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Fernanda Carvalho, 4º semestre - TUT 04 1 Genética Genética do câncer O câncer é uma doença de origem genética, mas que obviamente é desencadeada por diversos fatores (doença multifatorial). Para todo tipo de câncer, seja ele hereditário ou não, o indivíduo vai ter uma alteração no DNA, e é por esse motivo que se diz que existe uma origem genética. Existem fatores que irão desencadear o surgimento desse processo tumoral (carcinogênico), fatores que estão associados a uma exposição a agentes físicos, químicos e biológicos. E por que um agente físico como a radiação UV causa câncer? A radiação UV provoca lesão, induz mutação no material genético do indivíduo e por isso que pode haver o aparecimento de processos tumorais. Mas isso vai ser causa do câncer em genes específicos, que é o que vai estabelecer essa ligação entre o câncer e a genética. Sabe-se, também, que as mutações que causam o câncer vão estar localizadas em dois grupos gênicos, os quais irão controlar os mecanismos proliferativos e apoptóticos, e será preciso um balanço entre esses dois mecanismos pois, se houver um desbalanço (mais apoptose do que proliferação, por exemplo), pensando em células do SN (que são células que não fazem mitose, não se regeneram), a pessoa pode ter doenças neurodegenerativas. E se houver mais proliferação do que apoptose pode ter um câncer. Sendo assim, fica-se claro que esse balanço é preciso para um controle homeostático do organismo, a fim de evitar essas condições fisiopatológicas, e esses controles são mediados por genes, através da expressão das suas respectivas proteínas (existem proteínas que irão estimular o processo proliferativo, existem aquelas que irão estimular o processo apoptótico) e vai ser preciso manter esse controle. Então, a partir disso, percebe-se a importância da genética para as manifestações e surgimento dos tumores. CARACTERÍSTICAS DE UMA CÉLULA TUMORAL (TUMOR MALÍGNO): o Um tumor maligno é um agregado de células aberrantes (todas originárias de um único clone); o Possui uma rápida taxa de mitose: a célula tumoral consegue progredir nas fases do ciclo celular mais rapidamente. Sabe-se que a célula tem um ciclo que é dividido em algumas fases, e dentro dessas fases existem subfases. Essas fases precisam de controle de progressão – nos intervalos entre elas existem mecanismos de checagem (check points), logo, para passar de uma fase para outra é preciso haver a verificação (verifica-se se a célula pode progredir: se o DNA está íntegro, se os componentes celulares estão íntegros e se podem ser utilizados pela célula). Se estiver tudo certo, a célula poderá progredir de uma fase para a outra. As células ficam estagnadas por muito tempo nesses pontos de checagem, uma vez que os check points não só checam, mas também permitem o reparo caso tenha algum erro. Se não houver reparo, a célula entra em apoptose (morte celular programada). Em uma célula tumoral, esses mecanimos de checagem se perdem (há um bloqueio das proteínas que agem nesses pontos) e essa célula irá progredir muito mais rapidamente de uma fase para outra no ciclo celular. Isso que faz aumentar a taxa de mitose: a perda dos mecanismos de checagem entre uma fase e outra do ciclo celular. Fernanda Carvalho, 4º semestre - TUT 04 2 Genética o Habilidade de invadir novos territórios, associado a perda de revestimento celular: as células acabam perdendo a sua estrutura de revestimento externo (açúcar), e quando essa camada de açúcar se perde, acaba levando consigo também a identificação das células. Como essas células deixam de ser identificadas pelo sistema de controle, acabam adquirindo a capacidade de migrar para outros tecidos, e lá elas não são reconhecidas e nem identificadas, por terem perdido a sua camada de açúcar. Então elas começam a invadir novos territórios e se multiplicar e gerar, por exemplo, um processo metastático. o Alta taxa metabólica: capacidade de a célula quebrar ou formar novas substâncias. Sabe-se que o metabolismo se resume em reação de síntese (anabólica) e quebra (catabólica). E uma das reações básicas que se tem de quebra, por exemplo, é a quebra de glicose para gerar energia. E o que se observa é que nas células tumorais as taxas metabólicas são aumentadas: nessas células a necessidade de glicose é maior, pois ela está em constante divisão. Isso pode ser utilizado para o PET SCAN (é administrado no paciente antes desse exame de imagem um contraste e nele é adicionado um análogo de glicose. Como esse análogo é marcado por um radioisótopo, quando o paciente é submetido ao exame de imagem, vai ser possível visualizar de maneira colorida esse análogo da glicose sendo internalizado pelas células. Se for uma célula tumoral, vai ter uma alta captação desse análogo de glicose e vai ser possível fazer uma avaliação metabólica através dessa internalização e vai poder sugerir uma alta taxa metabólica naquela região; o Forma anormal da morfologia. CÂNCER, UM COMPLEXO DE DOENÇAS HEREDITÁRIAS OU NÃO: o Qualquer tipo celular em nosso corpo pode ser convertido em um estado maligno; o Mutações podem ser transmitidas à prole (linhagem germinativa – espermatogônias e ovogônias) – câncer hereditário. Se as mutações ocorrerem nessas células germinativas, elas podem, então, ser transmitidas à prole. E se esse câncer for desenvolvido, pode-se chamá-lo de hereditário. Entenda: o que se transmite não é o câncer, mas sim as mutações. Para a pessoa desenvolver o câncer, ela precisa ter também fatores ambientais envolvidos no processo. Além dos fatores ambientais, existem fatores genéticos específicos da pessoa também que podem participar da ativação ou inativação dos genes. o A maior parte surge de novo (linhagem somática): todas as outras células que não sejam da linhagem germinativa. Quando as mutações surgem nessas células, elas podem gerar um processo carcinogênico, porém ele não vai ser passado para a prole (gerações futuras). QUAIS TIPOS DE MUTAÇÕES (GENES) SÃO ASSOCIADOS ÀS CÉLULAS TUMORAIS? As mutações acontecem em dois grupos gênicos. Os oncogenes estão associados à proliferação celular: estimulam mitose. Já os genes supressores tumorais fazem o contrário: diminuem a taxa mutagênica e atuam no mecanismo de check point e induzem também a apoptose, caso as células não possam ser reparadas. Fernanda Carvalho, 4º semestre - TUT 04 3 Genética Sabe-se que para cada gene existem dois alelos: um herdado do pai e outro da mãe. No caso das mutações em oncogenes, para que o indivíduo tenha capacidade de manifestar sintomatologicamente, fenotipicamente os efeitos daquela mutação, só será preciso a alteração acontecendo em um dos alelos, isso porque esse alelo é dominante. Já no caso das mutações em genes supressores tumorais, para que os efeitos fenotípicos de uma mutação sejam apresentados, será preciso que essa mutação aconteça em dose dupla (nos dois alelos: tanto no paterno quanto no materno); e só assim é que o indivíduo terá, por exemplo, uma modificação no seu gene supressor tumoral capaz de lhe predispor ao câncer. O câncer está associado a alterações gênicas pontuais no material genético e pode estar associado, também, com alterações cromossômicas (normalmente estruturais - deleção ou translocação entre cromossomos não homólogos). o Células que precisam proliferar são as que estão em constante renovação (ex.: células epiteliais, células de tecidos que sofrem alguma lesão);o Existem genes próprios que estimulam a mitose, mas se essa mitose for numa célula cancerígena haverá a formação tumoral sucessivamente; o Esses genes passam a se transformar em oncogene (estimula mitose, mas numa célula cancerígena vai estimular o câncer), que dão o subsídio necessário para a célula tumoral se multiplicar pela atividade intrínseca característica daquele gene. ONCOGENES: o São genes que estimulam a mitose; o Existem mais de 100 oncogenes diferentes; o Se manifesta com apenas 1 alelo mutado. o Proto-oncogenes: são genes que ainda não possuem um potencial de gerar um processo carcinogênico. Seria um oncogene primitivo. Apenas após um processo mutagênico é que eles passam a se chamar de oncogenes. E esses oncogenes irão estimular a proliferação da célula. Essa célula além de se proliferar, terá também que escapar do mecanismo apoptótico, e isso faz com que essa célula acumule alterações morfológicas e genéticas, o que a caracterizam como uma célula tumoral. Quando essa célula se dividir, ela vai formar células tumorais clones dela. Um exemplo disso é o oncogene ras. O oncogene ras codifica para a proteína RAS. Normalmente, o gene e a proteína possuem o mesmo nome. Na imagem acima, observa-se a sequência selvagem (normal) e abaixo dela a sequência alterada. O que fez com que o proto- oncogene (sequência selvagem) se transformasse em oncogene foi uma mutação pontual pela substituição de glicina por valina (percebe-se que houve a substituição de guanina por timina – substituição por transversão, uma vez que mudou o nucleotídeo de um tipo de base (púrica - guanina) para outro tipo (pirimídica - timina). Além de tudo isso, podemos afirmar, também, que é uma mutação não silenciosa, pois houve a troca do aminoácido. Qual a repercussão fenotípica disso? A proteína Ras, então, será codificada. Ela está sobre dois estados: ativo (ligado ao GTP) e o inativo (ligado ao GDP). Quando Ras está ativa, ela induz proliferação celular. Porém, no caso da imagem acima, essa Ras está mutada, e essa mutação faz com que a proteína Ras não consiga se inativar, Fernanda Carvalho, 4º semestre - TUT 04 4 Genética portanto, não consegue hidrolisar o GTP e transformá-lo em GDP para que se torne uma proteína inativa. Sendo assim, ela vai se tornar uma proteína continuamente ativa (vai ficar o tempo inteiro induzindo proliferação celular). Isso acontece, por exemplo, no câncer de bexiga humano. GENES SUPRESSORES TUMORAIS: o São genes que atuam em duas frentes: 1. Regulação negativa do ciclo celular (em que tenta bloquear os processos mitogênicos); 2. Regulação positiva da apoptose (posteriormente, caso a célula não consiga reparar algum possível dano, eles regulam positivamente os processos apoptóticos). o 50% dos tumores humanos apresentam o gene p53 não-funcional (mutação nos 2 alelos). Sendo, assim, não evita a progressão do ciclo celular em células danificadas; o A gene P53 (supressor tumoral) quando está ativo, é um regulador transcricional que é ativado em resposta ao dano ao DNA. Precisa ocorrer nos dois alelos, evita a progressão do ciclo celular até que o DNA seja reparado, e pode induzir apoptose (acúmulo de erros a cada ciclo). O p53 bloqueia as proteínas (cliclinas) que favorecem a progressão de uma fase para outra no ciclo celular. A GENÉTICA DO CÂNCER HEREDITÁRIO: o Afecções genéticas, nas quais o câncer é mais prevalente em indivíduos de uma mesma família (linhagem germinativa); o Penetrância variável: nem sempre essa mutação acomete todos os membros da família e mesmo aqueles que apresentam a mutação não desenvolvem o tumor. Se fosse uma penetrância uniforme todos os indivíduos desenvolveriam o processo tumoral. Isso acontece por fatores genéticos e ambientais, que fazem com que os indivíduos tenham uma predisposição maior ou menor; o Idade precoce (porque o indivíduo já nasce com a mutação que predispõe ao desenvolvimento de um tumor), tecidos diferentes, várias gerações acometidas; o Família apresenta a mesma neoplasia ou neoplasias relacionadas; múltiplas gerações acometidas. Estão expostos aos mesmos estímulos ambientais, sejam eles físicos, químicos ou biológicos; o Nem sempre quando uma pessoa herda um gene mutado, vai desenvolver o mesmo tipo de câncer que o progenitor dela, pois o que se herda são as mutações, não o câncer. E as mutações podem ser em oncogenes ou em genes supressores de tumor (todas as células apresentam tanto os oncogenes quanto os genes supressores de tumor, pois o genoma das nossas células é igual); o O câncer de mama é hereditário porque o mesmo componente genético que predispôs uma mãe a ter câncer pode predispor a filha e a neta àquela mutação naquele gene. Porém, para poder se certificar disso, é preciso fazer um sequenciamento de DNA das três para saber se as três apresentam aquela mesma mutação. Pode acontecer também que as três apresentem o câncer de mama apenas por serem próximas geneticamente (compartilham muitos genes) e porque possuem o mesmo hábito de vida, mas se for analisar o sequenciamento, talvez não encontre as mutações; então o fato de elas terem o mesmo tipo de câncer pode ter sido ao acaso, por hábitos de vida e exposições similares. Fernanda Carvalho, 4º semestre - TUT 04 5 Genética CÂNCER DE MAMA HEREDITÁRIO: o Mais comum entre mulheres – cerca de 10 mortes por 100 mil mulheres no Brasil, MS 2015 (também pode acometer homens); o Principalmente pós-menopausa; o Múltiplos fatores de risco: sobrepeso, hormônios, tabagismo; o Existência de familiares afetados pela enfermidade (agrupamento familiar- exposição aos agentes mutagênicos); o Linfonodos drenantes da mama (metástase); o Mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 são responsáveis por cânceres de mama e ovário hereditários e estão associados ao câncer de mama masculino. CÂNCER DE CÓLON HEREDITÁRIO: CÂNCER TIREOIDIANO HEREDITÁRIO: o Esse tipo de câncer possui algumas manifestações que são mais precoces justamente porque o indivíduo acaba tendo maior tempo com aquela mutação e sendo predisposto precocemente ao câncer; o O câncer de tireoide não hereditário geralmente está associado a problemas ocupacionais, exames de imagem, etc. ao se fazer a mamografia, por exemplo, essas pessoas acabam tendo uma exposição mínima à radiação da mama, que é uma região muito próxima da região da tireoide. E essa exposição mínima para algumas pessoas pode ser muito alta, o que pode acabar desencadeando o surgimento do tumor. CÂNCER DE PRÓSTATA HEREDITÁRIO: SÍNDROME DO MULTICÂNCER: o Também possui um componente genético e hereditário muito forte; o A síndrome multicâncer se caracteriza quando um indivíduo apresenta pelo menos 3 tipos de câncer simultâneos em sítios diferentes e sem um precursor comum; Fernanda Carvalho, 4º semestre - TUT 04 6 Genética o Todos esses cânceres simultâneos possuem um componente genético comum: o gene PTEN. Esse gene codifica para uma proteína de mesmo nome (proteína PTEN). Essa proteína está associada a um bloqueio da via de sobrevivência celular e inibição da apoptose. Porém, quando essa proteína está mutada, ela perde a capacidade de bloquear esse mecanimo, com isso, a célula consegue sobreviver e escapar da apoptose (que é o que uma célula tumoral quer). MEDICINA PERSONALIZADA E ACONSELHAMENTOGENÉTICO: Rastreio de mutações que podem predispor o indivíduo a um tipo de câncer, e saber se há um percentual alto ou baixo, se é possível desenvolver aquele processo tumoral e inclusive como evitar. CARCINOMA DE PULMÃO DE CÉLULAS NÃO PEQUENAS (CPCNP): O carcinoma de células pequenas é QUASE que exclusivamente associado a tabagistas; São RAROS os casos de pessoas que possuem CPCNP e que não possuem ou possuíam o hábito de fumar; Genes que estão associados a essa mutação: o EML-4-ALK (8%); o ROS-1; o BRAF (2%); o PI3KC. Esses 4 genes são oncogenes e estimulam o processo mitótico. Quando eles sofrem mutação, vão intensificar esse processo de proliferação. Genes de crescimento celular: o K-ras (25%); o MYC. Genes de fatores de crescimento: o HER-2; o EGFR (17%). Genes supressores de tumor: o P53, p19, APC.
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