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Leonan José – T5 GENÉTICA – BBPM III Genética do Câncer – Belini INTRODUÇÃO → Neoplasia: proliferação celular descontrolada que resulta numa massa ou tumor (neoplasma). → Câncer: forma mais agressiva de neoplasia. A base para compreendermos o câncer é entendermos o controle do ciclo celular e a rota de morte celular programada. Já se sabe que, para que um tecido seja íntegro, a proliferação e a morte celular devem estar em equilíbrio. Para isso, existem vários genes que regulam proteínas e maquinários específicos para sinalização desses processos. O que acontece na neoplasia é um descontrole que aumenta a multiplicação ou impede a morte celular (por exemplo, quando uma célula passa por 50 divisões celulares ela é marcada para apoptose). Além disso, pode-se ter problemas também em genes envolvidos no reparo do DNA. Mesmo que o crescimento celular esteja controlado, caso haja mutações em enzimas que reparam defeitos, esses defeitos deixam de ser reparados e podem se ampliar e se tornar um problema. O que é câncer? Existem vários tipos de definição. Podemos definir como uma coleção de distúrbios que compartilham a característica comum de crescimento celular descontrolado que irão gerar uma proliferação celular anormal e invasiva. Ademais, outros autores importantes conceituam como “O câncer é, em essência, uma doença genética”, o que faz total sentido, já que a base elementar (tanto para o câncer hereditário quanto para o esporádico) possui uma constituição genética importante. Incidência O tipo de câncer mais incidente nos homens é o de próstata, seguido pelo de traqueia, brônquio e pulmão. Ao mesmo tempo, os mais incidentes em mulheres são o de mama, seguido de cólon e reto e colo do útero. A frequência de pessoas que morrem com essa doença no mundo é altíssima – de 1 a 4 mortes está relacionado com câncer. BASE GENÉTICA DO CÂNCER O mais importante para sabermos é o controle do ciclo celular, apoptose e genes responsáveis pela integridade do DNA. Qualquer mutação em genes que controlam essas três vertentes gerará alterações significativas. A maioria das alterações genéticas relacionadas ao câncer acontecem em células somáticas, são raras as mutações em células germinativas. Essas alterações podem ser influenciadas por materiais carcinogênicos: fumo, álcool, exposição excessiva ao sol, etc. Eles influenciam tanto aspectos diretos no DNA quanto aspectos epigenéticos. Se essas alterações ocorrerem em genes de alguma das três vertentes citadas anteriormente, processos normais serão alterados. As alterações em células somáticas obviamente não são hereditárias. O câncer segue um modelo de herança complexo: não é uma herança monogênica recessiva ou dominante. Para que ocorra um câncer, é preciso que haja mutação em mais do que 1 gene. Esse modelo não segue os padrões mendelianos, ou seja, não é correto dizer que “o gene X é responsável pela formação do câncer”, mas deve-se dizer que “o gene X tem uma porcentagem de influência na formação do câncer”. Existem mutações que são mais comuns em alguns tipos de câncer do que em outros, mutações que ocorrem em um tipo de câncer e em outro não, e assim por diante. Nesse sentido, é preciso que haja um determinado ambiente para que as mutações ocorram. Obviamente, herdar mutações de determinados genes irá gerar predisposições que aumentam as chances do desenvolvimento dessa doença, assim, o processo será mais rápido. Porém, quanto menos mutações em genes relacionados ao câncer o indivíduo possuir, menores são as chances da doença se desenvolver. Mutações gênicas “condutoras” e “passageiras” Condutoras: mutações muito frequentes tanto entre pacientes com o mesmo tipo de câncer quanto em cânceres muito diferentes. São recorrentes em tecidos específicos Passageiras: não possui um padrão de frequência, são aleatórias. Não é recorrente em tipos específicos de câncer. Ocorrem à medida do desenvolvimento do câncer. Ou seja, ocorrem devido Leonan José – T5 GENÉTICA – BBPM III erro na manutenção da integridade do DNA, favorecendo para que genes que atuam no controle do ciclo celular sejam modificados, favorecendo a progressão do câncer. ALBERTS: Como podemos descobrir quais mutações são condutoras para o câncer – isto é, fatores decisivos no desenvolvimento da doença – e quais são meras passageiras – mutações que aconteceram nas mesmas células das mutações condutoras, devido à instabilidade genética, mas que são irrelevantes para o desenvolvimento da doença? Mutações condutoras serão vistas repetidamente, em diversos pacientes diferentes. Ao contrário, mutações passageiras ocorrem em locais mais ou menos aleatórios no genoma e não conferem nenhuma vantagem seletiva para a célula cancerosa, pouco provavelmente serão encontradas nos mesmos genes em pacientes diferentes. O conhecimento dos tipo de mutação mais frequentes permitem a criação de um painel de rastreamento de mutações específico para esses genes que sofrem mais mutações. Isso permite fazer o rastreio em uma pessoa que possui casos de câncer na família. Assim, pode-se desenvolver mecanismos de silenciamento gênico, novas terapias, etc. Mutações Gênicas Condutoras MISSENSE: alteração de 1 códon do aminoácido, gerando outro aminoácido NONSENSE: substituição de 1 nucleotídeo cria uma mutação sem sentido, gerando um códon de parada, impedindo que a proteína seja produzida inteiramente. FRAMESHIFT: alteração da matriz de leitura que geram aminoácidos incorretos. As inserções, duplicações e deleções podem dar origem a esse tipo de mutação. MUTAÇÃO NO GENE RAS (RAt Sarcoma vírus): numa situação normal, o 12º aminoácido é uma glicina (GGG). No oncogene, é uma valina (GTC). TRANSLOCAÇÕES: uma porção do cromossomo é passada para outro cromossomo não homólogo. Na Leucemia Mieloide Crônica, ocorre alteração no famoso “cromossomo Philadelphia” da seguinte forma: uma parte do cromossomo 9 vai para o 22. Isso forma uma proteína quimérica com atividade extremamente aumentada, fazendo com que o controle do ciclo seja perdido e a taxa de proliferação celular seja desenfreada. Sabendo disso, foi desenvolvido o fármaco mesilato de imatinibe que “tira de cena” essa proteína quimérica. As funções celulares dos genes condutores O diagrama apresenta como mutações em reguladores específicos de crescimento e em protetores globais de DNA e da integridade do genoma comprometem a homeostasia normal (figura roxa), levando a um círculo vicioso que causa perda de controle do ciclo celular, proliferação descontrolada, interrupção da diferenciação e defeitos na apoptose (figura marrom). Setas pretas: expressão gênica normal Setas roxas: feedback negativo Pretas (tracejadas): expressão gênica anormal Marrom (tracejada): feedback positivo progressão desordenada Leonan José – T5 GENÉTICA – BBPM III Proto-oncogenes e oncogenes Os proto-oncogenes possuem a função de regular o crescimento celular e a diferenciação normal. Uma vez que atuam no ciclo celular, algumas de suas vias são vias de parada da apoptose, por exemplo. O problema surge quando existem alterações gênicas nesses proto-oncogenes. Uma vez que esses sofrem mutações, eles passam a ser chamados de oncogenes ou oncogenes ativados. Dessa forma, passam a gerar produtos anormais, atividades descontroladas, etc. OBS: os autores mais atuais chamam o proto-oncogene somente de oncogene, enquanto que, quando esse sofre uma mutação, ele passa a ser chamado de oncogene ativado. A imagem abaixo mostra as várias mutações que podem ocorrer, sendo algumas mais significativas do que outras. Sofrer uma mutação não necessariamente significa perda de atividade, pode ser que haja um aumento de atividade do gene. Uma mutação codificante pode gerar uma proteína anormal, uma mutação reguladora pode gerar quantidade excessiva de proteína,translocações geram proteínas com uma nova atividade e uma amplificação gênica obviamente vai produzir quantidade muito grande de proteína. Telomerase como Oncogene A telomerase é uma proteína que pode ser considerada como um oncogene. Ela possui um papel fundamental na replicação atuando na “fita lerda” para que todo o cromossomo seja duplicado na fase S do ciclo celular. Durante a replicação, ao chegar no fim do cromossomo, é preciso uma transcriptase reversa para que ela adicione as bases no final do cromossomo. Após 50 replicações, uma célula é marcada para morrer. São vários os mecanismos intrínsecos da célula para que ela sofra essa marcação. Um desse é que a atividade da telomerase diminui, ou seja, se ela perde sua atividade, os telômeros dos cromossomos vão diminuindo. A cada divisão, ocorre uma perda de, em média, 35 letras da região dos telômeros. Dessa forma, a diminuição do telômero é um marcador extremamente importante para que a célula seja sinalizada para apoptose. O que acontece nas células cancerígenas é que as telomerase não param/não diminuem. A telomerase é um complexo proteico com várias regiões, como a TER e a TERC. A região TERT é o arcabouço que dá sustentabilidade para o molde de RNA. Se houverem mutações nessas regiões TERT e TERC, a atividade da telomerase ficará sempre ativa, não perdendo sua atividade nas células cancerígenas, imortalizando- as e favorecendo ainda mais a proliferação celular e o desequilíbrio na diferenciação celular. Genes supressores tumorais São genes que reprimem a divisão celular e ativam a apoptose. Os genes supressores tumorais são divididos em genes protetores (gatekeepers, regulam diretamente o ciclo celular) e genes de manutenção (caretakers, reparam danos no DNA e evitam instabilidade gênica). Exemplos de genes supressores tumorais: → Proteínas que regulam ou inibem a progressão do ciclo celular: CDKN2A (p16) → Receptores de hormônios secretados: TGF-beta → Proteínas do checkpoint: p53, pRb, CDKN2A, ARF → Proteínas que promovem a apoptose: p53 Para que haja uma inatividade desse genes, é preciso que os dois alelos estejam comprometidos. Isso é o oposto do que ocorre nos oncogenes, onde com 1 alelo corrompido o produto gênico já se torna alterado. A ausência ou deficiência da proteína supressora de tumor leva ao descontrole do ciclo celular. o TP53 (fator de transcrição P53) A P53 é a “guardiã do DNA” e é um fator de transcrição, logo, atua em vários mecanismos. O fator de transcrição P53 está sendo produzido a todo momento, contudo, caso não haja nenhum problema no DNA, a P53 é levada para a via proteolítica da MDM2. Quando existe um dano no DNA, a P53 entra em ação, sendo fosforilada e se tornando ativa. Assim, a MDM2 já não consegue se ligar à P53 ativa. Leonan José – T5 GENÉTICA – BBPM III A imagem abaixo também representa a mesma via: sem danos celulares, a P53 é degradada. Quando ocorre um dano (por raio X, por exemplo), a P53 é fosforilada e se ativa. Uma vez que ela é um fator de transcrição, ela vai atuar em vários genes no qual ela é específica. No exemplo acima, ela atua no gene p21. Na região promotora desse gene, ela sinaliza a produção da proteína p21, que irá inativar o complexo de proteínas Cdk (que são essenciais para sinalizar a próxima etapa do ciclo celular). Essa atuação da P53 acontece no ponto de verificação do início no final de G1, antes de prosseguir para a fase S. Em outras palavras, quando existe um dano, a P52 vai bloquear o complexo Cdk, pausando o ciclo celular antes da fase S (replicação). É por isso que a P53 é chamada de “guardiã do genoma”. Se essa alteração não puder ser corrigida e a célula ficar parada em G1, essa célula precisa ser enviada para apoptose. Se isso não acontecer, é preciso que haja mecanismos para que essa célula se torne inviável. Outrossim, a P53 possui várias outras atuações em vários outros genes, como mostra o diagrama a seguir. Além de enviar para a via de apoptose, pode enviar para a via de angiogênese, e metástase, via de interrupção ou reparo, etc., influenciando vários outros genes para atuar em diferentes níveis do ciclo celular. Relembrando o controle do ciclo celular, sabemos que existe a BAX (gene supressor que sinaliza para que a célula entre na via de apoptose) e a BCL2 (gene que sinaliza para bloqueio de apoptose, facilitando a proliferação). Em condições normais, BAX e BCL2 estão numa produção equilibrada. No câncer, mutações na P53 levam ao desequilíbrio dessa sinalização: se a P53 mutada não sinalizar para a BAX para que a célula entre em apoptose, a célula se torna imortalizada. Além da P53, também podem haver mutações na BAX, na BCL2 ou em vários outros genes que influenciam essa via. Isso significa que o simples fato de um indivíduo ter uma mutação na P53 não necessariamente o faz te rum tipo de câncer, ele simplesmente tem maiores chances de ter câncer quando comparado com uma pessoa que não possui mutações. Leonan José – T5 GENÉTICA – BBPM III Fatores epigenéticos e câncer o Metilação do DNA Fatores epigenéticos são mutações que não estão diretamente nos genes envolvidos no controle da apoptose, ciclo celular ou integridade do DNA. Existem elementos que influenciam a expressão de determinados genes. Um deles é a metilação do DNA: essa metilação é um processo já esperado em determinados momentos e em genes específicos. Por exemplo, a inativação do cromossomo X é um processo no qual regiões chamadas de “Ilhas de CpG” situadas perto da região promotora de muitos genes. Assim, metilar ou desmetilar essas regiões irá influenciar nos genes. A hipermetilação gera como consequência o silenciamento de genes, enquanto que a hipometilação leva a ativação gênica. A importância disso para o câncer é que, para um gene supressor tumoral, por exemplo, cujo objetivo básico é parar a proliferação e levar células à apoptose, a hipermetilação vai fazer com que esse gene pare de funcionar, ou seja, perde-se a diferenciação, aumenta-se a proliferação e diminui-se a morte celular, como mostrado na imagem abaixo. o Acetilação das Histonas Mecanismos que expõem mais ou expõem menos determinadas regiões do gene faz com que genes sejam mais ou menos transcritos. Quem atua nisso são enzimas específicas por meio da metilação ou acetilação. Por exemplo, a Histona acetiltransferase (HAT), em situações normais, ela possui genes alvos nos quais ela precisa facilitar a ativação, pois aquele gene precisa gerar produto para o controle do ciclo celular (passar de G1 para S, por exemplo). Nesse momento, essas enzimas atuam para que aquela região se torne mais transcricional. Contudo, o que acontece se houver uma mutação no gene que produz essa enzima? Tudo que se espera como “normal” vai ter problemas. Uma mutação no gene que produz a HAT vai fazer com que, no momento em que certos genes deveriam ser expostos para a progressão do ciclo celular prosseguir, agora ficarão reprimidos, fazendo com que faltem produtos na hora certa e o controle do ciclo celular será perdido. Além de desligar genes, as mutações podem acetilar regiões que não deveriam ser ativadas. Por exemplo, um proto-oncogene que deveria estar desligado porque a célula está sendo mandada para apoptose, mas uma mutação na enzima ativa esse oncogene, causando problemas. o Interferência dos miRNA Outro exemplo muito bem estudado atualmente é a interferência dos miRNA (micro RNA). Os miRNA são moléculas produzidas no núcleo que, quando liberados no citosol, possuem como alvo a degradação de RNA específicos. Esse é o processo normal. O problema surge quando há mutações em genes que produzem miRNA de forma descontrolada, podendo degradar um gene supressor tumoral, por exemplo. Por exemplo, há situações me que deveriam estar sendo produzidos muitos microRNA para “tirar de cena” um oncogene. Porém, devido umamutação, esses microRNA não estão sendo produzidos de uma forma eficiente. O oncogene não é removido, se torna extremamente ativo, produz várias oncoproteínas e a consequência disso é a proliferação celular descontrolada. Por outro lado, pode haver uma mutação nos genes que produzem os microRNA que leve a uma amplificação descontrolada do microRNA, que “retira de cena” genes supressores de tumor que exercem o papel crucial de controle da proliferação celular. Atualmente, é possível fazer terapia com miRNA. Considerações ambientais Existem vários elementos que estão associados com o desenvolvimento do câncer. Por exemplo, um fator muito bem descrito na literatura é o tabagismo, mas isso não significa que todas as pessoas que fumam vão ter câncer, apenas significa que tabagistas terão mais chance de desenvolver certos tipos de câncer quando comparado com não fumantes. Tabagismo: Câncer de pulmão, boca, laringe, faringe, esôfago, pâncreas, rim, bexiga e colo de útero. Alcoolismo + tabaco: risco de câncer da cavidade bucal, esôfago, faringe e laringe supraglótica. Hábitos Alimentares: alimentos ricos em gorduras e alimentos em conserva e defumados→ câncer de mama, cólon (intestino grosso) reto, próstata, esôfago e estômago. Fatores ocupacionais: benzeno (carvão e tintas e colas) → leucemia. Radiação solar: radiação ultra-violeta natural (sol) → câncer de pele. Leonan José – T5 GENÉTICA – BBPM III Esses elementos alteram a integridade do DNA e, dependendo de onde for essa alteração, haverá uma disfunção dos três elementos básicos: crescimento celular, apoptose e integridade do DNA. Antigamente não se acreditava muito na relação entre fatores ambientais e o câncer. A observação mais clara sobre isso ocorreu com a globalização. Nos EUA, era muito comum uma alta incidência de câncer de cólon e uma baixa incidência de câncer de estômago, enquanto no Japão havia grande incidência de câncer de estômago e baixa de câncer de cólon. Com a globalização, que muitos japoneses se mudam para os EUA e vice-versa. Consoante a isso, percebeu-se que uma alta incidência de japoneses que estavam morando nos EUA há um bom tempo começaram a ter câncer de cólon e não de estômago. O mesmo ocorreu com estadunidenses morando no Japão. Assim, começaram a elencar os principais elementos que poderiam estar favorecendo ou não um determinado tipo de câncer. Verificou-se que o tipo da alimentação era um papel fundamental para o desenvolvimento desses dois tipos de doença. Nos EUA a comida é hipercalórica, aumentando as chances do câncer de cólon. Ao mesmo tempo, no Japão, devido sua dieta de alimentos crus, há uma alta chances de câncer de estômago. Essas foram as principais observações para entender que os ambiente está relacionado com o desenvolvimento dessa doença. Além disso, pode haver elementos infecciosos associados a tipos de câncer. Por exemplo, o HPV (Human Papilloma Virus), que é um vírus de DNA. A inserção desse vírus de DNA entre os éxons de genes supressores de tumor altera o produto gênico, formando proteínas não funcionais. Ou seja, um gene que teria como papel a supressão tumoral não vai mais realizar isso. Outros exemplos são a inserção de um vírus na região promotora de um proto-oncogene vai levar a elevada atividade de crescimento celular (favorável para a proliferação do vírus). NEOPLASIAS HEREDITÁRIAS O câncer hereditário envolve a minoria de pessoas com essa doença (10%), já que é um tipo de câncer mais raro. As células germinativas devem carregar essas mutações. Pode ocorrer uma segunda mutação no tumor ao longo da vida. Nesses casos, existem os chamados “cânceres jovens”. É comum encontrarmos diferentes tipos de cânceres num mesmo indivíduo (é uma forma mais agressiva de doença). No câncer esporádico (90%), as alterações genéticas acontecem ao longo da vida e é preciso que haja várias mutações para que a doença se desenvolva, por isso eles ocorrem em idades mais avançadas. Caso haja na família um caso de câncer, a chance de outro familiar desenvolver um tipo de câncer é maior do que a de uma pessoa sem câncer na família. Existem situações de Neoplasia de Herança Monogênica, mas a gravidade desses casos é muito baixa. Elas são decorrentes de um único gene mutado com alta penetrância. Uma mutação possui graus de lesão no produto gênico. Ao dizer que uma mutação possui grau de penetrância de 100% quer dizer que toda aquela mutação vai alterar o produto gênico. Com 90% de penetrância, a penetrância é alta, mas temos 10% que não irão alterar tanto aquela proteína. E assim por diante. Consoante a isso, hoje busca-se mutações com alto grau de penetrância, já que uma mutação com grau de 2% possui ainda 98% de chances de “dar certo”. Quando se trata de Câncer de Mama, apenas 5 a 10% deles são hereditários, enquanto 80% deles são esporádicos (muitos relacionados com o estilo de vida da pessoa). O risco de câncer de mama em mulheres da população geral é de 12%. Quando a mulher possui mutações BRCA1 ou BRCA2, o risco vai para 50-80% no BRCA1 e para 40-70% no BRCA2. Se forem mutações nos dois, as chances são maiores ainda. Na prática, esses genes são rastreados para descobrir a chance do desenvolvimento de um câncer de mama em mulheres. Isso foi o que aconteceu com a atriz Angelina Jolie, que descobriu ter altas chances de câncer, além de ter histórico dessa doença na família. Após isso, ela faz a retirada dos seios.
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