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Frederico César de Oliveira Eliane Mendonça Marquez de Rezende Marcelo de Souza e Silva Sandra Mara Dantas Projeto colonizador no Brasil Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central Uniube P943 Projeto colonizador no Brasil / Frederico César de Oliveira ... [et al.]. – Uberaba : Universidade de Uberaba, 2017. 176 p. : il. Programa de Educação a Distância – Universidade de Uberaba. Inclui bibliografia ISBN 978-85-7777-718-1 1. Brasil – História. 2. Colonização. I. Oliveira, Frederico César de. II. Universidade de Uberaba. Programa de Educação a Distância. III. Título. CDD 981 © 2017 by Universidade de Uberaba Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Universidade de Uberaba. Universidade de Uberaba Reitor Marcelo Palmério Pró-Reitor de Educação a Distância Fernando César Marra e Silva Coordenação de Graduação a Distância Sílvia Denise dos Santos Bisinotto Projeto da capa Agência Experimental Portfólio Edição Universidade de Uberaba Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário Sobre os autores Eliane Mendonça Marquez de Rezende Mestre em História do Brasil pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Especialista em Educação Brasileira pela Faculdade de Educação da UFG. Professora do curso de História da Universidade de Uberaba (Uniube). Integrante da Equipe de Educação a Distância (EAD) da Uniube. Frederico César de Oliveira Licenciado em História pela Universidade Uberaba (Uniube). Pós-Gra- duado em Educação a Distância pela Uniube e Ensino de Artes Visuais pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Marcelo de Souza e Silva Doutor em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Graduado e Mestre em História pela Universidade Estadual Pau- lista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), campus Franca. Já foi membro do Conselho Superior do Arquivo Público e do Conselho do Patrimônio Histórico e Artístico de Uberaba. É autor de vários artigos sobre história do Brasil, publicados em revistas e na internet. IV UNIUBE Sandra Mara Dantas Doutora em História Social pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), campus Franca. Graduada e Mestre em História pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Atuou no ensino funda- mental e médio da Educação Básica. Atualmente é professora e coordena- dora do curso de História da Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Sumário A Universidade de Uberaba e a educação a distância ....................IX Apresentação .................................................................................... XV Capítulo 1 O mundo em mutação: a transição do feudalismo para o capitalismo ............................................................. 1 1.1 Como caracterizar o mundo em transição....................................................... 3 1.1.1 Um passeio nas sociedades medievais ................................................. 6 1.1.2 Entendendo os principais momentos da Idade Média ........................... 7 1.1.3 Tempos de liberdade? ............................................................................ 8 1.2 Terra à vista! ................................................................................................. 12 1.2.1 De olho no passado e com um pé no futuro ....................................... 12 1.3 O mundo ficou maior! As razões do pioneirismo português .......................... 13 1.3.1 Repercussões na economia ................................................................. 19 Capítulo 2 Terra à vista: conquista e colonização do Brasil .............. 31 2.1 O contexto da Europa e o pioneirismo português ......................................... 35 2.1.1 Especiarias e o caminho para as Índias .............................................. 38 2.2 “Descobrimento” do Brasil ............................................................................. 39 2.3 Cruz: fé e conquista....................................................................................... 50 2.4 O regime das capitanias ................................................................................ 54 2.5 Governo-geral................................................................................................ 59 Capítulo 3 O trabalho na colônia e a economia colonial ................... 65 3.1 Latifúndio, cana-de-açúcar e mão de obra escrava ...................................... 67 3.1.1 O latifúndio e a monocultura ................................................................ 69 3.1.2 Cultura da cana-de-açúcar ................................................................... 72 VI UNIUBE 3.1.3 A mão de obra escrava ......................................................................... 76 3.1.4 Sociedade, açúcar e... o que mais? ..................................................... 78 3.2 Economia colonial: interiorização e diversificação ........................................ 79 3.2.1 Pecuária: ocupação e integração ......................................................... 82 3.2.2 Mercado Interno: diversificação e abastecimento ................................ 88 Capítulo 4 O “Eldorado” brasileiro: a descoberta e a exploração mineral na Colônia......................................................... 115 4.1 Portugal e a Colônia .....................................................................................118 4.2 Nova administração colonial........................................................................ 120 4.2.1 O bandeirismo rumo ao ouro .............................................................. 122 4.2.2 Guerra dos Emboabas ....................................................................... 123 4.2.3 Enfim, o “Eldorado” ............................................................................ 125 4.2.4 As monções ........................................................................................ 129 4.2.5 Ambições da Coroa ............................................................................ 129 4.3 A descoberta dos diamantes ....................................................................... 132 4.3.1 Chica da Silva .................................................................................... 134 4.3.2 Sobre a vida urbana ........................................................................... 135 4.3.3 Barroco ............................................................................................... 136 4.4 A decadência das minas .............................................................................. 137 A Universidade de Uberaba e a educação a distância A história da Universidade de Uberaba (Uniube) remonta ao ano de 1940, quando Mário Palmério fundou, em Uberaba, o Liceu do Triângulo Mineiro. Mais tarde a escola passou a se chamar Colégio Triângulo Mi- neiro e depois foi transformada em Escola Técnica do Triângulo Mineiro, passo decisivo para um projeto ainda mais ousado: o Ensino Superior. Em 1947, Mário Palmério abriu as portas da Faculdade de Odontologia do Triângulo Mineiro. Menos de dez anos depois funcionava, também, a Faculdade de Direito do Triângulo Mineiro e a Escola de Engenharia do Triângulo Mineiro. Em 1972, a característica de faculdades isoladas deu lugar a uma nova estrutura e a instituição passou a se chamar Faculdades Integradas de Uberaba. Em 1982, deu-se a fusão com as FaculdadesIntegradas Santo Tomás de Aquino (Fista). A iniciativa marcou o início de um processo que culminaria com o reconhecimento, por parte do Ministério da Educação (MEC), como Universidade de Uberaba, status alcançado em 1988. O pioneirismo de Mário Palmério deu a Uberaba o título de Cidade Universitária, privilégio de poucos municípios brasileiros no início da segunda metade do século passado. Além disso, colaborou para que o Triângulo Mineiro se transformasse num dos mais importantes polos de ensino superior do Brasil. Hoje, a Uniube aparece como uma das mais importantes e bem conceituadas instituições de ensino superior das regiões Sudeste e Centro-Oeste. VIII UNIUBE Entre as muitas iniciativas colocadas em prática pela Uniube, como forma de possibilitar que mais pessoas tenham acesso à formação superior, está a criação do seu núcleo de Educação a Distância (EAD), em maio de 2000. A partir desse ano, a Uniube deu início ao processo de capaci- tação de seus profissionais para atuação nessa modalidade de ensino. Em junho de 2005, a instituição foi credenciada pelo MEC para a oferta de cursos a distância. Em agosto do mesmo ano realizou o primeiro pro- cesso seletivo em EAD, com vagas para o curso de Pedagogia, nos polos de Uberaba, Uberlândia e Espírito Santo. Três anos depois, a Uniube já estava presente nos principais estados brasileiros, por meio de parcerias com outras importantes instituições de ensino. O número de cursos de gra- duação e pós-graduação com oferta de vagas também cresceu de forma significativa. O nosso modelo de EAD atravessou as fronteiras do Brasil e chegou à África por meio de um acordo de cooperação assinado entre a Uniube e a Universidade Politécnica de Moçambique. Sobre a Educação a Distância podemos dizer, de forma geral, que con- siste em uma modalidade em que as atividades de ensino-aprendizagem são desenvolvidas sem que alunos e professores estejam presentes no mesmo lugar à mesma hora. A educação a distância não é uma opção nova. Apesar de existirem divergências sobre o seu local de origem, sabe-se de referências sobre essa modalidade de ensino já no século XVIII, com a publicação de um anúncio no jornal Gazeta de Boston, em 1728, que oferecia material para ensino e tutoria por correspondência. Há quem aponte, como experiência pioneira, um curso de contabilidade oferecido na Suécia, em 1833. No Brasil, a primeira iniciativa data de 1939, com o Instituto Monitor. Em 1947, SESC e SENAC criaram em São Paulo a Universidade do Ar, com a colaboração das emissoras as- UNIUBE IX sociadas. Os programas, gravados em disco de vinil, eram apresentados três vezes por semana. Nos dias alternados, os alunos estudavam em apostilas. Na década de 1950, a Universidade do Ar chegou a ter 80 mil alunos em 318 localidades. A educação a distância no Brasil tem crescido de maneira significativa. Os números registrados no Censo de educação a distância 2008 da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED) e Secretaria de Educação a Distância do Ministério da Educação, atestam essa realidade. O número de alunos matriculados nessa modalidade saltou de 1.682, em 2000, para 760.599 em 2008. No mesmo período, o total de instituições de ensino credenciadas pelo MEC passou de 7 para 145. Juntas, elas oferecem cerca de 1,5 milhão de vagas. O Censo também revela que de 32 grandes empresas, como Vale e Petrobrás, 24 (75%) responderam que não faz diferença, durante um processo seletivo, que o profissional seja formado por um curso presencial ou a distância. Outro dado impor- tante é que, em 2007, o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE), exame que avalia o ensino superior, revelou que alunos de cursos a distância se saíram melhor em 7 de 13 áreas em que houve a comparação com o ensino presencial. Relacionamos o processo de evolução da EAD no Brasil a dois componentes importantes: o avanço da tecnologia, que tem possibilitado a utilização de novas mídias como ferramentas de aprendizagem, e a democratização do ensino, que propicia que mais pessoas tenham acesso à formação superior. A licenciatura em História da Universidade de Uberaba visa proporcionar ao aluno uma formação de educador na área de conhecimento específico de História com habilidade para a pesquisa em educação. Entretanto, X UNIUBE mesmo no âmbito deste curso, voltado à formação do professor de His- tória que irá atuar na Educação Básica, as ocupações funcionais podem ser amplas e as áreas de atuação ir além das estritamente relacionadas à educação. Assim, o licenciado em História tanto poderá atuar como professor e educador nos níveis fundamental e médio, além de outros espaços educativos, como poderá produzir conhecimento científico por meio da análise acurada de contextos histórico-sociais presentes e pre- téritos, utilizando-se para tanto de um variado elenco de fontes históricas; realizar pesquisa histórica em entidades públicas e privadas (tais como museus, bibliotecas, arquivos e centros de pesquisa e documentação), prestar assessorias para a preservação do patrimônio cultural, ligadas à produção artística, cultural e turística e a movimentos políticos e sociais; realizar atividades ligadas aos meios de comunicação de massa; orga- nizar e gerir arquivos e bancos de dados, entre outros. O currículo do curso de licenciatura em História da Uniube procura aten- der a uma nova e complexa configuração dos estudos históricos (novos objetos, enfoques e abordagens) e aos “princípios gerais” presentes nas atuais discussões sobre as novas diretrizes curriculares para os cursos de História, propostas pelo MEC e Associação Nacional de Pesquisadores de História (ANPUH): flexibilidade curricular, visão interdisciplinar, formação global e articulação entre teoria e prática; predomínio da formação sobre a informação; capacidade para lidar com a construção do conhecimento de maneira crítica; desenvolvimento de conteúdos, habilidades e atitudes formativas. A proposta do curso de História foi elaborada procurando alcançar uma visão mais abrangente dos processos históricos e se evitou a UNIUBE XI fragmentação dos conteúdos em disciplinas que acabam por limitar a compreensão destes. Partindo de um conceito aberto de que a História está sempre em movimento e de que o historiador trabalha com fragmentos do passado e com representações desse passado, a presença da pesquisa estará em todo o decorrer do curso. Conscientes da necessidade e da importância da aproximação com outras áreas de conhecimento, elegemos a interdisciplinaridade como um de nos- sos “instrumentos” para compreendermos o real. Salientamos que a interdisciplinaridade estará permeando os nossos eixos temáticos. Por todo o exposto, entendemos que você fez uma ótima escolha ao optar pela Universidade de Uberaba, pela Educação a Distância e por estudar História conosco. Desse modo desejamos a você pleno sucesso. Mas lembre-se, para que o sucesso ocorra não basta estar matriculado em um bom curso, é preciso empenho, dedicação e disciplina. Equipe de EAD/História Apresentação Abordagem das características do sistema mercantilista e seus desdo- bramentos com o movimento expansionista europeu dos séculos XVI e XVII. Estudo da administração, da economia, da sociedade e do viver na colônia. O desencadeamento do processo emancipatório e a construção do Estado Nacional. A comparação entre o tempo/espaço histórico en- focado e outros tempos/espaços. Revisão crítica do ensino e da prática docente relativa à temática em estudo. É com imensa alegria que nós, do curso de História da Universidade de Uberaba, recebemos você como aluno(a). Seja bem -vindo(a) à nossa comunidade acadêmica! Como estudante de História e mais, como sujeito histórico, você irá conhecer e desbravar novas terras, percorrer trilhas, descobrir que há riqueza nas coisas miúdas, buscar, nas pistas enos ves- tígios, as múltiplas experiências humanas que constroem e reconstroem continuamente a realidade e nos ajudam a transformá-la. Para início dessa trajetória de construção do conhecimento você está recebendo este livro, que faz parte de uma série de livros de apoio a seus estudos, elaborados especialmente para o seu Curso de Licenciatura Plena em História, ofertado na modalidade de Educação a Distância pela Universidade de Uberaba. Este livro em especial tem por finalidade orientar seus estudos indivi- duais na Unidade Temática O projeto colonizador europeu no Brasil e XIV UNIUBE seu desenlace. Os capítulos foram organizados a partir do conjunto de conteúdos da primeira etapa, a saber: Capítulo 1: O mundo em mutação: a transição do feudalismo para o capitalismo – Como o próprio título já nos informa, tratará do final do feudalismo na Europa, da formação da mentalidade mercantilista, das grandes navegações e da chegada dos portugueses ao Brasil. Capítulo 2: Terra à vista: conquista e colonização no Brasil – Trata do início da colonização, da distribuição de terras pelo governo português e da instalação desse governo em terras brasileiras. Capítulo 3: O trabalho na colônia e a economia colonial – Vem nos falar sobre o latifúndio, a cultura da cana de açúcar e a mão de obra escrava, abordando também as características da economia colonial em relação às atividades vistas como secundárias, aquelas voltadas para o mercado interno. Capítulo 4: O “Eldorado” brasileiro: a descoberta e a exploração mineral na colônia – Aborda o ciclo do ouro. Essa organização visa atender a ementa da Unidade Temática que tem 60 horas na primeira etapa do curso. Nesta primeira etapa você entrará em contato com abordagens que per- mitirão conhecer o desenvolvimento do Brasil, inicialmente como colônia de Portugal. A Unidade Temática (o projeto colonizador europeu no Brasil e seu desenlace fazem parte do Eixo Temático): Visão dialética do pas- sado e sua interlocução com o presente: a construção das identidades planetária, continental e nacional, que desenvolve estudos de temas do UNIUBE XV processo histórico da humanidade; da pré-história, antiguidade, mundo medieval, moderno e contemporâneo. Contextualização e configuração do quadro político, econômico, social e cultural cobrindo a História Geral, da América e do Brasil. Captação do tempo social, do espaço social e dos agentes sociais no tocante aos diferentes períodos e sociedades. Construção da memória. A comparação entre as sociedades e os perío- dos históricos. Cada unidade de estudo deste livro se inicia com os objetivos que nor- teiam o estudo e apresenta um texto introdutório para situar o assunto que será estudado; há indicação de textos de leitura obrigatória, dicas para seu aprofundamento e diversas atividades que favorecem a com- preensão dos textos lidos. Além disso, são indicados outros textos, livros ou filmes relacionados ao tema em estudo, para que você possa ampliar suas possibilidades de refletir, investigar e dialogar sobre aspectos de seu interesse. Finalmente, haverá um referencial de respostas que lhe permitirá verificar se você está compreendendo o que está estudando. A equipe de professores que se dedicou à elaboração dos livros de apoio do curso de História sente-se honrada em ter você como interlocutor(a) em constantes diálogos, motivados por um interesse comum: a educação das pessoas que ingressam nos anos finais dos Ensinos Fundamental e Médio. E pelo fato de o diálogo ser a via escolhida, acreditamos que o seu crescimento pessoal, sua formação profissional e sua valorização como professor(a) educador(a), no curso de licenciatura plena em His- tória, deverá ocorrer sempre por meio da interação com seus colegas, preceptor(a) e professores. XVI UNIUBE Acompanhe a agenda do curso, leia o Manual do Aluno, reserve horas para os estudos conforme orientado no manual. Tenha disciplina e per- severança que chegará ao final do curso com sucesso. Bons estudos! Capítulo 1 O mundo em mutação: a transição do feudalismo para o capitalismo Eliane Mendonça Marquez de Rezende Introdução Neste capítulo vamos abordar os fatores que permearam as crises do sistema feudal, pois foram os resultados dessas crises que desencadearam o aparecimento do “Mundo Moderno”. Sim! Sabemos que toda a crise gera mudanças, não é mesmo? Na Idade Média também aconteceu assim. As mudanças ocor- ridas são responsáveis para se compreender a ocupação do Novo Mundo. Abordaremos o surgimento dos Estados Nacionais, as Grandes Navegações e as diretrizes econômicas sistematizadas com a adoção da doutrina mercantilista. Analisaremos também os fatores que propiciaram o pioneirismo português e a ocupação do Novo Mundo, principalmente da terra “descoberta” que se transformará na rentável Colônia Portuguesa. Quanta coisa interessante, não é mesmo? Capítulo 1 Capítulo 1 2 UNIUBE Objetivos Ao final deste capítulo, esperamos que você seja capaz de: • explicar que a História está em permanente construção/ reconstrução e que os conhecimentos não estão cristali- zados e não são verdades absolutas; • analisar os fatores que contribuíram para a reativação do desenvolvimento comercial da Baixa Idade Média; • identificar as características que alavancaram o pionei- rismo português no processo da Expansão Marítima; • identificar as prioridades da doutrina mercantilista e sua importância para o fortalecimento dos reinados absolu- tistas da Idade Moderna; • caracterizar o processo da ocupação do Brasil inserido nos paradigmas do sistema colonial; • analisar os critérios que nortearam a montagem da colo- nização portuguesa na colônia “descoberta”; • analisar as implicações do processo de colonização que marcaram expressivamente a sociedade brasileira até os dias atuais. Esquema • Visão geral da Idade Média (século V a XV) • Abordagem reflexiva sobre as características da Alta e da Baixa Idade Média UNIUBE 3 • Características políticas, econômicas, sociais, religiosas e culturais da Baixa Idade Média • O Pioneirismo português • Fatores que propiciaram a liderança portuguesa no pro- cesso da Expansão Marítima • Efeitos da Expansão Marítima em Portugal e no contexto europeu • A formação dos “estados nacionais” e o gradativo controle exercido pelos monarcas, após a Expansão Marítima • A doutrina mercantilista como suporte econômico dos reinados absolutistas • Efeitos gerais da Expansão Marítima para a sociedade mundial 1.1 Como caracterizar o mundo em transição Em primeiro lugar, gostaria de dizer a você que transformar o estudo de História numa constante atitude de busca e de conhecimentos, promo- vendo a ampliação de saberes e uma maior compreensão do mundo, é nossa principal proposta por meio da leitura e do estudo dos textos e das atividades que serão apresentados a você. Animado(a) para começar? Veja, será uma importante viagem no túnel do tempo que fará você compreender ainda mais a história da sociedade brasileira até os dias atuais. 4 UNIUBE Estou aqui pensando: será que você teve dificuldades em relação ao estudo da História? Digo isto porque sabemos que a maioria das pes- soas não gosta de História, porque ela foi sempre uma disciplina que exigia memorização, decorar os nomes dos grandes heróis e das datas marcantes. Era uma História escrita e registrada pelo olhar oficial das elites e dos grandes vultos. A massa popular, que realmente contribuiu intensamente para compor o cenário histórico, principalmente o brasi- leiro, foi esquecida, “passaram uma borracha em cima dos seus feitos, realizações e reivindicações”, pois não era oportuno estudar as ações de um segmento social composto por índios, negros, mulatos, pardos e outros, que ajudaram a construir nossa História. Nesse sentido mencionado anteriormente, ressaltamos que as alterações da sequência de conteúdospor si não têm qualquer valor. Elas se tornam necessárias com o fim de contribuírem, ao lado de outros aspectos, para o favorecimento de uma visão mais clara e objetiva da História, respeitando a contemporaneidade das sociedades que compõem o processo histórico. Toda crise é importante? Neste texto procuraremos focalizar a crise do sistema feudal, sistema que perdu- rou por toda a Idade Média (séculos V a XV). Antes, porém, vale perguntar: você consegue explicar o que é feudalismo? Trata-se de um sistema político, social e econômico que priorizava a terra – feudo – que era autosuficiente. O poder político era descentralizado nas mãos dos senhores feudais. A mão de obra utilizada era a dos servos, e a sociedade era hierarquizada e sem mobilidade social. Toda crise é importante? Neste texto procuraremos focalizar a crise do sistema feudal, sistema que perdu- rou por toda a Idade Média (séculos V a XV). Antes, porém, vale perguntar: você consegue explicar o que é feudalismo? Trata-se de um sistema político, social e econômico que priorizava a terra – feudo – que era autosuficiente. O poder político era descentralizado nas mãos dos senhores feudais. A mão de obra utilizada era a dos servos, e a sociedade era hierarquizada e sem mobilidade social. UNIUBE 5 SAIBA MAIS De acordo com o Dicionário de conceitos históricos, de Kalina Vanderlei Silva e Maciel Henrique Silva (2006, p. 150), “feudalismo refere-se especifi- camente ao sistema político, econômico e social da Europa medieval”. [...] Escrita nas proximidades da Segunda Guerra Mundial, a obra A sociedade feudal, de Marc Bloch, é um dos maiores clássicos sobre o assunto. Nela, Bloch criticou a visão ge- neralizante que considerava todas as estruturas feudais de diferentes lugares uma única “civilização feudal”. Para ele, as diferenças regionais e as mudanças temporais criaram Feudalismos diferentes. Mas, apesar disso, o modelo clássico normalmente se limita ao conjunto de estruturas sociopolíticas e econômicas vigentes no norte da França entre os séculos XI e XIII. Todavia, tanto a Inglaterra, a Alemanha, a Itália quanto a península Ibérica apresentaram estruturas feudais próprias, que não eram apenas “variantes” do modelo francês. [...] A polêmica em torno da existência de um modo de produção feudal afirma que esse período possuía uma “economia natu- ral”, ou seja, agrícola e desconhecia a utilização de moedas. Tal tese foi elaborada pelo materialismo histórico. Marc Bloch por sua vez, negou a existência de uma economia natural, afirmando que no Feudalismo a economia nunca se tornou totalmente agrícola nem abandonou transações monetárias ou comércio. Havia apenas escassez de moeda. (SILVA e SILVA, 2006, p. 150) SAIBA MAIS De acordo com o Dicionário de conceitos históricos, de Kalina Vanderlei Silva e Maciel Henrique Silva (2006, p. 150), “feudalismo refere-se especifi- camente ao sistema político, econômico e social da Europa medieval”.Europa medieval”.Europa medieval [...] Escrita nas proximidades da Segunda Guerra Mundial, a obra A sociedade feudal, de Marc Bloch, é um dos maiores clássicos sobre o assunto. Nela, Bloch criticou a visão ge- neralizante que considerava todas as estruturas feudais de diferentes lugares uma única “civilização feudal”. Para ele, as diferenças regionais e as mudanças temporais criaram Feudalismos diferentes. Mas, apesar disso, o modelo clássico normalmente se limita ao conjunto de estruturas sociopolíticas e econômicas vigentes no norte da França entre os séculos XI e XIII. Todavia, tanto a Inglaterra, a Alemanha, a Itália quanto a península Ibérica apresentaram estruturas feudais próprias, que não eram apenas “variantes” do modelo francês. [...] A polêmica em torno da existência de um modo de produção feudal afirma que esse período possuía uma “economia natu- ral”, ou seja, agrícola e desconhecia a utilização de moedas. Tal tese foi elaborada pelo materialismo histórico. Marc Bloch por sua vez, negou a existência de uma economia natural, afirmando que no Feudalismo a economia nunca se tornou totalmente agrícola nem abandonou transações monetárias ou comércio. Havia apenas escassez de moeda. (SILVA e SILVA, 2006, p. 150) 6 UNIUBE O que dizer da Idade Média? Durante muito tempo acreditou-se que a Idade Média tinha sido um período de trevas, pragas, doenças e pobreza! São também comuns as afirmações de que algumas pessoas daquela época tinham pouca cultura e eram ignorantes. Contudo, hoje, podemos dizer que essa visão é polêmica! As mudanças ocor- ridas no final da Idade Média demonstram o contrário. Como os estudos de História nunca estão definitivamente acabados e prontos, e com a descoberta de novos documentos, toda uma revisão historiográfica foi feita sobre o período medieval e, por esta razão, o que era tão certo passou a ser incerto. Podemos afirmar que a Idade Média é um desses grandes períodos que possuem várias interpretações, algumas, às vezes, até contraditórias! 1.1.1 Um passeio nas sociedades medievais Agora, vamos conversar um pouco sobre as sociedades medievais! Como viveram? Que ideias você terá a respeito? As sociedades medievais viveram ao seu modo, dentro de suas condições históricas. Viveram diferentemente das sociedades antigas, mas isso não significa que tenham sido inferiores a elas. É preciso lembrar também que nesse período não existiam somente as sociedades europeias. De acordo com Silva e Silva (2006, p. 151): De forma geral, as estruturas feudais nasceram da ruína do Império Romano, e suas principais característi- cas estruturais já existiam no seio da economia romana, O que dizer da Idade Média? Durante muito tempo acreditou-se que a Idade Média tinha sido um período de trevas, pragas, doenças e pobreza! São também comuns as afirmações de que algumas pessoas daquela época tinham pouca cultura e eram ignorantes. Contudo, hoje, podemos dizer que essa visão é polêmica! As mudanças ocor- ridas no final da Idade Média demonstram o contrário. Como os estudos de História nunca estão definitivamente acabados e prontos, e com a descoberta de novos documentos, toda uma revisão historiográfica foi feita sobre o período medieval e, por esta razão, o que era tão certo passou a ser incerto. Podemos afirmar que a Idade Média é um desses grandes períodos que possuem várias interpretações, algumas, às vezes, até contraditórias! UNIUBE 7 devido à sua própria expansão imperial, pois uma vez que a economia escravista necessitava de contínuas importações de mão de obra servil para funcionar, e para que a produção dos latifúndios se mantivesse es- tável, as fontes de trabalho deveriam ser inesgotáveis. Como a principal fonte de trabalho escravo era a guerra de conquista, o Império precisaria estar em contínua expansão para abastecer os latifúndios. No entanto, no século III d.C, ele chegou a seus limites máximos. Com a escassez cada vez maior de mão de obra escrava, os latifúndios puseram-se a pensar em maneiras de garantir a reprodução da mão de obra e o aumento da produtividade, em face do menor número de trabalha- dores, Assim, passaram a distribuir lotes de terras aos escravos, onde estes deveriam se assentar e constituir família, responsabilizando-se por uma produção da qual apenas pequena parcela ficaria para sua manutenção, revertendo o restante em benefício do senhor. Estava iniciado assim o regime de colonato. 1.1.2 Entendendo os principais momentos da Idade Média A Idade Média pode ser estudada a partir de dois momentos: • Alta Idade Média: período de estagnação das cidades, do comércio, da miscigenação dos romanos com os bárbaros, da formação do sistema feudal, do predomínio do poder da Igreja Católica, enfim, da ruralização da sociedade. • Baixa Idade Média: período em que muitos aspectos da sociedade feudal, na Europa, foram alterados, porém sem o fim do sistema feu- dal. As transformaçõesforam gradativas nos aspectos econômicos, políticos, sociais e culturais. Com o surgimento de novas atividades, houve a possibilidade de efetiva- ção de feiras para comercialização de produtos. Com as Cruzadas houve 8 UNIUBE uma maior integração entre povos e grande circulação de mercadorias. Nas localidades onde se realizavam as feiras, começaram a surgir as cidades (burgos) onde as pessoas envolvidas com o comércio e ativida- des passaram a residir e foram denominadas “burgueses”. Com as Cruzadas, o comércio foi revitalizado, as cidades se tornaram mais dinâmicas e teve início a mobilidade social, com muitos servos tornando-se livres dos feudos e comercializando o excedente de sua produção nos burgos, nas feiras e nas ci- dades, em várias regiões da Europa. Isso alterou o cotidiano e o mundo medieval com novos inte- resses e prioridades. Apesar de a revitalização do comércio ter sido de- nominada “Renascimento”, na verdade ela não foi a retomada de algo do passado, da mesma forma como o comércio era realizado pelos fenícios, gregos ou romanos. Foi na verdade algo novo, o embrião do capitalismo, apresentado pela necessidade de expandir a produção de seus reinos. 1.1.3 Tempos de liberdade? Concomitantemente a essas alterações, ocorriam mudanças políticas. Os reis iam dominando os seus reinos por meio de compras de feudos, de concessão de liberdade para os servos, de aquisição de feudos por morte de senhores feudais durante as Cruzadas e as constantes guerras. Com isso foram surgindo as monarquias nacionais, que futuramente formariam Cruzadas Expedições militares que, posteriormente, priorizaram interesses comerciais, ocorreram na Europa entre os séculos XI e XIII. Visavam impor o cristianismo nas terras em torno do Mediterrâneo oriental. UNIUBE 9 os Estados nacionais e que, após ocupação do Novo Mundo e com a aquisição de suas riquezas, se transformarão em Estados Absolutistas. A crise das relações servis causou uma situação favorável à formação de um governo centralizado. Os senhores feudais recorriam à autoridade real com o intuito de formar exércitos suficientemente preparados para conter as revoltas camponesas. De tal modo, a partir do século XI, observamos uma gradual elevação das atribuições políticas do rei. O rei acumulou poderes para instituir tributos que sustentariam o Estado e, ao mesmo tempo, regulamentariam os impostos a serem cobrados em seu território. Concomitantemente, as moedas ganhariam um padrão de valor, peso e medida capaz de calcular antecipadamente os ganhos obtidos com o comércio e a cobrança de impostos. A fixação de tais mudanças personalizou a supremacia política dos Estados europeus na figura individual de um rei. Com o apoio dos comerciantes, os reis criaram exércitos mercenários que tinham caráter essencialmente temporário. A formação de exércitos foi um passo importante para que os limites territoriais fossem fixados e fosse possível a imposição de uma autoridade de ordem nacional. Tal medida enfraqueceu a atuação dos cavaleiros que limitavam sua ação militar aos interesses de seu suserano. A monarquia passou a controlar as questões de ordem fiscal, jurídica e militar e o rei teve autoridade e legitimidade suficientes para criar leis e decretar impostos. Desse modo, as monarquias foram se estabelecendo por meio de ações com o apoio tanto da burguesia comerciante, quanto da nobreza feudal. Surgiram com o desenvolvimento comercial no final da Idade Média. O poder dos senhores feudais enfraqueceu, e os reis, com 10 UNIUBE a ajuda da burguesia, centralizaram o poder, provocando o nascimento dos Estados Nacionais, governando países ou territórios ocupados por uma população que tinha costumes e histórias comuns. As muitas transformações que ocorriam nas atividades econômicas se processaram dentro do contexto e das necessidades do período. À me- dida que foram surgindo os Estados nacionais, os monarcas tenderam a encarar os assuntos econômicos como seus interesses imediatos. O país era visto como uma propriedade gigantesca do governante, na qual tudo o que se fazia deveria depender de sua vontade pessoal. IMPORTANTE! O dinheiro passa a ser o centro Nos burgos, feiras e cidades, os burgueses dominavam. As relações comer- ciais passaram a ter muita importância. À medida que a terra foi deixando de ser o centro de interesse, o dinheiro passou a ser valorizado e considerado fundamental para a eclosão da Expansão Marítima, do Renascimento e da Reforma Religiosa. SAIBA MAIS Burgo Local fortificado, dentro de um feudo, onde moravam os comerciantes. Deu origem à maioria das cidades europeias. Seus habitantes eram chamados de burgueses. IMPORTANTE! IMPORTANTE! O dinheiro passa a ser o centro Nos burgos, feiras e cidades, os burgueses dominavam. As relações comer- ciais passaram a ter muita importância. À medida que a terra foi deixando de ser o centro de interesse, o dinheiro passou a ser valorizado e considerado fundamental para a eclosão da Expansão Marítima, do Renascimento e da Reforma Religiosa. SAIBA MAIS Burgo Local fortificado, dentro de um feudo, onde moravam os comerciantes. Deu origem à maioria das cidades europeias. Seus habitantes eram chamados de burgueses. UNIUBE 11 IMPORTANTE! Uma brusca interrupção A expansão econômica iniciada com o renascimento do comércio e da vida urbana no século XI sofreu uma brusca interrupção no decorrer do século XIV. Nesse período, na Europa, uma série de acontecimentos abalou e transformou profundamente as atividades comerciais reativadas. A peste negra, a morte em grande escala tanto dos camponeses como dos senhores feudais, a crise agrícola, o empobrecimento dos senhores feudais, a Guerra dos Cem Anos e o aumento do prestígio dos burgueses mais ricos, acabaram provocando mudanças expressivas na estrutura política, socioeconômica e cultural da sociedade europeia. Quantos acontecimentos! Podemos até dizer que foram muitos acontecimen- tos para um mesmo período. IMPORTANTE! A autoridade real resolvendo o impasse Esse impasse entre a burguesia e os senhores feudais seria historica- mente resolvido pelo gradativo fortalecimento da autoridade real. Com o apoio e o financiamento da burguesia, o rei organizou exércitos perma- nentes, que enfrentaram os senhores feudais, garantiram a expansão das atividades comerciais, favorecendo a burguesia, e dominaram as sublevações camponesas. Iniciava-se uma nova época na história da Europa Ocidental: a da formação das monarquias nacionais sob o poder centralizado dos reis. IMPORTANTE! IMPORTANTE! Uma brusca interrupção A expansão econômica iniciada com o renascimento do comércio e da vida urbana no século XI sofreu uma brusca interrupção no decorrer do século XIV. Nesse período, na Europa, uma série de acontecimentos abalou e transformou profundamente as atividades comerciais reativadas. A peste negra, a morte em grande escala tanto dos camponeses como dos senhores feudais, a crise agrícola, o empobrecimento dos senhores feudais, a Guerra dos Cem Anos e o aumento do prestígio dos burgueses mais ricos, acabaram provocando mudanças expressivas na estrutura política, socioeconômica e cultural da sociedade europeia. Quantos acontecimentos! Podemos até dizer que foram muitos acontecimen- tos para um mesmo período. IMPORTANTE! IMPORTANTE! A autoridade real resolvendo o impasse Esse impasse entre a burguesia e os senhores feudais seria historica- mente resolvido pelo gradativo fortalecimento da autoridade real. Com o apoio e o financiamento da burguesia, o rei organizou exércitos perma- nentes, que enfrentaram os senhores feudais, garantiram a expansão das atividades comerciais, favorecendo a burguesia, e dominaram as sublevações camponesas. Iniciava-se uma nova época na história da Europa Ocidental: a da formação das monarquias nacionais sob o poder centralizadodos reis. 12 UNIUBE O mercantilismo fez com que os reinos europeus buscassem a expansão pelo mar, principalmente Portugal, que já possuía certa familiaridade com o mar, que em algumas cidades litorâneas era seu sustento. 1.2 Terra à vista! O que era esse “mundo moderno” que esboçava os primeiros passos? Era o mundo das grandes navegações e descobrimentos. Um mundo que rompia com o passado medieval e buscava suas raízes na Antiguidade Clássica greco-romana. Um passado muito remoto para você, que vive no século XXI e do qual, talvez, só se recorde ao ver os filmes chamados “históricos”, como Co- ração Valente, Robin Hood, Brumas de Avalon e outros. Viu alguns desses filmes? Tempos novos, horizontes novos! Ideias novas, espaços mentais novos! 1.2.1 De olho no passado e com um pé no futuro Durante os séculos XV e XVI, os europeus, ao mesmo tempo que se voltavam para a Antiguidade, em busca de modelos e inspiração para as suas obras e ideias que iriam propiciar a eclosão do renascimento cul- tural, tinham, também, a oportunidade de assistir a um outro momento histórico: o alargamento do seu horizonte geográfico pelo descobrimento de outras terras e gentes. O mercantilismo fez com que os reinos europeus buscassem a expansão pelo mar, principalmente Portugal, que já possuía certa familiaridade com o mar, que em algumas cidades litorâneas era seu sustento. UNIUBE 13 1.3 O mundo ficou maior! As razões do pioneirismo português A expansão ultramarina foi uma das “soluções” encontradas pela so- ciedade da Europa Ocidental para fazer frente aos graves problemas gerados pela crise do sistema feudal. A necessidade de encontrar novas fontes de metais preciosos e de especiarias, de controlar novas regiões produtoras de alimentos, prin- cipalmente trigo, e de estabelecer o domínio sobre populações não europeias foi fator decisivo para o desencadeamento do processo expansionista. Paralelamente a essas necessidades, é importante lembrar que o co- mércio entre a Europa e o Oriente, desenvolvido durante a Baixa Idade Média e conhecido como “comércio das especiarias”, era monopoli- zado, no Mar Mediterrâneo, pelas Repúblicas italianas, com destaque para Gênova e Veneza. Multiplicavam-se, nesse momento, as rotas de comércio, destacando-se a rota terrestre que ligava o norte da Itália à região de Flandres. Já no século XIV, até mesmo em função dos graves problemas sociais que persistiam (insurreições camponesas, revoltas urbanas, conflitos militares, epidemias e fome), buscou-se incrementar as transações co- merciais com a utilização da rota marítima que interligava o Mediterrâneo aos mares do Norte e Báltico. Nesse contexto, algumas cidades do litoral português, com destaque para Lisboa, passaram a ser elos – pontos de parada obrigatória – entre 14 UNIUBE o sul e o norte da Europa. A partir de então, em Portugal consolidou-se um importante grupo de mercadores vinculados às atividades marí- timo-comerciais e interessados em eliminar o monopólio italiano sobre o “comércio das especiarias”. Afinal, entre as “fontes produtoras” das especiarias no Oriente e os comerciantes portugueses, existiam cerca de 12 intermediários, sendo que cada um deles aumentava o preço em aproximadamente 100%. A consolidação desse grupo constituiu num dos setores do pioneirismo português no processo expansionista. Outro importante fator foi a centralização política, cujas origens encon- tram-se no século XII. Já no século XIV, em função da Revolução de Avis (1383 -1385), efetivou-se a formação do Estado Nacional português. Segundo Fazoli Filho (2001, p. 13): Embalado pela crise feudal o comércio marítimo com os portos do mediterrâneo e do Atlântico norte co- meçava a ser estimulado, tendo como participantes tanto estrangeiros como elementos saídos das re- giões agrícolas controladas pela nobreza e evidente decadência. O governo do último rei da dinastia de Borgonha, D. Fernando, foi particularmente desastroso: por três ve- zes, com apoio dos comerciantes locais e da Inglaterra (que há muito comerciavam com o reino português), Portugal envolveu-se em lutas contra a vizinha Castela, esta apoiada pela nobreza, que pretendia maiores poderes ao feudalismo. Assim, ao morrer, Fernando I deixava o reino em ver- dadeiro clima de guerra civil. Agravando a situação, a rainha mãe, Dona Leonor Teles, abdicou, passando o poder a Dona Beatriz, sua filha, casada com o rei de Castela. Percebendo os entraves que teriam num sistema onde a nobreza feudal ainda detinha o poder, os comercian- UNIUBE 15 tes se puseram contra a fusão de Portugal e Castela e, reunidos nas assembleias de Coimbra, aclamaram D. João – Mestre da Ordem Monástica –, militar de Avis, como rei de Portugal, dando início à revolução de Avis. As tropas de Castela invadiram Portugal e cercaram Lisboa, que resistiu durante vários meses graças ao povo – a arraia miúda –, armado pelos comerciantes na luta pela manutenção da Independência. Finalmente, a 6 de abril de 1385, D. João foi coroado rei e, após a importante vitória de Aljubarrota, em agosto daquele ano, uma nova dinastia estava con- solidada – eram os Avis, notadamente voltados ao comércio. Com a dinastia de Avis, a burguesia mercantil ampliou seu espaço polí- tico, ao mesmo tempo em que o Estado impôs um controle mais rígido sobre a nobreza. Assim, o estímulo às atividades comerciais passou a ser uma prioridade política do Estado – e apenas ele seria capaz de mobilizar os recursos financeiros e materiais para um empreendimento de tal porte. Várias inovações foram criadas, neste período, visando facilitar o co- tidiano dos homens. O astrolábio, instrumento astronômico inventado na Antiguidade pelos gregos e difundido pelos árabes durante a Idade Média, foi aperfeiçoado pelos astrônomos da “Escola de Sagres”. Esta, na verdade, nunca existiu como um centro de estudos ou um obser- vatório astronômico localizado no sul de Portugal. Ao contrário do que muitos pensam na atualidade, essa escola não existiu no sentido físico. Na realidade, tratava-se de um grupo de pessoas ligadas à arte náutica que desenvolvia um pensamento em comum, sob a liderança, inicial- mente, do infante D. Henrique, Navegador filho de D. João, primeiro rei da dinastia de Avis. O astrolábio era o principal instrumento utilizado 16 UNIUBE pelos navegadores para determinar a latitude. Ressalte-se que ele não funcionava muito bem com os navios em movimento, provocando erros de até 5” na medição da latitude. A caravela, um tipo de navio desenvolvido pelos portugueses, se cons- tituía numa adaptação de uma antiga embarcação denominada cáravo, já conhecida dos árabes. Ela possibilitava a navegação contra o vento, uma vez que se utilizava de velas latinas, panos triangulares com extremidades rígidas capazes de gerar uma força propulsora na direção oposta à do vento. Veja na Figura 1 a ilustração de uma caravela. Na construção de uma caravela, eram consumidos cerca de 4 mil troncos de árvores. Uma caravela tinha em torno de 20 metros de comprimento Figura 1: Caravela. Fonte: Acervo EAD – Uniube. UNIUBE 17 e pesava, aproximadamente, 20 toneladas. Seu casco esguio permitia fáceis manobras e possibilitava à embarcação alcançar expressiva ve- locidade. PESQUISANDO NA WEB A respeito de questões vinculadas à navegação portuguesa, você pode acessar o endereço eletrônico: <www.caestamosnos.org/Pesquisas_Car los_Leite_Ribeiro>. Por essa razão, autores consideram a consolidação de um Estado centra- lizado e identificado com os interesses mercantis como uma precondição para o processo expansionista. A expansão marítima portuguesa foi associada aos interesses mercantis da burguesia, interessada nos lucros do comércio marítimo com outras regiões, principalmente com o Oriente. De acordo com Fazoli Filho (2001, p. 15): Intimamente ligada ao fortalecimento do poder real e à expansão marítimateve suas origens na busca de novas fontes de renda, pela exploração direta das regiões produtoras. O empreendimento naval obede- cia à lógica do processo mercantil predominante na Europa, fruto de uma mentalidade nova e dinâmica, a cujos objetivos subordinavam-se todos os possíveis outros interesses. Durante a primeira fase da revolução comercial, o comércio concentrava-se principalmente nas trocas com o oriente de especiarias (pimenta, cravo, canela, noz-moscada, gengibre, açúcar de cana etc.) e pro- dutos de luxo (sedas, tapetes, ourivesaria). Através PESQUISANDO NA WEB A respeito de questões vinculadas à navegação portuguesa, você pode acessar o endereço eletrônico: <www.caestamosnos.org/Pesquisas_Car los_Leite_Ribeiro>. 18 UNIUBE dos portos orientais de embarque (Constantinopla, Antióquia e Alexandria), os produtos partiam para as cidades italianas (Veneza, Gênova, Milão etc.), que detinham seu monopólio, e dali seguiam, via terrestre, pelo interior europeu. Posteriormente, o deslocamento do eixo econômico do mediterrâneo para o Atlântico possibilitou as grandes navegações oceânicas. Ocorridas entre os séculos XIV e XVI, através delas estabeleceu-se no mundo da época o sistema do capitalismo comercial, que gi- rando em torno da circulação de mercadorias, procurou lucros cada vez maiores. Datam daí a exploração da costa Africana, a descoberta da América e do caminho marítimo para as Índias, além das viagens de circu- navegação. Buscavam superar as limitações do mercado europeu, que estava em crise pela falta de mão de obra, e de produtos agrícolas, além da es- cassez de metais preciosos para cunhagem de moeda. Interessava à burguesia apoiar o monarca no empreendimento da expansão marítima, pois dela extrairia benefícios. A tradição marítima acumulada, o progresso técnico-naval, intensificado durante a dinastia de Avis, e, conforme se dizia na época, “a necessi- dade de buscar no mar o que a terra não podia dar” também explicam o pioneirismo português. Portugal, que foi um país cuja centralização monárquica ocorreu precoce- mente e possuía uma intensa atividade marítima, comercial e pesqueira, foi o pioneiro das Grandes Navegações. Após a centralização monárquica da Espanha, esta segue os passos de Portugal. Nesse cenário, à medida que os países se centralizavam, as novas descobertas iam acontecendo. O mundo ficou maior, o mundo conhecido se ampliou, tornou-se, por assim dizer, mais “globalizado”. UNIUBE 19 O país possuía uma localização privilegiada. Grande parte do seu ter- ritório está voltada para o oceano Atlântico. Essa posição geográfica, juntamente com as condições sociais e políticas favoráveis, permitiram ao país se projetar como potência marítima. Coube ao infante D. Henri- que – filho de D. João I – as iniciativas para fazer Portugal inaugurar as grandes navegações oceânicas. 1.3.1 Repercussões na economia Vamos analisar as alterações ocorridas na Europa, mas não devemos esquecer as mudanças que ocorreram nas sociedades do chamado Novo Mundo. São transformações que “abafaram” a cultura dos povos dominados. Nos capítulos seguintes serão abordadas as mudanças que a chegada do europeu vai provocar nas sociedades pré-colombianas e a destruição em massa desta cultura. Como as grandes navegações e descobrimentos repercutiram na Europa? Para o conjunto da economia europeia, no século XVI, os efeitos mais im- portantes foram: • a alta geral de preços; • o deslocamento do eixo econômico europeu, do centro da Europa e do Mar Mediterrâneo, para o Atlântico e portos setentrionais; • a ampliação do mercado, agora quase mundial; • um contínuo e crescente afluxo de metais preciosos; Como as grandes navegações e descobrimentos repercutiram na Europa? Para o conjunto da economia europeia, no século XVI, os efeitos mais im- portantes foram: • a alta geral de preços; • o deslocamento do eixo econômico europeu, do centro da Europa e do Mar Mediterrâneo, para o Atlântico e portos setentrionais; • a ampliação do mercado, agora quase mundial; • um contínuo e crescente afluxo de metais preciosos; 20 UNIUBE • a consolidação de uma doutrina econômica que sustentava os estados absolutistas chamada Mercantilismo; • o fortalecimento da burguesia. À medida que foram fortalecendo os Estados nacionais e os países foram se enriquecendo, os governantes controlava e intervinha nos assuntos econômicos. Os monarcas então faziam leis, baixavam regulamentos, estabeleciam concessões e proibições – enfim, todo um conjunto de determinações que partiam do pressuposto de que a riqueza do país e a do governante eram coisas sinônimas. Não havia, assim, aquilo que hoje denominamos de “livre-iniciativa”, pois tudo dependia da aprovação e da boa vontade do soberano. Na realização da política mercantilista convergiam, e por vezes conflita- vam, dois tipos de interesses: os do príncipe, e, portanto, da aristocracia, e os dos comerciantes e demais empresários, ou seja, os da burguesia mercantil e industrial. O que é mercantilismo? Segundo Silva e Silva (2006, p. 283), a definição mais aceita de mercantilismo informa que: Esse termo compreende um conjunto de ideias e práticas econômicas dos Estados da Europa ocidental entre os séculos XV, XVI e XVII, voltadas para o comércio, principalmente, e • a consolidação de uma doutrina econômica que sustentava os estados absolutistas chamada Mercantilismo; • o fortalecimento da burguesia. O que é mercantilismo? Segundo Silva e Silva (2006, p. 283), a definição mais aceita de mercantilismo informa que: Esse termo compreende um conjunto de ideias e práticas econômicas dos Estados da Europa ocidental entre os séculos XV, XVI e XVII, voltadas para o comércio, principalmente, e UNIUBE 21 baseados no controle da economia pelo Estado. Mercantilismo dá nome, nesse sentido, às diferentes práticas e teorias eco- nômicas do período do Absolutismo europeu. A palavra mercantilismo só começou a ser usada pelos eco- nomistas clássicos do final do século XVIII para se referir às rígidas práticas da intervenção do Estado na economia, práticas que eles consideravam danosas e às quais faziam severa oposição. [...] As teorias e práticas mercantilistas es- tão inseridas no contexto da transição do feudalismo para o capitalismo, possuindo ainda características marcantes das estruturas econômicas feudais e já diversos fatores que serão mais tarde identificados com características capitalistas, não sendo nenhum dos sistemas, no entanto. O termo mercantilismo define os aspectos econômicos desse processo de transição. Se o mercantilismo tem sua contraparte política no Estado absoluto, no campo social tem relação com a estrutura social comumente conhecida como sociedade do antigo regime. Ou seja, a estrutura social estamental, ainda baseada na sociedade de ordens do medievo, porém com novos elementos, dos quais a burguesia é o principal fator de diferenciação. [...] Muitas vezes, a definição de mercantilismo vem acompa- nhada de um esboço das principais práticas do período, como o metalismo, a balança comercial favorável e o protecionismo. Os interesses do príncipe voltaram-se para a riqueza do país como um todo. Tratava-se de suprimir os obstáculos locais ao comércio e aos 22 UNIUBE transportes, eliminando os antigos privilégios das cidades – ou seja, unifi- cando economicamente o Reino. Com essas medidas, o soberano queria também reunir em suas mãos a quase totalidade das taxas e impostos, suprindo as suas necessidades sempre crescentes de dinheiro. Era preciso fortalecer o poder do Estado monárquico, submeter os seus opositores internos, embora já em franca decadência, e enfrentar van- tajosamente os inimigos ou concorrentes externos. Por tudo isso, entende-se por que a riqueza do príncipe seria também a riqueza do país. Para os homens de negócios, o mercantilismo tinha vários sentidos. Eleera uma boa política quando ampliava o espaço físico para suas atividades, pela unificação do mercado nacional. Era uma boa política ainda a proteção e a ajuda dispensadas pelo príncipe, sob a forma de leis, contratos de fornecimento, ajuda a certas manufaturas. Era uma boa política também pela defesa que fazia dos interesses dos homens de negócio, de suas embarcações e rotas habi- tuais contra os comerciantes de outras nacionalidades. Não tão boa porque a política mercantilista era por definição monopolista, o seu ponto principal era a concessão de privilégios exclusivos a peque- nos grupos de comerciantes ou de empresários de manufaturas, com exclusão de muitos outros. Isto ocorria, por exemplo, nas companhias de comércio, surgidas já no século XVI, nos direitos de exploração e extra- ção de recursos minerais ou florestais, na instalação de manufaturas. É bem provável que, de início, não fossem percebidos os inconvenientes desses monopólios porque era possível à maioria conseguir do príncipe alguma forma de vantagem ou privilégio. UNIUBE 23 Mais tarde, quando muitos pediam mas só uns poucos alcançavam tais privilégios, os descontentes aumentaram, surgiram as críticas e, pouco a pouco, a maior parte da burguesia afastou-se de um sistema econômico que agora lhe parecia francamente nocivo, imoral e irracional. Em que princípios baseavam-se as diversas políticas mercantilistas desen- volvidas pelos monarcas absolutistas europeus? Havia uma preocupação metalista, isto é, com o papel decisivo que tinha a posse e acumulação dos metais preciosos. O ouro e a prata, em barras ou cunhados como moedas, eram o verdadeiro signo da riqueza. Com eles tudo o mais podia ser adquirido e todas as necessidades, mesmo aquelas mais urgentes, podiam ser atendidas. Os mercantilistas sabiam perfeitamente que não era o metal em si que constituía a riqueza, mas sim a capacidade que ele dava de possuir “todas as coisas necessárias à vida”. Havia, também, a preocupação com a balança comercial favorável. So- mente o comércio externo produziria ganhos verdadeiros para unir país ou perdas também reais. É no balanço do “dever” e “haver”, isto é, no cálculo de quanto um país vendeu e quanto ele comprou durante certo período, que se podia saber se ele ficou mais rico ou mais pobre. Tudo deveria ser feito para que o país exportasse mais do que importasse, pois a balança comercial espelhava a verdadeira situação da riqueza nacional. Para os mercantilistas era muito importante ter colônias. As colônias representavam mercados cativos, exclusivos para os produtos da me- trópole; elas deveriam produzir e vender a baixo custo, e por preços Em que princípios baseavam-se as diversas políticas mercantilistas desen- volvidas pelos monarcas absolutistas europeus? Havia uma preocupação metalista, isto é, com o papel decisivo que tinha a posse e acumulação dos metais preciosos. O ouro e a prata, em barras ou cunhados como moedas, eram o verdadeiro signo da riqueza. Com eles tudo o mais podia ser adquirido e todas as necessidades, mesmo aquelas mais urgentes, podiam ser atendidas. Os mercantilistas sabiam perfeitamente que não era o metal em si que constituía a riqueza, mas sim a capacidade que ele dava de possuir “todas as coisas necessárias à vida”. 24 UNIUBE reduzidos, mercadorias que eram consumidas ou revendidas pela me- trópole. Assim ganhariam os habitantes metropolitanos, e lucrariam os comerciantes. O imprescindível, porém, era isolar as colônias, não deixar que nenhuma outra nação quebrasse o monopólio de seu comércio e interferisse nas suas relações com a “mãe-pátria”. Mas os mercantilistas não acreditavam nem na bondade natural dos homens nem na harmonia de suas ações e interesses. Deste modo, era preciso que o Estado sempre controlasse tudo, fiscalizasse todos os detalhes, incentivando e punindo, pois do contrário os homens travariam um conflito insolúvel e perigoso para toda a sociedade. A intervenção estatal, assim, não era vista apenas no interesse do príncipe, mas deveria ser imposta pelas próprias características da natureza humana, sobre- tudo quando ela está envolvida com negócios, em busca de lucros, com interesses egoístas e antagônicos. De que meios se utilizavam os governantes absolutistas para pôr em prática os princípios da política mercantilista? A rigorosa fiscalização e controle do comércio externo era uma das prin- cipais maneiras de se evitar a evasão de metais preciosos. De início, foram tomadas medidas simplesmente proibitivas; mais tarde, foi adotada uma política protecionista. Vários métodos foram criados para ajudar os comerciantes a venderem mais, ao mesmo tempo em que eram tomadas as decisões tentando reduzir ou eliminar a importação de certos artigos de luxo ou amplo consumo. Ao proibir as importações de bens considerados supérfluos ou conceder prêmios e auxílio às exportações vantajosas para o país, o protecio- UNIUBE 25 nismo logo desenvolveu uma política complementar – o industrialismo. Foi incentivada a criação de manufaturas no país e foram estimuladas as existentes. Os próprios empresários muitas vezes condicionavam a aplicação de seus capitais na instalação de manufaturas à existência de leis protecionistas. Importante ainda foi o colonialismo mercantilista, que teve nas companhias de comércio o instrumento principal para a conquista e a colonização dos territórios do ultramar. Quase sempre essas companhias dispunham de ampla liberdade de ação, contando com recursos, administradores e, até mesmo, tropas próprias. Elas representaram o meio mais eficaz pelo qual a política colonial mercantilista assentou suas bases. Intimamente associada à história do Estado absolutista, a história do mercantilismo foi uma história de luta pelo poder e pelas riquezas. É importante compreendermos que a política econômica mercantilista fez parte da acumulação primitiva de capital na Europa, processo que daria origem ao sistema capitalista. Nesse sentido, vários países euro- peus adotaram a política mercantilista com prioridades diferenciadas. A França optou pelo industrialismo, desenvolvendo a produção interna de artigos de luxo. Concomitantemente iniciou, também, a exploração de algumas colônias criando companhias de comércio que vão sustentar seu processo de industrialização. Esse modelo ficou conhecido como colbertismo (nome do ministro das finanças de Luís XIV). Já a Inglaterra procurou manter a balança do comércio favorável, combinando o comer- cialismo com o industrialismo, política que consistia em promover o enriquecimento nacional pelo volume de transações comerciais lucrativas e pelo desenvolvimento manufatureiro. 26 UNIUBE Essas preocupações metalistas e protecionis- tas, que vão permear a economia europeia, forne- cem subsídios para o surgimento e consolidação da política mercantilista. Esta política possibilitou o fortalecimento dos reinados absolutistas e marcou expressivamente as diretrizes implantadas pelas metrópoles nas suas novas colônias. A Espanha acumulou grande quantidade de riqueza a par- tir da exploração de seus territórios coloniais na América. Para o país, o colonialismo foi a base de acumulação de riqueza metalista. Os demais países europeus, que não obtinham metais pela exploração direta, desenvolveram política com o objetivo de obter uma “balança comercial favo- rável”, procurando aumentar suas exportações e restringir as importações. Dessa forma os ganhos seriam maiores que os gastos e a diferença seria acumulada pelo tesouro do país. Os metais preciosos permitiriam ao governo comprar armas, contratar soldados, construir navios, pagar funcionários e custear as guerras. A política econômica mercantilista buscava: o desenvolvimento da indús- tria, o crescimento do comércio e a expansão do poderio naval. Para incentivar o desenvolvimento da indústria, o governo concediaa grupos particulares o monopólio de determinados ramos da produção ou criava as manufaturas do Estado. Procurava, desse modo, a obtenção da au- tossuficiência econômica e a produção de excedentes exportáveis. Preocupações metalistas Preocupação desenfreada de ocupar terras que possuíam metais para cunharem moedas e dinamizar o comércio. Elemento fundamental da doutrina mercantilista. Preocupações protecionistas Interferência dos estados nacionais controlados pelos monarcas nas atividades econômicas. Princípio importante da doutrina mercantilista. UNIUBE 27 O crescimento do comércio era incentivado pela criação de grandes companhias comerciais, como a Companhia das Índias Ocidentais e a Companhia das Índias Orientais, e pela organização de vastos Impé- rios coloniais. O comércio entre metrópole e colônia era regulado pelo pacto colonial, baseado num sistema de monopólio comercial também chamado de exclusivo metropolitano. A metrópole adquiria da colônia produtos tropicais e exportava para esta artigos manufaturados, obtendo, naturalmente, sempre uma balança de comércio favorável. A expansão do poderio naval era essencial para garantir as comunicações marítimas entre as metrópoles europeias e seus impérios coloniais assim como para a redução do comércio em escala mundial. Portugal, Espa- nha, Holanda e Inglaterra sucederam-se na supremacia naval, durante os séculos posteriores ao século XV. 1.4 Conclusão Este capítulo tratou das transformações da Idade Média, alguns aspectos da crise feudal e da transformação para o capitalismo comercial, a for- mação da burguesia e o início da expansão marítima e o mercantilismo. A ocupação e colonização da América Portuguesa se inserem nesse contexto, atendendo às diretrizes do sistema colonial e correspondendo aos anseios de Portugal na montagem de uma colonização que, com seus critérios, marca expressivamente a nossa história até os dias atuais. 28 UNIUBE Atividades Atividade 1 Conceitue o período conhecido como Idade Média. Posteriormente ela- bore uma tabela comparativa citando as características do período de acordo com as instruções a seguir: Alta Idade Média Baixa Idade Média Aspectos políticos Aspectos econômicos Aspectos sociais Aspectos religiosos Atividade 2 Pesquise e explique a importância das Cruzadas e das transformações ocorridas na Baixa Idade Média para a revitalização do comércio me- dieval europeu. Atividade 3 Identifique e explique os fatores que possibilitaram o pioneirismo portu- guês no processo das Grandes Navegações. Atividade 4 Pesquise e analise os efeitos provocados na sociedade europeia pelos resultados das Grandes Navegações. Atividade 5 Conceitue o sistema econômico conhecido como mercantilismo e expli- que os seus princípios fundamentais. UNIUBE 29 Referências AMADO, Janaína. Navegar é preciso: grandes descobrimentos marítimos europeus. Ledonias Franco Garcia. São Paulo: Atual, 1989. (História em Documentos.) BRAUDEL, Fernand. Os homens e a herança no mediterrâneo. 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Terra à vista: conquista e colonização do Brasil Capítulo 2 Frederico César de Oliveira Introdução É indispensável ao futuro professor de História a compreensão do período que data da chegada dos portugueses ao Brasil e as consequências da sua colonização e exploração. Para que a His- tória ganhe merecida importância, nas escolas e na sociedade, muito se deverá à forma como ela for ensinada. Nesse sentido, partindo da velha premissa de “que a primeira impressão é a que fica”, ainda que a afirmação não revele generalizações, é essencial que o professor no processo de ensino/aprendizagem conduza seus alunos a um “prazeroso” passeio pelo começo da História do Brasil, identificando, junto com eles, os pontos suscetíveis de abordagem. Para que, ao findar do estudo, as informações e fatos históricos não sejam mera “decoreba”, mas sim, aprendizado. Algo que afirmamos ser nosso objetivo. É determinante saber que o estudo dessa unidade didática é complemento do estudo anterior sobre o mercantilismo e as ex- pansões marítimas, e parte integrante de um painel que remonta à história nacional. Nesse sentido, é fundamental que você tenha 32 UNIUBE realizado os estudos passados, certo de que eles o ajudarão a compreender melhor esse estudo que se inicia. Sempre que possível e preciso, retorne ao texto passado. Promover relações entre temas que se completam é também parte do ofício de um historiador. No estudo dessa unidade você vai encontrar paradas para reflexão, paradas obrigatórias (momentos que você utilizará para aprofundar seus conhecimentos) e momentos que exigirão síntese (que é a construção ordenada do conhecimento) do que você aprendeu. É importante que você faça anotações. Não deixe de fazer as leituras obrigatórias e as indicações que aparecem no desenrolar do texto; nelas você encontrará informações para a orientação de seu estudo e formação de conhecimento. Além do mais, é bom que você se acostume com a procura de textos e citações. A pesquisa e a procura de novos “olhares” sobre temas que você estudará é parte inte- grante dos trabalhos a serem desenvolvidos por um professor/ pesquisador. Estamos certos de que o conhecimento histórico não está aca- bado, por isso nos preocupamos em trazer para o texto recentes pesquisas que tratam do tema a ser estudado, sem, é claro, dei- xar de lado os trabalhos de autores clássicos (Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, Fernando Novais), que ainda hoje contribuem para a formação do conhecimento histórico. UNIUBE 33 IMPORTANTE! A procura por diferentes fontes/dados de conhecimento deve ser uma preocupação do estudante e pesquisador de história, certo de que estes o favorecem na busca de objetividade diante dos fatos. Desejamos a você bons estudos, na expectativa de que os co- nhecimentos aqui desenvolvidos o auxiliem em sua formação como professor/historiador,comprometido com um ensino res- ponsável e qualificado. Objetivos Com a expansão marítima e o crescente interesse comercial pelas especiarias da Índia, Portugal lançou-se ao mar à procura de um caminho para obtê-las. Após algumas investidas, Vasco da Gama o encontrou e inaugurou um novo período para o rei- nado português. Nesse sentido, é essencial identificar as razões que levaram Portugal a “descobrir” o Brasil, no dia 22 de abril de 1500. O texto apresenta, além do contato com novas terras, a associação dos portugueses com os povos indígenas que ali se encontravam; também abordando de que maneira foram consolidadas as relações entre os diferentes povos, a partir da premissa portuguesa de exploração e conquista. Perante os fatos, não foram encontrados bens (ouros e espe- ciarias) que tornassem a colônia encontrada uma “preferência” A procura por diferentes fontes/dados de conhecimento deve ser uma preocupação do estudante e pesquisador de história, certo de que estes o favorecem na busca de objetividade diante dos fatos. 34 UNIUBE diante dos interesses portugueses que se concentravam no comércio de especiarias no Oriente. Cabe identificar de que forma se organizaram, a ponto de, nos primeiros anos de conquista, denominados pré-coloniais ou colônia de feitorias, apenas extraírem o pau-brasil das matas brasileiras, por meio de escambo com os índios. Adiante, com a crescente crise das es- peciarias, juntamente com a pressão empreendida pelos piratas e corsários estrangeiros a rondar pelo litoral das terras brasileiras, Portugal buscou alternativas de efetivar a colonização das novas terras. Nesse ponto é indispensável compreender os diferentes processos que caracterizam os agentes históricos e o começo da construção da identidade nacional. Com a ampliação do conhecimento histórico sobre a colonização e exploração do Brasil, nos seus diferentes tempos históricos, almeja-se a construção da participação histórica por parte da- queles que a estudam. Esquema • Expansão Marítima Portuguesa • O que procuravam as caravelas portuguesas • Motivos que levaram Portugal a “descobrir o Brasil” Escambo Permuta ou troca direta, sem fazer uso de moeda. UNIUBE 35 • O “descobrimento” do Brasil • Os índios • Terra de Santa Cruz • O pau-brasil e o escambo • Tentativa de colonização • Capitanias e Sesmarias • Os povos africanos e o tráfico de escravos • Governo-geral 2.1 O contexto da Europa e o pioneirismo português O estudo de como aconteceram as primeiras experiências de coloni- zação e exploração do Brasil, sob diferentes perspectivas, proporciona melhor entendimento de nossas “raízes brasileiras”. Conhecer a his- tória do Brasil é ato obrigatório, não somente pelo conhecimento das datas e fatos, mas pela reflexão e caminho que o referido estudo pode nos levar: uma compreensão da realidade presente, perante os acon- tecimentos que permeiam a vida do brasileiro no curso da História. Se seguirmos a linha de raciocínio do historiador Boris Fausto, de que conhecer a história e ser cidadão é “se orientar no mundo em que vive, a partir do conhecimento da vivência das gerações passadas”, estudar, pensar e refletir a história do Brasil são atos de cidadania com a qual nós estamos comprometidos. 36 UNIUBE Você concorda? Para começarmos os estudos sobre como o sistema colonial (exploração e colonização) português se instalou no Brasil, é necessário voltar nossa atenção para a Europa, no período que antecede a chegada das caravelas portuguesas às praias brasílicas. No capítulo anterior, você estudou sobre a Europa na Idade Média, assim como as mudanças ocorridas nesse período. Você se recorda? • A parte ocidental da Europa foi ocupada pelos bárbaros, o que provo- cou profundas transformações, alterando a estrutura socioeconômica, política e cultural da população europeia. • A economia se ruralizou, as cidades se enfraqueceram, o poder dos monarcas se fragilizou e a Igreja Católica consolidou, fortaleceu e centralizou o poder sobre a sociedade europeia. • A Peste Negra dizimou aldeias inteiras e, junto com isso, grandes extensões de terra foram abandonadas. • Apareceram os feudos, que eram unidades autossuficientes. • Os monarcas se aliaram aos comerciantes e iniciaram o processo de formação dos “estados nacionais”. A respeito do processo de unificação política dos “Estados Nacionais”, entre os países formados e centralizados na figura monarca, que se Você concorda? Para começarmos os estudos sobre como o sistema colonial (exploração e colonização) português se instalou no Brasil, é necessário voltar nossa atenção para a Europa, no período que antecede a chegada das caravelas portuguesas às praias brasílicas. UNIUBE 37 consolidaram na medida em que as relações políticas e de produção que sustentavam o feudalismo se enfraqueciam, Portugal foi o grande pioneiro. Com a Revolução de Avis, colocou no trono um representante (D. João I) que conciliava os interesses da nobreza e da “arraia miúda”, ou seja, da camada popular, o que acelerou a centralização do poder político em Portugal. Os tempos, portanto, eram propícios ao estabeleci- mento do absolutismo monárquico que, contando ainda com a teoria cristã da origem divina do poder, estava destinado a brilhante futuro. Portugal não escapou a essa tendência predominante no Ocidente europeu. (HOLLANDA, 1997, p. 22) Ao longo dos séculos XIII e XIV, Portugal acumulou experiência, nave- gando pelo mar Mediterrâneo. Com os genoveses aprendeu e ampliou suas técnicas de navegação, para a prática comercial de se fazer negócio a longa distância. Como sugere Hollanda (1997, p. 38): [...] É inegável que os portugueses contribuíram sen- sivelmente para o progresso da marinha dos desco- brimentos, ao desenvolverem um tipo de arquitetura naval mais apropriado para esse fim. Também, e não menos importante, a posição geográfica portuguesa era privilegiada, na “ponta” da Europa, no mar Atlântico, o que naturalmente os colocava com a tendência de “voltar-se para fora”, como afirma Fausto (2002, p. 21). Ainda segundo Fausto (idem, p. 23), [...] a expansão correspondia aos interesses diversos das classes, grupos sociais e instituições que compu- nham a sociedade portuguesa. Para os comerciantes era a perspectiva de um bom negócio; para o rei era a oportunidade de criar novas fontes de receita em uma época em que os rendimentos da Coroa tinham dimi- nuído muito, além de ser uma boa forma de ocupar os nobre e motivos de prestígio; para os nobres e membros 38 UNIUBE da Igreja, servir ao rei ou servir a Deus, cristianizando os “povos bárbaros”, resultava em recompensas e em cargos cada vez mais difíceis de conseguir, nos estreitos quadros da Metrópole; para o povo, lançar-se ao mar significava, sobretudo, imigrar, tentar uma vida melhor, fugir de um sistema de opressões. O trecho citado remete à compreensão da política adotada pela Coroa portuguesa. Nela estavam expressas as características da expansão marítima, juntamente com os motivos que os levaram ao mar. Um deles, de ordem imaginária, e de viés aventureiro, que se explica pela necessidade de desmistificação das lendas que rondavam o imaginário europeu: de reinos fantásticos, seres monstruosos, sereias e o fim do mundo. O outro motivo, que você certamente aprendeu quando estudou a história do Brasil, foi de que os portugueses se lançaram ao mar à procura de um caminho que os levasse às Índias e suas especiarias. Isso não está errado. Mas, como vimos, outros fatores são passíveis de nossa reflexão. 2.1.1 Especiarias e o caminho para as Índias Os bens materiais de maior valor comercial, no período das Grandes Navegações, eram o ouro e as especiarias. As especiarias (canela, pimenta, noz-moscada etc.) eram produtos muito importantes na gastronomia europeia, uma vez que os europeus não possuíam modelos eficientes de armazenamento
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