bárbaras 
foram responsáveis diretas por um intenso intercâmbio cultural que modificou profundamente a 
formação étnica, política, econômica e religiosa do mundo ocidental.
14
UAB/Unimontes - 3º Período
O feudalismo – Com a derrocada do Império Romano, devida em grande parte pelas in-
vasões bárbaras, prevaleceram na Idade Média as relações de vassalagem e suserania. O suse-
rano era quem dava um lote de terra ao vassalo que deveria prestar fidelidade e ajuda ao seu 
suserano. O vassalo oferecia ao senhor fidelidade e trabalho, em troca de proteção e de um lugar 
no sistema de produção. As redes de vassalagem se estendiam por várias regiões, sendo o rei o 
suserano mais poderoso. Todos os poderes – jurídico, econômico e político – concentravam-se 
Figura 2: O Saque de 
Roma por Bárbaros em 
410, tela de Joseph-
Noël Sylvestre, 1890.
Fonte Disponível em 
http://www.latribune-
delart.com/. Acesso em 
19/05/2014.
►
15
Ciências Sociais - Política III
nas mãos dos senhores feudais. O feudalismo foi marcado pela importância da posse da terra, 
de onde todos tiravam seu sustento. Os grandes proprietários afirmavam sua independência em 
relação a qualquer autoridade maior (Estado). 
Os três fatores acima descritos determinaram as características do Estado Medieval: um po-
der exercido pelo Rei, com uma infinidade de poderes menores, sem hierarquia definida; uma 
ordem imperial e eclesiástica (religiosa) em que o Rei tinha pouco poder político, pois competia 
com os senhores feudais e com o Papa. O período medieval foi marcado por grande instabilidade 
política, que culminou na centralização da autoridade que veio a se realizar com o surgimento do 
Estado Moderno.
1.2.3 O Estado Moderno
É na Idade Moderna que aparece o termo Estado para designar a sociedade política. Coube 
a Maquiavel usar pela primeira vez o termo “Status” com o sentido de Estado. Segundo Maquia-
vel (2003), todos os domínios existentes que tiveram ou têm autoridade sobre os homens são 
Estados e foram ou são Repúblicas ou Principados (Monarquias). 
A instabilidade política e social do período medieval e as transformações que ocorreram no 
final da Idade Média levaram à busca de unidade político-territorial, na qual deveria se afirmar 
um poder soberano e estável. O Estado Moderno nasceu assim, com as características básicas 
hoje conhecidas: unidade territorial, poder soberano, definição de um povo por meio da na-
cionalidade, ordenamento jurídico e finalidade; essas características se tornaram os elementos 
constitutivos do Estado (BOBBIO, 2004; DALLARI, 2001). 
Em suma, o Estado Moderno começa a ser formado no final da Idade Média, como resultado 
das crises e instabilidades do período medieval, da ascensão da burguesia e de uma redução do 
papel da igreja (o poder papal). 
Entre os séculos XV e XVIII, vigorou o absolutismo. O Estado absolutista é primeira manifes-
tação do Estado Soberano do qual falamos acima. Essa forma de Estado é uma expressão históri-
ca do grande poder dos reis que, com a entrada da modernidade, já não enfrentavam a oposição 
dos senhores feudais enfraquecidos e nem da igreja, que teve seu poder reduzido. Os reis abso-
lutistas sequer enfrentavam, ainda, o poder da burguesia, como uma classe organizada. O Estado 
absolutista era uma espécie de “Estado feudal transformado”, que se sustentava sobre uma enor-
me burocracia administrativa e que mantinha grandes privilégios às elites políticas, limitando o 
desenvolvimento da economia burguesa. Esse Estado absolutista é chamado na Ciência Política 
de Antigo Regime (Ancién Régime). 
Os argumentos ideológicos em favor do absolutismo apoiavam-se nas ideias de filósofos 
como Jean Bodin, Maquiavel e Thomas Hobbes (autores estudados na disciplina Política I, no pri-
meiro semestre). No entanto, o Estado absolutista foi fortemente combatido pelo pensamento 
liberal que surgia, com filósofos como Jean Jacques Rousseau, John Locke e Montesquieu; e pelo 
anseio da burguesia para ascender ao poder político e configurar um Estado que lhe fosse útil, 
menos interventor e com poderes limitados. 
1.3 Conceito de Estado
O Estado é uma das mais importantes criações humanas, é formado por um conjunto de 
instituições voltadas para a administração da vida pública – ao menos em teoria. Um elemento 
comum nos estudos contemporâneos do Estado é sua caracterização como sociedade política 
e a distinção entre sociedade política e sociedade civil. A sociedade civil é entendida moderna-
mente como o conjunto das associações de natureza privada (econômica ou familiar), voltadas 
para a realização de interesses particulares ou corporativos. As associações da sociedade civil não 
são dotadas de normas válidas para todos os indivíduos de uma dada localidade, elas dispõem 
apenas de normas válidas para seus integrantes. Caracterizam-se como sociedade civil os meios 
de comunicação, as associações de produtores, as organizações não-governamentais, os sindica-
tos e os partidos políticos. Os partidos são destinados a fins políticos, mas eles não podem impor 
seus programas e estatutos a todos os indivíduos, e sim apenas a seus membros. Há associações 
da sociedade civil, como as ONGs, que realizam promoção social ou atividades beneficentes, de 
DiCA
Quando dizemos poder 
soberano, queremos 
dizer um poder acima 
de todos dos demais. 
Se falamos que o 
Estado moderno tem 
um poder soberano, 
falamos, portanto, que 
a Igreja ou qualquer 
outra organização 
social está abaixo do 
Estado e deve obedecer 
às suas leis. Lembre-se 
de que, na Idade Média, 
por exemplo, muitas 
vezes o poder dos reis 
era questionado pelo 
Papa. Há diversos fatos 
históricos que mostram 
derrotas políticas dos 
reis frente aos papas. 
Com o surgimento do 
Estado moderno, so-
berano, essa realidade 
mudou.
DiCA
O conceito de socie-
dade civil é objeto de 
um longo debate na 
ciência social. Aqui, 
quando falamos da 
sociedade civil, esta-
mos nos referindo a 
um sentido comum na 
atualidade. Entre as vá-
rias contribuições para 
se firmar o conceito 
atual de sociedade civil, 
destacamos a obra de 
Antônio Gramsci, que 
vem sendo publicada 
no Brasil pela Editora 
Civilização brasileira 
sob o título de Cader-
nos do Cárcere em 10 
volumes.
16
UAB/Unimontes - 3º Período
interesse público, mas os beneficiários de tais associações são grupos específicos, não toda a so-
ciedade. 
A sociedade política é formada pelo conjunto das instituições públicas (estatais), é dotada 
de um ordenamento jurídico válido para todos os habitantes de determinada localidade ou ter-
ritório. Na sociedade política há normas a serem seguidas por todos, cuja desobediência acarreta 
penas previstas nas leis. A sociedade política dispõe de um ordenamento jurídico abrangente e 
de poder político limitador de todos os demais poderes existentes na sociedade: o poder político se 
sustenta no poder do Estado, que é soberano. Lembra-se de como definimos o poder soberano, 
acima?
O fenômeno estatal insere-se num campo de luta teórica e política, e isso impede de uti-
lizarmos um conceito único de Estado que seja universalmente válido. Cada uma das grandes 
correntes de pensamento apresenta uma dada explicação para a criação, as razões e a função do 
Estado. 
Há, contudo, um relativoconsenso em torno do entendimento do Estado como sendo a 
mais complexa organização criada pela humanidade voltada para o exercício da dominação e 
imposição de uma determinada ordem social. 
Com a palavra “Estado”, indica-se modernamente a maior organização política 
que a humanidade conhece; ela se refere quer ao complexo territorial e demo-
gráfico no qual se exerce uma dominação (isto é, o poder político), quer à rela-
ção de coexistência e de coesão das leis e dos órgãos que dominam sobre esse 
complexo (GRUPPI, 1986, p. 7). 
Como são muitos e variados os conceitos de Estado, adotaremos um caminho comum à 
maioria dos estudiosos contemporâneos, preferimos empregar um conceito que contemple 
os elementos constitutivos do Estado, em lugar de um conceito puramente teórico. De modo 
bem simples podemos apresentar o seguinte conceito: Estado é a sociedade política em que 
se observa um governo soberano a exercer seu poder sobre uma população, num determina-
do território, onde cria, executa e aplica seu ordenamento jurídico, visando a uma determina-
da ordem social. 
O conceito acima tem a vantagem de apresentar todos os elementos constitutivos do Esta-
do. É menos um conceito teórico e mais uma expressão de sua estrutura material e formal. 
1.4 Elementos constitutivos do 
Estado
O Estado constitui-se de um conjunto de elementos, a saber: 
•	 Elementos materiais – população e território;
•	 Elementos formais – governo soberano e ordenamento jurídico; 
•	 Elemento final (objetivo) – ordem social. 
DiCA
Trata-se de uma série 
de tratados assinados 
em meados do século 
XVII, colocando fim na 
Guerra dos Trinta Anos. 
Com tais tratados, inau-
gurou-se o moderno 
Sistema Internacional 
das relações diplomá-
ticas entre os Estados-
-nação modernos. Os 
princípios de soberania 
estatal e o de Estado- 
nação foram acatados 
consensualmente. 
Surge com eles a ideia 
de que a paz duradoura 
resulta do equilíbrio do 
poder.
17
Ciências Sociais - Política III
1.4.1 Povo
A população é formada pelo conjunto de todos os habitantes de um determinado território, 
é um conceito demográfico; enquanto o Povo (um conceito jurídico e político) refere-se à parcela 
da população que tem o direito à nacionalidade de um determinado Estado, é o conjunto dos ci-
dadãos com vínculos políticos com o Estado, ou seja, podem escolher e serem escolhidos gover-
nantes – em síntese, podem votar e ser votados. Embora se afirme que o Estado exerce seu poder 
soberano sobre uma população, todo Estado forma seu povo, a quem se reporta na formação do 
poder público.
É por meio da nacionalidade que o Estado forma seu povo. Questão controversa durante a 
Antiguidade e a Idade Média, os dois critérios objetivos de nacionalidade que são: Jus soli– na-
cionalidade concedida de acordo com o local de nascimento – e Jus sanguinis – nacionalidade 
concedida com base na nacionalidade dos pais. 
Dos critérios definidores da nacionalidade resultam duas situações: a dupla nacionalidade e 
os apátridas. Os indivíduos nascidos em países que adotam os Jus soli adquirem a nacionalidade 
deste; se descendentes de cidadãos de países que adotam o jus sanguinis, adquirem também a 
nacionalidade dos pais – dupla nacionalidade.
Os filhos de refugiados de um país que adota restritivamente jus soli, nascidos num país que 
adota restritivamente o jus sanguinis, tornam-se apátridas – não são cidadãos de seu país de ori-
gem, pois lá se adota o jus soli e não são cidadãos do país onde nasceram, pois ali se adota o jus 
sanguinis. Nesse caso, a Organização das Nações Unidas (ONU) mantém um Comissariado para 
os Apátridas, que cuida dos processos de naturalização e concessão de passaporte especial.
1.4.2 Território
Não se pode falar de um Estado independente sem um território. O território é a base física 
imprescindível para a existência do próprio Estado e compõe-se das seguintes partes:
a. solo – porção de terras delimitadas pelas fronteiras internacionais e pelo mar;
b. subsolo – é a porção de terras que, abaixo do solo, tem a mesma configuração do solo;
◄ Figura 3: Ratificação da 
Paz de Münster, Gerard 
ter Borch, 1648. A Paz 
de Vestfália também é 
conhecida como Paz de 
Münster.
Fonte: Disponível em 
http://de.wikipedia.org/ . 
Acesso em 01/05/2014.
18
UAB/Unimontes - 3º Período
c. espaço aéreo – é a coluna de ar imaginária que acompanha o território terrestre acrescido 
do mar territorial;
d. embaixadas e consulados – são sedes de representação diplomática dos Estados, conside-
radas pequenas partes do território daqueles em país estrangeiro;
e. navios e aviões militares e comerciais – em qualquer parte que se encontrem, são consi-
derados parte do território do país de origem;
f. mar territorial – definido legalmente em 12 milhas náuticas.
1.4.3 Governo soberano
O Estado é senhor de sua ordem jurídica, pois é ele que, por meio de seus órgãos, cria, exe-
cuta e aplica seu ordenamento jurídico, visando a uma determinada ordem social. O poder para 
assim atuar perante a sociedade denomina-se soberania, entendida como forma suprema de po-
der que tem o Estado.
O conceito de soberania vem sendo tratado historicamente de forma muito variada. Inicial-
mente, nas sociedades antigas, o conceito era vago, dado que o poder dos reis era partilhado 
com os senhores feudais. Posteriormente, o rei foi firmando seu poderio e submetendo todos 
que existiam em seus países ao seu poder supremo de justiça e de polícia.
Na Idade Moderna, com a formação dos Estados territoriais, o conceito de soberania foi em-
pregado para designar um poder soberano absoluto. Na atualidade, o conceito sofreu redefini-
ções, sendo definido como o poder que tem o Estado de organizar-se juridicamente e de fazer 
valer dentro de seu território a universalidade das decisões nos limites dos fins éticos de convi-
vência, ou seja, o poder de submeter todos os indivíduos e grupos existentes ao poder do Estado 
(REALE, 1980).
1.4.4 Ordenamento Jurídico
O ordenamento jurídico não deve ser confundido com uma só norma, como a Constituição, 
por exemplo; trata-se de todo um conjunto de normas abrangentes. Para Bobbio (2000), as nor-
mas jurídicas nunca existem isoladamente, mas sempre em um contexto de normas com rela-
ções particulares entre si. Esse contexto de normas costuma ser chamado de ordenamento.
Ordenamento jurídico pode ser então definido como:conjunto das normas constitutivas e 
comportamentais criadas pelo Estado, mediante processo adequado, e por meio de órgãos aos 
quais a Constituição confere poderes. Normas constitutivas são aquelas que constituem o Esta-
do, sua forma de governo e a relação entre os poderes; normas comportamentais são aquelas 
que determinam os comportamentos, determinam o que é permitido ou proibido fazer.
O Brasil é definido pela Constituição de 1988 como uma República Federativa e Democrá-
tica – norma constitutiva porque define o Estado brasileiro. No Brasil, como em todos os demais 
países, é proibido matar, roubar, e quem cometer tais crimes será punido de acordo com a lei – 
norma comportamental.
1.4.5 Ordem social
O liberalismo apresenta como finalidade do Estado o bem comum. Esse Estado não pode 
ter um fim em si mesmo, mas deve buscar o bem-estar da população. Aqui preferimos apresen-
tar como finalidade do Estado a realização de uma determinada ordem social. Entendemos que 
todo e qualquer agrupamento humano deseja uma determinada ordem social, independente-
mente dos valores políticos que orientam o grupo.
A ordem social desejável em todo Estado precisa ser definida com mais clareza a partir das 
orientações culturais, políticas e ideológicas de seus dirigentes. Se esses forem religiosos, deseja-
rão uma ordem social baseada nos valores da religião predominante; se forem capitalistas, dese-
jarão uma ordem social baseada na propriedade privadae na exploração do trabalho; se forem 
socialistas, desejarão uma ordem social baseada na igualdade, na ausência da propriedade priva-
da dos meios de produção, no fim da exploração do trabalho e da divisão de classes.
19
Ciências Sociais - Política III
1.4.6 Nacionalidade na Constituição Brasileira de 1988
A nacionalidade no Brasil é definida pela Constituição de 1988 (Artigo 12). É um bom exem-
plo para entendermos como se definem os princípios dos estados nacionais. É importante ter-
mos em mente de que se trata de um fenômeno de ordem global a definição critérios de na-
cionalidade, e que isso permeia todas as relações entre diferentes grupos sociais e étnicos na 
atualidade.
São cidadãos brasileiros natos:
a. Os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que 
estes não estejam a serviço de seu país;
b. Os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles 
esteja a serviço da República Federativa do Brasil;
c. Os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que venham a resi-
dir na República Federativa do Brasil e optem, a qualquer tempo, pela nacionalidade bra-
sileira.
A naturalização é outra maneira de adquirir a nacionalidade de um país limitada à Constitui-
ção de cada país. No Brasil, de acordo com a Constituição de 1988 (Art. 12, Inciso II), são conside-
rados naturalizados:
a. Os que, na forma da lei, adquirem a nacionalidade brasileira; exigida aos originários de paí-
ses de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;
b. Os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil 
há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a 
nacionalidade brasileira.
O parágrafo 1o determina que aos portugueses é facultada situação especial para naturali-
zação, desde que haja reciprocidade aos brasileiros no Estado português. Bastando a residência 
permanente no Brasil, serão atribuídos aos portugueses os direitos inerentes aos brasileiros.
A Constituição afirma não estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, sal-
vo nos casos previstos, mas, na verdade, estabelece restrição. De acordo com a Constituição de 
1988, são privativos de brasileiros natos os cargos: de Presidente e Vice-presidente da República, 
de Presidente da Câmara dos Deputados, de Presidentes do Senado Federal, de Ministros do STF, 
da carreira Diplomática, de oficial das forças armadas e de Ministro da Defesa.
Ressaltamos que, na unidade seguinte, vamos analisar as diferentes formas de Estado surgi-
das a partir da Modernidade. O ponto de partida é seguramente o Estado liberal, surgido na luta 
contra o absolutismo que marcou os primeiros séculos da modernidade, chegando ao Estado so-
cial, ou Estado de bem-estar social contemporâneo, sua crise e o advento do neoliberalismo e 
seus problemas.
1.4.7 O mar territorial brasileiro
Antigamente os Estados consideravam seu mar territorial até o limite de alcance de sua ar-
tilharia. Em 1971 o Brasil e outros países em desenvolvimento tentaram fixar o mar territorial em 
200 milhas, o que foi contestado pelos EUA, Japão e outros países. A delimitação do Mar Territo-
rial, da Zona Econômica Exclusiva, da Zona Contígua e da Plataforma Continental subordina-se 
aos critérios estabelecidos no artigo 76 da Convenção das Nações Unidas (ONU) sobre o Direito 
do Mar, celebrada em Montego Bay, nos EUA, em 10 de dezembro de 1982. 
No Brasil, a questão está definida pela Lei Federal nº 8.617, de 4 de janeiro de 1993, que dis-
põe sobre o Mar Territorial, a Zona Contígua, a Zona Econômica Exclusiva e a Plataforma Conti-
nental. A legislação brasileira apenas ratifica (confirma) a convenção da ONU e estabelece: 
Mar territorial brasileiro: compreende uma faixa de doze milhas marítimas de largura, me-
didas a partir da linha de baixo-mar do litoral continental e insular brasileiros, tal como indica nas 
cartas náuticas de grande escala, reconhecidas oficialmente no Brasil. 
Zona contígua: faixa que se estende das doze às vinte e quatro milhas marítimas... 
Zona econômica exclusiva: faixa que se estende das doze às duzentas milhas marítimas...
Mar territorial e ZEE brasileira
20
UAB/Unimontes - 3º Período
O Mapa acima ilustra as linhas demarcatórias do Mar Territorial brasileiro, uma faixa de 22 
Km, correspondente a 12 milhas náuticas (1,852 Km) na faixa mais escura; e a Zona Econômica 
Exclusiva, na faixa mais clara, com extensão de 350 Km, correspondente a 200 milhas náuticas. 
Na faixa de 12 milhas náuticas, o Mar Territorial, o governo brasileiro tem soberania plena, 
pode afundar embarcações, derrubar aviões não autorizados a circular. Na Zona Econômica Ex-
clusiva, o Brasil tem direito à exploração dos recursos naturais com exclusividade, ou seja, so-
mente empresas brasileiras ou autorizadas pelo governo brasileiro podem extrair petróleo, gás 
natural ou pescar. 
A faixa de 12 às 24 milhas – depois do Mar Territorial e ainda dentro da Zona Econômica Ex-
clusiva, é chamada de Zona Contígua (ou zona de contenção) é destinada a conter embarcações 
ou espaçonaves que ameaçam entrar no território brasileiro. Nesta faixa, elas são informadas de 
que estão prestes a entrar em território brasileiro e devem se identificar ou terão de retornar. 
A Plataforma continental, também definida na Convenção das Nações Unidas e na legisla-
ção brasileira, é um conceito mais complexo, não será aqui analisada, pois escapa à definição do 
território brasileiro, interessando muito mais ao estudo do Direito Internacional marítimo. Pode-
se dizer que o território brasileiro termina na faixa do Mar territorial (até o limite de 22 Km ou 12 
milhas náuticas), mas, por referir-se ao direito exclusivamente brasileiro de exploração econômi-
ca, entendemos que se pode estendê-lo até a Zona Econômica Exclusiva (370 Km ou 200 milhas 
náuticas). 
Referências
BRASIL. Constituição da República federativa. Brasília: Senado Federal, 1988.
BOBBIO, Norberto. Teoria Geral da Política: a filosofia política e as lições dos clássicos. Rio de 
Janeiro: Campus, 2000.
______. estado, Governo e Sociedade: para uma teoria geral da política. 11. ed. Rio de Janeiro: 
Paz e Terra, 2004.
BURNS, Edward Mc-Nall. História da Civilização Ocidental. 22. ed. Porto Alegre: Globo, 1978.
ATiViDADe 
Chegamos ao fim 
da unidade 1. Para 
aprofundar seus co-
nhecimentos faça uma 
comparação da noção 
de território entre os 
diferentes períodos 
históricos estudados 
aqui e destaque a sua 
importância para o 
Estado moderno. Poste 
no Fórum.
◄ Figura 5: Mapa do Brasil 
acrescido de faixas 
que representam as 
dimensões do Mar 
Territorial e da Zona 
Econômica Exclusiva.
Fonte: Equipe de Produ-
ção do Material Impresso 
UAB/Unimontes.
21
Ciências Sociais - Política III
DALLARI, Dalmo de Abreu. elementos de Teoria Geral do estado. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 
2001.
GRUPPI, Luciano. Tudo começou com Maquiavel – as concepções de Estado em Marx, Engels, 
Lênin e Gramsci. 10. ed. Porto Alegre: L&PM Editores, 1986.
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Martin Claret, 2003.
PISIER, Evelyne. História das idéias políticas. (com a contribuição de Françóis Chatelet). Barueri 
– SP: Manole, 2004.
REALE, Miguel. Teoria do estado e do Direito. São Paulo: Saraiva, 1980.
VIDIGAL, Armando A. Ferreira; CUNHA, Marcílio B. da; FERNANDES, Luiz P. da Costa. Amazônia 
Azul: o mar que nos pertence. São Paulo: Record, 2006.
WEBER, Max. A Política como vocação.In: WEBER, Max. Ciência e Política: duas vocações. Trad. 
Leônidas Hegenberg e Octany Silveira da Mota. 5. ed. São Paulo: Cultrix, 2004.
23
Ciências Sociais - Política III
UniDADe 2
O Estado moderno e sua relação 
com o capitalismo
2.1 Introdução
Nesta unidade voltaremosao tema do Estado na modernidade, para entender como ele foi 
se formando e se firmando como uma instituição intrinsecamente relacionada com o desenvol-
vimento da sociedade moderna e com a dinâmica do capitalismo. Também voltaremos o nosso 
olhar para a teoria crítica sob o tema, mostrando que, mais que uma temática teórica, a consti-
tuição do Estado na era do capital é problema social e concreto. E é calcado em tal perspectiva, 
concreta e crítica, que prosseguiremos com nossos estudos nos demais capítulos.
2.2 Modernidade
A modernidade é vista na Filosofia e nas Ciências Sociais como um projeto de desenvolvi-
mento das perspectivas universalistas da moral, da cultura, da arte e do direito, liberando po-
tências de conhecimento e de emancipação dos indivíduos, das formas de compreensão e 
expressão fundadas nas crenças e nas tradições. É o que Max Weber (2004) chamou de “desen-
cantamento do mundo”. De outro modo, o tempo na modernidade é um elemento de superação 
dos problemas do passado, o passado não constitui experiências a serem apreendidas, mas tradi-
ções a serem deixadas para trás. Momento de inovação e ruptura, a modernidade cria e recria a si 
mesma a cada momento (HABERMAS, 1987).
A modernidade pode ser caracterizada esquematicamente por: acentuação do poder da ra-
zão e um modo de ação pertencente a uma cultura universal das quais todos os povos do mun-
do poderiam compartilhar, mesmo aquelas sociedades que apresentam outro estágio de de-
senvolvimento tendem a chegar ao mesmo ponto comum a que chegou o Ocidente; os seres 
humanos possuiriam uma natureza humana comum e tenderiam a passar pelos mesmos proces-
sos de desenvolvimento; a ideia de criação de uma sociedade racional em oposição às formas 
▲
Figura 5: El Hombre 
Controlador del 
Universo, Diego Rivera. 
Palacio de Bellas Artes, 
Ciudad de México.
Fonte: Disponível em 
http://www.diegori-
vera.org/. Acesso em 
30/04/2014
24
UAB/Unimontes - 3º Período
arcaicas de sentimentalismo; a racionalização de processos técnicos, econômicos e políticos, so-
bretudo em conformidade com a ordem produtivista do capitalismo industrial.
Santos (1995) entende que a modernidade se expressa em dois aspectos (chamados por ele 
de pilares) diferentes: o aspecto da regulação e o aspecto da emancipação. O aspecto da regula-
ção contempla o Estado, o mercado e a comunidade, enquanto o aspecto de emancipação con-
templa o potencial expressivo da arte e da literatura, o imperativo ético da moral e do direito e a 
perspectiva do avanço do conhecimento científico e técnico. Em linhas gerais, esse autor enten-
de que a modernidade proporciona igualmente duas possibilidades: regulação, ou seja, ordem 
social, e emancipação, ou seja, liberdade individual. O autor ainda diz que o aspecto da regula-
ção cresceu em importância com relação às possibilidades de liberdade e de emancipação (SAN-
TOS, 1995).
Elementos característicos do aspecto da regulação, o Estado e o mercado capitalista cami-
nharam lado a lado. É na modernidade que se fundamenta o Estado burguês e capitalista, cuja 
doutrina filosófica de orientação é o liberalismo. Ressaltamos que esse aspecto será mais bem 
trabalhado na unidade seguinte com a exposição das principais formas de Estado.
A Modernidade não se resume ao fenômeno propriamente político do Estado territorial, 
este apenas consiste em um dos mais importantes adventos da Modernidade. A modernidade 
introduz transformações significativas na vida social, relacionadas à cultura, à moral, ao Direito, 
à ciência e à técnica, à arquitetura e à vida nas cidades. Entretanto, esses aspectos não serão tra-
tados aqui, por fugir do escopo dessa disciplina. Oportunamente, em outras disciplinas, serão 
abordadas outras transformações da modernidade. Neste momento, nossa atenção deve dirigir-
-se para as transformações do âmbito das relações e das instituições políticas e econômicas, pois 
essas transformações estão bastante relacionadas entre si. Porém, antes de tratarmos do Estado 
Moderno e sua relação com a dinâmica capitalista, apresentamos sumariamente a noção de mo-
dernização.
Entende-se por modernização aquele conjunto de mudanças operadas nas esferas polí-
tica, econômica e social que tem caracterizado os dois últimos séculos. Praticamente a data de 
início do processo de modernização poderia ser colocada na Revolução Francesa de 1789 e na 
Revolução Industrial Inglesa, as quais provocaram uma série de mudanças de grande alcance, 
nomeadamente nas esferas política e econômica, estando intimamente inter-relacionadas. Essas 
grandes transformações estão relacionadas a processos que vinham ocorrendo há alguns sécu-
los antes. Tais transformações tiveram repercussão, primeiro no Ocidente, mais precisamente na 
Europa, e foram exportados para o mundo, razão pela qual o processo global foi designado de 
europeização, ocidentalização, e, finalmente, com o termo menos eurocêntrico (termo que signi-
fica a Europa como centro) de Modernização (PASQUINO, 2000).
DiCA
Visto o mural de Diego 
Rivera, pesquise sobre 
esse artista e seus ide-
ais tão bem expressos 
em sua obra. Não é 
interessante que ele re-
presente no mural aqui 
apresentado a figura 
de um trabalhador no 
controle do universo? 
Aproveite para refletir 
sobre a noção de traba-
lho e outras questões, 
conhecendo um pouco 
mais a obra e vida de 
Diego Rivera. Nesse 
sentido, esteja atento à 
importância da noção 
de trabalho para um 
melhor entendimento 
do tema central da 
nossa disciplina. 
Figura 6: Edifícios 
modernos se misturam 
à arquitetura antiga. 
A medieval Tower of 
London nas margens 
do Tâmisa e ao 
fundo City of London 
com sua arquitetura 
contemporânea, 
Londres
Fonte: Disponível 
em de.wikipedia.org. 
Disponível em: http://
de.wikipedia.org/wiki/
Tower_of_London Acesso 
em 29/04/2014.
▼
25
Ciências Sociais - Política III
Modernização política é o fenômeno correspondente às mudanças políticas nas socieda-
des, advindas da modernidade, tanto as relativas aos cidadãos quanto as relativas aos sistemas 
políticos. Tais mudanças não se confundem com democracia, dizem respeito a uma certa eman-
cipação dos indivíduos. Há modernização política não só quando se verifica uma mudança na 
condição generalizada de súditos para a condição de cidadãos unidos entre si por vínculos de 
colaboração, acompanhada pela expansão do direito de voto e da participação política, mas 
também por formas variadas de associação entre os indivíduos.
De acordo com o cientista político italiano Gianfranco Pasquino, coautor com Norberto Bo-
bbio do Dicionário de Política (2000), existe modernização política quanto ao desempenho do 
governo, quando se verifica um aumento da capacidade das autoridades em dirigir os negócios 
públicos, de controlar as tensões sociais e enfrentar as exigências crescentes dos membros do 
sistema. Do ponto de vista dos governos, a modernização, na maioria das vezes, se confunde 
com o aumento da capacidade e da especialização dos funcionários públicos em desenvolver 
e empregar métodos eficazes na administração pública. A modernização nos governos é o que 
Max Weber denomina de burocracia.
A modernização política implica um processo de transferência do poder de certos grupos 
para outros e o uso de inovações nos diversos setores da sociedade. Em geral, esse processo de 
transferência de poder ocorre pela perda de importância de grupos agrários, considerados atra-
sados, para grupos de industriais, comerciantes e intelectuais urbanos.
Ao lado das transformações econômicas e políticas, originadas do processo de moderni-
zação, ocorrem, também, mudanças significativas na esfera social. A modernização econômica 
envolve o êxodo do homem do campo que vem a ser mão de obra nas atividades industriais 
urbanas.
2.3 Estado moderno: formação e 
capitalismo
Amais importante instituição oriunda das transformações da modernidade é o Estado Mo-
derno, como forma de ordenamento político surgida na Europa nos fins do século XV com a 
ascensão do absolutismo e do mercantilismo. O Estado não surgiu na modernidade, mas nela 
sofreu importantes redefinições de suas funções. A ciência Política entende o Estado Moder-
no como uma formação histórica determinada e, como tal, caracterizada por sentidos diferen-
tes que a tornam específica na modernidade e diferente de outras formas históricas anteriores 
(SCHIERA, 2000).
BOX 1
Centralizando o poder
A definição das fronteiras do Reino de Portugal em 1297, posteriormente a Inglaterra, 
sob o domínio da dinastia dos Tudor, a Espanha sob a Casa de Habsburgo e a França domina-
da pelos Bourbon são fatos históricos que possibilitaram na Europa a implantação de uma sé-
rie de programas políticos para aprimorar o controle do poder e centralizar a economia, fun-
damentando as bases do Estado moderno. Nobres feudais foram gradualmente derrotados 
ou cooptados por outras linhagens da nobreza que se firmavam como dinastias monárquicas, 
suplantado assim o sistema fragmentado das leis feudais. Os feudos cedem e se formam os 
Estados-nação, com as monarquias absolutistas que diversificaram a burocracia e aperfeiçoam 
suas leis. Esse processo atinge seu ápice nos séculos XVII e XVIII, quando as principais carac-
terísticas do sistema estatal contemporâneo tomaram forma, com destaque para os exércitos 
permanentes, sistemas de tributação centralizados, relações diplomáticas perenes e a organi-
zação das companhias marítimas comerciais.
Fonte: Autor desconhecido
DiCA 
Podemos interpretar a 
figura 6 como um retra-
to do contraste entre 
o mundo globalizado 
e a nobreza medieval. 
A história de Londres é 
emblemática para com-
preendermos a história 
da modernidade.
DiCA 
Em 1933 Rivera iniciou 
a pintura do mural para 
o Rockefeller Center, 
em Nova York. Mas,por 
ter retratado Lenin, a 
obra foi embargada 
pela poderosa família 
capitalista Rockfeller. 
Em 1934 Rivera retoma 
os motivos do antigo 
mural ao pintar as pare-
des do Palacio de Bellas 
Artes da Cidade do 
México. O conteúdo do 
mural é explicitamen-
te político. Podemos 
observar: ao centro 
o homem idealizado 
como trabalhador que 
controla o universo, po-
sicionado no cruzamen-
to das duas ideologias 
opostas; à sua esquerda 
o mundo capitalista re-
presentado como uma 
luta de classes entre a 
repressão e a guerra, 
onde Charles Darwin 
representa o desenvol-
vimento da ciência e 
tecnologia e a escultura 
greco-romana a reli-
gião e o pensamento 
ocidental; à sua direita 
a visão idealizada do 
mundo socialista, com 
os trabalhadores em 
Red Square liderados 
por Lenin e a presença 
de Karl Marx, Friedrich 
Engels, Leon Trotsky e 
Bertram D. Wolfe. 
26
UAB/Unimontes - 3º Período
O desenvolvimento das instituições sociais, econômicas, culturais e políticas nas socie-
dades ocidentais modernas foi desencadeado por um processo geral de racionalização. Max 
Weber foi o autor que melhor trabalhou esse processo de racionalização, entendido como o 
resultado da especialização científica e da diferenciação técnica que ocorreu com o desenvol-
vimento do capitalismo na civilização ocidental. Um processo que consiste na organização da 
vida, por divisão e coordenação das diversas atividades, com base em um estudo preciso das 
relações entre os homens, com seus instrumentos e seus meios, para atingir maior eficácia e 
rendimento. Trata-se, pois, de um puro desenvolvimento prático operado pelo gênio técnico do 
homem (WEBER, 2004).
Figura 8: Sob pressão 
João Sem Terra assina 
a Magna Carta. No 
campo da legalidade o 
absolutismo britânico 
cedia espaço ao poder 
dos barões e assim 
lançava as bases para o 
sistema liberal. A Magna 
Carta fará 800 anos em 
2015. 
Fonte: Disponível em 
http://www.telegra-
ph.co.uk/ Acesso em 
02/05/2014
►
▲
Figura 7: Painéis de São 
Vicente de Fora, Nuno 
Gonçalves, cerca de 
1445. 
Fonte: Disponível em 
http://www.uc.pt/artes. 
Acesso em 01/05/2010.
DiCA
De acordo com a 
figura 7 vê-se a rígida 
divisão hierárquica da 
sociedade monárquica 
portuguesa e a centra-
lização do poder com a 
divinização da realeza. 
Uma teoria recente 
defende que os painéis 
têm como figura central 
o Infante Santo, D. 
Fernando de Portugal, e 
não São Vicente, estan-
do o mesmo rodeado 
pelos seus irmãos e 
família nos painéis 
centrais. Este conhecido 
quadro seria assim uma 
homenagem ao Infante 
mártir, morto no exílio 
em defesa do território 
nacional.
27
Ciências Sociais - Política III
BOX 2 
A semente do Estado liberal
Londres, 1215: os barões ingleses tomam a capital e impõem ao rei João Sem Terra a 
Magna Carta. A carta compõe-se de sessenta e três artigos que garantiam certas liberdades 
políticas e continha disposições que livravam a Igreja da ingerência do rei, reformavam o 
direito e regulavam os funcionários reais. O rei devia julgar os indivíduos conforme a lei, se-
guindo o processo legal, e não segundo a sua vontade absoluta. O documento passou por 
revisões e a versão de 1225 é o primeiro estatuto inglês e a pedra angular da constituição 
britânica. Tornou-se importante no século XVII com o agravamento do conflito entre a coroa 
e o parlamento. Foi revisada outras vezes para garantir mais direitos a um número maior de 
pessoas, preparando o terreno para a monarquia constitucional britânica. Parte da versão da 
Magna Carta de 1297 ainda integra o direito inglês. A semente do liberalismo estava plantada, 
ao menos no terreno das leis e dos negócios.
Fonte: Disponível em http://pt.scribd.com/doc/177345338/i-Historia-do-Constitucionalismo. Acesso em 10/05/2014.
A centralização do poder político foi definida por Max Weber como “o monopólio da força 
legítima”. Na prática, tal definição resume o fato muito conhecido dos estudiosos de que o Esta-
do se afirma como ente soberano e único detentor do poder. Cria e mantém exércitos, diferente 
das situações anteriores em que bandos armados ofereciam segurança às comunidades. Impor-
tante lembrar que Maquiavel dedica muita atenção ao fato de que existiam exércitos mercená-
rios (que lutavam em troca de pagamento) que ele considerava como exércitos muito perigosos 
e não confiáveis aos Príncipes. 
A análise da formação dos Estados territoriais modernos pode ser feita a partir de uma con-
traposição bastante comum na Ciência Política: a liberdade dos antigos e a liberdade dos moder-
nos. Norberto Bobbio (1998) retoma Benjamin Constant para afirmar que tal dicotomia é fundan-
te na noção de Estado liberal moderno. Para Bobbio, a participação direta nas decisões coletivas, 
como preconizava a liberdade dos antigos, acaba por limitar os indivíduos nas liberdades priva-
das. Vejamos o que diz Constant sobre a contraposição:
Não podemos mais usufruir da liberdade dos antigos, que era constituída pela 
participação ativa e constante no poder coletivo. A nossa liberdade deve, ao 
contrário, ser constituída pela fruição pacífica da independência privada.O ob-
jetivo dos antigos era a distribuição do poder político entre todos os cidadãos 
de uma mesma pátria: era isso que eles chamavam de liberdade. O objetivo dos 
modernos é a segurança nas fruições privadas: eles chamam de liberdade às 
garantias acordadas pelas instituições para aquelas funções (CONSTANT, 1965 
apud BOBBIO, 1998, p. 8).
No aspecto propriamente político, o elemento principal da diferenciação entre o Esta-
do Moderno e as anteriores formações políticas é a centralização do poder. À centralização do 
poder no Estado moderno e capitalista deve ser acrescida a impessoalidade das relações e do 
comando político – esta uma diferença primordial entre os estados absolutistas e os estados 
burgueses.A partir do exposto, pode-se afirmar que o Estado liberal moderno forma-se e se de-
senvolve em estreita relação com a dinâmica capitalista, orientado pela doutrina individualista 
liberal.
O pensamento liberal burguês é muito claro no sentido de afirmar a liberdade econômica, 
antes de tudo, como liberdade de trabalhar e explorar o trabalho, e o direito de cada um dispor 
de sua propriedade sem intervenção do Estado. Para o liberalismo, o Estado não pode interferir 
nos negócios particulares dos cidadãos. Se o Estado tem uma finalidade, esta é a de criar as con-
dições para os cidadãos poderem perseguir espontaneamente seus objetivos.
O Estado liberal expressa a vitória das revoluções burguesas que elevaram a burguesia ao 
poder político, completando o processo iniciado com sua ascensão econômica como classe, e 
tem a função de assegurar as condições plenas de desenvolvimento da burguesia – como afirma 
o liberal John Locke, para quem o Estado deveria defender o direito de propriedade.
28
UAB/Unimontes - 3º Período
2.4 Apontando contradições – a 
crítica do materialismo histórico
Para o pensamento marxista, o Estado surgiu devido à necessidade de administrar os confli-
tos provenientes das relações econômicas. Essa ideia vai seguir toda a produção marxista sobre o 
Estado. Por essa razão, Marx, Engels e seus continuadores afirmam que o Estado, em todas as for-
mações históricas, é um organismo que representa os interesses da classe dominante. Nesse sen-
tido, o Estado Moderno é o instrumento, um comitê executivo, da classe burguesa para assegurar 
a dominação dos que dirigem o processo de produção e que detém a propriedade dos meios de 
produção sobre os que não possuem esses meios e vivem da venda da sua força de trabalho. Eis 
textualmente o que afirma Marx e Engels:
A história de toda sociedade até nossos dias é a história da luta de classes. Ho-
mem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo [...] em suma, opressores 
e oprimidos sempre estiveram em constante oposição; empenhados numa luta 
sem trégua, ora velada, ora aberta, luta que a cada etapa conduziu a uma trans-
formação revolucionária de toda a sociedade ou ao aniquilamento das duas 
classes em confronto (MARX; ENGELS, 1978, p. 17).
Para Karl Marx, o Estado é como uma estrutura que tem por função a manutenção da unida-
de de uma formação social e das condições de reprodução dela, instrumento de dominação de 
classe, mantendo a coesão da formação social, na medida em que limita as lutas que se desen-
volvem em seu interior. Sua função é eminentemente política – embora exerça funções específi-
cas no campo econômico, jurídico e ideológico.
Outro elemento importante na abordagem marxista sobre o Estado é o diagnóstico de sua 
função. Se o Estado é um instrumento da classe dominante, a qualquer tempo, o Estado burguês 
busca assegurar a continuidade da divisão da sociedade em classes e representar os interesses 
ATiViDADe
E você, ao ler Marx, o 
que pensa sobre o que 
Rivera quis retratar? 
Poste sua perspectiva 
no fórum da unidade.
Figura 9: Detroit 
Industry Murals, North 
Wall, 1932-33, Detroit 
Institute of Arts, Diego 
Rivera. Diversas são 
as controvérsias a 
respeito dos murais 
de Rivera em Detroit. 
Confeccionados 
como um tributo a 
cidade, para críticos 
radicais contemporiza 
e enaltece 
industrialização em 
Detroit; para outros 
é uma propaganda 
marxista. 
Fonte: Disponível em 
http://www.dia.org/ Aces-
so em 02/05/2014. 
►
29
Ciências Sociais - Política III
da classe dominante. A função apresentada ao povo é a da representação dos interesses gerais, 
seja de uma etnia, da vontade de Deus, seja dos interesses do povo nação. Mas, nessa concep-
ção, enquanto o poder for ocupado pelas classes dominantes são seus interesses que estão em 
primeiro lugar.
BOX 3
O trabalho das mulheres
Depoimento de Betty Harris, 37 anos:
Casei-me aos 23 anos, e foi somente depois de casada que eu desci à mina; não sei ler 
nem escrever. Trabalho para Andrew Knowles, da Little Bolton (Lancashire). Puxo pequenos 
vagões de carvão; trabalho das 6 da manhã às 6 da tarde. Há uma pausa de cerca de uma 
hora, ao meio-dia, para o almoço; dão-me pão e manteiga, mas nada para beber. Tenho dois 
filhos, porém eles são jovens demais para trabalhar. Eu puxava esses vagões, quando estava 
grávida. Conheci uma mulher que voltou para casa, se lavou, se deitou, deu à luz e retomou o 
trabalho menos de uma semana depois.
Tenho uma correia em volta da cintura, uma corrente que passa por entre as minhas per-
nas e ando sobre as mãos e os pés. O caminho é muito íngreme, e somos obrigados a segurar 
urna corda - e quando não há corda, nós nos agarramos a tudo o que podemos. Nos poços 
onde trabalho, há seis mulheres e meia dúzia de rapazes e garotas; é um trabalho muito duro 
para uma mulher. No local onde trabalho, a cova é muito úmida e a água sempre cobre os 
nossos sapatos. Um dia, a água chegou até minhas coxas. E o que cai do teto é terrível! Minhas 
roupas ficam molhadas durante quase o dia todo. Nunca fiquei doente em minha vida, a não 
ser na época dos partos.
Estou muito cansada quando volto à noite para casa, às vezes adormeço antes de me la-
var. Não sou mais tão forte como antes, não tenho mais a mesma resistência no trabalho. Pu-
xei esses vagões até arrancar a pele; a correia e a corrente são ainda piores quando se espera 
uma criança.
Fonte: (Extraído de um relatório parlamentar inglês, 1842. Em: Valéry Zangheilini, direção, Connaissance du Monde 
Contemporain, p. 110.)
Entretanto, é o contexto da Revolução Industrial que leva Marx e Engels a reconceituarem o 
papel do Estado sob a ingerência da burguesia. Nos Estados-nação, amparados pela sociedade 
capitalista, o lugar do povo é o de produtor, mas não de proprietário. Ao trabalhador, sem escolha, 
só lhe resta vender a sua força de trabalho, mas não é proprietário dos meios de produção e nem 
do que é produzido. Para compreender esse sistema, Marx retoma a temática hegeliana que con-
sidera o trabalho como a condição da plena liberdade. Destacando a importância do trabalho 
dentro de um ponto de vista materialista e histórico, Marx se defronta com os idealismos que 
dirimiam a importância dos resultados concretos do trabalho e enalteciam questões de ordem 
metafísica e utópica, que nada mais faziam do que camuflar a realidade – esta, por excelência, 
produto de diversas e diferentes ordens de trabalho. A Revolução Industrial não ocultou os pro-
blemas sociais advindos do controle da burguesia sob a força de trabalho, pois é pelo trabalho 
que o homem, desde os primórdios, se defronta com as forças da natureza, as forças de outros 
homens e assim modifica sua realidade, transformando a si mesmo e se humanizando – logo, 
despertando a sua consciência para o real valor do trabalho, da vida em sociedade, das coisas e 
das instituições.
◄ Figura 10: Mulher 
trabalhando em mina 
de carvão.
Fonte: Disponível em 
http://www.nsdk.org.uk/ 
Acesso em 26/05/2014.
30
UAB/Unimontes - 3º Período
Ao contrário do idealismo de Hegel, para Marx a matéria é o dado primário, a fonte da cons-
ciência, e esta é um dado secundário, derivado, pois é reflexo da matéria. É preciso distinguir, no 
entanto, o materialismo marxista, que é dialético, do materialismo anterior a ele, conhecido como 
materialismo mecanicista ou “vulgar”:
O materialismo mecanicista parte da constatação de um mundo composto de 
coisas e, em última análise, de partículas materiais que se combinam de forma 
inerte.
Para o materialismo dialético, os fenômenos materiais são processos. Além 
disso, o espírito não é consequência passiva da matéria, podendo reagir sobre 
aquilo que determina. […]
A dialética é a estrutura contraditória do real, que no seu movimento constitu-
tivo passa por três fases: a tese, a antítese e a síntese.Ou seja, explica-se i movi-
mento da realidade pelo antagonismo entro o momento da tese e o da antítese, 
cuja contradição deve ser superada.
Além da contraditoriedade dinâmica do real, outra categoria fundamental para 
entender a dialética é a de totalidade, pela qual o todo predomina sobre as par-
tes (…) Isso significa que as coisas estão em constante relação recíproca, e ne-
nhum fenômeno da natureza ou do pensamento pode ser compreendido isola-
damente fora dos fenômenos que o rodeiam. (…)
Marx inverte o processo do senso comum que explica a história pela ação dos 
indivíduos [considerados como átomos isolados, não como parte que se relacio-
nam], ou, às vezes, até pela intervenção divina (ARANHA; MARTINS, 2012, p. 323).
Marx não dedicou uma obra exclusiva para criticar somente o Estado. O seu exame sobre 
este está por toda a sua obra, numa relação direta sobre a condição da classe operária e o domí-
nio do capital sobre os meios de produção. A dialética de Marx e Engels desvenda o real caráter 
do Estado burguês.
A concepção negativa do Estado se distingue da tradição jusnaturalista, que via 
no Estado a condição de sociabilidade. Também se opõe a Hegel, para quem o 
Estado era o momento final do Espírito objetivo, quando seriam superadas as 
contradições da sociedade civil. Para Marx, o Estado não supera as contradições 
da sociedade civil, mas é o reflexo delas, e está aí para perpetuá-las. Por isso só 
aparentemente visa o ao bem comum, mantendo-se de fato a serviço da clas-
se dominante. Portanto, o Estado é um mal a ser extirpado (ARANHA; MARTINS, 
2012, p. 327).
GLOSSÁRiO
Materialismo: no 
marxismo, doutrina 
que afirma o caráter 
fundamental das 
necessidades materiais 
humanas (alimentação, 
vestimenta, abrigo, 
etc.) e do trabalho para 
satisfazê-las, organi-
zado em estruturas 
econômicas capazes 
de determinar toda a 
organização social.
Figura 11: Ferro e 
Carvão, 1855-60, 
William Bell Scott, 
Escócia. 
Fonte: Disponível em 
http://www.bbc.co.uk/
arts/yourpaintings Acesso 
em 02/05/20014.
►
31
Ciências Sociais - Política III
Portanto, dentro desse ponto de vista, verificamos que o Estado não é um ente natural, que 
emana do desejo humano por um bem comum e que, assim materializado pairaria sobre as so-
ciedades como o objetivo final do mais elevado do Espírito humano. Ao contrário, o materialis-
mo histórico coloca em xeque as teorias antecessoras que justificavam assim a existência do Es-
tado. Podemos assim dizer que o método dialético marxista desemboca na desnaturalização das 
instituições e das suas atividades, de modo a aprofundar ainda mais, pois calcado no senso ma-
terialista da realidade, a crítica de Kant sobre a responsabilidade do homem por sua existência. 
No marxismo clássico, o destino do homem é de sua única e inteira responsabilidade.
BOX 4 
Prefácio à contribuição à crítica da economia política
Karl Marx
“Minhas investigações me conduziram ao seguinte resultado: as relações jurídicas, bem 
como as formas do Estado, não podem ser explicadas por si mesmas e nem pela dita evolu-
ção geral do espírito humano; essas relações têm, ao contrário, suas raízes nas condições ma-
teriais de existência, condições estas que Hegel, a exemplo dos ingleses e dos franceses do 
século XVIII, compreendia sob o nome de ‘sociedade civil’. Cheguei também à conclusão de 
que a anatomia da sociedade burguesa deve ser procurada na Economia Política. […] O resul-
tado geral a que cheguei, e que uma vez obtido serviu-me de guia para meus estudos, pode 
ser formulado resumidamente assim: na produção social da própria existência, os homens 
estabelecem relações determinadas, necessárias, independentes de sua vontade; essas rela-
ções de produção correspondem a um grau determinado de desenvolvimento de suas forças 
produtivas materiais. A totalidade dessas relações de produção constitui a estrutura econô-
mica da sociedade, a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e 
à qual correspondem formas sociais determinadas de consciência. O modo de produção da 
vida material condiciona o processo de vida social, política e intelectual. Não é a consciência 
dos homens que determina o seu ser; ao contrário, é o seu ser social que determina sua cons-
ciência. Em uma certa etapa de seu desenvolvimento, as forças produtivas materiais da socie-
dade entram em contradição com as relações de produção existentes, ou, o que não é mais 
que sua expressão jurídica, com as relações de propriedade no seio das quais elas se haviam 
desenvolvido até então. De formas evolutivas das forças produtivas que eram, essas relações 
convertem-se em entraves. Abre-se, então, uma época de revolução social. A transformação 
que se produziu na base econômica transforma mais ou menos lenta ou rapidamente toda a 
colossal superestrutura. Quando se consideram tais transformações, convém distinguir sem-
pre a transformação material das condições econômicas de produção — que podem ser ve-
rificadas fielmente com ajuda das ciências físicas e naturais — e as formas jurídicas, políticas, 
religiosas, artísticas ou filosóficas, em resumo, as formas ideológicas sob as quais os homens 
adquirem consciência desse conflito e o levam até o fim. Do mesmo modo que não se julga o 
indivíduo pela ideia que de si mesmo faz, tampouco se pode julgar uma tal época de transfor-
mações pela consciência que ela tem de si mesma. É preciso, ao contrário, explicar essa cons-
ciência pelas contradições da vida material, pelo conflito que existe entre as forças produtivas 
sociais e as relações de produção. Uma sociedade jamais desaparece antes que estejam de-
senvolvidas todas as forças produtivas que possa conter, e as relações de produção novas e 
superiores não tomam jamais seu lugar antes que as condições materiais de existência dessas 
relações tenham sido incubadas no próprio seio da velha sociedade. Eis porque a humanida-
de não se propõe nunca senão os problemas que ela pode resolver, pois, aprofundando a aná-
lise, ver-se-á sempre que o próprio problema só se apresenta quando as condições materiais 
para resolvê-lo existem ou estão em vias de existir. Em grandes traços, podem ser os modos 
de produção asiático, antigo, feudal e burguês moderno designados como outras tantas épo-
cas progressivas da formação da sociedade econômica. As relações de produção burguesas 
são a última forma antagônica do processo de produção social, antagônica não no sentido de 
um antagonismo individual, mas de um antagonismo que nasce das condições de existência 
sociais dos indivíduos; as forças produtivas que se desenvolvem no seio da sociedade burgue-
sa criam, ao mesmo tempo, as condições materiais para resolver esse antagonismo. Com essa 
formação social termina, pois, a pré-história da sociedade humana”.
Fonte: MARX, Karl. Trecho do prefácio à Contribuição à Crítica da Economia Política.
32
UAB/Unimontes - 3º Período
Referências
BOBBIO, Norberto. Liberalismo e democracia. São Paulo: Brasiliense, 1998.
_____. estado, governo, sociedade: para uma teoria geral da política. Rio de Janeiro: Paz e ter-
ra, 1988.
BOBBIO, Norberto; PASQUINO, Gianfranco; MATTEUCCI, Nicola. Dicionário de Política. 5. ed. Bra-
sília: UnB/São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2000.
BRASIL. Constituição da República Federativa. Brasília: Senado Federal, 1988.
CONSTANT, Benjamin. Da liberdade dos antigos compara à dos modernos. Revista de Filosofia 
Política, n. 2. Porto Alegre: L&PM, 1985.
HABERMAS, Jurgen. A nova intransparência. novos estudos Cebrap. n. 18. São Paulo, Setembro, 
1987.
MARX, Karl. Manuscritos econômico-Filosóficos e outros textos. (Coleção Os Pensadores). 
São Paulo: Abril Cultural, 1978.
___________. Contribuição à Crítica da economia Política.
MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista. São Paulo: Global Editora,

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