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sociologia-4

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Montes Claros/MG - 2015
Daniel Coelho de Oliveira
Maria da Luz Alves Ferreira
Sheyla Borges Martins
Sociologia iv
1ª EDIÇÃO ATUALIZADA
2015
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Coordenadora da UAB/Unimontes
Maria Ângela lopes Dumont Macedo
Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes
Betânia Maria Araújo Passos
Autores
Daniel Coelho de Oliveira
Mestre em Ciências Sociais. 
Professor de Sociologia do Departamento de Ciências Sociais.
Professor conteudista da UAB/Unimontes.
Maria da Luz Alves Ferreira
Doutora em Sociologia e Política.
Professora de Sociologia do Departamento de Ciências Sociais.
Professora conteudista e formadora da UAB/Unimontes.
Sheyla Borges Martins
Mestre em Desenvolvimento Social.
Professora de Sociologia e Metodologia do Departamento de Ciências Sociais.
Professora conteudista e formadora da UAB/Unimontes.
Sumário
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9
Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
Da escola de Frankfurt à teoria de Jurgen Habermas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.2 Escola de Frankfurt: contexto histórico e pressupostos teóricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.3 Indústria cultural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .20
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .23
Distinção entre as esferas do indivíduo e da sociedade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.2 A operacionalização do conceito de classe social pelo neomarxismo . . . . . . . . . . . . 23
2.3 Teoria da escolha racional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37
As contribuições de Elias, Giddens e Bauman, para a compreensão das sociedades 
contemporâneas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37
3.2 Sociologia de Norbert Elias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37
3.3 Anthony Giddens e Zigmunt Bauman. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41
3.4 Zygmunt Bauman: entre a fluidez e a solidez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .45
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .49
Resumo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51
Referências básicas, complementares e suplementares . . . . .55
Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .59
9
Ciências Sociais - Sociologia IV
Apresentação
Caro(a) acadêmico(a), que bom estar com vocês de novo! Se voltarem um pouquinho ao 
tempo, lá no início do primeiro período, na sociologia I, vão se lembrar de que nós falamos da 
importância da sociologia na formação do professor e também de como essa disciplina – apesar 
de apaixonante – é complexa e requer muita persistência para apreender os seus conteúdos. Pois 
bem! Já se passaramtrês períodos e agora estamos aqui para conhecer a sociologia IV.
Antes de adentrarmos no mundo da sociologia IV, é preciso compreender que apreender 
sociologia é um processo, ou seja, ninguém dorme hoje e acorda amanhã conhecendo a socio-
logia, vamos puxar pela memória. Na disciplina de Sociologia I (primeiro período), estudamos o 
contexto do surgimento da sociologia, as condições históricas e intelectuais que possibilitaram o 
surgimento da ciência da sociedade bem como a especificidade do objeto sociológico e a pecu-
liaridade do objeto. Ainda na sociologia I começamos a estudar os autores clássicos da sociolo-
gia. Quem de vocês não se lembra de Karl Marx, Emile Durkheim e Max Weber?
Na Sociologia II continuamos os estudos das matrizes clássicas da sociologia. De forma até 
exaustiva estudamos a interpretação que Marx, Durkheim e Weber deram ao capitalismo e tam-
bém como os referidos autores pensavam a mudança social na sociedade moderna. Vocês viram 
que, embora, os autores tivessem como objetivo analisar o capitalismo, cada um deles fez esta 
análise a partir da sua ótica. Assim: Karl Marx analisava a sociedade moderna de uma perspecti-
va materialista, lembra-se do materialismo histórico? Emile Durkheim analisava a partir da pers-
pectiva da integração social, lembra-se da solidariedade mecânica e da solidariedade orgânica? E 
por último, Max Weber analisava da perspectiva individual, lembra-se do conceito de ação social?
Uma questão muito importante destacada nas sociologias I e II é que os autores estudados 
seriam a base para a compreensão da teoria sociológica contemporânea. Vocês se lembram de 
que na sociologia III, no semestre passado, comprovamos isso porque a nossa primeira unidade: 
o estrutural funcionalismo de Parsons e Merton. Vimos que Parsons, por exemplo, tentou fazer 
com a sua teoria geral da ação, uma interface entre a teoria da sociedade de Durkheim, onde a 
estrutura é preponderante, e a teoria da ação social em Weber, onde a agência humana é pre-
ponderante. As outras escolas estudadas, o interacionismo simbólico, a etnometodologia e a teo-
ria da troca social (na perspectiva individualista), tiveram sua inspiração na microssociologia, que 
é herança da sociologia weberiana e que tinha como ponto de partida o indivíduo.
Agora, na Sociologia IV, vamos estudar três unidades que contemplam autores muito im-
portantes para a nossa formação como futuros professores de sociologia. Vamos começar com a 
unidade intitulada “Da Escola de Frankfurt à teoria dual de Jurgen Habermas”, em que estudare-
mos o histórico e os principais temas de pesquisa de um grupo de pesquisadores do Instituto de 
Pesquisa Social de Frankfurt, que tiveram como objetivo contribuir para a teoria de karl Marx, es-
pecificamente sobre os motivos da não ocorrência da inevitabilidade histórica, ou seja, a revolu-
ção proletária e a instauração de uma sociedade comunista. Como expoente do terceiro momen-
to da escola de Frankfurt, estudaremos Jurgen Habermas. Veremos como o autor, partindo do 
diagnóstico weberiano da modernidade, ou seja, a perda da liberdade e a perda do sentido, irá 
construir sua teoria dual da sociedade a partir do sistema e mundo da vida. Na segunda unida-
de, “Distinção da esfera do indivíduo e da sociedade”, estudaremos como autores neomarxistas 
contemporâneos – tentando contribuir para a teoria de Karl Marx – irão tentar operacionalizar 
o conceito de classe social do referido autor. Autores como Jon Elster, Adam Przewoski e Erick 
Olin Wrigth tentaram operacionalizar o conceito de classe social a partir do desenvolvimento do 
capitalismo no século XX. O argumento comum dos três autores é que o desenvolvimento do 
capitalismo no século XX não culminou na polarização de duas classes sociais – a burguesia e 
o proletariado – como definido por Karl Marx. Elster e Przewoski consideram o surgimento das 
classes médias como um elemento que impediu essa polarização entre burgueses e proletários. 
Também estudaremos, na segunda unidade, a teoria da escolha racional que é uma corrente 
dentro da sociologia que sustenta o argumento de que os indivíduos agem o tempo todo, ten-
tando maximizar os lucros ou minimizar as perdas. Finalmente, na terceira unidade, estudaremos 
as contribuições de três importantes sociólogos contemporâneos: Norbert Elias, Anthony Gid-
dens e Zigmunt Bauman para a teoria sociológica atual. Nesses autores, estudaremos a questão 
da modernidade, pós-modernidade, tempo e Espaço, globalização, entre outros.
Esperamos que vocês aproveitem bastante o quarto período de Ciências Sociais e apren-
dam a Sociologia IV.
Bons estudos!
Os autores.
11
Ciências Sociais - Sociologia IV
UniDADe 1 
Da escola de Frankfurt à teoria de 
Jurgen Habermas 
Sheyla Borges Martins
1.1 Introdução
Nesta primeira unidade, apresentaremos a abordagem de uma das maiores expressões da 
sociologia contemporânea, denominada Escola de Frankfurt. Mais especificamente, estudaremos 
as principais influências das correntes teóricas que compõem a Escola para o desenvolvimento 
do pensamento social, a partir de meados do século XX.
1.2 Escola de Frankfurt: contexto 
histórico e pressupostos teóricos
A Escola de Frankfurt diz respeito a um grupo de pensadores alemães associados ao Insti-
tuto de Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt, que tinham como objetivo principal de-
senvolver uma Teoria Crítica da sociedade, extraindo respostas de outras escolas de pensamen-
to e utilizando os conhecimentos da psicanálise, da filosofia e outras disciplinas. Dessa forma, as 
principais figuras da escola buscaram discutir e sintetizar as obras de pensadores variados, como 
Kant, Hegel, Marx, Freud, Weber.
Os temas tratados foram os mais variados: cultura contemporânea, análises do facismo e do 
capitalismo monopolista de Estado, das indústrias de cultura, da tecnologia e do consumo. En-
tre os principais componentes da Escola, vamos estudar as ideias de três deles: Max Horkheimer, 
que foi diretor do grupo; Theodor Adorno, considerado um dos principais filósofos e críticos cul-
turais do século; e Jurgen Habermas, que é tido como o mais influente representante contempo-
râneo da Escola de Frankfurt.
De acordo com sua orientação marxista, 
todos eles estavam preocupados com as condi-
ções que permitiram a mudança social e o esta-
belecimento de instituições racionais, a supera-
ção dos limites do positivismo, do determinismo 
do materialismo histórico, retornando à filosofia 
crítica de Kant e seus sucessores no idealismo 
alemão, principalmente a filosofia de Hegel, 
com sua ênfase na dialética e na contradição 
como propriedades inerentes da realidade. 
O contexto histórico que marca o nasci-
mento da escola de Frankfurt é a transição do 
capitalismo de pequena escala empresarial 
para o capitalismo monopolista e do imperia-
lismo, o crescimento do movimento operário 
socialista, a Revolução Russa, a ascensão do co-
munismo e o surgimento da cultura de massa. 
Trata-se de um período tão extenso que pode 
Figura 1: Instituto de 
Pesquisa Social – Escola 
de Frankfurt
Fonte: Disponível em 
<www.publicadasletras.
zip.net/images/frankfurt>. 
Acesso em 14 mai. 2010.

12
UAB/Unimontes - 4º Período
ser considerado como a própria história do século XX: alguns dos acontecimentos mais impor-
tantes desse período foram vivenciados, estudados, tematizados e debatidos pela Escola de 
Frankfurt (MUSSE, 1999).
Os teóricos de Frankfurt foram os primeiros a analisar as novas configurações estatais e 
econômicas nas formações sociais do Estado capitalista. Eles estavam entre os primeiros a ver 
a importância da comunicação de massa e cultura na constituição das sociedades capitalistas 
avançadas. Eles viram a ciência e a tecnologia como forças de relações de produção e como o 
fornecimento de ideologias para legitimar sociedades capitalistas contemporâneas.Desde o iní-
cio de sua investigação social, houve a intenção prática do conhecimento e da descoberta da 
vida social em toda sua totalidade, a partir da rede de interações entre a base econômica, os fa-
tores políticos e legais até a vida intelectual da sociedade. 
Para compreendermos a dimensão das teorias Frankfurtianas, algumas questões são colo-
cadas: como se define o progresso? Quais são os seus efeitos positivos e negativos? Esse foi o 
empreendimento desses pensadores, que, na verdade, propuseram uma reformulação nos fun-
damentos das ciências sociais? Os seus principais interesses e princípios podem ser resumidos da 
seguinte forma:
1. Desenvolvimento de uma crítica ao materialismo histórico (economicismo) no marxismo or-
todoxo. O afastamento do foco sobre a economia política deu-se pela necessidade de análi-
se dos fenômenos culturais para além do modelo de estrutura material. 
2. Elaboração de uma crítica do capitalismo avançado (atualização da perspectiva Marxista).
3. Ataque à racionalidade instrumental como o princípio básico da sociedade capitalista.
4. Ataque à direção tomada pelo Iluminismo e ao surgimento de uma indústria do entreteni-
mento.
1.2.1 O desenvolvimento do pensamento moderno
Para uma melhor contextualização da discussão sobre a Escola de Frankfurt, retomaremos 
algumas questões relativas ao desenvolvimento do pensamento moderno, desde os principais 
preceitos do Iluminismo, considerado o marco inicial do desenvolvimento científico.
A partir das disciplinas estudadas anteriormente, vocês viram que, na pré-história, os ho-
mens não conseguiam explicar os fenômenos que aconteciam na natureza. Isso ilustra suas 
reações: viviam sempre com medo, temiam o desconhecido. Num estágio posterior, os homens 
passaram do medo para as primeiras explicações dos fenômenos, recorrendo ao pensamento 
mágico, das superstições e crenças. Com o passar do tempo, essas explicações míticas tornaram-
se insuficientes para explicar os fenômenos e os homens lançaram-se à procura de respostas por 
caminhos em que a comprovação fosse possível. Estamos diante do nascimento da ciência metó-
dica, marcada pela constante aproximação com a lógica, estimulada pelo iluminismo.
O iluminismo – esclarecimento – pode ser entendido, em sentido amplo, como o avanço 
do pensamento, que tinha como principal objetivo libertar os seres humanos do medo e colo-
cá-los na condição de “senhores do mundo”. Tratava-se de um programa que pretendia acabar 
com os mitos e substituir a crença pelo conhecimento, na medida em que este poderia fornecer 
respostas para todos os anseios dos homens. A humanidade acreditava no progresso constan-
te desse conhecimento até atingir a explicação total da realidade, o que certamente permitiria 
a manipulação técnica e ilimitada da ação humana. Podemos dizer que a ciência, deste ponto 
de vista, passa a ocupar o lugar que antes era ocupado pelos mitos, sendo considerada como 
um conjunto de verdades absolutas e inquestionáveis. A busca pelo esclarecimento pode ser 
representada pela destruição dos mitos, pela substituição da imaginação pelo saber, pelo de-
senvolvimento da técnica como essência do saber e pelo domínio do saber e dos homens sobre 
a natureza.
O modelo de representação citado é o retrato da sociedade capitalista ocidental, marcada 
pela administração técnica da vida e das pessoas. O iluminismo, enquanto categoria filosófica, 
deste ponto de vista, reafirmou o controle da razão sobre os indivíduos, através da suposição de 
que estes estariam livres das trevas da ignorância e da superstição. Porém, como defendem os 
teóricos de Frankfurt, o projeto “emancipador” iluminista acabou se transformando em uma nova 
prisão, capaz de controlar todas as dimensões da vida social. 
13
Ciências Sociais - Sociologia IV
1.2.2 A instrumentalização da razão
Vamos partir do pressuposto de que o processo de racionalização do mundo, pretendido 
como fonte de esclarecimento, progresso e emancipação dos homens e da sociedade, provocou 
um efeito inesperado: a razão assumiu uma forma instrumental, responsável pela manutenção 
do dogmatismo e autoritarismo em todas as áreas de atividade humana na civilização moder-
na. A razão instrumental surge no momento em que os sujeitos do conhecimento decidem que 
conhecer é dominar e controlar a Natureza e os seres humanos. Assim, a ciência abre mão de 
sua condição de acesso a conhecimentos verdadeiros para se transformar em via de exploração, 
poder e dominação.
A reflexão que se segue a esse panorama é direcionada para a compreensão das vantagens 
e dos limites de uma sociedade em que o cálculo racional generalizou-se, e os teóricos da Escola 
de Frankfurt tinham o propósito de descobrir o que deu errado com o projeto de emancipação 
do homem, o projeto do iluminismo. O fracasso social, econômico, político e cultural a que se 
chegara, através dos ditames da razão, produziu efeitos tão visíveis que se acharam impelidos a 
examinar a razão através das suas figuras materializadas no decurso do processo histórico (MA-
TOS, 1993).
O que deu errado, então, com o projeto de emancipação do homem, já que o projeto do ilu-
minismo, ao contrário do imaginado, culminou numa sociedade marcada pelo controle de todas 
as dimensões da realidade, em que os homens são vistos como manipuladores de instrumentos, 
ao mesmo tempo em que as pessoas são transformadas em “máquinas”? (ADORNO e HORKHEI-
MER, 2006).
Em A Dialética do Esclarecimento (2006), Horkheimer e Adorno mostraram que o Iluminis-
mo tinha “tendências autodestrutivas”, e era necessário oferecer uma saída positiva para evitar a 
reversão do Iluminismo e reconstruir o conteúdo racional da modernidade. A possibilidade de 
renovação estava configurada na formulação da “Teoria Crítica”.
A Dialética do Esclarecimento procura descobrir por que a humanidade, em vez de entrar 
em uma condição de liberdade humana, na verdade, está afundando em uma nova espécie de 
barbárie (ADORNO e HORKHEIMER, 2006). No plano teórico, desde que a filosofia tenha implica-
ções no sistema de dominação, ela também deve distanciar-se das noções tradicionais e tornar-
se crítica, para desenvolver seus próprios conceitos e métodos de investigação, de pensamento e 
expressão.
A razão instrumental invadiu um número crescente de espaços da nossa vida, através da 
ciência e da filosofia, de modo que a razão por si só tornou-se mito. Adorno e Horkheimer argu-
mentam ainda que o desenvolvimento do capitalismo levou à exploração sistemática de novas 
formas de conhecimento. A dominação da natureza tornou-se um inte-
resse do sistema econômico inteiro.
Em sua crítica ao positivismo, os teóricos defendem que o Ilumi-
nismo encontrou a sua plenitude na fundação da ciência moderna, que 
veio a assumir uma função técnica, tornando-se um instrumento de do-
minação do ambiente, ao invés de uma ferramenta crítica. Na verdade, 
a dominação da natureza é o cerne da filosofia do Iluminismo. A razão 
libertadora foi se transformado em uma ortodoxia regressiva: o Iluminis-
mo se transformou em totalitarismo. Vamos entender por quê.
1.2.3 A teoria crítica
A Teoria Crítica começou a ser desenvolvida a partir da publicação 
de um ensaio publicado por Max Horkheimer, em 1937, intitulado “Teo-
ria Tradicional e Teoria Crítica”. Depois disso, foi empregada e criticada 
por diversos cientistas sociais por conta de sua própria construção como 
teoria, que é autocrítica por definição.
A Teoria Crítica pode ser definida como distinta da “teoria” tradi-
cional de acordo com um princípio prático: a teoria é fundamental na 
medida em que visa à emancipação humana, para libertar os seres hu-
manos das circunstâncias que os escravizam (Horkheimer, 1983). Ana-
liticamente, a Teoria Crítica fornece as bases para a investigação social 
DiCA 
Leia o livro “A Dialética 
do Esclarecimento”, 
teoria produzida du-
rantea Segunda Guerra 
Mundial, quando os 
autores (Max Horkhei-
mer e Theodor Ador-
no), ambos judeus de 
origem alemã, estavam 
emigrados nos Estados 
Unidos. Atual ainda 
hoje, o livro propõe-se a 
indagar o esclarecimen-
to que temos diante de 
nós: como é possível 
que este esclarecimen-
to, que supostamente 
nos levaria para uma 
sociedade mais justa 
e livre, acabou produ-
zindo o seu reverso, ou 
seja, uma sociedade 
destrutiva e injusta, por 
mais esclarecida que 
seja? Que esclarecimen-
to é esse?
Figura 2: Adorno e 
Horkheimer.
Fonte: Disponível em 
<www.republicadasletras.
zip.net/images/pensado-
res>. Acesso em 14 mai. 
2010.

14
UAB/Unimontes - 4º Período
que visa identificar e superar todas as circunstâncias que limitam a liberdade humana. Essa tarefa 
normativa só pode ser realizada através de uma interação interdisciplinar entre filosofia e ciência 
social, através da pesquisa empírica. De acordo com Horkheimer, uma Teoria Crítica é adequa-
da somente se preencher três critérios: deve ser explicativa, prática e normativa, tudo ao mesmo 
tempo. Ou seja, deve explicar o que está errado com a realidade social atual, identificar os atores 
para mudá-la e fornecer normas claras, tanto para a crítica quanto para a transformação social. 
Qualquer teoria verdadeiramente crítica da sociedade tem como objeto os seres humanos 
como produtores de sua própria forma de vida histórica, o que mostra que a Teoria Crítica não 
tem nada de uma teoria passiva, ao contrário, busca sempre articular teoria e prática.
No entanto, não se pode afirmar que a Teoria Crítica seja restrita à expressão da situação 
histórica concreta, ao contrário, guarda em si um componente de estímulo e transformação. Sua 
principal contribuição era abreviar o desenvolvimento para que os indivíduos fossem condu-
zidos a sociedade livre e sem exploração. O que está em questão é a tentativa de redefinição 
do conceito de razão, tanto na prática como na teoria. Esta é a maneira pela qual os teóricos de 
Frankfurt acreditam ser possível transpor os limites da razão instrumental. Os principais pontos 
dessa perspectiva se apoiam na crítica que é feita aos seguintes elementos: 
1. Filosofia Tradicional: crítica às formulações metafísicas e religiosas da realidade, na medi-
da em que defendem a utilização da religião e da metafísica como ideologias da sociedade 
burguesa.
2. Razão: crítica à perspectiva da instrumentalização da razão, direcionada à obtenção de be-
nefícios em detrimento do saber. Ressalta-se aqui a dimensão "prática e utilitária" da razão, 
o que fomentou uma cultura mecanizada e de consumo.
3. Sociedade Burguesa: a crítica é direcionada às possibilidades de mudança das estruturas 
da moderna sociedade capitalista, a partir da utilização de pressupostos marxistas, ofere-
cendo uma alternativa à revolução.
4. Marxismo: O foco da crítica é o dogmatismo marxista. Ainda que, utilizando os preceitos 
dessa linha de pensamento, os teóricos de Frankfurt abrem mão das ideias de "ditadura do 
proletariado", da luta de classes como motor da história e, principalmente, da determinação 
da base material como sendo determinante em qualquer sociedade. 
A Teoria Crítica é crítica, portanto, porque rejeita a civilização moderna, o cientificismo po-
sitivista, o "ideal" cientificista aplicado ao domínio humano. Dessa forma, é definida como uma 
proposta teórica que não é dogmática, mas capaz de evidenciar o potencial crítico nas ciências 
humanas. Sua principal contribuição está na possibilidade de apreensão da realidade como ela 
de fato é, através da análise das estruturas sociais vigentes e, principalmente, das situações histó-
ricas concretas.
A Teoria Crítica, que em muitos pontos é tida como a própria Escola de Frankfurt, continua 
a ser de grande interesse para a conjuntura atual e fornece recursos essenciais para a renova-
ção da Teoria Crítica social e política, precisamente porque, como na época de sua formulação, 
a nossa época está passando por transformações enormes, algumas das quais são promissoras 
e algumas ameaçadoras. Voltar aos clássicos na Teoria Crítica, portanto, é uma possibilidade de 
enriquecimento teórico e metodológico na construção do conhecimento.
1.3 Indústria cultural
Vamos agora conhecer a discussão sobre a massifi-
cação da cultura, outra dimensão da Escola de Frankfurt, 
amplamente difundida no meio acadêmico. O termo In-
dústria Cultural foi cunhado em Frankfurt, na década de 
1930, para indicar a industrialização da cultura produzida 
em massa e os imperativos comerciais que são construí-
dos, através de artefatos de produção industrial. Adorno 
e Horkheimer alegam que a indústria cultural existe para 
reforçar o capitalismo, em que foi verificado um conjunto 
de fenômenos que colocava em xeque conceitos como 
entretenimento e cultura de massa (ADORNO e HOR-
KHEIMER, 2006).
Figura 3: Theodor 
Adorno
Fonte: Disponível em 
<www.agente.files.word-
press.com.br/adorno_te-
odor>. Acesso em 18 mai. 
2010.

15
Ciências Sociais - Sociologia IV
No ensaio A indústria cultural: o esclarecimento como mistificação das massas, os autores 
discutem as especificidades e as implicações do conceito de cultura e sociedade, demonstrando 
que os produtos da indústria cultural apresentam as mesmas características de outros objetos 
produzidos em massa: mercantilização, padronização e massificação. Desse modo, a indústria 
cultural tem a função específica de prestação de legitimação ideológica das atuais sociedades 
capitalistas e da integração dos indivíduos em seu modo de vida.
1.3.1 Cultura de massa e indústria cultural
Os primeiros esboços do ensaio Indús-
tria Cultural de Theodor Adorno continham o 
termo “cultura de massa”, que acabou sendo 
substituído por indústria cultural, para excluir 
a interpretação de que se trata de algo como 
uma cultura que surge das próprias massas. Ao 
invés disso, Horkheimer e Adorno procuram 
descrever um tipo de cultura mercantilizada 
e industrializada, gerida de cima para baixo, e 
essencialmente produzida a partir da lógica do 
lucro (ADORNO e HORKHEIMER, 2006).
A definição da estrutura básica para o es-
tudo da cultura no capitalismo faz parte de um 
projeto teórico maior que iniciou uma análise 
da indústria cultural através de filmes, músicas, 
jornais, revistas e livros, que, mesmo não sendo 
controlada diretamente pelo Estado, sua na-
tureza da estrutura de propriedade comercial 
desmobilizou a classe trabalhadora através do 
desvio. As análises evidenciam que, ao invés de terem desenvolvido a consciência para a supera-
ção do sistema capitalista, a classe operária tinha se tornado mais incorporada do que nunca, e a 
indústria cultural foi a principal responsável.
A Escola de Frankfurt compartilhou algumas das premissas básicas da teoria da sociedade 
de massas, estabelecidas pelos sociólogos europeus em meados do século XIX. Esses teóricos es-
tavam tentando compreender a natureza da industrialização emergente e os processos de urba-
nização, incluindo seus efeitos sobre a cultura. Com a industrialização urbana, as pessoas passam 
a viver de acordo com o seu trabalho nas fábricas. Essa nova forma de ganhar a vida envolve 
também o surgimento de novas formas de vida cultural. Assim como as famílias começaram a 
substituir os produtos caseiros pelos bens manufaturados produzidos em massa, a indústria cul-
tural começou a substituição de uma cultura tradicional da sociedade rural que girava em torno 
da família e da comunidade pela cultura fabricada e industrializada.
O processo de industrialização resulta em certa lógica que rege a produção e a distribuição 
de mercadorias. Eles são produzidos, em primeiro lugar, para o seu valor de troca (isto é, os lucros 
que geram quando são vendidas para os consumidores). De bens de consumo em mercados, a 
produção em massa resultou na produçãode produtos cada vez mais homogêneos, que são ar-
tificialmente diferenciadas através da publicidade, dando a ilusão da escolha. O mesmo ocorreu 
com a industrialização da cultura, mas as ramificações da homogeneização parecem mais signi-
ficativas devido ao seu papel fundamental em ajudar a moldar a forma como a realidade é per-
cebida. As indústrias culturais não são meramente ideológicas porque elas são controladas pelas 
autoridades econômicas e políticas, mas, principalmente, porque sua produção é regida pela ló-
gica do capital.
1.3.2 As características de mercantilização da cultura 
Podemos concluir que a indústria cultural é a consequência lógica da produção industrial 
capitalista e sua característica mais essencial é a repetição. Como uma maneira de restrição do 
potencial crítico e de dominação das consciências dos indivíduos, o consumo de produtos da in-
◄ Figura 4: Cultura 
Industrializada
Fonte: Disponível em 
<www.pedrobeck.files.
wordpress.com/capital>. 
Acesso em 14 mai. 2010.
DiCA
Para entender melhor 
os temas tratados, 
sugerimos a leitura do 
livro “1984”, de George 
Orwell. A obra mostra 
como uma sociedade 
oligárquica coletivista 
é capaz de reprimir 
qualquer um que se 
opunha a ela. Confira e 
compreenda melhor a 
unidade!
16
UAB/Unimontes - 4º Período
dústria cultural, ao contrário de que 
se possa imaginar, não é uma escolha 
livre do consumidor, mas, em grande 
medida, determinado antecipada-
mente na fase de fabricação dos pro-
dutos.
Na sociedade capitalista as pes-
soas somente são toleradas a partir de 
sua completa identificação com a ge-
neralidade, o que impede o desenvol-
vimento de sua autonomia e da inde-
pendência para julgar e decidir por si 
próprio. Os apelos da Indústria Cultu-
ral desenvolvem e reforçam o ajusta-
mento e a obediência a partir de um 
estado de dependência. As condições 
que possibilitaram o fortalecimento 
desse fenômeno estão situadas em 
dois campos:
1. O desenvolvimento técnico, com a propagação em grande escala de produtos.
2. A concentração administrativa e econômica, que unifica a produção e a difusão, o que lhes 
confere uma condição de sistema. 
O resultado desse processo é o desenvolvimento de formas de controle social que restrin-
gem as possibilidades de superação do modo de produção vigente, o capitalismo, e faz com que 
as pessoas se transformem em objeto e percam sua autonomia.
A efetivação desse controle se dá a partir da sua extensão sobre toda a experiência dos in-
divíduos, que ficam sujeitos aos princípios do sistema social, além do seu processo de trabalho, 
também em seu tempo livre, de lazer, constituindo um ciclo que se autorreforça.
O resultado desse ciclo é a incapacidade das pessoas de identificar-se com a realidade e re-
fletir criticamente sobre o mundo. A partir da anulação das diferenças entre a realidade mostra-
da pela indústria cultural e os mecanismos empregados nesse processo, as pessoas são privadas 
da tomada de consciência, ficando 
imóveis em relação aos mecanismos 
utilizados para a sua dominação. O 
consumidor não tem soberania. A in-
dústria cultural atua para garantir sua 
própria reprodução e as formas cultu-
rais que propaga devem ser compatí-
veis com essa finalidade.
O significado para os nossos 
tempos do pensamento de Adorno 
sobre a indústria cultural é cada vez 
mais aparente, justamente pelo cres-
cimento do poder de manipulação 
da indústria cultural. Por isso, o en-
saio “A indústria cultural: o esclareci-
mento como mistificação das massas” 
permanece até hoje como um texto 
decisivo para a compreensão dos fe-
nômenos da cultura de massa e da 
indústria do entretenimento. 
1.3.3 Habermas: uma alternativa para o problema da racionalidade 
O trabalho teórico-filosófico de Jurgen Habermas ocupa uma posição significativa no discur-
so social e político ocidental. Com base na Teoria Crítica (Adorno, Horkheimer, Benjamin e Mar-
cuse), Habermas também elabora uma crítica profunda dos métodos de dominação vigentes na 
sociedade moderna. O seu pensamento é voltado, em particular, para a reflexão do processo de 
Figura 5: 
Mercantilização da 
cultura
Fonte: Disponível em 
<www.republicadasle-
tras.zip.net/images/cons-
ciência.br>. Acesso em 17 
mai. 2010.

Figura 6: Imobilidade 
diante da dominação 
excessiva
Fonte: Disponível em 
<www.guiatpm.files.
wordpress.com/conscien-
cia_01>. Acesso em 14 mai. 
2010.

DiCA
Aprofunde os estudos 
sobre a Indústria Cultu-
ral lendo o artigo “A te-
levisão como consolida-
ção da Indústria Cultural 
no cenário brasileiro” de 
Marco Antônio Bettine 
de Almeida. Acesse 
o link e veja o texto: 
http://www.efdeportes.
com/efd121/aspectos-
teoricos-da-industria-
cultural-e-a-televisao-
no-brasil.htm.
17
Ciências Sociais - Sociologia IV
racionalização, através de uma análise sistemática e uma 
crítica do presente e a identificação de suas patologias e 
as perspectivas de futuro. 
Sua principal contribuição para a filosofia e para as 
ciências sociais é o desenvolvimento de uma teoria da ra-
cionalidade. Para Habermas, a capacidade de usar a racio-
nalidade vai além do cálculo estratégico de como alcan-
çar um objetivo escolhido. Existe uma possibilidade para 
o consenso, através da ação comunicativa, o que para ele 
é a própria racionalidade. 
A teoria da modernidade de Habermas é também o 
produto da releitura de alguns pensadores da modernida-
de, entre os quais se destaca Max Weber e a sua teoria do 
desencantamento do mundo. 
1.3.4 A ampliação da tese do 
desencantamento do mundo
Vamos retomar alguns aspectos do diagnóstico Weberiano da modernidade. Segundo We-
ber, o processo de racionalização da sociedade, representado principalmente pela burocratiza-
ção e secularização, desencadeou outro processo: o desencantamento do mundo. Esse diagnós-
tico de Weber apresenta-se sob uma perspectiva totalmente pessimista com relação ao futuro 
da humanidade. Para ele, não há saída para os dilemas causados pela racionalização: estamos 
presos numa “gaiola de ferro”, o que é um processo irreversível. 
Habermas concorda em parte com Weber na medida em que defende que também acredita 
que o mundo encontra-se racionalizado e desencantado. Porém, a sua resposta ao desespero da 
“gaiola de ferro” é que não estamos diante de uma situação sem saída. Para Habermas, é possível 
resistir à racionalização e à dominação através de alternativas para a vida coletiva e da adoção de 
um discurso racional orientado para a compreensão, no qual participam todos os interessados. 
1.3.5 A teoria da racionalidade: razão instrumental x razão 
comunicativa
Na perspectiva Habermasiana, a racionalidade é tida como um processo histórico. Trata-se 
do próprio desenvolvimento das sociedades modernas, secularizadas e desencantadas, que têm 
como características básicas a formação de uma economia capitalizada, de desenvolvimento das 
forças produtivas e o consequente aumento de produtividade, a formação dos Estados-nação, a 
expansão dos direitos e da participação política, e, sobretudo, da urbanização.
Os homens livres racionalizaram a realidade com o uso público da razão. Como vimos, o fim 
pretendido desse processo seria a liberdade, a realização livre e consciente da humanidade. A 
tese de Habermas sobre a racionalidade ocidental caminha na direção da Teoria Crítica, na medi-
da em que busca as causas e os efeitos da modernização, da ação racional e das visões de mundo 
racionalizadas.
Habermas concorda com os demais teóricos da Escola de Frankfurt que apontam para o 
fato de que o iluminismo falhou; porém, sua principal hipótese é que o projeto da modernidade 
pode ser revisto. A principal tarefa de sua construção teórica é reconstruir o projeto de moderni-
dade através do que ele chamou de ação comunicativa. Seu ponto de partida éa negação da 
razão instrumental e a defesa de uma razão centrada no sujeito, o que supõe a possibilidade de 
superação do pessimismo dos diagnósticos da modernidade e dos dilemas da razão. 
Para isso, ele utiliza preceitos da filosofia da linguagem e expande o conceito de razão para 
incluir a “racionalidade comunicativa", porque a linguagem pressupõe irrestrita comunicação e 
compreensão mútua. Com esses movimentos teóricos, o autor restabeleceu a centralidade da 
razão como o princípio norteador para a realização de emancipação. A partir dessa perspectiva 
filosófica, Habermas desenvolveu o conceito de “ação comunicativa”, definido como o tipo de in-
teração na qual todos os participantes harmonizam seus planos de ação individual com o outro 
e, assim, prosseguem os seus objetivos. 
DiCA
Para pensarmos o 
conceito de ação co-
municativa, temos que 
considerar a questão da 
linguagem, considerada 
por Habermas como 
o veículo para a forma 
mais fundamental de 
ação social. Para ele, 
portanto, a ação comu-
nicativa é uma forma de 
interação social em que 
as ações dos diversos 
atores estão assentadas 
em atos comunicativos 
através da utilização da 
linguagem, na busca 
pelo entendimento 
comum. 
◄ Figura 7: Jurgen 
Habermas
Fonte: Disponível em 
<www.revistacult.uol.
com.br/habermas_jur-
gen>. Acesso em 17 mai. 
2010.
18
UAB/Unimontes - 4º Período
De acordo com esse argumento, as dificuldades da sociedade moderna são conseqüências 
- como Horkheimer e Adorno tinham argumentado – de uma confiança excessiva na razão ins-
trumental. Nas estruturas comuns da "ética do discurso" é que, segundo Habermas, podemos en-
contrar uma base para a fé no futuro da humanidade.
Por Razão instrumental, podemos entender a forma objetiva da ação que trata o obje-
to simplesmente como um meio, e não como um fim em si mesmo. A razão instrumental é 
constituída por elementos que remetem ao cálculo capaz de estabelecer a relação entre meios 
e fins, prever as consequências de nossos propósitos, além de analisar a relação entre diferentes 
objetivos. 
O mundo, nessa perspectiva, é um mecanismo onde a racionalidade pode agir, ainda que 
não se tenha certeza sobre os valores que dirigem o comportamento dos indivíduos. Desse 
modo, a racionalidade instrumental apresenta-se em três momentos distintos: 
1. A descoberta dos meios para alcançar os objetivos.
2. A seleção dos meios mais eficientes.
3. A previsão do comportamento racional dos outros. 
A Razão Comunicativa, por outro lado, é baseada em uma análise do uso social da lingua-
gem, orientada para alcançar um entendimento comum. Está ligada à capacidade humana para 
a racionalidade, que não é individualista, mas uma capacidade inerente à linguagem, especial-
mente na forma de argumentação. Na estrutura do discurso argumentativo, há uma busca de 
compreensão, sem força coercitiva, com o poder convincente do melhor argumento. Trata-se, 
portanto, de uma racionalidade intersubjetiva.
Para Habermas, a ação comunicativa baseia-se num processo deliberativo onde as pessoas 
interagem e coordenam sua ação com base na interpretação da situação. Nota-se, assim, que a 
racionalidade é a chave tanto para a dominação quanto para a emancipação. Por isso, a teoria 
Figura 8: Cegueira 
Fonte: Disponível em 
<www.guiatpm.files.
wordpress.com/tiras_ca-
pitalismo>. Acesso em 15 
mai. 2010.

Figura 9: Uso social da 
Linguagem 
Fonte: Disponível em 
<www.republicadasletras.
zip.net/images_2007/
orgm>. Acesso em 15 mai. 
2010.

19
Ciências Sociais - Sociologia IV
da ação comunicativa tem como objetivo principal demonstrar a relação existente entre a razão 
e a comunicação. Nesse sentido, a teoria, além de servir de base para uma crítica da razão ins-
trumental, constitui-se como critério através do qual é possível distinguir o poder legítimo do 
ilegítimo. Assim, o poder para Habermas somente será legítimo se estiver fundamentado no con-
senso alcançado pela ação comunicativa. 
1.3.6 Sistema e mundo da vida
A partir dos pressupostos apresentados, Habermas introduz em sua abordagem uma nova 
concepção de sociedade, em que se entrelaçam o conceito de mundo da vida (o fundo comum 
de conhecimentos que os indivíduos usam para atribuir sentido ao mundo) e do conceito de sis-
tema. De acordo com esta abordagem “dual”, a sociedade evolui, diferenciando-se tanto como 
sistema quanto como mundo da vida.
Os dois conceitos são utilizados para oferecer uma melhor compreensão das sociedades 
modernas, correspondendo a uma separação da sociedade em duas esferas: a da reprodução 
material e a da representação simbólica.
Sistema: Esse conceito descreve as estruturas responsáveis pela reprodução material e ins-
titucional da sociedade: a economia e o Estado, que representam dois subsistemas: o dinheiro 
e o poder, respectivamente. Nesse plano, a linguagem é secundária e há o predomínio da razão 
instrumental.
O mundo da vida: É composto pelas experiências comuns a todos os atores, das tradições, 
da cultura e da língua compartilhada. É o espaço social em que a ação comunicativa permite a 
realização da Razão Comunicativa, alicerçada no diálogo e no argumento. Representam três sub-
sistemas: personalidade, social e cultural, regulados pelos mecanismos de integração social. De 
acordo com Habermas, os dois mundos não são antagônicos, ao contrário, são complementares.
Quadro 1
Relações entre o Mundo da Vida e Sistemas 
Mundo do Sistema Mundo da vida
Modos de produção e reprodução artificial Modos de produção e reprodução simbólica
Estado/economia Experiência comunicativa dos sujeitos
Poder/dinheiro Cultura, linguagem
Conhecimento voltado a interesses Conhecimento tácito
Ação instrumental e/ou estratégica Ação comunicativa
Êxito e domínio Entendimento, liberdade e autonomia refle-xiva.
Fonte: Adaptado de Freitag, 2000.
A partir desses dois campos, a análise da modernidade de Habermas tem como pressuposto 
algumas transformações societárias que aconteceram e foram especificadas em quatro proces-
sos, que apresentam aspectos positivos e negativos.
Em relação aos aspectos positivos, as sociedades passaram por processos de: 
1. Diferenciação: traduzidas principalmente na divisão de tarefas políticas e econômicas, o 
que fez com que a reprodução material e simbólica da sociedade se tornasse mais compe-
tente e eficaz. 
2. Autonomização: ou seja, a separação relativa de uma esfera do conjunto societário, propor-
cionando maior autonomia no seu funcionamento, o que representa uma conquista relativa 
de liberdade das esferas em questão. 
Por outro lado, com uma conotação negativa, houve os processos de:
1. Racionalização: tipicamente instrumental, com o predomínio do calculo da eficácia, o que 
trouxe efeitos indesejados para a sociedade, na medida em que os benefícios passam a ser 
um fim em si mesmo. Dessa forma, há a expulsão da razão argumentativa, que seria capaz 
de proporcionar a negociação coletiva dos fins. 
DiCA
Jurgen Habermas, filó-
sofo e teórico social, é 
considerado por muitos 
como o mais importan-
te intelectual alemão do 
pós-guerra, principal-
mente por sua teoria da 
ação comunicativa. Sua 
maior preocupação é 
o desenvolvimento de 
uma teoria que consiga 
abarcar a igualdade e a 
participação aberta no 
debate público, razão 
pela qual seu trabalho 
teórico-filosófico ocupa 
uma posição significa-
tiva no discurso social 
e político ocidental. 
Como componente da 
Escola de Frankfurt, 
Habermas elabora uma 
crítica profunda das 
formas de dominação 
na sociedade moder-
na, admitindo, porém, 
a hipótese de que o 
“projeto da modernida-
de” pode ser redimido, 
através da reconstitui-
ção dos dilemas razão 
numa dimensão da 
ação comunicativa. 
DiCA
Assista ao filme “Me-
trópolis”, produzido em 
1927. É um filme alemão 
de ficção científicaque 
demonstra preocu-
pação crítica com a 
mecanização da vida 
industrial nos grandes 
centros urbanos, ques-
tionando a importância 
do sentimento humano, 
perdido no processo.
20
UAB/Unimontes - 4º Período
2. Dissociação: que desconectou a produção material dos processos sociais da vida cotidiana, 
levando o poder e a economia a assumir aparência natural (FREITAG, 2000).
1.3.7 As patologias da modernidade
Os processos de transformação de conotação negativa – racionalização e dissociação – são, 
em boa medida, os responsáveis pelas patologias da modernidade.
•	 A dissociação trouxe consigo o desengate do sistema e do mundo da vida. 
•	 A racionalização provocou uma contaminação da economia e do estado, além de contami-
nar também o mundo vivido. 
Por isso é que Habermas defende que o sistema colonizou o mundo da vida, fazendo com 
que os indivíduos estejam subjugados às leis do mercado e à burocracia estatal. Em decorrência, 
o sistema se fortalece e passa a impor a sua lógica ao mundo da vida (FREITAG, 1995).
A colonização, portanto, diz respeito à introdução da racionalidade instrumental e dos me-
canismos de integração do “dinheiro” e do “poder” no interior das instituições culturais, que dei-
xam, nesse caso, de funcionar segundo o princípio da verdade, normatividade e expressividade, 
passando a funcionar segundo o princípio do lucro e do exercício do poder, atuantes no sistema 
econômico e político. 
1.3.8 A saída para os dilemas da modernidade
Como vimos anteriormente, Habermas não é pessimista com relação ao futuro da humani-
dade. Ele argumenta que há uma maneira de sair desta situação: a fim de superar as crises so-
ciais, é necessário contrabalançar a racionalidade instrumental, trazendo a racionalidade comuni-
cativa de volta ao jogo. Trata-se de promover o reacoplamento do sistema com o mundo vivido, 
mas sem extinguir os limites estabelecidos e as autonomias adquiridas. 
O “reacoplamento” se impõe para manter a integridade e complexidade do todo 
a ser controlado e corrigido por todos os “envolvidos”. A “descolonização” se im-
põe para permitir a livre atuação da Razão Comunicativa em todas as esferas e 
instituições do mundo vivido e na busca de “últimos fins” do sistema. As regras 
do jogo para a sociedade como um todo precisam ser buscadas em processos 
argumentativos, dos quais todos participem, definindo os espaços de atuação e 
a fixação de objetivos do sistema. (FREITAG, 1995, p. 146)
Para Habermas, a terapia para as patologias da modernidade deve se dar a partir de uma 
mudança de paradigma: da ação instrumental para a ação comunicativa, da subjetividade para a 
intersubjetividade. É este o caminho da compreensão correta da modernidade e de suas patolo-
gias. A prioridade deve ser a liberdade e a realização de todos os membros da sociedade. A teoria 
da modernidade de Habermas, dessa forma, preserva os preceitos do projeto iluminista, apenas 
promovendo modificações em sua forma.
Referências
ADORNO, Theodor W., HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. 
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
FREITAG, Bárbara. Habermas e a teoria da modernidade. Cad. CRH. Salvador, n.22. p. 138-163, 
jan/jun.1995.
HABERMAS, Jurgen. Teoria de la acción comunicativa: complementos y estudios previos. Ma-
drid: Ediciones Cátedra, 1994. Cap. 8.
HORKHEIMER, Max. “Teoria Tradicional e Teoria Crítica”. In: HORKHEIMER, Max. Textos Escolhi-
dos. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
ATiviDADe
Faça análises críticas 
sobre a Escola de Frank-
furt e a Teoria de Jurgen 
Habermas e debata com 
os colegas no fórum de 
discussão.
GLOSSáRiO
Racionalidade: Quali-
dade ou estado de ser 
sensato, com base em 
fatos ou razão. Implica 
a conformidade de 
suas crenças com umas 
próprias razões para 
crer, ou de suas ações 
com umas razões para 
a ação. 
Ação comunicativa: 
Refere-se a uma teoria 
desenvolvida por Jur-
gen Habermas - filósofo 
e sociólogo alemão. 
Trata-se de uma análise 
teórica e epistêmica 
da racionalidade como 
sistema operante da 
sociedade. Habermas 
contrapõe-se à ideia 
de que a razão ins-
trumental constitua a 
própria racionalização 
da sociedade ou o único 
padrão de racionaliza-
ção possível, e introduz 
o conceito de razão 
comunicativa. 
Cultura de massa: 
Também chamada de 
cultura popular ou 
cultura pop, é o total 
de ideias, perspectivas, 
atitudes, memes, ima-
gens e outros fenôme-
nos que são julgados 
como preferidos por 
um consenso informal 
contendo o mainstream 
de uma dada cultura, 
especialmente a cultura 
ocidental do começo da 
metade do século XX 
e o emergente mains-
tream global do final do 
século XX e começo do 
século XXI.
21
Ciências Sociais - Sociologia IV
MATOS, Olgária C. F. A escola de Frankfurt: luzes e sombras do iluminismo. São Paulo: Editora 
Moderna, 1993.
MUSSE, Ricardo. As Raízes Marxistas da Escola de Frankfurt. In: A escola de Frankfurt no Direi-
to. Curitiba: Edibej, 1999.
Sites
http//:www.agente.files.wordpress.com.br. Acesso em: 18 mai. 2010.
http//:www.blogbrasil.com.br. Acesso em 15 mai. 2010.
http//:www.guiatpm.files.wordpress.com. Acesso em 14 mai.2010.
http//:www.pedrobeck.files.wordpress.com. Acesso em 14 mai.2010.
http//:www.revistacult.uol.com.br. Acesso em 17 mai. 2010.
http//:www.republicadasletras.zip.net/images/pensadores. Acesso em 17 mai.2010.
23
Ciências Sociais - Sociologia IV
UniDADe 2
Distinção entre as esferas do 
indivíduo e da sociedade
Maria da Luz Alves Ferreira
2.1 Introdução 
Nesta segunda unidade, estudaremos, de forma específica, os espaços dos indivíduos e da 
sociedade. Iniciaremos com a discussão sobre a operacionalização do conceito de classe social 
pelo neomarxismo e a ação coletiva na perspectiva de Marx.
2.2 A operacionalização do 
conceito de classe social pelo 
neomarxismo
Os autores definem a 
ação coletiva como um fe-
nômeno que resulta da in-
teração de dois ou mais 
indivíduos cientes de suas 
capacidades e dispostos a 
dar sentido a sua prática so-
cial. Para autores como Olson 
(1956), essa discussão traz 
à tona o complexo proble-
ma da racionalidade da ação 
coletiva, ou seja, indivíduos 
singulares, situados em um 
determinado contexto de so-
cialização, que interagem a 
partir de critérios práticos e 
racionalmente definidos.
Nesse contexto, a ques-
tão que se coloca é saber em 
que medida a teoria da mo-
derna ação social concebe 
os fenômenos coletivos não 
institucionais – ou movimen-
tos sociais – como fenômenos de natureza racional. Ou seja, em que medida indivíduos isolados 
admitem engajar-se numa ação conjunta para fortalecer ou defender sua situação? Nesta unida-
de será discutida a operacionalização do conceito de classe social para os autores que se funda-
mentam em Karl Marx. A fim de cumprir esse desiderato, far-se-á, num primeiro momento, uma 
reflexão da ação coletiva em Marx – entendida como a ação de indivíduos engajados numa clas-
se social.
Figura 10: Ação coletiva
Fonte: Disponível em 
<http://abstracaocole-
tiva.com.br/2013/04/11/
modernismo-brasileiro-
-tematica/>. Acesso em 19 
mai. 2010.

24
UAB/Unimontes - 4º Período
2.2.1 Ação coletiva na perspectiva de Marx
Marx discutia a questão da ação 
coletiva em consonância com a teoria 
do desenvolvimento do capitalismo. 
Para ele, o capitalismo era uma forma 
específica de sociedade que detém 
um enorme poder produtivo, capaz de 
promover um grau superior de desen-
volvimento e realização humana. En-
tretanto, este projeto se frustra na prá-
tica, posto que as relações sociais no 
capitalismo geram uma dinâmica de 
individualização extrema das pessoas, 
a qual redunda na perda progressiva 
do caráter social da existência humana 
(desumanização dos indivíduos).
Essatensão entre, por um lado, o potencial humanizador do capitalismo e, por outro lado, 
a efetiva frustração de tal potencial na prática social, destaca-se na sociologia marxista, porque 
nela deriva a proposição de que, no sistema capitalista, há uma contradição fundamental implíci-
ta entre a lógica da produção e a lógica da apropriação dos bens produzidos, isto é, socializa-se a 
atividade produtiva, porém, privatiza-se a propriedade.
Esta ambiguidade latente da sociedade burguesa, que se manifesta como degradação cres-
cente do ser humano, só pode ser (e deve ser) superada com a realização de processos, como: a 
luta coletiva em favor da supressão das classes sociais e do Estado, o fim da divisão social do tra-
balho, a abolição positiva da propriedade privada, enfim, a efetiva superação da alienação.
São estes, segundo Marx, os fins políticos que devem orientar a ação coletiva dos seres so-
ciais, de modo a permitir o florescimento da sociedade comunista, síntese do processo de huma-
nização das pessoas e em cujo contexto surgirá o indivíduo plenamente desenvolvido, apto para 
a execução de uma variedade de atividades, livre de constrangimentos externos, autônomo e, 
todavia, estreitamente vinculado à comunida-
de social.
A crítica ao capitalismo é justificada cien-
tificamente com base na constatação de que 
as estruturas político-econômicas inerentes ao 
modo de produção capitalista, na medida em 
que promovem desigualdades sociais e legiti-
mam o empobrecimento material e espiritual 
dos trabalhadores assalariados e camponeses 
(classe majoritárias), bloqueiam definitivamen-
te os potenciais emancipatórios e solidarísticos 
do mundo social e restringe significamente o 
campo das escolhas individuais.
Para o nosso autor, estrategicamente, os 
trabalhadores, ao tomarem consciência da 
condição de privação – consciência para si –, 
tendem a organizarem-se politicamente e a 
agirem (lutar) racionalmente como um coletivo 
em favor da supressão radical do capitalismo 
e de suas mazelas (revolução proletária), até a 
efetiva instauração de uma comunidade social 
verdadeiramente humanizada.
Na teoria marxista do capitalismo moder-
no, a ação social é concebida, prioritariamente, 
como a ação de indivíduos discretos e autoin-
teressados, que podem constituir-se em classes 
sociais – dependendo do grau de consciência 
ou racionalidade que caracteriza suas ações –, 
cuja orientação diz respeito a fins proeminen-
Figura 11: Ação coletiva 
na sociedade cultural
Fonte: Disponível em 
<http://www.djban.com.
br/noticias/sindicato-di-
ploma-dj-especulacoes-
-mtv-debate/>. Acesso em 
19 mai. 2010.

Figura 12: Revolução 
cubana de 1959 
Fonte: Disponível em 
<http://sesi.webensino.
com.br/sistema/webensi-
no/aulas/repository_data//
sesieduca/ens_med/
ens_med_f03_his/278_
his_ens_med_03_11/
investigando_caminhos.
html>. Acesso em 19 mai. 
2010.

Figura 13: Revolução 
russa de 1917
Fonte: Disponível em 
<http://filosofandoehis-
toriando.blogspot.com.
br/2011/05/revolucao-rus-
sa-de-1917-resumo-parte.
html>. Acesso em 19 mai. 
2010.

25
Ciências Sociais - Sociologia IV
temente econômicos que se identificam, em última instância, com a perpetuação (capitalistas) ou 
com a superação (proletariado) da propriedade privada.
Nesse sentido, só os movimentos coletivos, que surgem no bojo do conflito capital-trabalho 
podem, quando relacionalmente orientados, ser definidos como formas específicas da ação so-
cial da classe trabalhadora que demarca o início da explosão revolucionária. 
2.2.2 A operacionalização do conceito de classes sociais na 
perspectiva dos autores que se fundamentam em Marx
Os autores neomarxistas partem do pressuposto de que o campo marxista considera como 
princípio estruturador da vida social a ideia de que essa estrutura é material, e em todas as socie-
dades onde existiu a propriedade privada dos meios de produção, especialmente a capitalista, a 
estruturação é baseada na ideia de que os indivíduos são estratificados de forma relacional, ou 
seja, os que são donos dos meios de produção e os que não são. Portanto, o que estrutura as re-
lações sociais é o acesso ou não à propriedade. 
Nesse sentido, a perspectiva marxista considera que a sociedade é estratificada de acordo 
com a propriedade, ou seja, a posição em uma classe determinada. Portanto, a classe é entendi-
da como uma categoria geral que serve para identificar posições na estrutura econômica, bem 
como a instância de organização e gestão da produção e distribuição de bens e serviços, que se 
materializa em contextos históricos específicos.
É consenso entre os autores que Marx, apesar de ter se dedicado em algumas de suas obras 
a discutir a luta de classes, não elaborou um conceito sistemático de classe social. Por outro lado, 
embora ele tenha considerado a existência de classes subsidiárias – nos 18 Brumário de Luís Bo-
naparte, definiu várias classes, entre elas, o proletariado, a pequena burguesia e o campesinato 
–, considerava que o movimento da história era polarizado em duas classes antagônicas, a bur-
guesia e o proletariado. Diante disso, a seguir serão discutidas as contribuições de alguns autores 
neomarxistas, como Jon Elster Erick Olin Wright e Adam Przeworski, no sentido de contribuir para 
operacionalizar o conceito de classe social desenvolvido por Marx.
2.2.2.1 Jon Eslter
A questão central, da qual se ocuparam os se-
guidores de Marx, foi: o que é uma classe? Elster 
(1989) considera que, embora Marx nunca tenha ex-
plicitado o seu conceito de classe, a sua teoria possi-
bilita uma reconstrução da definição de classe, con-
siderando que alguns grupos podem ser definidos 
como classe, distinguindo-se dos que não se enqua-
dram nessa categoria. Contudo, o autor argumenta 
que é difícil definir um conceito preciso de classe de 
forma arbitrária, porque “as classes têm uma exis-
tência real como grupos de interesses organizados, 
e não como meras observações do observador. Por 
outro lado, classe não pode ser reduzida a uma opo-
sição dicotômica entre os que têm e os que não têm, 
ou exploradores e explorados” (ELSTER, 1989. p.142).
O autor supracitado ressalta que os seguidores 
de Marx, ao elaborarem o conceito de classe, utili-
zam como critério os elementos propriedade, explo-
ração, comportamento de mercado e dominação. Embora sejam elementos importantes para a 
reconstrução do referido conceito, a (re)elaboração não é fácil, pois deverá ser comprovada em-
piricamente em várias sociedades com sistemas econômicos com e sem economia de mercado, 
com propriedade individual ou coletiva dos meios de produção. 
O autor entendia que, mesmo que Marx tenha definido vários grupos – em diferentes mo-
dos de produção social – como referência à classe social, estes não podem ser utilizados para se 
elaborar um conceito que possa ser generalizado, para outras sociedades que Marx não tenha 
DiCA
Vocês se lembram de 
que Marx sempre traba-
lhou com a dicotomia, 
a oposição entre duas 
classes sociais polariza-
das: escravos e senhores 
no escravismo; senhores 
feudais e servos no 
feudalismo; burguesia e 
proletariado no capita-
lismo? Qualquer dúvida, 
retorne aos Cadernos 
Didáticos de sociologia 
I e II.
◄ Figura 14: Jon Elster
Fonte: Disponível em 
<http://web.stanford.edu/
group/RCTandHumani-
ties/overview/>. Acesso 
em 19 mai. 2010.
26
UAB/Unimontes - 4º Período
estudado. Ele afirmou também que o número de classes definido por Marx pode não ter contem-
plado todas as classes existentes naquela sociedade. Outra crítica que Elster faz à teoria marxista 
é o fato de esta não ter considerado categorias como renda, ocupação e status, pois, segundo 
ele, essas categorias são centrais para inferir como a sociedade é estratificada.
Há cerca de quinze grupos a que Marx se refere como classes:burocratas e teo-
cratas no modo de produção asiático; homens livres, escravos, plebeus e patrí-
cios na escravidão; senhor, servo, mestre de guilda e artesão no feudalismo; ca-
pitalista industrial, capitalista financeiro, senhor de terras, camponês, pequeno 
burguês, trabalhador assalariado no capitalismo. Não podemos, porém, definir 
o conceito de classe com essa enumeração. Para decidir se os exemplos formam 
um conjunto coerente, precisamos de uma definição geral. Queremos também 
ser capazes de aplicar o conceito a outras sociedades, diferentes daquelas estu-
dadas por Marx. Em relação às que ele estudou, precisamos saber se sua enume-
ração das classes é exaustiva ou se poderiam existir outras além das que ele cita. 
Em uma palavra, precisamos saber se em virtude da propriedade esses grupos 
constituem classes (ELSTER, 1989, p 142).
Um aspecto considerado pelo autor é que Marx considerava que as classes não se diferen-
ciavam pela sua renda. Assim, ainda que membros de classes diferentes tipicamente obtivessem 
rendas diferentes, isso não seria necessário; e, mesmo que fosse, não seria em virtude desse fato 
que eles pertenceriam a classes diferentes. 
Na ciência social contemporânea, renda, ocupação e status são os conceitos cen-
trais para o estudo da estratificação social. Esse fato não implica qualquer incon-
sistência com o marxismo, porque a teoria da estratificação e a teoria de classes 
têm propósitos diferentes. Esta última aborda a questão de que grupos organi-
zados serão os atores principais na ação coletiva e no conflito social; a primeira, 
porque os indivíduos diferem em termos de desvio, consumo, saúde ou hábitos 
de casamento. Essa distinção é ao menos válida em relação ao próprio Marx, que 
não tinha uma teoria sociológica no sentido moderno da expressão. Em sua dis-
secação do capitalismo, o foco estava quase que exclusivamente em fenômenos 
econômicos e políticos, a expensas da textura e eventos da vida cotidiana fora 
do lugar de trabalho. Tentativas posteriores de criar uma sociologia marxista ba-
seada no conceito de classe se dedicam às mesmas questões da teoria da estra-
tificação. Na medida em que os objetivos das duas abordagens se superpõem, 
elas são, de fato, incompatíveis, pelo menos se cada uma delas tiver a pretensão 
de dar a explicação completa dos fenômenos em estudo. (ELSTER, 1989, p.143)
O referido autor considera ainda que o pertencimento a uma classe é definido pela proprie-
dade ou não dos meios de produção. Entretanto considera que, para os objetivos de Marx, essa 
definição não é suficiente – em que pese a importância desta variável –, mas, dependendo de 
como ela é entendida, pode ser muito importante ou pouco importante. Pode ser muito impor-
tante se todos os atores que possuam alguns meios de produção além de sua própria força de 
trabalho forem incluídos na mesma classe, porque isso não permitiria fazer a distinção entre se-
nhor de terras, capitalista, artesão e camponês. Pode ser menos importante se os atores forem 
“relegados a diferentes classes, de acordo com a quantidade de meios de produção que possuí-
rem, pois isso criaria uma infinita fragmentação das classes” (ELSTER, 1989, p.144). O argumento 
do autor é que, se a variável definidora de classe for a exploração – explorados por um lado, e 
exploradores por outro –, em termos metodológicos não é interessante, na medida em que deixa 
de captar as nuanças do modelo capitalista de seis classes postulado por Karl Marx.
Em relação à consciência de classe que era para Marx a condição sine qua non para a ação 
coletiva, Eslter considera que a condição para a ação coletiva é que os membros de uma classe 
tenham uma compreensão da sua situação e de seu interesse. 
Marx era um tanto mais otimista em relação à capacidade de os operários ingle-
ses formarem uma concepção adequada de seus interesses. Mas ele também se 
frustrava por sua falta de uma consciência de classe revolucionária, que impu-
tava em parte à sua falta de compreensão de seus interesses. Por volta de 1850, 
depois do colapso do movimento cartista, ele explicava a confusão pelo fato de 
que os trabalhadores lutavam numa guerra de duas frentes. Como os capitalistas 
não tomaram diretamente o poder político, mas deixaram seu exercício aos aris-
tocratas agrários, os operários se confundiram sobre a natureza do inimigo real 
– o capital ou o governo? Lutando simultaneamente contra a opressão política e 
a exploração econômica, e não compreendendo que a primeira não passava de 
uma extensão da última, tinham apenas uma noção difusa de onde estavam seus 
27
Ciências Sociais - Sociologia IV
verdadeiros interesses. Por volta de 1870, a guerra de duas frentes foi substituída 
por um argumento de divisão para conquistar. Marx sugere que, se não fosse 
pela presença dos irlandeses, os trabalhadores ingleses teriam sido capazes de 
perceber seu interesse real e seu inimigo real. Tendo alguém abaixo deles para 
desprezar, distraíram-se do inimigo principal. (ESLTER, 1989, p. 149).
Elster destaca também a relevância das classes sociais tanto como fonte de conflito, quanto 
como “instrumento” de barganha para a formação de alianças determinantes da estrutura de po-
der em uma determinada sociedade. Entretanto, embora as classes sejam relevantes, o autor não 
admite que estas sejam centrais – como Marx afirmava – para a explicação dos conflitos entre os 
grupos organizados coletivamente na sociedade. 
2.2.2.2 Adam Przeworski
Uma outra análise interessante em relação 
à discussão de classes e que considera a dificul-
dade de utilizar o conceito de classes tal como 
Marx o elaborou é feita por Przeworski (1989), 
que argumenta que, a partir do final do século 
XIX, tornou-se problemático operacionalizar o 
conceito de proletariado tal como foi proposto 
por Marx. A fim de comprovar esse argumento, 
ele faz o seguinte questionamento:
Quem são todas aquelas 
pessoas geradas pelo 
capitalismo a um ritmo 
cada vez mais acelerado, 
que são separadas dos meios de produção, forçadas a vender sua força de traba-
lho em troca de salário e que, contudo, não trabalham, vivem, pensam e agem 
realmente como proletários? São eles operários proletários? Ou serão da ‘classe 
média’? Ou talvez simplesmente trabalhadores ‘não manuais’, como os estudio-
sos os classificam em suas pesquisas? Ou ‘La nouvelle petite bourgeoisie? Ou 
ainda agentes da reprodução capitalista e, portanto, simplesmente a burguesia? 
(PRZEWORSKI, 1989, p. 83). 
Pzeworski discute que o problema de operacionalização do conceito de classe dicotômica – 
como foi formulado por Marx – não é uma tarefa muito simples. Uma possível solução apontada 
por ele é incluir na análise as classes que não foram contempladas pelo viés marxista, ou seja, a 
adição das classes médias. Para comprovar sua tese de que não se pode pensar – nas sociedades 
de capitalismo avançado do final do século XIX e do século XX – somente em duas classes anta-
gônicas e polarizadas, ele lançou mão da discussão feita por Wright, que tentou operacionalizar 
empiricamente o conceito de classe na sociedade americana e chegou à conclusão de que nem 
todos os membros da população economicamente ativa dos Estados Unidos são enquadrados 
dentro da categoria de operários e capitalistas (PRZEWORSKI, 1989, p. 84).
Entretanto, apesar de o autor considerar importante a contribuição de Wright, ele enten-
de também que a questão do conceito de classes não será resolvida nem com a definição de 
classes objetivas, tampouco com as localizações contraditórias. O que ele propõe é analisar a 
seguinte questão: como, a partir de posição 
em lugares econômicos determinados, podem 
os indivíduos lutar de forma coletiva para a 
realização dos seus interesses objetivos? Para 
responder a essa questão, ele considera que é 
preciso incorporar o problema de identidade. 
Assim, a classe não pode ser considerada ape-nas pela posição objetiva; tampouco as lutas 
são determinadas apenas pelas relações de 
produção/econômicas, mas devem ser levadas 
em conta também as relações políticas e ideo-
lógicas, ou seja: 
DiCA
Entenda mais sobre 
o movimento cartista 
acessado o site www.
historiadomundo.com.
br 
No endereço eletrônico, 
você encontrará artigos 
e textos sobre o assun-
to, para aprofundar os 
estudos.
◄ Figura 15: Adam 
Przeworski 
Fonte: Disponível em 
<http://www.nyu.edu/
about/news-publications/
news/2010/04/09/poli-
tics_professor_p.html> 
Acesso em 19 mai. 2010.
◄ Figura 16: Classe média
Fonte: Disponível em 
<www.google.com.br>. 
Acesso em 19 mai. 2010.
28
UAB/Unimontes - 4º Período
Como agentes históricos, as classes não são determinadas unicamente por quais-
quer posições objetivas, tem mesmo a de operários e capitalistas (...) a própria 
relação entre as classes como agentes históricos (classes em luta) e os lugares 
nas relações de produção deve tornar-se problemática. As classes não são deter-
minadas unicamente porque quaisquer posições objetivas, porque constituem 
efeitos de lutas, e essas lutas não são determinadas unicamente pelas relações 
de produção. A formulação tradicional não nos permite raciocinar teoricamente 
sobre as lutas de classes, uma vez que as reduz a um epifenômeno ou as consi-
deram isentas de determinação objetiva. (...) as classes são um efeito de lutas que 
ocorrem em uma determinada fase do desenvolvimento capitalista. Devemos 
compreender as lutas e o desenvolvimento em sua articulação histórica concre-
ta, como um processo (PRZEWORSKI, 1989, p. 86-87).
Portanto, o autor defende a necessidade de se conceber a formação das classes como re-
sultantes de lutas estruturadas por condições econômicas, ideológicas e políticas que ocorrem 
objetivamente, moldando as práticas de movimentos que organizam os trabalhadores em uma 
classe, sendo que as classes são constantemente organizadas, desorganizadas e reorganizadas.
Para ele, o problema que se apresenta em operacionalizar o conceito de classe social, como 
Marx entendia, dá-se porque em lugar de que as classes existem objetivamente dentro das rela-
ções de produção, em alguns períodos históricos, a noção de classe seria irrelevante para a com-
preensão da história. Ele dá como exemplo o período em que essas classes não desenvolvem a so-
lidariedade e a consciência de classe ou quando não têm efeito político. Outra objeção colocada 
pelo autor é que a identificação das classes como força política organizada traz à tona o problema 
de como remontar à origem dessas classes no nível dos lugares na organização social da produção. 
Se a hipótese é que todo operário manual na indústria comporta-se politicamen-
te como um operário, então a teoria é absolutamente falsa; se todo indivíduo 
que é um socialista em potencial é considerado um operário, a teoria é sem sen-
tido na acepção positivista da expressão. A primeira interpretação do marxismo 
é predominantemente, entre muitos estudos do comportamento político, que a 
partir dela descobrem um grande “resíduo” de divisões outras que não as de clas-
se, divisões estas por vezes maiores que as de classes. A segunda interpretação é 
subjacente ao tipo de raciocínio voluntarista segundo o qual os funcionários de 
serviços eram considerados não pertencentes à classe operária quando as pers-
pectivas de sua sindicalização pareciam obscuras e, entretanto, hoje em dia, são 
considerados da classe operária majoritária (PRZEWORSKI, 1989, p. 89).
Ele propõe, para superar essa dificuldade, do ponto de vista metodológico, conceber as clas-
ses formadas decorrentes de lutas estruturadas em vários campos, como político, ideológicos e 
econômicos que ocorrem em condições objetivas, também políticas, econômicas e ideológicas 
que moldam as práticas dos movimentos organizados dos operários em classe. Considera, ainda, 
que as classes não são um elemento anterior à história das lutas concretas como também não 
antecederam à prática política e ideológica, sendo que elas se constituem em uma fonte impor-
tante de divisão social. Para ele, as classes:
1) são formadas como efeito de lutas; 2) o processo de formação de classes é per-
pétuo: as classes são continuamente organizadas, desorganizadas e reorganiza-
das; 3) a formação de classes é um efeito da totalidade das lutas nas quais diver-
sos agentes históricos procuram organizar as mesmas pessoas como membros de 
uma classe, como membros de coletividades definidas em outros termos, às vezes 
simplesmente como membros de uma sociedade (PRZEWORSKI, 1989, p. 91).
Przeworski considera ainda que, apesar das várias tentativas de reinterpretação da teoria da 
classe média de Marx, não se constata um grande avanço, no sentido da operacionalização do 
conceito nas sociedades capitalistas, nas últimas décadas. O que parece consenso é que o de-
senvolvimento do capitalismo culminou, além do crescimento da força de trabalho excedente 
– produtores imediatos e organizadores do processo de trabalho – em uma categoria que não se 
enquadra em nenhuma das duas citadas acima, ou seja, que apesar de não ter uma relação dire-
ta com a produção, do ponto de vista técnico, são indispensáveis para “reprodução das relações 
capitalistas de produção” (PRZEWORSKI, 1989, p.108). 
Na perspectiva do autor, o conceito de classe é mais abrangente do que a velha teoria mar-
xista supunha. A polarização entre os proprietários dos meios de produção e proprietários da for-
ça de trabalho não é empiricamente aplicável para as sociedades capitalistas contemporâneas. A 
estas devem ser adicionadas as classes médias que são fundamentais para se continuar reprodu-
zindo a estrutura das relações capitalistas de produção.
29
Ciências Sociais - Sociologia IV
Classe, portanto, é o nome de uma relação, não uma coleção de indivíduos. Os 
indivíduos ocupam lugares no sistema de produção; os agentes coletivos apa-
recem em luta em momentos concretos da história. Nenhum deles – ocupantes 
de lugares ou participantes de ações coletivas – são classes. A classe é a relação 
entre eles, e nesse sentido a luta de classes diz respeito à organização social de 
tais relações (PRZEWORSKI, 1989, p.102).
Portanto, o autor defende que a análise de classes não tome como ponto de partida o lugar 
que as pessoas ocupam no sistema de produção, pois o capitalismo constantemente gera um 
grande número de trabalhadores que não dispõe de emprego produtivo, mas que se organizam 
pela luta de classes. Ele ressalta ainda que a definição do proletariado com base na não proprie-
dade dos meios de produção não é operacionalizável no século XX, pois o crescimento de seg-
mentos que não se enquadram nessa categoria cresce em toda a sociedade e até mesmo dentro 
do proletariado. 
As consequências dessa abordagem para o conceito de classe, como geralmente 
compreendido pelo marxismo: As pessoas são classificadas como membros de 
uma classe em virtude da posição que ocupam nas relações sociais. A tautologia 
é deliberada: as pessoas são membros de uma classe porque aconteceu serem 
membros dessa classe. A condição de membro de uma classe constitui o ponto de 
partida para a análise do comportamento individual (PRZEWORSKI, 1989, p.115).
Em suma, a concepção de classe de Przeworski parte do pressuposto de que as relações so-
ciais (políticas, econômicas e ideológicas) são determinantes de uma estrutura econômica exis-
tente em um período determinado da história. Contudo, as classes sociais não surgem das re-
lações sociais, mas sim como resultantes das práticas que os indivíduos historicamente fizeram. 
Todavia, as escolhas foram condicionadas pelas opções deixadas abertas pelas relações sociais, 
que são tomadas por cada ator como dadas. 
2.2.2.3 Erick Olin Wright
Outro autor que se dedicou a analisar o conceito de classe 
social proposto por Marx foi Wright.

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