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Taxonomia Reino: Animalia Filo: Nemathelminthes Classe: Nematoda Ordem: Spirurida Superfamília: spiruroidea Família: Spirocercidae Gênero: Spirocerca Espécie: Spirocerca lupi Definição O nematódeo Spirocerca lupi, causador da espirocercose, é um parasito que acomete principalmente cães e canídeos silvestres. A doença é de ocorrência cosmopolita com maior prevalência em países tropicais e subtropicais, sendo endêmica na África do Sul, no Brasil já foram descritos casos no Distrito Federal, Piauí, Pernambuco e Rio de Janeiro. Os vermes adultos parasitam esôfago, estômago e artéria aorta dos hospedeiros definitivos, provocando nódulos, granulomas e diversas lesões. Morfologia O verme adulto, possui coloração avermelhada ou vermelho-sangue e o corpo robusto, grande e enrolado em forma de um espiral. Os machos medem cerca de 5,5 cm e a fêmea 8cm de comprimento. A abertura oral possui forma hexagonal, rodeada por papilas e recobertas por uma espessa camada cuticular, a faringe é curta e os lábios são trilobados. A cauda do macho possui asa caudal (quatro pares e uma não pareada), papila pré-cloacal mediana e papilas pós-cloacais (dois pares). Há um grupo de papilas minúsculas próximo à extremidade da cauda. A espícula direita corresponde a cerca de 1/4 do tamanho da espícula esquerda. A cauda da fêmea é romba, ou seja, é uma cauda mais arredondada. As fêmeas são geralmente mais longas e robustas do que os machos e apresentam, em sua extremidade posterior, uma cloaca em forma de fenda e um par de papilas subterminais. Possuem vulva simples, situada na região esofágica, sem lábios ou quaisquer outras estruturas. Os ovos de S. lupi são alongados ou ovais, com paredes laterais paralelas, dotados de uma espessa camada cuticular e casca lisa. São ovos pequenos que medem em média 35µm de comprimento por 13µm de largura e são visualmente indistinguíveis dos ovos de outras espécies do gênero Spirocerca. Ciclo biológico A infecção ocorre por ciclo indireto (heteróxeno) 1. O ovo alongado com casca espessa contém larvas no estágio L1 2. Esse ovos são excretas nas fezes ou em material de vômito e não eclodem até que sejam ingeridos por um besouro estercorário 3. O besouro é o hospedeiro intermediário onde a larva se desenvolve do estágio L1 até o estágio L3, e se encista 4. Pode acontecer de ter o envolvimento de um hospedeiro paratênicos (transporte), que podem ser lagartixas, ratos, pássaros animais esses que se alimentam desse besouro – nesse caso a larva continua encistada na fase L3, não havendo desenvolvimento 5. A larva só volta a se desenvolver caso o hospedeiro faça a ingestão do hospedeiro paratênico 6. Pode ocorrer também de o hospedeiro definitivo ingerir diretamente o hospedeiro intermediário (besouro) 7. No hospedeiro definitivo são liberadas as larvas L3, que penetram pelo estômago e migram, pela artéria celíaca, até a artéria aorta torácica onde fazem a muda para L4 e em seguida para L5 8. A maior parte das larvas atravessam a parede da aorta e chegam à região caudal do esôfago cerca de 3 meses depois do início da migração 9. Quando se tornam adultos, dão início à formação dos nódulos ou granulomas, onde copulam e se reproduzem 10. A fêmea escava uma pequena abertura na parede esofágica, formando uma estrutura semelhante a uma fistula, por onde os ovos caem no lúmen do órgão, ali podem ser regurgitados ou eliminados pelo vômito, ou ainda podem seguir pelo trato gastrointestinal para serem eliminados nas fezes 11. Embora alguns vermes adultos permaneçam por tempo indeterminado no vaso sanguíneo, somente os parasitos localizados no esôfago são aptos a reprodução 12. No ambiente o ovo larvado é ingerido por hospedeiros intermediários dando continuidade ao ciclo 13. O período pré-patente do parasito é de aproximadamente 3 a 6 meses após a infecção, contudo os ovos podem não ser visualizados nas fezes de alguns animais com infecção pelo verme adulto, isso acontece pois os granulomas não se abrem no lúmen esofágico Transmissão A transmissão acontece quando os hospedeiros definitivos (cães, raposas, canídeos selvagens e muito dificilmente gatos e felídeos selvagens) fazem a ingestão do hospedeiro intermediário ou paratênico contendo a larva infectante (L3) encistada. Manifestações clínicas A espirocercose inicialmente é assintomática, entretanto, pode progredir para um quadro clínico grave, dependendo da migração das larvas, do parasito adulto e dos órgão afetados. A formação dos nódulos esofágicos pode predispor alguns sinais como: regurgitação, vômito, sialorreia, tosse, pirexia, disfagia, apatia e letargia. Por conta dessa massa granulomatosa, o animal sente dor e tem dificuldade em deglutir o que resulta na perda de peso e fraqueza. Patogenia O parasito quando presente no esôfago, pode provocar esofagite granulomatosa e evoluir para a formação de neoplasias. As neoplasias esofágicas costumam ser raras, ocorrem presumivelmente em casos crônicos progressivos e podem ser classificadas histologicamente, como osteosarcoma, fibrossarcoma, sarcoma anaplásico ou condrossarcoma, sendo o primeiro mais frequente e o último raramente relatado. Os sarcomas esofágicos induzidos por esse parasito apresentam altas taxa de metástase e tronam-se progressivamente maiores, eventualmente, resultado em obstrução esofágica e óbito do animal. Quanto mais avançado o desenvolvimento do sarcoma, mais propensos são os quadros de leucocitose (níveis elevados de glóbulos brancos no sangue) e anemia, o que pode dificultar a sobrevivência do animal. A presença do parasito na aorta torácica, é caracterizada principalmente por cicatrizes aórticas e formação de aneurismas. A migração do parasito é responsável pela diminuição da elasticidade e endurecimento das artérias, destruindo sua fibras musculares lisa e elásticas, e o espessamento do endotélio se dá devido ao processo inflamatório granulomatoso. Dependendo do grau da inflamação, os aneurismas podem sofrer rupturas em hemotórax, levando o animal a óbito por choque hipovolêmico (que é quando há grande perda de líquido e sangue, fazendo com que o coração deixe de bombear o sangue necessário para todo o corpo). O parasito presente na circulação pode causar uma alteração no fluxo sanguíneo e somados à exposição do sub-endotélio, que acontece na entrada e na saída do parasita na circulação, resulta na formação de trombos. Esse trombos podem se desprender da parede arterial e se tornar êmbolos, que podem ocluir vasos de menor calibre que se ramificam da aorta. Como consequência do tromboembolismo aórtico, o fluxo sanguíneo pode ficar comprometido em alguns órgãos, provocando infartos esplênicos e renais. Além da migração normal do parasito pode ocorrer a migração errática, sendo esses levados principalmente para tratos gastrointestinal e urinário, além de tecido subcutâneo, pele e medula espinhal. Estudos apontam que os achados erráticos mais frequentes foram relatados no sistema respiratório, sobretudo nos pulmões, onde o aparecimento do parasito nesses órgãos pode causar sons respiratórios anormais, dispneia e lesões teciduais, levando a um quadro de hiperemia, atelectasia, edema, pleurite e pneumonia, e no trato urinário pode se observar nefrite intersticial, lesões na parede da vesícula urinaria e cistite. Não é comum mas a migração errática do parasito para a medula pode causar diversas alterações patológicas, como rigidez no pescoço e dor, dores no dorso, paresia ou paralisia aguda e não simétrica de um membro e diminuição de alguns reflexos. Diagnóstico O diagnóstico é estabelecido com a manifestação clínica da doença, mas muitas vezes a doença só diagnosticada por necropsia. A presença dos nódulos esofágicos característicos da doença, a visualização macroscópica de adultos do parasito e microscópica de seus ovos e larvaspode auxiliar no estabelecimento de um diagnóstico definitivo. Além disso, o diagnostico pode ser comprovado por exames de imagem, como a radiografia torácica, endoscopia e a tomografia computadorizada. Estudos mostraram que a radiografia serve como ferramenta diagnóstica inicial, eficaz na detecção e localização das massas esofágicas típicas de espirocercose e na detecção de anormalidades precoces, como a espondilite das vértebras torácicas. A endoscopia é uma modalidade de escolha para confirmar essas massas esofágicas e orientar para a realização de cirurgias, sendo mais sensível que a radiografia; já a tomografia computadorizada é considerada uma ferramenta sensível para detectar mineralização focal da aorta e espondilite, ambos achados também são típicos da doença. O exame parasitológico deve ser realizado para a observação dos ovos do parasito nas fezes ou ainda, quando são eliminados por meio de êmese. Esse exame tem pouco eficácia, pois depende da carga parasitaria no animal e ainda da possibilidade de formação de fistulas de comunicação para o lúmen do esôfago. Para a realização desse tipo de diagnostico, a melhor técnica preconizada é a de flutuação A histologia das lesões no esôfago e estomago bem como a citologia do líquido cefalorraquidiano são técnicas que auxiliam o diagnostico da doença, principalmente quando há migração errática do parasito, revelando a presença de ovos e/ou adultos em diversos órgãos, além da destruição da mucosa, áreas de necrose e infiltrado inflamatório Os achados de necropsia revelam a maioria dos casos diagnosticados da espirocercose, sendo possível a observação de nódulos esofágicos e gástricos, contendo os parasitos. Após a coleta dos helmintos, os mesmos devem ser clarificados com lactofenol para facilitar a identificação. Tratamento O tratamento dos animais parasitados por vermes adultos, pode ser pouco viável, uma vez que os parasitos possuem a produção dos nódulos fibrosos nos quais estes geralmente se encontram Há relatos de que Ivermectina associado ao nitroxinil, administrado por via subcutânea, apresentou sucesso no tratamente de cães infectados. A Ivermectina associada com prednisolona oral, também demostrou resultados satisfatórios em relação a regressão nodular e supressão da eliminação de ovos por até 2 meses após o último tratamento. Os medicamento mais utilizados são: Doramectina (84%), Ivermectina (10%), Milbemicina (3%) e uma combinação de imidacloprida com moxidectina (3%). Outros anti-helmínticos registrados para o tratamento de Spirocerca lupi são: disofenol, que não está mais disponível e a associação de imidacloprida com moxidectina. Profilaxia Administração mensal e pontual de uma combinação de imidaclopramida e moxidectina para filhotes de 2 a 4 meses de idade, por um período de 9 meses, se mostrou eficaz e bem tolerado para a prevenção da doenças. Outras medidas preventivas são: não deixar os cães terem acesso à rua sem supervisão, não permitindo a ingestão de pássaros, roedores, lagartos entre outros, o que se torna difícil em decorrência dos vários hospedeiros paratênicos envolvidos no ciclo. Além disso, os cães não devem ser alimentados com vísceras cruas de animais domésticos ou silvestres criados extensivamente.
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