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5. Descrever a formação da urina, correlacionando a ação dos diuréticos O sistema urinário é composto pelos rins, ureteres, bexiga urinária e uretra. Os rins produzem a urina e respondem pelas outras funções atribuídas ao sistema urinário. Os ureteres conduzem a urina dos rins para a bexiga urinária, que é um reservatório temporário para a urina. A uretra é uma estrutura que conduz a urina da bexiga urinária para fora do corpo. A função global do sistema urinário consiste em manter o volume e a composição dos líquidos corporais dentro dos limites normais. Sistema urinário - Regulação da produção de hemácias (produção de eritropoietina). - Excreção de resíduos metabólicos. - Manutenção do volume corporal. - Manutenção da composição dos líquidos corporais. - Regulação do metabolismo do cálcio (produção de 1,25-OH-2D). - Regulação da pressão arterial (produção de renina). - Manutenção do pH sanguíneo. São o local de produção da urina. Os rins mantêm concentrações normais de íons e água no sangue através do balanço da ingestão dessas substâncias com a sua excreção na urina, obedecendo ao princípio do balanço de massas. Podemos dividir as funções dos rins em seis áreas gerais: 1. Regulação do volume do líquido extracelular e da pressão arterial. (Quando o volume do líquido extracelular diminui, a pressão arterial também diminui) 2. Regulação da osmolalidade. (O corpo integra a função renal com o comportamento, como a sede) 3. Manutenção do equilíbrio iônico. (O sódio (Na+) é o principal íon envolvido na regulação do volume do líquido extracelular e da osmolalidade. As concentrações dos íons potássio (K+) e cálcio (Ca2+) também são estritamente reguladas) 4. Regulação homeostática do pH. (Se o líquido extracelular se torna muito ácido, os rins excretam H+ e conservam íons bicarbonato (HCO3+), que atuam como tampão. Inversamente, quando o líquido extracelular se torna muito alcalino, os rins excretam HCO3+ e conservam H+. 5. Excreção de resíduos. (Removem produtos do metabolismo e xenobióticos, ou substâncias estranhas, como fármacos e toxinas ambientais. Os produtos do metabolismo incluem a creatinina do metabolismo muscular e resíduos nitrogenados, como a ureia, o ácido úrico, metabólito da hemoglobina, chamado de urobiolinogênio_ 6. Produção de hormônios. (As células renais sintetizam eritropoetina, a citocina/hormônio que regula a produção dos eritrócitos. Os rins liberam renina, uma enzima que regula a produção de hormônios envolvidos no equilíbrio do sódio e na homeostasia da pressão sanguínea. As enzimas renais auxiliam na conversão da vitamina D3 em um hormônio ativo que regula o equilíbrio do Ca2+. O néfron é a unidade funcional do rim, seu interior é dividido em duas camadas: um córtex externo e uma medula interna. O sangue entra no rim pela artéria renal, antes de seguir para as artérias menores, e, depois, para as arteríolas no córtex. Nesse ponto, o arranjo dos vasos sanguíneos forma um sistema porta, um dos três presentes no corpo. Lembre-se que um sistema porta é formado pela presença de duas redes de capilares em série (uma após a outra). No sistema porta renal, o sangue flui das artérias renais para uma arteríola aferente. Das arteríolas aferentes, o sangue passa para uma primeira rede de capilares, uma rede em forma de novelo, chamada de glomérulo. O sangue que deixa os glomérulos passa para uma arteríola eferente, e, então, para uma segunda rede de capilares, os capilares peritubulares, que cercam o túbulo renal. Nos néfrons justamedulares, os longos capilares peritubulares que penetram na medula são chamados de vasos retos. Por fim, os capilares peritubulares convergem para a formação de vênulas e pequenas veias, enviando o sangue para fora dos rins através da veia renal. A função do sistema porta renal é filtrar o fluido sanguíneo para o interior do lúmen do néfron, nos capilares glomerulares, e, então, reabsorver o fluido do lúmen tubular de volta para o sangue, nos capilares peritubulares. As forças que regem o movimento de fluido no sistema porta renal são semelhantes àquelas que regem a filtração de água e moléculas para fora dos capilares sistêmicos em outros tecidos. O túbulo renal é formado por uma camada única de células epiteliais conectadas entre si, próximas à sua superfície apical. As superfícies apicais apresentam microvilosidades ou outras dobras para o aumento da superfície, ao passo que a superfície basal do epitélio polarizado repousa sobre uma membrana basal, ou lâmina basal. As junções célula a célula são em sua maior parte apertadas, mas algumas apresentam permeabilidade seletiva para íons. O néfron inicia em uma estrutura oca globular, chamada de cápsula de Bowman, a qual envolve o glomérulo. O endotélio do glomérulo é unido ao epitélio da cápsula de Bowman, de modo que o líquido filtrado dos capilares passa diretamente para dentro do lúmen tubular. O conjunto formado pelo glomérulo e pela cápsula de Bowman é chamado de corpúsculo renal. A partir da cápsula de Bowman, o filtrado flui para o interior do túbulo proximal e, após, para a alça de Henle, um segmento em forma de grampo que desce até a medula e, posteriormente, retorna para o córtex. A alça de Henle é dividida em dois ramos, um ramo descendente fino e um ramo ascendente com segmentos fino e grosso. O fluido, então, chega até o túbulo distal. Os túbulos distais de até oito néfrons drenam para um único tubo maior, chamado de ducto coletor. (O túbulo distal e seu ducto coletor formam o néfron distal.) Os ductos coletores passam do córtex para a medula e drenam na pelve renal. Da pelve renal, o líquido filtrado e modificado, agora chamado de urina, flui para o ureter no seu trajeto rumo à excreção. O néfron se torce e se dobra para trás sobre si mesmo, de modo que a parte final do ramo ascendente da alça de Henle passa entre as arteríolas aferente e eferente. Essa região é denominada aparelho justaglomerular. A proximidade do ramo ascendente e das arteríolas permite a comunicação parácrina entre essas duas estruturas, uma característica fundamental na autorregulação do rim. Como a configuração torcida do néfron torna difícil acompanhar o fluxo do líquido, desdobramos o néfron nas muitas figuras restantes neste capítulo, de forma que os líquidos fluam da esquerda para a direita. Três processos básicos ocorrem nos néfrons: filtração, reabsorção e secreção Filtração A filtração ocorre no corpúsculo renal, que consiste na rede de capilares glomerulares envolta pela cápsula de Bowman. As substâncias que deixam o plasma precisam passar através de três barreiras de filtração antes de entrarem no lúmen tubular: o endotélio do capilar glomerular, uma lâmina basal (membrana basal) e o epitélio da cápsula de Bowman. A primeira barreira é o endotélio capilar. Os capilares glomerulares são capilares fenestrados com grandes poros, que permitem que a maioria dos componentes plasmáticos sejam filtrados através do endotélio. Os poros são pequenos o bastante, contudo, para impedir que as células do sangue deixem o capilar. Proteínas carregadas negativamente, presentes na superfície dos poros, também ajudam a repelir as proteínas plasmáticas carregadas negativamente. A segunda barreira de filtração é a lâmina basal, uma camada acelular de matriz extracelular que separa o endotélio do capilar do epitélio da cápsula de Bowman. A lâmina basal é constituída por glicoproteínas carregadas negativamente, colágeno e outras proteínas. Ela atua como uma peneira grossa, excluindo a maioria das proteínas plasmáticas do líquido que é filtrado através dela. A terceira barreira de filtração é o epitélio da cápsula de Bowman. A porção epitelial da cápsula que envolve cada capilar glomerular é formada por células especializadas, chamadas de podócitos. Os podócitos possuem longas extensões citoplasmáticas, denominadas pés,ou pedicelos, que se estendem a partir do corpo principal da célula. A filtração é o movimento de líquido do sangue para o lúmen do néfron. A filtração ocorre apenas no corpúsculo renal, onde as paredes dos capilares glomerulares e da cápsula de Bowman são modificadas para permitir o fluxo do líquido. Uma vez que o fluido filtrado, chamado de filtrado, chega ao lúmen do néfron, ele se torna parte do meio externo ao corpo, da mesma forma que as substâncias no lúmen intestinal fazem parte do meio externo. Devido a essa razão, tudo que é filtrado nos néfrons é destinado à excreção na urina, a não ser que seja reabsorvido para o corpo. O que determina a filtração através das paredes dos capilares glomerulares? 1. A pressão hidrostática (PH) do sangue que flui através dos capilares glomerulares força a passagem de fluido através do seu endotélio fenestrado. A pressão sanguínea nos capilares é de 55 mmHg, em média, e favorece a filtração para dentro da cápsula de Bowman. Apesar de a pressão cair à medida que o sangue flui através dos capilares, ela ainda permanence maior do que as pressões que se opõem a ela. Como resultado, a filtração ocorre ao longo de quase todo o comprimento dos capilares glomerulares. 2. A pressão coloidosmótica () no interior dos capilares glomerulares é mais alta do que a no fluido da cápsula de Bowman. Esse gradiente de pressão é devido à presença de proteínas no plasma. O gradiente de pressão osmótica é, em média, de 30 mmHg e favorece o movimento de líquido de volta para os capilares. 3. A cápsula de Bowman é um espaço fechado (diferentemente do líquido intersticial), de forma que a presença de fluido no interior dessa cápsula cria uma pressão hidrostática do fluido (Pfluido), que se opõe ao fluxo de fluido para o interior da cápsula. O líquido filtrado para fora dos capilares deve deslocar o líquido já presente no lúmen da cápsula. A pressão hidrostática capsular é, em média, de 15 mmHg, opondo-se à filtração Os 180 litros de fluido que são filtrados para a cápsula de Bowman a cada dia são quase idênticos ao plasma em sua composição e quase isosmóticos. À medida que este filtrado flui pelo túbulo proximal, cerca de 70% do seu volume é reabsorvido, restando 54 L no lúmen tubular • A autorregulação da TFG é um processo de controle local, no qual o rim mantém uma TFG relativamente constante frente às flutuações normais da pressão arterial. Uma função importante da autorregulação da TFG é proteger as barreiras de filtração da pressão arterial alta que pode danificá-las. O processo da autorregulação ainda não está completamente elucidado, mas vários mecanismos atuam dentro desse processo. - A resposta miogênica está relacionada à habilidade intrínseca do músculo liso vascular de responder a mudanças na pressão. - A retroalimentação (ou feedback) tubuloglomerular é um mecanismo de sinalização parácrina pelo qual mudanças no fluxo de líquido na alça de Henle alteram a TFG. • Os hormônios e o sistema nervoso autônomo alteram a TFG de duas maneiras: - O controle neural da TFG é mediado pelos neurônios simpáticos que inervam as arteríolas aferente e eferente. A inervação simpática via receptores no músculo liso vascular causa vasoconstrição. Se a pressão arterial sistêmica cai abruptamente, como ocorre em uma hemorragia ou em uma desidratação grave, a vasoconstrição das arteríolas induzida pelo sistema nervoso simpático diminui a TFG e o fluxo sanguíneo renal. - Vários hormônios também influenciam a resistência arteriolar. Entre os mais importantes estão a angiotensina II, um potente vasoconstritor, e as prostaglandinas, que atuam como vasodilatadoras. Os podócitos alteram o tamanho das fendas de filtração glomerular - A contração das células mesangiais altera a área de superfície do capilar glomerular disponível para a filtração Após o filtrado deixar a cápsula de Bowman, ele é modificado pelos processos de reabsorção e secreção. Reabsorção A reabsorção é um processo de transporte de substâncias presentes no filtrado, do lúmen tubular de volta para o sangue através dos capilares peritubulares. Dos 180 L de líquido que são filtrados dos capilares glomerulares para dentro dos túbulos renais apenas cerca de 1,5 L é excretado na urina. A maior parte dessa reabsorção ocorre no túbulo proximal, com uma quantidade menor de reabsorção nos segmentos distais do néfron. A reabsorção no néfron distal é finamente regulada, possibilitando aos rins reabsorverem seletivamente íons e água de acordo com as necessidades do organismo para a manutenção da homeostasia. A reabsorção pode ser ativa ou passiva. Secreção Secreção é a transferência de moléculas do líquido extracelular para o lúmen do néfron. A secreção, assim como a reabsorção, depende principalmente de sistemas de transporte de membrana. A secreção de K e H pelo néfron distal é importante na regulação da homeostasia desses íons. A secreção é um processo ativo, uma vez que requer transporte de substratos contra seus gradientes de concentração. A maioria dos compostos orgânicos é secretada através do epitélio do túbulo proximal para o interior do lúmen tubular por transporte ativo secundário. A secreção remove seletivamente moléculas do sangue e as adiciona ao filtrado no lúmen tubular. Embora a secreção e a filtração glomerular movam substâncias do sangue para dentro do túbulo, a secreção é um processo mais seletivo que, em geral, usa proteínas de membrana para transportar as moléculas através do epitélio tubular. Excreção A produção de urina é o resultado de todos os processos que ocorrem no rim. Quando o líquido chega ao final do néfron, ele apresenta pouca semelhança com o líquido que foi filtrado para a cápsula de Bowman. Glicose, aminoácidos e metabólitos úteis desaparecem, tendo sido reabsorvidos para dentro do sangue, e os resíduos orgânicos estão mais concentrados. A concentração de íons e água na urina é extremamente variável, dependendo do estado do corpo. Os diuréticos aumentam a eliminação de Na+ e água. Diminuem a reabsorção de Na + e de um ânion acompanhante (em geral) de Cl − do filtrado, sendo o aumento da perda de água secundário ao aumento da eliminação de NaCl (natriurese). Isso pode ser obtido por: • Ação direta sobre as células do néfron; • Indiretamente, por modificação do conteúdo do filtrado. Dado que uma proporção muito grande do sal (NaCl) e da água que entra no túbulo via glomérulo é reabsorvida, até uma pequena diminuição de reabsorção pode causar acentuado aumento da eliminação de Na+. FIG. 29.4 Esquema mostrando a absorção de sódio e cloreto no néfron e os principais locais de ação dos fármacos. As células são retratadas como uma borda rosa em torno da luz tubular amarela. Mecanismos de absorção de íons na margem apical da célula tubular: (1) troca Na + /H + ; (2) cotransporte de Na + /K + /2Cl − ; (3) cotransporte de Na + /Cl − ; (4) entrada de Na + através dos canais de sódio. O sódio é bombeado para fora das células e para o interstício pela Na + /K + -ATPase na margem basolateral das células tubulares (não mostrado). Os números nos quadros dão a concentração de íons em milimol por litro de filtrado e a porcentagem de íons filtrados ainda restantes no líquido tubular nos locais especificados. TC, túbulo coletor; TD, túbulo distal; TCP, túbulo contorcido proximal; AAE, alça ascendente espessa. FIG. 29.5 Efeito de fármacos no transporte iônico tubular renal. [A] Reabsorção do íon bicarbonato no túbulo contorcido proximal, mostrando a ação dos inibidores da anidrase carbônica. [B] Transporte de íons no ramo ascendente espesso da alça de Henle, mostrando o local de ação dos diuréticos de alça. [C] Transporte de sal no túbulo contorcido distal, mostrando o local de ação dos diuréticos tiazídicos. [D] Ações de hormônios e fármacos sobre o túbulo coletor. As células são impermeáveis à água na ausênciade hormônio antidiurético (HAD) e ao Na + na ausência de aldosterona. Esta última atua sobre um receptor nuclear dentro da célula tubular e sobre receptores de membrana. A maioria dos diuréticos com ação direta sobre as células do néfron atuam a partir do interior da luz tubular e chegam a seus locais de ação pelo fato de serem secretados para o túbulo proximal (com exceção da espironolactona). Diuréticos que atuam diretamente sobre as células do néfron Os principais diuréticos terapeuticamente úteis atuam sobre: - O ramo ascendente da alça de Henle; - O início do túbulo distal; - Os túbulos e ductos coletores. Os diuréticos de alça são os mais potentes, capazes de causar a eliminação de 15-25% do Na+ filtrado. Sua ação costuma ser descrita – numa frase que evoca um quadro um tanto desconfortável – como causadora de “fluxo urinário torrencial”. O principal exemplo é a furosemida; a bumetanida é um agente alternativo. Esses fármacos atuam sobre o ramo ascendente espesso, inibindo o transportador Na+ /K+ /2Cl− na membrana luminal, combinando-se com seu ponto de ligação para Cl−. As ações vasculares dos diuréticos de alça também não se compreendem inteiramente. A administração intravenosa de furosemida a pacientes com edema pulmonar causado por insuficiência cardíaca aguda provoca um efeito vasodilatador terapeuticamente útil, independente do início da diurese. Possíveis mecanismos invocados incluem diminuição da responsividade vascular a vasoconstritores como a angiotensina II e a norepinefrina; aumento da formação de prostaglandinas vasodilatadoras; diminuição da produção do hormônio natriurético endógeno semelhante à ouabaína (inibidor da Na+ /K+ -ATPase), que tem propriedades vasoconstritoras; e efeitos de abertura de canais de potássio em artérias de resistência. Os diuréticos de alça aumentam a oferta de Na+ ao néfron distal, causando perda de H+ e K+. Considerando que ocorre perda urinária de Cl−, mas não de HCO3−, a concentração plasmática de HCO3 − aumenta quando o volume plasmático é reduzido – uma forma de alcalose metabólica, portanto, denominada “alcalose de contração”. Os diuréticos de alça aumentam a eliminação de Ca2+ e Mg2+ e diminuem a eliminação de ácido úrico. Aspectos farmacocinéticos Os diuréticos de alça são absorvidos do trato gastrointestinal e geralmente são administrados por via oral. Também podem ser dados por via intravenosa em situações de urgência (p. ex., edema agudo de pulmão) ou quando a absorção intestinal estiver comprometida, como em casos de redução da perfusão intestinal em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva crônica grave, que podem se tornar resistentes à ação de diuréticos administrados por via oral. Administrados por via oral atuam em 1 hora; por via intravenosa, produzem efeito máximo em 30 minutos. Os diuréticos de alça ligam- se fortemente às proteínas plasmáticas e não passam diretamente ao filtrado glomerular. Chegam ao seu local de ação – a membrana luminal das células do ramo ascendente espesso – por serem secretados no túbulo contorcido proximal pelo mecanismo de transporte de ácidos orgânicos; a fração assim secretada é eliminada na urina. Na síndrome nefrótica os diuréticos de alça ligam-se à albumina no fluido tubular e, consequentemente, não ficam disponíveis para atuar sobre o transportador Na+ /K+ /2Cl− – outra causa de resistência a diuréticos. A variação molecular do transportador Na + /K+ /2Cl − também pode ser importante em alguns casos de resistência a diuréticos. A fração do diurético não eliminada na urina é metabolizada, sobretudo no fígado – a bumetanida pelas vias do citocromo P450, e a furosemida por glicuronidação. A meiavida plasmática é de cerca de 90 minutos (mais longas na insuficiência renal), e a duração de ação de 3 a 6 horas. Os usos clínicos dos diuréticos de alça são dados no quadro clínico. Usos clínicos dos diuréticos de alça (p. ex., furosemida) • Os diuréticos de alça são usados (com cautela!), em combinação com restrição de sal na dieta e muitas vezes com outras classes de diuréticos, no tratamento de sobrecarga de sal e água associada a: – Edema agudo de pulmão – Insuficiência cardíaca crônica – Cirrose hepática complicada por ascite – Síndrome nefrótica – Insuficiência renal. • Tratamento de hipertensão complicada por comprometimento renal (os tiazídicos são preferidos, caso a função renal estiver preservada). • Tratamento de hipercalcemia após reposição do volume plasmático usando solução intravenosa de NaCl. Efeitos adversos São comuns os efeitos indesejáveis diretamente relacionados à ação renal dos diuréticos de alça. Perdas excessivas de Na+ e água são comuns, em especial em idosos, e causam hipovolemia e hipotensão. A perda de potássio, resultando em K+ baixo no plasma (hipocalemia), e a alcalose metabólica também são comuns. A hipocalemia aumenta os efeitos e a toxicidade de vários fármacos (p. ex., digoxina, e os antiarrítmicos tipo III), de modo que esta é potencialmente uma fonte importante de interação medicamentosa. Se necessário, a hipocalemia pode ser evitada ou tratada pelo uso concomitante de diuréticos poupadores de K+, algumas vezes com reposição suplementar de potássio. Hipomagnesemia costuma ser menos vista, mas também pode ser clinicamente importante; a hiperuricemia é comum, podendo precipitar gota aguda. A diurese excessiva leva à redução da perfusão renal e comprometimento pré-renal (um sinal precoce é a elevação da concentração de ureia no soro). Não são frequentes os efeitos indesejáveis não relacionados às ações renais dos fármacos. A perda de audição relacionada à dose (composta pelo uso concomitante de outros fármacos ototóxicos, como os antimicrobianos aminoglicosídeos) pode resultar do transporte prejudicado do íon pela membrana basolateral da estria vascular na orelha interna. Ocorre somente em doses muito mais altas das que usualmente são necessárias para produzir diurese. Podem ocorrer reações adversas não relacionadas com o efeito farmacológico principal (p. ex., rashes, depressão da medula óssea). Os diuréticos que atuam sobre o túbulo distal incluem tiazídicos (p. ex., bendroflumetiazida, hidroclorotiazida) e fármacos relacionados (p. ex., clortalidona, indapamida e metolazona. Os tiazídicos são menos potentes que os diuréticos de alça, pelo menos em termos de pico de crescimento da taxa de formação da urina, e são preferidos para tratar hipertensão não complicada. São mais tolerados que os diuréticos de alça e, em ensaios clínicos, demonstram reduzir os riscos de acidente vascular cerebral (AVC) e de infarto do miocárdio associados à hipertensão. No maior ensaio a clortalidona teve um desempenho tão bom quanto o de anti- hipertensivos mais modernos (um inibidor da enzima conversora de angiotensina [ECA] e um antagonista do cálcio). Ligam-se ao ponto do Cl− do sistema de cotransporte tubular distal de Na+/Cl−, inibindo sua ação e causando natriurese com perda de íons sódio e cloreto na urina. A contração do volume sanguíneo decorrente estimula a secreção de renina, levando à formação de angiotensina e à secreção de aldosterona. Este mecanismo homeostático limita o efeito dos diuréticos sobre a pressão arterial, resultando, in vivo, em uma relação dose-resposta hipotensiva com apenas um gradiente leve durante posologia crônica. Os efeitos dos tiazídicos sobre o balanço de Na+, K+, H+ e Mg2+ são qualitativamente semelhantes aos dos diuréticos de alça, mas de menor magnitude. Em contraste com os diuréticos de alça, entretanto, os tiazídicos reduzem a eliminação de Ca2+, o que pode ser vantajoso em pacientes mais idosos com risco de osteoporose. Isso poderia favorecer os tiazídicos em relação aos diuréticos de alça em termos de metabolismo ósseo. Embora os tiazídicos sejam diuréticos mais suaves que os diuréticos de alça quando usados isoladamente,a coadministração com diuréticos de alça tem efeito sinérgico, porque o diurético de alça oferece maior fração da carga filtrada de Na + ao local de ação do tiazídico no túbulo distal. Os diuréticos tiazídicos têm ação vasodilatadora. Quando usados no tratamento de hipertensão, a queda inicial da pressão arterial decorre da diminuição do volume sanguíneo causada pela diurese, mas a vasodilatação contribui para a fase tardia. Os diuréticos tiazídicos têm um efeito paradoxal no diabetes insípido, no qual reduzem o volume de urina por interferência com a produção de líquido hipotônico no túbulo distal e a capacidade do rim de secretar urina hipotônica (i. e., reduzem a depuração de água livre). Aspectos farmacocinéticos Os tiazídicos e fármacos relacionados são eficazes por via oral. Todos são eliminados na urina, principalmente por secreção tubular, e competem com o ácido úrico para o transportador de ânions orgânicos (OAT, ver Cap. 9). A bendroflumetiazida tem seu efeito máximo em cerca de 4-6 horas, e a duração é de 8-12 horas. A clortalidona tem duração de ação mais prolongada. Usos clínicos dos diuréticos tiazídicos (p. ex., bendroflumetiazida) • Hipertensão. • Insuficiência cardíaca leve (em geral preferem-se diuréticos de alça). • Edema resistente grave (metolazona, em especial é usada juntamente com diuréticos de alça). • Para prevenir formação recorrente de cálculos na hipercalciúria idiopática. • Diabetes insípido nefrogênico. Efeitos adversos Além do aumento na frequência urinária, o efeito indesejável mais comum dos tiazídicos, não obviamente relacionado à sua ação renal principal, é a disfunção erétil. A disfunção erétil foi substancialmente mais comum do que em homens alocados para os antagonistas de receptores β-adrenérgicos ou para o placebo. A disfunção erétil associada aos tiazídicos é reversível; é menos comum com doses baixas usadas na prática clínica, mas continua a ser um problema. A perda de potássio pode ser importante, assim como a perda de Mg2+. A excreção do ácido úrico é reduzida, e pode ocorrer alcalose hipoclorêmica. Presume-se que a tolerância à glicose diminuída, devida à inibição da secreção de insulina, possa ser resultante da ativação dos canais KATP nas células das ilhotas pancreáticas. O diazóxido, um tiazídico não diurético, também ativa os canais KATP, causando vasodilatação e comprometimento da secreção de insulina. Diz-se que a indapamida reduz a pressão sanguínea com menos distúrbios metabólicos do que os fármacos correlatos, possivelmente por ser comercializada em uma dose equivalente mais baixa. Hiponatremia é potencialmente grave, especialmente nos idosos. Hipocalemia pode ser causa de interação medicamentosa adversa (ver anteriormente em Diuréticos de alça) e pode precipitar encefalopatia em pacientes com hepatopatia grave. Reações adversas não relacionadas com a farmacologia principal (p. ex., rashes, discrasias sanguíneas) são raras, mas podem ser graves. A espironolactona e a eplerenona têm ação diurética muito limitada quando usadas isoladamente, porque a troca distal de Na+/K+ – local em que agem – é responsável pela reabsorção de apenas 2% do Na + filtrado. Elas têm, contudo, acentuados efeitos anti- hipertensivos, prolongam a sobrevida em pacientes selecionados com insuficiência cardíaca e podem impedir hipocalemia quando combinadas a diuréticos de alça ou tiazídicos. Competem com a aldosterona por seus receptores intracelulares, assim inibindo a retenção de Na+ e a secreção de K+ em nível distal. Aspectos farmacocinéticos A espironolactona é bem absorvida no intestino. Sua meia-vida plasmática é de apenas 10 minutos, mas seu metabólito ativo, canrenona, tem meia-vida plasmática de 16 horas. A ação da espironolactona é amplamente atribuível à canrenona. Compativelmente com isso, seu início de ação é lento, levando vários dias para se desenvolver. A eplerenona tem meia-vida de eliminação mais curta que a canrenona e não tem metabólitos ativos. É administrada por via oral uma vez ao dia. Efeitos adversos Os antagonistas da aldosterona predispõem à hipercalemia, que é potencialmente fatal. Não devem ser coprescritos suplementos de potássio, a não ser em circunstâncias especiais seguidas de monitoração apertada, sendo necessária a monitoração da creatinina e dos eletrólitos no plasma se esses fármacos forem usados para pacientes com comprometimento da função renal, especialmente se também forem prescritos outros fármacos que possam aumentar o potássio plasmático, tais como os inibidores da ECA, antagonistas dos receptores da angiotensina (sartans) ou antagonistas dos receptores β-adrenérgicos – como costuma ocorrer para os pacientes com insuficiência cardíaca. É bem comum o desconforto gastrointestinal. As ações da espironolactona/canrenona sobre os receptores de progesterona e andrógenos em tecidos não renais podem resultar em ginecomastia, distúrbios menstruais e atrofia testicular. A eplerenona tem afinidade mais baixa por esses receptores, e são menos comuns os efeitos estrogênicos colaterais com as doses autorizadas para esse fármaco. Usos clínicos dos diuréticos poupadores de potássio (p. ex., amilorida, espironolactona) • Juntamente com diuréticos perdedores de K+ (i. e., de alça ou tiazídicos) de modo a prevenir perda de K+, em casos nos quais a hipocalemia seja especialmente perigosa (p. ex., pacientes que necessitem de digoxina ou amiodarona. • Espironolactona ou esplerenona usadas em: – Insuficiência cardíaca, para aumentar a sobrevida – Hiperaldosteronismo primário, (síndrome de Conn) – Hipertensão essencial resistente (em especial hipertensão com renina baixa) – Hiperaldosteronismo secundário causado por cirrose hepática complicada por ascite. Assim como os antagonistas da aldosterona, o triantereno e a amilorida têm eficácia apenas limitada como diuréticos, porque também atuam no néfron distal, onde ocorre apenas pequena fração de reabsorção de Na+. Atuam sobre os túbulos coletores e ductos coletores, inibindo a reabsorção de Na+ por bloqueio dos canais de sódio luminais e diminuição da eliminação de K+. Podem ser administrados juntamente com diuréticos de alça ou tiazídicos, com a finalidade de manter o balanço de potássio. Aspectos farmacocinéticos O triantereno é bem absorvido no trato gastrointestinal. Seu início de ação é em 2 horas, e sua duração de ação, de 12-16 horas. É metabolizado, em parte, no fígado, e em parte eliminado inalterado na urina. A amilorida é menos bem absorvida e tem início de ação mais lento, com um pico em 6 horas e uma duração de cerca de 24 horas. A maior parte do fármaco é eliminada inalterada na urina. Efeitos adversos O principal efeito indesejável, a hipercalemia, está relacionado à ação farmacológica desses fármacos e pode ser perigoso, especialmente nos pacientes com comprometimento renal ou que estejam recebendo outros fármacos que possam aumentar o K+ plasmático. Foram relatados distúrbios gastrointestinais, mas não são frequentes. O triantereno foi identificado em cálculos renais, mas seu papel etiológico é incerto. São incomuns as reações idiossincráticas, como os rashes cutâneos. Os inibidores da anidrase carbônica – por exemplo, acetazolamida – aumentam a eliminação de bicarbonato acompanhado de Na+, K+ e água, resultando em aumento do fluxo de urina alcalina e acidose metabólica. Esses agentes, embora já não usados como diuréticos, ainda são aplicados no tratamento de glaucoma para reduzir a formação de humor aquoso e também em alguns tipos de epilepsia infantil, e para acelerar a aclimatação a altitudes elevadas. A perda urinária de bicarbonato causa depleção do bicarbonato extracelular, e o efeito diurético dos inibidores da anidrase carbônica, consequentemente, é autolimitado. A acetazolamida é uma sulfonamida e podem ocorrer efeitos indesejáveiscomuns às outras sulfonamidas, como rashes, discrasias sanguíneas e nefrites intersticiais. Os diuréticos osmóticos são substâncias farmacologicamente inertes (p. ex., manitol) filtradas no glomérulo, mas não reabsorvidas pelo néfron. Para causar diurese, precisam constituir uma fração apreciável da osmolaridade do fluido tubular. Dentro do néfron, seu principal efeito é exercido sobre aquelas partes do néfron que são livremente permeáveis à água: o túbulo proximal, o ramo descendente da alça e (na presença de HAD; ver anteriormente) os túbulos coletores. A reabsorção passiva de água é reduzida pela presença de soluto não reabsorvível dentro do túbulo; consequentemente, um volume maior de líquido continua no túbulo proximal. Isso tem o efeito secundário de reduzir a reabsorção de Na+. Portanto, o principal efeito dos diuréticos osmóticos é aumentar a quantidade de água eliminada, com menor aumento da eliminação de Na+. Eles são às vezes usados na insuficiência renal aguda, que pode ocorrer em decorrência de hemorragia, trauma ou infecções sistêmicas. A taxa de filtração glomerular se reduz, e a absorção de NaCl e água no túbulo proximal se torna quase completa, de modo que partes mais distais do néfron virtualmente “secam” e cessam o fluxo urinário. As proteínas são depositadas nos túbulos e podem impedir o fluxo de líquido. Os diuréticos osmóticos (p. ex., manitol administrado por via intravenosa em uma dose de 12-15 g) podem limitar esses efeitos, pelo menos se dados nos primeiros estágios, embora aumentem o volume intravascular e tragam o risco de insuficiência do ventrículo esquerdo. Também são utilizados como tratamento de emergência para aumento súbito da pressão intracraniana ou intraocular. Esse tratamento não se relaciona com o rim, em absoluto, porém se baseia no aumento da osmolaridade plasmática por solutos que não penetram no cérebro ou nos olhos, o que resulta no efluxo de água desses compartimentos. Os efeitos adversos incluem expansão transitória do volume do líquido extracelular (com risco de causar insuficiência do ventrículo esquerdo) e hiponatremia. Podem ocorrer cefaleia, náuseas e vômitos. • Elimina-se normalmente menos de 1% do Na+. • Os diuréticos aumentam a eliminação de sal (NaCl ou NaHCO3 ) e água. • Os diuréticos de alça, os tiazídicos e os diuréticos poupadores de K + são os principais fármacos terapêuticos. • Os diuréticos de alça (p. ex., furosemida) causam abundante produção de urina. Inibem o cotransportador Na+/K+/2Cl− no ramo ascendente espesso da alça de Henle. São usados no tratamento da insuficiência cardíaca e outras doenças complicadas por retenção de sal e água. Hipovolemia e hipocalemia são importantes efeitos indesejáveis. • Os tiazídicos (p. ex., bendroflumetiazida) são menos potentes que os diuréticos de alça. Inibem o cotransportador Na+/Cl− no túbulo contorcido distal. São usados no tratamento da hipertensão. Um efeito adverso importante é disfunção erétil. Podem ocorrer hipocalemia e outros efeitos metabólicos. • Os diuréticos poupadores de potássio: – Atuam no néfron distal e túbulos coletores; são diuréticos muito fracos, mas eficazes em algumas formas de hipertensão e insuficiência cardíaca, e podem impedir a hipocalemia causada por diuréticos de alça e tiazídicos – A espironolactona e a eplerenona competem com a aldosterona por seu receptor – A amilorida e o triantereno atuam bloqueando os canais de sódio controlados pelo mediador proteico a aldosterona. Referências: 1. WHALEN, K.; FINKEL, R.; PANAVELIL, T. A. Farmacologia ilustrada. 6ª ed. Porto Alegre, RS: Artmed, 2016. 2. RANG, H. P.; RITTER, J. M.; FLOWER, R. J.; HENDERSON, G. Rang & Dale: farmacologia. 8ª ed. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier, 2016. 3. SILVERTHORN, D. Fisiologia Humana: Uma Abordagem Integrada. 7ª Edição. Artmed, 2017. 4. GUYTON, A.C. e Hall J.E. - Tratado de Fisiologia Médica. Editora Elsevier. 13ª ed., 2017.