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Thaís Pires 1 Abdome Agudo Inflamatório 1. Estudar a forma de apresentação clínica do abdômen agudo inflamatório e suas causas. Introdução Dor Abdominal – assim como as dores de uma forma geral, esse estímulo precisa ser percebido por terminações nervosas livres, os NOCICEPTORES, estimulados por fatores MECÂNICOS, TÉRMICOS ou QUÍMICOS (bradicinina, serotonina, histamina, potássio, substância P). De acordo com a origem, a dor abdominal pode ser diferenciada em: 1) Dor Somática ou Parietal – aquela que tem origem ou na PELE ou no PERITÔNIO PARIETAL – Os estímulos são transmitidos pelas FIBRAS MIELINIZADAS TIPO A, o que permite caracterizar a dor como: RÁPIDA, AGUDA, LOCALIZADA e ESPECÍFICA DOS DERMÁTOMOS. 2) Dor Visceral – aquela que tem origem nos NOCICEPTORES VISCERAIS – Os estímulos são conduzidos por FIBRAS NÃO MIELINIZADAS TIPO C, o que permite caracterizar a dor como: LENTA, PERSISTENTE, INSIDIOSA e MAL LOCALIZADA, podendo estar acompanhada de RESPOSTA VAGAL (bradicardia, hipotensão, sudorese, náusea). A dor visceral é percebida no segmento medular em que o nervo espinhal estimulado se insere, permitindo uma segmentação da dor de acordo com a embriologia: a. Intestino Anterior – orofaringe até duodeno + pâncreas, fígado, arvore biliar e baço – vascularizado pelo tronco celíaco, inervado pelo plexo celíaco – tende a gerar uma dor visceral no EPIGASTRO b. Intestino Médio – jejuno, íleo, apêndice, cólon direito e transverso – vascularizados pela artéria mesentérica superior, inervado pelo plexo mesentérico superior – DOR EM MESOGASTRO c. Intestino Posterior – cólon esquerdo, sigmoide, reto – vascularizado pela artéria mesentérica inferior e inervado pelo plexo mesentérico inferior – DOR EM HIPOGASTRO Ex: a apendicite aguda inicia com estímulo nos nociceptores viscerais do intestino médio, portanto é uma dor em MESOGASTRO (PERIUMBILICAL), mal localizada, insidiosa. Com a evolução do quadro, a inflamação expande para o PERITÔNIO PARIETAL, causando dor aguda, bem localizada em FID e rápida pelo estímulo dos nociceptores parietais mielinizados 3) Dor Referida – é aquela que é percebida LONGE do estímulo de origem. Por exemplo: quando há lesão do diafragma e há dor referida no ombro – isso ocorre pois o estímulo diafragmático é captado nos segmentos C3, C4, C5, que são os mesmos dos DERMÁTOMOS DO OMBRO . Thaís Pires 2 Abdome Agudo – descreve uma situação emergencial com o aparecimento abrupto de SINTOMAS ABDOMINAIS em geral graves sugerindo uma evolução potencialmente fatal, sendo crucial o DIAGNÓSTICO PRECOCE e PRECISO para melhorar o prognóstico. Embora hajam diversos avanços tecnológicos, um recente trabalho evidenciou que cerca de 20% dos cpts submetidos a laparotomia exploratória por suspeita de apendicite tem o APÊNDICE NORMAL, sendo esse número de 40% se o pct for IDOSO + MULHER Classificação – como apresentam características fisiopatológicas, diagnósticas e terapêuticas semelhantes, o abdome agudo é dividido em CINCO GRANDES SÍNDROMES, que podem ocorrer ASSOCIADAS!! Síndrome Inflamatória – apendicite aguda, colecistite aguda, pancreatite aguda, DIP, abscessos intracavitários, diverticulite Síndrome de Perfuração – úlcera péptica, CA TGI, perfuração de apendicite, perfuração de vesícula biliar, perfuração de divertículos do colo Síndrome Obstrutiva – obstrução pilórica, hérnias, bridas, áscaris, corpos estranhos, vólvulo, intussuscepção intestinal Síndrome Hemorrágica – gravidez ectópica, rotura de aneurisma de aorta abdominal, rotura de baço, endometriose Síndrome de Oclusão Vascular – trombose da artéria mesentérica, torção do grande omento, infarto esplênico Importante: algumas afecções EXTRA-ABDOMINAIS simulam um abdome agudo, como: reativação de herpes zoster, fibromialgia, trauma, pneumonia, IAM, pneumotórax, empiema... Fisiopatologia Abdome Agudo Inflamatório – toda a fisiopatologia envolve a REAÇÃO PERITONEAL e as MODIFICAÇÕES NO FUNCIONAMENTO INTESTINAL decorrentes da primeira alteração. A cavidade peritoneal é revestida pelo peritônio (serosa com extensa rede capilar sanguínea e linfática) que possui função protetora por meio da EXSUDAÇÃO, ABSORÇÃO E FORMAÇÃO DE ADERÊNCIAS. O peritônio é dividido em VISCERAL (inervado pelo SNA) e PARIETAL (inervado pelo sistema nervoso cerebroespinal). Quando um agente inflamatório ou infeccioso atinge o peritônio, há IRRITAÇÃO seguida de INSTALAÇÃO DO ÍLEO PARALÍTICO, que é justificada pela Lei de Stokes “sempre que uma serosa que envolva uma musculatura lisa sofre irritação, há uma paresia ou paralisa da última”. Essas primeiras consequências são decorrentes do acometimento do peritônio visceral... quando o parietal é acometido, há uma DOR LOCALIZADA e uma CONTRATURA MUSCULAR localizada ou generalizada (depende do acometimento). Quadro Clínico – A principal característica é a DOR, que segue aquela divisão embiológica! Importante avaliar o INÍCIO, IRRADIAÇÃO, EVOLUÇÃO, TIPO, INTENSIDADE, DURAÇÃO, MELHORA/PIORA. A dor do abdome agudo inflamatório pode ser DESENCADEADA PELO INÍCIO DE UMA DOENÇA RECENTE, como na apendicite aguda, mas pode ser pela AGUDIZAÇÃO DE DOENÇA CRÔNICA, como na colecistite aguda por colelitíase. O caráter PROGRESSIVO da dor é observado no caso da apendicite aguda, colecistite aguda... A IRRADIAÇÃO da dor abdominal não deve ser confundida com a LOCALIZAÇÃO!! E a trajetória da dor é importante para as doenças! A INTENSIDADE e DURAÇÃO da dor nem sempre são proporcionais À GRAVIDADE DA DOENÇA e nem sugerem intervenção cirúrgica. Thaís Pires 3 A FEBRE é um sintoma frequente que surge precocemente, sendo MENOS INTENSA NO INÍCIO e DIFERENCIANDO-SE NA EVOLUÇÃO Peritonite Secundária – é uma condição designada como peritonite que tem origem no ABDOME, ou seja, por continuidade da região que apresenta processo infeccioso/inflamatório de órgão intra-abdominal ou intra/retroperitoneal (apendicite aguda, úlcera perfurada, perfuração intestinal, colecistite aguda e pancreatite aguda). A peritonite evolui em FASES, que precisam ser definidas pelo médico, pois quanto mais tempo sem controle do processo infeccioso/inflamatório, mais FIBRINA, ADERÊNCIAS, PUS, ABSCESSO, FIBROSE, enfim, mais difícil o tto! 1) Transudativa – Não Complicada – líquido seroso claro 2) Exsudativa – Não Complicada – líquido seroso turvo 3) Fibrino-Purulenta – Complicada – presença de fibrina e pus livre 4) Abscessos – Complicada – presença de pus em loja formada por estruturas adjacentes (epíplon, alças intestinais) A evolução de uma peritonite TRANSUDATIVA para EXSUDATIVA geralmente ocorre em HORAS e, em 1-2 DIAS, ela pode chegar a FIBRINO-PURULENTA – a partir do 3-4 dia, geralmente pode-se encontrar um ABSCESSO BEM DEFINIDO, sendo a fibrose cada vez mais exuberante com o passar dos dias! a. Apendicite Aguda Condição que acomete principalmente os indivíduos entre 30 e 40 anos, com pequeno predomínio no sexo masculino, mas que pode acometer qualquer faixa etária, inclusive os extremos. É caracterizada pela obstrução do lúmen apendicular por corpo estranho (fecalito) ou por processo inflamatório. Quadro Clínico – Início com dor abdominal mal localizada na região periumbilical ou epigástrio, seguida e anorexia, náuseas e vômitos. Com a evolução da doença, a dor migra para a região da FID no ponto de McBurney. A febre geralmente é baixa ou inexistente, porém, em casos de complicações (perfuração, abscessos) pode chegar aos 38°. Esse tipo de evolução está presente em 50% dos casos, uma vez que a variação anatômica do apêndice influencia bastante Exame Físico - O EF clássico mostra um abdome doloroso no QID e alguns sinais de comprometimento peritoneal, como defesa a palpação (voluntária), rigidez abdominal (involuntária) e dor à descompressão brusca do ponto de Mc Burney, caracterizandoo sinal de Blumberg. De acordo com a localização anatômica, podem haver sinais específicos no exame físico, como sinal do psoas (apêndice retroperitoneal e retrocecal), sinal do obturador (dor a rotação interna da coxa – apendicite pélvica), sinal de Rovsing (dor no QID à palpação do QIE), sinal de Lapinsky (dor na FID quando há palpação da FIE em McBurney). Pode haver, também, uma posição antálgica de flexão da coxa contra o quadril. Diagnóstico – Nos pcts do sexo masculino, geralmente é majoritariamente QUADRO CLÍNICO + EF, porém, em crianças menores de 2 anos, mulheres em idade reprodutiva e idosos, são necessários EXAMES COMPLEMENTARES para a confirmação diagnóstica. É importante lembrar que a apendicite aguda precisa de diagnóstico diferencial não somente com afecção abdominais, mas também com aquelas urológicas, ginecológicas... Thaís Pires 4 Nenhum exame laboratorial ISOLADO OU COMBINADO é capaz de fazer o diagnóstico exato de apendicite aguda, i.e., não existe exame patognomônico! Os exames complementares mais utilizados são: HEMOGRAMA COM CONTAGEM E DIFERENCIAÇÃO DE LEUCÓCITOS, URINA TIPO 1 e PCR. Além desses, pode- se utilizar a US e a TC, sendo a primeira não-invasiva, rápida e barata, porém operador-dependente; a TC, embora seja cara e demorada, é útil para PCTS OBESOS e para aqueles pcts em que A US FOI INCONCLUSIVA. Há, ainda, a VIDEOLAPAROSCOPIA, que permite a visualização da cavidade abdominal por inteiro, porém tem como ponto negativo a necessidade de uma anestesia geral. Tto – é cirúrgico com a remoção do apêndice! Nos casos de APENDICITE COMPLICADA (casos suboclusivos ou com peritonite difusa), a LAPAROTOMIA é a via de escolha para a melhor avaliação e limpeza da CAVIDADE ABDOMINAL! Apendicite Hiperplásica – É um tipo peculiar que acomete em torno de 7% das apendicites, sendo aquela o qual o apêndice torna-se BLOQUEADO por epíplon, alças intestinais, peritônio parietal, entre outras estruturas, formando uma MASSA TUMORAL. Clinicamente, é uma condição com EVOLUÇÃO LENTA (5-10 dias) e sinais de irritação peritoneal pouco intensos, mas que apresenta MASSA PALPÁVEL NA FID b. Colecistite Aguda É definida como INFLAMAÇÃO QUÍMICA E/OU BACTERIANA da vesícula biliar, na maioria das vezes decorrente de uma OBSTRUÇÃO DO DUCTO CÍSTICO. Como a litíase vesicular é uma de suas principais causas, a OBSTRUÇÃO decorre da impactação de um calculo na região INFUNDÍBULO-COLOCÍSTICA, o que causa hipertensão no órgão, fenômenos vasculares, inflamatórios e PROLIFERAÇÃO BACTERIANA. Caso essa seja a origem do processo, ele pode INVOLUIR pela mobilização do cálculo ou pode EVOLUIR para hidropsia vesicular, empiema, necrose, perfuração. Menos frequentemente, a colecistite pode ocorrer na AUSÊNCIA DE UMA OBSTRUÇÃO DO DUCTO CÍSTICO, sendo denominada alitiásica de fisiopatologia desconhecida. Pode estar associada a processos auto-imunes, substâncias vasoconstritoras, que acomete, principalmente, PCTS HOSPITALIZADOS. Epidemio – feminino, adultos jovens e idosos – geralmente é a primeira manifestação da doença litiásica Clínica – A dor é a principal manifestação da colecistite aguda, geralmente sendo desencadeada por ALIMENTOS COLECISTOCINÉTICOS – Nessa fase inicial, tem caráter de CÓLICA em decorrência da obstrução, depois assume CONTINUIDADE devido aos fenômenos vasculares e inflamatórios. Inicia no HIPOCÔNDRIO DIREITO, irradia para EPIGÁSTRIO, DORSO e DIFUSA quando há complicações. Náuseas e Vômitos. Febre até 38°C e icterícia discreta em 20% dos pcts. EF – revela posição antálgica – palpação do abdome pode revelar hipersensibilidade no hipocôndrio direito , defesa voluntária, em 25% dos doentes pode haver vesícula palpável e dolorosa. Sinal de Murphy (interrupção da inspiração profunda pela dor a palpação da região vesicular) é um dos principais achados do EF. Na percussão abdominal, há dor ao nível do hipocôndrio direito. c. Pancreatite Aguda É uma condição em que as enzimas pancreáticas são inadequadamente ativadas, causando processo inflamatório da glândula pancreática que se traduz em EDEMA, HEMORRAGIA e até NECROSE PANCREÁTICA E PERIPANCREÁTICA ao nível regional e, sistemicamente, HIPOVOLEMIA e comprometimento de múltiplos órgãos e sistemas – óbito! Cerca de 80% das pancreatites estão relacionadas ou a DOENÇA BILIAR LITIÁSICA ou ao ÁLCOOL, embora hajam diversas outras etiologias (trauma, infecção, vascular), inclusive a idiopática. Thaís Pires 5 Quadro Clínico – atenção: Polimorfismo - nem sempre o quadro clínico da pancreatite é característico, o que torna o seu diagnóstico difícil. Pela FREQUENCIA E INTENSIDADE, a dor abdominal se destaca, sendo INTENSA, inicialmente epigástrica e irradiada para o dorso, i.e., EM BARRA/FAIXA, acompanhada de NÁUSEAS E VÔMITOS e parada de eliminação de gases e fezes. Devido ao polimorfismo, o quadro clínico é dividido de acordo com a gravidade da pancreatite: EF Leve – essa forma atinge de 80-90% dos pcts com pancreatite – REG, posição antálgica, desidratação e taquicardia – abdome distendido, doloroso difusamente a palpação profunda (principalmente no andar superior) e com ruídos hidroaéreos diminuídos. Algumas vezes é possível palpar ABAULAMENTOS que sugerem a presença de coleções peripancreáticas. EF Grave – atinge de 10-20% dos pcts com pancreatite – RuimEG, taquicardico, ansioso, hipotenso, dispneico, desidratado – abdome distendido, doloroso difusamente e com sinais de IRRITAÇÃO PERITONEAL DIFUSA. Pode-se identificar EQUIMOSE PERIUMBILICAL (CULLEN) ou na região dos FLANCOS (GREY TURNER) d. Diverticulite dos Colos Caracterizado pela INFLAMAÇÃO DE UM OU MAIS DIVERTÍCULOS, que pode se estender para regiões circunvizinhas e causar diversas complicações. Essa diverticulite dos colos compreende: diverticulose universal dos colos; doença diverticular do sigmoide; divertículo do ceco. Todas essas doenças são caracterizadas por um processo inflamatório do divertículo geralmente desencadeado pela ABRASÃO DA MUCOSA do divertículo por um fecalito. Ao acometer a região, o processo inflamatório pode se estender para o PERITÔNIO ADJACENTE, GORDURA PERICÓLICA e MESOCOLO. Quadro Clínico – o principal sintoma da doença diverticular do sigmoide (mais comum em +50 anos) é a DOR ABDOMINAL EM FIE ou SUPRAPÚBICA (tipo uma apendicite da vida) ou do tipo CONTÍNUA ou do tipo CÓLICA. Pode haver associado ANOREXIA, NÁUSEAS, OBSTIPAÇÃO ou DIARREIA. Caso a doença acometa o sistema urinário, pode causar sintomas como disúria e polaciúria. Ef – pct febril, pouco taquicárdico, abdome discretamente distendido, ruídos hidroaéreos diminuídos. A palpação evidenciará sinais de IRRITAÇÃO PERITONEAL em FIE/suprapúbica/generalizada; o toque retal evidenciará dor em FUNDO DE SACO. Importante lembrar que esse abdome agudo pode tanto assumir características de abdome perfurativo, como pode evoluir para o próprio! 2. Estudar as complicações da peritonite difusa. Peritonite – é entendida como a INFLAMAÇÃO de um segmento ou de toda a superfície parietal e visceral do peritônio Peritonite Primária – também chamada de PERITONITE BACTERIANA ESPONTÂNEA, i.e., se constitui de infecção de líquido ascético previamente estéril, na ausência de foco intra-abdominal, resultante de bacteremia espontânea – é a forma mais comum de peritonite e ocorre principalmente nos cirróticos e nos portadores de síndrome nefrótica, tendo quadro clínico discreto e tto baseado em antibioticoterapia. Peritonite Secundária – causada pela inflamação, perfuração ou gangrena de estruturas INTRAABDOMINAIS e RETROPERITONEAIS, apresentando uma clínica mais EXUBERANTE! Esse tipo é dividido, ainda, em SUPURATIVA AGUDA, QUÍMICA e GRANULOMATOSA Peritonite Difusa – é uma condição em que há acometimento generalizado do peritônio na cavidade abdominal – os movimentos diafragmáticos, intestinais e os vasos linfáticosestimulam a disseminação da bactéria na cavidade, assim como a manipulação cirúrgica de tecidos contaminados pode converter uma peritonite local-difusa. Thaís Pires 6 As infecções intra-abdominais difusas são denominadas de peritonite, enquanto que as que foram isoladas e limitadas pelo organismo dentro de um órgão intra-abdominal ou na cavidade peritonial são chamadas de abscessos e. Abscessos intra-abdominais São condições que SE MANIFESTAM COMO ABDOME AGUDO INFLAMATÓRIO, i.e., com dor abdominal persistente e febre, sendo que o diagnóstico diferencial com peritonite não é fácil I. Abscesso Hepático i. Amebiano Tem como principal característica a DOR constante localizada no hipocôndrio DIREITO que pode chegar ao epigástrio devido a hepatomegalia, que piora com a palpação e percussão local! A temperatura axilar pode chegar aos 39°C acompanhada de CALAFRIOS E SUDORESE. Pode haver emagrecimento, náuseas, vômitos e icterícia. Geralmente, o abscesso hepático encontra-se no LOBO DIREITO, uma vez que é o local preferencial do fluxo de sangue da VEIA MESENTÉRICA SUPERIOR (aquela que drena o ceco e cólon ascendente, sedes principais da amebíase intestinal) Laboratorialmente, encontra-se LEUCOCITOSE em torno de 15.000 leucócitos/mm³ e prova de função hepática NORMAL. O achado da Entamoeba histolytica no conteúdo do abscesso ou no material de biópsia hepática ocorre em apenas 20% dos casos e em 30% no exame de fezes. Na retossigmoidoscopia, podem estar presentes as típicas ULCERAÇÕES EM BOTÃO DE COLARINHO. No RX de tórax, pode haver elevação ou imobilidade da cúpula diafragmática direita em razão do abscesso. A US e TC, principais exames utilizados, são importantes por ORIENTAM QUANTO AO MELHOR LOCAL PARA PUNÇÃO quando indicada Tto – essencialmente clínico com metronidazol (2g/dia por 10 dias) – em casos de abscessos grandes, pode haver drenagem por punção transcutânea guiada por TC e US ii. Abscesso Piogênico do Fígado É uma condição associada a DIVERSAS CAUSAS (patologias malignas e benignas das vias biliares, cirrose, endocardite bacteriana), que tem como mecanismo um foco infeccioso a distância que joga êmbolos sépticos na circulação, que chegam ao fígado por meio da VEIA PORTA – também tem preferência pelo lobo direito. As manifestações clínicas geralmente são INESPECÍFICAS ou relacionadas a CAUSA BASE, sendo os principais sintomas encontrados: febre em picos, dor abdominal no hipocôndrio direito, anorexia, calafrios e perda de peso. Laboratorialmente, há leucocitose acima de 10.000 leucócitos/mm³ com importante DESVIO A ESQUERDA, hipoalbuminemia, icterícia (por compressão da via biliar), aumento de enzimas hepáticas (TGO e TGP). Tto – principalmente cirúrgico com punção e drenagem percutânea associada a antibioticoterapia guiada pela cultura e antibiograma II. Abscesso Esplênico Processo supurativo que atinge o baço, seja no SEU PARÊNQUIMA, seja na CÁPSULA QUE O REVESTE. Na literatura, há relatos de menos de 1000 casos, sendo pouco frequente. Na grande parte dos pcts com esse tipo de abscesso, acredita-se que houve um INFARTO ESPLÊNICO DECORRENTE DE BACTEREMIA, principalmente por Staphylococcus aureus, Streptoccocus viridans, Salmonella enteriditis, Klebsiella sp e Candida sp. É uma condição associada a uma CAUSA BASE que, em 75% dos casos, é a ENDOCARDITE BACTERIANA. Os pcts masculinos são mais acometidos e existem picos na 3ª e 6ª década da vida. O principal sintoma é a DOR ABDOMINAL EM QSE que pode irradiar para HEMITÓRAX E OMBRO esquerdos. Também pode haver febre, calafrios, náuseas e vômitos + ESPLENOMEGALIA Thaís Pires 7 III. Abscesso de Psoas É a presença de pus na intimidade do músculo psoas, podendo ser PRIMÁRIA, quando é decorrente de uma disseminação hematogênica de um processo infeccioso de alguma região do corpo (causas mais comuns diabetes, aids, uso de drogas EV, IR, imunossupressão); e SECUNDÁRIA, quando é decorrente de DOENÇAS, como Crohn, apendicite, diverticulite... Em mais de 80% dos casos o agente etiológico é o S. aureus . Clinicamente, os sinais e sintomas são variáveis e inespecíficos, podendo ocorrer em 30% dos casos a tríade (febre, dor na região dorsal e dor à movimentação do quadril), dor abdominal, náusea, perda de peso. Muitas vezes, o pct chega ao PS em posição antálgica com a coxa homolateral fletida de encontro ao hipogástrio. Laboratorialmente, pode haver LEUCOCITOSE, ANEMIA, AUMENTO DE PCR E VHS. A US pode evidenciar o abscesso em 60% dos casos, sendo o diagnóstico final feito pela TC de abdome. 3. Estudar as repercussões sistêmicas das infecções abdominais. A fisiopatologia da sepse depende do tipo de microrganismo envolvido, do sítio de origem da infecção (se pulmonar ou abdominal), da presença ou não de comorbidades e do tipo de resposta imune que o paciente é capaz de desenvolver. Dependendo da adequação ou não da resposta imune e do tratamento antimicrobiano associado, poderá ocorrer a cura do processo ou a infecção evoluir para sepse grave, choque séptico, insuficiência de múltiplos órgãos e o óbito Obs: Pacientes imunocomprometidos são altamente suscetíveis a processos infecciosos. Quando esse processo progride, o paciente pode apresentar sepse grave e/ou choque séptico, necessitando de monitorização e tratamento intensivo, o mais precoce possível É oportuno lembrar que INFLAMAÇÃO E COAGULAÇÃO estão sobre modo relacionado. A coagulação é talvez um dos mecanismos mais antigos de defesa do organismo e contribui para a formação de abscessos com o objetivo de limitar o desenvolvimento da infecção A fisiopatologia da sepse depende do microorganismo envolvido: 1. Bacilos Gram-negativos - a reação é iniciada a partir da endotoxina componente lipopolissacarídico (LPS) da parede celular. A simples fagocitose de endotoxina pelos macrófagos causa liberação de citocinas para combater um possível invasor. 2. Cocos Gram-negativos – No caso da Neisseria meningitidis e outros poucos patógenos intravasculares, a bactéria circulante é diretamente responsável por iniciar a inflamação nos vasos sanguíneos. Ao liberar sua endotoxina, rapidamente induz a coagulação intravascular disseminada, sepse grave e choque Termo sepse é aplicável somente quando a resposta sistêmica é clinicamente relevante, podendo manifestar- se por uma variedade de situações. O quadro clínico é bastante variável em seu início, mas pode ser observado conforme o foco de origem ou a lesão infecciosa metastática, como a meningite, pneumonia, infecção urinária, otite média, peritonite, ectima gangrenoso, entre outros, que levou a suspeita de sepse. Fase inicial da sepse - conhecida como fase quente, é caracterizada por pele quente e seca devido à vasodilatação periférica, febre, hipotensão, taquicardia, confusão mental, ansiedade e taquidispnéia. Fase Fria - a hipoperfusão que resulta em acidose láctica, piora da perfusão tecidual, levando a cianose de extremidades e disfunção orgânica. Thaís Pires 8 Sepse de Origem Intra-Abdominal – A superfície peritoneal responde à lesão com reação inflamatória inespecífica, de forma idêntica a qualquer outra estrutura do organismo, com exagerada produção local de CITOCINAS PRÓ-INFLAMATÓRIAS tais como o TNF-a, IL-l, 2 e 6 e outras, além da liberação de histaminas pelos mastócitos peritoneais, em quantidade que depende da gravidade da lesão e destruição da superfície mesotelial As manifestações clínicas vistas nas peritonites devidas a processo inflamatório ou infeccioso intra-abdominal primário (peritonite secundária a uma afecção abdominal primária) não se repetem com as mesmas características e dimensões quando se trata da peritonite que se manifesta no pós-operatório. A peritonite, principalmente a generalizada, supurativa ou não, desencadeia um processo complexo de reações inflamatórias locais e sistêmicas cuja gravidadedepende mais de fatores relacionados ao HOSPEDEIRO DO QUE AO AGENTE AGRESSOR. A agressão intra-abdominal provoca uma sequência de respostas envolvendo a membrana peritoneal, os intestinos, os compartimentos dos líquidos orgânicos com subsequentes respostas cardíacas, respiratórias, renais, neuroendócrinas e metabólicas Complicações Peritonite Difusa - A irritação do peritônio visceral tem como resposta imediata a Dor Visceral, que é de caráter difuso e mal definida, e uma TRANSITÓRIA HIPERMOTILIDADE GASTRINTESTINAL que, após curto intervalo, torna-se progressivamente deprimida e, logo, abolida. Tendo como conseqüência imediata a indesejável DISTENSÃO DOS INTESTINOS provocada pelo acúmulo de líquidos e de gases para o lúmen intestinal. Soma-se a esse evento a farta "PRODUÇÃO" DE ÁGUA RICA EM PROTEÍNAS E ELETRÓLITOS pela membrana peritoneal inflamada que, quando extensamente comprometida, contribui com o acúmulo regional de cerca de 4 a 6 litros de líquido, em 24 horas. Respostas primárias à peritonite: dor, iléo paralítico, distensão intestinal, produção de líquido – ascite, hipovolemia A sepse, como já mencionado, representa uma resposta imune exagerada que produz uma inflamação auto-destrutiva generalizada - sepse ou septicemia é definida como a presença de microrganismos patogênicos ou de suas toxinas na corrente sanguínea ou nos tecidos / Como visto, o termo sepse engloba um conjunto muito heterogêneo de tipos de doentes, de sítios diferentes de infecção, de grande variedade de microrganismos com virulência e carga microbiana diversas, além de induzir respostas inflamatórias diferentes dependentes do tipo de enfermo e do estado de suas defesas imunitárias. A sepse é responsável por 9% dos óbitos e é considerada a décima causa 4. Avaliar o resultado do emprego do esquema inicial de antimicrobianos e quais as bactérias pretendiam dar cobertura. E por que não foi colhido material para cultura na primeira cirurgia? Cultura – a hemocultura NÃO É INDICADA para infecções comunitárias, uma vez que não fornecem informações relevantes!! (categoria A e grau 1). Quando há coleta, é indicada uma ÚNICA VEZ com um espécime de 0,5mL (tanto anaeróbio como aeróbio) e devem ser transportadas ao laboratório em sistema de transporte ANAERÓBIO. A realização de GRAM em materiais de infecções comunitárias NÃO TEM VALOR, mas nas NOSOCOMIAIS/PÓS-OPERATÓRIAS a realização do gram é importante para a TERAPIA ESPECÍFICA Objetivo do Uso de Antibióticos – como grande parte das infecções intra- abdominais necessitam de intervenção cirúrgica ou de drenagem para resolução do processo, o uso de ANTIBIÓTICOS é importante para reduzir a possibilidade de FALHA TERAPÊUTICA POR INFECÇÃO PERSISTENTE OU RECORRENTE. Dessa forma, os objetivos da antibioticoterapia são: ELIMINAÇÃO DO MICROORGANISMO; REDUÇÃO DAS CHANCES DE REICIDIVA; diminuição do tempo de resolução dos SINAIS E SINTOMAS INFECCIOSOS. O início do uso dos antimicrobianos deve ser APÓS A Thaís Pires 9 RESSUSCITAÇÃO VOLÊMICA, de forma que a perfusão visceral seja estabelecida e, consequentemente, haja melhor distribuição visceral da droga!! Seleção do Antibiótico – Os antibióticos são usados tanto de forma PROFILÁTICA como de forma TERAPÊUTICA IMEDIATA para um processo infeccioso. A seleção deve levar em consideração: • Agente infeccioso mais provável • Eficácia antibiótico • Segurança antibiótico (toxicidade, efeitos colaterais, resistência) • Custo • Comodidade Posológica Quanto ao espectro, deve ser escolhido um antibiótico que seja eficaz contra a FLORA a ser encontrada Infecções Intra-Abdominais Cirúrgicas Comunitárias – os agentes mais prováveis E. coli e Bacteroides fragilis a. Gentamicina ou ceftriaxona ou fluoroquinolona + metronidazol ou clindamicina – a. gentamicina é a melhor em custo, mas pior em toxicidade (nefro e oto) b. ceftriaxona apresenta baixo custo e baixa toxicidade e conforto posológico, porém tem chances de induzir resistência c. quinolonas apresentam baixa toxicidade, mas são mais caras d. metronidazol é melhor que a clindamicina em eficácia, toxicidade e custo b. Ampicilina/sulbactram ou amoxicilina/clavulanato ou amoxicilina/sulbactram – cobrem enterococos c. Cefoxitina – bom para profilaxia e terapia de CURTA DURAÇÃO – induz resistência d. Ertapenem – é um carbapenêmico (como o imipenem e meropenem) com comodidade posológica (1x dia) – amplo espectro para COCO GRAM+; BACILOS GRAM- e ANAERÓBIOS – Não é efetivo contra enterococo, pseudomonas e MRSA Dito tudo isso, os melhores esquemas e aqueles mais utilizados são: Ceftriaxona 2g EV/dia + Metronidazol 500mg EV 8/8h OU Ampicilina/sulbactram ou amoxicilina/clavulanato ou amoxicilina/sulbactram Infecções Intra-abdominais Cirúrgicas Hospitalares – as infecções nosocomiais (pós-operatórias) são causadas por FLORA MAIS RESISTENTE como Pseudomonas aeruginosa. Enterobacter, Proteus, Staphylococcus aureus (resistente a meticilina), Enterococcus e Candida; portanto o esquema terapêutico é mais COMPLEXO a. Para bacilos gram – e enterobactérias: a. Duoterapia – ceftazidima OU cefepime OU ciprofloxacino + metronidazol b. Monoterapia - piperacilina/tazobactam ou ticarcilina/clavulanato: cobrem enterococos ou também imipenem/cilastatina ou meropenem ou ertapenem (não cobre Pseudomonas) b. Os principais GRAM – hospitalares são: a. Enterobactérias produtoras de beta-lactamase – grupo CESP: Citrobacter; Enterobacter; Serratia; Proteus; Providência; Morganella – são bactérias com potencial de se tornarem RESISTENTES em tto com beta lactâmico, por isso a melhor escolha são as CEFALOSPORINAS de 4ª geração, como cefepime b. Enterobactérias produtoras de ESBL, que significa beta-lactamase de espectro ampliado – o principal representante é a KLEBSIELLA!!! Bactérias resistentes à cefalosporinas de 3ª geração, porém sensíveis as de 2ª geração! Carbapenêmicos são a melhor escolha! Thaís Pires 10 Antibioticoterapia para perfuração do TGI Alto - A administração de antibióticos deve ser de até 24 horas nas lesões intestinais devido a trauma penetrante, fechado ou iatrogenia, que são corrigidos dentro de 12 horas e com contaminação do campo operatório por conteúdo enteral. Nas perfurações com mais de 24 horas de evolução, deve-se utilizar antibioticoterapia, geralmente uma combinação de cefalosporina de terceira geração com metronidazol 5. Avaliar o resultado do antibiograma da bactéria isolada do abscesso periseplênico e o fundamento da conduta antibiótica dotada.
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