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PRETO FÊNIX – Morro Grande – Araruama – RJ = Pedro & Liz, o Papai ama vocês = Maio de 2019 9ª Semana AULA 11 DA PLATAFORMA Aula 11 do Livro Texto: História do Brasil Colonial 1 Como Tudo Começou Nas aulas anteriores, aprendemos sobre os fundamentos de algumas das mais importantes manifestações políticas, culturais, sociais e econômicas que caracterizaram esse período: Renascimento, Humanismo, Mercantilismo e Absolutismo. Agora vamos transpor tudo isso para Portugal nas vésperas do descobrimento do Brasil, para podermos compreender melhor por que vias aquela pequena nação conseguiu lançar-se em uma aventura de dimensões sem precedentes na História, dominando mares, descobrindo novas terras, estabelecendo comércio com nações longínquas. O final da Idade Média foi marcado, dentre outros fenômenos, pela recuperação econômica baseada no comércio, dando ênfase no Mercantilismo. Porém, essa recuperação não se deu apenas pelo aquecimento das antigas rotas comerciais, tradicionalmente dominadas pelos italianos, que levavam os produtos do Oriente até a Europa, que se tornaram muito perigosas. Era importante estabelecer novas vias de acesso às terras das especiarias para baratear os custos das negociações e escapar do monopólio italiano. Portugal era um pequeno país apertado entre a poderosa Espanha e o desconhecido e temido Atlântico. Era relativamente pobre em recursos naturais, e o considerável avanço político carecia de iniciativas que a mantivesse autônoma e a colocasse no concerto das novas tendências econômicas. Enfrentar a poderosa ex-senhora e vizinha Espanha não parecia ser uma atitude prudente. Então restava aos portugueses a vastidão do mar. Foi um processo paulatino, marcado por duas tendências: por um lado, a prática pesqueira; por outro, a rota comercial Mediterrâneo- mar do Norte. Aos poucos, os pescadores foram dominando o mar e se aprimorando das técnicas de navegação, a leitura das estrelas e o regime dos ventos e das marés. Esse conhecimento permitia que fossem cada vez mais longe em busca de melhores pescarias. No final da Idade Média e princípio da Idade Moderna, a rota marítima apresentava vantagens sobre a terrestre. Era mais barata porque transportava maior quantidade de carga. Então os barcos mercantes saíam do Mediterrâneo e passavam em Portugal para chegar ao mar do Norte. Lisboa cresceu como um entreposto comercial. Isso, somado à experiência acumulada na atividade pesqueira, foi transformando Portugal em um importante centro de navegação. Marcos da expansão marítima portuguesa Em 1415 as embarcações da pequena nação portuguesa atravessavam o estreito de Gibraltar e conquistavam Ceuta. Foi o marco da expansão marítima. O século XV foi dedicado ao périplo (viagem em torno de um pais ou continete) africano: navegar pela costa da África até encontrar o caminho marítimo que levasse ao oceano Índico, às terras das valiosas especiarias. Portugal pretendia um lance ousado: abrir uma nova via de comércio, que não dependesse dos italianos nem dos lentos caminhos terrestres. Queria descobrir um caminho marítimo que o colocasse diretamente em contato com os fornecedores das tão cobiçadas especiarias. RESUMO DO LIVRO: O Brasil entrou no cenário internacional a partir da expansão comercial que inaugurou a Idade Moderna. Portugal objetivava negociar especiarias entre o Oriente e a Europa. Neste processo de expansão o Brasil foi descoberto e passou paulatinamente a compor o cenário do Mercantilismo, até transformar-se, já no século XVII, na mais importante Colônia de Portugal. Ao elevar-se a esta destacada categoria, começou a construir, por diversos caminhos, uma identidade que cada vez mais o distinguia da metrópole. Na passagem do século XVIII para o XIX, o Brasil apresentava os sintomas de querer ser Brasil. PRETO FÊNIX – Morro Grande – Araruama – RJ = Pedro & Liz, o Papai ama vocês = Maio de 2019 Em 1488, Bartolomeu Dias contornou o cabo das Tormentas que ou foi rebatizado pelo rei D. João, cognominado o Príncipe Perfeito, de cabo da Boa Esperança. Era o caminho para se chegar às Índias e começar a fazer vantajosas trocas comerciais, que transformariam o pequeno reino de Portugal em um gigante dos mares e do comércio mundial. E o Brasil? Depois de descoberto o caminho que levaria os portugueses às Índias, o rei de Portugal armou uma grande expedição comercial que deveriam voltar ao reino abarrotados de valiosas especiarias. No comando estava Pedro Álvares Cabral. Em 9 de março de 1500 partiram de Lisboa. O fato é que, embora apenas preparados para uma viagem de comércio, em 22 de abril daquele mesmo ano, Pedro Álvares Cabral e seus homens descobriram o Brasil. Na esquadra de Cabral encontrava-se um escrivão. Ele fora nomeado para assumir cargo em Calicute, na Índia. É de sua autoria o primeiro documento que fala explicitamente das novas terras descobertas e das pessoas que nela habitavam. Trata-se da famosa Carta de Caminha, que para alguns representa a certidão de nascimento do Brasil. Nela o escrivão narra ao rei de Portugal, a viagem do reino até a descoberta da Terra de Santa Cruz. Recebem grande destaque na Carta de Caminha, os índios que viviam no litoral naquele momento do primeiro encontro. Para ele, tratava-se de gente de boa constituição física e aparentemente de boa índole, indivíduos que traziam os corpos desnudos e pintados, e disso não tinham nenhuma vergonha; viviam em inocência e eram ao mesmo tempo desconfiados e curiosos. E que era os índios? Estima-se que viviam aqui cerca de três milhões e meio de índios, divididos em quatro principais troncos lingüísticos, que se desdobravam em incontáveis dialetos. O principal grupo, com o qual os descobridores fizeram contatos em abril de 1500, foi o tupi-guarani, tronco constituído por várias nações que habitavam o litoral, depois de terem expulsado para o interior as tribos que não eram tupis. De modo geral, podemos dizer que se organizavam em núcleos menores – as tribos – e desconheciam a propriedade privada. Tanto a terra como os produtos dela tirados e o resultado das caçadas e das pescarias pertenciam à coletividade. Conheciam a agricultura. Plantavam principalmente mandioca, além de milho, feijão, amendoim e abóbora. Completavam a dieta alimentar com a caça e a pesca. Na tribo destacavam-se duas figuras: a do sacerdote, que comandava os cultos e cuidava das doenças; e a do guerreiro, que conduzia os seus nas constantes batalhas que travavam com outras tribos pelo domínio territorial de caça e pesca, e para vingar ofensas. A educação dos meninos e das meninas ocorria num clima harmonioso, por meio do qual eram inseridos, progressivamente, na vida da comunidade. As crianças acompanhavam os adultos nas atividades cotidianas e pouco a pouco aprendiam. Os contatos entre os índios e os portugueses nem sempre foram hostis, mas também nem sempre foram pacíficos. Eles variaram segundo os interesses e os comportamentos de ambos. Ao longo da colonização, de forma geral, pode-se dizer que os portugueses assumiram uma postura arrogante diante dos índios. Sentiam-se superiores a eles e esforçaram-se para escravizá-los e submetê-los à lógica do trabalho forçado, fundamental para tirar das terras conquistadas as riquezas cobiçadas. Movidos pela ganância e pela necessidade, os descobridores perpetraram verdadeiros massacres, reduzindo a população nativa a um número insignificante comparado ao ano de 1500. Ocupar para não perder As Índias representavam um sonho de riqueza, abundância e exotismos, e para lá seguiam as naves portuguesas. Mas abandonar o território descoberto seria o mesmo que perdê-lo; outras nações pretendiam conquistar colônias e elas não deixariam de ocupar um imenso território com potencialidade para produzir riquezas. Os portugueses estavam preparados para comercializar, mas nem tanto para colonizar, ou seja, transformar aquele imenso território, por meio de exploração e trabalho sistemático,em produtor de riqueza. PRETO FÊNIX – Morro Grande – Araruama – RJ = Pedro & Liz, o Papai ama vocês = Maio de 2019 O século XVI: a fixação litorânea Em 1627, frei Vicente do Salvador colocava um ponto final na primeira História do Brasil escrita por um homem que nasceu e viveu a maior parte da vida aqui no Brasil. É um livro muito rico. Dentre as muitas tiradas originais, há uma muitas vezes citada quando se escreve sobre o Brasil no século XVI: “os portugueses andam arranhando a costa como caranguejos”. O nosso autor fazia uma crítica à ocupação portuguesa que, segundo ele, descuidou do interior e fixou pontos de povoamento e colonização apenas no litoral. Por falta de homens e recursos, por medo e ignorância das coisas do sertão, pela necessidade de estar próximo da costa, de onde se partia para o reino e dele se recebiam notícias e mercadorias, a colonização ao longo do século XVI teimou em fixar-se no litoral. Primeiro ela começou com a extração do pau-brasil, madeira que dará nome à nova terra. Uma árvore muito comum, que existia em abundância ao longo da costa, nas florestas de Mata Atlântica. Os índios tratavam de abater as árvores e transportá-las para as feitorias (local onde se guardava) e depois para os navios. Recebiam como forma de pagamento produtos manufaturados, principalmente instrumentos metálicos. A atividade de extração do pau-brasil gerou renda significativa para a Coroa, que não dispunha de muitos recursos financeiros nem humanos para povoar e defender de possíveis invasores as terras descobertas. Essa extração foi importante não só apenas para a visão comercial, mas também, conhecer melhor os locais, a língua aqui falada e também para conhecer o interior, servindo como um laboratório. Em 1532, Martim Afonso de Souza fundou São Vicente, a primeira vila no Brasil, próxima à atual cidade de Santos. A vila foi fundada sob ordens reais, o que significa que a Coroa portuguesa assumia a intenção de colonizar o Brasil. No entanto, diante da imensidão da costa brasileira, São Vicente significava apenas um ponto diminuto e isolado. Pensando nisso, no mesmo ano de 1532, a Coroa decide dividir a terra em porções e doá-las a homens ricos de Portugal. São as chamadas CAPITANIAS HEREDITÁRIAS. Os donatários, aqueles que recebiam uma capitania hereditária, enfrentavam várias dificuldades. Imagine um grupo de homens, chegando com suas ferramentas e mantimentos, sem poder contar com nenhuma forma de socorro, tendo de construir as suas moradias, defender-se dos ataques dos índios, derrubar a mata e preparar o solo para cultivo e a maioria dos donatários não conseguiu superá-lo. Um outro problema enfrentado pelos donatários foi a dificuldade e demora na comunicação com Lisboa. Estavam distantes de Portugal e não contavam com um ponto de apoio para a resolução de problemas de justiça e segurança. O donatário tornava-se uma espécie de juiz e governador das suas terras, acumulando muitos poderes. Em 1549, chegou ao Brasil o primeiro governador-geral: Tomé de Souza. Ele vinha com a tarefa de construir uma cidade para sediar a nova administração. A partir daquele momento, as questões de justiça, de cobrança de impostos e de segurança estariam a cargo do governador- geral. Manuel da Nóbrega era um dos mais conhecidos jesuítas que estiveram aqui no primeiro século da colonização. Foi trabalhador aguerrido, tanto no sentido de converter os índios, quanto na tentativa de moralizar os portugueses e impedir os abusos praticados por muitos senhores na escravização dos índios. A vida religiosa na Colônia era bastante movimentada em função das diversas culturas e origens distintas que conviviam no mesmo espaço. Os jesuítas e outras ordens religiosas que estavam presentes no Brasil tentavam, com a catequese e a conversão, amenizar esses conflitos (causados pela escravização), criando uma frente de contato mais branda com os índios e, às vezes, até mais lúdica. Nóbrega entendeu que a maneira mais eficiente de aproximação seria por meio da educação. Por isso ele criou a escola de crianças. Concluiu que os adultos já estavam arraigados demais aos seus princípios religiosos para ceder ao discurso do cristianismo, mas com as crianças poderia ser diferente. PRETO FÊNIX – Morro Grande – Araruama – RJ = Pedro & Liz, o Papai ama vocês = Maio de 2019 A cana-de-açúcar Baseando-se nas experiências de produção do açúcar nas ilhas atlânticas e na confiança de que o produto teria uma boa aceitação no mercado, Portugal transforma o Brasil em pólo de produção na montagem de um complexo sistema de produção em larga escala: a monocultura da cana. Ela só era viável na medida em que se dispunha de grandes extensões de terra e mão-de- obra escrava. E aqui estão dois elementos importantes para se compreender o Brasil, não só do ponto de vista econômico, mas do social também Com a monocultura, a necessidade de escravos aumenta. E logo os proprietários de terra e de escravos tornaram-se os senhores, uma distinção social que perdurou ao longo de todo o período colonial, adentrando inclusive nas sucessivas fases da História do Brasil. O “senhor de engenho” se refere a um homem que é o proprietário de uma extensa faixa de terra e que produz açúcar por meio da exploração do trabalho escravo. E para ser realmente um senhor, era preciso ter em suas terras um engenho: uma estação de transformação da cana em açúcar. O senhor de engenho era o ápice da hierarquia social na Colônia. Os senhores formavam um tipo de nobreza da terra. No final do século XVI o açúcar era o principal produto de exportação do Brasil. Além de gerar riqueza, ele participou diretamente no desenho das características da sociedade colonial e de sua hierarquização. Na parte superior da pirâmide social estavam os burocratas, os grandes comerciantes e os senhores de engenho. Na base dessa pirâmide, os escravos africanos e indígenas. Entre os extremos, trabalhadores livres, pequenos comerciantes, pequenos plantadores, escravos libertos e aventureiros. A fixação litorânea, processo caracterizador da colonização no século XVI, teve na cana, na extração do pau-brasil, na fundação de vilas e cidades e no comércio com o exterior os seus pontos de apoio. Século XVII: A Expansão Em 1580, Portugal perdeu a coroa para o rei da Espanha. É o cume de um processo longo, que manteve as duas casas reais ligadas através de casamentos. Com a morte de Dom Sebastião em 1578, a Coroa portuguesa ficou vacante e passou a ser disputada por vários pretendentes, mas o rei Filipe de Espanha levou a melhor. Deu-se então a União Ibérica, que perdurou até 1640. Portugal saiu arrasado dessa união forçada. A partir de 1640, o Brasil emerge como a mais importante Colônia de Portugal e a única esperança de sobreviver às milionárias dívidas contraídas para libertar-se da dominação espanhola. A cultura da cana ia muito bem. O século XVII marcou o pleno estabelecimento do cultivo da cana e do refino de açúcar. Vários novos engenhos foram erguidos e terras doadas e ocupadas. Outras culturas também foram implantadas. O tabaco ganhou força, e o Brasil passou a exportar, principalmente para a África, farinha de mandioca e aguardente. Os metais e as pedras também exerciam um grande fascínio sobre os colonos. Era comum pensar-se que o Brasil continha em seu subsolo imensas riquezas minerais que ainda não haviam sido encontradas. Portanto, buscá-las era uma atividade alimentada previamente por uma crença bastante forte e arraigada. Assim, a necessidade de mão-de-obra indígena e a esperança de encontrar minérios valiosos fizeram com que os limites estabelecidos no TRATADO DE TORDESILHAS fossem empurrados para o interior. O Brasil foi crescendo em direção ao Oeste! O século XVII marcou a expansão da pecuária. As fazendas de gado, mais baratas e mais fáceis de administrar, foram ocupando as terras vazias do sertão. As fazendas localizavam-se na proximidade dos rios, e era o percursodos rios que sinalizava os caminhos dos vaqueiros e de seus rebanhos. O rio São Francisco cumpriu um papel fundamental: a sua porção nordestina foi o berço da colonização do interior. Ao findar o século XVII, o interior da Bahia ligava-se ao interior do Rio Grande do Norte pelos caminhos do gado TRATADO DE TORDESILHAS: Foi celebrado entre Portugal e Espanha em 1494. Ele defi nia as áreas de domínio extra-europeu, ou seja, estipulava como o mundo novo seria dividido entre as duas potências marítimas e descobridoras. Por esse tratado Portugal tinha a posse somente de uma pequena parte do Brasil. PRETO FÊNIX – Morro Grande – Araruama – RJ = Pedro & Liz, o Papai ama vocês = Maio de 2019 Explorar e ocupar o Norte do Brasil fazia parte de uma estratégia de manutenção da Amazônia, uma forma de controlar a ligação do Atlântico com o interior do continente, rico produtor de metais preciosos. Era uma maneira de controlar a desembocadura do rio Amazonas. Assim como também se insistiu na permanência de uma colônia no extremo sul do continente, a Colônia do Sacramento. Ela foi fundada na margem esquerda do Prata, por onde eram escoadas as riquezas produzidas na América espanhola. Podemos dizer que ao findar o século XVII, todo litoral do atual Brasil estava sob o domínio português. O sertão não era mais apenas o vazio desconhecido e ameaçador. Ele já acomodava importantes iniciativas econômicas e contribuía para o comércio internacional. A região do Amazonas, embora escassamente povoada, como a maior parte do território brasileiro, estava pontilhada por colonos que, com dificuldade, mantinham-se atuantes na faina de cultivar e extrair riquezas da floresta, marcando a posse de Portugal sobre os vastos domínios amazônicos. Durante o século XVII o açúcar permaneceu como o principal produto de exportação. Os holandeses invadiram Pernambuco em 1630 e lá permaneceram até 1654, quando foram expulsos. Depois desta data, tem início a crise do açúcar. Os holandeses criaram plantações e engenhos nas Antilhas e passaram a produzir um açúcar de boa qualidade e com preços competitivos no mercado. Além dessas vantagens, eles dominavam a distribuição do produto na Europa, o que acarretou grandes dificuldades para os produtores brasileiros. O Século XVIII: Ouro e Reformas Em 1695, foi finalmente encontrado ouro no Brasil em quantidade significativa; primeiro em Minas Gerais, depois em regiões mais afastadas como Goiás. Primeiro o ouro, depois as pedras preciosas. Essas tão sonhadas e procuradas riquezas não foram encontradas no litoral, e sim no sertão, fato que mudou o eixo de poder e de riqueza da colônia. Se durante os dois primeiros séculos da colonização a sede do governo geral esteve em Salvador, no Nordeste, bem próximo aos principais centros de produção de riqueza no século XVIII ela se transfere para o Rio de Janeiro, por onde saíam o ouro e as pedras preciosas arrancadas ao subsolo. O Sudeste tornou-se, então, a região mais povoada e vigiada da Colônia. Sobre a nova região, todos os veios auríferos pertenciam à Coroa, mas ela não tinha como explorá-los diretamente. A solução encontrada foi doar aos descobridores uma parcela do terreno aurífero e leiloar em lotes, chamados datas, os que a ela pertenciam por direito. Muitos homens disputavam as datas, mas para concorrer a uma era necessário apresentar condições de explorá- la, e estas condições estavam diretamente ligadas ao fato de possuírem escravos e dinheiro. Todo ouro deveria ser quintado, ou seja, um quinto dele ficava como pagamento de impostos à Coroa. As vilas nasceram e cresceram e, pela primeira vez no Brasil colonial, apresentavam alto índice de desenvolvimento sociocultural. Mariana, Sabará, São João Del Rei e Ouro Preto, são cidades históricas mineiras, que guardam um verdadeiro e rico patrimônio cultural erguido à época da mineração. Dessa densa sociabilidade emergiram os mais famosos e poderosos movimentos artísticos e de contestação colonial, o Barroco mineiro e a Inconfidência mineira. Nesse contexto, em função das grandes dívidas de Portugal, o Brasil situa-se como a mais importante Colônia de Portugal. Mas o século XVIII foi tremendamente marcado por alterações no cenário político e administrativo. E um nome ganha destaque ímpar nesse contexto: o marquês de Pombal. Nomeado ministro de D. José I, Pombal figura entre as mais destacadas personagens da Europa no século XVIII, um déspota esclarecido (pessoa que exerce autoridade arbitrária e até absoluta). E esclarecido é aquele que tem luz, conhecimento, informação e consciência de suas atitudes autoritárias. São figuras políticas típicas do Iluminismo, quando se acreditava que apenas o conhecimento e a educação poderiam levar um povo ao estado de civilização avançada. Pombal representou em Portugal e nas suas Colônias essa figura. Ele criou uma importante reforma. O seu objetivo era baratear a administração e centralizar o poder nas mãos do monarca. Implementou companhias de comércio para otimizar a economia colonial; proibiu a discriminação racial e religiosa, abrindo as portas para o retorno do capital dos judeus; proibiu o uso da língua geral; e permitiu aos descendentes de índios a ocupação de cargos administrativos. Uma de suas mais drásticas decisões foi a de expulsar os jesuítas do Brasil, a mais importante e poderosa ordem religiosa aqui estabelecida. Foi uma tentativa de intimidar o crescente poder PRETO FÊNIX – Morro Grande – Araruama – RJ = Pedro & Liz, o Papai ama vocês = Maio de 2019 exercido pelos jesuítas em vários setores da vida colonial. O resultado foi um duro golpe na educação, pois eles controlavam todas as fases do ensino no Brasil. Pombal tentou substituí-los com a criação das chamadas AULAS RÉGIAS, proferidas por professores não centrados em instituições de ensino. O resultado foi uma maior elitização do saber e uma desestruturação da educação em geral. Em 1808, a família real transfere-se para o Brasil, que passa a ser a sede da monarquia. Estava dado um passo importante para o processo da Independência do Brasil, que poria fim ao período colonial. PRETO FÊNIX – Morro Grande – Araruama – RJ = Pedro & Liz, o Papai ama vocês = Maio de 2019 9ª Semana AULA 11 DA PLATAFORMA Aula 12 do Livro Texto: História do Brasil Colonial 2 Introdução Nomear é uma ação impregnada de significados. Não existe neutralidade nessa tarefa, pois ela embute sentimentos, valores, sentidos, posicionamentos sociais, políticos e econômicos. Nesse sentido, um importante debate deve estar presente no ensino de História para as Séries Iniciais: a desmistificação do descobrimento. O registro da chegada dos portugueses na América do Sul como um feito de descoberta, traduz uma perspectiva eurocêntrica; isto é, interpreta a História a partir das vivências e significados dos europeus. A idéia de descobrimento, portanto, além de exaltar o feito português, procura apagar uma constatação óbvia: as terras da América só não eram conhecidas pelos europeus, pois inúmeros povos, muitos séculos antes das Grandes Navegações, já as tinham descoberto e desbravado. Essa desvalorização da presença secular dos povos indígenas nas Américas desdobra-se na crença nos direitos de propriedade, domínio e colonização dos europeus sobre o Novo Mundo. Nota-se que esse processo foi, como já vimos, impregnado pelas justificativas de caráter religioso e civilizatório; isto é, ao europeu cabia dominar para converter os nativos ao cristianismo (católico ou protestante) e para ensinar os valores, padrões, costumes e práticas civilizadas. Se por um lado, a chegada dos europeus ao continente desconhecido traduz, efetivamente, um feito épico; por outro, sob a ótica das sociedades indígenas das Américas, é inegável que esse processo foi de invasão, conquista e dominação. No contexto das Séries Iniciais é preciso imenso cuidado para que a grandiosidadedo feito europeu não ofusque a percepção de que, concomitantemente, se processou uma invasão. Dessa maneira, devemos ter atenção com a visão civilizatória da colonização incutida na nossa própria cultura que inferioriza as ricas culturas dos povos indígenas. A colonização não pode ser entendida como um direito europeu, não pode ser naturalizada. Deve se dar espaço para a percepção da violência do processo de ocupação européia que, além da terra, roubou, muitas vezes, a identidade e aniquilou milhares de vidas. “BANDIDOS” E “MOCINHOS” DA COLONIZAÇÃO: UMA VISÃO A SE SUPERAR NO ENSINO” Os indígenas A consolidação da colonização necessitou, obviamente, de colonos! Nesse momento, identificou-se um primeiro movimento de imigração de portugueses para o Brasil. A oportunidade de enriquecimento, a nomeação para um cargo pelo rei, o degredo, a fuga de perseguições religiosas, dentre outras, foram motivações que trouxeram imigrantes para as terras americanas. As dificuldades de adaptação ao clima e as doenças locais não eram pequenas e, além disso, a constância dos confrontos com os indígenas também provocavam um aumento na mortalidade RESUMO DO LIVRO: Discutiram-se as terminologias utilizadas para designar o momento da chegada dos europeus à América. Posteriormente, trabalhou-se criticamente os papéis históricos de certos atores sociais do processo, questionando a imagem de bandidos e mocinhos imputados a eles. Por fim, estabeleceu-se uma análise do processo de destruição dos ecossistemas provocado pela colonização, a partir do caso da Mata Atlântica. PRETO FÊNIX – Morro Grande – Araruama – RJ = Pedro & Liz, o Papai ama vocês = Maio de 2019 Os indígenas não diferenciavam portugueses ou franceses. Aliavam-se aos “invasores” que lhes apresentassem mais vantagens, mesmo que momentâneas. Os tupinambás, por exemplo, foram aliados dos franceses contra os portugueses que, por seu turno, eram apoiados pelos temiminós na disputa pelo controle da baía de Guanabara Após mais de uma década, os franceses foram definitivamente expulsos (1567), mas os tupinambás formaram aldeias na região de Niterói e continuaram a atacar os portugueses e seus aliados. Em 1575, desferiram um ataque que detonou uma forte reação portuguesa. Uma tropa com cerca de 400 homens brancos e 700 índios “amigos” promoveu a destruição dos redutos tupinambás de Niterói até Cabo Frio. Mais de mil índios foram mortos! Refletir sobre a construção histórica dos papéis de “bandido” e “mocinho” dever ser uma preocupação do ensino de História. Os indígenas tiveram, de acordo com o papel desenvolvido, tratamento diferenciado. Os tupinambás foram tratados como traidores pelos portugueses porque se aliaram aos franceses. Por outro lado, hoje, em frente ao ancoradouro das barcas em Niterói, a estátua de Arariboia, homenageia o chefe dos temiminós que lutaram ao lado dos colonizadores portugueses contra os franceses e tupinambás. Claro que, se os franceses tivessem vencido a disputa, os “bandidos” e “mocinhos” seriam outros. Os bandeirantes A vila de São Paulo de Piratininga foi fundada em 1554 e se caracterizou como um núcleo pobre e sem recursos. Nesse sentido, a prática de expedições para o sertão tornou-se comum. Era no interior que os paulistas iam buscar mão-de-obra (escravos indígenas) e procuravam encontrar metais e pedras preciosas. Nesse cenário de restrições, surgiu a figura dos bandeirantes, líderes expedicionários. Na literatura didática tradicional, os bandeirantes aparecem como heróis do desbravamento do sertão. São representados como homens determinados e corajosos que atuaram para o crescimento do controle territorial português na América. Na verdade, as dificuldades econômicas que experimentavam foram, de fato, as maiores motivações para que esses homens se embrenhassem nas matas, subissem e descessem rios, enfrentassem animais, indígenas e doenças. Era, portanto, a necessidade de sobrevivência e não alguma espécie de outro sentimento nobre que os movia. Os bandeirantes não estavam ligados aos interesses da Coroa portuguesa. Após descobrirem o ouro em Minas Gerais após 1693, os bandeirantes não aceitaram pacificamente o controle administrativo da metrópole e a onda migratória que se seguiu à divulgação da notícia. O descontentamento foi tanto que gerou a Guerra dos Emboabas, na qual paulistas e portugueses se confrontaram pelo controle da exploração do ouro e do comércio local. A desmistificação da imagem do bandeirante precisa ser trabalhada nas Séries Iniciais. O papel de “bandido” e “mocinho” sempre se constrói a partir de um lugar social, de uma posição histórica; logo, é preciso fazer que o estudante reflita sobre as visões maniqueístas que no passado e no presente se constroem. Os bandeirantes devem, portanto, ser analisados de forma não romântica. Atuaram na História a serviço dos interesses de sua sobrevivência, não para a grandeza da colonização portuguesa. Por outro lado, desbravaram o sertão a custa da escravidão indígena – legalmente proibida desde 1639 –, exterminando milhares de nativos com a realização das expedições e com o trabalho escravo. Martim Afonso de Sousa instalou, em 1531, uma casa forte na desembocadura do rio Carioca. Abandonada, a área foi tomada pelos franceses em 1555. Mem de Sá, em 1560, expulsou os franceses e deixou a região. Franceses e tupinambás se reorganizaram, construindo fortalezas (Uruçu-Mirim, na região da Carioca e Paranapuam, na ILHA DO GATO). A Coroa portuguesa decidiu, então, fixar-se na região, fundando a cidade do Rio de Janeiro (1° de março de 1565). ILHA DO GATO: foi chamada posteriormente de ilha do Governador. PRETO FÊNIX – Morro Grande – Araruama – RJ = Pedro & Liz, o Papai ama vocês = Maio de 2019 Os Jesuítas O processo de ocupação do território brasileiro foi acompanhado desde cedo pelos jesuítas – em 1549 os primeiros membros da ordem chegaram ao Brasil –, que tinham como missão básica converter os “gentios” (grupo de família/que não possui evangelho). Com esse objetivo, os jesuítas montaram aldeamentos e missões. Esses redutos permitiam a cristianização dos indígenas e sua utilização como mão-de-obra. Na prática, todas as ordens religiosas, especialmente a Companhia de Jesus, tornaram-se grandes proprietárias de terras, produtoras de artigos para a exportação e senhoras de escravos africanos. Defenderam, em oposição, a não escravização do indígena, o que gerou imensos conflitos com colonizadores e colonos. Na vila de São Paulo de Piratininga, colonos e inacianos (jesuítas) divergiram intensamente sobre o apresamento e a escravização dos indígenas. Em 1640, os jesuítas chegaram a ser expulsos, retornando em 1643 sob a proteção de um alvará do rei D. João IV. No Rio de Janeiro, houve conflito entre os colonizadores e os inacianos pelo controle do território. A Companhia de Jesus reivindicou de 42% da sesmaria (terreno abandonado/inculto) da Câmara a partir de 1643. Só em 1754 os limites das sesmarias foram demarcados, mas a Câmara perdeu boa parte das terras públicas. Outro conflito no qual se envolveram os jesuítas foi o da preservação dos manguezais da cidade. Movido tanto pelos interesses de não verem suas terras invadidas e pelo conhecimento da importância do ecossistema para a reprodução de peixes e crustáceos, os inacianos se colocaram contra diversos seguimentos de colonos (lenhadores, donos de curtumes, produtores de cal, carvoeiros e catadores de caranguejos). A Companhia de Jesus era, no Rio de Janeiro, proprietária de engenhos, lavouras, olarias, madeireiras, imóveis urbanos e rurais, o que gerava um grande descontentamento na população local. A eliminação do poder político e econômico da Companhia de Jesus ocorreu com sua expulsão do reino de Portugal e suas colônias em 1759, quando suas propriedades foram confiscadas pela Coroa. Os abusos e o enriquecimento dessas ordens podem ser o ponto de partida para a discussão dopapel das instituições religiosas na sociedade; assim como, podem oportunizar a percepção do poder de controle que a religiosidade pode desenvolver em nome da evangelização e da pregação de uma visão de mundo única e indiscutível. A DEVASTAÇÃO DO “PARAÍSO” Uma outra questão que pode ser trabalhada nesse processo de ocupação do litoral é a da devastação da Mata Atlântica. Essa temática merece bastante atenção, porque os PCN apresentam A Companhia de Jesus e outras ordens construíram aldeias e missões 12 onde as comunidades indígenas pacificadas eram ensinadas, convertidas e organizadas de acordo com os valores europeus. O trabalho nessas comunidades era coletivo, sendo teoricamente realizado para prover a subsistência. Na realidade, uma imensa disponibilidade de mão-de-obra livre, mas gratuita, ficava sob o domínio das Ordens, que a utilizava para produção, inclusive, de artigos de exportação. Nesse sentido, a escravidão indígena não era interessante. PRETO FÊNIX – Morro Grande – Araruama – RJ = Pedro & Liz, o Papai ama vocês = Maio de 2019 o Meio Ambiente como um de seus eixos temáticos transversais. No ano de 1500, esse ecossistema cobria cerca de 97% do território do atual Estado do Rio de Janeiro. A Mata Atlântica é o ecossistema de floresta da encosta da Serra do Mar brasileira considerado o mais rico do mundo em biodiversidade. Era a segunda maior floresta tropical úmida do Brasil, só comparável à floresta Amazônica. Originalmente, estendia-se do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul e ocupava 1,3 milhão de km2 . Hoje restam, apenas, cerca de 5% de sua extensão original. No período colonial, a Mata Atlântica foi devastada pelo extrativismo descontrolado, pela prática das queimadas, pelo desmatamento para a formação de fazendas, pelo crescimento das cidades, dentre outros fatores. Mas é importante que você tenha em mente que a devastação continuou mesmo após a independência, o fim do escravismo e a proclamação da República. No caso do Rio de Janeiro, por exemplo, o crescimento da lavoura do café no século XIX provocou estragos imensos no vale do rio Paraíba do Sul. Dados publicados pela Fundação S.O.S. Mata Atlântica demonstraram que em 1990 restavam cerca de 928.858 hectares de florestas no Estado do Rio de Janeiro, o que correspondia a 21,1% da superfície da unidade federativa. Entre 1990-1995 e 1995-2000, foram perdidos, respectivamente, 140.372 hectares e 3.773 hectares. Ao longo de 500 anos de exploração, a Mata Atlântica foi sendo reduzida a pequenas manchas verdes, a redutos ao longo da costa. Além da evidente perda da biodiversidade, várias espécies endógenas – que só ocorrem nesse ecossistema – desapareceram ou correm risco de desaparecer. A perda da cobertura vegetal empobrece o solo, permite a erosão e afeta os mananciais de água. Não podemos também mitificar a relação das populações indígenas com a Natureza. As comunidades agrícolas que habitavam os domínios da Mata Atlântica desenvolviam ações de interferência no ecossistema. Não havia, portanto, uma Mata Atlântica integralmente virgem por ocasião da chegada dos europeus, nem tampouco, uma relação harmoniosa indígenas/Natureza sem nenhum tipo de impacto ambiental. Essa percepção crítica do mito do “bom selvagem” pode ajudar na reflexão de questões contemporâneas, como a constante presença de notícias do envolvimento das comunidades indígenas com exploração de madeira, garimpo ilegal, tráfico de animais etc. – ações muitas vezes implementadas nas reservas indígenas. É fundamental que a Educação contemporânea reflita sobre a relação do homem com a Natureza. É importantíssimo que recuperemos a percepção da dimensão da espécie animal na qual estamos incluídos. Caso a espécie humana não seja capaz de rever e redefinir seu posicionamento frente ao universo, abdicando de uma visão utilitarista, consumista e depredadora, a pena pode ser, cedo ou tarde, a nossa própria extinção. CONCLUSÃO: A abordagem do conhecimento histórico nas Séries Iniciais não deve priorizar conteúdos. É importante que o estudante tenha dimensão da violência do processo de colonização quer pela eliminação física quer pela destruição das identidades das populações indígenas e africanas. É igualmente importante que o aluno seja capaz de refletir sobre a imagem que se construiu sobre cada agente histórico. Perceber que outras histórias são contadas, que os “bandidos” para uns foram os “heróis” de outros. Por fim, não podemos deixar de refletir sobre as perdas de vidas, saberes e culturas ocorridas no contexto do processo de colonização. PRETO FÊNIX – Morro Grande – Araruama – RJ = Pedro & Liz, o Papai ama vocês = Maio de 2019 11ª Semana (AULA 13 DA PLATAFORMA) TEXTO COMPLEMENTAR V + VÍDEO Texto: O que é história local e do cotidiano? O que é? É o eixo em que são trabalhados conteúdos com base na relação do aluno com seu espaço, no seu e em outros tempos. O estudo da história local e do cotidiano faz com que as crianças das séries iniciais se percebam como parte integrante da História, por meio das vivências pessoais com sua comunidade. Com a reflexão sobre o desenvolvimento da sua região e a comparação com os grupos antigos que lá viviam, o aluno é capaz de entender que a História que está nos livros é construída pela ação de diversos povos e classes sociais. Ao conhecer a história da sua localidade, os alunos não estudam a disciplina apenas como um acumulado de datas e fatos. As aulas fazem parte de um processo de formação de sujeitos mais conscientes e críticos, preparados para a experiência e a prática da cidadania. Há menos de uma geração, as aulas eram resumidas à memorização de episódios e à apreciação das figuras heroicas que estampavam os livros didáticos. O conteúdo trabalhado em sala seguia o calendário cívico, de feriados nacionais e datas comemorativas - o que mantinha as aulas restritas a um passado descontextualizado. Até hoje, no entanto, muitas escolas usam essa abordagem que, além de desestimular, faz com que a turma não se sinta parte desse processo histórico. Como resultado disso, o que se vê muitas vezes são alunos com grandes dificuldades em ligar os ideais de vida coletiva e em sociedade ao seu papel cidadão. Para Daniel Helene, coordenador pedagógico do Centro de Estudar Acaia Sagarana, em São Paulo, é importante, sim, tratar de temas do cotidiano e dos hábitos, mas sem abandonar a perspectiva histórica de como eles se relacionam e se encadeiam em panoramas mais gerais. "Estudar a história de como as pessoas se sentavam à mesa, ou se alimentavam no século 18 tem sua importância, mas não é equivalente e nem substitui o estudo de grandes temas da História como a Revolução Francesa, ou a Inconfidência Mineira", diz o educador. Por que ensinar? Por meio da observação da realidade local, a turma pode entrar em contato com os primeiros conceitos históricos e aprender a construir ligações entre o cotidiano e os aspectos mais amplos da vida social. Desde pequenas, as crianças recebem um grande número de informações sobre as relações sociais e coletivas. Mas muitas dessas reflexões são sustentadas por ideias que vêm do senso comum. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, para o ensino de História, "cabe à escola interferir nas concepções de mundo dos alunos, para que desenvolvam uma observação atenta do seu entorno". No decorrer da vida escolar, os estudantes aprofundam o modo como observam e compreendem a sociedade em que vivem. Coletando por meio de depoimentos a história dos moradores do seu bairro, por exemplo, as crianças começam a estabelecer as primeiras noções de diferenças e semelhanças. É assim que elas passam a compreender as ideias do "eu" e também do "outro", que compartilha com elas o mesmo tempo e espaço, formando, então, a noção do "nós". Com esse sentimento, criam-se as concepções de grupo, que se estendem da sala de aula que dividem, ao bairro, ao paísou até em comunidades globais. Os conhecimentos relacionados ao eixo estão próximos da realidade dos alunos, sobretudo nas séries iniciais, quando estão começando a aprendizagem dos conceitos históricos. Ao estudar a cidade onde vivem e tecer junto dela a sua história, as crianças descobrem seus encantos e problemas, e aprendem a propor soluções, defender e pensar com embasamento as questões do lugar onde vivem. PRETO FÊNIX – Morro Grande – Araruama – RJ = Pedro & Liz, o Papai ama vocês = Maio de 2019 Localidade Quando o aluno procura as conexões entre a História e a vida de sua comunidade, o conteúdo sai dos livros e passa a repercutir em sua vida. É por meio da localidade que os assuntos historiográficos ganham sentido no dia a dia do aluno. "É uma ferramenta potente de ensino", diz Daniel Helene, coordenador pedagógico do Centro de Estudar Acaia Sagarana. E é fundamental ressaltar a sua importância nesse trabalho. É você quem faz o papel de articulador entre a história local e um contexto mais amplo. Segundo as Orientações Curriculares da Prefeitura de São Paulo, pensar sobre a localidade é uma aprendizagem significativa que vai além dos aspectos cognitivos dos envolvidos no processo, mas "está intimamente ligada a suas referências pessoais, sociais e afetivas". Relacionar a história cotidiana a outros períodos é uma ótima opção para trabalhar a localidade. Por meio de mapas antigos ou mesmo de fotografias de diferentes épocas, os alunos das séries iniciais podem comparar as alterações feitas na cidade ao longo do tempo - o que pode ser feito por meio de antigos mapas e mesmo fotografias de diferentes períodos históricos do município. “No caso dos mapas, uma análise comparativa das principais transformações pode estimular a garotada a distinguir e dar nome aos espaços, com termos como rural e urbano", explica Dora Martins Dias e Silva, autora de livros didáticos. A visualização dessas transformações também pode auxiliar na compreensão mais abstrata dos conceitos de mudança e permanência. Neste link, você encontra imagens da construção de Brasília e como ela está hoje que podem ser usadas para a observação das mudanças. O ideal é que os estudantes estejam em contato com a maior diversidade de materiais possível: fotografias, pinturas, esculturas, filmes. Mas o trabalho não deve se esgotar somente na observação. Por meio dessas fontes históricas, os alunos aprendem também a tirar conclusões e questionar os dados fornecidos. Qual a relação entre os personagens retratados? Que lugar é retratado? Como esse lugar se encontra nos dias atuais? Quem é o autor? De que época ele é? Essas são perguntas que ajudam a turma a analisar e confrontar o passado e o presente, e não apenas vê-los sob uma ótica cronológica. Para estimular o espírito crítico da criançada, é importante refletir sobre os conteúdos dos livros didáticos e apresentá-los como uma das muitas formas de se contar a História, seja do tempo presente, ou passado. PRETO FÊNIX – Morro Grande – Araruama – RJ = Pedro & Liz, o Papai ama vocês = Maio de 2019 12ª Semana AULA 14 DA PLATAFORMA + VÍDEO Aula 23 do Livro Texto: A cidade do Rio de Janeiro no Período Colonial Introdução Especialmente no contexto das Séries Iniciais, é extremamente importante que se parta da realidade do aluno para a elaboração do conhecimento sistematizado sobre a sociedade. Como sabemos, as noções de tempo e de espaço não se encontram totalmente desenvolvidas, amadurecidas nos alunos nesse momento da escolaridade básica. A História local, nesse sentido, pode ser uma importante estratégia de ensino da História, considerando que ela torna possível a utilização das vivências dos alunos para dar significado ao ensino-aprendizagem de conteúdos mais abstratos. Cada um de nós, em sua prática docente, trabalha em realidades muito distintas, o que inviabiliza o estudo de todas as possibilidades de utilização da História local. Assim, utilizaremos como base de análise dessa estratégia a História da cidade do Rio de Janeiro, estabelecendo diretrizes que poderão ser aplicadas a outros contextos. AS ORIGENS DA FUNDAÇÃO DA CIDADE DE SÃO SEBASTIÃO DO RIO DE JANEIRO Começaremos por entender o que significa carioca. Quando a expedição de Martim Afonso de Souza esteve no Rio de Janeiro em 1531, foi construída uma casa de pedra para lhes servir de abrigo. Esta casa, localizada na atual Praia do Flamengo, foi chamada pelos tamoios de “carioca” que, em nossa língua, significa casa de branco. Assim, o nome passou para o rio que deságua na Baía da Guanabara e, posteriormente, para os habitantes da cidade que ali se fundaria. O início da ocupação ocorreu por volta de 1504, quando o navegador português Gonçalo Coelho desembarcou na baía que recebeu o nome Baía de Guanabara, a mando do rei de Portugal, D. Manuel. O interesse do rei de Portugal era fazer o reconhecimento da costa. Em 1534, com a criação do sistema de Capitanias Hereditárias, essa região passou a fazer parte da Capitania de São Vicente, doada a Martim Afonso de Souza. As principais atividades econômicas da região eram a extração do pau-brasil e, a partir de 1530, a produção de açúcar. Havia, também, a produção de gêneros alimentícios como mandioca, milho, arroz e feijão. RESUMO DO LIVRO: Antes da chegada dos portugueses, diversos comerciantes europeus já negociavam pau-brasil com os índios através de escambos. A partir de 1530, Martim Afonso de Souza tentou desenvolver a cidade. Porém, em 1555 os huguenotes fundaram na região do Rio de Janeiro a França Antártica. Estácio de Sá fundou uma “nova” cidade denominada São Sebastião do Rio de Janeiro a partir da qual promoveu a expulsão dos franceses (1567) com a ajuda dos índios temiminós, chefiados por Araribóia. Por outro lado, a partir da expansão e crescimento da cidade nota-se uma forte presença de ordens religiosas. Já no século XVIII houve um grande desenvolvimento das Minas Gerais, e o porto do Rio de Janeiro, devido ao fato de ser ponto de escoamento de ouro e diamantes, motivou a transferência da capital de Salvador para o Rio de Janeiro. Com essa nova capital correu uma expansão do comércio, aumento demográfico etc. Mas foi no século XIX que a cidade do Rio de Janeiro se desenvolveu mais, teve um maior impulso com a transferência da Corte em 1808. Várias mudanças culturais e econômicas ocorreram. O Brasil foi elevado à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves e, evidentemente, isso tudo trouxe mais desenvolvimento econômico e cultural ao Rio de Janeiro. PRETO FÊNIX – Morro Grande – Araruama – RJ = Pedro & Liz, o Papai ama vocês = Maio de 2019 No entanto, a região da Guanabara não se destacava apenas por sua produção agrícola e extrativista, mas, também, por sua posição estratégica para o controle da navegação do Atlântico Sul. Além disso, a região oferecia condições favoráveis para o atracamento de navios, isso porque as águas eram mais tranqüilas (em comparação com o mar aberto) e os morros que contornavam a baía, como o Cara de Cão (atual São João) e o Pão de Açúcar, ofereciam boa visibilidade aos portugueses, o que favorecia a defesa da região. A FRANÇA ANTÁRTICA E A FUNDAÇÃO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO Em 1555, os HUGUENOTES franceses tentaram fundar no Rio de Janeiro uma colônia – a França Antártica. Devido às perseguições que vinham sofrendo em seu país, o almirante Gaspar de Coligny, chefe dos huguenotes, aprovou o plano de Nicolau Durand de Villegagnon de fundar uma colônia no Brasil. Sendo assim, chegaram os franceses na Baía de Guanabara e ocuparam várias ilhas – as atuais ilhas Laje e Villegagnon – situadas a pequena distância da entrada da barra, onde foi erguido o Forte Coligny. A existência do forte e a chegada crescente de colonos – em 1557, chegaram por volta de 300 – punham em risco a posse portuguesa sobre essas terras da América. A permanênciados franceses na Guanabara criaria uma divisão territorial da Colônia portuguesa, pois separaria as capitanias que ficavam ao norte daquelas localizadas ao sul do Rio de Janeiro. Estácio de Sá, ao desembarcar entre os morros Cara de Cão e Pão de Açúcar, no primeiro dia de março de 1565, fundou um pequeno povoado para abrigar suas tropas, dando início à “nova” cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. No início esse local chamou-se São Sebastião, em homenagem ao rei de Portugal. Foi a partir deste ponto que se travou a luta para expulsar os franceses. Após as primeiras derrotas, os franceses remanescentes refugiaram-se nas matas do interior da Baía da Guanabara e, com o auxílio dos índios tamoios, tornaram a ocupar a ilha de Serigipe (Villegagnon) e se instalaram junto ao atual morro da Glória e em vários pontos da ilha de Paranapuã (atual Governador). Em 1567, entretanto, os franceses foram definitivamente expulsos pelas tropas de Estácio de Sá com a ajuda dos índios temiminós, chefiados pelo cacique Araribóia, aliado dos portugueses. O contexto de expulsão dos franceses pode ser útil, também, para discutir a valorização histórica dada a vencedores e vencidos, a partir do tratamento dado aos tamoios e aos temiminós. O CRESCIMENTO E A EXPANSÃO DA CIDADE Aos poucos a cidade foi se expandindo. Ao longo do século XVII, construções religiosas seriam erguidas no topo e encostas de alguns destes morros. A presença dessas ordens religiosas expressava a influência ideológica exercida pela religião católica, influência esta pautada no domínio econômico através da produção agrícola, pastoril e do acúmulo de propriedades imobiliárias. Dessas capelas e mosteiros devem ser lembrados como os mais antigos: o mosteiro (1620) e a igreja de São Bento (1642), a capela da Conceição (1634), a igreja de São Francisco da Prainha (1696), na encosta do morro da Conceição voltada para o mar, e a capela de Nossa Senhora do Livramento (1670). CAPITANIAS HEREDITÁRIAS: foram criadas para povoar, desenvolver, defender e controlar a administração da Colônia. HUGUENOTES: Eram protestantes franceses seguidores do calvinismo. Devido à Reforma Protestante, eles estavam sendo perseguidos na França. PRETO FÊNIX – Morro Grande – Araruama – RJ = Pedro & Liz, o Papai ama vocês = Maio de 2019 No século XVIII, a atividade mineradora nas Minas Gerais promoveu grandes mudanças na cidade do Rio de Janeiro, estimulando tanto a expansão geográfica quanto o crescimento demográfico da cidade. A abertura do Caminho Novo ligava a região das Minas Gerais diretamente ao Rio, que assim se transformava em movimentado ponto de intercâmbio entre aquela região e Portugal. O porto do Rio passou a ser visitado regularmente por navios portugueses, exportando ouro e diamantes e recebendo gêneros alimentícios, tecidos e escravos. Com a transferência da capital de Salvador para o Rio de Janeiro em 1763, a cidade desenvolveu-se urbanisticamente, assumindo sua nova função político-administrativa e tornando- se, no final do século XVIII, o principal centro urbano da Colônia. A CORTE NO RIO DE JANEIRO Sem dúvida, a mineração e a elevação da cidade a capital da Colônia proporcionaram grande progresso material à cidade do Rio de Janeiro no século XVIII. Mas foi a transferência da Corte portuguesa para o Brasil no século XIX que deu um grande impulso à produção cultural da cidade, além de acarretar uma considerável reorganização administrativa. D. João VI chegou ao Brasil em 1808 com a família e mais uma comitiva composta de 10 mil a 15 mil pessoas, causando problemas em função do alojamento da grande comitiva,, onde as melhores residências da cidade foram cedidas aos altos funcionários da Corte. Algumas medidas de caráter econômico foram tomadas, dentre elas, a “Abertura dos Portos às Nações Amigas”. Essa medida trouxe ao Brasil um grande número de comerciantes, cientistas e curiosos de várias partes do mundo. Muitos hábitos e costumes se modificaram profundamente com a instalação de D. João VI e sua Corte no Brasil. Ao lado das mudanças econômicas, o Brasil passou também por algumas alterações políticas nessa época. Em 1815, a Colônia tornou-se Reino Unido a Portugal e Algarves, primeiro passo em direção à efetiva emancipação política. Várias medidas administrativas tomadas durante a permanência de D. João VI deram feição mais moderna ao Brasil e estimularam certo progresso: criação de escolas e academias militares, tipografia, Banco do Brasil, museu, biblioteca, Jardim Botânico etc. Todas as realizações de D. João VI no plano cultural estavam marcadas pela mentalidade colonialista e não tinham preocupação de beneficiar o povo. Eram medidas destinadas à satisfação das elites sociais, cujo desejo era europeizar o Brasil. Assim, as transformações realizadas com a vinda da Corte portuguesa não alteraram a vida de miséria da maioria da população. CONCLUSÃO: Com certeza a fundação da cidade do Rio de Janeiro por Estácio de Sá foi bem diferente daquela feita pelos huguenotes (protestantes franceses). Tanto os portugueses quanto os franceses tinham interesses econômicos e estratégicos na região. Após a expulsão dos franceses por Estácio de Sá em 1565, o Morro do Castelo passou a ser o local de sede da cidade. Houve assim uma outra fundação da cidade gerando ao redor do morro o estabelecimento das autoridades militares, civis e religiosas. A partir do início do século XVII houve uma expansão e crescimento da cidade. Informações da época atribuem ao Rio de Janeiro uma população de cerca de 4.000 pessoas, sendo a maioria composta por índios, 750 portugueses e somente 100 africanos escravos. Porém, o maior poder ainda cabia à Igreja Católica, fato que ficava denunciado na arquitetura, com muitos prédios religiosos no século XVII. Mas, sem dúvida nenhuma, o maior boom da cidade foi com a chegada da Corte portuguesa em 1808. D. João VI mandou criar academias militares, científicas e artísticas, fundou o Banco do Brasil, o Jardim Botânico e muitas outras instituições. A partir do início do século XIX, a cidade se tornou cada vez mais assistida e europeizada PRETO FÊNIX – Morro Grande – Araruama – RJ = Pedro & Liz, o Papai ama vocês = Maio de 2019 12ª Semana AULA 14 DA PLATAFORMA Aula 24 do Livro Texto: A cidade do Rio de Janeiro no Período Imperial A CIDADE DO RIO DE JANEIRO APÓS A INDEPENDÊNCIA A declaração de Independência do Brasil (1822) não alterou a vida da cidade do Rio de Janeiro como ocorrera com a chegada da Corte portuguesa, em 1808. A família real continuou morando na Quinta da Boa Vista. O país herdou uma economia extremamente dependente da Inglaterra e, também, uma enorme desigualdade social, já que a escravidão, mesmo com as pressões internacionais, foi mantida. De fato, apenas uma mudança na estrutura jurídico-política da época ocorreu: o Brasil deixou de ser uma colônia de Portugal. Mas, lembre-se: esse episódio não provocou nenhuma alteração na ordem econômico-social – continuamos a ter uma economia agrário-exportadora baseada na escravidão. No âmbito das Séries Iniciais seria interessante, portanto, discutir o significado de independência a partir da identificação das inúmeras exclusões que permanecem após o rompimento com Portugal, como, por exemplo, a exclusão proporcionada pela escravidão e pelo voto censitário. O Primeiro Reinado foi marcado por uma crise econômico-financeira. Não havia mais produto agrícola se destacando e muito menos ouro. Não se processava a industrialização no país. Em 1831, D. Pedro I, diante da falta de apoio militar e político, abdicou do trono brasileiro em favor de seu filho Pedro, então com cinco anos. Iniciou-se assim o período regencial e o Rio de Janeiro permaneceu sendo a capital – o centro das decisões políticas e administrativas – do Império. A Regência se caracterizaria como um período conturbado, marcado pela “desordem” e por convulsõessociais. Diversas revoltas estouram no país inteiro, como: a Cabanagem (Grão-Pará, 1835-1840); a Balaiada (Maranhão e Piauí, 1838-1841), a Sabinada (Bahia, 1837-1838); a Revolta dos Malês (Bahia, 1835); a Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha (Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, 1835-1845). Todas essas revoltas originaram-se em crises econômicas locais e em uma demanda por maior descentralização política, ou seja, maior autonomia para as províncias. Temendo que a instabilidade política e econômica propiciasse a fragmentação territorial, a elite política brasileira rapidamente se articulou em prol da antecipação da maioridade do imperador – o Golpe da Maioridade. Assim, em 1840, D. Pedro II foi coroado imperador, embora não tivesse RESUMO DO LIVRO: O desenvolvimento urbano da cidade do Rio de Janeiro esteve relacionado, ao longo do século XIX, a sua condição de centro econômico, político, financeiro e cultural do Período Imperial (1822-1889). A partir de 1840, o desenvolvimento cafeeiro no Vale do Paraíba – que escoava sua produção pelo porto do Rio de Janeiro – viabilizou o surgimento dos “barões do café”, com enorme influência nos negócios e na política da capital. O dinheiro originado da produção do Vale do Paraíba permitiu a expansão, embelezamento e melhoramento dos serviços urbanos na cidade do Rio de Janeiro (instalação de iluminação a gás, saneamento, melhoria dos transportes). A vida social cada vez mais se intensificou na Corte. A aristocracia participava de cerimônias públicas, religiosas ou de festas de salão. Já o povo participava de festas religiosas ou profanas. Nas ruas do centro do Rio havia luxo e riqueza (armazéns, confeitarias, barbearias, lojas de tecidos fi nos, de luvas, cristais etc.), mas havia, também, casas pobres como os cortiços e casas de cômodo que começavam a surgir. Sede de importantes instituições de ensino, de cultura e de memória, a cidade manteve seu papel de centro cultural do país mesmo após a proclamação da República. PRETO FÊNIX – Morro Grande – Araruama – RJ = Pedro & Liz, o Papai ama vocês = Maio de 2019 ainda quinze anos completos. Era o início do Segundo Reinado, que só terminaria com a Proclamação da República (1889). A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL: O REFLEXO NA CORTE Após a Independência, tanto o governo regencial quanto o de D. Pedro II se preocuparam em manter o Brasil unido, em ordem – segundo os padrões da elite da época –, e em construir uma identidade nacional. Para isso, foram criadas no Rio de Janeiro instituições vinculadas à memória, à história e à educação. Em 1826, foi criada a ACADEMIA IMPERIAL DE BELAS ARTES, que colaborou para a formação da identidade nacional. A Academia procurava garantir aos artistas formações científica e humanística, além de treinamento no ofício (aulas de desenho e cópia de moldes). Durante o reinado de D. Pedro II, artistas acadêmicos foram responsáveis pela elaboração de diversos retratos do imperador, pelo registro de comemorações oficiais e pela construção de uma memória romântica da nação. Em 1837, foi criado o Imperial Colégio Pedro II e, em 1838, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e o Arquivo Público do Império. O Imperial Colégio Pedro II foi o primeiro colégio de instrução secundária oficial do Brasil, caracterizando-se como importante elemento de construção do projeto civilizatório do Império, de fortalecimento do Estado e formação da nação brasileira. O IHGB deveria escrever uma História do Brasil ressaltando valores ligados à unidade nacional e à centralização política, construindo a idéia de que éramos uma sociedade brasileira branca e européia. Os objetivos da instituição – “coligir, metodizar, publicar ou arquivar os documentos necessários para a História e a Geografia do Brasil” – foram estabelecidos no Art. 1º do Estatuto de 1838 e são mantidos até a atualidade. Os lugares de memória não se limitam a instituições como o IHGB e o Arquivo Público. Museus, espaços públicos históricos e construções antigas podem também ser assim reconhecidos. É interessante notar, também, que o modelo de ensino seguido é o europeu. Assim, na sua origem, o ensino no Brasil é pensado para poucos, o que pode ser comprovado pela própria exigência de pagamento de anuidade na única instituição secundária do Império. AS REPERCUSSÕES DA EXPANSÃO DO CAFÉ NA CORTE Inicialmente, o café – chamando “ouro verde” devido à enorme riqueza que a economia cafeeira trouxe para o país – era uma planta exótica de quintal, originária da Etiópia. Veio para o Brasil trazida pelo militar Francisco Palheta. Foi no Rio de Janeiro que o café se desenvolveu e se expandiu, alcançando a Baixada Fluminense e, em seguida, o Vale do Paraíba, onde havia um clima propício e terras disponíveis para a lavoura cafeeira. A Floresta da Tijuca, também, era área de um antigo cafezal. Com a riqueza trazida pelo “ouro verde” surgem os “barões do café” no Vale do Paraíba fluminense, que tinha como centros mais importantes Vassouras, Resende, Barra Mansa, Valença e Cantagalo. Aqueles cafeicultores tornaram-se importantes, não só como produtores de café e donos de terras e escravos, mas como aliados do governo imperial e defensores do sistema escravista. Através do Campo de Santana, ligavam-se os bairros antigos aos novos; nele existiam as igrejas de Santana e São Jorge e várias edificações governamentais como o Quartel do Exército, o Senado, a Câmara Municipal, a Central do Corpo de Bombeiros e a Casa da Moeda. O Campo de Santana tornou-se, assim, a praça mais importante do Império, tomando o lugar do antigo Largo do Carmo (atual Praça XV), onde se localizava a principal sede da colônia e do período joanino. Cabe acrescentar que não foi à toa que a República brasileira foi proclamada em uma casa ao lado do Campo de Santana, ou seja, na própria residência do marechal Deodoro da Fonseca. Depois desse episódio, o Campo passou a chamar-se Praça da República. PRETO FÊNIX – Morro Grande – Araruama – RJ = Pedro & Liz, o Papai ama vocês = Maio de 2019 Durante o percurso do século XIX, mais alguns prédios que embelezam o Rio de Janeiro até hoje foram construídos. São eles o Palácio da Ilha Fiscal; a Casa de Rui Barbosa, na Rua São Clemente; o Hospital da Santa Casa da Misericórdia; o Palácio do Itamaraty, na Avenida Marechal Floriano; o Palácio do Catete; a Estação das Barcas, na Praça XV; o Hospital da Beneficência Portuguesa, na Glória; o Hospital dos Alienados, na Urca (atual campus da Praia Vermelha da Universidade Federal do Rio de Janeiro), além, é claro, dos quiosques espalhados por toda a cidade. Durante o Segundo Reinado (1840-1889), a economia brasileira se expandiu graças à economia cafeeira. O Brasil se modernizou construindo ferrovias, ampliando a iluminação a gás das cidades, assim como o saneamento e a rede de transportes. Diversas dessas transformações urbanas ocorreram, principalmente, nas cidades do sudeste, particularmente no Rio de Janeiro e em São Paulo. O centro da cidade do Rio de Janeiro abrigava pequenas fábricas, mas com o desenvolvimento surgiram indústrias em outros bairros, como por exemplo, a Fábrica Confiança, em Vila Isabel, em 1885. Ainda no centro da cidade surgiram inúmeros cortiços e casas de cômodos, pois era lá que havia as maiores ofertas de trabalho. Por isso, as famílias pobres e os trabalhadores precisavam morar próximos a essa região, como nas ruas do Riachuelo, Camerino, Visconde de Inhaúma, Barão de São Félix etc. Em geral, esses habitantes eram imigrantes europeus, africanos ou brasileiros libertos da escravidão. A partir da segunda metade do século XIX, “a marcha do café” atinge o oeste paulista. O oeste paulista investirá em novas tecnologias de beneficiamento do produto, no incentivo à vinda de imigrantes como mão-de-obra para trabalhar nas lavouras de café, assim como na expansão da malha ferroviária para escoar o produto até Santos. Das iniciativaspioneiras temos a inauguração da Estrada de Ferro D. Pedro II (atual Central do Brasil), que ligou a Corte às províncias de São Paulo e Minas Gerais. A cidade mais desenvolvida do Império era o Rio de Janeiro. Nas duas últimas décadas do século XIX também cresceram outras cidades brasileiras, como São Paulo, Recife e Porto Alegre. Era na cidade do Rio de Janeiro que tudo acontecia no Império, como, por exemplo, a Primeira Exposição Nacional em 1861, mostrando e exibindo à população o caráter moderno e civilizado da monarquia brasileira. A VIDA NA CORTE Uma das ruas mais importantes do Rio de Janeiro era a do Ouvidor, onde ficavam as melhores lojas de tecidos e produtos importados. A vida na Corte proporcionava à elite um padrão europeu, ou seja, o domínio da conversação, o conhecimento do francês, a polidez, a elegância no vestir, as festas nos salões reservados e as compras de importados na rua do Ouvidor etc. No Império, a vida social foi muito influenciada pelas festas religiosas, públicas ou oficiais. Dentre as festas religiosas tínhamos no Rio de Janeiro, por exemplo, a festa da Glória e a da Penha. Havia missa, queima de fogos de artifício, barraquinhas, leilões de prendas etc. Outro tipo de festa era o carnaval, visto pela elite e pela Igreja como uma festa bárbara (não utilizada). Eram três dias de festa, onde tanto homens livres quanto escravos poderiam ser molhados e sujos pelos participantes do entrudo (festa popular que antecedia a quaresma/deu origem ao carnaval). A chamada boa sociedade, ou seja, a elite econômica, política e cultural do Império, foi criando aos poucos outros espaços de sociabilidade, como as festas de salão, que aconteciam dentro das casas das famílias de posses. Nelas havia jogos, dança, músicas e passatempos; combinavam-se negócios, casamentos e candidaturas políticas. Na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, várias vezes a prefeitura baixou posturas proibindo o entrudo, sob a alegação de que era um atentado aos bons costumes e à segurança pública. Nenhuma dessas medidas, porém, teve efeitos práticos (FREIRE, AMÉRICO e outros, 2004). PRETO FÊNIX – Morro Grande – Araruama – RJ = Pedro & Liz, o Papai ama vocês = Maio de 2019 A boa sociedade encontrava-se, também, no teatro, em lojas e confeitarias da Rua do Ouvidor, o lugar mais importante da cidade para a convivência de políticos e senhoras elegantes da Corte. Além disso, havia os concertos ao ar livre, as regatas e as corridas de cavalos, D. Pedro II preocupou-se, também, em remodelar espaços públicos da Corte como o Passeio Público, a Praça da República (naquela época, Praça da Aclamação) e a Quinta da Boa Vista. Ainda no Rio de Janeiro, resolveu colocar estátuas e chafarizes franceses em diversos parques e jardins. Conclusão: Você estudou como a História do Brasil foi se entrelaçando com a História da Corte da cidade do Rio de Janeiro – palco dos mais importantes episódios políticos e econômicos. Ao fi nal do século XIX, a cidade já estava bastante urbanizada e desenvolvida. Em 1888, a princesa Isabel assinou a Lei Áurea e encerrou defi nitivamente a chaga da escravidão em nosso país. O Império, que sempre fora apoiado pelo sistema escravista, sofreu um enorme abalo, o que já vinha ocorrendo desde 1850 com os decretos das leis abolicionistas. A isso veio se somar o surgimento de novas forças econômicas e políticas, como os cafeicultores paulistas, as camadas médias urbanas e os militares. Além disso, nosso imperador estava fragilizado e doente. O Rio de Janeiro foi novamente cenário da última aparição pública do imperador e de sua família, no que veio a ser chamado “O último baile do Império”, realizado na Ilha Fiscal, na baía de Guanabara, em 11 de novembro de 1889. Tal baile foi uma homenagem à Marinha chilena. Nesse evento D. Pedro II recebeu muitos convidados, entre eles diversos estrangeiros, parecendo ignorar a ebulição já reinante no país. No dia seguinte o imperador deixou o Rio e foi para Petrópolis. No dia 15 do mesmo mês as tropas do Exército cercaram o Ministério da Guerra e exigira a demissão do visconde de Ouro Preto. Com todas as mudanças políticas e econômicas que vinham ocorrendo, a monarquia brasileira não resistiu, e o desfecho desse processo ocorreu em 15 de novembro de 1889, quando Deodoro da Fonseca proclamou a República, na cidade do Rio de Janeiro. A população do Rio de Janeiro não se opôs à queda da monarquia, mas, assim como todo o Brasil, assistiu sem participar ao golpe militar que implantou a República em nosso país. PRETO FÊNIX – Morro Grande – Araruama – RJ = Pedro & Liz, o Papai ama vocês = Maio de 2019 14ª Semana AULA 16 DA PLATAFORMA Aula 18 do Livro Texto: Mundo contemporâneo e a constituição da(s) identidade(s): a questão da orientação sexual Introdução Vivemos em um mundo em que não é possível mais pensar o sujeito de forma simplista, homogênea e constante. A consciência das múltiplas facetas da constituição dos sujeitos e da dimensão sócio-histórica desse processo trouxe à tona a discussão sobre a complexidade, a heterogeneidade e a mutabilidade, como princípios inerentes à percepção das identidades. Diversos valores socialmente considerados normais foram criticados pelo movimento da contracultura na década de 1960. O próprio conceito de normalidade passou a ser debatido, com ênfase na sua construção histórica. Mas o que se criticava? Dentre outras coisas, os papéis socialmente determinados de homem e mulher; o conceito fechado de família; o casamento indissolúvel, heterossexual e monogâmico; o culto à virgindade feminina; a visão pecaminosa do sexo; a sociedade de consumo; o racismo etc. Questionava-se, em suma, o padrão ético, moral e burguês da classe média ocidental. Como não poderia deixar de ser, esses questionamentos ganharam diferentes dimensões, atuando na percepção das manifestações de gênero e da sexualidade. Por isso, a discussão sobre a inclusão da temática da sexualidade na escola intensificou-se, justamente, a partir da década de 1970, quando o embate dessas questões se acirrou. Foi no desdobramento dessas discussões que os PCN acolheram a Orientação Sexual como tema transversal. OS OBJETIVOS PARA A ORIENTAÇÃO SEXUAL A sexualidade é inerente (ligado) à vida e à saúde, expressando-se desde cedo nos seres humanos. Nesse sentido, os PCN consideram que o objetivo primordial do tema transversal Orientação Sexual é “contribuir para que os alunos possam desenvolver e exercer sua sexualidade com prazer e responsabilidade” (BRASIL, 2000, p. 133). Constata-se, portanto, que o tema vincula- se ao próprio exercício da cidadania, na medida em que promove o respeito por si e pelo outro, e, defende o conhecimento e o acesso aos direitos básicos de todos os cidadãos. Vários são os objetivos específicos da Orientação Sexual para o Ensino Fundamental. Primeiro, destaca-se o respeito à diversidade de valores, crenças e comportamentos existentes relativos à sexualidade e ao reconhecimento de que as características socialmente atribuídas ao masculino e ao feminino são também determinações culturais. Sendo assim, preconiza-se (sugerir/aconselhar) a rejeição, a discriminação por diferenças de gênero e de orientação sexual. Cabe também ressaltar a importância da compreensão de que a busca do prazer é uma dimensão saudável da sexualidade humana; contudo, o consentimento mútuo é condição Observe que no Brasil, a construção histórica da conduta sexual está marcada pela ideologia de gênero patriarcal que embasa os binômios feminino/passivo e masculino/ativo; pela ideologia judaico-cristã que apresenta o casamento, a monogamia e o sexo procriativo como opção única; e pelo discurso da higiene social do século XIX que definiu a sexualidade saudável/normal (heterossexual) e a não saudável/patológica (homossexual). Essas matrizes ideológicas legitimam ou condenamas manifestações da sexualidade tanto no âmbito do gênero quanto no da orientação sexual. Nunca podemos perder de vista essa percepção quando discutimos a sexualidade. PRETO FÊNIX – Morro Grande – Araruama – RJ = Pedro & Liz, o Papai ama vocês = Maio de 2019 necessária para seu usufruto em uma relação a dois. Por fim, a Orientação Sexual deve contribuir para que o aluno: proteja-se de relacionamento sexuais coercitivos e exploradores; conheça seu corpo, percebendo que o cuidado com a saúde é condição para usufruir de prazer sexual; adote práticas de sexo protegido nos relacionamentos sexuais, evitando contrair ou transmitir doenças sexualmente transmissíveis; respeite os portadores das doenças sexualmente transmissíveis, notadamente os portadores do HIV; busque orientação para a adoção de métodos contraceptivos quando desejar O tema transversal Orientação Sexual deve ser trabalhado, de acordo com os PCN, em três blocos de conteúdos: corpo, relações de gênero e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. Os PCN apresentam para cada bloco um conjunto de conteúdos básicos a serem tratados e orientações didáticas de caráter geral e específico. A seleção de temáticas – como toda seleção – foi norteada por certos critérios: a relevância sociocultural do conteúdo para a contemporaneidade; a dimensão biológica, psíquica e sociocultural da sexualidade; e a possibilidade de conceber a sexualidade de forma saudável, prazerosa e responsável. SEXUALIDADE, SEXO, GÊNERO E ORIENTAÇÃO SEXUAL No contexto dos embates políticos e teóricos que se travaram a partir do século XIX, certos conceitos foram sendo elaborados e amadurecidos. O aprofundamento da discussão sobre a sexualidade na escola, portanto, exige o conhecimento dessa base conceitual, historicamente construída. Sexualidade A sexualidade sempre foi um tema polêmico nas sociedades. No final do século XIX, entretanto, o debate do comportamento sexual no mundo ocidental tornou-se tão destacado que propiciou o surgimento da disciplina Sexologia, tendo como bases a Psicologia, a Biologia e a Antropologia. O pioneiro da Sexologia, RICHARD VON KRAFFT-EBING, descreveu o sexo como um instinto natural, evidenciando a influência do darwinismo naquele período histórico. Hoje sabemos, contudo, que a sexualidade humana é muito mais do que o corpo e o instinto. Na verdade – por mais que se tenha tentado naturalizar a sexualidade humana –, ela é fruto de um complexo processo histórico, sendo, portanto, uma construção social (visão construcionista). Assim, a sexualidade é o conjunto de “crenças, comportamentos, relações e identidades socialmente construídas e historicamente modeladas” (WEEKS apud LOURO, 2001, p. 43) que se relacionam com o corpo e seus prazeres. Gênero e Sexo O conceito de gênero está intimamente ligado ao movimento feminista contemporâneo. Após a primeira onda de reivindicações das mulheres na virada do século XIX para o XX, identificada com a luta pelo direito ao voto (sufragismo), o movimento feminista sofreu uma certa acomodação. Na década de 1960, entretanto, ele eclodiu, com imensa força, incorporando as preocupações sociais e políticas a estudos acadêmicos, o que propiciou uma elaboração teórica sobre o tema. Nesse contexto, o termo gênero surgiu para ampliar os sentidos impostos pelo limites do conceito de sexo. Para compreender “o lugar e as relações de homens e mulheres numa sociedade, importa observar não exatamente seus sexos, mas tudo o que socialmente se constituiu sobre os O termo sexo, até meados do século XX, concentrava a percepção das diferenças entre homens e mulheres, apenas a partir da diferenciação anatômica/fisiológica. PRETO FÊNIX – Morro Grande – Araruama – RJ = Pedro & Liz, o Papai ama vocês = Maio de 2019 sexos” (LOURO, 2004, p. 21). Assim, feministas anglo-saxãs passaram a utilizar a palavra gender (gênero) com sentido distinto de sex (sexo). O conceito de gênero, portanto, planeja a diferenciação entre homens e mulheres na dimensão social, centrando foco na constituição da identidade masculina e feminina. Implicou, por exemplo, a percepção de que diversas instituições e práticas sociais – como a educação e a escola – formam homens e mulheres ao longo da vida. A compreensão de gênero também facilitou a percepção de que existem muitas e conflitantes formas de definir e viver a feminilidade e a masculinidade. Nesse caso específico, ressalta-se que há uma articulação do gênero com outros construtores da identidade do sujeito: classe, etnia, sexualidade, geração, religião e nacionalidade. Essa articulação promove diferenças nas formas que a feminilidade e a masculinidade operam. Lembre-se, por exemplo, do mito da hipersexualidade dos homens negros e da fascinação da chamada “sexualidade exótica” das mulheres orientais, registradas enfaticamente na literatura ocidental. A esse complexo cenário do gênero, gradativamente, veio somar-se o debate sobre os transgêneros – entendidos como homens no sentido fisiológico, mas que se relacionam com o mundo como mulher (ou vice-versa) – e os transexuais – aqueles que “não aceitam o sexo que ostentam anatomicamente” (BRASIL, 2004, p.30), justificando o desejo pela cirurgia de transgenitalização. Orientação/Identidade sexual No artigo “Sem medo da diversidade sexual”, Anna Cláudia Ramos dialoga com os pais sobre suas reações caso um filho se afirmasse gay. A autora aconselha os pais a olharem “seus filhos como indivíduos” – logo, com direito a identidade própria – e alerta que “(...) o amor não deveria incomodar. Mas sim a hipocrisia, a mentira, a falta de respeito pelo próximo e a corrupção” Outro aspecto interessante é que o direito à vivência livre da identidade se encontra associado à idéia de que a sociedade está em transformação e evolução. Novos tempos são portadores, portanto, de novos valores, novas moralidades, novos princípios que legitimam outros comportamentos. O artigo trata, portanto, não de uma questão da fisiologia sexual ou de gênero, mas de uma questão que envolve a orientação ou identidade sexual. Orientação/identidade sexual são termos que vão conceituar a sexualidade no âmbito do desejo. Em outras palavras, a identidade de alguém em função da direção de seu desejo e/ou condutas sexuais. Assim, aqueles que orientam sua afetividade e sexualidade para indivíduos do mesmo sexo, do sexo oposto ou de ambos os sexos são, respectivamente, homossexuais, heterossexuais e bissexuais. Embora existam no âmbito das distinções de sexo o homem (macho) e a mulher (fêmea), podemos identificar três identidades de gêneros: a masculina, a feminina e a dos transgêneros (travesti e transexual). Por outro lado, a identidade sexual/orientação sexual pode ser hetero, homo ou bissexual. Entre os transgêneros estão: travestis, transformistas, drag kings e drag queens. Os travestis constroem seus corpos em busca de um feminino que não abdica de características masculinas (ou vice–versa), fluindo entre esses pólos. Já os transformistas são homens e mulheres que se vestem e se comportam, respectivamente, como mulheres e homens, buscando transformar-se, o mais proximamente, no sexo oposto. Drag kings e drag queens se diferenciam dos travestis pela forma caricata, exagerada na maquiagem e nos trejeitos, que apresentam, apenas, em momentos e locais específicos. A utilização da expressão opção sexual é atualmente questionada por reforçar os preconceitos. Ao reforçar a idéia de escolha, essa expressão responsabiliza o sujeito por sua orientação sexual. Nesse sentido, divulgou-se o uso dos termos orientação ou identidade sexual como forma de demarcar que se trata da manifestação da construção social da identidade do sujeito e não de uma escolha aleatória. PRETO FÊNIX – Morro Grande – Araruama – RJ = Pedro & Liz, o Papai ama vocês = Maio de 2019 CONQUISTANDO A CIDADANIA Embora as práticas homossexuais tenham existido
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