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Montes Claros/MG - 2015 Daniel Coelho de Oliveira Maria da Luz Alves Ferreira Sheyla Borges Martins Sociologia iv 1ª EDIÇÃO ATUALIZADA 2015 Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. EDITORA UNIMONTES Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro, s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) - Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089 Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214 Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes Ficha Catalográfica: Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES REITOR João dos Reis Canela VICE-REITORA Antônio Alvimar Souza DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES Jânio Marques Dias EDITORA UNIMONTES Conselho Consultivo Antônio Alvimar Souza César Henrique de Queiroz Porto Duarte Nuno Pessoa Vieira Fernando Lolas Stepke Fernando Verdú Pascoal Hercílio Mertelli Júnior Humberto Guido José Geraldo de Freitas Drumond Luis Jobim Maisa Tavares de Souza Leite Manuel Sarmento Maria Geralda Almeida Rita de Cássia Silva Dionísio Sílvio Fernando Guimarães Carvalho Siomara Aparecida Silva CONSELHO EDITORIAL Ângela Cristina Borges Arlete Ribeiro Nepomuceno Betânia Maria Araújo Passos Carmen Alberta Katayama de Gasperazzo César Henrique de Queiroz Porto Cláudia Regina Santos de Almeida Fernando Guilherme Veloso Queiroz Luciana Mendes Oliveira Maria Ângela Lopes Dumont Macedo Maria Aparecida Pereira Queiroz Maria Nadurce da Silva Mariléia de Souza Priscila Caires Santana Afonso Zilmar Santos Cardoso REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA Carla Roselma Athayde Moraes Waneuza Soares Eulálio REVISÃO TÉCNICA Karen Torres C. Lafetá de Almeida Káthia Silva Gomes Viviane Margareth Chaves Pereira Reis DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS Andréia Santos Dias Camilla Maria Silva Rodrigues Sanzio Mendonça Henriques Wendell Brito Mineiro CONTROLE DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO Camila Pereira Guimarães Joeli Teixeira Antunes Magda Lima de Oliveira Zilmar Santos Cardoso Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS/ Unimontes Maria das Mercês Borem Correa Machado Diretor do Centro de Ciências Humanas - CCH/Unimontes Antônio Wagner Veloso Rocha Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA/Unimontes Paulo Cesar Mendes Barbosa Chefe do Departamento de Comunicação e Letras/Unimontes Mariléia de Souza Chefe do Departamento de educação/Unimontes Maria Cristina Freire Barbosa Chefe do Departamento de educação Física/Unimontes Rogério Othon Teixeira Alves Chefe do Departamento de Filosofi a/Unimontes Alex Fabiano Correia Jardim Chefe do Departamento de Geociências/Unimontes Anete Marília Pereira Chefe do Departamento de História/Unimontes Claudia de Jesus Maia Chefe do Departamento de estágios e Práticas escolares Cléa Márcia Pereira Câmara Chefe do Departamento de Métodos e Técnicas educacionais Helena Murta Moraes Souto Chefe do Departamento de Política e Ciências Sociais/Unimontes Carlos Caixeta de Queiroz Ministro da educação Cid Gomes Presidente Geral da CAPeS Jorge Almeida Guimarães Diretor de educação a Distância da CAPeS Jean Marc Georges Mutzig Governador do estado de Minas Gerais Fernando Damata Pimentel Secretário de estado de Ciência, Tecnologia e ensino Superior Vicente Gamarano Reitor da Universidade estadual de Montes Claros - Unimontes João dos Reis Canela vice-Reitor da Universidade estadual de Montes Claros - Unimontes Antônio Alvimar Souza Pró-Reitor de ensino/Unimontes João Felício Rodrigues Neto Diretor do Centro de educação a Distância/Unimontes Fernando Guilherme Veloso Queiroz Coordenadora da UAB/Unimontes Maria Ângela lopes Dumont Macedo Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes Betânia Maria Araújo Passos Autores Daniel Coelho de Oliveira Mestre em Ciências Sociais. Professor de Sociologia do Departamento de Ciências Sociais. Professor conteudista da UAB/Unimontes. Maria da Luz Alves Ferreira Doutora em Sociologia e Política. Professora de Sociologia do Departamento de Ciências Sociais. Professora conteudista e formadora da UAB/Unimontes. Sheyla Borges Martins Mestre em Desenvolvimento Social. Professora de Sociologia e Metodologia do Departamento de Ciências Sociais. Professora conteudista e formadora da UAB/Unimontes. Sumário Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9 Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 Da escola de Frankfurt à teoria de Jurgen Habermas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.2 Escola de Frankfurt: contexto histórico e pressupostos teóricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.3 Indústria cultural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .20 Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .23 Distinção entre as esferas do indivíduo e da sociedade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 2.2 A operacionalização do conceito de classe social pelo neomarxismo . . . . . . . . . . . . 23 2.3 Teoria da escolha racional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37 As contribuições de Elias, Giddens e Bauman, para a compreensão das sociedades contemporâneas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37 3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37 3.2 Sociologia de Norbert Elias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37 3.3 Anthony Giddens e Zigmunt Bauman. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41 3.4 Zygmunt Bauman: entre a fluidez e a solidez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .45 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .49 Resumo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51 Referências básicas, complementares e suplementares . . . . .55 Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .59 9 Ciências Sociais - Sociologia IV Apresentação Caro(a) acadêmico(a), que bom estar com vocês de novo! Se voltarem um pouquinho ao tempo, lá no início do primeiro período, na sociologia I, vão se lembrar de que nós falamos da importância da sociologia na formação do professor e também de como essa disciplina – apesar de apaixonante – é complexa e requer muita persistência para apreender os seus conteúdos. Pois bem! Já se passaramtrês períodos e agora estamos aqui para conhecer a sociologia IV. Antes de adentrarmos no mundo da sociologia IV, é preciso compreender que apreender sociologia é um processo, ou seja, ninguém dorme hoje e acorda amanhã conhecendo a socio- logia, vamos puxar pela memória. Na disciplina de Sociologia I (primeiro período), estudamos o contexto do surgimento da sociologia, as condições históricas e intelectuais que possibilitaram o surgimento da ciência da sociedade bem como a especificidade do objeto sociológico e a pecu- liaridade do objeto. Ainda na sociologia I começamos a estudar os autores clássicos da sociolo- gia. Quem de vocês não se lembra de Karl Marx, Emile Durkheim e Max Weber? Na Sociologia II continuamos os estudos das matrizes clássicas da sociologia. De forma até exaustiva estudamos a interpretação que Marx, Durkheim e Weber deram ao capitalismo e tam- bém como os referidos autores pensavam a mudança social na sociedade moderna. Vocês viram que, embora, os autores tivessem como objetivo analisar o capitalismo, cada um deles fez esta análise a partir da sua ótica. Assim: Karl Marx analisava a sociedade moderna de uma perspecti- va materialista, lembra-se do materialismo histórico? Emile Durkheim analisava a partir da pers- pectiva da integração social, lembra-se da solidariedade mecânica e da solidariedade orgânica? E por último, Max Weber analisava da perspectiva individual, lembra-se do conceito de ação social? Uma questão muito importante destacada nas sociologias I e II é que os autores estudados seriam a base para a compreensão da teoria sociológica contemporânea. Vocês se lembram de que na sociologia III, no semestre passado, comprovamos isso porque a nossa primeira unidade: o estrutural funcionalismo de Parsons e Merton. Vimos que Parsons, por exemplo, tentou fazer com a sua teoria geral da ação, uma interface entre a teoria da sociedade de Durkheim, onde a estrutura é preponderante, e a teoria da ação social em Weber, onde a agência humana é pre- ponderante. As outras escolas estudadas, o interacionismo simbólico, a etnometodologia e a teo- ria da troca social (na perspectiva individualista), tiveram sua inspiração na microssociologia, que é herança da sociologia weberiana e que tinha como ponto de partida o indivíduo. Agora, na Sociologia IV, vamos estudar três unidades que contemplam autores muito im- portantes para a nossa formação como futuros professores de sociologia. Vamos começar com a unidade intitulada “Da Escola de Frankfurt à teoria dual de Jurgen Habermas”, em que estudare- mos o histórico e os principais temas de pesquisa de um grupo de pesquisadores do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt, que tiveram como objetivo contribuir para a teoria de karl Marx, es- pecificamente sobre os motivos da não ocorrência da inevitabilidade histórica, ou seja, a revolu- ção proletária e a instauração de uma sociedade comunista. Como expoente do terceiro momen- to da escola de Frankfurt, estudaremos Jurgen Habermas. Veremos como o autor, partindo do diagnóstico weberiano da modernidade, ou seja, a perda da liberdade e a perda do sentido, irá construir sua teoria dual da sociedade a partir do sistema e mundo da vida. Na segunda unida- de, “Distinção da esfera do indivíduo e da sociedade”, estudaremos como autores neomarxistas contemporâneos – tentando contribuir para a teoria de Karl Marx – irão tentar operacionalizar o conceito de classe social do referido autor. Autores como Jon Elster, Adam Przewoski e Erick Olin Wrigth tentaram operacionalizar o conceito de classe social a partir do desenvolvimento do capitalismo no século XX. O argumento comum dos três autores é que o desenvolvimento do capitalismo no século XX não culminou na polarização de duas classes sociais – a burguesia e o proletariado – como definido por Karl Marx. Elster e Przewoski consideram o surgimento das classes médias como um elemento que impediu essa polarização entre burgueses e proletários. Também estudaremos, na segunda unidade, a teoria da escolha racional que é uma corrente dentro da sociologia que sustenta o argumento de que os indivíduos agem o tempo todo, ten- tando maximizar os lucros ou minimizar as perdas. Finalmente, na terceira unidade, estudaremos as contribuições de três importantes sociólogos contemporâneos: Norbert Elias, Anthony Gid- dens e Zigmunt Bauman para a teoria sociológica atual. Nesses autores, estudaremos a questão da modernidade, pós-modernidade, tempo e Espaço, globalização, entre outros. Esperamos que vocês aproveitem bastante o quarto período de Ciências Sociais e apren- dam a Sociologia IV. Bons estudos! Os autores. 11 Ciências Sociais - Sociologia IV UniDADe 1 Da escola de Frankfurt à teoria de Jurgen Habermas Sheyla Borges Martins 1.1 Introdução Nesta primeira unidade, apresentaremos a abordagem de uma das maiores expressões da sociologia contemporânea, denominada Escola de Frankfurt. Mais especificamente, estudaremos as principais influências das correntes teóricas que compõem a Escola para o desenvolvimento do pensamento social, a partir de meados do século XX. 1.2 Escola de Frankfurt: contexto histórico e pressupostos teóricos A Escola de Frankfurt diz respeito a um grupo de pensadores alemães associados ao Insti- tuto de Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt, que tinham como objetivo principal de- senvolver uma Teoria Crítica da sociedade, extraindo respostas de outras escolas de pensamen- to e utilizando os conhecimentos da psicanálise, da filosofia e outras disciplinas. Dessa forma, as principais figuras da escola buscaram discutir e sintetizar as obras de pensadores variados, como Kant, Hegel, Marx, Freud, Weber. Os temas tratados foram os mais variados: cultura contemporânea, análises do facismo e do capitalismo monopolista de Estado, das indústrias de cultura, da tecnologia e do consumo. En- tre os principais componentes da Escola, vamos estudar as ideias de três deles: Max Horkheimer, que foi diretor do grupo; Theodor Adorno, considerado um dos principais filósofos e críticos cul- turais do século; e Jurgen Habermas, que é tido como o mais influente representante contempo- râneo da Escola de Frankfurt. De acordo com sua orientação marxista, todos eles estavam preocupados com as condi- ções que permitiram a mudança social e o esta- belecimento de instituições racionais, a supera- ção dos limites do positivismo, do determinismo do materialismo histórico, retornando à filosofia crítica de Kant e seus sucessores no idealismo alemão, principalmente a filosofia de Hegel, com sua ênfase na dialética e na contradição como propriedades inerentes da realidade. O contexto histórico que marca o nasci- mento da escola de Frankfurt é a transição do capitalismo de pequena escala empresarial para o capitalismo monopolista e do imperia- lismo, o crescimento do movimento operário socialista, a Revolução Russa, a ascensão do co- munismo e o surgimento da cultura de massa. Trata-se de um período tão extenso que pode Figura 1: Instituto de Pesquisa Social – Escola de Frankfurt Fonte: Disponível em <www.publicadasletras. zip.net/images/frankfurt>. Acesso em 14 mai. 2010. 12 UAB/Unimontes - 4º Período ser considerado como a própria história do século XX: alguns dos acontecimentos mais impor- tantes desse período foram vivenciados, estudados, tematizados e debatidos pela Escola de Frankfurt (MUSSE, 1999). Os teóricos de Frankfurt foram os primeiros a analisar as novas configurações estatais e econômicas nas formações sociais do Estado capitalista. Eles estavam entre os primeiros a ver a importância da comunicação de massa e cultura na constituição das sociedades capitalistas avançadas. Eles viram a ciência e a tecnologia como forças de relações de produção e como o fornecimento de ideologias para legitimar sociedades capitalistas contemporâneas.Desde o iní- cio de sua investigação social, houve a intenção prática do conhecimento e da descoberta da vida social em toda sua totalidade, a partir da rede de interações entre a base econômica, os fa- tores políticos e legais até a vida intelectual da sociedade. Para compreendermos a dimensão das teorias Frankfurtianas, algumas questões são colo- cadas: como se define o progresso? Quais são os seus efeitos positivos e negativos? Esse foi o empreendimento desses pensadores, que, na verdade, propuseram uma reformulação nos fun- damentos das ciências sociais? Os seus principais interesses e princípios podem ser resumidos da seguinte forma: 1. Desenvolvimento de uma crítica ao materialismo histórico (economicismo) no marxismo or- todoxo. O afastamento do foco sobre a economia política deu-se pela necessidade de análi- se dos fenômenos culturais para além do modelo de estrutura material. 2. Elaboração de uma crítica do capitalismo avançado (atualização da perspectiva Marxista). 3. Ataque à racionalidade instrumental como o princípio básico da sociedade capitalista. 4. Ataque à direção tomada pelo Iluminismo e ao surgimento de uma indústria do entreteni- mento. 1.2.1 O desenvolvimento do pensamento moderno Para uma melhor contextualização da discussão sobre a Escola de Frankfurt, retomaremos algumas questões relativas ao desenvolvimento do pensamento moderno, desde os principais preceitos do Iluminismo, considerado o marco inicial do desenvolvimento científico. A partir das disciplinas estudadas anteriormente, vocês viram que, na pré-história, os ho- mens não conseguiam explicar os fenômenos que aconteciam na natureza. Isso ilustra suas reações: viviam sempre com medo, temiam o desconhecido. Num estágio posterior, os homens passaram do medo para as primeiras explicações dos fenômenos, recorrendo ao pensamento mágico, das superstições e crenças. Com o passar do tempo, essas explicações míticas tornaram- se insuficientes para explicar os fenômenos e os homens lançaram-se à procura de respostas por caminhos em que a comprovação fosse possível. Estamos diante do nascimento da ciência metó- dica, marcada pela constante aproximação com a lógica, estimulada pelo iluminismo. O iluminismo – esclarecimento – pode ser entendido, em sentido amplo, como o avanço do pensamento, que tinha como principal objetivo libertar os seres humanos do medo e colo- cá-los na condição de “senhores do mundo”. Tratava-se de um programa que pretendia acabar com os mitos e substituir a crença pelo conhecimento, na medida em que este poderia fornecer respostas para todos os anseios dos homens. A humanidade acreditava no progresso constan- te desse conhecimento até atingir a explicação total da realidade, o que certamente permitiria a manipulação técnica e ilimitada da ação humana. Podemos dizer que a ciência, deste ponto de vista, passa a ocupar o lugar que antes era ocupado pelos mitos, sendo considerada como um conjunto de verdades absolutas e inquestionáveis. A busca pelo esclarecimento pode ser representada pela destruição dos mitos, pela substituição da imaginação pelo saber, pelo de- senvolvimento da técnica como essência do saber e pelo domínio do saber e dos homens sobre a natureza. O modelo de representação citado é o retrato da sociedade capitalista ocidental, marcada pela administração técnica da vida e das pessoas. O iluminismo, enquanto categoria filosófica, deste ponto de vista, reafirmou o controle da razão sobre os indivíduos, através da suposição de que estes estariam livres das trevas da ignorância e da superstição. Porém, como defendem os teóricos de Frankfurt, o projeto “emancipador” iluminista acabou se transformando em uma nova prisão, capaz de controlar todas as dimensões da vida social. 13 Ciências Sociais - Sociologia IV 1.2.2 A instrumentalização da razão Vamos partir do pressuposto de que o processo de racionalização do mundo, pretendido como fonte de esclarecimento, progresso e emancipação dos homens e da sociedade, provocou um efeito inesperado: a razão assumiu uma forma instrumental, responsável pela manutenção do dogmatismo e autoritarismo em todas as áreas de atividade humana na civilização moder- na. A razão instrumental surge no momento em que os sujeitos do conhecimento decidem que conhecer é dominar e controlar a Natureza e os seres humanos. Assim, a ciência abre mão de sua condição de acesso a conhecimentos verdadeiros para se transformar em via de exploração, poder e dominação. A reflexão que se segue a esse panorama é direcionada para a compreensão das vantagens e dos limites de uma sociedade em que o cálculo racional generalizou-se, e os teóricos da Escola de Frankfurt tinham o propósito de descobrir o que deu errado com o projeto de emancipação do homem, o projeto do iluminismo. O fracasso social, econômico, político e cultural a que se chegara, através dos ditames da razão, produziu efeitos tão visíveis que se acharam impelidos a examinar a razão através das suas figuras materializadas no decurso do processo histórico (MA- TOS, 1993). O que deu errado, então, com o projeto de emancipação do homem, já que o projeto do ilu- minismo, ao contrário do imaginado, culminou numa sociedade marcada pelo controle de todas as dimensões da realidade, em que os homens são vistos como manipuladores de instrumentos, ao mesmo tempo em que as pessoas são transformadas em “máquinas”? (ADORNO e HORKHEI- MER, 2006). Em A Dialética do Esclarecimento (2006), Horkheimer e Adorno mostraram que o Iluminis- mo tinha “tendências autodestrutivas”, e era necessário oferecer uma saída positiva para evitar a reversão do Iluminismo e reconstruir o conteúdo racional da modernidade. A possibilidade de renovação estava configurada na formulação da “Teoria Crítica”. A Dialética do Esclarecimento procura descobrir por que a humanidade, em vez de entrar em uma condição de liberdade humana, na verdade, está afundando em uma nova espécie de barbárie (ADORNO e HORKHEIMER, 2006). No plano teórico, desde que a filosofia tenha implica- ções no sistema de dominação, ela também deve distanciar-se das noções tradicionais e tornar- se crítica, para desenvolver seus próprios conceitos e métodos de investigação, de pensamento e expressão. A razão instrumental invadiu um número crescente de espaços da nossa vida, através da ciência e da filosofia, de modo que a razão por si só tornou-se mito. Adorno e Horkheimer argu- mentam ainda que o desenvolvimento do capitalismo levou à exploração sistemática de novas formas de conhecimento. A dominação da natureza tornou-se um inte- resse do sistema econômico inteiro. Em sua crítica ao positivismo, os teóricos defendem que o Ilumi- nismo encontrou a sua plenitude na fundação da ciência moderna, que veio a assumir uma função técnica, tornando-se um instrumento de do- minação do ambiente, ao invés de uma ferramenta crítica. Na verdade, a dominação da natureza é o cerne da filosofia do Iluminismo. A razão libertadora foi se transformado em uma ortodoxia regressiva: o Iluminis- mo se transformou em totalitarismo. Vamos entender por quê. 1.2.3 A teoria crítica A Teoria Crítica começou a ser desenvolvida a partir da publicação de um ensaio publicado por Max Horkheimer, em 1937, intitulado “Teo- ria Tradicional e Teoria Crítica”. Depois disso, foi empregada e criticada por diversos cientistas sociais por conta de sua própria construção como teoria, que é autocrítica por definição. A Teoria Crítica pode ser definida como distinta da “teoria” tradi- cional de acordo com um princípio prático: a teoria é fundamental na medida em que visa à emancipação humana, para libertar os seres hu- manos das circunstâncias que os escravizam (Horkheimer, 1983). Ana- liticamente, a Teoria Crítica fornece as bases para a investigação social DiCA Leia o livro “A Dialética do Esclarecimento”, teoria produzida du- rantea Segunda Guerra Mundial, quando os autores (Max Horkhei- mer e Theodor Ador- no), ambos judeus de origem alemã, estavam emigrados nos Estados Unidos. Atual ainda hoje, o livro propõe-se a indagar o esclarecimen- to que temos diante de nós: como é possível que este esclarecimen- to, que supostamente nos levaria para uma sociedade mais justa e livre, acabou produ- zindo o seu reverso, ou seja, uma sociedade destrutiva e injusta, por mais esclarecida que seja? Que esclarecimen- to é esse? Figura 2: Adorno e Horkheimer. Fonte: Disponível em <www.republicadasletras. zip.net/images/pensado- res>. Acesso em 14 mai. 2010. 14 UAB/Unimontes - 4º Período que visa identificar e superar todas as circunstâncias que limitam a liberdade humana. Essa tarefa normativa só pode ser realizada através de uma interação interdisciplinar entre filosofia e ciência social, através da pesquisa empírica. De acordo com Horkheimer, uma Teoria Crítica é adequa- da somente se preencher três critérios: deve ser explicativa, prática e normativa, tudo ao mesmo tempo. Ou seja, deve explicar o que está errado com a realidade social atual, identificar os atores para mudá-la e fornecer normas claras, tanto para a crítica quanto para a transformação social. Qualquer teoria verdadeiramente crítica da sociedade tem como objeto os seres humanos como produtores de sua própria forma de vida histórica, o que mostra que a Teoria Crítica não tem nada de uma teoria passiva, ao contrário, busca sempre articular teoria e prática. No entanto, não se pode afirmar que a Teoria Crítica seja restrita à expressão da situação histórica concreta, ao contrário, guarda em si um componente de estímulo e transformação. Sua principal contribuição era abreviar o desenvolvimento para que os indivíduos fossem condu- zidos a sociedade livre e sem exploração. O que está em questão é a tentativa de redefinição do conceito de razão, tanto na prática como na teoria. Esta é a maneira pela qual os teóricos de Frankfurt acreditam ser possível transpor os limites da razão instrumental. Os principais pontos dessa perspectiva se apoiam na crítica que é feita aos seguintes elementos: 1. Filosofia Tradicional: crítica às formulações metafísicas e religiosas da realidade, na medi- da em que defendem a utilização da religião e da metafísica como ideologias da sociedade burguesa. 2. Razão: crítica à perspectiva da instrumentalização da razão, direcionada à obtenção de be- nefícios em detrimento do saber. Ressalta-se aqui a dimensão "prática e utilitária" da razão, o que fomentou uma cultura mecanizada e de consumo. 3. Sociedade Burguesa: a crítica é direcionada às possibilidades de mudança das estruturas da moderna sociedade capitalista, a partir da utilização de pressupostos marxistas, ofere- cendo uma alternativa à revolução. 4. Marxismo: O foco da crítica é o dogmatismo marxista. Ainda que, utilizando os preceitos dessa linha de pensamento, os teóricos de Frankfurt abrem mão das ideias de "ditadura do proletariado", da luta de classes como motor da história e, principalmente, da determinação da base material como sendo determinante em qualquer sociedade. A Teoria Crítica é crítica, portanto, porque rejeita a civilização moderna, o cientificismo po- sitivista, o "ideal" cientificista aplicado ao domínio humano. Dessa forma, é definida como uma proposta teórica que não é dogmática, mas capaz de evidenciar o potencial crítico nas ciências humanas. Sua principal contribuição está na possibilidade de apreensão da realidade como ela de fato é, através da análise das estruturas sociais vigentes e, principalmente, das situações histó- ricas concretas. A Teoria Crítica, que em muitos pontos é tida como a própria Escola de Frankfurt, continua a ser de grande interesse para a conjuntura atual e fornece recursos essenciais para a renova- ção da Teoria Crítica social e política, precisamente porque, como na época de sua formulação, a nossa época está passando por transformações enormes, algumas das quais são promissoras e algumas ameaçadoras. Voltar aos clássicos na Teoria Crítica, portanto, é uma possibilidade de enriquecimento teórico e metodológico na construção do conhecimento. 1.3 Indústria cultural Vamos agora conhecer a discussão sobre a massifi- cação da cultura, outra dimensão da Escola de Frankfurt, amplamente difundida no meio acadêmico. O termo In- dústria Cultural foi cunhado em Frankfurt, na década de 1930, para indicar a industrialização da cultura produzida em massa e os imperativos comerciais que são construí- dos, através de artefatos de produção industrial. Adorno e Horkheimer alegam que a indústria cultural existe para reforçar o capitalismo, em que foi verificado um conjunto de fenômenos que colocava em xeque conceitos como entretenimento e cultura de massa (ADORNO e HOR- KHEIMER, 2006). Figura 3: Theodor Adorno Fonte: Disponível em <www.agente.files.word- press.com.br/adorno_te- odor>. Acesso em 18 mai. 2010. 15 Ciências Sociais - Sociologia IV No ensaio A indústria cultural: o esclarecimento como mistificação das massas, os autores discutem as especificidades e as implicações do conceito de cultura e sociedade, demonstrando que os produtos da indústria cultural apresentam as mesmas características de outros objetos produzidos em massa: mercantilização, padronização e massificação. Desse modo, a indústria cultural tem a função específica de prestação de legitimação ideológica das atuais sociedades capitalistas e da integração dos indivíduos em seu modo de vida. 1.3.1 Cultura de massa e indústria cultural Os primeiros esboços do ensaio Indús- tria Cultural de Theodor Adorno continham o termo “cultura de massa”, que acabou sendo substituído por indústria cultural, para excluir a interpretação de que se trata de algo como uma cultura que surge das próprias massas. Ao invés disso, Horkheimer e Adorno procuram descrever um tipo de cultura mercantilizada e industrializada, gerida de cima para baixo, e essencialmente produzida a partir da lógica do lucro (ADORNO e HORKHEIMER, 2006). A definição da estrutura básica para o es- tudo da cultura no capitalismo faz parte de um projeto teórico maior que iniciou uma análise da indústria cultural através de filmes, músicas, jornais, revistas e livros, que, mesmo não sendo controlada diretamente pelo Estado, sua na- tureza da estrutura de propriedade comercial desmobilizou a classe trabalhadora através do desvio. As análises evidenciam que, ao invés de terem desenvolvido a consciência para a supera- ção do sistema capitalista, a classe operária tinha se tornado mais incorporada do que nunca, e a indústria cultural foi a principal responsável. A Escola de Frankfurt compartilhou algumas das premissas básicas da teoria da sociedade de massas, estabelecidas pelos sociólogos europeus em meados do século XIX. Esses teóricos es- tavam tentando compreender a natureza da industrialização emergente e os processos de urba- nização, incluindo seus efeitos sobre a cultura. Com a industrialização urbana, as pessoas passam a viver de acordo com o seu trabalho nas fábricas. Essa nova forma de ganhar a vida envolve também o surgimento de novas formas de vida cultural. Assim como as famílias começaram a substituir os produtos caseiros pelos bens manufaturados produzidos em massa, a indústria cul- tural começou a substituição de uma cultura tradicional da sociedade rural que girava em torno da família e da comunidade pela cultura fabricada e industrializada. O processo de industrialização resulta em certa lógica que rege a produção e a distribuição de mercadorias. Eles são produzidos, em primeiro lugar, para o seu valor de troca (isto é, os lucros que geram quando são vendidas para os consumidores). De bens de consumo em mercados, a produção em massa resultou na produçãode produtos cada vez mais homogêneos, que são ar- tificialmente diferenciadas através da publicidade, dando a ilusão da escolha. O mesmo ocorreu com a industrialização da cultura, mas as ramificações da homogeneização parecem mais signi- ficativas devido ao seu papel fundamental em ajudar a moldar a forma como a realidade é per- cebida. As indústrias culturais não são meramente ideológicas porque elas são controladas pelas autoridades econômicas e políticas, mas, principalmente, porque sua produção é regida pela ló- gica do capital. 1.3.2 As características de mercantilização da cultura Podemos concluir que a indústria cultural é a consequência lógica da produção industrial capitalista e sua característica mais essencial é a repetição. Como uma maneira de restrição do potencial crítico e de dominação das consciências dos indivíduos, o consumo de produtos da in- ◄ Figura 4: Cultura Industrializada Fonte: Disponível em <www.pedrobeck.files. wordpress.com/capital>. Acesso em 14 mai. 2010. DiCA Para entender melhor os temas tratados, sugerimos a leitura do livro “1984”, de George Orwell. A obra mostra como uma sociedade oligárquica coletivista é capaz de reprimir qualquer um que se opunha a ela. Confira e compreenda melhor a unidade! 16 UAB/Unimontes - 4º Período dústria cultural, ao contrário de que se possa imaginar, não é uma escolha livre do consumidor, mas, em grande medida, determinado antecipada- mente na fase de fabricação dos pro- dutos. Na sociedade capitalista as pes- soas somente são toleradas a partir de sua completa identificação com a ge- neralidade, o que impede o desenvol- vimento de sua autonomia e da inde- pendência para julgar e decidir por si próprio. Os apelos da Indústria Cultu- ral desenvolvem e reforçam o ajusta- mento e a obediência a partir de um estado de dependência. As condições que possibilitaram o fortalecimento desse fenômeno estão situadas em dois campos: 1. O desenvolvimento técnico, com a propagação em grande escala de produtos. 2. A concentração administrativa e econômica, que unifica a produção e a difusão, o que lhes confere uma condição de sistema. O resultado desse processo é o desenvolvimento de formas de controle social que restrin- gem as possibilidades de superação do modo de produção vigente, o capitalismo, e faz com que as pessoas se transformem em objeto e percam sua autonomia. A efetivação desse controle se dá a partir da sua extensão sobre toda a experiência dos in- divíduos, que ficam sujeitos aos princípios do sistema social, além do seu processo de trabalho, também em seu tempo livre, de lazer, constituindo um ciclo que se autorreforça. O resultado desse ciclo é a incapacidade das pessoas de identificar-se com a realidade e re- fletir criticamente sobre o mundo. A partir da anulação das diferenças entre a realidade mostra- da pela indústria cultural e os mecanismos empregados nesse processo, as pessoas são privadas da tomada de consciência, ficando imóveis em relação aos mecanismos utilizados para a sua dominação. O consumidor não tem soberania. A in- dústria cultural atua para garantir sua própria reprodução e as formas cultu- rais que propaga devem ser compatí- veis com essa finalidade. O significado para os nossos tempos do pensamento de Adorno sobre a indústria cultural é cada vez mais aparente, justamente pelo cres- cimento do poder de manipulação da indústria cultural. Por isso, o en- saio “A indústria cultural: o esclareci- mento como mistificação das massas” permanece até hoje como um texto decisivo para a compreensão dos fe- nômenos da cultura de massa e da indústria do entretenimento. 1.3.3 Habermas: uma alternativa para o problema da racionalidade O trabalho teórico-filosófico de Jurgen Habermas ocupa uma posição significativa no discur- so social e político ocidental. Com base na Teoria Crítica (Adorno, Horkheimer, Benjamin e Mar- cuse), Habermas também elabora uma crítica profunda dos métodos de dominação vigentes na sociedade moderna. O seu pensamento é voltado, em particular, para a reflexão do processo de Figura 5: Mercantilização da cultura Fonte: Disponível em <www.republicadasle- tras.zip.net/images/cons- ciência.br>. Acesso em 17 mai. 2010. Figura 6: Imobilidade diante da dominação excessiva Fonte: Disponível em <www.guiatpm.files. wordpress.com/conscien- cia_01>. Acesso em 14 mai. 2010. DiCA Aprofunde os estudos sobre a Indústria Cultu- ral lendo o artigo “A te- levisão como consolida- ção da Indústria Cultural no cenário brasileiro” de Marco Antônio Bettine de Almeida. Acesse o link e veja o texto: http://www.efdeportes. com/efd121/aspectos- teoricos-da-industria- cultural-e-a-televisao- no-brasil.htm. 17 Ciências Sociais - Sociologia IV racionalização, através de uma análise sistemática e uma crítica do presente e a identificação de suas patologias e as perspectivas de futuro. Sua principal contribuição para a filosofia e para as ciências sociais é o desenvolvimento de uma teoria da ra- cionalidade. Para Habermas, a capacidade de usar a racio- nalidade vai além do cálculo estratégico de como alcan- çar um objetivo escolhido. Existe uma possibilidade para o consenso, através da ação comunicativa, o que para ele é a própria racionalidade. A teoria da modernidade de Habermas é também o produto da releitura de alguns pensadores da modernida- de, entre os quais se destaca Max Weber e a sua teoria do desencantamento do mundo. 1.3.4 A ampliação da tese do desencantamento do mundo Vamos retomar alguns aspectos do diagnóstico Weberiano da modernidade. Segundo We- ber, o processo de racionalização da sociedade, representado principalmente pela burocratiza- ção e secularização, desencadeou outro processo: o desencantamento do mundo. Esse diagnós- tico de Weber apresenta-se sob uma perspectiva totalmente pessimista com relação ao futuro da humanidade. Para ele, não há saída para os dilemas causados pela racionalização: estamos presos numa “gaiola de ferro”, o que é um processo irreversível. Habermas concorda em parte com Weber na medida em que defende que também acredita que o mundo encontra-se racionalizado e desencantado. Porém, a sua resposta ao desespero da “gaiola de ferro” é que não estamos diante de uma situação sem saída. Para Habermas, é possível resistir à racionalização e à dominação através de alternativas para a vida coletiva e da adoção de um discurso racional orientado para a compreensão, no qual participam todos os interessados. 1.3.5 A teoria da racionalidade: razão instrumental x razão comunicativa Na perspectiva Habermasiana, a racionalidade é tida como um processo histórico. Trata-se do próprio desenvolvimento das sociedades modernas, secularizadas e desencantadas, que têm como características básicas a formação de uma economia capitalizada, de desenvolvimento das forças produtivas e o consequente aumento de produtividade, a formação dos Estados-nação, a expansão dos direitos e da participação política, e, sobretudo, da urbanização. Os homens livres racionalizaram a realidade com o uso público da razão. Como vimos, o fim pretendido desse processo seria a liberdade, a realização livre e consciente da humanidade. A tese de Habermas sobre a racionalidade ocidental caminha na direção da Teoria Crítica, na medi- da em que busca as causas e os efeitos da modernização, da ação racional e das visões de mundo racionalizadas. Habermas concorda com os demais teóricos da Escola de Frankfurt que apontam para o fato de que o iluminismo falhou; porém, sua principal hipótese é que o projeto da modernidade pode ser revisto. A principal tarefa de sua construção teórica é reconstruir o projeto de moderni- dade através do que ele chamou de ação comunicativa. Seu ponto de partida éa negação da razão instrumental e a defesa de uma razão centrada no sujeito, o que supõe a possibilidade de superação do pessimismo dos diagnósticos da modernidade e dos dilemas da razão. Para isso, ele utiliza preceitos da filosofia da linguagem e expande o conceito de razão para incluir a “racionalidade comunicativa", porque a linguagem pressupõe irrestrita comunicação e compreensão mútua. Com esses movimentos teóricos, o autor restabeleceu a centralidade da razão como o princípio norteador para a realização de emancipação. A partir dessa perspectiva filosófica, Habermas desenvolveu o conceito de “ação comunicativa”, definido como o tipo de in- teração na qual todos os participantes harmonizam seus planos de ação individual com o outro e, assim, prosseguem os seus objetivos. DiCA Para pensarmos o conceito de ação co- municativa, temos que considerar a questão da linguagem, considerada por Habermas como o veículo para a forma mais fundamental de ação social. Para ele, portanto, a ação comu- nicativa é uma forma de interação social em que as ações dos diversos atores estão assentadas em atos comunicativos através da utilização da linguagem, na busca pelo entendimento comum. ◄ Figura 7: Jurgen Habermas Fonte: Disponível em <www.revistacult.uol. com.br/habermas_jur- gen>. Acesso em 17 mai. 2010. 18 UAB/Unimontes - 4º Período De acordo com esse argumento, as dificuldades da sociedade moderna são conseqüências - como Horkheimer e Adorno tinham argumentado – de uma confiança excessiva na razão ins- trumental. Nas estruturas comuns da "ética do discurso" é que, segundo Habermas, podemos en- contrar uma base para a fé no futuro da humanidade. Por Razão instrumental, podemos entender a forma objetiva da ação que trata o obje- to simplesmente como um meio, e não como um fim em si mesmo. A razão instrumental é constituída por elementos que remetem ao cálculo capaz de estabelecer a relação entre meios e fins, prever as consequências de nossos propósitos, além de analisar a relação entre diferentes objetivos. O mundo, nessa perspectiva, é um mecanismo onde a racionalidade pode agir, ainda que não se tenha certeza sobre os valores que dirigem o comportamento dos indivíduos. Desse modo, a racionalidade instrumental apresenta-se em três momentos distintos: 1. A descoberta dos meios para alcançar os objetivos. 2. A seleção dos meios mais eficientes. 3. A previsão do comportamento racional dos outros. A Razão Comunicativa, por outro lado, é baseada em uma análise do uso social da lingua- gem, orientada para alcançar um entendimento comum. Está ligada à capacidade humana para a racionalidade, que não é individualista, mas uma capacidade inerente à linguagem, especial- mente na forma de argumentação. Na estrutura do discurso argumentativo, há uma busca de compreensão, sem força coercitiva, com o poder convincente do melhor argumento. Trata-se, portanto, de uma racionalidade intersubjetiva. Para Habermas, a ação comunicativa baseia-se num processo deliberativo onde as pessoas interagem e coordenam sua ação com base na interpretação da situação. Nota-se, assim, que a racionalidade é a chave tanto para a dominação quanto para a emancipação. Por isso, a teoria Figura 8: Cegueira Fonte: Disponível em <www.guiatpm.files. wordpress.com/tiras_ca- pitalismo>. Acesso em 15 mai. 2010. Figura 9: Uso social da Linguagem Fonte: Disponível em <www.republicadasletras. zip.net/images_2007/ orgm>. Acesso em 15 mai. 2010. 19 Ciências Sociais - Sociologia IV da ação comunicativa tem como objetivo principal demonstrar a relação existente entre a razão e a comunicação. Nesse sentido, a teoria, além de servir de base para uma crítica da razão ins- trumental, constitui-se como critério através do qual é possível distinguir o poder legítimo do ilegítimo. Assim, o poder para Habermas somente será legítimo se estiver fundamentado no con- senso alcançado pela ação comunicativa. 1.3.6 Sistema e mundo da vida A partir dos pressupostos apresentados, Habermas introduz em sua abordagem uma nova concepção de sociedade, em que se entrelaçam o conceito de mundo da vida (o fundo comum de conhecimentos que os indivíduos usam para atribuir sentido ao mundo) e do conceito de sis- tema. De acordo com esta abordagem “dual”, a sociedade evolui, diferenciando-se tanto como sistema quanto como mundo da vida. Os dois conceitos são utilizados para oferecer uma melhor compreensão das sociedades modernas, correspondendo a uma separação da sociedade em duas esferas: a da reprodução material e a da representação simbólica. Sistema: Esse conceito descreve as estruturas responsáveis pela reprodução material e ins- titucional da sociedade: a economia e o Estado, que representam dois subsistemas: o dinheiro e o poder, respectivamente. Nesse plano, a linguagem é secundária e há o predomínio da razão instrumental. O mundo da vida: É composto pelas experiências comuns a todos os atores, das tradições, da cultura e da língua compartilhada. É o espaço social em que a ação comunicativa permite a realização da Razão Comunicativa, alicerçada no diálogo e no argumento. Representam três sub- sistemas: personalidade, social e cultural, regulados pelos mecanismos de integração social. De acordo com Habermas, os dois mundos não são antagônicos, ao contrário, são complementares. Quadro 1 Relações entre o Mundo da Vida e Sistemas Mundo do Sistema Mundo da vida Modos de produção e reprodução artificial Modos de produção e reprodução simbólica Estado/economia Experiência comunicativa dos sujeitos Poder/dinheiro Cultura, linguagem Conhecimento voltado a interesses Conhecimento tácito Ação instrumental e/ou estratégica Ação comunicativa Êxito e domínio Entendimento, liberdade e autonomia refle-xiva. Fonte: Adaptado de Freitag, 2000. A partir desses dois campos, a análise da modernidade de Habermas tem como pressuposto algumas transformações societárias que aconteceram e foram especificadas em quatro proces- sos, que apresentam aspectos positivos e negativos. Em relação aos aspectos positivos, as sociedades passaram por processos de: 1. Diferenciação: traduzidas principalmente na divisão de tarefas políticas e econômicas, o que fez com que a reprodução material e simbólica da sociedade se tornasse mais compe- tente e eficaz. 2. Autonomização: ou seja, a separação relativa de uma esfera do conjunto societário, propor- cionando maior autonomia no seu funcionamento, o que representa uma conquista relativa de liberdade das esferas em questão. Por outro lado, com uma conotação negativa, houve os processos de: 1. Racionalização: tipicamente instrumental, com o predomínio do calculo da eficácia, o que trouxe efeitos indesejados para a sociedade, na medida em que os benefícios passam a ser um fim em si mesmo. Dessa forma, há a expulsão da razão argumentativa, que seria capaz de proporcionar a negociação coletiva dos fins. DiCA Jurgen Habermas, filó- sofo e teórico social, é considerado por muitos como o mais importan- te intelectual alemão do pós-guerra, principal- mente por sua teoria da ação comunicativa. Sua maior preocupação é o desenvolvimento de uma teoria que consiga abarcar a igualdade e a participação aberta no debate público, razão pela qual seu trabalho teórico-filosófico ocupa uma posição significa- tiva no discurso social e político ocidental. Como componente da Escola de Frankfurt, Habermas elabora uma crítica profunda das formas de dominação na sociedade moder- na, admitindo, porém, a hipótese de que o “projeto da modernida- de” pode ser redimido, através da reconstitui- ção dos dilemas razão numa dimensão da ação comunicativa. DiCA Assista ao filme “Me- trópolis”, produzido em 1927. É um filme alemão de ficção científicaque demonstra preocu- pação crítica com a mecanização da vida industrial nos grandes centros urbanos, ques- tionando a importância do sentimento humano, perdido no processo. 20 UAB/Unimontes - 4º Período 2. Dissociação: que desconectou a produção material dos processos sociais da vida cotidiana, levando o poder e a economia a assumir aparência natural (FREITAG, 2000). 1.3.7 As patologias da modernidade Os processos de transformação de conotação negativa – racionalização e dissociação – são, em boa medida, os responsáveis pelas patologias da modernidade. • A dissociação trouxe consigo o desengate do sistema e do mundo da vida. • A racionalização provocou uma contaminação da economia e do estado, além de contami- nar também o mundo vivido. Por isso é que Habermas defende que o sistema colonizou o mundo da vida, fazendo com que os indivíduos estejam subjugados às leis do mercado e à burocracia estatal. Em decorrência, o sistema se fortalece e passa a impor a sua lógica ao mundo da vida (FREITAG, 1995). A colonização, portanto, diz respeito à introdução da racionalidade instrumental e dos me- canismos de integração do “dinheiro” e do “poder” no interior das instituições culturais, que dei- xam, nesse caso, de funcionar segundo o princípio da verdade, normatividade e expressividade, passando a funcionar segundo o princípio do lucro e do exercício do poder, atuantes no sistema econômico e político. 1.3.8 A saída para os dilemas da modernidade Como vimos anteriormente, Habermas não é pessimista com relação ao futuro da humani- dade. Ele argumenta que há uma maneira de sair desta situação: a fim de superar as crises so- ciais, é necessário contrabalançar a racionalidade instrumental, trazendo a racionalidade comuni- cativa de volta ao jogo. Trata-se de promover o reacoplamento do sistema com o mundo vivido, mas sem extinguir os limites estabelecidos e as autonomias adquiridas. O “reacoplamento” se impõe para manter a integridade e complexidade do todo a ser controlado e corrigido por todos os “envolvidos”. A “descolonização” se im- põe para permitir a livre atuação da Razão Comunicativa em todas as esferas e instituições do mundo vivido e na busca de “últimos fins” do sistema. As regras do jogo para a sociedade como um todo precisam ser buscadas em processos argumentativos, dos quais todos participem, definindo os espaços de atuação e a fixação de objetivos do sistema. (FREITAG, 1995, p. 146) Para Habermas, a terapia para as patologias da modernidade deve se dar a partir de uma mudança de paradigma: da ação instrumental para a ação comunicativa, da subjetividade para a intersubjetividade. É este o caminho da compreensão correta da modernidade e de suas patolo- gias. A prioridade deve ser a liberdade e a realização de todos os membros da sociedade. A teoria da modernidade de Habermas, dessa forma, preserva os preceitos do projeto iluminista, apenas promovendo modificações em sua forma. Referências ADORNO, Theodor W., HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. FREITAG, Bárbara. Habermas e a teoria da modernidade. Cad. CRH. Salvador, n.22. p. 138-163, jan/jun.1995. HABERMAS, Jurgen. Teoria de la acción comunicativa: complementos y estudios previos. Ma- drid: Ediciones Cátedra, 1994. Cap. 8. HORKHEIMER, Max. “Teoria Tradicional e Teoria Crítica”. In: HORKHEIMER, Max. Textos Escolhi- dos. São Paulo: Abril Cultural, 1983. ATiviDADe Faça análises críticas sobre a Escola de Frank- furt e a Teoria de Jurgen Habermas e debata com os colegas no fórum de discussão. GLOSSáRiO Racionalidade: Quali- dade ou estado de ser sensato, com base em fatos ou razão. Implica a conformidade de suas crenças com umas próprias razões para crer, ou de suas ações com umas razões para a ação. Ação comunicativa: Refere-se a uma teoria desenvolvida por Jur- gen Habermas - filósofo e sociólogo alemão. Trata-se de uma análise teórica e epistêmica da racionalidade como sistema operante da sociedade. Habermas contrapõe-se à ideia de que a razão ins- trumental constitua a própria racionalização da sociedade ou o único padrão de racionaliza- ção possível, e introduz o conceito de razão comunicativa. Cultura de massa: Também chamada de cultura popular ou cultura pop, é o total de ideias, perspectivas, atitudes, memes, ima- gens e outros fenôme- nos que são julgados como preferidos por um consenso informal contendo o mainstream de uma dada cultura, especialmente a cultura ocidental do começo da metade do século XX e o emergente mains- tream global do final do século XX e começo do século XXI. 21 Ciências Sociais - Sociologia IV MATOS, Olgária C. F. A escola de Frankfurt: luzes e sombras do iluminismo. São Paulo: Editora Moderna, 1993. MUSSE, Ricardo. As Raízes Marxistas da Escola de Frankfurt. In: A escola de Frankfurt no Direi- to. Curitiba: Edibej, 1999. Sites http//:www.agente.files.wordpress.com.br. Acesso em: 18 mai. 2010. http//:www.blogbrasil.com.br. Acesso em 15 mai. 2010. http//:www.guiatpm.files.wordpress.com. Acesso em 14 mai.2010. http//:www.pedrobeck.files.wordpress.com. Acesso em 14 mai.2010. http//:www.revistacult.uol.com.br. Acesso em 17 mai. 2010. http//:www.republicadasletras.zip.net/images/pensadores. Acesso em 17 mai.2010. 23 Ciências Sociais - Sociologia IV UniDADe 2 Distinção entre as esferas do indivíduo e da sociedade Maria da Luz Alves Ferreira 2.1 Introdução Nesta segunda unidade, estudaremos, de forma específica, os espaços dos indivíduos e da sociedade. Iniciaremos com a discussão sobre a operacionalização do conceito de classe social pelo neomarxismo e a ação coletiva na perspectiva de Marx. 2.2 A operacionalização do conceito de classe social pelo neomarxismo Os autores definem a ação coletiva como um fe- nômeno que resulta da in- teração de dois ou mais indivíduos cientes de suas capacidades e dispostos a dar sentido a sua prática so- cial. Para autores como Olson (1956), essa discussão traz à tona o complexo proble- ma da racionalidade da ação coletiva, ou seja, indivíduos singulares, situados em um determinado contexto de so- cialização, que interagem a partir de critérios práticos e racionalmente definidos. Nesse contexto, a ques- tão que se coloca é saber em que medida a teoria da mo- derna ação social concebe os fenômenos coletivos não institucionais – ou movimen- tos sociais – como fenômenos de natureza racional. Ou seja, em que medida indivíduos isolados admitem engajar-se numa ação conjunta para fortalecer ou defender sua situação? Nesta unida- de será discutida a operacionalização do conceito de classe social para os autores que se funda- mentam em Karl Marx. A fim de cumprir esse desiderato, far-se-á, num primeiro momento, uma reflexão da ação coletiva em Marx – entendida como a ação de indivíduos engajados numa clas- se social. Figura 10: Ação coletiva Fonte: Disponível em <http://abstracaocole- tiva.com.br/2013/04/11/ modernismo-brasileiro- -tematica/>. Acesso em 19 mai. 2010. 24 UAB/Unimontes - 4º Período 2.2.1 Ação coletiva na perspectiva de Marx Marx discutia a questão da ação coletiva em consonância com a teoria do desenvolvimento do capitalismo. Para ele, o capitalismo era uma forma específica de sociedade que detém um enorme poder produtivo, capaz de promover um grau superior de desen- volvimento e realização humana. En- tretanto, este projeto se frustra na prá- tica, posto que as relações sociais no capitalismo geram uma dinâmica de individualização extrema das pessoas, a qual redunda na perda progressiva do caráter social da existência humana (desumanização dos indivíduos). Essatensão entre, por um lado, o potencial humanizador do capitalismo e, por outro lado, a efetiva frustração de tal potencial na prática social, destaca-se na sociologia marxista, porque nela deriva a proposição de que, no sistema capitalista, há uma contradição fundamental implíci- ta entre a lógica da produção e a lógica da apropriação dos bens produzidos, isto é, socializa-se a atividade produtiva, porém, privatiza-se a propriedade. Esta ambiguidade latente da sociedade burguesa, que se manifesta como degradação cres- cente do ser humano, só pode ser (e deve ser) superada com a realização de processos, como: a luta coletiva em favor da supressão das classes sociais e do Estado, o fim da divisão social do tra- balho, a abolição positiva da propriedade privada, enfim, a efetiva superação da alienação. São estes, segundo Marx, os fins políticos que devem orientar a ação coletiva dos seres so- ciais, de modo a permitir o florescimento da sociedade comunista, síntese do processo de huma- nização das pessoas e em cujo contexto surgirá o indivíduo plenamente desenvolvido, apto para a execução de uma variedade de atividades, livre de constrangimentos externos, autônomo e, todavia, estreitamente vinculado à comunida- de social. A crítica ao capitalismo é justificada cien- tificamente com base na constatação de que as estruturas político-econômicas inerentes ao modo de produção capitalista, na medida em que promovem desigualdades sociais e legiti- mam o empobrecimento material e espiritual dos trabalhadores assalariados e camponeses (classe majoritárias), bloqueiam definitivamen- te os potenciais emancipatórios e solidarísticos do mundo social e restringe significamente o campo das escolhas individuais. Para o nosso autor, estrategicamente, os trabalhadores, ao tomarem consciência da condição de privação – consciência para si –, tendem a organizarem-se politicamente e a agirem (lutar) racionalmente como um coletivo em favor da supressão radical do capitalismo e de suas mazelas (revolução proletária), até a efetiva instauração de uma comunidade social verdadeiramente humanizada. Na teoria marxista do capitalismo moder- no, a ação social é concebida, prioritariamente, como a ação de indivíduos discretos e autoin- teressados, que podem constituir-se em classes sociais – dependendo do grau de consciência ou racionalidade que caracteriza suas ações –, cuja orientação diz respeito a fins proeminen- Figura 11: Ação coletiva na sociedade cultural Fonte: Disponível em <http://www.djban.com. br/noticias/sindicato-di- ploma-dj-especulacoes- -mtv-debate/>. Acesso em 19 mai. 2010. Figura 12: Revolução cubana de 1959 Fonte: Disponível em <http://sesi.webensino. com.br/sistema/webensi- no/aulas/repository_data// sesieduca/ens_med/ ens_med_f03_his/278_ his_ens_med_03_11/ investigando_caminhos. html>. Acesso em 19 mai. 2010. Figura 13: Revolução russa de 1917 Fonte: Disponível em <http://filosofandoehis- toriando.blogspot.com. br/2011/05/revolucao-rus- sa-de-1917-resumo-parte. html>. Acesso em 19 mai. 2010. 25 Ciências Sociais - Sociologia IV temente econômicos que se identificam, em última instância, com a perpetuação (capitalistas) ou com a superação (proletariado) da propriedade privada. Nesse sentido, só os movimentos coletivos, que surgem no bojo do conflito capital-trabalho podem, quando relacionalmente orientados, ser definidos como formas específicas da ação so- cial da classe trabalhadora que demarca o início da explosão revolucionária. 2.2.2 A operacionalização do conceito de classes sociais na perspectiva dos autores que se fundamentam em Marx Os autores neomarxistas partem do pressuposto de que o campo marxista considera como princípio estruturador da vida social a ideia de que essa estrutura é material, e em todas as socie- dades onde existiu a propriedade privada dos meios de produção, especialmente a capitalista, a estruturação é baseada na ideia de que os indivíduos são estratificados de forma relacional, ou seja, os que são donos dos meios de produção e os que não são. Portanto, o que estrutura as re- lações sociais é o acesso ou não à propriedade. Nesse sentido, a perspectiva marxista considera que a sociedade é estratificada de acordo com a propriedade, ou seja, a posição em uma classe determinada. Portanto, a classe é entendi- da como uma categoria geral que serve para identificar posições na estrutura econômica, bem como a instância de organização e gestão da produção e distribuição de bens e serviços, que se materializa em contextos históricos específicos. É consenso entre os autores que Marx, apesar de ter se dedicado em algumas de suas obras a discutir a luta de classes, não elaborou um conceito sistemático de classe social. Por outro lado, embora ele tenha considerado a existência de classes subsidiárias – nos 18 Brumário de Luís Bo- naparte, definiu várias classes, entre elas, o proletariado, a pequena burguesia e o campesinato –, considerava que o movimento da história era polarizado em duas classes antagônicas, a bur- guesia e o proletariado. Diante disso, a seguir serão discutidas as contribuições de alguns autores neomarxistas, como Jon Elster Erick Olin Wright e Adam Przeworski, no sentido de contribuir para operacionalizar o conceito de classe social desenvolvido por Marx. 2.2.2.1 Jon Eslter A questão central, da qual se ocuparam os se- guidores de Marx, foi: o que é uma classe? Elster (1989) considera que, embora Marx nunca tenha ex- plicitado o seu conceito de classe, a sua teoria possi- bilita uma reconstrução da definição de classe, con- siderando que alguns grupos podem ser definidos como classe, distinguindo-se dos que não se enqua- dram nessa categoria. Contudo, o autor argumenta que é difícil definir um conceito preciso de classe de forma arbitrária, porque “as classes têm uma exis- tência real como grupos de interesses organizados, e não como meras observações do observador. Por outro lado, classe não pode ser reduzida a uma opo- sição dicotômica entre os que têm e os que não têm, ou exploradores e explorados” (ELSTER, 1989. p.142). O autor supracitado ressalta que os seguidores de Marx, ao elaborarem o conceito de classe, utili- zam como critério os elementos propriedade, explo- ração, comportamento de mercado e dominação. Embora sejam elementos importantes para a reconstrução do referido conceito, a (re)elaboração não é fácil, pois deverá ser comprovada em- piricamente em várias sociedades com sistemas econômicos com e sem economia de mercado, com propriedade individual ou coletiva dos meios de produção. O autor entendia que, mesmo que Marx tenha definido vários grupos – em diferentes mo- dos de produção social – como referência à classe social, estes não podem ser utilizados para se elaborar um conceito que possa ser generalizado, para outras sociedades que Marx não tenha DiCA Vocês se lembram de que Marx sempre traba- lhou com a dicotomia, a oposição entre duas classes sociais polariza- das: escravos e senhores no escravismo; senhores feudais e servos no feudalismo; burguesia e proletariado no capita- lismo? Qualquer dúvida, retorne aos Cadernos Didáticos de sociologia I e II. ◄ Figura 14: Jon Elster Fonte: Disponível em <http://web.stanford.edu/ group/RCTandHumani- ties/overview/>. Acesso em 19 mai. 2010. 26 UAB/Unimontes - 4º Período estudado. Ele afirmou também que o número de classes definido por Marx pode não ter contem- plado todas as classes existentes naquela sociedade. Outra crítica que Elster faz à teoria marxista é o fato de esta não ter considerado categorias como renda, ocupação e status, pois, segundo ele, essas categorias são centrais para inferir como a sociedade é estratificada. Há cerca de quinze grupos a que Marx se refere como classes:burocratas e teo- cratas no modo de produção asiático; homens livres, escravos, plebeus e patrí- cios na escravidão; senhor, servo, mestre de guilda e artesão no feudalismo; ca- pitalista industrial, capitalista financeiro, senhor de terras, camponês, pequeno burguês, trabalhador assalariado no capitalismo. Não podemos, porém, definir o conceito de classe com essa enumeração. Para decidir se os exemplos formam um conjunto coerente, precisamos de uma definição geral. Queremos também ser capazes de aplicar o conceito a outras sociedades, diferentes daquelas estu- dadas por Marx. Em relação às que ele estudou, precisamos saber se sua enume- ração das classes é exaustiva ou se poderiam existir outras além das que ele cita. Em uma palavra, precisamos saber se em virtude da propriedade esses grupos constituem classes (ELSTER, 1989, p 142). Um aspecto considerado pelo autor é que Marx considerava que as classes não se diferen- ciavam pela sua renda. Assim, ainda que membros de classes diferentes tipicamente obtivessem rendas diferentes, isso não seria necessário; e, mesmo que fosse, não seria em virtude desse fato que eles pertenceriam a classes diferentes. Na ciência social contemporânea, renda, ocupação e status são os conceitos cen- trais para o estudo da estratificação social. Esse fato não implica qualquer incon- sistência com o marxismo, porque a teoria da estratificação e a teoria de classes têm propósitos diferentes. Esta última aborda a questão de que grupos organi- zados serão os atores principais na ação coletiva e no conflito social; a primeira, porque os indivíduos diferem em termos de desvio, consumo, saúde ou hábitos de casamento. Essa distinção é ao menos válida em relação ao próprio Marx, que não tinha uma teoria sociológica no sentido moderno da expressão. Em sua dis- secação do capitalismo, o foco estava quase que exclusivamente em fenômenos econômicos e políticos, a expensas da textura e eventos da vida cotidiana fora do lugar de trabalho. Tentativas posteriores de criar uma sociologia marxista ba- seada no conceito de classe se dedicam às mesmas questões da teoria da estra- tificação. Na medida em que os objetivos das duas abordagens se superpõem, elas são, de fato, incompatíveis, pelo menos se cada uma delas tiver a pretensão de dar a explicação completa dos fenômenos em estudo. (ELSTER, 1989, p.143) O referido autor considera ainda que o pertencimento a uma classe é definido pela proprie- dade ou não dos meios de produção. Entretanto considera que, para os objetivos de Marx, essa definição não é suficiente – em que pese a importância desta variável –, mas, dependendo de como ela é entendida, pode ser muito importante ou pouco importante. Pode ser muito impor- tante se todos os atores que possuam alguns meios de produção além de sua própria força de trabalho forem incluídos na mesma classe, porque isso não permitiria fazer a distinção entre se- nhor de terras, capitalista, artesão e camponês. Pode ser menos importante se os atores forem “relegados a diferentes classes, de acordo com a quantidade de meios de produção que possuí- rem, pois isso criaria uma infinita fragmentação das classes” (ELSTER, 1989, p.144). O argumento do autor é que, se a variável definidora de classe for a exploração – explorados por um lado, e exploradores por outro –, em termos metodológicos não é interessante, na medida em que deixa de captar as nuanças do modelo capitalista de seis classes postulado por Karl Marx. Em relação à consciência de classe que era para Marx a condição sine qua non para a ação coletiva, Eslter considera que a condição para a ação coletiva é que os membros de uma classe tenham uma compreensão da sua situação e de seu interesse. Marx era um tanto mais otimista em relação à capacidade de os operários ingle- ses formarem uma concepção adequada de seus interesses. Mas ele também se frustrava por sua falta de uma consciência de classe revolucionária, que impu- tava em parte à sua falta de compreensão de seus interesses. Por volta de 1850, depois do colapso do movimento cartista, ele explicava a confusão pelo fato de que os trabalhadores lutavam numa guerra de duas frentes. Como os capitalistas não tomaram diretamente o poder político, mas deixaram seu exercício aos aris- tocratas agrários, os operários se confundiram sobre a natureza do inimigo real – o capital ou o governo? Lutando simultaneamente contra a opressão política e a exploração econômica, e não compreendendo que a primeira não passava de uma extensão da última, tinham apenas uma noção difusa de onde estavam seus 27 Ciências Sociais - Sociologia IV verdadeiros interesses. Por volta de 1870, a guerra de duas frentes foi substituída por um argumento de divisão para conquistar. Marx sugere que, se não fosse pela presença dos irlandeses, os trabalhadores ingleses teriam sido capazes de perceber seu interesse real e seu inimigo real. Tendo alguém abaixo deles para desprezar, distraíram-se do inimigo principal. (ESLTER, 1989, p. 149). Elster destaca também a relevância das classes sociais tanto como fonte de conflito, quanto como “instrumento” de barganha para a formação de alianças determinantes da estrutura de po- der em uma determinada sociedade. Entretanto, embora as classes sejam relevantes, o autor não admite que estas sejam centrais – como Marx afirmava – para a explicação dos conflitos entre os grupos organizados coletivamente na sociedade. 2.2.2.2 Adam Przeworski Uma outra análise interessante em relação à discussão de classes e que considera a dificul- dade de utilizar o conceito de classes tal como Marx o elaborou é feita por Przeworski (1989), que argumenta que, a partir do final do século XIX, tornou-se problemático operacionalizar o conceito de proletariado tal como foi proposto por Marx. A fim de comprovar esse argumento, ele faz o seguinte questionamento: Quem são todas aquelas pessoas geradas pelo capitalismo a um ritmo cada vez mais acelerado, que são separadas dos meios de produção, forçadas a vender sua força de traba- lho em troca de salário e que, contudo, não trabalham, vivem, pensam e agem realmente como proletários? São eles operários proletários? Ou serão da ‘classe média’? Ou talvez simplesmente trabalhadores ‘não manuais’, como os estudio- sos os classificam em suas pesquisas? Ou ‘La nouvelle petite bourgeoisie? Ou ainda agentes da reprodução capitalista e, portanto, simplesmente a burguesia? (PRZEWORSKI, 1989, p. 83). Pzeworski discute que o problema de operacionalização do conceito de classe dicotômica – como foi formulado por Marx – não é uma tarefa muito simples. Uma possível solução apontada por ele é incluir na análise as classes que não foram contempladas pelo viés marxista, ou seja, a adição das classes médias. Para comprovar sua tese de que não se pode pensar – nas sociedades de capitalismo avançado do final do século XIX e do século XX – somente em duas classes anta- gônicas e polarizadas, ele lançou mão da discussão feita por Wright, que tentou operacionalizar empiricamente o conceito de classe na sociedade americana e chegou à conclusão de que nem todos os membros da população economicamente ativa dos Estados Unidos são enquadrados dentro da categoria de operários e capitalistas (PRZEWORSKI, 1989, p. 84). Entretanto, apesar de o autor considerar importante a contribuição de Wright, ele enten- de também que a questão do conceito de classes não será resolvida nem com a definição de classes objetivas, tampouco com as localizações contraditórias. O que ele propõe é analisar a seguinte questão: como, a partir de posição em lugares econômicos determinados, podem os indivíduos lutar de forma coletiva para a realização dos seus interesses objetivos? Para responder a essa questão, ele considera que é preciso incorporar o problema de identidade. Assim, a classe não pode ser considerada ape-nas pela posição objetiva; tampouco as lutas são determinadas apenas pelas relações de produção/econômicas, mas devem ser levadas em conta também as relações políticas e ideo- lógicas, ou seja: DiCA Entenda mais sobre o movimento cartista acessado o site www. historiadomundo.com. br No endereço eletrônico, você encontrará artigos e textos sobre o assun- to, para aprofundar os estudos. ◄ Figura 15: Adam Przeworski Fonte: Disponível em <http://www.nyu.edu/ about/news-publications/ news/2010/04/09/poli- tics_professor_p.html> Acesso em 19 mai. 2010. ◄ Figura 16: Classe média Fonte: Disponível em <www.google.com.br>. Acesso em 19 mai. 2010. 28 UAB/Unimontes - 4º Período Como agentes históricos, as classes não são determinadas unicamente por quais- quer posições objetivas, tem mesmo a de operários e capitalistas (...) a própria relação entre as classes como agentes históricos (classes em luta) e os lugares nas relações de produção deve tornar-se problemática. As classes não são deter- minadas unicamente porque quaisquer posições objetivas, porque constituem efeitos de lutas, e essas lutas não são determinadas unicamente pelas relações de produção. A formulação tradicional não nos permite raciocinar teoricamente sobre as lutas de classes, uma vez que as reduz a um epifenômeno ou as consi- deram isentas de determinação objetiva. (...) as classes são um efeito de lutas que ocorrem em uma determinada fase do desenvolvimento capitalista. Devemos compreender as lutas e o desenvolvimento em sua articulação histórica concre- ta, como um processo (PRZEWORSKI, 1989, p. 86-87). Portanto, o autor defende a necessidade de se conceber a formação das classes como re- sultantes de lutas estruturadas por condições econômicas, ideológicas e políticas que ocorrem objetivamente, moldando as práticas de movimentos que organizam os trabalhadores em uma classe, sendo que as classes são constantemente organizadas, desorganizadas e reorganizadas. Para ele, o problema que se apresenta em operacionalizar o conceito de classe social, como Marx entendia, dá-se porque em lugar de que as classes existem objetivamente dentro das rela- ções de produção, em alguns períodos históricos, a noção de classe seria irrelevante para a com- preensão da história. Ele dá como exemplo o período em que essas classes não desenvolvem a so- lidariedade e a consciência de classe ou quando não têm efeito político. Outra objeção colocada pelo autor é que a identificação das classes como força política organizada traz à tona o problema de como remontar à origem dessas classes no nível dos lugares na organização social da produção. Se a hipótese é que todo operário manual na indústria comporta-se politicamen- te como um operário, então a teoria é absolutamente falsa; se todo indivíduo que é um socialista em potencial é considerado um operário, a teoria é sem sen- tido na acepção positivista da expressão. A primeira interpretação do marxismo é predominantemente, entre muitos estudos do comportamento político, que a partir dela descobrem um grande “resíduo” de divisões outras que não as de clas- se, divisões estas por vezes maiores que as de classes. A segunda interpretação é subjacente ao tipo de raciocínio voluntarista segundo o qual os funcionários de serviços eram considerados não pertencentes à classe operária quando as pers- pectivas de sua sindicalização pareciam obscuras e, entretanto, hoje em dia, são considerados da classe operária majoritária (PRZEWORSKI, 1989, p. 89). Ele propõe, para superar essa dificuldade, do ponto de vista metodológico, conceber as clas- ses formadas decorrentes de lutas estruturadas em vários campos, como político, ideológicos e econômicos que ocorrem em condições objetivas, também políticas, econômicas e ideológicas que moldam as práticas dos movimentos organizados dos operários em classe. Considera, ainda, que as classes não são um elemento anterior à história das lutas concretas como também não antecederam à prática política e ideológica, sendo que elas se constituem em uma fonte impor- tante de divisão social. Para ele, as classes: 1) são formadas como efeito de lutas; 2) o processo de formação de classes é per- pétuo: as classes são continuamente organizadas, desorganizadas e reorganiza- das; 3) a formação de classes é um efeito da totalidade das lutas nas quais diver- sos agentes históricos procuram organizar as mesmas pessoas como membros de uma classe, como membros de coletividades definidas em outros termos, às vezes simplesmente como membros de uma sociedade (PRZEWORSKI, 1989, p. 91). Przeworski considera ainda que, apesar das várias tentativas de reinterpretação da teoria da classe média de Marx, não se constata um grande avanço, no sentido da operacionalização do conceito nas sociedades capitalistas, nas últimas décadas. O que parece consenso é que o de- senvolvimento do capitalismo culminou, além do crescimento da força de trabalho excedente – produtores imediatos e organizadores do processo de trabalho – em uma categoria que não se enquadra em nenhuma das duas citadas acima, ou seja, que apesar de não ter uma relação dire- ta com a produção, do ponto de vista técnico, são indispensáveis para “reprodução das relações capitalistas de produção” (PRZEWORSKI, 1989, p.108). Na perspectiva do autor, o conceito de classe é mais abrangente do que a velha teoria mar- xista supunha. A polarização entre os proprietários dos meios de produção e proprietários da for- ça de trabalho não é empiricamente aplicável para as sociedades capitalistas contemporâneas. A estas devem ser adicionadas as classes médias que são fundamentais para se continuar reprodu- zindo a estrutura das relações capitalistas de produção. 29 Ciências Sociais - Sociologia IV Classe, portanto, é o nome de uma relação, não uma coleção de indivíduos. Os indivíduos ocupam lugares no sistema de produção; os agentes coletivos apa- recem em luta em momentos concretos da história. Nenhum deles – ocupantes de lugares ou participantes de ações coletivas – são classes. A classe é a relação entre eles, e nesse sentido a luta de classes diz respeito à organização social de tais relações (PRZEWORSKI, 1989, p.102). Portanto, o autor defende que a análise de classes não tome como ponto de partida o lugar que as pessoas ocupam no sistema de produção, pois o capitalismo constantemente gera um grande número de trabalhadores que não dispõe de emprego produtivo, mas que se organizam pela luta de classes. Ele ressalta ainda que a definição do proletariado com base na não proprie- dade dos meios de produção não é operacionalizável no século XX, pois o crescimento de seg- mentos que não se enquadram nessa categoria cresce em toda a sociedade e até mesmo dentro do proletariado. As consequências dessa abordagem para o conceito de classe, como geralmente compreendido pelo marxismo: As pessoas são classificadas como membros de uma classe em virtude da posição que ocupam nas relações sociais. A tautologia é deliberada: as pessoas são membros de uma classe porque aconteceu serem membros dessa classe. A condição de membro de uma classe constitui o ponto de partida para a análise do comportamento individual (PRZEWORSKI, 1989, p.115). Em suma, a concepção de classe de Przeworski parte do pressuposto de que as relações so- ciais (políticas, econômicas e ideológicas) são determinantes de uma estrutura econômica exis- tente em um período determinado da história. Contudo, as classes sociais não surgem das re- lações sociais, mas sim como resultantes das práticas que os indivíduos historicamente fizeram. Todavia, as escolhas foram condicionadas pelas opções deixadas abertas pelas relações sociais, que são tomadas por cada ator como dadas. 2.2.2.3 Erick Olin Wright Outro autor que se dedicou a analisar o conceito de classe social proposto por Marx foi Wright.
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