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Dor abdominal

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SEMIOLOGIA MÉDICA 
Dor abdominal
A dor abdominal é um sintoma muito frequente e 
pode representar afecção de órgão extra-abdominal. 
A abordagem da dor abdominal leva em conta: 
✓ Caracterização da dor 
✓ Dados do exame clínico 
✓ Dados de epidemiologia clínica 
Caracterização da dor 
A dor abdominal, como qualquer dor, representa um 
sintoma dependente de aprendizado, no qual as 
vísceras do paciente, aspectos culturais, seu estado 
psicológico e sua situação social representam 
poderosos determinantes modificadores das suas 
características. 
Duração 
Dor abdominal aguda: dura no máximo algumas 
horas (< 6 horas). 
*Deve-se inquirir com cuidado a ocorrência de 
episódios similares anteriores. 
Dor abdominal crônica: evolui por dias, às vezes 
meses ou anos. 
*A pesquisa do diagnóstico correto é o objetivo maior, 
porque ele provavelmente é que vai condicionar a 
melhor abordagem para o tratamento. 
Tipo de dor 
A dor abdominal pode ser de três diferentes tipos, 
dependendo dos receptores e das vias nervosas 
estimulados: 
Dor visceral: é uma dor difusa e imprecisa. 
A sensação é de cólica, queimação ou roedura. 
Pode ser acompanhada de sudorese, agitação, 
náuseas, vômitos, transpiração e palidez. 
O paciente pode comprimir a dor para tentar 
melhorar. 
Pode surgir quando um estímulo alcança uma víscera 
abdominal ou torácica e como o número de 
receptores é muito menor do que o número de 
receptores existentes na pele, ela pode ser sentida no 
epigástrico, mesogástrio e hipogástrico. 
 
Dor parietal: Mais intensa e bem delimitada. 
É agravada pelo movimento ou pela tosse. 
É possível delimitá-la lateralmente porque o sistema 
nervoso se distribui especificamente para cada 
hemiabdome. 
Existe correspondência entre a inervação peritoneal e 
o dermátomo equivalente. 
 
Dor referida: é moderada e sentida em locais 
distantes do órgão. 
Para surgimento da dor referida, deve haver um 
estímulo doloroso visceral intenso. 
Ocorre pelo compartilhamento em áreas centrais de 
vias nervosas aferentes oriundas de diferentes locais. 
 
 
Localização 
DIVISÕES DO ABDOMEN 
Quadrantes do abdômen: traçar duas linhas que 
atravessam a cicatriz umbilical longitudinalmente e 
transversalmente, gerando assim quatro setores com 
dois andares (superior e inferior). 
➔ Quadrante superior direito: fígado, vesícula biliar, 
piloro, duodeno, flexura direita do colo (flexura 
hepática do cólon) e cabeça do pâncreas. 
➔ Quadrante superior esquerdo: baço, flexura 
esquerda do colo (flexura esplênica do cólon), 
estômago, corpo e cauda do pâncreas e colo 
transverso. 
➔ Quadrante inferior esquerdo: colo sigmoide, colo 
descendente e ovário esquerdo. 
➔ Quadrante inferior direito: ceco, apêndice, colo 
ascendente e ovário direito. 
Regiões do abdômen: traçar dois planos que 
atravessam os pontos medioclaviculares (ponto médio 
da clavícula – linhas hemiclaviculares) de cada lado e 
dois planos transversos (um plano subcostal e o outro 
de plano intertubercular). 
➔ Região epigástrica: estômago, coração, esôfago e 
duodeno. 
➔ Hipocôndrio direito: fígado, vesícula biliar, 
diafragma e pulmão. 
➔ Hipocôndrio esquerdo: baço. 
➔ Flancos: rins e cólon. 
➔ Região umbilical ou mesogástrio: intestino 
delgado, pâncreas e vasos. 
➔ Fossa ilíaca direita: ceco e apêndice. 
➔ Fossa ilíaca esquerda: sigmoide. 
➔ Hipogástrio: bexiga, útero, ovários. 
 
 
 SEMIOLOGIA MÉDICA 
Correlação entre localização anatômica e dor 
➔ Epigástrio: IAM, gastrite (dispepsia), 
ruptura/perfuração do estômago e doença do 
refluxo gastroesofâgico. 
➔ Hipocôndrio direito: todos os tipos de cálculos 
biliares, hepatites, pneumonias, derrame pleural e 
abscesso hepático. 
➔ Hipocôndrio esquerdo: esplenomegalia, ruptura 
do baço e infarto esplênico. 
➔ Mesogástrio: pancreatite aguda (causa mais 
comum é cálculo de via biliar), pancreatite crônica 
(hábito etílico de longa data), cisto de pâncreas, 
ruptura/dissecção de aorta. 
➔ Flancos: pielonefrite, nefrolitíase, uroterolitíase, 
infarto renal, diverticulite, apendagite (inflamação 
do apêndice epiplóico, doenças inflamatórias 
intestinais (doença de Crohn, retocolite 
ulcerativa...) e neoplasias. 
➔ Hipogástrio: endometriose, cistite, cálculos, 
cistos ovarianos, apendicite, mioma, cólica 
menstrual, gravidez ectópica, diverticulite, 
doenças inflamatórias pélvicas etc. 
➔ Fossas: gravidez ectópica, hérnias, etc 
Caráter da dor 
É pouco específico, mas pode auxiliar na identificação 
do órgão ou aparelho comprometido. 
Ex: a úlcera corrói, o aneurisma rasga, o abscesso 
pulsa . 
Intensidade 
Tem maior significado de gravidade do que valor 
preditivo para diagnóstico. 
 
 
Fatores de piora e melhora 
O vômito pode melhorar os sintomas de úlcera 
péptica. O ato de urinar melhora o sintoma da cólica 
nefrética. Processos pépticos tendem a piorar com o 
uso de irritantes gástricos e melhoram com alimentos 
alcalinos ou medicamentos antiácidos. 
Sinais e sintomas associados 
Gerais 
Anorexia e emagrecimento – todas as dores 
abdominais agudas cursam com anorexia. Para 
quadros de dor crônica, a anorexia associada ao 
emagrecimento sugere processo consumptivo que 
tende a ocorrer em doenças neoplásicas, infecciosas 
ou endócrinas. 
Perda de peso na dor abdominal: hipovolemia para 
dor aguda e caquexia para a dor crônica. 
Febre- sugere processo infeccioso. Na dor aguda, 
febre precedendo a dor sugere pielonefrite ou 
pneumonia e febre após a dor, com peritonite, sugere 
apendicite ou perfuração de víscera. 
Na dor crônica, pode -se pensar em neoplasia (linfoma 
principalmente) e doenças inflamatórias não-
infecciosas. 
Taquicardia e hipotensão - na dor abdominal aguda, 
são de grande importância na determinação da 
gravidade da doença ou de sua complicação, pois 
podem ser medidas indiretas da hipovolemia (hérnia 
encarcerada). 
A sepse, com vasodilatação periférica e choque, 
representa uma complicação grave de muitos quadros 
de abdome agudo e sempre se acompanha de 
hipotensão e taquicardia. 
Náuseas e vômitos-podem ser inespecíficos ou 
ligados ao sistema digestivo. 
Em geral as náuseas precedem os vômitos, porém o 
contrário ocorre na perfuração da úlcera e na torção 
do cisto de ovário. 
Na apendicite aguda os vômitos tendem a ser tardios, 
nas obstruções baixas do intestino são menos 
frequentes e nas obstruções altas são mais 
frequentes, volumosos, com conteúdo primeiros 
gástrico e após duodenal. Nas obstruções jejunais tem 
características fecalóides. 
Específicos 
Sangramento digestivo- melena (evacuações com 
sangue digerido ou parcialmente digerido, geralmente 
enegrecidas, amolecidas e extremamente mal-
cheirosas de aspecto de “borra de café”) e 
enterorragia (sangue vivo nas fezes) são sempre um 
sinal de gravidade, mesmo sem hipovolemia. 
Constipação e diarreia – Constipação associa-se a dor 
abdominal crônica no câncer colorretal, à dieta sem 
resíduos e a síndromes pseudo-obstrutivas (Fecaloma 
(obstrução devido o endurecimento excessivo das 
fezes) e volvo de sigmoide (torção de alça intestinal 
sobre a mesma). Já a diarreia associa-se à dor 
abdominal crônica nas síndromes de má absorção e 
na doença inflamatória intestinal. Uma ou outra, ou 
ambas associam-se à dor abdominal crônica nos 
distúrbios do humor e nas parasitoses. 
 
 SEMIOLOGIA MÉDICA 
Geniturinários- a disúria (dor ao urinar), polaciúria 
(aumento do número de micções), urgência (vontade 
de urinar que não consegue segurar) e mudanças na 
cor, aspecto e cheiro da urina são percebidas pelo 
paciente como antecedendo ou concomitantes à 
cólica nefrética. 
A dor da urolitíase tem irradiação do dorso para o 
hipogástrio, alcança o testículo ou grandes lábios. 
Corrimento uretral, disúria e dor em baixo ventre em 
paciente com vida sexual ativa sugere DST. 
Mulheres, comdor na fossa ilíaca e corrimento vaginal 
sugere anexite. 
Dor abdominal aguda de forte intensidade, com 
antecedente de menorreia sugere ruptura de gravidez 
ectópica. 
Exame Clínico 
É importante valorizar a história do paciente ,pois é 
difícil examinar o abdômen doloroso, especialmente 
em obesos. 
No exame físico abdominal do paciente, a sequência é 
ausculta, palpação e percussão. 
Obs: na dor abdominal, fazem parte do exame clínico 
o exame retal e o genital. 
Palpação em pontos dolorosos 
1.Manobra da descompressão súbita e Sinal de 
Blumberg: comprime-se o ponto de McBurney (ponto 
apendicular), na fossa ilíaca direita, até o máximo 
tolerado, descomprimindo subitamente. Esse sinal é 
positivo quando ocorre um aumento súbito da dor 
após a descompressão. Sugere, geralmente, 
apendicite aguda com inflamação de peritônio. 
Obs.: Ponto de McBurney é um ponto situado entre o 
umbigo e a espinha ilíaca ântero-superior. Quando o 
apêndice está inflamado (apendicite), pode ser 
percebida uma sensibilidade no quadrante inferior 
direito, no ponto de McBurney. 
2. Sinal de Murphy: o examinador toca o fundo da 
vesícula no ponto cístico e solicita a inspiração forçada 
do paciente. O sinal de Murphy é positivo se o 
paciente reagir com uma contratura de defesa e 
interrupção da inspiração. Sugere colecistite aguda. 
3. Sinal de Rowsing: realiza-se a palpação profunda e 
ascendente, desde o colon descendente (na fossa 
ilíaca esquerda), seguindo a moldura do intestino 
grosso, levando o ar, em sentido contrário ao trajeto 
do bolo fecal, até o apêndice. Este movimento 
estimula o deslocamento do ar desde a fossa ilíaca 
esquerda até a região do apêndice. A distensão do 
apêndice sugere uma apendicite aguda. 
 
 
Causas de dor abdominal (intra-abdominais) 
 Peritonite generalizada: víscera perfurada (úlcera, 
divertículo de cólon), peritonite bacteriana primária e 
peritonite asséptica (cisto ovariano roto, febre do 
Mediterrâneo). 
 Peritonite localizada: apendicite, colecistite, úlcera 
péptica, diverticulite de Meckel, Doença de Crohn, 
diverticulite de cólon, colite (inespecífica, amebiana, 
bacteriana), abscesso abdominal, gastroenterocolite, 
pancreatite, hepatite (viraI, tóxica), doença 
inflamatória pélvica, endometriose e linfadenite 
mesentérica. 
Distensão de víscera: obstrução intestinal (brida, 
hérnia, volvo, fecaloma, intussepção), hipermotilidade 
intestinal (cólon irritável, gastroenterite), obstrução 
biliar (cálculo, tumor, parasita), obstrução ureteral, 
distensão do fígado (hepatite aguda viraI ou tóxica, 
obstrução de via biliar, síndrome de Budd-Chiari), 
distensãodo rim (pielonefrite, hidronefrose), 
obstrução uterina (tumor, gravidez), gravidez ectópica 
rota e ruptura de aneurisma arterial (aórtico, ilíaco, 
visceral). 
Isquemia: angina ou infarto intestinal (obstrução 
arterial, embolia, arterite), infarto esplênico, torção 
de pedículo (vesícula, baço, cisto de ovário, o mento 
do testículo, volvo gástrico, apêndice epiplóico), 
infarto hepático e necrose tecidual (hepatoma, 
mioma). 
Outro: tumores retroperitoneais. 
Causas de dor abdominal (extra-abdominais) 
Torácica: pneurnopatia (pneumonia, pneumotórax), 
empiema, angina ou infarto do miocárdio, esofagite e 
ruptura do esôfago 
Neurogênica: radiculite (lesão medular, tumor de 
nervo periférico, artrose, herpes zoster) e tabes 
dorsalis. 
Metabólica: uremia, diabetes mellitus, parfiria e 
Doença de Addison. 
Hematológica: anemia falciforme, anemia hemolítica 
e Púrpura de HenochSchonlein. 
Toxinas: reação de hipersensibilidade (picada de 
insetos, peçonha) e drogas (intoxicação, 
envenenamentos). 
Outras: contusão, hematoma ou tumor muscular.

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